Sendo um leigo em matéria de Rolling Stones, sinto que “Crossfire Hurricane” foi uma ótima introdução para a história dessa grande banda. Isso porque o documentário mostra essa trajetória de forma natural e fluída, desde a formação do grupo até a década de 80.
O que mais me chamou a atenção foram as comparações entre os Rolling Stones e os Beatles. As bandas assumiram “lados opostos”, sendo criada uma imagem da primeira como um grupo de rebeldes e a segunda como um grupo de mocinhos!
O arquivo de imagens é rico e abrangente, acompanhado pelas entrevistas em “off”, que complementam bem o conteúdo visual. Entendemos a grandiosidade e pioneirismo da banda, bem como sua relevância até os dias atuais!
É impressionante como Woddy Allen apresenta em seus filmes uma ótima capacidade de inovação ao mesmo tempo em que consegue manter diversos traços autorais semelhantes que perpassam por toda sua filmografia.
“Zelig” é um ótimo exemplo disso. A obra apresenta uma proposta diferente não somente para o próprio diretor, mas como também para o público e o cinema de maneira geral — trata-se de um falso documentário.
E mesmo apresentando um formato inovador, o conteúdo da obra já nós é extremamente familiar, existe muito de Woddy Allen no filme. Quase como em um desafio próprio, o diretor ainda sim consegue criar um romance simples e verdadeiro em meio a uma narrativa documental. Interessante notar como Allen procura mostrar em seus filmes romances mais realistas, sem os exageros ficcionais e utópicos típicos de Hollywood.
Mas se o romance é simples, certamente os amantes não são. Zelig é um personagem essencialmente contraditório — seu lado cômico provém justamente daquilo que lhe é mais trágico. Já na figura da psiquiatra Eudora Fletcher, vemos sua obsessão pela ciência transformar-se em uma paixão por Zelig, de modo que os dois lados parecem coexistir ao longo da obra.
“Zelig”, portanto, é um ótimo filme — diferente e familiar ao mesmo tempo, situação típica para aqueles que apreciam a obra de Allen.
Nessa minha primeira visita, a sensação que “Cidade dos Sonhos” me passa é de infinitude. Isso porque existem inúmeras possíveis e impossíveis interpretações para os acontecimentos da obra, dada a sua profunda complexidade e obscuridade.
Mesmo assim, creio que o ponto mais importante, não só dessa obra, mas como da filmografia do diretor David Lynch, é perceber que seus filmes não exigem interpretações — eles trabalham essencialmente com as sensações. É um cinema não para se entender, mas para se sentir.
Esse é o motivo pelo qual Lynch certamente é um dos melhores e mais revolucionários diretores dos Estados Unidos. Ele teve a incrível capacidade de subverter uma já formada e (quase) inflexível linguagem de Hollywood, trazendo ao público uma proposta extremamente diferenciada.
“No hay banda” — acredito ser essa a filosofia do filme. Esqueçam a razão, pois nele encontrarão somente sensação e ilusão.
“Bom Comportamento” é um filme que nos traz uma proposta diferenciada daquilo que normalmente é apresentado nos sucessos comerciais de Hollywood.
A obra mostra uma breve passagem na vida de Connie e seu irmão Nick. Após uma tentativa de assalto dos dois, Nick é preso e Connie se sente na responsabilidade de resgatá-lo da prisão.
O que se diferencia na obra — e torna-se seu grande mérito, é justamente o fato de que o filme perde o rumo, segue um fluxo sem destino certo, tal como a própria busca incessante de Connie para resgatar seu irmão.
Ele encontra diversos personagens que depois desaparecem, passa por diversos acontecimentos que de nada o ajudam em seu objetivo final — e o filme segue nessa mesma linha, sem apresentar ao público um ponto no qual ele possa se ancorar e sentir algum progresso na história.
Dessa forma, a obra teria uma perspectiva mais realista e até mesmo niilista da vida, que muitas vezes nos proporciona diversas passagens em vão, sem avanço, sem razão — e sem sucesso.
Se, por um lado, é o roteiro de “Atração Fatal” que nos traz os pontos mais fortes do filme, é nele também que existem os pontos mais fracos.
Isso porque a obra apresenta uma transição eficiente de uma romance leve para um suspense perturbador. Aos poucos, o breve caso extraconjugal de Dan, que nasce de forma espontânea e até mesmo bela (na medida do possível para uma traição), se transforma em uma perseguição doentia e obsessiva por parte da amante Alex.
Entretanto, o filme apresenta personagens pouco aprofundados. Em particular, pode-se citar Alex, uma antagonista descontrolada e psicótica que necessitava de uma melhor exploração. Não nos é apresentado os motivos de sua obsessão, as razões para sua extrema dependência e, por isso, vemos uma personagem excessivamente superficial.
Além disso, na parte final do filme, temos passagens repetitivas, onde o roteiro vira um jogo de “bate e volta” entre Dan e Alex, até o momento do desfecho final. Enfim, por conta desses motivos, creio que “Atração Fatal” apresenta um resultado mediano.
“It - A Coisa” é o que se pode chamar de um “belo pedaço de bosta”.
Belo pois possui alguns aspectos técnicos interessantes, como direção e fotografia. Bosta porque estagna precisamente nisso, não apresenta mais nada, exceto um grande amontoado de clichês pasteurizados, sem nenhuma verdade, mensagem ou qualquer tipo de conteúdo.
Não há sequer um personagem interessante na obra. Todos são demasiadamente superficiais. Me soa quase como uma fórmula matemática: A + B = C. Um garoto (A) + um irmão desaparecido (B) = um garoto que busca seu irmão desaparecido durante todo a extensão da obra (C). E não há mais nada no personagem, somente isso. Como era a relação dele com o irmão? Por que ele não consegue superar o desaparecimento? São perguntas com respostas tão superficiais quanto os próprios personagens que delas se originam.
E o vilão? Quem é ele? Qual sua origem? Por que precisa matar as crianças? Também não há respostas, o que acaba por entregar ao público um personagem fácil e estúpido. Não há esforço para desenvolver um psicólogo do palhaço, algo complexo, ambíguo ou profundo como deveria ser a mente de um antagonista. Ao contrário, o que existe é simplesmente um desejo do “mal pelo mal”, solução fácil e escassa para qualquer vilão.
Enfim, esse é um daqueles filmes que me entristecem, pois boa parte do público e da crítica aprovam, sem qualquer motivo para tanto.
“Nasce Uma Estrela” é uma obra que dividiu opiniões. Alguns afirmar se tratar de um grande clichê. Outros dizem ser um ótimo filme. Pra mim, os dois — e isso é perfeitamente possível.
A obra me passa um sentimento de verdade, me fez acreditar no amor do casal protagonista. Penso que o desenvolvimento da obra é fluído. O amor do casal se intensifica de maneira natural, aos poucos, sem causar estranhamento. E o sucesso de Ally aumenta na medida em que o de Jackson Maine diminui, também com ótima fluidez.
Em diversos trechos do filme, Maine expõe sua filosofia de arte — ele diz que toda obra deve ser verdadeira, deve vir de dentro. Um dos pontos que faltou aprofundamento é na carreira de Ally, que permite ser “moldada” pela indústria musical pop dos Estados Unidos, perdendo um pouco daquela verdade essencial do artista. Essa talvez seja uma ponta solta do filme.
De qualquer forma, acredito que “Nasce Uma Estrela” seja um filme que transmite sinceridade, conquista o público pelo sentimento de amor real do casal. E isso é um grande mérito.
Obs: A cena do Grammy é totalmente desnecessária. Ficou muito fora de tom!
A história por trás de “Spartacus” é conturbada. O diretor original Anthony Mann foi demitido após divergências criativas com Kirk Douglas, produtor executivo e ator protagonista da obra. Depois, Stanley Kubrick assume a direção, mas também entra em conflito com Kirk Douglas, o que acaba por limitar sua liberdade criativa no filme.
Dessa forma, “Spartacus” é a obra com menos traços autorais na filmografia de Kubrick. Para os fãs do diretor, isso certamente é um ponto decepcionante. Mesmo assim, não há como negar os méritos desse clássico do cinema.
O filme apresenta a odisseia do escravo Spartacus, que se rebela contra o sistema opressor da Itália e, comandando uma legião de outros escravos, traça uma rota para fugir da região.
Um dos pontos que mais se destaca no filme, especialmente pelo atual contexto sociopolítico mundial, é a forma com a qual o senador Marcus Crassus consegue instaurar uma ditadura em Roma sob seu comando. A rebelião de escravos é a “ameaça” usada como pretexto para o regime — já existiram várias outras, como o comunismo no caso do golpe de 1964 no Brasil. Em períodos de instabilidade, há que se tomar cuidado com qualquer brecha para o autoritarismo.
Enfim, “Spartacus” é um excelente filme. Sensível, profundo e atual.
“O Garoto de Liverpool” é uma obra ficcional que apresenta a história de um jovem John Lennon. O filme aprofunda em duas perspectivas: profissional e familiar.
Na perspectiva profissional, vemos o início da paixão de Lennon pela música, a formação da banda “The Quarryman” e sua gradual transformação no que viria a ser a melhor banda de todos os tempos. Creio que o filme exagera em alguns pontos, como na opção de tornar Paul McCartney um jovem obediente e submisso em contraste com a figura excessivamente rebelde e galã de John Lennon.
Já na perspectiva familiar, conhecemos o drama pessoal de Lennon quanto à ausência de seus pais durante a infância. O conflito final do filme é criado a partir desse trauma. Entretanto, acredito que faltou uma melhor elaboração da resolução desse conflito, feita de forma muito simples e rápida.
Em “Sin City”, os co-diretores Robert Rodriguez e Frank Miller verdadeiramente apresentam uma cidade dominada pelo pecado. Para isso, a corrupção e deturpação da sociedade são exploradas sob diferentes perspectivas, a partir das três histórias principais do filme.
Interessante perceber como cada uma dessas histórias apresenta um tema específico. A primeira delas nos mostra um Estado autoritário representado pela figura do senador. A segunda apresenta um clero hipócrita simbolizado pelo cardeal. Já a terceira destaca a própria população da cidade, representada pelo grupo das prostitutas que promovem um autogoverno — muito por parte da corrupção nos altos escalões da sociedade explorados nas histórias anteriores.
Há que se elogiar o visual diferente e autêntico da fotografia, que busca aproximar a estética do filme com os HQ’s originais em que a história se baseia. A narrativa não-linear confere dinamicidade a obra, muito embora não seja tão complexa e bem desenvolvida se comparada à filmes como “Pulp Fiction” — isso porque mesmo sendo alternadas, as histórias não possuem praticamente nenhum personagem ou acontecimento que as interligam diretamente. De qualquer forma, temos aqui um excelente filme!
“O Cantor de Jazz” é uma obra que nos oferece mais do que simplesmente o “título” de primeiro filme sonoro.
O conflito entre modernismo e tradicionalismo é o grande tema do filme. Dessa forma, nos é apresentada o personagem Jakie Rabinowitz, amante de jazz, que desde de novo entra em confronto com seu pai, um cantor conservador da Sinagoga.
Simples, porém sempre atual. Foi assim com o Jazz, depois com o Rock e sabe-se lá quais serão os próximos (alguns falam do atual Funk). De qualquer forma, esse conflito se estende para além da música ou das artes — também está na política, na religião, no amor, em tudo.
O ponto mais fraco do filme é certamente a resolução do problema final — feita de forma simplória, excessivamente fácil. Mesmo assim, vale a pena conferir.
“Um Homem com uma Câmera” é uma interessante experiência cinematográfica realizada pelo teórico e diretor Dziga Vertov.
Algumas passagens são realmente surpreendentes, dado o alto nível de inventividade e criatividade dos planos e movimentos de câmera. A trilha sonora é fantástica, a melhor que eu presenciei em filmes mudos.
Mas, para além disso, creio ser a montagem o elemento mais importante do filme. Ela potencializa possibilidades, rompe fronteiras. Permite ao público fazer associações entre duas cenas aparentemente distintas, mas que, quando colocadas em paralelo, possibilitam a criação de um significado.
Nesse ponto, vale ressaltar que o objetivo do filme talvez não seja apresentar um significado em si nas cenas, mas sim mostrar a capacidade de criação do significado através dos diversos recursos cinematográficas. Por isso, em alguns momentos, a obra pode tornar-se repetitiva, algo que não prejudica o mérito dessa experiência.
Até que ponto é possível manter nossa civilidade? Creio ser essa a questão central abordada em “Sob o Domínio do Medo”, de Sam Peckinpah.
Para isso, nada mais coerente do que selecionar para protagonista o matemático David Summer, personagem cuja profissão representa justamente o auge da racionalidade e inteligência. Seu modo de agir, de se vestir, de solucionar problemas — todos feitos da maneira mais civilizada possível.
Entretanto, pouco a pouco, essa racionalidade vai sendo perdida, vai sendo deixada de lado, dando lugar à raiva, à grosseria, ao instinto animal. Isso porque são essas as mesmas características do contexto que cerca David.
Uma sociedade hipócrita que “protege” algumas mulheres, ao mesmo tempo que permite o abuso de outras. Álcool, brigas, mentiras, ócio — tudo está lá, tudo o que é de mais humano e perturbador.
“Christine - O Carro Assassino” é um ótimo filme, uma obra que nos permite perceber o talento de John Carpenter. Isso porque o diretor tem, como poucos outros, coragem de estranhar e provocar o público.
É por esse exato motivo que o grande mérito do filme é justamente aquilo que as pessoas, em geral, menos gostam. Carpenter sabe como debochar, como parodiar, como utilizar do “trash”. Mas isso, é claro, não é aceito muito bem, tanto por parte do público, quanto da crítica.
A forma exagerada e burlesca como Arnie Cunningham se apega ao seu carro, se transformando em um engraçado vilão, exemplifica meu ponto. Acredito ser esse um dos auges da obra, algo que funciona muito bem, dado a própria premissa debochada que nós é apresentada — como esperar um vilão sério de um filme com um Plymouth Fury assassino?
“Instinto Selvagem” tinha um roteiro com bom potencial. Já era de se esperar, pois a obra é fortemente influenciado pelo cinema Noir, que geralmente apresenta roteiros complexos e bem desenvolvidos.
A trama do filme tenta tornar diversos acontecimentos ambíguos, com base na mente manipuladora da “femme fatale” Catherine Tramell, pela qual o policial Nick Curran se apaixona. Mesmo assim, essa ambiguidade não funciona, visto que o filme perde a sutileza, apresenta diálogos muito óbvios, algo que se difere do mistério e da obscuridade típicos de um filme Noir.
A obra explora o lado irracional das pessoas, as pulsões que não podem ser controladas, os instintos inerentes. O desejo ganha força e, pouco a pouco, a racionalidade vai sendo deixada de lado.
Infelizmente, o filme não aprofunda nessa questão, tornando os personagens demasiadamente superficiais; artificiais. Existe pouquíssima naturalidade nos diálogos, nos personagens e mesmo nas atuações.
Portanto, mesmo com o potencial inicial do roteiro, o filme não apresenta um resultado satisfatório.
Criar uma sequência para trilogias clássicas é sempre tarefa desafiante. Ainda assim, cerca de 20 anos depois do encerramento da trilogia original, eis que Steven Spielberg nos apresenta um novo Indiana Jones.
Dessa vez “Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal”. Um ou outro elemento, como o nome do filme, foram alterados. No mais, é exatamente a mesma fórmula repetida nas obras anteriores. Creio que o filme não representa uma piora para a série, mas também não apresenta melhora, o que o torna dispensável.
“Yellow Submarine” apresenta uma característica interessante e presente em várias animações infantis — a ambiguidade.
Por um lado, vemos um filme puro e inocente, típico do mundo das crianças. “Love is all you need” — há um certo traço de infantil nessa utopia. Por outro lado, já com uma visão mais madura, percebemos fortes influências da fase psicodélica dos Beatles na obra.
Álbuns como “Rubber Soul”, “Revolver”, “Sgt. Peppers” e “Magical Mystery Tour” também nos fornecem essa dualidade entre um mundo utópico infantil e a psicodelia vinda dos ácidos. Certamente isso ajuda a explicar um pouco da magia única que a banda carrega consigo.
Para os adultos (sóbrios!), acredito que algumas passagens do filme podem soar prolongadas e repetitivas, o que não muito prejudica o produto final. Vale a pena conferir!
São pouquíssimos os filmes que conseguem explorar de forma tão sutil e tão profunda as características de uma personagem, como nos é apresentado em “A Malvada”.
No início da obra, conhecemos Eve Harrington, uma jovem dócil e sonhadora (ou pelo menos assim acreditamos) que obsessivamente assiste a uma mesma peça de teatro, protagonizada por Margo Channing. Aos poucos, o filme nos mostra o desejo de Eve em se tornar uma grande atriz tal como Margo.
Logo percebemos, portanto, a profunda complexidade de Eve. De modo inovador para a época, a personagem ,ao mesmo tempo, se apresenta como protagonista e anti-heroína do filme. Seu caráter manipulador vai aos poucos sendo revelado, mas sua capacidade de persuasão é tão grande que, em dados momentos, até o público pode se confundir quanto ao seu real caráter. Nesse sentido, é interessante notar como ela apresenta fortes similaridades com as “femme fatales” do Cinema Noir.
Eve, em uma das cenas iniciais, conta sua história de vida, sua paixão pelo teatro e como na sua vida, muitas vezes, o irreal parece mais verdadeiro do que o próprio real. Acredito que essa filosofia se estende durante toda a película. Excelente!
Há muito para se admirar em “Ponto Cego”. O filme apresenta a difícil situação da periferia de Oakland, a partir de dois grandes amigos: Collin e Miles.
Aliás, “dois” é um número profundamente presente no filme — existe uma forte dualidade na vida, nas decisões e mesmo nas personalidades dos diversos personagens. Violência ou paz? Crime ou legalidade? Estudar ou trabalhar? Suco verde ou cigarro? O que é fácil de ver ou o que é quase imperceptível? A ambiguidade e incerteza são os pontos chave do filme.
Temas como o estereótipo da vida de um negro norte-americano, a dificuldade de reabilitação por parte de ex-presidiários, opressão e preconceito policiais são abordados com profundidade no filme.
São diversas cenas geniais. Muito me pesa, porém, dizer que algumas outras cenas excedem, exageram, perdem totalmente a sutileza, soando até mesmo pedantes. Vendo o filme, fica claro qual é qual. Por isso, digo que “Ponto Cego” é um bom filme, que carregava potencial para ser excelente.
“O Circo” é um bom filme, como já era de se esperar do gênio Charlie Chaplin. Acredito que esta seja uma obra menor se comparada a outros de seus clássicos, como “O Grande Ditador”, “Tempos Modernos”, “O Garoto” ou “Em Busca do Ouro”.
Mesmo assim, ainda encontramos na obra cenas geniais, principalmente por conta do excelente desempenho físico de Chaplin (algo que Buster Keaton usava com maestria em seus filmes). Bastar citar a cena em que Carlitos imita um boneco mecânico ou, principalmente, a cena clímax do filme, na qual o herói desafia-se na corda bamba.
Existem falhas no roteiro do filme, quando, por exemplo, o malabarista oficial some sem nenhuma explicação(?), dando origem à cena clímax citada anteriormente. Além disso, “O Circo” não acrescenta nada de novo na filmografia do diretor. Nada para se preocupar — logo após Chaplin nos presenteia com alguns dos melhores filmes da história da Sétima Arte!
Ótimo filme! “Meia-noite em Paris” nos mostra como os clichês são inesgotáveis e podem sempre ser renovados com uma visão criativa e autoral, algo que não falta no mestre Woddy Allen.
Gil é um personagem insatisfeito com sua situação de vida, cansado de escrever roteiros fúteis para filmes de Hollywood e duvidoso quanto ao seu relacionamento com sua noiva Inez.
Ao meu ver, as viagens ao passado do protagonista são fugas de um tempo e espaço que o desagradam; projeções do que poderia ser um vida melhor, com pessoas, lugares e uma época mais interessantes.
É nesse ponto que se encontra a visão otimista de Allen, mostrando-nos que a solução se encontra no presente – não nessa fuga! Existem melhores situações ao nosso alcance.
Por fim, não posso deixar de elogiar a maneira debochada e irreverente com a qual o diretor retrata os intelectuais na obra, algo presente em vários outros de seus filme. Muito bom!
“Django” é mais outro filme que nos mostra a incrível habilidade de Quentin Tarantino em prender a atenção do público durante toda a extensão da obra, apresentando cenas tensas, instigantes e atrativas do início ao fim, seja por meio dos diálogos, da fotografia, dos cenários, dos figurinos e, é claro, da violência gráfica.
Entretanto, me parece, no mínimo, questionável o tratamento que algumas temáticas complexas do filme recebem, dentre elas, a escravidão, o racismo e a luta negra. Tudo isso é mostrado sob uma ótica hollywoodiana que, por vezes, soa um pouco superficial dado a real gravidade desses assuntos.
Além disso, a obra não acrescenta nada de excepcional na filmografia do diretor e, por isso, encerro minha crítica da forma como comecei — “Django” é mais outro filme...
Bom filme! “Rocky” apresenta uma trama central bem desenvolvida. As passagens do treinamento do herói são icônicas, estão entre as imagens mais famosas da 7ª Arte. A luta final prende a atenção do público como poucas outras conseguem fazer. Interesse perceber como isso é exatamente o oposto do que acontece na cena da luta inicial do filme, o que nos mostra a evolução do protagonista.
Além disso, vemos aqui personagens e arcos secundários interessantes. Mesmo não aprofundando no tema, o filme mostra a dificuldade da classe trabalhadora da Filadélfia, principalmente na figura do alcoólatra Paulie, que constantemente pede ajuda a Rocky em busca de um emprego melhor. O filme também explora o romance do herói com a tímida Adrian, destacando corajosamente os momentos de desconforto típicos de uma relação que se inicia.
Um ponto fraco, porém, seria o desfecho do filme, que acontece de forma abrupta e repentina. Fora isso, nada a reclamar!
Impressionante como grandes diretores conseguem produzir obras que perpassam o tempo, se mantendo atuais mesmo após décadas de sua realização.
Para além da questão da pedofilia, Stanley Kubrick faz um profundo estudo da fragilidade masculina, da insegurança e da obsessão dos homens para com o sexo oposto, que nos leva a um controle e manipulação doentios.
Há muito de nós, homens, dentro do filme - talvez por isso ele seja tão pertubador.
Crossfire Hurricane
4.3 18Sendo um leigo em matéria de Rolling Stones, sinto que “Crossfire Hurricane” foi uma ótima introdução para a história dessa grande banda. Isso porque o documentário mostra essa trajetória de forma natural e fluída, desde a formação do grupo até a década de 80.
O que mais me chamou a atenção foram as comparações entre os Rolling Stones e os Beatles. As bandas assumiram “lados opostos”, sendo criada uma imagem da primeira como um grupo de rebeldes e a segunda como um grupo de mocinhos!
O arquivo de imagens é rico e abrangente, acompanhado pelas entrevistas em “off”, que complementam bem o conteúdo visual. Entendemos a grandiosidade e pioneirismo da banda, bem como sua relevância até os dias atuais!
Zelig
4.2 355É impressionante como Woddy Allen apresenta em seus filmes uma ótima capacidade de inovação ao mesmo tempo em que consegue manter diversos traços autorais semelhantes que perpassam por toda sua filmografia.
“Zelig” é um ótimo exemplo disso. A obra apresenta uma proposta diferente não somente para o próprio diretor, mas como também para o público e o cinema de maneira geral — trata-se de um falso documentário.
E mesmo apresentando um formato inovador, o conteúdo da obra já nós é extremamente familiar, existe muito de Woddy Allen no filme. Quase como em um desafio próprio, o diretor ainda sim consegue criar um romance simples e verdadeiro em meio a uma narrativa documental. Interessante notar como Allen procura mostrar em seus filmes romances mais realistas, sem os exageros ficcionais e utópicos típicos de Hollywood.
Mas se o romance é simples, certamente os amantes não são. Zelig é um personagem essencialmente contraditório — seu lado cômico provém justamente daquilo que lhe é mais trágico. Já na figura da psiquiatra Eudora Fletcher, vemos sua obsessão pela ciência transformar-se em uma paixão por Zelig, de modo que os dois lados parecem coexistir ao longo da obra.
“Zelig”, portanto, é um ótimo filme — diferente e familiar ao mesmo tempo, situação típica para aqueles que apreciam a obra de Allen.
Cidade dos Sonhos
4.2 1,7K Assista AgoraNessa minha primeira visita, a sensação que “Cidade dos Sonhos” me passa é de infinitude. Isso porque existem inúmeras possíveis e impossíveis interpretações para os acontecimentos da obra, dada a sua profunda complexidade e obscuridade.
Mesmo assim, creio que o ponto mais importante, não só dessa obra, mas como da filmografia do diretor David Lynch, é perceber que seus filmes não exigem interpretações — eles trabalham essencialmente com as sensações. É um cinema não para se entender, mas para se sentir.
Esse é o motivo pelo qual Lynch certamente é um dos melhores e mais revolucionários diretores dos Estados Unidos. Ele teve a incrível capacidade de subverter uma já formada e (quase) inflexível linguagem de Hollywood, trazendo ao público uma proposta extremamente diferenciada.
“No hay banda” — acredito ser essa a filosofia do filme. Esqueçam a razão, pois nele encontrarão somente sensação e ilusão.
Bom Comportamento
3.8 392“Bom Comportamento” é um filme que nos traz uma proposta diferenciada daquilo que normalmente é apresentado nos sucessos comerciais de Hollywood.
A obra mostra uma breve passagem na vida de Connie e seu irmão Nick. Após uma tentativa de assalto dos dois, Nick é preso e Connie se sente na responsabilidade de resgatá-lo da prisão.
O que se diferencia na obra — e torna-se seu grande mérito, é justamente o fato de que o filme perde o rumo, segue um fluxo sem destino certo, tal como a própria busca incessante de Connie para resgatar seu irmão.
Ele encontra diversos personagens que depois desaparecem, passa por diversos acontecimentos que de nada o ajudam em seu objetivo final — e o filme segue nessa mesma linha, sem apresentar ao público um ponto no qual ele possa se ancorar e sentir algum progresso na história.
Dessa forma, a obra teria uma perspectiva mais realista e até mesmo niilista da vida, que muitas vezes nos proporciona diversas passagens em vão, sem avanço, sem razão — e sem sucesso.
Atração Fatal
3.6 444 Assista AgoraSe, por um lado, é o roteiro de “Atração Fatal” que nos traz os pontos mais fortes do filme, é nele também que existem os pontos mais fracos.
Isso porque a obra apresenta uma transição eficiente de uma romance leve para um suspense perturbador. Aos poucos, o breve caso extraconjugal de Dan, que nasce de forma espontânea e até mesmo bela (na medida do possível para uma traição), se transforma em uma perseguição doentia e obsessiva por parte da amante Alex.
Entretanto, o filme apresenta personagens pouco aprofundados. Em particular, pode-se citar Alex, uma antagonista descontrolada e psicótica que necessitava de uma melhor exploração. Não nos é apresentado os motivos de sua obsessão, as razões para sua extrema dependência e, por isso, vemos uma personagem excessivamente superficial.
Além disso, na parte final do filme, temos passagens repetitivas, onde o roteiro vira um jogo de “bate e volta” entre Dan e Alex, até o momento do desfecho final. Enfim, por conta desses motivos, creio que “Atração Fatal” apresenta um resultado mediano.
It: A Coisa
3.9 3,0K Assista Agora“It - A Coisa” é o que se pode chamar de um “belo pedaço de bosta”.
Belo pois possui alguns aspectos técnicos interessantes, como direção e fotografia. Bosta porque estagna precisamente nisso, não apresenta mais nada, exceto um grande amontoado de clichês pasteurizados, sem nenhuma verdade, mensagem ou qualquer tipo de conteúdo.
Não há sequer um personagem interessante na obra. Todos são demasiadamente superficiais. Me soa quase como uma fórmula matemática: A + B = C. Um garoto (A) + um irmão desaparecido (B) = um garoto que busca seu irmão desaparecido durante todo a extensão da obra (C). E não há mais nada no personagem, somente isso. Como era a relação dele com o irmão? Por que ele não consegue superar o desaparecimento? São perguntas com respostas tão superficiais quanto os próprios personagens que delas se originam.
E o vilão? Quem é ele? Qual sua origem? Por que precisa matar as crianças? Também não há respostas, o que acaba por entregar ao público um personagem fácil e estúpido. Não há esforço para desenvolver um psicólogo do palhaço, algo complexo, ambíguo ou profundo como deveria ser a mente de um antagonista. Ao contrário, o que existe é simplesmente um desejo do “mal pelo mal”, solução fácil e escassa para qualquer vilão.
Enfim, esse é um daqueles filmes que me entristecem, pois boa parte do público e da crítica aprovam, sem qualquer motivo para tanto.
Nasce Uma Estrela
4.0 2,4K Assista Agora“Nasce Uma Estrela” é uma obra que dividiu opiniões. Alguns afirmar se tratar de um grande clichê. Outros dizem ser um ótimo filme. Pra mim, os dois — e isso é perfeitamente possível.
A obra me passa um sentimento de verdade, me fez acreditar no amor do casal protagonista. Penso que o desenvolvimento da obra é fluído. O amor do casal se intensifica de maneira natural, aos poucos, sem causar estranhamento. E o sucesso de Ally aumenta na medida em que o de Jackson Maine diminui, também com ótima fluidez.
Em diversos trechos do filme, Maine expõe sua filosofia de arte — ele diz que toda obra deve ser verdadeira, deve vir de dentro. Um dos pontos que faltou aprofundamento é na carreira de Ally, que permite ser “moldada” pela indústria musical pop dos Estados Unidos, perdendo um pouco daquela verdade essencial do artista. Essa talvez seja uma ponta solta do filme.
De qualquer forma, acredito que “Nasce Uma Estrela” seja um filme que transmite sinceridade, conquista o público pelo sentimento de amor real do casal. E isso é um grande mérito.
Obs: A cena do Grammy é totalmente desnecessária. Ficou muito fora de tom!
Spartacus
4.0 345 Assista AgoraA história por trás de “Spartacus” é conturbada. O diretor original Anthony Mann foi demitido após divergências criativas com Kirk Douglas, produtor executivo e ator protagonista da obra. Depois, Stanley Kubrick assume a direção, mas também entra em conflito com Kirk Douglas, o que acaba por limitar sua liberdade criativa no filme.
Dessa forma, “Spartacus” é a obra com menos traços autorais na filmografia de Kubrick. Para os fãs do diretor, isso certamente é um ponto decepcionante. Mesmo assim, não há como negar os méritos desse clássico do cinema.
O filme apresenta a odisseia do escravo Spartacus, que se rebela contra o sistema opressor da Itália e, comandando uma legião de outros escravos, traça uma rota para fugir da região.
Um dos pontos que mais se destaca no filme, especialmente pelo atual contexto sociopolítico mundial, é a forma com a qual o senador Marcus Crassus consegue instaurar uma ditadura em Roma sob seu comando. A rebelião de escravos é a “ameaça” usada como pretexto para o regime — já existiram várias outras, como o comunismo no caso do golpe de 1964 no Brasil. Em períodos de instabilidade, há que se tomar cuidado com qualquer brecha para o autoritarismo.
Enfim, “Spartacus” é um excelente filme. Sensível, profundo e atual.
O Garoto de Liverpool
3.8 1,0K Assista grátis“O Garoto de Liverpool” é uma obra ficcional que apresenta a história de um jovem John Lennon. O filme aprofunda em duas perspectivas: profissional e familiar.
Na perspectiva profissional, vemos o início da paixão de Lennon pela música, a formação da banda “The Quarryman” e sua gradual transformação no que viria a ser a melhor banda de todos os tempos. Creio que o filme exagera em alguns pontos, como na opção de tornar Paul McCartney um jovem obediente e submisso em contraste com a figura excessivamente rebelde e galã de John Lennon.
Já na perspectiva familiar, conhecemos o drama pessoal de Lennon quanto à ausência de seus pais durante a infância. O conflito final do filme é criado a partir desse trauma. Entretanto, acredito que faltou uma melhor elaboração da resolução desse conflito, feita de forma muito simples e rápida.
Um filme mediano, apenas.
Sin City: A Cidade do Pecado
3.8 1,3K Assista AgoraEm “Sin City”, os co-diretores Robert Rodriguez e Frank Miller verdadeiramente apresentam uma cidade dominada pelo pecado. Para isso, a corrupção e deturpação da sociedade são exploradas sob diferentes perspectivas, a partir das três histórias principais do filme.
Interessante perceber como cada uma dessas histórias apresenta um tema específico. A primeira delas nos mostra um Estado autoritário representado pela figura do senador. A segunda apresenta um clero hipócrita simbolizado pelo cardeal. Já a terceira destaca a própria população da cidade, representada pelo grupo das prostitutas que promovem um autogoverno — muito por parte da corrupção nos altos escalões da sociedade explorados nas histórias anteriores.
Há que se elogiar o visual diferente e autêntico da fotografia, que busca aproximar a estética do filme com os HQ’s originais em que a história se baseia. A narrativa não-linear confere dinamicidade a obra, muito embora não seja tão complexa e bem desenvolvida se comparada à filmes como “Pulp Fiction” — isso porque mesmo sendo alternadas, as histórias não possuem praticamente nenhum personagem ou acontecimento que as interligam diretamente. De qualquer forma, temos aqui um excelente filme!
O Cantor de Jazz
3.4 70 Assista Agora“O Cantor de Jazz” é uma obra que nos oferece mais do que simplesmente o “título” de primeiro filme sonoro.
O conflito entre modernismo e tradicionalismo é o grande tema do filme. Dessa forma, nos é apresentada o personagem Jakie Rabinowitz, amante de jazz, que desde de novo entra em confronto com seu pai, um cantor conservador da Sinagoga.
Simples, porém sempre atual. Foi assim com o Jazz, depois com o Rock e sabe-se lá quais serão os próximos (alguns falam do atual Funk). De qualquer forma, esse conflito se estende para além da música ou das artes — também está na política, na religião, no amor, em tudo.
O ponto mais fraco do filme é certamente a resolução do problema final — feita de forma simplória, excessivamente fácil. Mesmo assim, vale a pena conferir.
Um Homem com uma Câmera
4.4 196 Assista Agora“Um Homem com uma Câmera” é uma interessante experiência cinematográfica realizada pelo teórico e diretor Dziga Vertov.
Algumas passagens são realmente surpreendentes, dado o alto nível de inventividade e criatividade dos planos e movimentos de câmera. A trilha sonora é fantástica, a melhor que eu presenciei em filmes mudos.
Mas, para além disso, creio ser a montagem o elemento mais importante do filme. Ela potencializa possibilidades, rompe fronteiras. Permite ao público fazer associações entre duas cenas aparentemente distintas, mas que, quando colocadas em paralelo, possibilitam a criação de um significado.
Nesse ponto, vale ressaltar que o objetivo do filme talvez não seja apresentar um significado em si nas cenas, mas sim mostrar a capacidade de criação do significado através dos diversos recursos cinematográficas. Por isso, em alguns momentos, a obra pode tornar-se repetitiva, algo que não prejudica o mérito dessa experiência.
Sob o Domínio do Medo
3.8 268Até que ponto é possível manter nossa civilidade? Creio ser essa a questão central abordada em “Sob o Domínio do Medo”, de Sam Peckinpah.
Para isso, nada mais coerente do que selecionar para protagonista o matemático David Summer, personagem cuja profissão representa justamente o auge da racionalidade e inteligência. Seu modo de agir, de se vestir, de solucionar problemas — todos feitos da maneira mais civilizada possível.
Entretanto, pouco a pouco, essa racionalidade vai sendo perdida, vai sendo deixada de lado, dando lugar à raiva, à grosseria, ao instinto animal. Isso porque são essas as mesmas características do contexto que cerca David.
Uma sociedade hipócrita que “protege” algumas mulheres, ao mesmo tempo que permite o abuso de outras. Álcool, brigas, mentiras, ócio — tudo está lá, tudo o que é de mais humano e perturbador.
Christine, O Carro Assassino
3.3 671 Assista Agora“Christine - O Carro Assassino” é um ótimo filme, uma obra que nos permite perceber o talento de John Carpenter. Isso porque o diretor tem, como poucos outros, coragem de estranhar e provocar o público.
É por esse exato motivo que o grande mérito do filme é justamente aquilo que as pessoas, em geral, menos gostam. Carpenter sabe como debochar, como parodiar, como utilizar do “trash”. Mas isso, é claro, não é aceito muito bem, tanto por parte do público, quanto da crítica.
A forma exagerada e burlesca como Arnie Cunningham se apega ao seu carro, se transformando em um engraçado vilão, exemplifica meu ponto. Acredito ser esse um dos auges da obra, algo que funciona muito bem, dado a própria premissa debochada que nós é apresentada — como esperar um vilão sério de um filme com um Plymouth Fury assassino?
Instinto Selvagem
3.6 556 Assista Agora“Instinto Selvagem” tinha um roteiro com bom potencial. Já era de se esperar, pois a obra é fortemente influenciado pelo cinema Noir, que geralmente apresenta roteiros complexos e bem desenvolvidos.
A trama do filme tenta tornar diversos acontecimentos ambíguos, com base na mente manipuladora da “femme fatale” Catherine Tramell, pela qual o policial Nick Curran se apaixona. Mesmo assim, essa ambiguidade não funciona, visto que o filme perde a sutileza, apresenta diálogos muito óbvios, algo que se difere do mistério e da obscuridade típicos de um filme Noir.
A obra explora o lado irracional das pessoas, as pulsões que não podem ser controladas, os instintos inerentes. O desejo ganha força e, pouco a pouco, a racionalidade vai sendo deixada de lado.
Infelizmente, o filme não aprofunda nessa questão, tornando os personagens demasiadamente superficiais; artificiais. Existe pouquíssima naturalidade nos diálogos, nos personagens e mesmo nas atuações.
Portanto, mesmo com o potencial inicial do roteiro, o filme não apresenta um resultado satisfatório.
Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal
3.2 614 Assista AgoraCriar uma sequência para trilogias clássicas é sempre tarefa desafiante. Ainda assim, cerca de 20 anos depois do encerramento da trilogia original, eis que Steven Spielberg nos apresenta um novo Indiana Jones.
Dessa vez “Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal”. Um ou outro elemento, como o nome do filme, foram alterados. No mais, é exatamente a mesma fórmula repetida nas obras anteriores. Creio que o filme não representa uma piora para a série, mas também não apresenta melhora, o que o torna dispensável.
Yellow Submarine
4.2 224 Assista Agora“Yellow Submarine” apresenta uma característica interessante e presente em várias animações infantis — a ambiguidade.
Por um lado, vemos um filme puro e inocente, típico do mundo das crianças. “Love is all you need” — há um certo traço de infantil nessa utopia. Por outro lado, já com uma visão mais madura, percebemos fortes influências da fase psicodélica dos Beatles na obra.
Álbuns como “Rubber Soul”, “Revolver”, “Sgt. Peppers” e “Magical Mystery Tour” também nos fornecem essa dualidade entre um mundo utópico infantil e a psicodelia vinda dos ácidos. Certamente isso ajuda a explicar um pouco da magia única que a banda carrega consigo.
Para os adultos (sóbrios!), acredito que algumas passagens do filme podem soar prolongadas e repetitivas, o que não muito prejudica o produto final. Vale a pena conferir!
A Malvada
4.4 660 Assista AgoraSão pouquíssimos os filmes que conseguem explorar de forma tão sutil e tão profunda as características de uma personagem, como nos é apresentado em “A Malvada”.
No início da obra, conhecemos Eve Harrington, uma jovem dócil e sonhadora (ou pelo menos assim acreditamos) que obsessivamente assiste a uma mesma peça de teatro, protagonizada por Margo Channing. Aos poucos, o filme nos mostra o desejo de Eve em se tornar uma grande atriz tal como Margo.
Logo percebemos, portanto, a profunda complexidade de Eve. De modo inovador para a época, a personagem ,ao mesmo tempo, se apresenta como protagonista e anti-heroína do filme. Seu caráter manipulador vai aos poucos sendo revelado, mas sua capacidade de persuasão é tão grande que, em dados momentos, até o público pode se confundir quanto ao seu real caráter. Nesse sentido, é interessante notar como ela apresenta fortes similaridades com as “femme fatales” do Cinema Noir.
Eve, em uma das cenas iniciais, conta sua história de vida, sua paixão pelo teatro e como na sua vida, muitas vezes, o irreal parece mais verdadeiro do que o próprio real. Acredito que essa filosofia se estende durante toda a película. Excelente!
Ponto Cego
4.0 142 Assista AgoraHá muito para se admirar em “Ponto Cego”. O filme apresenta a difícil situação da periferia de Oakland, a partir de dois grandes amigos: Collin e Miles.
Aliás, “dois” é um número profundamente presente no filme — existe uma forte dualidade na vida, nas decisões e mesmo nas personalidades dos diversos personagens. Violência ou paz? Crime ou legalidade? Estudar ou trabalhar? Suco verde ou cigarro? O que é fácil de ver ou o que é quase imperceptível? A ambiguidade e incerteza são os pontos chave do filme.
Temas como o estereótipo da vida de um negro norte-americano, a dificuldade de reabilitação por parte de ex-presidiários, opressão e preconceito policiais são abordados com profundidade no filme.
São diversas cenas geniais. Muito me pesa, porém, dizer que algumas outras cenas excedem, exageram, perdem totalmente a sutileza, soando até mesmo pedantes. Vendo o filme, fica claro qual é qual. Por isso, digo que “Ponto Cego” é um bom filme, que carregava potencial para ser excelente.
O Circo
4.4 227 Assista Agora“O Circo” é um bom filme, como já era de se esperar do gênio Charlie Chaplin. Acredito que esta seja uma obra menor se comparada a outros de seus clássicos, como “O Grande Ditador”, “Tempos Modernos”, “O Garoto” ou “Em Busca do Ouro”.
Mesmo assim, ainda encontramos na obra cenas geniais, principalmente por conta do excelente desempenho físico de Chaplin (algo que Buster Keaton usava com maestria em seus filmes). Bastar citar a cena em que Carlitos imita um boneco mecânico ou, principalmente, a cena clímax do filme, na qual o herói desafia-se na corda bamba.
Existem falhas no roteiro do filme, quando, por exemplo, o malabarista oficial some sem nenhuma explicação(?), dando origem à cena clímax citada anteriormente. Além disso, “O Circo” não acrescenta nada de novo na filmografia do diretor. Nada para se preocupar — logo após Chaplin nos presenteia com alguns dos melhores filmes da história da Sétima Arte!
Meia-Noite em Paris
4.0 3,8K Assista AgoraÓtimo filme! “Meia-noite em Paris” nos mostra como os clichês são inesgotáveis e podem sempre ser renovados com uma visão criativa e autoral, algo que não falta no mestre Woddy Allen.
Gil é um personagem insatisfeito com sua situação de vida, cansado de escrever roteiros fúteis para filmes de Hollywood e duvidoso quanto ao seu relacionamento com sua noiva Inez.
Ao meu ver, as viagens ao passado do protagonista são fugas de um tempo e espaço que o desagradam; projeções do que poderia ser um vida melhor, com pessoas, lugares e uma época mais interessantes.
É nesse ponto que se encontra a visão otimista de Allen, mostrando-nos que a solução se encontra no presente – não nessa fuga! Existem melhores situações ao nosso alcance.
Por fim, não posso deixar de elogiar a maneira debochada e irreverente com a qual o diretor retrata os intelectuais na obra, algo presente em vários outros de seus filme. Muito bom!
Django Livre
4.4 5,8K Assista Agora“Django” é mais outro filme que nos mostra a incrível habilidade de Quentin Tarantino em prender a atenção do público durante toda a extensão da obra, apresentando cenas tensas, instigantes e atrativas do início ao fim, seja por meio dos diálogos, da fotografia, dos cenários, dos figurinos e, é claro, da violência gráfica.
Entretanto, me parece, no mínimo, questionável o tratamento que algumas temáticas complexas do filme recebem, dentre elas, a escravidão, o racismo e a luta negra. Tudo isso é mostrado sob uma ótica hollywoodiana que, por vezes, soa um pouco superficial dado a real gravidade desses assuntos.
Além disso, a obra não acrescenta nada de excepcional na filmografia do diretor e, por isso, encerro minha crítica da forma como comecei — “Django” é mais outro filme...
Rocky: Um Lutador
4.1 848 Assista AgoraBom filme! “Rocky” apresenta uma trama central bem desenvolvida. As passagens do treinamento do herói são icônicas, estão entre as imagens mais famosas da 7ª Arte. A luta final prende a atenção do público como poucas outras conseguem fazer. Interesse perceber como isso é exatamente o oposto do que acontece na cena da luta inicial do filme, o que nos mostra a evolução do protagonista.
Além disso, vemos aqui personagens e arcos secundários interessantes. Mesmo não aprofundando no tema, o filme mostra a dificuldade da classe trabalhadora da Filadélfia, principalmente na figura do alcoólatra Paulie, que constantemente pede ajuda a Rocky em busca de um emprego melhor. O filme também explora o romance do herói com a tímida Adrian, destacando corajosamente os momentos de desconforto típicos de uma relação que se inicia.
Um ponto fraco, porém, seria o desfecho do filme, que acontece de forma abrupta e repentina. Fora isso, nada a reclamar!
Lolita
3.7 632 Assista AgoraImpressionante como grandes diretores conseguem produzir obras que perpassam o tempo, se mantendo atuais mesmo após décadas de sua realização.
Para além da questão da pedofilia, Stanley Kubrick faz um profundo estudo da fragilidade masculina, da insegurança e da obsessão dos homens para com o sexo oposto, que nos leva a um controle e manipulação doentios.
Há muito de nós, homens, dentro do filme - talvez por isso ele seja tão pertubador.