Yorgos Lanthimos, como sempre, muito inteligente e provocador. O filme tem muitas possibilidades de análise mas, para mim, dois pontos se destacam: a crítica a como somos invariavelmente moldados pela arbitrariedade do que nossos pais desejam nos ensinar e a desconstrução da linguagem. Esta última traz reflexões mais interessantes, pois o filme mostra como o significado das palavras é tão particular e desconexo da materialidade dos objetos no mundo, que qualquer tentativa de universalização só é possível pela crença e adesão subjetiva - embora de forma coletiva - na qual há uma correspondência entre discurso e objeto.
O filme é muito vanguardista e autêntico, possui críticas ácidas e cômicas à burguesia, assim como uma abordagem surrealista de sonhos muito interessante. Dito isso, eu não consegui gostar tanto quanto imaginava, tenho dificuldades em me envolver e concentrar em filmes surrealistas devido à natureza fragmentária das narrativas.
A cinematografia é inebriante e os personagens claramente estão deslocados do mundo, todos parecem solitários, apenas conectados por uma espécie de culto no qual aglutinam de forma dicotômica a destruição de seus corpos com sua capacidade reprodutiva, a cisão entre humanidade e máquina é resolvida por um acontecimento que transforma a materialidade de ambos. As batidas dos carros mimetizam os atos sexuais e, para além disso, unificam em uma forte conexão os sujeitos envolvidos, enchendo-os de vitalidade e energia sexual. O erotismo do filme nunca parece forçado, é sempre autêntico e parece purgar - ainda que provisoriamente - os personagens de suas angústias mais íntimas.
Me deixou com sentimentos difusos, ao mesmo tempo em que há um senso de justiça com a execução do assassino, este acabou se tornando o que ele mais almejava desde o início do filme: um mártir.
No final, as pessoas o apoiaram e em nenhum momento sequer utilizaram a palavra assassinato para descrever suas ações, já mostrando que aquelas mulheres eram vistas não como seres humanos, mas lixo a ser descartado. A própria terminologia do filme sugere isso quando o assassino alega estar "limpando" a cidade sagrada.
O mérito de Holy Spider está em explorar questões sociais através de sua relação com extremismo religioso; aqui, assim como o personagem Travis de "Taxi Driver", o assassino se coloca como um soldado de Deus, destinado a purificar toda uma cidade. Nos dois casos, é digno de nota, tratam-se de personagens ex-militares que perderam seu propósito findadas suas guerras e, consequentemente, sentem a necessidade de criar outras em suas cidades.
Interessante. Acredito que o intuito do filme é explorar a incapacidade do casal de dizer "não". A apatia de ambos pode ser vista como uma crítica a certas convenções sociais do tipo "seria rude não aceitar ir" dito por um dos amigos do casal fatídico no início do filme.
Meu primeiro filme do Dogma 95. Não esperava algo tão visceral e demorou um tempo para me acostumar com o visual experimental do filme. Vinterberg é excelente, é visível em seus filmes o cuidado em explorar as temáticas propostas com muita sensibilidade; em Festen, o diretor explora o lado mais obscuro da condição humana, expondo tudo a todos em uma festa, sem subterfúgios ou eufemismos, apenas a pura verdade.
Pasolini demonstra o poder do cinema nesta obra-prima de sua cinematografia. Na esteira do neorrealismo italiano, Accattone não se deixa restringir por qualquer traço de moralidade e mostra até que ponto a humanidade pode chegar pela pobreza e cobiça.
O personagem principal não se abstém de usar os outros para próprio ganho, partindo da ideia de que o trabalho é para "acabados", pessoas que vendem seu esforço por um mero soldo. Essa concepção de trabalho é uma crítica que subverte a glorificação deste feita pela burguesia, retomando a concepção de trabalho assalariado da antiguidade: é vulgar, inaceitável e praticamente uma escravidão em que as remunerações são como grilhões. Assim, os personagens contra o trabalho não são figuras marxistas, mas querem uma vida confortável, com luxos e sem labor, algo similar a valoração do ócio em relação ao [neg]ócio feita pelos antigos.
As mulheres do filme acabam sendo exploradas pela miséria econômica, o machismo e a cobiça dos homens. O mesmo destino é reservado às crianças e Pasolini faz questão de mostrá-las aos bandos brincando em meio aos destroços de construções, uma imagem bem explícita da Itália na época do longa.
Há uma mistura de surrealismo e realismo bem interessante. O longa traz ideias profundas sobre a relação entre amor e desejo, na medida em que a protagonista ama o marido a seu modo, mas seu desejo sexual é direcionado a outros homens e, de alguma forma, parece retornar à imagem do marido em uma forma obscura de amor. Bunuel é muito autêntico, não tem medo de desafiar os costumes conservadores de sua época, entrega tudo o que a natureza humana tentar ocultar em seus filmes, frequentemente utilizando-se do surrealismo como ferramenta contra as convenções sociais burguesas.
A parte visual e as ideias do roteiro são boas, porém o filme não consegue desenvolver essas ideias de forma convincente. O conflito do casal é finalizado de forma abrupta no último ato, sem muita reflexão sobre as consequências. Acho interessante quadros e cenas prolongadas, mas quando se encaixam na ideia de distância contemplativa, não acho que funcionou muito bem nesse filme.
Intimacy é um filme sobre solidão que tenta explorar a tristeza e frustração de seus personagens através do sexo e é bem sucedido justamente nas cenas eróticas, mas falha quando se volta para os diálogos. Para mim, o que segura o filme são as atuações de Kerry Fox e Mark Rylance, além de Timothy Spall com uma atuação muito potente em um personagem difícil.
Kubrick abraça o que Nietzsche chamou de "dionisíaco", referindo-se a verdadeira natureza humana, quando é retirado o véu dos costumes. O dionisíaco é sem limitações, caracterizado pelo puro excesso do prazer. O filme é uma crítica às limitações que nos impomos para viver em sociedade. Nesse sentido, há duas máscaras, uma simbólica usada no cotidiano e outra usada para preservar essa imagem social, ao passo que, paradoxalmente, é vestida para libertar a verdadeira natureza voluptuosa da humanidade como exposto no ritual esotérico.
Gostei muito da parte visual do filme, a decoração esotérica da casa de Robert chama muito atenção. As duas Vênus de Ticiano ficaram lindas, especialmente a Vênus de Urbino, que o pintor escolheu limitar ou "domesticar" sua representação dentro de um cômodo.
É interessante pensar nessas pinturas e sua relação com Vera, pois assim como a Vênus de Urbino, Vera está confinada em um quarto e muitas vezes Almodóvar chega a filmar quadros em que ela está na mesma posição da pintura. Além disso, essa Vênus é notoriamente representada com um tom mais erótico, assim é possível pensar que Vera representasse um arquétipo idealístico de mulher em Robert, mas sempre com um viés sexual. As próprias formas de Vênus nas duas pinturas apontam para uma obsessão com a perfeição corporal e, em última instância, para uma relação entre arte e corpo, no mínimo, sinistra.
É possível traçar outro paralelo entre Robert e Vera através do mito de Pigmalião e Galateia em que o primeiro resolve esculpir o ideal de uma mulher perfeita e acaba se apaixonando por sua própria obra. Essas reflexões que o filme traz são interessantes, mas Almodóvar não as explora muito além do visual. O foco na vingança que, abruptamente, transfigura-se em paixão é mal explorado e os acontecimentos chocam mais pelo horror imagético do que pela profundida psicológica.
Uma abordagem psicanalítica e teatral da tragédia de Sófocles. A fotografia em Marrocos é belíssima, assim como os figurinos idiossincráticos e, provavelmente, anacrônicos. A justaposição de épocas, indo do século XX até a Grécia antiga, revela um tom freudiano - o próprio Pasolini admitiu que as cenas modernas são autobiográficas - e não pude deixar de indagar o quanto esse filme pode ter influenciado Wim Wenders no desenvolvimento de Paris, Texas; haja vista, o perfil do viajante em terras inóspitas, fugindo e, ao mesmo tempo, buscando a si mesmo.
Hiperbólico, envolvente, trágico e nostálgico. Babylon é longo, mas com ritmo ágil escapa do tédio e enfado. Retrato dos excessos hedonistas dos anos 1920s, o longo homenageia a história da sétima arte.
Intenso do início ao fim. Os planos sequências são excelentes, conseguem gerar o clima de estresse, ansiedade e imediatismo da cozinha muito bem. As atuações não ficam para trás, o elenco tem uma dinâmica muito boa e tudo ficou bastante orgânico, nada de forçado.
Marte Um me impactou muito pessoalmente, não só pela qualidade do roteiro, atuação, trilha sonora e cinematografia - que são fantásticos! -, mas pelo fato de eu ser mineiro, natural de BH. Objetos simples me emocionaram, como as canecas esmaltadas que Técia entrega a sua filha, semelhantes - e, talvez o mesmo modelo - a caneca que dei para minha namorada quando ela se mudou. A faixa de aniversário, os panos de mesa, objetos que pareciam saídos da casa da minha vó. Há muito tempo não me identificava tanto com uma obra
É sempre muito doloroso assistir uma história assim, nos colocamos na situação de uma forma muito pessoal, pensamos nas pessoas mais queridas de nossas vidas e como tudo que mais amamos é tão frágil perante ao mundo. Refletir sobre a morte e abordar o luto na arte nos possibilita valorizar mais nossos entes queridos, por isso Close é um filme muito importante. A câmera na mão foi uma escolha divina, na medida em que nos coloca mais próximos de tudo. Além disso, as atuações são impecáveis, principalmente Eden Dambrine, que provavelmente entrega a melhor atuação infantil do ano.
Joyland é duro de assistir, não porque é ruim ou maçante, mas porque projeta a realidade sem amenizar o tom para o espectador. O conflito entre indivíduo e grupo aparece em todos os personagens de um forma ou outra, seja no patriarcal Ashfaq que vive sob o temor de qualquer sombra de dúvidas sobre a imagem de sua família, na busca de independência e autenticidade de Mumtaz ou na impotência de Haider de se impor a figura de seu pai e irmão. Nota-se como toda a família está subjugada pela força invisível dos costumes, enquanto Biba, emancipada por si mesma, se atira ao mundo sem restrições, fazendo contraste com Haider e sua inatividade que, em última instância, gera a sensação de apatia, senão covardia.
Muitos simbolismos interessantes para explorar em uma revisitação. Apesar da atmosfera inquietante e do horror, o filme mescla isso com uma cinematografia linda, às vezes os quadros são uma explosão bem-vinda de cores. Na contramão dos cenários tipicamente do terror, o filme se passa sob a claridade do sol, os trajes são claros e o local é de um verde invejável, as flores enchem o filme de cor e textura. Embora pareça contraditório, a beleza cênica do longa reforça a sensação de inquietude e estranhamento.
Realmente é melhor que 'X', a atuação da Mia Goth é espetacular e a história é muito bem construída. Além de demonstrar a psicopatia de Pearl, o enredo expõe as causas socioeconômicas que deterioraram ainda mais o estado mental da protagonista, e também pode ser visto como um filme crítico da cultura de estrelas.
O erotismo do filme é simplesmente lindo, a fotografia em cenários verdes faz o filme parecer várias pinturas impressionistas. Ficou bem articulado a relação entre o amor e a moralidade elitista da época. A protagonista é muito forte, fiquei admirado em como ela não se esconde e se assume a cada momento.
Achei o filme bastante didático, apesar da longa duração, o ritmo é até acelerado e envolvente. A cinematografia ajuda muito a imergir no na história, principalmente nas cenas do julgamento. Atuações muito sólidas, trata-se de um filme que mostra a força do cinema argentino.
O Bandido da Luz Vermelha
3.9 268 Assista AgoraMe impressionou do começo ao fim. Paulo Villaça lembra o jovem Al Pacino de algum modo estranho.
Dente Canino
3.8 1,2KYorgos Lanthimos, como sempre, muito inteligente e provocador. O filme tem muitas possibilidades de análise mas, para mim, dois pontos se destacam: a crítica a como somos invariavelmente moldados pela arbitrariedade do que nossos pais desejam nos ensinar e a desconstrução da linguagem. Esta última traz reflexões mais interessantes, pois o filme mostra como o significado das palavras é tão particular e desconexo da materialidade dos objetos no mundo, que qualquer tentativa de universalização só é possível pela crença e adesão subjetiva - embora de forma coletiva - na qual há uma correspondência entre discurso e objeto.
O Discreto Charme da Burguesia
4.1 284 Assista AgoraO filme é muito vanguardista e autêntico, possui críticas ácidas e cômicas à burguesia, assim como uma abordagem surrealista de sonhos muito interessante. Dito isso, eu não consegui gostar tanto quanto imaginava, tenho dificuldades em me envolver e concentrar em filmes surrealistas devido à natureza fragmentária das narrativas.
Crash: Estranhos Prazeres
3.6 330 Assista AgoraA cinematografia é inebriante e os personagens claramente estão deslocados do mundo, todos parecem solitários, apenas conectados por uma espécie de culto no qual aglutinam de forma dicotômica a destruição de seus corpos com sua capacidade reprodutiva, a cisão entre humanidade e máquina é resolvida por um acontecimento que transforma a materialidade de ambos. As batidas dos carros mimetizam os atos sexuais e, para além disso, unificam em uma forte conexão os sujeitos envolvidos, enchendo-os de vitalidade e energia sexual. O erotismo do filme nunca parece forçado, é sempre autêntico e parece purgar - ainda que provisoriamente - os personagens de suas angústias mais íntimas.
Holy Spider
4.0 126 Assista AgoraMe deixou com sentimentos difusos, ao mesmo tempo em que há um senso de justiça com a execução do assassino, este acabou se tornando o que ele mais almejava desde o início do filme: um mártir.
No final, as pessoas o apoiaram e em nenhum momento sequer utilizaram a palavra assassinato para descrever suas ações, já mostrando que aquelas mulheres eram vistas não como seres humanos, mas lixo a ser descartado. A própria terminologia do filme sugere isso quando o assassino alega estar "limpando" a cidade sagrada.
O mérito de Holy Spider está em explorar questões sociais através de sua relação com extremismo religioso; aqui, assim como o personagem Travis de "Taxi Driver", o assassino se coloca como um soldado de Deus, destinado a purificar toda uma cidade. Nos dois casos, é digno de nota, tratam-se de personagens ex-militares que perderam seu propósito findadas suas guerras e, consequentemente, sentem a necessidade de criar outras em suas cidades.
Não Fale o Mal
3.6 684Interessante. Acredito que o intuito do filme é explorar a incapacidade do casal de dizer "não". A apatia de ambos pode ser vista como uma crítica a certas convenções sociais do tipo "seria rude não aceitar ir" dito por um dos amigos do casal fatídico no início do filme.
Festa de Família
4.2 397 Assista AgoraMeu primeiro filme do Dogma 95. Não esperava algo tão visceral e demorou um tempo para me acostumar com o visual experimental do filme. Vinterberg é excelente, é visível em seus filmes o cuidado em explorar as temáticas propostas com muita sensibilidade; em Festen, o diretor explora o lado mais obscuro da condição humana, expondo tudo a todos em uma festa, sem subterfúgios ou eufemismos, apenas a pura verdade.
Accattone - Desajuste Social
3.9 31Pasolini demonstra o poder do cinema nesta obra-prima de sua cinematografia. Na esteira do neorrealismo italiano, Accattone não se deixa restringir por qualquer traço de moralidade e mostra até que ponto a humanidade pode chegar pela pobreza e cobiça.
O personagem principal não se abstém de usar os outros para próprio ganho, partindo da ideia de que o trabalho é para "acabados", pessoas que vendem seu esforço por um mero soldo. Essa concepção de trabalho é uma crítica que subverte a glorificação deste feita pela burguesia, retomando a concepção de trabalho assalariado da antiguidade: é vulgar, inaceitável e praticamente uma escravidão em que as remunerações são como grilhões. Assim, os personagens contra o trabalho não são figuras marxistas, mas querem uma vida confortável, com luxos e sem labor, algo similar a valoração do ócio em relação ao [neg]ócio feita pelos antigos.
As mulheres do filme acabam sendo exploradas pela miséria econômica, o machismo e a cobiça dos homens. O mesmo destino é reservado às crianças e Pasolini faz questão de mostrá-las aos bandos brincando em meio aos destroços de construções, uma imagem bem explícita da Itália na época do longa.
A Bela da Tarde
4.1 342 Assista AgoraHá uma mistura de surrealismo e realismo bem interessante. O longa traz ideias profundas sobre a relação entre amor e desejo, na medida em que a protagonista ama o marido a seu modo, mas seu desejo sexual é direcionado a outros homens e, de alguma forma, parece retornar à imagem do marido em uma forma obscura de amor. Bunuel é muito autêntico, não tem medo de desafiar os costumes conservadores de sua época, entrega tudo o que a natureza humana tentar ocultar em seus filmes, frequentemente utilizando-se do surrealismo como ferramenta contra as convenções sociais burguesas.
Divino Amor
3.4 241A parte visual e as ideias do roteiro são boas, porém o filme não consegue desenvolver essas ideias de forma convincente. O conflito do casal é finalizado de forma abrupta no último ato, sem muita reflexão sobre as consequências. Acho interessante quadros e cenas prolongadas, mas quando se encaixam na ideia de distância contemplativa, não acho que funcionou muito bem nesse filme.
Intimidade
3.1 27Intimacy é um filme sobre solidão que tenta explorar a tristeza e frustração de seus personagens através do sexo e é bem sucedido justamente nas cenas eróticas, mas falha quando se volta para os diálogos. Para mim, o que segura o filme são as atuações de Kerry Fox e Mark Rylance, além de Timothy Spall com uma atuação muito potente em um personagem difícil.
De Olhos Bem Fechados
3.9 1,5K Assista AgoraKubrick abraça o que Nietzsche chamou de "dionisíaco", referindo-se a verdadeira natureza humana, quando é retirado o véu dos costumes. O dionisíaco é sem limitações, caracterizado pelo puro excesso do prazer. O filme é uma crítica às limitações que nos impomos para viver em sociedade. Nesse sentido, há duas máscaras, uma simbólica usada no cotidiano e outra usada para preservar essa imagem social, ao passo que, paradoxalmente, é vestida para libertar a verdadeira natureza voluptuosa da humanidade como exposto no ritual esotérico.
A Pele que Habito
4.2 5,1K Assista AgoraGostei muito da parte visual do filme, a decoração esotérica da casa de Robert chama muito atenção. As duas Vênus de Ticiano ficaram lindas, especialmente a Vênus de Urbino, que o pintor escolheu limitar ou "domesticar" sua representação dentro de um cômodo.
É interessante pensar nessas pinturas e sua relação com Vera, pois assim como a Vênus de Urbino, Vera está confinada em um quarto e muitas vezes Almodóvar chega a filmar quadros em que ela está na mesma posição da pintura. Além disso, essa Vênus é notoriamente representada com um tom mais erótico, assim é possível pensar que Vera representasse um arquétipo idealístico de mulher em Robert, mas sempre com um viés sexual. As próprias formas de Vênus nas duas pinturas apontam para uma obsessão com a perfeição corporal e, em última instância, para uma relação entre arte e corpo, no mínimo, sinistra.
É possível traçar outro paralelo entre Robert e Vera através do mito de Pigmalião e Galateia em que o primeiro resolve esculpir o ideal de uma mulher perfeita e acaba se apaixonando por sua própria obra. Essas reflexões que o filme traz são interessantes, mas Almodóvar não as explora muito além do visual. O foco na vingança que, abruptamente, transfigura-se em paixão é mal explorado e os acontecimentos chocam mais pelo horror imagético do que pela profundida psicológica.
Édipo Rei
3.8 54Uma abordagem psicanalítica e teatral da tragédia de Sófocles. A fotografia em Marrocos é belíssima, assim como os figurinos idiossincráticos e, provavelmente, anacrônicos. A justaposição de épocas, indo do século XX até a Grécia antiga, revela um tom freudiano - o próprio Pasolini admitiu que as cenas modernas são autobiográficas - e não pude deixar de indagar o quanto esse filme pode ter influenciado Wim Wenders no desenvolvimento de Paris, Texas; haja vista, o perfil do viajante em terras inóspitas, fugindo e, ao mesmo tempo, buscando a si mesmo.
Babilônia
3.6 334 Assista AgoraHiperbólico, envolvente, trágico e nostálgico. Babylon é longo, mas com ritmo ágil escapa do tédio e enfado. Retrato dos excessos hedonistas dos anos 1920s, o longo homenageia a história da sétima arte.
Retrato de uma Jovem em Chamas
4.4 901 Assista AgoraFaz tempo que queria revisitar esse filme e não me arrependo. É perfeito!
O Chef
3.9 31 Assista AgoraIntenso do início ao fim. Os planos sequências são excelentes, conseguem gerar o clima de estresse, ansiedade e imediatismo da cozinha muito bem. As atuações não ficam para trás, o elenco tem uma dinâmica muito boa e tudo ficou bastante orgânico, nada de forçado.
Marte Um
4.1 303 Assista AgoraMarte Um me impactou muito pessoalmente, não só pela qualidade do roteiro, atuação, trilha sonora e cinematografia - que são fantásticos! -, mas pelo fato de eu ser mineiro, natural de BH. Objetos simples me emocionaram, como as canecas esmaltadas que Técia entrega a sua filha, semelhantes - e, talvez o mesmo modelo - a caneca que dei para minha namorada quando ela se mudou. A faixa de aniversário, os panos de mesa, objetos que pareciam saídos da casa da minha vó. Há muito tempo não me identificava tanto com uma obra
Close
4.2 536 Assista AgoraÉ sempre muito doloroso assistir uma história assim, nos colocamos na situação de uma forma muito pessoal, pensamos nas pessoas mais queridas de nossas vidas e como tudo que mais amamos é tão frágil perante ao mundo. Refletir sobre a morte e abordar o luto na arte nos possibilita valorizar mais nossos entes queridos, por isso Close é um filme muito importante.
A câmera na mão foi uma escolha divina, na medida em que nos coloca mais próximos de tudo. Além disso, as atuações são impecáveis, principalmente Eden Dambrine, que provavelmente entrega a melhor atuação infantil do ano.
Joyland
4.0 17Joyland é duro de assistir, não porque é ruim ou maçante, mas porque projeta a realidade sem amenizar o tom para o espectador. O conflito entre indivíduo e grupo aparece em todos os personagens de um forma ou outra, seja no patriarcal Ashfaq que vive sob o temor de qualquer sombra de dúvidas sobre a imagem de sua família, na busca de independência e autenticidade de Mumtaz ou na impotência de Haider de se impor a figura de seu pai e irmão. Nota-se como toda a família está subjugada pela força invisível dos costumes, enquanto Biba, emancipada por si mesma, se atira ao mundo sem restrições, fazendo contraste com Haider e sua inatividade que, em última instância, gera a sensação de apatia, senão covardia.
Midsommar: O Mal Não Espera a Noite
3.6 2,8K Assista AgoraMuitos simbolismos interessantes para explorar em uma revisitação. Apesar da atmosfera inquietante e do horror, o filme mescla isso com uma cinematografia linda, às vezes os quadros são uma explosão bem-vinda de cores.
Na contramão dos cenários tipicamente do terror, o filme se passa sob a claridade do sol, os trajes são claros e o local é de um verde invejável, as flores enchem o filme de cor e textura. Embora pareça contraditório, a beleza cênica do longa reforça a sensação de inquietude e estranhamento.
Pearl
3.9 998Realmente é melhor que 'X', a atuação da Mia Goth é espetacular e a história é muito bem construída. Além de demonstrar a psicopatia de Pearl, o enredo expõe as causas socioeconômicas que deterioraram ainda mais o estado mental da protagonista, e também pode ser visto como um filme crítico da cultura de estrelas.
O Amante de Lady Chatterley
3.4 156 Assista AgoraO erotismo do filme é simplesmente lindo, a fotografia em cenários verdes faz o filme parecer várias pinturas impressionistas. Ficou bem articulado a relação entre o amor e a moralidade elitista da época. A protagonista é muito forte, fiquei admirado em como ela não se esconde e se assume a cada momento.
Argentina, 1985
4.3 335Achei o filme bastante didático, apesar da longa duração, o ritmo é até acelerado e envolvente. A cinematografia ajuda muito a imergir no na história, principalmente nas cenas do julgamento. Atuações muito sólidas, trata-se de um filme que mostra a força do cinema argentino.