"2 Coelhos" de Afonso Poyart é uma obra que se destaca no cinema nacional por sua ousadia e originalidade. Em uma sociedade marcada pela corrupção e pela violência urbana, o filme mergulha fundo nas crises existenciais de Edgar, um homem que, à beira dos 30 anos, enfrenta a complexidade da vida moderna brasileira.
Poyart utiliza uma narrativa não-linear e estilizada, incorporando elementos da cultura pop contemporânea, como videogames e videoclipes, para criar uma experiência visualmente rica e dinâmica. Essa abordagem, embora possa parecer exagerada para alguns, confere ao filme uma identidade única, algo raramente visto em produções brasileiras.
O protagonista, Edgar, é um vigilante moderno que, em seu desejo de justiça, manipula e engana seus adversários, usando a tecnologia a seu favor. Essa dualidade moral levanta questões filosóficas profundas sobre os limites da justiça e a ética dos meios para se atingir um fim. O filme não se esquiva de mostrar a complexidade dos personagens, cada um carregando seu próprio passado sombrio, o que contribui para uma trama repleta de reviravoltas.
As cenas de ação são intensas e bem coreografadas, com perseguições e explosões que mantêm o público preso à tela. A montagem rápida e a trilha sonora pulsante complementam a atmosfera frenética do filme, fazendo com que a experiência seja imersiva e emocionante.
"2 Coelhos" é uma reflexão sobre a nossa sociedade, onde a linha entre o bem e o mal é tênue e constantemente desafiada. É uma produção que, mesmo com suas exagerações e atuações às vezes desiguais, consegue ser divertida e instigante, lembrando-nos que o cinema brasileiro pode sim explorar novos gêneros e estilos com competência.
"Pérola" (2022), dirigido por Murilo Benício, é uma jornada emocionante através das memórias de Mauro sobre sua mãe, Pérola. O filme mergulha nas peculiaridades e no vínculo entre mãe e filho, destacando as nuances de sua relação e os desafios enfrentados por ambos.
Drica Moraes brilha como Pérola, transmitindo generosidade e energia com maestria. Sua atuação cativante dá vida a uma personagem inspiradora, enquanto Léo Fernandes, interpretando Mauro, entrega uma performance delicada e comovente.
A escolha estética de Benício, ao misturar o presente com flashbacks dos anos 90, acrescenta profundidade à narrativa, destacando a continuidade das questões não resolvidas ao longo do tempo. Essa abordagem, aliada ao humor irreverente e à sensibilidade na construção dos personagens, torna o filme envolvente e autêntico.
Embora algumas cenas possam parecer caricatas, como a do trampolim, o filme evita cair em clichês, mantendo-se sempre interessante e comovente. A trilha sonora também merece destaque, enriquecendo a atmosfera nostálgica e emocional da história.
Em suma, "Pérola" é uma homenagem tocante às mães brasileiras, repleta de momentos de risos, lágrimas e reflexões sobre amor, família e memória. Uma obra que encanta e emociona, deixando uma marca duradoura no espectador. Imperdível para todos que valorizam o poder das relações familiares e as pequenas alegrias da vida.
"La Chimera" é uma obra-prima que transcende o tempo e o espaço, levando o espectador a uma jornada de descoberta e reflexão. Sob a direção magistral de Alice Rohrwacher, somos transportados para a Itália, onde acompanhamos a busca emocionante de Arthur, um arqueólogo inglês, pelo amor perdido e por um portal lendário para o submundo.
O filme não apenas cativa com sua trama intrigante, mas também com sua profundidade emocional e sua representação autêntica da vida italiana. Os cenários pitorescos e a cinematografia deslumbrante criam uma atmosfera única, enquanto os personagens complexos e bem desenvolvidos nos prendem desde o início.
Josh O'Connor entrega uma performance excepcional como Arthur, trazendo à vida um personagem cheio de nuances e mistério. Ao seu lado, Carol Duarte brilha como Itália, trazendo uma vulnerabilidade e uma força magnéticas à tela. E, é claro, a presença marcante de Isabella Rossellini acrescenta uma camada extra de brilho ao filme.
Mas o verdadeiro triunfo de "La Chimera" está na maneira como ele nos faz questionar o significado do amor, da perda e da busca pela redenção. É um filme que nos faz pensar sobre nossas próprias jornadas e conexões com o passado, enquanto nos emociona e nos inspira. Em suma, "La Chimera" é uma experiência cinematográfica imperdível que vai além das expectativas e deixa uma marca indelével em quem a vivencia.
"Praia do Futuro" é uma obra que se desenrola em camadas de complexidade emocional e visual, desafiando as convenções do cinema brasileiro. A primeira coisa que salta aos olhos é a coragem do diretor Karim Aïnouz em explorar temas ainda considerados tabus. Ao iniciar o filme com uma cena de sexo gay, ele não apenas provoca o espectador, mas também obriga a sociedade a confrontar seus preconceitos de frente. Esta decisão audaciosa é um convite a uma reflexão profunda sobre o amor em suas diversas formas, destacando a luta entre desejo e medo.
A fotografia, deslumbrante e significativa, vai além da estética. No primeiro ato, as cores quentes de Fortaleza capturam a essência do vínculo entre os irmãos Donato e Ayrton, um laço que se revela tanto heróico quanto frágil. Quando Donato se muda para a Alemanha, o cenário e a paleta de cores mudam radicalmente, simbolizando sua solidão e alienação. A transição visual para tons de cinza é uma metáfora poderosa para a melancolia que permeia essa fase de sua vida.
Wagner Moura, com sua versatilidade incomparável, entrega uma performance que transcende as palavras, comunicando as angústias e desejos de Donato com uma intensidade silenciosa. Porém, o roteiro carece de profundidade em alguns momentos, deixando certas motivações dos personagens pouco exploradas, o que pode gerar uma desconexão emocional com o público.
O filme é também uma reflexão sobre a coragem. Donato e Ayrton, cada um à sua maneira, mostram bravura: Donato ao buscar um amor verdadeiro em um país estrangeiro, e Ayrton ao desafiar seu próprio medo para reencontrar o irmão. Essa dualidade entre coragem e covardia é um espelho da condição humana, tornando "Praia do Futuro" uma meditação filosófica sobre as escolhas que moldam nossas vidas.
Apesar de suas falhas, o filme se destaca pela honestidade com que retrata a jornada dos personagens. Não é uma narrativa linear, e talvez isso seja o que a torna tão realista. A vida é confusa, cheia de incertezas e momentos de beleza inesperada, assim como a cinematografia magistralmente capturada por Aïnouz.
Em suma, "Praia do Futuro" é uma obra que vale a pena ser vivida. É uma experiência visual e emocional que desafia e recompensa o espectador atento. Mesmo com suas imperfeições, ou talvez por causa delas, o filme nos lembra da complexidade do amor e da coragem necessária para viver plenamente.
"Cabeça a Prêmio" é um filme que toca em questões profundas e universais, mostrando como as famílias enfrentam problemas e conflitos que todos nós conhecemos. Dirigido por Marco Ricca e baseado no livro de Marçal Aquino, o filme fala sobre a linha tênue entre o bem e o mal.
A história se passa no Centro-Oeste do Brasil, uma região onde a lei parece chegar mais devagar e a violência é uma parte constante da vida. Nesse cenário, o filme entrelaça amor e violência de uma forma rara no cinema brasileiro.
O elenco é forte, com Eduardo Moscovis e Fúlvio Stefannini entregando atuações marcantes. Mas é Daniel Hendler quem realmente brilha, trazendo um personagem complexo que prende a atenção do público.
Porém, o filme tem suas falhas. O roteiro se perde em diálogos desnecessários e romances fora de lugar, o que tira um pouco da força da trama. Além disso, o som em algumas cenas é ruim, dificultando entender o que os atores dizem.
Apesar desses problemas, "Cabeça a Prêmio" faz pensar sobre a natureza humana e os limites da moralidade. Mostra como a busca por poder e controle pode corromper as pessoas, e como escolhas feitas por amor podem levar à destruição. O filme deixa claro que o crime não compensa, trazendo apenas tristeza e desilusão.
Diferente de outros diretores como Beto Brant, Ricca explora a violência não apenas como espetáculo, mas como um reflexo da sociedade. A trilha sonora final, bela e triste, reforça essa dualidade.
Mesmo com suas imperfeições, "Cabeça a Prêmio" vale a pena ser visto. É uma obra sincera e brutal, que faz o público refletir sobre suas próprias escolhas e as complexidades das relações humanas.
Assistir a Persona, de Ingmar Bergman, é submergir em um oceano de introspecção e complexidade psicológica. Este filme de 1966 não é meramente uma narrativa cinematográfica, mas um mergulho profundo na psique humana, onde as emoções são tecidas com maestria e simbolismo. Bibi Andersson e Liv Ullmann entregam performances que reverberam na alma, construindo uma tapeçaria de silêncios e palavras que ressoam como ecos nas cavernas da mente.
O filme narra a relação entre Elisabeth Vogler, uma atriz que se refugia no silêncio, e Alma, a enfermeira designada para cuidar dela. A dinâmica entre as duas personagens transcende o simples ato de falar e ouvir; é uma dança de sombras e luzes, onde cada gesto, cada olhar, é carregado de significado. Bergman explora, com uma precisão cirúrgica, os dilemas existenciais e as máscaras que usamos para ocultar nossas verdadeiras faces.
Persona é, em essência, uma meditação sobre a identidade e a dualidade do ser. A mutabilidade das personalidades, representada pelas transformações de Alma ao longo do filme, questiona a veracidade de nossas próprias identidades. Quem somos, afinal, quando todas as máscaras caem? A resposta, talvez, resida no silêncio de Elisabeth – um silêncio que grita as verdades que preferimos não ouvir.
Bergman, com sua habilidade inata para dissecar a condição humana, nos oferece uma reflexão perturbadora sobre a comunicação e a alienação. A mudez voluntária de Elisabeth pode ser vista como um protesto contra a superficialidade das interações humanas, enquanto Alma, com sua ânsia por conexão, representa nossa busca incessante por significado e compreensão em um mundo frequentemente desprovido de ambos.
A direção de Bergman, meticulosamente calculada, cria uma atmosfera de tensão quase palpável. Os cortes abruptos e os close-ups intensos amplificam a sensação de claustrofobia emocional, fazendo-nos sentir tão aprisionados quanto as próprias personagens. A fotografia em preto e branco, magistralmente capturada, acentua os contrastes não só visuais, mas também psicológicos entre Alma e Elisabeth.
Este filme não oferece respostas fáceis; ao contrário, ele desafia o espectador a confrontar suas próprias dúvidas e inseguranças. Cada visualização de Persona revela novas camadas de interpretação, tornando-se uma experiência cinematográfica que se renova constantemente. É uma obra que exige múltiplas visitas, pois cada retorno ao seu universo revela um novo aspecto de sua complexidade intrincada.
Persona não é apenas um filme para ser assistido; é um espelho no qual contemplamos nossas próprias almas, refletindo os enigmas e contradições que definem a condição humana. Bergman nos convida a explorar este labirinto emocional, onde a única saída é, talvez, uma compreensão mais profunda de nós mesmos. É uma obra-prima atemporal, um verdadeiro tour de force que continuará a desafiar e inspirar gerações futuras.
Em "First Reformed", Paul Schrader orquestra uma sinfonia sombria da alma humana, mergulhando-nos na psique perturbada de Ernst Toller, um reverendo devastado pela corrosão das instituições às quais devotou sua vida. Schrader, com uma destreza narrativa singular, expõe a fragilidade dessas instituições, revelando como a hipocrisia e a comercialização da fé contemporânea corroem o espírito humano.
A jornada de Toller não é apenas um grito de desespero, mas uma reflexão profunda sobre a solidão e o isolamento que podem levar à radicalização ideológica. A opressão silenciosa que ele enfrenta ressoa com as angústias modernas, onde a desesperança e o ativismo, o terrorismo e o suicídio se entrelaçam em um tecido de ações extremas. Schrader não só nos apresenta a deterioração espiritual de Toller, mas também nos convida a questionar até que ponto nossas convicções podem ser distorcidas em face da desilusão.
Ethan Hawke entrega uma performance magistral, encarnando a angústia existencial de Toller com uma intensidade que nos deixa abalados. Sua interpretação é um retrato nu e cru da vulnerabilidade humana, misturando a doçura da fé com a amargura da dúvida. A comparação com "Taxi Driver" é inevitável, pois ambos os filmes capturam a essência de uma alma perdida em um mundo indiferente e cruel.
A narrativa de Schrader é um convite à introspecção, um chamado para que reconsideremos nossas próprias convicções e a maneira como lidamos com a crise existencial. Ele nos desafia a refletir sobre a moralidade humana, a capacidade de sacrifício e a busca por redenção em um mundo onde o amor e a esperança muitas vezes parecem inalcançáveis. "First Reformed" é, sem dúvida, uma obra-prima que nos força a confrontar nossas próprias falhas e a questionar se há, de fato, um caminho para a redenção em meio ao caos.
Ao fim, o filme nos deixa com uma pergunta pungente: em um mundo tão fragmentado, onde a fé pode ser tanto uma fonte de força quanto um catalisador para a autodestruição, onde encontramos a verdadeira redenção? Schrader não nos oferece respostas fáceis, mas sim um espelho sombrio no qual podemos vislumbrar nossas próprias fraquezas e, talvez, nossa potencial salvação.
Ira Sachs, em Passages, cria uma narrativa de emoções que desafia a clareza tradicional, imergindo o espectador em um oceano de desejos conflituosos e autoengano. Ambientado na delicadeza do cinema francês, o filme desenha um triângulo amoroso entre o diretor Tomas (Franz Rogowski), sua parceira de longa data, Martin (Ben Whishaw), e a jovem professora Agathe (Adèle Exarchopoulos), explorando a fluidez e a inconstância dos relacionamentos humanos.
Este drama enervante penetra na alma com sua representação crua e não linear de amor e traição. Os personagens são quase espelhos distorcidos de nós mesmos, refletindo narcisismo e insegurança que muitas vezes preferimos não reconhecer. Em um mundo onde a honestidade se entrelaça com o hedonismo, Passages nos força a confrontar a dolorosa busca por satisfação que, inevitavelmente, deixa marcas profundas.
Adèle Exarchopoulos brilha com uma intensidade quase ofuscante, dominando a tela com uma presença magnética que contrasta com a volubilidade de Tomas e a vulnerabilidade de Martin. A performance dos atores transcende a simplicidade do enredo, criando um balé de emoções que é ao mesmo tempo belo e desconfortável.
Sachs nos entrega uma obra que ecoa a Nouvelle Vague, mas sem se prender a suas convenções. Ao desafiar o puritanismo contemporâneo, Passages se posiciona como um manifesto contra a censura e em defesa da liberdade artística. É um lembrete de que a vida, com todas as suas contradições e imperfeições, merece ser retratada em sua totalidade.
Apesar de alguns considerarem o filme esquecível devido à sua trama esparsa, a verdade é que Passages reverbera em nossa mente, provocando reflexões sobre a complexidade das relações humanas e a fragilidade dos nossos próprios desejos. É uma obra que, apesar de sua simplicidade aparente, deixa uma marca indelével em nosso entendimento do amor e da identidade.
"As Loucuras de Um Sedutor", dirigido por Alcino Diniz em 1977, é uma obra que, apesar de sua execução duvidosa, consegue provocar algumas risadas esparsas. O filme se sustenta sobre os ombros do talentoso Pereio, que injeta vida em um roteiro desgastado e previsível. A história subverte o clichê do ingênuo provinciano que se dá mal na cidade grande, apresentando-nos, ao invés disso, um esperto trapaceiro do interior que se aproveita da ingenuidade urbana.
Essa inversão de papéis, embora promissora, acaba se perdendo na repetição exaustiva de gags e na moral questionável que permeia a narrativa. A trama revela um homem que manipula e se aproveita das mulheres ao seu redor, refletindo preconceitos e estereótipos que, na sociedade contemporânea, são ainda mais problemáticos. Esse aspecto não só compromete a ética do filme, mas também revela uma falta de profundidade crítica por parte do diretor.
Cinematograficamente, o longa peca por uma montagem fragmentada, na qual as cenas parecem costuradas apenas para sustentar piadas rasas. No entanto, a presença carismática de Pereio é uma centelha de brilho em meio a um mar de mediocridade. "As Loucuras de Um Sedutor" é, em última análise, uma reflexão agridoce sobre a superficialidade das comédias da época, levantando questões sobre a representação de gênero e a ética no cinema popular.
Ao finalmente me permitir assistir "A Vida Invisível", de Karim Aïnouz, me encontrei refletindo sobre os intricados emaranhados de uma sociedade conservadora que sufoca sonhos e destrói laços familiares. O filme é um retrato pungente da existência feminina em um mundo que lhes impõe tristezas eternas e limitações cruéis.
A beleza dolorosa deste filme é inegável. É impossível não se ver na pele das irmãs Eurídice e Guida, sentindo suas angústias e esperanças esmagadas. A sensibilidade com que Aïnouz dirige esta obra tocou profundamente minha alma, provocando uma ressonância emocional rara.
"A Vida Invisível" é um dos mais impactantes filmes brasileiros que já tive o privilégio de assistir. Ele capta com precisão a opressão que as mulheres enfrentavam nos anos 50 — um tempo em que ousar, sonhar e até errar eram luxos inacessíveis. A solidão, o machismo e o preconceito permeiam cada cena, refletindo uma sociedade orgulhosa e ignorante.
A direção de arte é deslumbrante e o elenco entrega performances memoráveis, criando uma narrativa simples, chocante e profundamente humana. A participação de Fernanda Montenegro no desfecho é um momento de sublime beleza, que ecoará em minha memória para sempre.
Este filme nos confronta com verdades duras sobre o patriarcado e a opressão de gênero, destacando a perversidade da masculinidade tóxica. No entanto, ele também celebra a resiliência e a união feminina, um farol de esperança na escuridão da opressão. "A Vida Invisível" não é apenas um filme, é um espelho da realidade de muitas mulheres, tanto do passado quanto do presente. É uma obra que o cinema brasileiro nos oferece como um testemunho necessário e comovente.
"Rivais", de Luca Guadagnino, é uma fascinante exploração das complexidades emocionais e psicológicas que permeiam o tênis e as relações humanas. Tashi, uma ex-tenista que virou técnica, transforma seu marido Art, de jogador medíocre a estrela vencedora de grand slams. No entanto, para reverter uma série de derrotas, ela o inscreve em um torneio Challenger, onde ele reencontra Patrick, um ex-promissor tenista e antigo namorado de Tashi, agora em decadência.
O filme desenha um triângulo amoroso repleto de traições e manipulações, onde o tênis serve apenas como pano de fundo para a verdadeira competição: a dos desejos e carências humanas. Zendaya se destaca brilhantemente, entregando uma atuação que capta a essência de uma mulher complexa e em conflito.
A trilha sonora de Trent Reznor e Atticus Ross eleva a narrativa, pontuando cada momento com uma intensidade emocional que ressoa profundamente. A edição precisa e a escolha específica de cada elemento sonoro contribuem para uma experiência cinematográfica envolvente.
Guadagnino, com sua direção perspicaz, transforma uma premissa que poderia ser banal em uma saga dinâmica e sensual, onde cada vai-e-vem nas quadras reflete a tensão e os dilemas internos dos personagens. "Rivais" diverte e cativa, provando que, mesmo com a pontuação confusa do tênis, a verdadeira confusão reside nos corações dos protagonistas.
"Me Sinto Bem com Você" (2021), dirigido por Matheus Souza, mergulha em cinco intricadas histórias de companheirismo em tempos desafiadores.
É como embarcar numa montanha-russa emocional, com cada curva revelando uma nova faceta da vida. A direção sensível e a fotografia cativante envolvem o espectador, enquanto os atores, especialmente aqueles mais conhecidos pelo humor, entregam performances dramáticas notáveis.
Embora alguns possam considerá-lo um pouco bobo, a essência do filme reside nas interações genuínas entre os personagens, cada um representando uma peça única no quebra-cabeça da vida amorosa.
Embora possa parecer um tanto longo, a narrativa mantém um ritmo envolvente, deixando um sabor agridoce de nostalgia após os créditos finais.
"Me Sinto Bem com Você" é uma reflexão honesta sobre amor e conexão, mesmo em meio ao caos.
"Matando Deus" (Matar a Dios, 2017), dirigido por Albert Pintó e Caye Casas, é uma joia do cinema espanhol que combina humor negro com elementos fantásticos de maneira magistral. Em uma noite de Ano Novo, uma família encontra-se à mercê de um anão maltrapilho que se apresenta como Deus, avisando que a humanidade será exterminada ao amanhecer, deixando a eles a tarefa de escolher os dois únicos sobreviventes.
A produção é um estudo fascinante sobre a natureza humana e os relacionamentos, inserido em um cenário peculiar e irônico de uma casa decorada com animais empalhados. Com diálogos afiados e personagens carismáticos, o filme mantém o espectador em um estado constante de reflexão e surpresa. A trilha sonora impecável e a direção ousada amplificam a experiência, fazendo de "Matando Deus" uma obra impactante e inesquecível.
Premiado em diversos festivais, incluindo o Nocturna Madrid International Fantastic Film Festival e o Festival Internacional de Cinema Fantástico de Bruxelas, o filme é uma celebração da audácia e criatividade do cinema europeu. Uma obra que, com simplicidade e profundidade, provoca risos e introspecção, deixando uma marca indelével em quem o assiste. Uma experiência cinematográfica rara e valiosa, recomendada a todos que apreciam um bom filme com uma crítica social afiada e uma narrativa envolvente.
No filme 'Apenas o Fim' (2008), dirigido por Matheus Souza, somos convidados a acompanhar uma hora crucial na vida de um casal jovem e complexo. Erika decide abandonar seu namorado e fugir para um destino desconhecido. Em uma última conversa, eles fazem um balanço sincero e bem-humorado de suas vidas, recheado de referências à cultura pop dos anos 90, que evocam uma nostálgica viagem no tempo.
O roteiro, embora simples e sem grandes pretensões, destaca-se pela autenticidade e profundidade emocional. A interação entre os personagens é tão verdadeira e envolvente que, mesmo em momentos de exaustão, os diálogos cativantes mantêm o espectador preso na narrativa. Erika, com seu charme quase hipnótico e suas loucuras cativantes, e Gregório, igualmente competente, trazem à tona uma química inegável.
A crítica social emerge de forma sutil, refletindo sobre relacionamentos modernos e a busca por identidade e propósito. Se tivesse sido assinado por Woody Allen, certamente estaria entre os clássicos indie do século. No geral, 'Apenas o Fim' é uma obra leve e singela, que conquista pela sua honestidade e pelas diversas referências culturais que enriquecem a experiência do espectador.
"Pequena Mamãe" nos conduz por uma jornada delicada e reflexiva, sob a direção habilidosa de Céline Sciamma. A história gira em torno da jovem Nelly, interpretada com sutileza por talentosas atrizes gêmeas, que enfrenta a perda de sua avó e a súbita partida de sua mãe, Marion.
O filme nos presenteia com uma estética minimalista e cores sóbrias, criando um ambiente que ecoa a melancolia e a esperança. A lentidão da narrativa, embora possa incomodar alguns espectadores, revela-se como uma escolha consciente para capturar a delicadeza e a profundidade das emoções infantis.
Por meio de pequenos gestos e encontros na floresta, somos lembrados da fragilidade da infância e da importância de reconhecer a criança que ainda habita em nós. "Pequena Mamãe" é um filme que aquece o coração e conforta a alma, oferecendo uma maneira tocante e bela de explorar temas como o luto e os laços familiares.
É uma obra que ressoa com uma poesia suave, proporcionando momentos de reflexão e ternura.
Em "Relatos do Front", Renato Martins mergulha corajosamente nas profundezas da realidade carioca, desvendando os terríveis conflitos entre o tráfico de drogas e as forças policiais. Sem rodeios, o documentário apresenta um panorama contundente, trazendo à luz os testemunhos crus daqueles que enfrentam diariamente essa batalha.
Com uma abordagem imparcial, o filme lança um olhar incisivo sobre a intricada teia de violência que assola as comunidades, enquanto convida o espectador a uma reflexão sobre as políticas de segurança pública vigentes.
Essencial para compreender não apenas o Rio de Janeiro atual, mas também as complexidades sociais do Brasil contemporâneo, "Relatos do Front" é uma obra visceral e inesquecível.
"A Dama do Lotação" (1978), dirigido por Neville de Almeida, é uma jornada visceral de amor e desejo, centrada em Carlos e Solange. Sônia Braga brilha como a protagonista, desafiando convenções sociais e tabus sexuais. Inspirado em um conto de Nelson Rodrigues, o filme critica a visão machista da sociedade. A obra cativa com sua cinematografia marcante e trilha sonora envolvente. Uma experiência cinematográfica ousada e imperdível.
"XXY" é um filme argentino que retrata a jornada de Alex em busca de identidade, destacando a complexidade da intersexualidade. Dirigido por Lucía Puenzo e estrelado por Inés Efron, o filme é uma trama de introspecção e autenticidade, refletindo a luta interna da protagonista. Com uma narrativa sensível e uma atuação brilhante, "XXY" convida à reflexão sobre questões de gênero e diversidade, iluminando um caminho para a compreensão e aceitação além das fronteiras cinematográficas.
O Homem do Ano (2003), José Henrique Fonseca retrata a ascensão de Máiquel de homem comum a matador de aluguel respeitado, em uma periferia turbulenta. Com atuação brilhante de Murilo Benício e direção firme, o filme cativa com sua trama envolvente e reviravoltas fascinantes, apesar de algumas falhas. Uma janela reveladora para os meandros sombrios da alma humana e da sociedade, é um retrato corajoso do Brasil e do Rio de Janeiro, embalado por performances marcantes e uma narrativa envolvente.
"Apneia" (2014), dirigido por Maurício Eça, segue três jovens abastadas em uma semana de escolhas noturnas em São Paulo. As performances de Marisol Ribeiro, Thaila Ayala e Marjorie Estiano destacam-se, apesar de algumas falhas no desenvolvimento das personagens. A fotografia de Marcelo Corpanni captura a agitação da cidade. Embora o roteiro demore a engrenar, o desfecho traz reflexões sobre os custos emocionais dos excessos noturnos. Um drama envolvente que convida à reflexão sobre os limites da vida noturna.
Em um cenário árido e impiedoso do nordeste brasileiro, em Os Fuzis, dirigido porRuy Guerra, soldados são despachados para defender um armazém, enquanto a fome assola a população.
Apesar de uma narrativa arrastada, o filme provoca reflexões duradouras sobre a desigualdade social e o abuso de poder. A imagem dos soldados protegendo interesses privilegiados contrasta com o sofrimento do povo faminto.
A fome, um tema invisível, é representada de forma contundente. As armas, símbolos de segurança, revelam-se como ameaças que perpetuam o ciclo de opressão.
"Os Fuzis" é um poderoso testemunho do cinema brasileiro dos anos 60, com sua atmosfera marcante e crítica social incisiva. A trilha sonora, permeada por cantos religiosos, ecoa os lamentos de um povo oprimido.
A jornada de um soldado em busca de consciência e coragem ressoa como um alerta para a complacência. O final surpreendente, com sua metáfora do Boi/Deus, deixa uma marca indelével.
Apesar de alguns momentos tediosos, o filme oferece uma experiência cinematográfica valiosa, reforçada pela qualidade técnica e pela mensagem atemporal sobre a luta do povo contra a opressão sistêmica.
"Todos os Mortos" é uma jornada sinuosa pelas sombras do passado, onde fantasmas se misturam aos vivos em uma São Paulo do final do século XIX, assombrada pela recente abolição da escravidão. As mulheres da família Soares resistem à mudança, enquanto Iná Nascimento luta para unir sua família em um mundo hostil.
Neste cenário, Thaia Perez brilha com uma atuação monstruosa, enquanto Clarissa Kiste, como a freira Maria, deixa a desejar com uma interpretação mecânica. O filme, embora não seja terror, é um drama denso que ecoa questões sociais atuais.
Apesar de alguns tropeços na narrativa, é uma obra que sacode a consciência nacional, mergulhando nas camadas da decadência social pós-abolição. Uma experiência cinematográfica atmosférica e mórbida, que foge dos clichês melodramáticos, mas que ainda carece de clareza em sua mensagem.
Um olhar corajoso sobre um passado não tão distante, impregnado de tensão e reflexão.
"Paloma", dirigido por Marcelo Gomes, é um deleite cinematográfico que encanta e emociona. Com uma direção primorosa, o filme transcende a superficialidade ao abordar temas sociais com autenticidade e delicadeza. A narrativa, desprovida de excessos expositivos, convida o espectador a mergulhar na jornada de Paloma, uma mulher trans em busca de seu sonho de casamento tradicional.
As atuações são cativantes, especialmente a interpretação de Kika Sena, que transmite toda a doçura e força interior da protagonista. A trilha sonora e a fotografia complementam magistralmente a atmosfera do filme, enquanto os momentos de felicidade de Paloma são verdadeiros bálsamos para a alma.
Gomes aborda questões urgentes e atuais, destacando a resistência e a resiliência dos corpos marginalizados. Em meio às adversidades, "Paloma" ressoa como um hino de esperança e empoderamento. Apesar de alguns momentos que poderiam ser mais explorados, o filme é uma experiência cinematográfica enriquecedora e imprescindível. Uma obra que não apenas emociona, mas também inspira e instiga reflexões profundas sobre inclusão, sonhos e a luta pela dignidade. Em última análise, "Paloma" não é apenas um filme, mas sim um manifesto de amor, coragem e perseverança.
"Rio, 40 Graus" (1955), dirigido por Nelson Pereira dos Santos, é um mergulho impactante na realidade fervilhante do Rio de Janeiro. Acompanhando cinco jovens da favela em um domingo carioca ensolarado, o filme captura a essência vibrante e contrastante da cidade.
Considerado um marco do cinema novo brasileiro, este semi-documentário enfrentou censura militar, acusado de distorcer a verdade. No entanto, sua relevância perdura, ecoando os dilemas sociais e políticos ainda presentes.
Com nuances reminiscentes do neorrealismo italiano, o filme se destaca como um poderoso testemunho histórico e social. "Rio, 40 Graus" é uma obra obrigatória, um retrato atemporal do Rio que continua ecoando nos corações e mentes do público.
2 Coelhos
4.0 2,7K Assista Agora"2 Coelhos" de Afonso Poyart é uma obra que se destaca no cinema nacional por sua ousadia e originalidade. Em uma sociedade marcada pela corrupção e pela violência urbana, o filme mergulha fundo nas crises existenciais de Edgar, um homem que, à beira dos 30 anos, enfrenta a complexidade da vida moderna brasileira.
Poyart utiliza uma narrativa não-linear e estilizada, incorporando elementos da cultura pop contemporânea, como videogames e videoclipes, para criar uma experiência visualmente rica e dinâmica. Essa abordagem, embora possa parecer exagerada para alguns, confere ao filme uma identidade única, algo raramente visto em produções brasileiras.
O protagonista, Edgar, é um vigilante moderno que, em seu desejo de justiça, manipula e engana seus adversários, usando a tecnologia a seu favor. Essa dualidade moral levanta questões filosóficas profundas sobre os limites da justiça e a ética dos meios para se atingir um fim. O filme não se esquiva de mostrar a complexidade dos personagens, cada um carregando seu próprio passado sombrio, o que contribui para uma trama repleta de reviravoltas.
As cenas de ação são intensas e bem coreografadas, com perseguições e explosões que mantêm o público preso à tela. A montagem rápida e a trilha sonora pulsante complementam a atmosfera frenética do filme, fazendo com que a experiência seja imersiva e emocionante.
"2 Coelhos" é uma reflexão sobre a nossa sociedade, onde a linha entre o bem e o mal é tênue e constantemente desafiada. É uma produção que, mesmo com suas exagerações e atuações às vezes desiguais, consegue ser divertida e instigante, lembrando-nos que o cinema brasileiro pode sim explorar novos gêneros e estilos com competência.
Pérola
3.5 27"Pérola" (2022), dirigido por Murilo Benício, é uma jornada emocionante através das memórias de Mauro sobre sua mãe, Pérola. O filme mergulha nas peculiaridades e no vínculo entre mãe e filho, destacando as nuances de sua relação e os desafios enfrentados por ambos.
Drica Moraes brilha como Pérola, transmitindo generosidade e energia com maestria. Sua atuação cativante dá vida a uma personagem inspiradora, enquanto Léo Fernandes, interpretando Mauro, entrega uma performance delicada e comovente.
A escolha estética de Benício, ao misturar o presente com flashbacks dos anos 90, acrescenta profundidade à narrativa, destacando a continuidade das questões não resolvidas ao longo do tempo. Essa abordagem, aliada ao humor irreverente e à sensibilidade na construção dos personagens, torna o filme envolvente e autêntico.
Embora algumas cenas possam parecer caricatas, como a do trampolim, o filme evita cair em clichês, mantendo-se sempre interessante e comovente. A trilha sonora também merece destaque, enriquecendo a atmosfera nostálgica e emocional da história.
Em suma, "Pérola" é uma homenagem tocante às mães brasileiras, repleta de momentos de risos, lágrimas e reflexões sobre amor, família e memória. Uma obra que encanta e emociona, deixando uma marca duradoura no espectador. Imperdível para todos que valorizam o poder das relações familiares e as pequenas alegrias da vida.
La chimera
3.8 16"La Chimera" é uma obra-prima que transcende o tempo e o espaço, levando o espectador a uma jornada de descoberta e reflexão. Sob a direção magistral de Alice Rohrwacher, somos transportados para a Itália, onde acompanhamos a busca emocionante de Arthur, um arqueólogo inglês, pelo amor perdido e por um portal lendário para o submundo.
O filme não apenas cativa com sua trama intrigante, mas também com sua profundidade emocional e sua representação autêntica da vida italiana. Os cenários pitorescos e a cinematografia deslumbrante criam uma atmosfera única, enquanto os personagens complexos e bem desenvolvidos nos prendem desde o início.
Josh O'Connor entrega uma performance excepcional como Arthur, trazendo à vida um personagem cheio de nuances e mistério. Ao seu lado, Carol Duarte brilha como Itália, trazendo uma vulnerabilidade e uma força magnéticas à tela. E, é claro, a presença marcante de Isabella Rossellini acrescenta uma camada extra de brilho ao filme.
Mas o verdadeiro triunfo de "La Chimera" está na maneira como ele nos faz questionar o significado do amor, da perda e da busca pela redenção. É um filme que nos faz pensar sobre nossas próprias jornadas e conexões com o passado, enquanto nos emociona e nos inspira. Em suma, "La Chimera" é uma experiência cinematográfica imperdível que vai além das expectativas e deixa uma marca indelével em quem a vivencia.
Praia do Futuro
3.4 935 Assista Agora"Praia do Futuro" é uma obra que se desenrola em camadas de complexidade emocional e visual, desafiando as convenções do cinema brasileiro. A primeira coisa que salta aos olhos é a coragem do diretor Karim Aïnouz em explorar temas ainda considerados tabus. Ao iniciar o filme com uma cena de sexo gay, ele não apenas provoca o espectador, mas também obriga a sociedade a confrontar seus preconceitos de frente. Esta decisão audaciosa é um convite a uma reflexão profunda sobre o amor em suas diversas formas, destacando a luta entre desejo e medo.
A fotografia, deslumbrante e significativa, vai além da estética. No primeiro ato, as cores quentes de Fortaleza capturam a essência do vínculo entre os irmãos Donato e Ayrton, um laço que se revela tanto heróico quanto frágil. Quando Donato se muda para a Alemanha, o cenário e a paleta de cores mudam radicalmente, simbolizando sua solidão e alienação. A transição visual para tons de cinza é uma metáfora poderosa para a melancolia que permeia essa fase de sua vida.
Wagner Moura, com sua versatilidade incomparável, entrega uma performance que transcende as palavras, comunicando as angústias e desejos de Donato com uma intensidade silenciosa. Porém, o roteiro carece de profundidade em alguns momentos, deixando certas motivações dos personagens pouco exploradas, o que pode gerar uma desconexão emocional com o público.
O filme é também uma reflexão sobre a coragem. Donato e Ayrton, cada um à sua maneira, mostram bravura: Donato ao buscar um amor verdadeiro em um país estrangeiro, e Ayrton ao desafiar seu próprio medo para reencontrar o irmão. Essa dualidade entre coragem e covardia é um espelho da condição humana, tornando "Praia do Futuro" uma meditação filosófica sobre as escolhas que moldam nossas vidas.
Apesar de suas falhas, o filme se destaca pela honestidade com que retrata a jornada dos personagens. Não é uma narrativa linear, e talvez isso seja o que a torna tão realista. A vida é confusa, cheia de incertezas e momentos de beleza inesperada, assim como a cinematografia magistralmente capturada por Aïnouz.
Em suma, "Praia do Futuro" é uma obra que vale a pena ser vivida. É uma experiência visual e emocional que desafia e recompensa o espectador atento. Mesmo com suas imperfeições, ou talvez por causa delas, o filme nos lembra da complexidade do amor e da coragem necessária para viver plenamente.
Cabeça a Prêmio
2.8 61 Assista Agora"Cabeça a Prêmio" é um filme que toca em questões profundas e universais, mostrando como as famílias enfrentam problemas e conflitos que todos nós conhecemos. Dirigido por Marco Ricca e baseado no livro de Marçal Aquino, o filme fala sobre a linha tênue entre o bem e o mal.
A história se passa no Centro-Oeste do Brasil, uma região onde a lei parece chegar mais devagar e a violência é uma parte constante da vida. Nesse cenário, o filme entrelaça amor e violência de uma forma rara no cinema brasileiro.
O elenco é forte, com Eduardo Moscovis e Fúlvio Stefannini entregando atuações marcantes. Mas é Daniel Hendler quem realmente brilha, trazendo um personagem complexo que prende a atenção do público.
Porém, o filme tem suas falhas. O roteiro se perde em diálogos desnecessários e romances fora de lugar, o que tira um pouco da força da trama. Além disso, o som em algumas cenas é ruim, dificultando entender o que os atores dizem.
Apesar desses problemas, "Cabeça a Prêmio" faz pensar sobre a natureza humana e os limites da moralidade. Mostra como a busca por poder e controle pode corromper as pessoas, e como escolhas feitas por amor podem levar à destruição. O filme deixa claro que o crime não compensa, trazendo apenas tristeza e desilusão.
Diferente de outros diretores como Beto Brant, Ricca explora a violência não apenas como espetáculo, mas como um reflexo da sociedade. A trilha sonora final, bela e triste, reforça essa dualidade.
Mesmo com suas imperfeições, "Cabeça a Prêmio" vale a pena ser visto. É uma obra sincera e brutal, que faz o público refletir sobre suas próprias escolhas e as complexidades das relações humanas.
Quando Duas Mulheres Pecam
4.4 1,1K Assista AgoraAssistir a Persona, de Ingmar Bergman, é submergir em um oceano de introspecção e complexidade psicológica. Este filme de 1966 não é meramente uma narrativa cinematográfica, mas um mergulho profundo na psique humana, onde as emoções são tecidas com maestria e simbolismo. Bibi Andersson e Liv Ullmann entregam performances que reverberam na alma, construindo uma tapeçaria de silêncios e palavras que ressoam como ecos nas cavernas da mente.
O filme narra a relação entre Elisabeth Vogler, uma atriz que se refugia no silêncio, e Alma, a enfermeira designada para cuidar dela. A dinâmica entre as duas personagens transcende o simples ato de falar e ouvir; é uma dança de sombras e luzes, onde cada gesto, cada olhar, é carregado de significado. Bergman explora, com uma precisão cirúrgica, os dilemas existenciais e as máscaras que usamos para ocultar nossas verdadeiras faces.
Persona é, em essência, uma meditação sobre a identidade e a dualidade do ser. A mutabilidade das personalidades, representada pelas transformações de Alma ao longo do filme, questiona a veracidade de nossas próprias identidades. Quem somos, afinal, quando todas as máscaras caem? A resposta, talvez, resida no silêncio de Elisabeth – um silêncio que grita as verdades que preferimos não ouvir.
Bergman, com sua habilidade inata para dissecar a condição humana, nos oferece uma reflexão perturbadora sobre a comunicação e a alienação. A mudez voluntária de Elisabeth pode ser vista como um protesto contra a superficialidade das interações humanas, enquanto Alma, com sua ânsia por conexão, representa nossa busca incessante por significado e compreensão em um mundo frequentemente desprovido de ambos.
A direção de Bergman, meticulosamente calculada, cria uma atmosfera de tensão quase palpável. Os cortes abruptos e os close-ups intensos amplificam a sensação de claustrofobia emocional, fazendo-nos sentir tão aprisionados quanto as próprias personagens. A fotografia em preto e branco, magistralmente capturada, acentua os contrastes não só visuais, mas também psicológicos entre Alma e Elisabeth.
Este filme não oferece respostas fáceis; ao contrário, ele desafia o espectador a confrontar suas próprias dúvidas e inseguranças. Cada visualização de Persona revela novas camadas de interpretação, tornando-se uma experiência cinematográfica que se renova constantemente. É uma obra que exige múltiplas visitas, pois cada retorno ao seu universo revela um novo aspecto de sua complexidade intrincada.
Persona não é apenas um filme para ser assistido; é um espelho no qual contemplamos nossas próprias almas, refletindo os enigmas e contradições que definem a condição humana. Bergman nos convida a explorar este labirinto emocional, onde a única saída é, talvez, uma compreensão mais profunda de nós mesmos. É uma obra-prima atemporal, um verdadeiro tour de force que continuará a desafiar e inspirar gerações futuras.
Fé Corrompida
3.7 376 Assista AgoraEm "First Reformed", Paul Schrader orquestra uma sinfonia sombria da alma humana, mergulhando-nos na psique perturbada de Ernst Toller, um reverendo devastado pela corrosão das instituições às quais devotou sua vida. Schrader, com uma destreza narrativa singular, expõe a fragilidade dessas instituições, revelando como a hipocrisia e a comercialização da fé contemporânea corroem o espírito humano.
A jornada de Toller não é apenas um grito de desespero, mas uma reflexão profunda sobre a solidão e o isolamento que podem levar à radicalização ideológica. A opressão silenciosa que ele enfrenta ressoa com as angústias modernas, onde a desesperança e o ativismo, o terrorismo e o suicídio se entrelaçam em um tecido de ações extremas. Schrader não só nos apresenta a deterioração espiritual de Toller, mas também nos convida a questionar até que ponto nossas convicções podem ser distorcidas em face da desilusão.
Ethan Hawke entrega uma performance magistral, encarnando a angústia existencial de Toller com uma intensidade que nos deixa abalados. Sua interpretação é um retrato nu e cru da vulnerabilidade humana, misturando a doçura da fé com a amargura da dúvida. A comparação com "Taxi Driver" é inevitável, pois ambos os filmes capturam a essência de uma alma perdida em um mundo indiferente e cruel.
A narrativa de Schrader é um convite à introspecção, um chamado para que reconsideremos nossas próprias convicções e a maneira como lidamos com a crise existencial. Ele nos desafia a refletir sobre a moralidade humana, a capacidade de sacrifício e a busca por redenção em um mundo onde o amor e a esperança muitas vezes parecem inalcançáveis. "First Reformed" é, sem dúvida, uma obra-prima que nos força a confrontar nossas próprias falhas e a questionar se há, de fato, um caminho para a redenção em meio ao caos.
Ao fim, o filme nos deixa com uma pergunta pungente: em um mundo tão fragmentado, onde a fé pode ser tanto uma fonte de força quanto um catalisador para a autodestruição, onde encontramos a verdadeira redenção? Schrader não nos oferece respostas fáceis, mas sim um espelho sombrio no qual podemos vislumbrar nossas próprias fraquezas e, talvez, nossa potencial salvação.
Passagens
3.4 81 Assista AgoraIra Sachs, em Passages, cria uma narrativa de emoções que desafia a clareza tradicional, imergindo o espectador em um oceano de desejos conflituosos e autoengano. Ambientado na delicadeza do cinema francês, o filme desenha um triângulo amoroso entre o diretor Tomas (Franz Rogowski), sua parceira de longa data, Martin (Ben Whishaw), e a jovem professora Agathe (Adèle Exarchopoulos), explorando a fluidez e a inconstância dos relacionamentos humanos.
Este drama enervante penetra na alma com sua representação crua e não linear de amor e traição. Os personagens são quase espelhos distorcidos de nós mesmos, refletindo narcisismo e insegurança que muitas vezes preferimos não reconhecer. Em um mundo onde a honestidade se entrelaça com o hedonismo, Passages nos força a confrontar a dolorosa busca por satisfação que, inevitavelmente, deixa marcas profundas.
Adèle Exarchopoulos brilha com uma intensidade quase ofuscante, dominando a tela com uma presença magnética que contrasta com a volubilidade de Tomas e a vulnerabilidade de Martin. A performance dos atores transcende a simplicidade do enredo, criando um balé de emoções que é ao mesmo tempo belo e desconfortável.
Sachs nos entrega uma obra que ecoa a Nouvelle Vague, mas sem se prender a suas convenções. Ao desafiar o puritanismo contemporâneo, Passages se posiciona como um manifesto contra a censura e em defesa da liberdade artística. É um lembrete de que a vida, com todas as suas contradições e imperfeições, merece ser retratada em sua totalidade.
Apesar de alguns considerarem o filme esquecível devido à sua trama esparsa, a verdade é que Passages reverbera em nossa mente, provocando reflexões sobre a complexidade das relações humanas e a fragilidade dos nossos próprios desejos. É uma obra que, apesar de sua simplicidade aparente, deixa uma marca indelével em nosso entendimento do amor e da identidade.
As Loucuras de um Sedutor
2.9 4"As Loucuras de Um Sedutor", dirigido por Alcino Diniz em 1977, é uma obra que, apesar de sua execução duvidosa, consegue provocar algumas risadas esparsas. O filme se sustenta sobre os ombros do talentoso Pereio, que injeta vida em um roteiro desgastado e previsível. A história subverte o clichê do ingênuo provinciano que se dá mal na cidade grande, apresentando-nos, ao invés disso, um esperto trapaceiro do interior que se aproveita da ingenuidade urbana.
Essa inversão de papéis, embora promissora, acaba se perdendo na repetição exaustiva de gags e na moral questionável que permeia a narrativa. A trama revela um homem que manipula e se aproveita das mulheres ao seu redor, refletindo preconceitos e estereótipos que, na sociedade contemporânea, são ainda mais problemáticos. Esse aspecto não só compromete a ética do filme, mas também revela uma falta de profundidade crítica por parte do diretor.
Cinematograficamente, o longa peca por uma montagem fragmentada, na qual as cenas parecem costuradas apenas para sustentar piadas rasas. No entanto, a presença carismática de Pereio é uma centelha de brilho em meio a um mar de mediocridade. "As Loucuras de Um Sedutor" é, em última análise, uma reflexão agridoce sobre a superficialidade das comédias da época, levantando questões sobre a representação de gênero e a ética no cinema popular.
A Vida Invisível
4.3 645Ao finalmente me permitir assistir "A Vida Invisível", de Karim Aïnouz, me encontrei refletindo sobre os intricados emaranhados de uma sociedade conservadora que sufoca sonhos e destrói laços familiares. O filme é um retrato pungente da existência feminina em um mundo que lhes impõe tristezas eternas e limitações cruéis.
A beleza dolorosa deste filme é inegável. É impossível não se ver na pele das irmãs Eurídice e Guida, sentindo suas angústias e esperanças esmagadas. A sensibilidade com que Aïnouz dirige esta obra tocou profundamente minha alma, provocando uma ressonância emocional rara.
"A Vida Invisível" é um dos mais impactantes filmes brasileiros que já tive o privilégio de assistir. Ele capta com precisão a opressão que as mulheres enfrentavam nos anos 50 — um tempo em que ousar, sonhar e até errar eram luxos inacessíveis. A solidão, o machismo e o preconceito permeiam cada cena, refletindo uma sociedade orgulhosa e ignorante.
A direção de arte é deslumbrante e o elenco entrega performances memoráveis, criando uma narrativa simples, chocante e profundamente humana. A participação de Fernanda Montenegro no desfecho é um momento de sublime beleza, que ecoará em minha memória para sempre.
Este filme nos confronta com verdades duras sobre o patriarcado e a opressão de gênero, destacando a perversidade da masculinidade tóxica. No entanto, ele também celebra a resiliência e a união feminina, um farol de esperança na escuridão da opressão. "A Vida Invisível" não é apenas um filme, é um espelho da realidade de muitas mulheres, tanto do passado quanto do presente. É uma obra que o cinema brasileiro nos oferece como um testemunho necessário e comovente.
Rivais
3.9 201"Rivais", de Luca Guadagnino, é uma fascinante exploração das complexidades emocionais e psicológicas que permeiam o tênis e as relações humanas. Tashi, uma ex-tenista que virou técnica, transforma seu marido Art, de jogador medíocre a estrela vencedora de grand slams. No entanto, para reverter uma série de derrotas, ela o inscreve em um torneio Challenger, onde ele reencontra Patrick, um ex-promissor tenista e antigo namorado de Tashi, agora em decadência.
O filme desenha um triângulo amoroso repleto de traições e manipulações, onde o tênis serve apenas como pano de fundo para a verdadeira competição: a dos desejos e carências humanas. Zendaya se destaca brilhantemente, entregando uma atuação que capta a essência de uma mulher complexa e em conflito.
A trilha sonora de Trent Reznor e Atticus Ross eleva a narrativa, pontuando cada momento com uma intensidade emocional que ressoa profundamente. A edição precisa e a escolha específica de cada elemento sonoro contribuem para uma experiência cinematográfica envolvente.
Guadagnino, com sua direção perspicaz, transforma uma premissa que poderia ser banal em uma saga dinâmica e sensual, onde cada vai-e-vem nas quadras reflete a tensão e os dilemas internos dos personagens. "Rivais" diverte e cativa, provando que, mesmo com a pontuação confusa do tênis, a verdadeira confusão reside nos corações dos protagonistas.
Me Sinto Bem com Você
3.0 29 Assista Agora"Me Sinto Bem com Você" (2021), dirigido por Matheus Souza, mergulha em cinco intricadas histórias de companheirismo em tempos desafiadores.
É como embarcar numa montanha-russa emocional, com cada curva revelando uma nova faceta da vida. A direção sensível e a fotografia cativante envolvem o espectador, enquanto os atores, especialmente aqueles mais conhecidos pelo humor, entregam performances dramáticas notáveis.
Embora alguns possam considerá-lo um pouco bobo, a essência do filme reside nas interações genuínas entre os personagens, cada um representando uma peça única no quebra-cabeça da vida amorosa.
Embora possa parecer um tanto longo, a narrativa mantém um ritmo envolvente, deixando um sabor agridoce de nostalgia após os créditos finais.
"Me Sinto Bem com Você" é uma reflexão honesta sobre amor e conexão, mesmo em meio ao caos.
Matando Deus
3.3 38 Assista Agora"Matando Deus" (Matar a Dios, 2017), dirigido por Albert Pintó e Caye Casas, é uma joia do cinema espanhol que combina humor negro com elementos fantásticos de maneira magistral. Em uma noite de Ano Novo, uma família encontra-se à mercê de um anão maltrapilho que se apresenta como Deus, avisando que a humanidade será exterminada ao amanhecer, deixando a eles a tarefa de escolher os dois únicos sobreviventes.
A produção é um estudo fascinante sobre a natureza humana e os relacionamentos, inserido em um cenário peculiar e irônico de uma casa decorada com animais empalhados. Com diálogos afiados e personagens carismáticos, o filme mantém o espectador em um estado constante de reflexão e surpresa. A trilha sonora impecável e a direção ousada amplificam a experiência, fazendo de "Matando Deus" uma obra impactante e inesquecível.
Premiado em diversos festivais, incluindo o Nocturna Madrid International Fantastic Film Festival e o Festival Internacional de Cinema Fantástico de Bruxelas, o filme é uma celebração da audácia e criatividade do cinema europeu. Uma obra que, com simplicidade e profundidade, provoca risos e introspecção, deixando uma marca indelével em quem o assiste. Uma experiência cinematográfica rara e valiosa, recomendada a todos que apreciam um bom filme com uma crítica social afiada e uma narrativa envolvente.
Apenas o Fim
3.7 1,1K Assista AgoraNo filme 'Apenas o Fim' (2008), dirigido por Matheus Souza, somos convidados a acompanhar uma hora crucial na vida de um casal jovem e complexo. Erika decide abandonar seu namorado e fugir para um destino desconhecido. Em uma última conversa, eles fazem um balanço sincero e bem-humorado de suas vidas, recheado de referências à cultura pop dos anos 90, que evocam uma nostálgica viagem no tempo.
O roteiro, embora simples e sem grandes pretensões, destaca-se pela autenticidade e profundidade emocional. A interação entre os personagens é tão verdadeira e envolvente que, mesmo em momentos de exaustão, os diálogos cativantes mantêm o espectador preso na narrativa. Erika, com seu charme quase hipnótico e suas loucuras cativantes, e Gregório, igualmente competente, trazem à tona uma química inegável.
A crítica social emerge de forma sutil, refletindo sobre relacionamentos modernos e a busca por identidade e propósito. Se tivesse sido assinado por Woody Allen, certamente estaria entre os clássicos indie do século. No geral, 'Apenas o Fim' é uma obra leve e singela, que conquista pela sua honestidade e pelas diversas referências culturais que enriquecem a experiência do espectador.
Pequena Mamãe
3.8 87"Pequena Mamãe" nos conduz por uma jornada delicada e reflexiva, sob a direção habilidosa de Céline Sciamma. A história gira em torno da jovem Nelly, interpretada com sutileza por talentosas atrizes gêmeas, que enfrenta a perda de sua avó e a súbita partida de sua mãe, Marion.
O filme nos presenteia com uma estética minimalista e cores sóbrias, criando um ambiente que ecoa a melancolia e a esperança. A lentidão da narrativa, embora possa incomodar alguns espectadores, revela-se como uma escolha consciente para capturar a delicadeza e a profundidade das emoções infantis.
Por meio de pequenos gestos e encontros na floresta, somos lembrados da fragilidade da infância e da importância de reconhecer a criança que ainda habita em nós. "Pequena Mamãe" é um filme que aquece o coração e conforta a alma, oferecendo uma maneira tocante e bela de explorar temas como o luto e os laços familiares.
É uma obra que ressoa com uma poesia suave, proporcionando momentos de reflexão e ternura.
Relatos do Front
4.2 4Em "Relatos do Front", Renato Martins mergulha corajosamente nas profundezas da realidade carioca, desvendando os terríveis conflitos entre o tráfico de drogas e as forças policiais. Sem rodeios, o documentário apresenta um panorama contundente, trazendo à luz os testemunhos crus daqueles que enfrentam diariamente essa batalha.
Com uma abordagem imparcial, o filme lança um olhar incisivo sobre a intricada teia de violência que assola as comunidades, enquanto convida o espectador a uma reflexão sobre as políticas de segurança pública vigentes.
Essencial para compreender não apenas o Rio de Janeiro atual, mas também as complexidades sociais do Brasil contemporâneo, "Relatos do Front" é uma obra visceral e inesquecível.
A Dama do Lotação
3.1 129"A Dama do Lotação" (1978), dirigido por Neville de Almeida, é uma jornada visceral de amor e desejo, centrada em Carlos e Solange. Sônia Braga brilha como a protagonista, desafiando convenções sociais e tabus sexuais. Inspirado em um conto de Nelson Rodrigues, o filme critica a visão machista da sociedade. A obra cativa com sua cinematografia marcante e trilha sonora envolvente. Uma experiência cinematográfica ousada e imperdível.
XXY
3.8 507 Assista Agora"XXY" é um filme argentino que retrata a jornada de Alex em busca de identidade, destacando a complexidade da intersexualidade. Dirigido por Lucía Puenzo e estrelado por Inés Efron, o filme é uma trama de introspecção e autenticidade, refletindo a luta interna da protagonista. Com uma narrativa sensível e uma atuação brilhante, "XXY" convida à reflexão sobre questões de gênero e diversidade, iluminando um caminho para a compreensão e aceitação além das fronteiras cinematográficas.
O Homem do Ano
3.5 255 Assista AgoraO Homem do Ano (2003), José Henrique Fonseca retrata a ascensão de Máiquel de homem comum a matador de aluguel respeitado, em uma periferia turbulenta. Com atuação brilhante de Murilo Benício e direção firme, o filme cativa com sua trama envolvente e reviravoltas fascinantes, apesar de algumas falhas. Uma janela reveladora para os meandros sombrios da alma humana e da sociedade, é um retrato corajoso do Brasil e do Rio de Janeiro, embalado por performances marcantes e uma narrativa envolvente.
Apneia
2.4 42"Apneia" (2014), dirigido por Maurício Eça, segue três jovens abastadas em uma semana de escolhas noturnas em São Paulo. As performances de Marisol Ribeiro, Thaila Ayala e Marjorie Estiano destacam-se, apesar de algumas falhas no desenvolvimento das personagens. A fotografia de Marcelo Corpanni captura a agitação da cidade. Embora o roteiro demore a engrenar, o desfecho traz reflexões sobre os custos emocionais dos excessos noturnos. Um drama envolvente que convida à reflexão sobre os limites da vida noturna.
Os Fuzis
4.1 72Em um cenário árido e impiedoso do nordeste brasileiro, em Os Fuzis, dirigido porRuy Guerra, soldados são despachados para defender um armazém, enquanto a fome assola a população.
Apesar de uma narrativa arrastada, o filme provoca reflexões duradouras sobre a desigualdade social e o abuso de poder. A imagem dos soldados protegendo interesses privilegiados contrasta com o sofrimento do povo faminto.
A fome, um tema invisível, é representada de forma contundente. As armas, símbolos de segurança, revelam-se como ameaças que perpetuam o ciclo de opressão.
"Os Fuzis" é um poderoso testemunho do cinema brasileiro dos anos 60, com sua atmosfera marcante e crítica social incisiva. A trilha sonora, permeada por cantos religiosos, ecoa os lamentos de um povo oprimido.
A jornada de um soldado em busca de consciência e coragem ressoa como um alerta para a complacência. O final surpreendente, com sua metáfora do Boi/Deus, deixa uma marca indelével.
Apesar de alguns momentos tediosos, o filme oferece uma experiência cinematográfica valiosa, reforçada pela qualidade técnica e pela mensagem atemporal sobre a luta do povo contra a opressão sistêmica.
Todos os Mortos
3.1 29 Assista Agora"Todos os Mortos" é uma jornada sinuosa pelas sombras do passado, onde fantasmas se misturam aos vivos em uma São Paulo do final do século XIX, assombrada pela recente abolição da escravidão. As mulheres da família Soares resistem à mudança, enquanto Iná Nascimento luta para unir sua família em um mundo hostil.
Neste cenário, Thaia Perez brilha com uma atuação monstruosa, enquanto Clarissa Kiste, como a freira Maria, deixa a desejar com uma interpretação mecânica. O filme, embora não seja terror, é um drama denso que ecoa questões sociais atuais.
Apesar de alguns tropeços na narrativa, é uma obra que sacode a consciência nacional, mergulhando nas camadas da decadência social pós-abolição. Uma experiência cinematográfica atmosférica e mórbida, que foge dos clichês melodramáticos, mas que ainda carece de clareza em sua mensagem.
Um olhar corajoso sobre um passado não tão distante, impregnado de tensão e reflexão.
Paloma
3.9 59"Paloma", dirigido por Marcelo Gomes, é um deleite cinematográfico que encanta e emociona. Com uma direção primorosa, o filme transcende a superficialidade ao abordar temas sociais com autenticidade e delicadeza. A narrativa, desprovida de excessos expositivos, convida o espectador a mergulhar na jornada de Paloma, uma mulher trans em busca de seu sonho de casamento tradicional.
As atuações são cativantes, especialmente a interpretação de Kika Sena, que transmite toda a doçura e força interior da protagonista. A trilha sonora e a fotografia complementam magistralmente a atmosfera do filme, enquanto os momentos de felicidade de Paloma são verdadeiros bálsamos para a alma.
Gomes aborda questões urgentes e atuais, destacando a resistência e a resiliência dos corpos marginalizados. Em meio às adversidades, "Paloma" ressoa como um hino de esperança e empoderamento. Apesar de alguns momentos que poderiam ser mais explorados, o filme é uma experiência cinematográfica enriquecedora e imprescindível. Uma obra que não apenas emociona, mas também inspira e instiga reflexões profundas sobre inclusão, sonhos e a luta pela dignidade. Em última análise, "Paloma" não é apenas um filme, mas sim um manifesto de amor, coragem e perseverança.
Rio, 40 Graus
3.9 86 Assista Agora"Rio, 40 Graus" (1955), dirigido por Nelson Pereira dos Santos, é um mergulho impactante na realidade fervilhante do Rio de Janeiro. Acompanhando cinco jovens da favela em um domingo carioca ensolarado, o filme captura a essência vibrante e contrastante da cidade.
Considerado um marco do cinema novo brasileiro, este semi-documentário enfrentou censura militar, acusado de distorcer a verdade. No entanto, sua relevância perdura, ecoando os dilemas sociais e políticos ainda presentes.
Com nuances reminiscentes do neorrealismo italiano, o filme se destaca como um poderoso testemunho histórico e social. "Rio, 40 Graus" é uma obra obrigatória, um retrato atemporal do Rio que continua ecoando nos corações e mentes do público.