O diretor Arthur Penn que nesse filme pode se dizer, faz seu estudo para logo depois, usar o que aprendeu em sua primeira empreitada, na obra-prima, Bonnie & Clyde, consegue trazer toda atmosfera do filme a favor do personagem magistralmente interpretado por Paul Newman, que carrega o filme nas costas, criando um personagem altamente complexo, com uma vivacidade e perturbação que reflete um jovem nascido e criado num mundo, onde a violência e a arma, fazem a lei, por vezes é quase infantil, como uma criança, bonacheirão e brincalhão e outras vezes, soturno, ensimesmado e com um olhar frio e perdido, no qual Newman, expressa para câmera, todo seu talento. Fazendo, bom uso do silêncio para construir os diversos clímax de suas cenas, abusando das paisagens do oeste no começo e criando sombras, no fim, tendo a trilha sonora como compasso, para o derradeiro fim do protagonista, vagamente me lembra os westerns do mestre John Ford, talvez pela sua impressionante condução no que concerne ao roteiro e as escolhas estéticas na sua forma, mostrando um personagem complexo, mais por aquilo que não foi mostrado do que aquilo que nos foi exibido, um ícone de sua época, um mito, a mercê da historia e vítima de si mesmo!
Aos já familiarizados com o Cinema Novo e Glauber Rocha, conhece a assimilação entre o segundo filme do diretor baiano Deus e o Diabo na Terra do Sol e do angolano Ruy Guerra diretor de Os Fuzis, os dois passados no Brasil, usando e abusando do cenário árido do nordeste e bases daquele movimento e sua estética da fome, totalmente de esquerda com um compromisso político forte e incisivo. No quarto filme se a seca que mata a vaca-santa de Os Fuzis é morta pelos flagelados do nordeste por modo do ronco da barriga vazia, uma crítica acida a religião e na segunda excursão de Glauber pelo cinema em que o mesmos fazem seus protagonistas correrem a deriva ( ou para o mar), ao som de Villa-Lobos, consegue em seu quarto filme quase totalmente se dispersar do cinema no qual propôs no começo da década 60 e da ares a um abstracionismo que já tomava conta do cinema em bem antes de 69, criando um mundo Barroco e fragmentado, mesmo que seu cume como realizador e no que concerne a fragmentação do tempo seja Terra em Transe, o interessante notar em Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro é o foco mais individualista e uma analise ao interior do personagem principal o protagonistas Antonio das Mortes com seu manto sombrio e sua espingarda sóbria, consegue transmitir a mudança de posição do cinema de Glauber e talvez do próprio estado de espírito do diretor autoral ,que faz um cinema orgânico e em Dragão da Maldade... totalmente imagético, sendo seu primeiro filme a cores, alegorias, um sotaque teatral que os atores incorporam a seus gestos, fazem do sertão palco de uma opereta sobre os indigentes aos olhos de um progresso que clama por Getulio Vargas e assovios de bossa nova e por esse olho arcaico e estreito, o progresso se torna cego e seguindo de forma incorruptível um futuro que deixa marcas, alimentam os sulcos da barriga em fome gritante e destroça o que sobrou de uma cultura que se mantem pracejando com suspiros de cordel. Muitas vezes seus enquadramentos e planos sequências, quase indissociáveis do cinema glauberiano, remetem a o neorrealismo de Vittorio De Sica, embora isso poderia ser encontrado em Deus e o Diabo na Terra do Sol e Barravento, ainda sim no filme de 1969 fica mais tangível, o quanto Glauber, embora quase totalmente deixando de lado a estética da fome, não deixou de ser politico e marxista, mesmo que esses o tenham, junto com a opinião publica o massacrado na época de Terra em Transe, pois uma ação não pode estar dissociada de outra ação, arte e politica, não é uno para Glauber e sim uma constante conciliação que almeja o transcendental, a catarse!
Intimista, elegante e conciso, Carol é antes de tudo é um filme sobre os relacionamentos humanos e sua busca pela felicidade, duas mulheres vivendo em uma época em que o puritanismo americano estava banhando na hipocrisia, melhor forma de entender isso é como tudo fica muito subtendido sobre a orientação sexual das protagonistas, embora Therese pareça mais uma garota em busca de novas experiencias e em volta de uma paixão juvenil, mas nem por isso vaga e pouco arrebatadora, isso também fica bem colocado em contexto pela classe social da personagem que da nome a trama, rica, bonita e elegante, sua sexualidade e por conseguinte sua felicidade é abafada por aquele mundo de coquetéis e cassacos de peles, que é tudo fachada para esconder a vulgaridade e decadência dos pertencentes de tal classe (como pano de fundo a Nova York adornado pelo vermelho natalino e por que não apaixonante que marca presença na paleta de cores). A viagem que as duas fazem, pode dar um tom "on the road" a o filme, mas a sensibilidade de olhares, toques e da direção concisa, não faz disparates e faz fluir bem a trama, pois o principal nessa parte do filme é o despertar da paixão que desde do primeiro olhar já estava em borbulhação. Uma cena em especial que destaco, por ter me tocado muito é quando as duas transpassam com o carro pelo túnel, para passarem uma noite na casa de Carol, nesse momento, de forma extremamente sútil, a entrada do mundo de Carol por Therese e em um diálogo entre Therese e o amigo fotografo e escritor do Times sobre fotografia algumas cenas anteriores,em que o mesmo pergunta a Therese sobre o que mais gosta de fotografar, ela responde que coisas naturais e mundanas, enquanto ele tem preferencia a fotografar pessoas e nesse momento a solidão, que enebria as protagonistas vem a tela...Therese diz que não gosta de fotografar pessoas, mesmo sem saber por que e seu amigo escritor e fotografo deduz que talvez por modo da "Invasão de Privacidade" que ela hesita tal empreendimento e logo após essa cena, mais especificamente um plano depois da cena relatava no túnel,quando ela tira foto de Carol pela primeira vez, no que parece ser a entrada da casa de sua amada, ela esta invadindo aquele mundo, se aproximando e se tornando intima dela, pode se notar essa proximidade quando Therese é testemunha da discussão entre Carol e Harge por causa da filha e do desastre que foi seu casamento em separação. Essa alegoria, se é que podemos chamar assim, pode ser notada em vários filmes e por si própria, já que nos primórdios da fotografia, era considerada comumente de forma ignorante como um sabotamento das almas daqueles que eram fotografados pela câmara, a solidão no qual falei anteriormente é destacada nos momentos melancólicos entre as duas e separadas também, uma solidão que enebria por razão de empecilhos não só da sociedade consumista em que se passa o tempo e espaço da trama, mas também pela infelicidade advinda de sua supressão existencial de estarem mancas de seus desejos e confusas, embora nem um pouco parecido com um empecilho, de seus sentimentos. A direção que coloca a câmera em enquadramentos pela metade e em ângulos baixos, quase a espreita, deixando o espectador tão intimo daquela relação furtiva, sem contar os planos detalhes que dão o tom sútil e sensível em um filme feito de toques e gestos. Um filme sobre mulheres é imprescindível atrizes que consigam expressar essa multiplicidade que é alma feminidade no qual o filme toca a essência, não é necessário recortar reflexões sobre como as atrizes que forjam suas peles paras heroínas desse romance, conseguem também expressar!
Minnie and Moskowitz em seus primeiros minutos parece ser um belo exemplar de um filme de Cassavetes: angustiado, denso e contendo todas as vicissitudes que os seres humanos emanam, mas ao longo da trama, esses mesmos elementos dão espaços a comicidade, esperança e a possibilidade do amor, que se nos seus filmes anteriores e posteriores acabam sendo pouco enfatizados ou no caso da possibilidade do amor, só fica no âmbito das suposições, em seu sexto filme, o amor acaba não só sendo transportado para a vida dos personagens, mesmo com muita penúria e pessimismo, mas também entendido ou melhor, sentido e é a parti desse despojamento de racionalidade muitas vezes enfatizado pelo adorável bruto Moskowitz, que os personagens acabam tendo o seu happy end. Minnie and Moskowitz é um sorriso largo de ponta a ponta que vai sendo construído desde de seus primeiros minutos no espectador, obvio que mesmo até em momentos cômicos como a dança no estacionamento defronte ao bar, mesmo que suscitando gargalhadas ,ainda segue a linha que o filme nos apresenta desde seus primeiros instantes: a solidão, a falta de vivacidade e o anseio de calor humano, mas não sabem como consegui-lo, aliás o estacionamento não é só um cenário frequente na trama, como significa ao meu ver, a estagnação emocional e física de seus personagens, principalmente no que concerne a protagonista Minnie. Cassavetes é um diretor de atores e eles ocupam não só o centro do palco, no qual o diretor ilumina com sua câmara-luneta, mas toda a construção de sua mise-en-scène, ele ( câmera) se apropria dos corpos e dos rostos dos atores para imprimir ali suas marcas digitais de autor, pois os diálogos mesmo que ótimos e importantes a narrativa é nos olhares que caem e sobem sutilmente, nos sorrisos frágeis e tristes e nas rugas que atapetam os rostos e mãos, mostrando pessoas desesperadas por algo que faça de suas existências, um pouco menos onerosa que o diretor se faz artesão. Nomear o filme como uma comedia romântica já é axiomaticamente um erro, mas se sua narrativa se assemelha a Megera Indomável, clássico de Shakespeare é por que seus protagonistas não conseguem entender o interior e o exterior de si mesmos e que os rodeia, Minnie esta dilacerada, humilhada e sem perspectiva de viver : “Já é difícil até respirar” diz ela em um certo momento, está vazia, não consegue dar o amor que Moskowitz tanto a indagada a dar-lhe, ele por conseguinte, está cheio de amor, mas não sabe como fazer de forma em que não possa quebrar tudo ao seu redor, um bruto que também ama, quer ser romântico e diz “ Eu te amo tanto, que até esqueço de mijar”, essa discrepância entre duas pessoas é que criam os momentos cômicos da trama, querem agradar e não sabem como. Uma cena, que melhor consegue expressar a solidão e o quão frio pode ser os relacionamentos humanos isso é a inicial, em que Moskowitz sai pela ruas escurecidas pela noite em NY, tentando conversar com pessoas ou paquerar mulheres, todos o repelem, não por ser feio ou desagradável, talvez até por isso, mas sobre tudo por que são frios e estão embriagados em seus egos e tragando suas angustias, nesse cenário sem perspectivas de contato humano e carnal, que os protagonistas deixam de entender o porquê de tudo isso e começam a sentir tudo isso, seja lá o que for tudo isso é tudo e não poderia ser melhor, em um filme de Cassavetes não poderia ser menos.
A morte, a ganancia e a moral, são os três temas explicitados durantes os três filmes, (alias numero esse caro para Sergio Leone),e em seu ultimo e triunfante fim, ganha ares não de epopeia como sempre o gênero nos primórdios era comparado, mas sim de opera, com a musica de Ennio Morricone,impondo um compasso ou melhor dizendo um ode a premissa e gloria da morte e se observar bem, a trilogia são partes constituintes de uma opera sobre a morte da moral pela ganancia do homem. Se nos westerns americanos a moral de seus personagens era bem maniqueísta a não ser no caso dos filmes de John Wayne e outros em que ambiguidade de seus personagens era posta em cheque, mas sempre justificada, nos chamados westerns spaghetti ou pelo menos nessas três partes da Odisseia de Leone, esse mesmo é extirpado pouco a pouco,( mesmo que em no primeiro siga quase a risca o modelo americano de westerns e sua ambiguidade moral no protagonista, isso como é relatado anteriormente e desde do começo já era implícito, vai sendo extirpado gradualmente nos outros dois filmes seguintes),e não como pode se pensar para dar alas a violência gratuita, mesmo que ela seja explicita mais do que nunca,violência essa,é despida de moralidade e ao olho nu, vemos seu vazio e o nada que reside dentro dela,ainda mais se tiver em conta a guerra no Vietnã que estava sendo travada na época, onde milhares de jovens morriam e voltavam para casa em caixões dentro de aviões militares, a escolha do diretor de por como segundo plano a Guerra da Secessão, explicitando o caráter de verossimilhança histórico que por vezes quase não era enfatizando em outros westerns, inclusive nos dois filmes anteriores da trilogia, subsiste mais ainda essa falta de moralidade no mundo do western spaghetti e ai entra o segundo elemento que é o mote da trama, colocando mais em prova o vazio e a imoralidade: a ganancia, homens fazem de seu gatilho a sua própria lei, o sol escaldante sua moral e o horizonte onde esse sol nasce, resplandecendo os rochedos de terra e vegetação árida, seu palco e o terceiro elemento e talvez o fundamental, banha (de sangue) ainda mais esse cenário com sua crueldade e frieza taciturna: a morte, o único medo dos homens ao mesmo tempo sua salvação e redenção desse mundo vil, morte essa que por vezes é vingada, injustiçada e sempre cobrando um preço alto e de preferencia em dólares, encontra em Clint Eastwood ( sem esquece de Lee Van Cleef, que no segundo filme encarna quase literalmente a morte e sua melhor interpretação pelos que já vi de sua filmografia no momento), o ator perfeito que se é tão viril e macho como o inigualável John Wayne, sem tirar o posto de seu conterrâneo, vai alem e em sua interpretação quase inexpressiva, a expressão desses três elementos que acredito ser os componentes que mais me tocaram dessa Odisseia ( Opera). Traçam no personagem ares místicos e sombrios, no qual nos identificamos e torcemos, tanto pelo carisma de Clint, quanto e talvez a maior razão desse miticismo, por essa inexpressividade, se tornando incógnito e atraente, um mito sagrado do cinema, uma entidade sem nome que vaga por ai, assombrando os homens e apostando a vida deles e a sua própria (se é que Clint tem alma) por um punhado de miseres dólares!
Subvertendo algumas "regras" estéticas e narrativas do noir, questionando o ascetismo policial como forma de debater moral, ética e solidão, os olhos de Nicholas Ray percorrem o filme de forma totalmente subjetiva, não só com sua câmera, que por vezes toma como a visão do personagem, mas em cada quadro que pertence a tela, pois o sentimento de se sentir acuado ou por vezes resignado com a escuridão que nos é cobrida pelos nossos próprios olhos, uma escolha que nos é aparentemente forçada pelas penúrias da vida, pode chegar ao estremo de perdemos a esperança e por fim a humanidade,é um fardo que Ray carregava nas costas e refletia em seus filmes providos da matéria prima de luz e sombra. Obras que se por vezes terminavam com um amargo final sem beijo de despedida, nesse filme que fala alem de tudo sobre o branco e o preto,bem acentuada metáfora pela noite que atapeta a cidade em toda a primeira parte e o branco da neve predominante na segunda parte, por vezes,logo perto do desenlace da trama graduando preto e branco como que se não existisse uma dicotomia e sim, os dois lados da vida sem direito algum de julgamento, restando apenas a nós, tomarmos as dianteiras da vida e iluminar o caminho segurando a vela estendida,avante, na penetrante escuridão abissal da vida. Nicholas Ray era um diretor sobretudo, soturno e brilhante!
A realidade e ficção a linha atenue que separa esses dois polos, em alguns filmes ela é questionada,na maioria pende mais para a segunda e em poucos é esforçado uma tentativa por si próprio frustrada de buscar uma verossimilhança com a realidade, apelando para não-atores e a câmera na mão. Cassavetes não busca nem um nem outros, mas sim o seu uno, pois esses dois polos não estão separados, estão unidos, o ator que interpreta tal personagem, entregando a essa mascara os seus sentimentos, mentindo para o público, acaba ganhando nuances maiores em seus filmes ( em Opening Night mais do que nunca),onde o suposto teatro filmado já não é mais encenado no palco e sim nas esquinas, nos quartos de hotéis baratos, seus atores caminham o inverso do que já é comumente conhecido, os personagens se tornam atores, pois esses personagens são reais, vivem seguidos pelos holofotes do sol na ribalta da rua, são personagens refletidos de seres humanos que olham ávidos a tela (palco) como se olhassem para si próprios sem saber, só tendo consciência desse "fenômeno" quando as cortinas se fecham e as luzes da onde estava submergidos naquele breu da alma humana se acedem, não para o real e sim para a vida, pois nunca saíram dela, jamais se escapa da vida durante as duas ou mais horas que se senta na poltrona para vivenciar a experiencia que é os filmes de Cassavetes, apenas são reluzidos,não pela iluminação sofisticada de um tipico filme americano, mas sim por sua câmera-luneta, as sombras que pensamos ser de mentira, um mundo que de tão escuro acreditamos ser uma caverna, quando na verdade é a própria realidade, onde nem seus atores escapam dela, eles não atuam (?), apenas tem a oportunidade de gritar e chutar aquilo que seus semelhantes no posto de espectadores,não tem coragem de fazer.Brilhante!
Se equiparando a Julieta dos Espíritos e Amarcord no que concerne ah exorbitância de seu mundo barroco e que transita de forma por vezes não gradual entre o sonho e realidade quase se tornando uno, E La Nave Va também se diferencia dos dois filmes no qual assimilei semelhanças, alias de toda a filmografia do mestre, onde seus personagens tão estilizados por aquele aparato felliniano tão comumente conhecido por seus cultuadores, estão nesse filme revestidos dos pés a cabeça pelas idiossincrásicas e as extravagancias do diretor que obviamente não se detêm apenas aos seus personagens/fantoches, mas também a toda mise-en-scène da película, chamando muita minha atenção a maquiagem que delineia os gestos faciais, como se estivesse saído de um filme mudo dos primórdios do cinema. Sem contar das tantas metáforas que o filme carrega, uma chamou minha atenção, a do rinoceronte, que parece representar o cinema na visão de Fellini, que na época não estava bem das pernas, a popularidade irrefutável da TV como forma de entretenimento preferida em detrimento do cinema na década de 80 foi uma crise para todos na industria e Fellini um dos seus já anciões foi uma de suas vítimas, o rinoceronte doente e debilitado sendo cuidado com diligencia por seu tratador com grande prudencia e afeto nos confins do navio, virando quase atração turísticas para seus passageiros burgueses e no fim com o navio afundado, apenas ficou o rinoceronte e jornalista para contar historia, no final é isso que acabaremos nos tornando, personagens de uma época sendo registrado por uma decrepita e primitiva forma de expressão humana que já na aquela época se mostrava datada, conhecida por muitos como Cinema!
No começo (mais para o meio do filme, especificamente aos 50 minutos da película) o personagem Kanji Watanabe canta uma canção, acompanhado pelo piano tocado por um pianista em um bordel, seus olhos esbugalhados e perdidos, como se estivesse imerso na escuridão de um poço sem saída e a musica que primeiramente nos aparece como pessimista,no qual parece ser a expressão,a síntese de seu estado emocional e espiritual, alem da iluminação densa e repleta de sombras, predominante em quase toda a metade do filme, engolindo o personagem para as trevas, para o fim. Mas no final da película, em uma das cenas mais lindas que o cinema já proporcionou a esses meus olhos, o mesmo personagem canta a musica novamente ( um trecho para ser mais exato, mas isso não vem ao caso) e mesmo em um cenário lúgubre, beirando a uma melancolia funesta ( até porque é a ultima cena do personagem e o desfecho de seu derradeiro fim), o que diferencia da primeira vez que a musica foi cantada é a forma como ela é entonada que na primeira vez era dessincronizada com a melodia tocada pelo piano e com uma voz rouca e triste, mas nessa segunda e ultima vez ela é entonada com uma leveza, seguindo o ritmo da melodia,é cantada com uma ternura e alívio,não mais com aqueles olhos perdidos e horrorizados, agora seus olhos tem um brilho cintilante que lhe faltava, e mesmo que para onde os seus olhos se direcionam seja algo muito subjetivo para cada espectador, presumo que seus olhos estejam fitando esse mesmo espectador (?). A mesma canção, cantada duas vezes de formas diferentes é como a vida, ela não muda a letra como aparentemente se mostra ser, mas o que muda é a forma como ela é cantada, dependendo de nos se ela sera entonada de forma triste ou feliz e por que não canta-la em coral? A capela mesmo que no filme tenha sua razão para ter sido filmado assim, na vida "real" ou pelo menos no que concerne a mim, cantar em uníssono me parece a melhor forma de Viver!
Em uma época em que o termo "apropriação cultural" esta em voga entre os afobados-intelectuais, recebam na mente e no cu o mais Antropófago dos diretores brasileiros em sua ebulição para a catarse do terceiro mundo que mesmo depois de 45 anos ainda se mantem atual, pois ainda somos assombrados pelo fantasma que se esconde debaixo do lençol branco, no qual convivemos todos os dias quase se tornando natural!
O cinema como forma de iludir e fugir das dores humanas ou o cinema como forma de confrontar essas dores e colocá-las e esfrega-las no rosto do individuo, como se fosse um Close-Up? Questionamento pertinente ao cinema desde de seus primórdios, encontra no quarto filme de Babenco uma congruência, ao mesmo tempo em que não responde essa questão e pelo contrário ressalta vários aspectos e a prolonga a partir de reflexões não só metalinguística, mas também sobre repressão politica, sexualidade, liberdade e sobre tudo esperança. Alguns diretores como Billy Wilder conseguiram casar o cinema como forma de entretenimento e questionamento sobre convenções sociais, existencialistas e a condição humana e Babenco alem pagar tributo a esses filmes a partir do filme dentro do filme com estilo Noir, propaganda politica e com uma Sonia Braga lembrando muito Marlene Dietrich, também coloca em pauta o cinema como forma de propagar ideologias e alienar ( seja ele cinema de entretenimento hollywoodiano, propaganda politica e por si só o cinema que é uma representação da realidade, que por vezes tão verídica, para cabeças mais "suscetível" pode acabar alienando e doutrinando). Interessante que o diretor faz um panorama politico daquela America Latina se "libertando" de seus regimes militares, pois dizer que ele apenas esta fazendo referencia ao Brasil e sua condição na época seria um tanto leviano, tendo em conta em que nenhum momento o filme corrobora a onde a penitenciaria passa, escolha essa que é interessante enfatizar, pois seu realizador é um argentino nacionalizado brasileiro de ascendência judaico-ucraniana. Penitenciaria essa que ganha um simbolismo maior ao longo da obra, por significar não só o cenário predominante do filme, mas também o estado emocional de seus protagonistas, várias vezes a câmera faz tomadas que começam com o enquadramento das grades da cela, o quão decrepito e desumano é o ambiente, estão presos, presos em si mesmos, como se estivesse em uma teia de aranha que saiu dentro deles e mesmo presos conseguem se livrar de preconceitos e encontrar mesmo que fugaz o amor e a amizade. Num mundo cada vez mais preso em sua desumanidade, a liberdade almejada vai ganhando contornos cada vez mais humanos e por si própria mais distante e quase infelizmente só encontrada na morte!
O Outono simboliza a mudança das folhas, o começo do inverno e o fim do verão. No Outono nesse filme de Bergman ( muito bem destacado pelas cores alaranjadas por vezes pasteis) é a transição dessa mudança, do verão de dias longos e quentes por vezes escaldante para o inverno gélido e frio que atapeta todos nós, escondendo os mais íntimos sentimentos e os personagens do filme, assim como as frutas nessa estação estão amadurecendo e caindo, revelando seus verdadeiros sentimentos com a caída de suas máscaras e a primavera ainda tão distante, pelo menos na película parece ser incerta se suas flores iram desabrochar e continuar o ciclo ou ficarem presos no inverno recrudescedor. As vezes a vida é sempre um inverno rigoroso, um verão quente e escaldante e para poucos uma primavera feliz e o outono é a única estação que continua a transitar entre nos, pois é necessário o amadurecimento e a caída de nossas máscaras tão sustentadas por verões de temperatura quente e invernos rigorosos é o frescor que necessitamos, a libertação e a mudança de nossas cores mesmo que fugaz. No final a pergunta fica: nos escolhemos essas mudanças ou apenas nos conformamos e tentamos conviver com elas? Sera que não da para fazer a vida uma eterna primavera e obstruir essa incensante e insensata mudança dentro de nós?
Um manipulador dos sentimentos, que faz de tudo a sua frente arquétipos maleáveis para induzir o espectador em sua diegese cinematográfica, alias é necessário essa abdução do espectador ou no caso de Europa essa hipnotização, pois o mundo de Von Trier é um ovo cozido fatiado e ao colocar na boca e mastigar e naturalmente digerir como já nos é condicionado é ai que vem o soco do estomago do dinamarquês que nos obriga a vomitar e deixar nossos olhos contemplar nosso próprio vomito. Obvio que de todas as obras talvez Europa não seja o mais transgressor e inquietante obra de Von Trier, mas talvez essa estilização que o diretor impõem nessa obra com influencias no expressionismo alemão ( a obra se passa na Alemanha pós-guerra, dando mais contundência para o cenário decrépito e lúgubre que adorna os germânicos) seja um sortilégio a nos ludibriar e acabar não vendo alem da epiderme da obra e entendendo que alem de belas imagens a uma ferida aberta a anos que não se cicatrizou e os que a fizeram ou convivem com ela estão em um transe, impassível e indiferente a essa ferida profunda e negra em sua historia . Alem de mostrar toda psicologia que leva o protagonista a contrapor todas as suas atitudes anteriores a culminar a catarse da catástrofe que é um dos clichês adotados sempre de um novo angulo pelo diretor em muita de suas obras e sempre a nos deixar atordoados no final. E mesmo que o espectador se proponha a ir alem da epiderme da obra é sempre no raso que ele se encontrara, o mais profundo que se chega em uma obra de arte e principalmente em uma película cinematográfica é a fustigação e a consternação dentro de nos que impera. Von Trier propõem não uma experiencia audiovisual, mas sim uma experiencia de hipnotização audiovisual dentro dessa hipnose que é a vida(?)
"As pessoas pagam para ir ao cinema e ganham dinheiro para ir à guerra. Está tudo errado. Quem quisesse ir à guerra devia pagar, quem quisesse ver filmes deveria receber dinheiro."
O vermelho ardente e o Azul inquieto como as ondas de um mar primo do céu calmo, são cores favoritas de muitos e por isso carregam um significado imanente a cada um que os apreciam, mas pelas lentes das câmeras de Almodóvar se tornam arquétipos ou melhor personagens tão imprescindíveis dentro da obra como qual quer outra mascara que ali cumpre o papel de nos ludibriar sem ludibriar. O amor louco e incomensurável é a força motriz dos filmes do espanhol, amor trágico, dilacerador e sem amarras ou julgamento, os personagens são arrastados por seus corações até chegar a catarse e se inebriam ao som latino de uma voz rouca. Um cinema assim é estritamente autoral e autoritário no sentido de que é pungente e com personalidade, sendo assim não é qual quer um que é suscetível a ele, acabando por vezes sendo mal interpretado ou caindo no ostracismo, mas no frio mundo dos arranha céus em que os olhares se perdem no meio fio da vida, o batom vermelho borrado e as lagrimas desmedidas da dor são cafonas e melodramáticas, pois nos quartos fechados sem fechadura de nossos peitos, somos uma paleta de cores cambiantes que reverberam heterogeneamente, acabando por nos cegar. O sofrimento e a dor não são negros e deprimentes, mas sim vivos e pulsantes, um tango com uma rosa na boca gotejando sangue pelo palco, marcando os passos dos bailarinos é o que propõem o cinema de Almodóvar!
Qual a linha que separa a cena de um filme e de um quadro expressionistas (ou qual quer que seja o movimento artistico)? Para Xavier Dolan esse límite foi ultrapassado e no melhor aforismo que se pode exaltar, ela nunca existiu, a arte não tem límites é exagerada, selvagem e desmedida,digo isso pelas críticas proferidas pelos então considerados críticos de cinema que despejam em blogs de quinta as suas predilações em discursos sobre as ultimas obras do canadense e entre merdas e mijos, o que pode ser percebido é uma repetição de frases para minimizar seus filmes e em Laurence Anyways foi proferida em demasia. "Menos Dolan" é a síntese da "dica" dos farsantes críticos de cinema para Dolan e eu espero que ele não de ouvidos e sim faça os críticos ouvirem sua risada sarcastica, pois acredito eu que tentar escrever uma crítica é um trabalho díficil e por vezes frustrante, como podemos por em palavras todas as imprenssões, entendimentos e insights que nós é impelida por uma obra de arte sem cair na armadilha de não acabar críticando o filme em si, mas sim o filme como queremos e só concebido em um mundo virtual? Sem contar que mesmo que 1000 palavras seja ela para por a obra em um olímpo ou num inferno é pouco para não dizer reles,comparado aos nuances, significados, simbolismos e tudo que permeia e emenda a obra, incógnita e sempre incógnita a arte será e pretenciosa ela nunca ai de ser e sim aquele que a vê. Dolan faz um cinema que mesmo cheio de referencias a outros diretores e ainda mesmo que forte e com uma identidade,ainda esta em formação (23 anos o cara tem, ainda tem muito chão), mas é um cinema original e unico, feroz, terno e sobre tudo apaixonante, numa época em que os filmes se separam entre adaptações de HQS seguindo a cartilha Spielberg de fazer filmes e cine-series adolescentes que por coincidencia também são adaptações, ter conhecimento de que ainda se faz um cinema autoral,puro, original e apaixonado deve ser exaltado e celebrado, claro que críticas negativas devem ser feitas e nelas não a mal algum, apenas no caso do crítico/espectador (não vejo a linha que separa os dois),realmente não ter entendido o filme ou ter assistido a película como quem assiste programas de audítorio num sábado a tarde, pois ai o entendimento e crítica acabam sendo suprindas em argumentos pobres, se tornando tão vago quanto um erro de continuação. Não falei tanto assim de Laurence Anyways, realmente, mas o que falar se a obra já calou a boca e nos deixa apenas absortos em seu âmago, transitando entre um estado de contemplação e euforia.
Um homem e uma mulher perdidos em si mesmos, procurando um no outro algo que os faça encontrarem a si próprios e assim sendo encontraram um sentido para essa perda de seus "Eus" e sobre tudo para as suas vidas, mesmo que não saibam o que seja esse sentido, procuram em diversos lugares seja ele uma festa feita por amigos para comemorar a compra de um novo cavalo ou uma carta de outrora escrita por um autor que quando prodigalizada suas palavras da boca de sua remetente para seus ouvidos não é reconhecida por tal, talvez porque não estava em uníssono com seu coração, mesmo que um dia já tivesse sido. A trilogia da incomunicabilidade dirigida por Antonioni começa com La Aventura, uma obra monumental, terna e deslumbrante, mas com La Notte a intenção do diretor que é retratar as relações humanas através de gestos, imagens e sobre tudo o silencio que nos filmes que complementam a trilogia é uma personagem a parte, se desenvolve de outra forma, se no primeiro filme a trama envolvia um casal tentando reconciliar o amor que sente um pelo outro num dilema que questiona a moral de ambos já no segundo é sobre o desgaste e monotonia que adorna os conjugues que estão absortos em suas idiossincrasias, ensimesmados e enclausurados dentro de seus pensamentos, resultando em uma incomunicabilidade que é obstante apenas em momentos de pura civilidade e de tentativas fúteis e inúteis de tentarem dialogar entre si, pois mesmo os dois tendo certa ciência (mais ela do que ele) de que o casamento esta acabado, ainda estão casados e essa mera formalidade que os dois (mais ele do que ela, aparentemente) tentam de certa forma sustenta-lo e esse é o cume da faca cravada em seu relacionamento. O filme como produção consegue exprimir bem os sentimentos dos protagonistas, filmado em preto e branco, com uma fotografia belíssima e uma câmera bem direcionada como exige que seja de um diretor com pulso firme, La Notte não é só um filme sobre o mundo de ricos fúteis e lúgubres e intelectuais egoístas e autopiedosos como diz Monica Viti em um dialogo com Mastroianni, mas em suma trata-se sobre as relações humanas exteriores e interiores, sempre oscilando entre indiferença, tristeza, felicidade, sentimentos esses que são fugazes em nosso cotidiano e que Antonioni faz ser eternos e vivificantes em seu mundo, mas esses sentimentos não são um luxo que só os ricos gozam é um luxo que é inerentemente dos homens, digo isso por modo da incompreensão de muitos espectadores que interpretam os filmes de Antonioni como fúteis exatamente por tratar os ricos e suas futilidades como pano de fundo de suas tramas, sem entender que isto não passa de um recurso do diretor para criticar a própria elite no qual ele convivia e mais do que ninguém tinha o discernimento de impor seu olhar por vezes acido sobre tais indivíduos. Luxo talvez não seja a melhor expressão, talvez fardo seja a melhor palavra para imprimir a condição humana que é "viver" e assim como no final da película em que Mastroianni redescobre o amor que sentia por sua mulher depois de ter ouvido dos lábios de tal a carta escrita em seus dias febris de paixão, talvez esses infames deixa essa impassível atitude de difamar Antonioni e olharem que o que esta sendo retratado vai além do que reles futilidades e mundanismos, mas o vazio, o sentido da existência e falta dela em sua forma mais visceral e desoladora, nunca o ser foi tão bem tratado como ser na reverberante e nítida câmara de cinema.
O cinema é uma arte incógnita,assim como todas as outras seis,mas especialmente essa,indagado eu,ser a mais incógnita de todas,pois esta repleta de vestígios e indícios deixados pelo diretor intencionalmente ou não,cabendo a o espectador encontra-las,esmiúça-las e degustar. Vertigo (não me atrevo a profana seu titulo em português que é um ultraje não mais enodoo do cinema,pois existe 'O poderoso Chefão) é a perfeita síntese da frase que abri esse rascunho que almeja transpor minha reverencia a Hitchcock,diretor esse que elevou o cinema a status de arte bem antes de qual quer movimento artístico Europeu que veio posteriormente. Vertigo alem de ser impecavelmente primoroso esteticamente é uma obra complexa e psicológica que não duvido nada ter sido influenciada por ideais freudianos,mas se obstem até uma certa parte por também relacionar a trama,mesmo que usada como uma arma de forma intencional do diretor para vendar os olhos do espectador,um certo ar de ocultismo ,acabando que o filme não falava nem de um ou de outro,mas sim do sentimento humano quase mundano de tão banalizado: o amor,em sua forma mais louca e obsessiva e imprevisível (agora eu encontrei a cachoeira que Almodóvar tanto bebeu para construir suas obras,obviamente não sendo o único).Se tornando atemporal e unica,ao assistir o filme,senti que já tinha visto ele em algum outro filme ou melhor dizendo,em muitos outros filmes,a influencia da obra é vasta,não só por suas inovações técnicas,mas também pela forma como a trama é contada por Hithcock com tamanha segurança que só um diretor do gabarito como ele tem e com discernimento de quem conhece a linguagem cinematográfica em sua forma mais pura e primordial: a de nos ludibriar até a hora dos créditos finais e descobrimos que não passava de um filme,pois os sentimentos surgidos enquanto a luz estava acessa pareciam tão reais que aquilo por um momento,mesmo que fugaz,parecia real,mas nada é mais real do que o mundo de nossos sentimentos,mesmo que eles tenham sidos subjugados e propositais,não importa,nos relevamos,pois esta de joelhos ao cinema é reverenciar a genialidade humana.
O Lobo Atras da Porta no qual se refere o titulo dessa película não esta se referindo a algum personagem da trama,mas sim a O Lobo Atras da Porta que tem em cada um de nos.Como pode o ser humano ser capaz de fazer tais atrocidades? Parece uma corrente de dor e vingança que não acaba ate uma flor ser totalmente podada sem ao menos ter desbrochado.A futilidade,a ignorância e o tédio da rotina não parecem que um dia iriam culminar em uma catástrofe,mas essa é a porta onde se esconde o Lobo,uma porta aparentemente inofensiva e "normal" que se for atiçada é capaz de revelar sentimentos não animais,mas sim humanos,pois no contexto da trama,os atos cometidos foram passionais,mas com um motivo muito maior que os já por si próprio fortes sentimentos de amor e vingança.A insanidade talvez seja o nome certo para definir,mas a incompreensão e a falta de sensibilidade que esta trancada pela porta que foi a causadora não só dos atos ocorridos no filme e também no que acontece em nossos dias,sem esquecer que a obra foi inspirada em fatos reais.
Quem diria que uma maquina cheia de parafernalhas tão tecnológica conseguiria captar a nossa humanidade que parece tão perdida? Talvez por que aquele que a segura tem sentimentos tão profundos que isso transparece num Iphone 6 ate um pincel e consegue fazer obras primas de encher os olhos de lagrimas,pois acredito que tudo que vem do coração independente da forma como ela é expressada é bonito,vem do ser humano,bem no fundo dele e esses homens considerados artistas conseguem pescar esses sentimentos e colocá-los diante de nos para nos agraciar com tamanha explosão de cores e amores. Almódovar que é tão humano,tão sincero e sensível desmente todos aqueles equivocados para não dizer estúpidos que se desfazem da sétima arte,por achar que jamais algo feito num set de filmagem cheio de parafernalhas conseguiria captar nossa alma como Picasso conseguiu.Em Volver ele mostra assim como todos os seus filmes anteriores,a alma humana sem retoques,mostra a alma humana como ela é:cheia de bondade e maldade,amor e ódio,perfeições e imperfeições e tudo num impulso e espontaneidade sem julgamentos,pois quem somos nos pra julgar nosso semelhante que mesmo com bocas,olhos e mãos tão diferentes tem os mesmo sentimentos,movimentos e atitudes que nos. Eu poderia dizer como Penélope Cruz esta estupenda,mas você já sabe disso,poderia dizer como a direção de Almódovar é maravilhosa e como a produção é impecável,mas você já sabe disso.Apenas me resta deixar (ou pelo menos tentar) decair nessas palavras todo o meu sentimento e admiração sobre essa película e sobre tudo minha gratidão por ainda existir homens tão HOMENS como Almódovar que se contradiz nesse mundo cada vez mais hipocritamente e pifiamente logico.
È um filme que diferente dos outros não é pra se por na boca e de se engolir fácil e aquele que tentar fazer tal ato,pode se arrepender,pois poderá não conseguir entender esta obra de magnitude unica do cinema mundial.Oito e meio é um filme que deve ser posto na boca e sentir seu gosto,uma festa para o paladar dos nomeados cinéfilos e pra engolir tal obra é preciso mastigar pedaço por pedaço ate que esfarelado caminhe pela garganta e pensa que encontra o caminho do estomago e se embrenha lá?Pelo contrario ele vai direto pra cabeça como um cachimbo de maconha e a fumaça fica nos deixando sem reação,embasbacados e paralisados com tal genialidade e sensibilidade da alma humana.Falam que é um filme autobiográfico,mas não se restringe só a seu autor é um filme de todos nos é uma película de mensagem universal assim como todos as obras anteriores e posteriores de Fellini. A cena final é a mais interessante,pois Guido não consegue resolver seus problemas como se deve imaginar,mas consegue fazer que sua vida pessoal e criativa estagnada voltasse a girar,por isso a cena de todos os personagens de sua vida de mãos dadas com Guido girando por aquilo que parece ser um picadeiro,a vida não tem final feliz como os contos de fada e sim tem que continuar a girar,girar e girar,pois se ficar estagnada pode nos levar a morte,pelo menos tentar consertar nossos erros é o primeiro passo,agora se vai dar certou ou errado é outra historia,mas ela deve continuar girando,girando,girando,girando...
O cinema argentino esta muito a frente de nós é claro que eles tem mais tradição no cinema e tem hegemonia e tudo mais.Mas enquanto produzimos coisas do tipo De Pernas Pro Ar(não que todos os filmes brasileiros sejam ruins,pelo contrario a muitas obras primas) os argentinos mostraram o que é cinema,enchendo nossos olhos com uma película que é significado de "perfeição".A parte técnica nem se fala,aplausos,os atores aplausos,mas o que chama atenção são os detalhes cada gesto,olhar e cositas que não percebemos e a consegue Câmera percebe,pois não é só Espósito que esta atras do cruel assassino,mas a câmera também como se fizesse parte do filme,como um terceiro personagem ou representa os espectadores que mergulham nesse filme e se afogam tentando encontrar a verdade e depois entende-la. O segredo sobre os seus olhos não é uma historia policial,uma investigação de um crime é um filme sobre a investigação do ser humano,uma síntese de onde ate nós humanos conseguimos chegar,nos pergunta no final do filme,coisas como:O que é justiça?O que é humanidade?O que é certo?O que é errado? A unica coisa concreta no qual a película consegue nos responder de forma concreta é que o cinema ainda mais nos tempos de hoje,é a unica arte ainda feita com amor.
Os filmes de Almodóvar sempre me lembram uma novela mexicana,exagerado por que necessita,excitante por o seu diretor é assim e banal da forma mais inesperada possível.Mulheres a beira de um ataque de nervos é ótimo,a fotografia,direção,os atores e a trilha sonora no qual vou por pra ouvir no meu MP3. O filme é sobre mulheres e seus problemas e como elas reagem e tentam(ou não) resolvê-los e como ilustra o texto estão a beira de um ataque de nervos,a beira de se matar,a beira de matarem,a beira de enlouqueceram,a beira de resistirem as suas paixões seja ela sexual,sentimental ou fútil.E o mais interessante é a forma como é mostrada a figura masculina e isso não é novidade para ninguém que conhece a filmografia de Almodóvar,o homem é tratado como um objeto no espaço,esta lá,mas apenas pra ser o pivô do problema pois o que causou e que resolve tais problemas são as mulheres e vamos combinar fica ate mais charmoso,bonito e interessante focar só nas mulheres,ate por que são atributos que só elas.Os homens com toda certeza e sem menosprezar sua existência tem tais atributos e conseguem ser tão assim quanto as mulheres,mas pessoalmente e acho que não estou sozinho,o andar de uma mulher é divino comparado a mortalidade de um andar masculino.
"Eu continuo me movendo Em direção a estrada do despertar."
Ver essa frase e posteriormente contemplar o maravilhoso dialogo final no qual fala sobre a direita e a esquerda e o filme encerrar com Anna Karina(belíssima como sempre) questionar a si mesmo e para nos "Então qual é o nosso futuro?" é de aplaudir Godard e declamá-lo como um dos artistas mais importantes da humanidade.
OBS: A cena em que compara assassinos do filme com políticos americanos é brilhante também.
Um de Nós Morrerá
3.5 14O diretor Arthur Penn que nesse filme pode se dizer, faz seu estudo para logo depois, usar o que aprendeu em sua primeira empreitada, na obra-prima, Bonnie & Clyde, consegue trazer toda atmosfera do filme a favor do personagem magistralmente interpretado por Paul Newman, que carrega o filme nas costas, criando um personagem altamente complexo, com uma vivacidade e perturbação que reflete um jovem nascido e criado num mundo, onde a violência e a arma, fazem a lei, por vezes é quase infantil, como uma criança, bonacheirão e brincalhão e outras vezes, soturno, ensimesmado e com um olhar frio e perdido, no qual Newman, expressa para câmera, todo seu talento. Fazendo, bom uso do silêncio para construir os diversos clímax de suas cenas, abusando das paisagens do oeste no começo e criando sombras, no fim, tendo a trilha sonora como compasso, para o derradeiro fim do protagonista, vagamente me lembra os westerns do mestre John Ford, talvez pela sua impressionante condução no que concerne ao roteiro e as escolhas estéticas na sua forma, mostrando um personagem complexo, mais por aquilo que não foi mostrado do que aquilo que nos foi exibido, um ícone de sua época, um mito, a mercê da historia e vítima de si mesmo!
O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro
4.1 135 Assista AgoraAos já familiarizados com o Cinema Novo e Glauber Rocha, conhece a assimilação entre o segundo filme do diretor baiano Deus e o Diabo na Terra do Sol e do angolano Ruy Guerra diretor de Os Fuzis, os dois passados no Brasil, usando e abusando do cenário árido do nordeste e bases daquele movimento e sua estética da fome, totalmente de esquerda com um compromisso político forte e incisivo. No quarto filme se a seca que mata a vaca-santa de Os Fuzis é morta pelos flagelados do nordeste por modo do ronco da barriga vazia, uma crítica acida a religião e na segunda excursão de Glauber pelo cinema em que o mesmos fazem seus protagonistas correrem a deriva ( ou para o mar), ao som de Villa-Lobos, consegue em seu quarto filme quase totalmente se dispersar do cinema no qual propôs no começo da década 60 e da ares a um abstracionismo que já tomava conta do cinema em bem antes de 69, criando um mundo Barroco e fragmentado, mesmo que seu cume como realizador e no que concerne a fragmentação do tempo seja Terra em Transe, o interessante notar em Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro é o foco mais individualista e uma analise ao interior do personagem principal o protagonistas Antonio das Mortes com seu manto sombrio e sua espingarda sóbria, consegue transmitir a mudança de posição do cinema de Glauber e talvez do próprio estado de espírito do diretor autoral ,que faz um cinema orgânico e em Dragão da Maldade... totalmente imagético, sendo seu primeiro filme a cores, alegorias, um sotaque teatral que os atores incorporam a seus gestos, fazem do sertão palco de uma opereta sobre os indigentes aos olhos de um progresso que clama por Getulio Vargas e assovios de bossa nova e por esse olho arcaico e estreito, o progresso se torna cego e seguindo de forma incorruptível um futuro que deixa marcas, alimentam os sulcos da barriga em fome gritante e destroça o que sobrou de uma cultura que se mantem pracejando com suspiros de cordel.
Muitas vezes seus enquadramentos e planos sequências, quase indissociáveis do cinema glauberiano, remetem a o neorrealismo de Vittorio De Sica, embora isso poderia ser encontrado em Deus e o Diabo na Terra do Sol e Barravento, ainda sim no filme de 1969 fica mais tangível, o quanto Glauber, embora quase totalmente deixando de lado a estética da fome, não deixou de ser politico e marxista, mesmo que esses o tenham, junto com a opinião publica o massacrado na época de Terra em Transe, pois uma ação não pode estar dissociada de outra ação, arte e politica, não é uno para Glauber e sim uma constante conciliação que almeja o transcendental, a catarse!
Carol
3.9 1,5K Assista AgoraIntimista, elegante e conciso, Carol é antes de tudo é um filme sobre os relacionamentos humanos e sua busca pela felicidade, duas mulheres vivendo em uma época em que o puritanismo americano estava banhando na hipocrisia, melhor forma de entender isso é como tudo fica muito subtendido sobre a orientação sexual das protagonistas, embora Therese pareça mais uma garota em busca de novas experiencias e em volta de uma paixão juvenil, mas nem por isso vaga e pouco arrebatadora, isso também fica bem colocado em contexto pela classe social da personagem que da nome a trama, rica, bonita e elegante, sua sexualidade e por conseguinte sua felicidade é abafada por aquele mundo de coquetéis e cassacos de peles, que é tudo fachada para esconder a vulgaridade e decadência dos pertencentes de tal classe (como pano de fundo a Nova York adornado pelo vermelho natalino e por que não apaixonante que marca presença na paleta de cores). A viagem que as duas fazem, pode dar um tom "on the road" a o filme, mas a sensibilidade de olhares, toques e da direção concisa, não faz disparates e faz fluir bem a trama, pois o principal nessa parte do filme é o despertar da paixão que desde do primeiro olhar já estava em borbulhação. Uma cena em especial que destaco, por ter me tocado muito é quando as duas transpassam com o carro pelo túnel, para passarem uma noite na casa de Carol, nesse momento, de forma extremamente sútil, a entrada do mundo de Carol por Therese e em um diálogo entre Therese e o amigo fotografo e escritor do Times sobre fotografia algumas cenas anteriores,em que o mesmo pergunta a Therese sobre o que mais gosta de fotografar, ela responde que coisas naturais e mundanas, enquanto ele tem preferencia a fotografar pessoas e nesse momento a solidão, que enebria as protagonistas vem a tela...Therese diz que não gosta de fotografar pessoas, mesmo sem saber por que e seu amigo escritor e fotografo deduz que talvez por modo da "Invasão de Privacidade" que ela hesita tal empreendimento e logo após essa cena, mais especificamente um plano depois da cena relatava no túnel,quando ela tira foto de Carol pela primeira vez, no que parece ser a entrada da casa de sua amada, ela esta invadindo aquele mundo, se aproximando e se tornando intima dela, pode se notar essa proximidade quando Therese é testemunha da discussão entre Carol e Harge por causa da filha e do desastre que foi seu casamento em separação. Essa alegoria, se é que podemos chamar assim, pode ser notada em vários filmes e por si própria, já que nos primórdios da fotografia, era considerada comumente de forma ignorante como um sabotamento das almas daqueles que eram fotografados pela câmara, a solidão no qual falei anteriormente é destacada nos momentos melancólicos entre as duas e separadas também, uma solidão que enebria por razão de empecilhos não só da sociedade consumista em que se passa o tempo e espaço da trama, mas também pela infelicidade advinda de sua supressão existencial de estarem mancas de seus desejos e confusas, embora nem um pouco parecido com um empecilho, de seus sentimentos.
A direção que coloca a câmera em enquadramentos pela metade e em ângulos baixos, quase a espreita, deixando o espectador tão intimo daquela relação furtiva, sem contar os planos detalhes que dão o tom sútil e sensível em um filme feito de toques e gestos. Um filme sobre mulheres é imprescindível atrizes que consigam expressar essa multiplicidade que é alma feminidade no qual o filme toca a essência, não é necessário recortar reflexões sobre como as atrizes que forjam suas peles paras heroínas desse romance, conseguem também expressar!
Assim Falou o Amor
4.1 24Minnie and Moskowitz em seus primeiros minutos parece ser um belo exemplar de um filme de Cassavetes: angustiado, denso e contendo todas as vicissitudes que os seres humanos emanam, mas ao longo da trama, esses mesmos elementos dão espaços a comicidade, esperança e a possibilidade do amor, que se nos seus filmes anteriores e posteriores acabam sendo pouco enfatizados ou no caso da possibilidade do amor, só fica no âmbito das suposições, em seu sexto filme, o amor acaba não só sendo transportado para a vida dos personagens, mesmo com muita penúria e pessimismo, mas também entendido ou melhor, sentido e é a parti desse despojamento de racionalidade muitas vezes enfatizado pelo adorável bruto Moskowitz, que os personagens acabam tendo o seu happy end. Minnie and Moskowitz é um sorriso largo de ponta a ponta que vai sendo construído desde de seus primeiros minutos no espectador, obvio que mesmo até em momentos cômicos como a dança no estacionamento defronte ao bar, mesmo que suscitando gargalhadas ,ainda segue a linha que o filme nos apresenta desde seus primeiros instantes: a solidão, a falta de vivacidade e o anseio de calor humano, mas não sabem como consegui-lo, aliás o estacionamento não é só um cenário frequente na trama, como significa ao meu ver, a estagnação emocional e física de seus personagens, principalmente no que concerne a protagonista Minnie. Cassavetes é um diretor de atores e eles ocupam não só o centro do palco, no qual o diretor ilumina com sua câmara-luneta, mas toda a construção de sua mise-en-scène, ele ( câmera) se apropria dos corpos e dos rostos dos atores para imprimir ali suas marcas digitais de autor, pois os diálogos mesmo que ótimos e importantes a narrativa é nos olhares que caem e sobem sutilmente, nos sorrisos frágeis e tristes e nas rugas que atapetam os rostos e mãos, mostrando pessoas desesperadas por algo que faça de suas existências, um pouco menos onerosa que o diretor se faz artesão. Nomear o filme como uma comedia romântica já é axiomaticamente um erro, mas se sua narrativa se assemelha a Megera Indomável, clássico de Shakespeare é por que seus protagonistas não conseguem entender o interior e o exterior de si mesmos e que os rodeia, Minnie esta dilacerada, humilhada e sem perspectiva de viver : “Já é difícil até respirar” diz ela em um certo momento, está vazia, não consegue dar o amor que Moskowitz tanto a indagada a dar-lhe, ele por conseguinte, está cheio de amor, mas não sabe como fazer de forma em que não possa quebrar tudo ao seu redor, um bruto que também ama, quer ser romântico e diz “ Eu te amo tanto, que até esqueço de mijar”, essa discrepância entre duas pessoas é que criam os momentos cômicos da trama, querem agradar e não sabem como. Uma cena, que melhor consegue expressar a solidão e o quão frio pode ser os relacionamentos humanos isso é a inicial, em que Moskowitz sai pela ruas escurecidas pela noite em NY, tentando conversar com pessoas ou paquerar mulheres, todos o repelem, não por ser feio ou desagradável, talvez até por isso, mas sobre tudo por que são frios e estão embriagados em seus egos e tragando suas angustias, nesse cenário sem perspectivas de contato humano e carnal, que os protagonistas deixam de entender o porquê de tudo isso e começam a sentir tudo isso, seja lá o que for tudo isso é tudo e não poderia ser melhor, em um filme de Cassavetes não poderia ser menos.
Três Homens em Conflito
4.6 1,2K Assista AgoraA morte, a ganancia e a moral, são os três temas explicitados durantes os três filmes, (alias numero esse caro para Sergio Leone),e em seu ultimo e triunfante fim, ganha ares não de epopeia como sempre o gênero nos primórdios era comparado, mas sim de opera, com a musica de Ennio Morricone,impondo um compasso ou melhor dizendo um ode a premissa e gloria da morte e se observar bem, a trilogia são partes constituintes de uma opera sobre a morte da moral pela ganancia do homem.
Se nos westerns americanos a moral de seus personagens era bem maniqueísta a não ser no caso dos filmes de John Wayne e outros em que ambiguidade de seus personagens era posta em cheque, mas sempre justificada, nos chamados westerns spaghetti ou pelo menos nessas três partes da Odisseia de Leone, esse mesmo é extirpado pouco a pouco,( mesmo que em no primeiro siga quase a risca o modelo americano de westerns e sua ambiguidade moral no protagonista, isso como é relatado anteriormente e desde do começo já era implícito, vai sendo extirpado gradualmente nos outros dois filmes seguintes),e não como pode se pensar para dar alas a violência gratuita, mesmo que ela seja explicita mais do que nunca,violência essa,é despida de moralidade e ao olho nu, vemos seu vazio e o nada que reside dentro dela,ainda mais se tiver em conta a guerra no Vietnã que estava sendo travada na época, onde milhares de jovens morriam e voltavam para casa em caixões dentro de aviões militares, a escolha do diretor de por como segundo plano a Guerra da Secessão, explicitando o caráter de verossimilhança histórico que por vezes quase não era enfatizando em outros westerns, inclusive nos dois filmes anteriores da trilogia, subsiste mais ainda essa falta de moralidade no mundo do western spaghetti e ai entra o segundo elemento que é o mote da trama, colocando mais em prova o vazio e a imoralidade: a ganancia, homens fazem de seu gatilho a sua própria lei, o sol escaldante sua moral e o horizonte onde esse sol nasce, resplandecendo os rochedos de terra e vegetação árida, seu palco e o terceiro elemento e talvez o fundamental, banha (de sangue) ainda mais esse cenário com sua crueldade e frieza taciturna: a morte, o único medo dos homens ao mesmo tempo sua salvação e redenção desse mundo vil, morte essa que por vezes é vingada, injustiçada e sempre cobrando um preço alto e de preferencia em dólares, encontra em Clint Eastwood ( sem esquece de Lee Van Cleef, que no segundo filme encarna quase literalmente a morte e sua melhor interpretação pelos que já vi de sua filmografia no momento), o ator perfeito que se é tão viril e macho como o inigualável John Wayne, sem tirar o posto de seu conterrâneo, vai alem e em sua interpretação quase inexpressiva, a expressão desses três elementos que acredito ser os componentes que mais me tocaram dessa Odisseia ( Opera). Traçam no personagem ares místicos e sombrios, no qual nos identificamos e torcemos, tanto pelo carisma de Clint, quanto e talvez a maior razão desse miticismo, por essa inexpressividade, se tornando incógnito e atraente, um mito sagrado do cinema, uma entidade sem nome que vaga por ai, assombrando os homens e apostando a vida deles e a sua própria (se é que Clint tem alma) por um punhado de miseres dólares!
Cinzas que Queimam
3.9 18Subvertendo algumas "regras" estéticas e narrativas do noir, questionando o ascetismo policial como forma de debater moral, ética e solidão, os olhos de Nicholas Ray percorrem o filme de forma totalmente subjetiva, não só com sua câmera, que por vezes toma como a visão do personagem, mas em cada quadro que pertence a tela, pois o sentimento de se sentir acuado ou por vezes resignado com a escuridão que nos é cobrida pelos nossos próprios olhos, uma escolha que nos é aparentemente forçada pelas penúrias da vida, pode chegar ao estremo de perdemos a esperança e por fim a humanidade,é um fardo que Ray carregava nas costas e refletia em seus filmes providos da matéria prima de luz e sombra. Obras que se por vezes terminavam com um amargo final sem beijo de despedida, nesse filme que fala alem de tudo sobre o branco e o preto,bem acentuada metáfora pela noite que atapeta a cidade em toda a primeira parte e o branco da neve predominante na segunda parte, por vezes,logo perto do desenlace da trama graduando preto e branco como que se não existisse uma dicotomia e sim, os dois lados da vida sem direito algum de julgamento, restando apenas a nós, tomarmos as dianteiras da vida e iluminar o caminho segurando a vela estendida,avante, na penetrante escuridão abissal da vida. Nicholas Ray era um diretor sobretudo, soturno e brilhante!
Noite de Estréia
4.4 52A realidade e ficção a linha atenue que separa esses dois polos, em alguns filmes ela é questionada,na maioria pende mais para a segunda e em poucos é esforçado uma tentativa por si próprio frustrada de buscar uma verossimilhança com a realidade, apelando para não-atores e a câmera na mão. Cassavetes não busca nem um nem outros, mas sim o seu uno, pois esses dois polos não estão separados, estão unidos, o ator que interpreta tal personagem, entregando a essa mascara os seus sentimentos, mentindo para o público, acaba ganhando nuances maiores em seus filmes ( em Opening Night mais do que nunca),onde o suposto teatro filmado já não é mais encenado no palco e sim nas esquinas, nos quartos de hotéis baratos, seus atores caminham o inverso do que já é comumente conhecido, os personagens se tornam atores, pois esses personagens são reais, vivem seguidos pelos holofotes do sol na ribalta da rua, são personagens refletidos de seres humanos que olham ávidos a tela (palco) como se olhassem para si próprios sem saber, só tendo consciência desse "fenômeno" quando as cortinas se fecham e as luzes da onde estava submergidos naquele breu da alma humana se acedem, não para o real e sim para a vida, pois nunca saíram dela, jamais se escapa da vida durante as duas ou mais horas que se senta na poltrona para vivenciar a experiencia que é os filmes de Cassavetes, apenas são reluzidos,não pela iluminação sofisticada de um tipico filme americano, mas sim por sua câmera-luneta, as sombras que pensamos ser de mentira, um mundo que de tão escuro acreditamos ser uma caverna, quando na verdade é a própria realidade, onde nem seus atores escapam dela, eles não atuam (?), apenas tem a oportunidade de gritar e chutar aquilo que seus semelhantes no posto de espectadores,não tem coragem de fazer.Brilhante!
E La Nave Va
4.0 70 Assista AgoraSe equiparando a Julieta dos Espíritos e Amarcord no que concerne ah exorbitância de seu mundo barroco e que transita de forma por vezes não gradual entre o sonho e realidade quase se tornando uno, E La Nave Va também se diferencia dos dois filmes no qual assimilei semelhanças, alias de toda a filmografia do mestre, onde seus personagens tão estilizados por aquele aparato felliniano tão comumente conhecido por seus cultuadores, estão nesse filme revestidos dos pés a cabeça pelas idiossincrásicas e as extravagancias do diretor que obviamente não se detêm apenas aos seus personagens/fantoches, mas também a toda mise-en-scène da película, chamando muita minha atenção a maquiagem que delineia os gestos faciais, como se estivesse saído de um filme mudo dos primórdios do cinema. Sem contar das tantas metáforas que o filme carrega, uma chamou minha atenção, a do rinoceronte, que parece representar o cinema na visão de Fellini, que na época não estava bem das pernas, a popularidade irrefutável da TV como forma de entretenimento preferida em detrimento do cinema na década de 80 foi uma crise para todos na industria e Fellini um dos seus já anciões foi uma de suas vítimas, o rinoceronte doente e debilitado sendo cuidado com diligencia por seu tratador com grande prudencia e afeto nos confins do navio, virando quase atração turísticas para seus passageiros burgueses e no fim com o navio afundado, apenas ficou o rinoceronte e jornalista para contar historia, no final é isso que acabaremos nos tornando, personagens de uma época sendo registrado por uma decrepita e primitiva forma de expressão humana que já na aquela época se mostrava datada, conhecida por muitos como Cinema!
Viver
4.4 166 Assista AgoraNo começo (mais para o meio do filme, especificamente aos 50 minutos da película) o personagem Kanji Watanabe canta uma canção, acompanhado pelo piano tocado por um pianista em um bordel, seus olhos esbugalhados e perdidos, como se estivesse imerso na escuridão de um poço sem saída e a musica que primeiramente nos aparece como pessimista,no qual parece ser a expressão,a síntese de seu estado emocional e espiritual, alem da iluminação densa e repleta de sombras, predominante em quase toda a metade do filme, engolindo o personagem para as trevas, para o fim. Mas no final da película, em uma das cenas mais lindas que o cinema já proporcionou a esses meus olhos, o mesmo personagem canta a musica novamente ( um trecho para ser mais exato, mas isso não vem ao caso) e mesmo em um cenário lúgubre, beirando a uma melancolia funesta ( até porque é a ultima cena do personagem e o desfecho de seu derradeiro fim), o que diferencia da primeira vez que a musica foi cantada é a forma como ela é entonada que na primeira vez era dessincronizada com a melodia tocada pelo piano e com uma voz rouca e triste, mas nessa segunda e ultima vez ela é entonada com uma leveza, seguindo o ritmo da melodia,é cantada com uma ternura e alívio,não mais com aqueles olhos perdidos e horrorizados, agora seus olhos tem um brilho cintilante que lhe faltava, e mesmo que para onde os seus olhos se direcionam seja algo muito subjetivo para cada espectador, presumo que seus olhos estejam fitando esse mesmo espectador (?).
A mesma canção, cantada duas vezes de formas diferentes é como a vida, ela não muda a letra como aparentemente se mostra ser, mas o que muda é a forma como ela é cantada, dependendo de nos se ela sera entonada de forma triste ou feliz e por que não canta-la em coral? A capela mesmo que no filme tenha sua razão para ter sido filmado assim, na vida "real" ou pelo menos no que concerne a mim, cantar em uníssono me parece a melhor forma de Viver!
Copacabana Mon Amour
3.9 78 Assista AgoraEm uma época em que o termo "apropriação cultural" esta em voga entre os afobados-intelectuais, recebam na mente e no cu o mais Antropófago dos diretores brasileiros em sua ebulição para a catarse do terceiro mundo que mesmo depois de 45 anos ainda se mantem atual, pois ainda somos assombrados pelo fantasma que se esconde debaixo do lençol branco, no qual convivemos todos os dias quase se tornando natural!
O Beijo da Mulher-Aranha
3.9 256 Assista AgoraO cinema como forma de iludir e fugir das dores humanas ou o cinema como forma de confrontar essas dores e colocá-las e esfrega-las no rosto do individuo, como se fosse um Close-Up? Questionamento pertinente ao cinema desde de seus primórdios, encontra no quarto filme de Babenco uma congruência, ao mesmo tempo em que não responde essa questão e pelo contrário ressalta vários aspectos e a prolonga a partir de reflexões não só metalinguística, mas também sobre repressão politica, sexualidade, liberdade e sobre tudo esperança. Alguns diretores como Billy Wilder conseguiram casar o cinema como forma de entretenimento e questionamento sobre convenções sociais, existencialistas e a condição humana e Babenco alem pagar tributo a esses filmes a partir do filme dentro do filme com estilo Noir, propaganda politica e com uma Sonia Braga lembrando muito Marlene Dietrich, também coloca em pauta o cinema como forma de propagar ideologias e alienar ( seja ele cinema de entretenimento hollywoodiano, propaganda politica e por si só o cinema que é uma representação da realidade, que por vezes tão verídica, para cabeças mais "suscetível" pode acabar alienando e doutrinando).
Interessante que o diretor faz um panorama politico daquela America Latina se "libertando" de seus regimes militares, pois dizer que ele apenas esta fazendo referencia ao Brasil e sua condição na época seria um tanto leviano, tendo em conta em que nenhum momento o filme corrobora a onde a penitenciaria passa, escolha essa que é interessante enfatizar, pois seu realizador é um argentino nacionalizado brasileiro de ascendência judaico-ucraniana. Penitenciaria essa que ganha um simbolismo maior ao longo da obra, por significar não só o cenário predominante do filme, mas também o estado emocional de seus protagonistas, várias vezes a câmera faz tomadas que começam com o enquadramento das grades da cela, o quão decrepito e desumano é o ambiente, estão presos, presos em si mesmos, como se estivesse em uma teia de aranha que saiu dentro deles e mesmo presos conseguem se livrar de preconceitos e encontrar mesmo que fugaz o amor e a amizade. Num mundo cada vez mais preso em sua desumanidade, a liberdade almejada vai ganhando contornos cada vez mais humanos e por si própria mais distante e quase infelizmente só encontrada na morte!
Sonata de Outono
4.5 492O Outono simboliza a mudança das folhas, o começo do inverno e o fim do verão. No Outono nesse filme de Bergman ( muito bem destacado pelas cores alaranjadas por vezes pasteis) é a transição dessa mudança, do verão de dias longos e quentes por vezes escaldante para o inverno gélido e frio que atapeta todos nós, escondendo os mais íntimos sentimentos e os personagens do filme, assim como as frutas nessa estação estão amadurecendo e caindo, revelando seus verdadeiros sentimentos com a caída de suas máscaras e a primavera ainda tão distante, pelo menos na película parece ser incerta se suas flores iram desabrochar e continuar o ciclo ou ficarem presos no inverno recrudescedor.
As vezes a vida é sempre um inverno rigoroso, um verão quente e escaldante e para poucos uma primavera feliz e o outono é a única estação que continua a transitar entre nos, pois é necessário o amadurecimento e a caída de nossas máscaras tão sustentadas por verões de temperatura quente e invernos rigorosos é o frescor que necessitamos, a libertação e a mudança de nossas cores mesmo que fugaz. No final a pergunta fica: nos escolhemos essas mudanças ou apenas nos conformamos e tentamos conviver com elas? Sera que não da para fazer a vida uma eterna primavera e obstruir essa incensante e insensata mudança dentro de nós?
Europa
4.0 117 Assista AgoraUm manipulador dos sentimentos, que faz de tudo a sua frente arquétipos maleáveis para induzir o espectador em sua diegese cinematográfica, alias é necessário essa abdução do espectador ou no caso de Europa essa hipnotização, pois o mundo de Von Trier é um ovo cozido fatiado e ao colocar na boca e mastigar e naturalmente digerir como já nos é condicionado é ai que vem o soco do estomago do dinamarquês que nos obriga a vomitar e deixar nossos olhos contemplar nosso próprio vomito. Obvio que de todas as obras talvez Europa não seja o mais transgressor e inquietante obra de Von Trier, mas talvez essa estilização que o diretor impõem nessa obra com influencias no expressionismo alemão ( a obra se passa na Alemanha pós-guerra, dando mais contundência para o cenário decrépito e lúgubre que adorna os germânicos) seja um sortilégio a nos ludibriar e acabar não vendo alem da epiderme da obra e entendendo que alem de belas imagens a uma ferida aberta a anos que não se cicatrizou e os que a fizeram ou convivem com ela estão em um transe, impassível e indiferente a essa ferida profunda e negra em sua historia . Alem de mostrar toda psicologia que leva o protagonista a contrapor todas as suas atitudes anteriores a culminar a catarse da catástrofe que é um dos clichês adotados sempre de um novo angulo pelo diretor em muita de suas obras e sempre a nos deixar atordoados no final.
E mesmo que o espectador se proponha a ir alem da epiderme da obra é sempre no raso que ele se encontrara, o mais profundo que se chega em uma obra de arte e principalmente em uma película cinematográfica é a fustigação e a consternação dentro de nos que impera. Von Trier propõem não uma experiencia audiovisual, mas sim uma experiencia de hipnotização audiovisual dentro dessa hipnose que é a vida(?)
Tempo de Guerra
3.8 34"As pessoas pagam para ir ao cinema e ganham dinheiro para ir à guerra. Está tudo errado. Quem quisesse ir à guerra devia pagar, quem quisesse ver filmes deveria receber dinheiro."
Jean-Luc Godard
A Flor do Meu Segredo
3.7 160O vermelho ardente e o Azul inquieto como as ondas de um mar primo do céu calmo, são cores favoritas de muitos e por isso carregam um significado imanente a cada um que os apreciam, mas pelas lentes das câmeras de Almodóvar se tornam arquétipos ou melhor personagens tão imprescindíveis dentro da obra como qual quer outra mascara que ali cumpre o papel de nos ludibriar sem ludibriar. O amor louco e incomensurável é a força motriz dos filmes do espanhol, amor trágico, dilacerador e sem amarras ou julgamento, os personagens são arrastados por seus corações até chegar a catarse e se inebriam ao som latino de uma voz rouca. Um cinema assim é estritamente autoral e autoritário no sentido de que é pungente e com personalidade, sendo assim não é qual quer um que é suscetível a ele, acabando por vezes sendo mal interpretado ou caindo no ostracismo, mas no frio mundo dos arranha céus em que os olhares se perdem no meio fio da vida, o batom vermelho borrado e as lagrimas desmedidas da dor são cafonas e melodramáticas, pois nos quartos fechados sem fechadura de nossos peitos, somos uma paleta de cores cambiantes que reverberam heterogeneamente, acabando por nos cegar.
O sofrimento e a dor não são negros e deprimentes, mas sim vivos e pulsantes, um tango com uma rosa na boca gotejando sangue pelo palco, marcando os passos dos bailarinos é o que propõem o cinema de Almodóvar!
Laurence Anyways
4.1 553 Assista AgoraQual a linha que separa a cena de um filme e de um quadro expressionistas (ou qual quer que seja o movimento artistico)? Para Xavier Dolan esse límite foi ultrapassado e no melhor aforismo que se pode exaltar, ela nunca existiu, a arte não tem límites é exagerada, selvagem e desmedida,digo isso pelas críticas proferidas pelos então considerados críticos de cinema que despejam em blogs de quinta as suas predilações em discursos sobre as ultimas obras do canadense e entre merdas e mijos, o que pode ser percebido é uma repetição de frases para minimizar seus filmes e em Laurence Anyways foi proferida em demasia. "Menos Dolan" é a síntese da "dica" dos farsantes críticos de cinema para Dolan e eu espero que ele não de ouvidos e sim faça os críticos ouvirem sua risada sarcastica, pois acredito eu que tentar escrever uma crítica é um trabalho díficil e por vezes frustrante, como podemos por em palavras todas as imprenssões, entendimentos e insights que nós é impelida por uma obra de arte sem cair na armadilha de não acabar críticando o filme em si, mas sim o filme como queremos e só concebido em um mundo virtual? Sem contar que mesmo que 1000 palavras seja ela para por a obra em um olímpo ou num inferno é pouco para não dizer reles,comparado aos nuances, significados, simbolismos e tudo que permeia e emenda a obra, incógnita e sempre incógnita a arte será e pretenciosa ela nunca ai de ser e sim aquele que a vê. Dolan faz um cinema que mesmo cheio de referencias a outros diretores e ainda mesmo que forte e com uma identidade,ainda esta em formação (23 anos o cara tem, ainda tem muito chão), mas é um cinema original e unico, feroz, terno e sobre tudo apaixonante, numa época em que os filmes se separam entre adaptações de HQS seguindo a cartilha Spielberg de fazer filmes e cine-series adolescentes que por coincidencia também são adaptações, ter conhecimento de que ainda se faz um cinema autoral,puro, original e apaixonado deve ser exaltado e celebrado, claro que críticas negativas devem ser feitas e nelas não a mal algum, apenas no caso do crítico/espectador (não vejo a linha que separa os dois),realmente não ter entendido o filme ou ter assistido a película como quem assiste programas de audítorio num sábado a tarde, pois ai o entendimento e crítica acabam sendo suprindas em argumentos pobres, se tornando tão vago quanto um erro de continuação. Não falei tanto assim de Laurence Anyways, realmente, mas o que falar se a obra já calou a boca e nos deixa apenas absortos em seu âmago, transitando entre um estado de contemplação e euforia.
A Noite
4.2 103Um homem e uma mulher perdidos em si mesmos, procurando um no outro
algo que os faça encontrarem a si próprios e assim sendo encontraram um sentido
para essa perda de seus "Eus" e sobre tudo para as suas vidas, mesmo que não saibam
o que seja esse sentido, procuram em diversos lugares seja ele uma festa feita por amigos para comemorar a compra de um novo cavalo ou uma carta de outrora escrita por um autor que quando prodigalizada suas palavras da boca de sua remetente para
seus ouvidos não é reconhecida por tal, talvez porque não estava em uníssono com seu coração, mesmo que um dia já tivesse sido. A trilogia da incomunicabilidade dirigida por Antonioni começa com La Aventura, uma obra monumental, terna e deslumbrante, mas com La Notte a intenção do diretor que é retratar as relações humanas através de gestos, imagens e sobre tudo o silencio que nos filmes que complementam a trilogia é uma personagem a parte, se desenvolve de outra forma, se no primeiro filme a trama envolvia um casal tentando reconciliar o amor que sente um pelo outro num dilema que questiona a moral de ambos já no segundo é sobre o desgaste e monotonia que adorna os conjugues que estão absortos em suas idiossincrasias, ensimesmados e enclausurados dentro de seus pensamentos, resultando em uma incomunicabilidade que é obstante apenas em momentos de pura civilidade e de tentativas fúteis e inúteis de tentarem dialogar entre si, pois mesmo os dois tendo certa ciência (mais ela do que ele) de que o casamento esta acabado, ainda estão casados e essa mera formalidade que os dois (mais ele do que ela, aparentemente) tentam de certa forma sustenta-lo e esse é o cume da faca cravada em seu relacionamento.
O filme como produção consegue exprimir bem os sentimentos dos protagonistas, filmado em preto e branco, com uma fotografia belíssima e uma câmera bem direcionada como exige que seja de um diretor com pulso firme, La Notte não é só
um filme sobre o mundo de ricos fúteis e lúgubres e intelectuais egoístas e autopiedosos como diz Monica Viti em um dialogo com Mastroianni, mas em suma trata-se sobre as relações humanas exteriores e interiores, sempre oscilando entre indiferença, tristeza, felicidade, sentimentos esses que são fugazes em nosso cotidiano e que Antonioni faz ser eternos e vivificantes em seu mundo, mas esses sentimentos não são um
luxo que só os ricos gozam é um luxo que é inerentemente dos homens, digo isso por modo da incompreensão de muitos espectadores que interpretam os filmes de Antonioni como fúteis exatamente por tratar os ricos e suas futilidades como pano de fundo de suas tramas, sem entender que isto não passa de um recurso do diretor para criticar a própria elite no qual ele convivia e mais do que ninguém tinha o discernimento de impor seu olhar por vezes acido sobre tais indivíduos. Luxo talvez não seja a melhor expressão, talvez fardo seja a melhor palavra para imprimir a condição humana que é "viver" e assim como no final da película em que Mastroianni redescobre o amor que sentia por sua mulher depois de ter ouvido dos lábios de tal a carta escrita em seus dias febris de paixão, talvez esses infames deixa essa impassível atitude de difamar Antonioni e olharem que o que esta sendo retratado vai além do que reles futilidades e mundanismos, mas o vazio, o sentido da existência e falta dela em sua forma mais visceral e desoladora, nunca o ser foi tão bem tratado como ser na reverberante e nítida câmara de cinema.
Um Corpo que Cai
4.2 1,3K Assista AgoraO cinema é uma arte incógnita,assim como todas as outras seis,mas especialmente essa,indagado eu,ser a mais incógnita de todas,pois esta repleta de vestígios e indícios deixados pelo diretor intencionalmente ou não,cabendo a o espectador encontra-las,esmiúça-las e degustar. Vertigo (não me atrevo a profana seu titulo em português que é um ultraje não mais enodoo do cinema,pois existe 'O poderoso Chefão) é a perfeita síntese da frase que abri esse rascunho que almeja transpor minha reverencia a Hitchcock,diretor esse que elevou o cinema a status de arte bem antes de qual quer movimento artístico Europeu que veio posteriormente. Vertigo alem de ser impecavelmente primoroso esteticamente é uma obra complexa e psicológica que não duvido nada ter sido influenciada por ideais freudianos,mas se obstem até uma certa parte por também relacionar a trama,mesmo que usada como uma arma de forma intencional do diretor para vendar os olhos do espectador,um certo ar de ocultismo ,acabando que o filme não falava nem de um ou de outro,mas sim do sentimento humano quase mundano de tão banalizado: o amor,em sua forma mais louca e obsessiva e imprevisível (agora eu encontrei a cachoeira que Almodóvar tanto bebeu para construir suas obras,obviamente não sendo o único).Se tornando atemporal e unica,ao assistir o filme,senti que já tinha visto ele em algum outro filme ou melhor dizendo,em muitos outros filmes,a influencia da obra é vasta,não só por suas inovações técnicas,mas também pela forma como a trama é contada por Hithcock com tamanha segurança que só um diretor do gabarito como ele tem e com discernimento de quem conhece a linguagem cinematográfica em sua forma mais pura e primordial: a de nos ludibriar até a hora dos créditos finais e descobrimos que não passava de um filme,pois os sentimentos surgidos enquanto a luz estava acessa pareciam tão reais que aquilo por um momento,mesmo que fugaz,parecia real,mas nada é mais real do que o mundo de nossos sentimentos,mesmo que eles tenham sidos subjugados e propositais,não importa,nos relevamos,pois esta de joelhos ao cinema é reverenciar a genialidade humana.
O Lobo Atrás da Porta
4.0 1,3KO Lobo Atras da Porta no qual se refere o titulo dessa película não esta se referindo a algum personagem da trama,mas sim a O Lobo Atras da Porta que tem em cada um de nos.Como pode o ser humano ser capaz de fazer tais atrocidades? Parece uma corrente de dor e vingança que não acaba ate uma flor ser totalmente podada sem ao menos ter desbrochado.A futilidade,a ignorância e o tédio da rotina não parecem que um dia iriam culminar em uma catástrofe,mas essa é a porta onde se esconde o Lobo,uma porta aparentemente inofensiva e "normal" que se for atiçada é capaz de revelar sentimentos não animais,mas sim humanos,pois no contexto da trama,os atos cometidos foram passionais,mas com um motivo muito maior que os já por si próprio fortes sentimentos de amor e vingança.A insanidade talvez seja o nome certo para definir,mas a incompreensão e a falta de sensibilidade que esta trancada pela porta que foi a causadora não só dos atos ocorridos no filme e também no que acontece em nossos dias,sem esquecer que a obra foi inspirada em fatos reais.
Volver
4.1 1,1K Assista AgoraQuem diria que uma maquina cheia de parafernalhas tão tecnológica conseguiria captar a nossa humanidade que parece tão perdida? Talvez por que aquele que a segura tem sentimentos tão profundos que isso transparece num Iphone 6 ate um pincel e consegue fazer obras primas de encher os olhos de lagrimas,pois acredito que tudo que vem do coração independente da forma como ela é expressada é bonito,vem do ser humano,bem no fundo dele e esses homens considerados artistas conseguem pescar esses sentimentos e colocá-los diante de nos para nos agraciar com tamanha explosão de cores e amores.
Almódovar que é tão humano,tão sincero e sensível desmente todos aqueles equivocados para não dizer estúpidos que se desfazem da sétima arte,por achar que jamais algo feito num set de filmagem cheio de parafernalhas conseguiria captar nossa alma como Picasso conseguiu.Em Volver ele mostra assim como todos os seus filmes anteriores,a alma humana sem retoques,mostra a alma humana como ela é:cheia de bondade e maldade,amor e ódio,perfeições e imperfeições e tudo num impulso e espontaneidade sem julgamentos,pois quem somos nos pra julgar nosso semelhante que mesmo com bocas,olhos e mãos tão diferentes tem os mesmo sentimentos,movimentos e atitudes que nos.
Eu poderia dizer como Penélope Cruz esta estupenda,mas você já sabe disso,poderia dizer como a direção de Almódovar é maravilhosa e como a produção é impecável,mas você já sabe disso.Apenas me resta deixar (ou pelo menos tentar) decair nessas palavras todo o meu sentimento e admiração sobre essa película e sobre tudo minha gratidão por ainda existir homens tão HOMENS como Almódovar que se contradiz nesse mundo cada vez mais hipocritamente e pifiamente logico.
8½
4.3 409 Assista AgoraÈ um filme que diferente dos outros não é pra se por na boca e de se engolir fácil e aquele que tentar fazer tal ato,pode se arrepender,pois poderá não conseguir entender esta obra de magnitude unica do cinema mundial.Oito e meio é um filme que deve ser posto na boca e sentir seu gosto,uma festa para o paladar dos nomeados cinéfilos e pra engolir tal obra é preciso mastigar pedaço por pedaço ate que esfarelado caminhe pela garganta e pensa que encontra o caminho do estomago e se embrenha lá?Pelo contrario ele vai direto pra cabeça como um cachimbo de maconha e a fumaça fica nos deixando sem reação,embasbacados e paralisados com tal genialidade e sensibilidade da alma humana.Falam que é um filme autobiográfico,mas não se restringe só a seu autor é um filme de todos nos é uma película de mensagem universal assim como todos as obras anteriores e posteriores de Fellini.
A cena final é a mais interessante,pois Guido não consegue resolver seus problemas como se deve imaginar,mas consegue fazer que sua vida pessoal e criativa estagnada voltasse a girar,por isso a cena de todos os personagens de sua vida de mãos dadas com Guido girando por aquilo que parece ser um picadeiro,a vida não tem final feliz como os contos de fada e sim tem que continuar a girar,girar e girar,pois se ficar estagnada pode nos levar a morte,pelo menos tentar consertar nossos erros é o primeiro passo,agora se vai dar certou ou errado é outra historia,mas ela deve continuar girando,girando,girando,girando...
O Segredo dos Seus Olhos
4.3 2,1K Assista AgoraO cinema argentino esta muito a frente de nós é claro que eles tem mais tradição no cinema e tem hegemonia e tudo mais.Mas enquanto produzimos coisas do tipo De Pernas Pro Ar(não que todos os filmes brasileiros sejam ruins,pelo contrario a muitas obras primas) os argentinos mostraram o que é cinema,enchendo nossos olhos com uma película que é significado de "perfeição".A parte técnica nem se fala,aplausos,os atores aplausos,mas o que chama atenção são os detalhes cada gesto,olhar e cositas que não percebemos e a consegue Câmera percebe,pois não é só Espósito que esta atras do cruel assassino,mas a câmera também como se fizesse parte do filme,como um terceiro personagem ou representa os espectadores que mergulham nesse filme e se afogam tentando encontrar a verdade e depois entende-la.
O segredo sobre os seus olhos não é uma historia policial,uma investigação de um crime é um filme sobre a investigação do ser humano,uma síntese de onde ate nós humanos conseguimos chegar,nos pergunta no final do filme,coisas como:O que é justiça?O que é humanidade?O que é certo?O que é errado?
A unica coisa concreta no qual a película consegue nos responder de forma concreta é que o cinema ainda mais nos tempos de hoje,é a unica arte ainda feita com amor.
Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos
4.0 550 Assista AgoraOs filmes de Almodóvar sempre me lembram uma novela mexicana,exagerado por que necessita,excitante por o seu diretor é assim e banal da forma mais inesperada possível.Mulheres a beira de um ataque de nervos é ótimo,a fotografia,direção,os atores e a trilha sonora no qual vou por pra ouvir no meu MP3.
O filme é sobre mulheres e seus problemas e como elas reagem e tentam(ou não) resolvê-los e como ilustra o texto estão a beira de um ataque de nervos,a beira de se matar,a beira de matarem,a beira de enlouqueceram,a beira de resistirem as suas paixões seja ela sexual,sentimental ou fútil.E o mais interessante é a forma como é mostrada a figura masculina e isso não é novidade para ninguém que conhece a filmografia de Almodóvar,o homem é tratado como um objeto no espaço,esta lá,mas apenas pra ser o pivô do problema pois o que causou e que resolve tais problemas são as mulheres e vamos combinar fica ate mais charmoso,bonito e interessante focar só nas mulheres,ate por que são atributos que só elas.Os homens com toda certeza e sem menosprezar sua existência tem tais atributos e conseguem ser tão assim quanto as mulheres,mas pessoalmente e acho que não estou sozinho,o andar de uma mulher é divino comparado a mortalidade de um andar masculino.
Made in U.S.A.
3.6 30"Eu continuo me movendo
Em direção a estrada do despertar."
Ver essa frase e posteriormente contemplar o maravilhoso dialogo final no qual fala sobre a direita e a esquerda e o filme encerrar com Anna Karina(belíssima como sempre) questionar a si mesmo e para nos "Então qual é o nosso futuro?" é de aplaudir Godard e declamá-lo como um dos artistas mais importantes da humanidade.
OBS: A cena em que compara assassinos do filme com políticos americanos é brilhante também.