Não é de se estranhar que "A Serviço Secreto de Sua Majestade" seja celebrado mais de 50 anos após sua estreia nos cinemas, uma vez que o Bond trágico e sentimental de Daniel Craig só existe em razão do arco narrativo vivenciado pelo Bond de George Lazenby. Conferido hoje, o filme exibe pontos muito fortes. Todas as cenas de espionagem são conduzidas com muita inteligência, sem que o roteiro apele para falas expositivas (aqui se aplica com precisão a regra "mostre, não fale"). Além disso, as cenas de ação passadas nos Alpes são impressionantes até hoje, realizadas em uma época que não havia CGI para polir ou reduzir o risco na execução. A grande problemática é a fidelidade excessiva ao livro, mais especificamente na visão misógina de Ian Fleming em colocar um harém de mulheres à disposição de Bond. O filme parece se esquecer que o mote da narrativa é justamente que 007 se encanta por Tracy (Diana Rigg, maravilhosa) a ponto de preferir pedir resignação do seu ofício como agente do MI6. Outro problema resta evidenciado no protagonista, George Lazenby até se esforça mas não é carismático como Sean Connery ou brutal como Daniel Craig. Oferece uma performance competente, mas nada além disso. Isso não se reduz o impacto final de "A Serviço Secreto de Sua Majestade", que abraçando a tragédia com muita elegância e emoção pavimentou o caminho que daria tão certo posteriormente com o Bond de Daniel Craig
Legal essa mensagem que é legal deixar seus amigos morrerem (afinal, eles usam drogas, tem que morrer mesmo), e quase permitir seu irmão caçula morrer por conta de uma crush do Ensino Médio.
É um prazer poder ver um autor enfim completar sua visão, todo artista deveria ter controle criativo sobre sua obra. Assim, após 4 anos da estreia da versão de cinema dos produtores de Liga da Justiça, o Snydercut deixa evidentes certos aspectos:
1o) Sua visão era muito mais completa, tudo tem motivo e dimensão;
2o) Muitos problemas estruturais da versão de cinema ainda se mantém.
Assim, é ótimo poder assistir ao filme, mas triste constatar que não é uma versão completamente nova. É uma versão estendida que leva aos mesmos rumos da versão de cinema.
Para um fã do Snyder mais descontrolado e ousado (como visto em BvS), não consigo deixar de ficar desapontado.
Mesmo assim, é uma vitória digna de aplausos para Snyder. Que expôs sua visão, pôde encerrar uma jornada que foi interrompida pela sua tragédia pessoal e ainda dedicar a obra a sua falecida filha.
Tudo sintetizado na dedicatória que encerra o filme "For Autumn".
Uma constatação inofensiva: 31 minutos se passam até Drácula aparecer. E apenas faltando 27 minutos para o fim, Christopher Lee profere sua primeira fala como o personagem título. Essa é a síntese dos problemas de Os Ritos Satânicos de Drácula, uma produção que não aproveita bem os dois pilares da franquia: Drácula (Christopher Lee) e Van Helsing (Peter Cushing). É visível que quando o filme se concentra nos dois, independentemente da abobrinha que eles estão falando (no caso, o plano de Drácula é lançar um vírus e matar toda a população mundial) o resultado é divertido. É legal assistir esses arquiinimigos se enfrentando. O problema é que para menos de meia hora desse confronto, se tem uma hora de uma trama com personagens absolutamente desinteressantes. E pior: apostando em uma temática de espionagem. Chegam a ser risíveis as sequências de tiroteio do filme, afinal de contas, por que o espectador temeria ser baleado se tem UM VAMPIRO querendo beber o sangue da população? É um dos piores da franquia, porém não era tão ruim quanto lembrava justamente por ser sempre sensacional ver os duelos de atuação entre Lee e Cushing. Uma pena apenas que tenha sido o último dos dois enfrentando os personagens lendários, e que tenha terminado como um filme tão bobo. Certamente mereciam mais
Revisto recentemente o filme impacta de uma maneira diferente. Alguns problemas de Rob Zombie continuam visíveis, como a maneira dele abordar Michael Myers. Não que não seja intimidadora, mas perde força quando entendemos que existe uma motivação (sobrenatural ou não). Quando mais explicado o monstro, mais mundano ele fica. Assim, deixamos de temer tanto sua presença. Zombie até tenta compensar isso com cenas de violência extrema, mas jamais tememos Myers como no filme de John Carpenter. Entretanto, tem um aspecto desse filme que é sensacional. A abordagem do trauma que Laurie Strodes tem em ser sobrevivente de um massacre, e ao mesmo tempo descobrir ser irmã de Myers, é impecável. E o final até rende uma interpretação interessante, sobre a verdadeira natureza dos eventos.
Já que podemos até interpretar que foi Laurie quem matou todas as pessoas no segundo filme. Michael seria apenas uma entidade em sua cabeça após o trauma dos eventos do filme anterior, ela utiliza as mortes como válvula de escape, e ao final do filme ela se assume como a assassina (portando a máscara de Myers)
Essa variante é coerente com o Halloween original de 1978? Não. Mas não deixa de ter contornos interessantes. E ao menos, não temos as cenas dos rednecks insuportáveis do filme anterior de Rob Zombie.
Revendo o filme pude obter uma impressão menos negativa que na primeira vez que conferi. Fica claro que Rob Zombie queria fazer mais um filme seu, do que um derivado ridículo tal qual as sequências do Halloween original. No entanto, o seu estilo de encarar a história acaba prejudicando o impacto que Michael Myers tem no espectador. Especificamente no quesito de assustar. Pois aqui, o que Zombie propõe é uma espécie de visão realista de Michael Myers, mostrando os gatilhos que criam um psicopata. Assim é mostrada uma família disfuncional, bullying intenso, falta de assistência social, entre outros fatores. Inclusive, mostrando as fases do psicopata até atingir o auge da sua loucura. Mas é muito mais assustador o Michael Myers que passa a agir como conhecemos sem estímulo algum (é muito mais assustador Michael matar sua irmã friamente, do que como resposta a bullying praticado por ela). Pois a 1a metade do filme de Zombie tem total objetivo de mostrar Michael como um ser humano caindo para o lado negro, inclusive sentindo empatia por poucos seres humanos. Felizmente, a segunda metade parece tentar abraçar o estabelecido por Carpenter no filme original. Então, vemos a sequência de acontecimentos em torno de Laurie Strodes com doses de violência mais extrema do que no original. E de fato, quando Michael passa a botar sua máscara, o fã de Halloween se sente em casa. Uma pena que a primeira metade (que mais parece oriunda de "O Massacre da Serra Elétrica", pelos caipiras rednecks imbecis que compõe a família de Michael) seja tão prejudicial. Gastando tempo com gatilhos óbvios (o estupro na cela de Michael, a família abusiva, o bullying na escola), personagens coadjuvantes aleatórios (o motorista de caminhão é tosquíssimo).
Quando vilões que estão sendo controlados mentalmente são árabes, pode matar tranquilamente. Mas quando são norte-americanos brancos, Diana faz questão de avisar ao parceiro "Não mate, não é culpa deles". Ótima mensagem mesmo
Enquanto cinema espetáculo, não há o que se criticar em "Tenet". Os valores de produção são absurdos, efeitos especiais e direção das cenas de ação impressionantes. Sempre foi clara a ambição de Christopher Nolan como autor. Porém, para se ter ambição e enxergar mais além, primeiro é preciso olhar para o que está perto. E isso infelizmente não ocorre em "Tenet". Que possui um roteiro absolutamente irregular, cheio de frases clichês
diálogos que são escancaradamente falas de um roteiro (problema esse também presente no último Cavaleiro das Trevas), conceitos que só tem impacto quando convém (percebam por exemplo, a utilização seletiva das máscaras nos momentos de inversão). O mais triste em "Tenet" é perceber como que quase todos os personagens são absolutamente sem personalidade. Todos possuem meras funções narrativas, o único que sai um pouco dessa seara é o personagem de Robert Pattinson. Todos os outros sofrem do mal de uma hora serem phds em física quântica, e segundos depois tornarem-se completos imbecis. Esses problemas todos são ainda mais evidentes quando comparados ao outro sci-fi ambicioso de Nolan, "A Origem". Um filme cujos personagens eram críveis, o roteiro era polido, não haviam frases de efeito e onde regras daquele mundo eram observadas com rigor. Nada disso pode ser dito de "Tenet", um bom blockbuster que desaponta ante a competência observada anteriormente por Nolan e os envolvidos na produção.
É uma sequência visivelmente empolgada em expandir o universo mostrado no 1o filme, assim até mesmo os coadjuvantes Cenobitas recebem sua dose de profundidade e background. O problema é que os envolvidos não perceberam que os monstros apresentados no 1o filme assustam por nossa incompreensão deles. Frases como "Você não perde por esperar pelos deleites que te apresentaremos" tem poder por permitir que a imaginação do espectador preencha a lacuna. Não é o caso dessa sequência, onde tudo é explica e ressaltado nas minúcias. Se antes a dimensão dos cenobitas era uma zona neutra, agora ganha contornos literalmente infernais. Os Cenobitas não podem ser criaturas angelicais pervertidas, mas sim seres humanos que caíram na tentação do Cubo das Lamentações. Assim, o impacto é muito menos sentido pelo espectador. Resta ao filme mergulhar de cabeça no gore, nas nojeiras, nos insetos e nos cadáveres. E nesse sentido, não há do que reclamar do filme. O problema é que a produção esqueceu de desenvolver o roteiro. Assim, temos inúmeras situações absolutamente ridículas tamanha a falta de coerência do roteiro. Como por exemplo, o personagem que vai a determinado lugar para enfrentar uma vilã, chegando lá esquece que está nessa missão e é ludibriado e morto por ela. Outro momento sensacional resta na personagem que corre feliz para o inferno por livre e espontânea vontade, mas que depois afirma que precisa sair de lá como se não tivesse entrado com ânimo impressionante. Não nego, a continuação de "Hellraiser" é épica e ambiciosa em sua nojeira e design de produção. O problema é que o mesmo não pode ser dito de seu roteiro. Que consegue enfraquecer até mesmo um dos monstros mais sinistros da história do cinema, o infelizmente subaproveitado aqui Pinhead (Doug Bradley).
Impressionante como "Novos Mutantes" é muito mais um produto da novela da Record do que dos X-Men. Colcha de retalhos causada por inúmeras refilmagens, feito no meio da venda da Fox pra Disney. Um filme que não tem trama, personagens. Cheio de boa intenção, como o inferno
Esse remake se sobressai por manter a estranheza do filme original, com inúmeras cenas que fazem os espectadores se perguntarem "É um filme pra crianças mesmo??". Curioso que as pessoas estejam criticando e malhando tanto o filme, já que é muito fiel ao livro de Roald Dahl. A impressão que fica é que os espectadores se esquecem que é uma trama feita especialmente para crianças. Já que antigamente filmes infantis não eram pasteurizados e sem alma como hoje. Ver um produto assumidamente bizarro e com coragem em ousar sempre é bacana. Anne Hathaway é uma boa vilã. Mas ela não tem a perversidade e o sorriso malicioso de Anjelica Huston como a High Witch em 1990. Ela certamente está se divertindo, não tem problema nenhum em se expor com caras e bocas, portando um sotaque hilário. Mas parece que falta a simbiose maligna de Anjelica. Outro pequeno problema resta em certas passagens do roteiro, que por vezes explica literalmente o que acabou de acontecer e que nós espectadores presenciamos e vimos. Porém nenhum desses problemas empalidece o novo "A Convenção das Bruxas". Um filme divertidíssimo que mantém a estranheza e doçura do seu original.
Inicialmente, “A Maldição da Mansão Bly” pode parecer um produto do horror clássico. Afinal, inspirada pelo livro de Henry James, “A Volta do Parafuso” (que por sua vez foi adaptado para o cinema, no clássico absoluto do terror “Os Inocentes), a série bebe do horror gótico. No entanto, a série comandada por Mike Flanagan tem ambições mais psicológicas. O espectador que aguarda uma série cheia de sustos (como foi o caso da temporada anterior, “A Maldição da Residência Hill”), pode se decepcionar. Por mais que a história esteja recheada de fantasmas, estes não estão presentes para darem sustos. E sim para relembrar e confrontar os personagens de seus receios, arrependimentos, traumas e rancores. Portanto, é importante ressaltar ao espectador que enquanto a temporada anterior era mais próxima de “Invocação do Mal”, a nova temporada da série de sucesso da Netflix é equiparável a “Colina Escarlate”. Outra obra cujos espectros apresentados eram reflexos de traumas não superados dos protagonistas, pois tanto Flanagan quanto Guillermo del Toro sabem que é muito mais difícil superar uma sequela do passado do que enfrentar um monstro sobrenatural. A série se passa nos anos 80, mostrando uma jovem babá (Victoria Pedretti) que é contratada por um advogado (Henry Thomas) para cuidar de seus dois sobrinhos em uma mansão. Assim, a babá também será apresentada a uma governanta (T’Nia Miller), um cozinheiro (Rahul Kohli) e uma jardineira (Amelie Eve). Chegando lá, a jovem terá que fugir de seus demônios do passado e enfrentar as próprias mágoas e medos da mansão e de seus habitantes, já que as duas crianças apresentam comportamento estranho. Assim como em “A Maldição da Residência Hill”, o elenco da série é impecável (inclusive, repetindo muitos dos intérpretes da temporada anterior). A história consegue aprofundar e mostrar cada personagem de maneira tridimensional, assim sendo sabemos as motivações de cada um. Já é marca característica de Mike Flanagan em apresentar personagens que parecem ser reais, basta ver o exemplo dado em seu último filme “Doutor Sono”. Outra obra que mostrava que é muito mais assustador enfrentar um trauma do passado, do que uma entidade sobrenatural. Os 9 episódios da série são muito competentes, com exceção do 7º. Sem entrar em detalhes específicos, mas a decisão de mostrar a história de determinados personagens retirou muito do impacto a ser dimensionado nos episódios restantes. Portanto, é uma temporada mais irregular e menos redonda que a anterior. Isso não reduz o brilho de “A Maldição da Mansão Bly”. Uma série que respeita o espectador, apresenta personagens adultos e maduros. E que entende que o horror deve ser objeto de discussão, questionamento e reflexão. Por levantar tantos temas fascinantes (culpa, ressentimento, abuso, trauma, amor), a série deve ser vista. Pois jamais apresenta um fantasma gratuito ao espectador, e sim o desafia a confrontar os seus próprios fantasmas do passado. Nada mais assustador que isso. Observação: sempre fiquem atentos ao que está em volta nas cenas na mansão, assim como em “A Maldição da Residência Hill” inúmeros fantasmas estão escondidos nas cenas passadas no local título.
Assistindo "The Boy Who Cried Werewolf" foi impossível não pensar na possibilidade de remake. Isso porque apesar dos efeitos especiais parcos, a história do filme é irresistivelmente atraente pra qualquer fã de terror. Temos um casal separado que ainda não sabe como lidar com o divórcio, tendo mais uma preocupação com o impacto disso na vida de seu filho. Esse é o mote principal que a metáfora do Lobisomem abarca, pois o filme apresenta que em determinado momento desse processo de separação, o pai se torna uma figura monstruosa para o filho. Com um final que demonstra que as atitudes tomadas podem gerar sequelas no próprio filho. É muito interessante ver como que o filme se torna um drama sem os elementos licantropos. Infelizmente, a história principal da família é obscurecida pelos múltiplos problemas da produção. Como por exemplo, o desnecessário enredo da comunidade hippie cristã (que se torna ainda mais absurdo quando nos damos conta que o intérprete do líder é também o roteirista do filme). Mas o principal elemento que desanima o espectador é constatar que todas as cenas do Lobisomem foram filmadas DE DIA. A produção tentou filmar as cenas noturnas de dia, botando apenas sombras de árvores para escurecer. Mas é pífia a tentativa, já que vemos claramente que se trata de um ator fantasiado correndo de dia pela floresta. Ainda assim, o filme vale a pena ser visto. Pois existe uma ousadia visível na trama de um filho temer que seu pai virá matá-lo no meio da noite. Elemento este que posteriormente Stephen King e Stanley Kubrick utilizariam em "O Iluminado". A quebra da figura paterna, o ato de você ter que "matar o pai" para crescer. Por apresentar esses elementos "The Boy Who Cried Werewolf" merece ser conferido. Uma pena que os envolvidos não tenham filmado em preto e branco, pois assim ao menos a ilusão de "day for night" seria eficaz.
Charlie Kaufman despontou como roteirista em “Quero Ser John Malkovich” (1998), desde então tornou-se referência em roteiros criativos e pouco usuais. Sempre investindo em personagens complexos, metáforas visuais, surrealismo. De sua cabeça que saíram obras elogiadas pela crítica como “Adaptação”, “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças” (que lhe rendeu o Oscar de Melhor Roteiro Original), “Confissões de Uma Mente Perigosa”). Em 2008, despontou seu primeiro projeto como diretor. No ambicioso “Sinédoque, Nova York”. Que estrelado pelo falecido ator Phillip Seymour Hoffman, já demonstrou que o autor passaria a roteirizar obras ainda mais complexas do que quando estava apenas no cargo de roteirista. Em 2015, dirigiu a animação em stop-motion “Anomalisa”. Com isso, foram cinco anos até seu mais recente trabalho. O filme original Netflix, “Eu Estou Pensando em Acabar com Tudo”. É seu primeiro filme que não é baseado em um roteiro original, e sim em um livro escrito por Ian Reid. Contando com uma trama aparentemente simples, na qual uma jovem (Jessia Buckey) acompanha seu namorado (Jesse Plemons) em uma visita para conhecer seus sogros (Toni Collette e David Thewlis). Muitos temas presentes na filmografia de Kaufman surgem novamente em seu mais recente trabalho. É até curiosa a escalação de Jesse Plemons, já que o ator muito se assemelha com o falecido Phillip Seymour Hoffman (chegando a interpretar seu filho na obra de Paul Thomas Anderson, “O Mestre”). Infelizmente, diferente dos demais trabalhos do diretor/roteirista, “Eu Estou Pensando em Acabar com Tudo” é um filme muito irregular. O roteiro não oferece uma narrativa tão fascinante a ponto do espectador não sentir as duas horas e dez de projeção, os personagens não são interessantes a ponto de querermos acompanhar suas trajetórias. E o maior problema presente na narrativa é a previsibilidade na metáfora utilizada. Porém, a impressão que fica é que Kaufman se acha genial na proposta apresentada ao espectador. O que é curioso, já que em todos os seus projetos anteriores as metáforas e temáticas são muito mais ricas. É estranho que um autor tão ambicioso pareça ter se impressionado com uma trama tão previsível em mensagem e tema. Fora o artifício final do filme, que sem entrar em spoilers é quase ofensivo. Ao final, “Eu Estou Pensando em Acabar com Tudo” é uma obra decepcionante. É extremamente longo, a metáfora é tosca, os personagens não são tão interessantes, os temas oferecidos não são fascinantes. É uma experiência cinematográfica absolutamente banal. Algo jamais esperado de um autor como Charlie Kaufman.
Em um ano tão desgraçado, ver um filme tão otimista e bem humorado é um verdadeiro bálsamo. Uma besteira maravilhosamente divertida. "Be excellent to each other and party on, dudes!"
Longe de mim desmerecer o talento de Fulci. Sua filmografia é invejável. Mas confesso que não fiquei tão impressionado com o impacto de "O Segredo do Bosque dos Sonhos". Filme muito reverenciado e com uma seleção de temas impressionantes. É inegável a coragem do roteiro: pedofilia, violência contra crianças, a natureza sinistra sobre a instituição católica, magia negra, o preconceito em uma pequena comunidade. No entanto, faltou uma revisão ao roteiro no concernente a coesão entre as cenas. Não raras são as situações em que um personagem emite uma opinião forte sobre o assunto, apenas para sete segundos depois mudar de opinião sobre o mesmo tema quase como se tivesse dupla personalidade. Ou então, personagens que jamais dizem a que veio (como é o caso do delegado da cidadezinha). No entanto, o filme merece ser visto pela coragem e pela magnífica cena de um linchamento. Se o filme tivesse a sutileza e requinte dessa cena, seria uma obra-prima.
Mais de trinta anos depois, "Cemitério Maldito" de Mary Lambert ainda é uma das melhores adaptações de um livro de Stephen King. É incrível como que o filme faz questão de permear subliminarmente aspectos sutis do livro. Como é o caso da presença espiritual da criatura Wendigo, que não é diretamente referenciada e nomeada pelos personagens. Mas presente em inúmeras cenas, como o espectador que leu o livro de King irá perceber. O caso mais evidente, na cena em que Jud leva Louis pela 1a vez ao cemitério. Onde o próprio Jud demonstra por um olhar do perigo de estar se aproximando da criatura. Pedindo inclusive para seu amigo parar a caminhada, esperando que o monstro passe sem avistá-lo. Claro, o filme não é perfeito. Alguns efeitos especiais se tornaram bastante datados. Porém mesmo o melodrama que me incomodou na primeira vez que assisti, não gerou efeito negativo nessa nova conferida. Creio que serve justamente para que sintamos a dor presente na perde vivida pelos personagens (justamente por não ter o mesmo impacto de uma leitura de 700 páginas). Dentro de suas limitações orçamentárias e pela época em que foi feito, "Cemitério Maldito" de Mary Lambert é um grande filme. Coisa que o remake moderno de 2019 jamais poderá dizer de si.
O novo longa de David Ayer trata sobre amor, honra, lealdade, família. Não estou interpretando, literalmente a 1a cena do filme mostra essas palavras em destaque rosa estilizado como uma tatuagem tribal de 2002. Essa falta de sutileza marca cada um dos dolorosos 95 minutos de projeção, uma bagunça previsível que pensar estar tratando sobre temas profundos. O mais curioso é pensar que Shia Labeouf não só aceitou fazer o filme, como quis tatuar seu torso para um papel que jamais diz a que veio. O personagem parece ser bruto, um sociopata funcional e com muita raiva interna. Mas o filme jamais exibe qualquer nuance do mesmo. Preferindo gastar tempo com a história mais clichê de gangster que JAMAIS IMAGINOU que violência poderia afetar sua família. E falando na temática, poderia ocorrer um acordo mundial entre roteiristas para acabarem com o clichê tonto do bandido que mata, rouba, mas EI EI EI: NÃO VAMOS MATAR NINGUÉM COM FAMÍLIA, HEIN? Não nego, "The Tax Collector" é um filme absolutamente ultrapassado. Uma produção que deveria ter sua estréia imediata no canal Space, ou então na Temperatura Máxima. Um filme que faz "Esquadrão Suicida" parecer interessante.
Até a metade de projeção, o filme genuinamente assusta e intimida. Utilizando de atmosfera e suspense bem construídos (as ligações feitas para Heather são assustadoras). Porém quando a protagonista e seu filho adentram o hospital, o filme recebe todos os clichês e galhofas presentes nos pontos baixos da franquia. Nem o Freddy Krueger parece mais o mesmo do começo da produção. Ainda assim, é um dos mais interessantes da franquia, pela sua pegada metalinguística e no novo Freddy. Além de ser uma boa despedida ao personagem.
007: A Serviço Secreto de Sua Majestade
3.4 221 Assista AgoraNão é de se estranhar que "A Serviço Secreto de Sua Majestade" seja celebrado mais de 50 anos após sua estreia nos cinemas, uma vez que o Bond trágico e sentimental de Daniel Craig só existe em razão do arco narrativo vivenciado pelo Bond de George Lazenby.
Conferido hoje, o filme exibe pontos muito fortes. Todas as cenas de espionagem são conduzidas com muita inteligência, sem que o roteiro apele para falas expositivas (aqui se aplica com precisão a regra "mostre, não fale"). Além disso, as cenas de ação passadas nos Alpes são impressionantes até hoje, realizadas em uma época que não havia CGI para polir ou reduzir o risco na execução.
A grande problemática é a fidelidade excessiva ao livro, mais especificamente na visão misógina de Ian Fleming em colocar um harém de mulheres à disposição de Bond. O filme parece se esquecer que o mote da narrativa é justamente que 007 se encanta por Tracy (Diana Rigg, maravilhosa) a ponto de preferir pedir resignação do seu ofício como agente do MI6.
Outro problema resta evidenciado no protagonista, George Lazenby até se esforça mas não é carismático como Sean Connery ou brutal como Daniel Craig. Oferece uma performance competente, mas nada além disso.
Isso não se reduz o impacto final de "A Serviço Secreto de Sua Majestade", que abraçando a tragédia com muita elegância e emoção pavimentou o caminho que daria tão certo posteriormente com o Bond de Daniel Craig
007: Sem Tempo para Morrer
3.6 566 Assista AgoraFilmes anteriores de 007: Bond salva o mundo.
Sem tempo para morrer: Bond salva o seu próprio mundo.
Rua do Medo: 1978 - Parte 2
3.5 549 Assista AgoraBasta ser babaca e bully pra sobreviver. Agora, se você for minimamente legal, será assassinado brutalmente.
Um Lobo entre Nós
2.7 79 Assista AgoraUma comédia de horror aos moldes da filmografia de Edgar Wright.
Rua do Medo: 1994 - Parte 1
3.1 773 Assista AgoraLegal essa mensagem que é legal deixar seus amigos morrerem (afinal, eles usam drogas, tem que morrer mesmo), e quase permitir seu irmão caçula morrer por conta de uma crush do Ensino Médio.
Liga da Justiça de Zack Snyder
4.0 1,3KÉ um prazer poder ver um autor enfim completar sua visão, todo artista deveria ter controle criativo sobre sua obra. Assim, após 4 anos da estreia da versão de cinema dos produtores de Liga da Justiça, o Snydercut deixa evidentes certos aspectos:
1o) Sua visão era muito mais completa, tudo tem motivo e dimensão;
2o) Muitos problemas estruturais da versão de cinema ainda se mantém.
Assim, é ótimo poder assistir ao filme, mas triste constatar que não é uma versão completamente nova. É uma versão estendida que leva aos mesmos rumos da versão de cinema.
Para um fã do Snyder mais descontrolado e ousado (como visto em BvS), não consigo deixar de ficar desapontado.
Mesmo assim, é uma vitória digna de aplausos para Snyder. Que expôs sua visão, pôde encerrar uma jornada que foi interrompida pela sua tragédia pessoal e ainda dedicar a obra a sua falecida filha.
Tudo sintetizado na dedicatória que encerra o filme "For Autumn".
Drácula
3.0 10Terrível.
Como que se escolhe um intérprete para Drácula que não consegue intimidar ou seduzir?
Um Príncipe em Nova York 2
2.8 460 Assista AgoraUm comercial nostálgico do superbowl com duas horas de duração. Sem tirar nem pôr.
Os Ritos Satânicos de Drácula
3.3 44 Assista AgoraUma constatação inofensiva: 31 minutos se passam até Drácula aparecer. E apenas faltando 27 minutos para o fim, Christopher Lee profere sua primeira fala como o personagem título.
Essa é a síntese dos problemas de Os Ritos Satânicos de Drácula, uma produção que não aproveita bem os dois pilares da franquia: Drácula (Christopher Lee) e Van Helsing (Peter Cushing). É visível que quando o filme se concentra nos dois, independentemente da abobrinha que eles estão falando (no caso, o plano de Drácula é lançar um vírus e matar toda a população mundial) o resultado é divertido. É legal assistir esses arquiinimigos se enfrentando.
O problema é que para menos de meia hora desse confronto, se tem uma hora de uma trama com personagens absolutamente desinteressantes. E pior: apostando em uma temática de espionagem. Chegam a ser risíveis as sequências de tiroteio do filme, afinal de contas, por que o espectador temeria ser baleado se tem UM VAMPIRO querendo beber o sangue da população?
É um dos piores da franquia, porém não era tão ruim quanto lembrava justamente por ser sempre sensacional ver os duelos de atuação entre Lee e Cushing. Uma pena apenas que tenha sido o último dos dois enfrentando os personagens lendários, e que tenha terminado como um filme tão bobo. Certamente mereciam mais
Halloween 2
2.6 680 Assista AgoraRevisto recentemente o filme impacta de uma maneira diferente. Alguns problemas de Rob Zombie continuam visíveis, como a maneira dele abordar Michael Myers. Não que não seja intimidadora, mas perde força quando entendemos que existe uma motivação (sobrenatural ou não). Quando mais explicado o monstro, mais mundano ele fica. Assim, deixamos de temer tanto sua presença. Zombie até tenta compensar isso com cenas de violência extrema, mas jamais tememos Myers como no filme de John Carpenter.
Entretanto, tem um aspecto desse filme que é sensacional. A abordagem do trauma que Laurie Strodes tem em ser sobrevivente de um massacre, e ao mesmo tempo descobrir ser irmã de Myers, é impecável.
E o final até rende uma interpretação interessante, sobre a verdadeira natureza dos eventos.
Já que podemos até interpretar que foi Laurie quem matou todas as pessoas no segundo filme. Michael seria apenas uma entidade em sua cabeça após o trauma dos eventos do filme anterior, ela utiliza as mortes como válvula de escape, e ao final do filme ela se assume como a assassina (portando a máscara de Myers)
Essa variante é coerente com o Halloween original de 1978? Não. Mas não deixa de ter contornos interessantes. E ao menos, não temos as cenas dos rednecks insuportáveis do filme anterior de Rob Zombie.
Halloween: O Início
3.2 861 Assista AgoraRevendo o filme pude obter uma impressão menos negativa que na primeira vez que conferi. Fica claro que Rob Zombie queria fazer mais um filme seu, do que um derivado ridículo tal qual as sequências do Halloween original. No entanto, o seu estilo de encarar a história acaba prejudicando o impacto que Michael Myers tem no espectador. Especificamente no quesito de assustar. Pois aqui, o que Zombie propõe é uma espécie de visão realista de Michael Myers, mostrando os gatilhos que criam um psicopata.
Assim é mostrada uma família disfuncional, bullying intenso, falta de assistência social, entre outros fatores. Inclusive, mostrando as fases do psicopata até atingir o auge da sua loucura. Mas é muito mais assustador o Michael Myers que passa a agir como conhecemos sem estímulo algum (é muito mais assustador Michael matar sua irmã friamente, do que como resposta a bullying praticado por ela). Pois a 1a metade do filme de Zombie tem total objetivo de mostrar Michael como um ser humano caindo para o lado negro, inclusive sentindo empatia por poucos seres humanos.
Felizmente, a segunda metade parece tentar abraçar o estabelecido por Carpenter no filme original. Então, vemos a sequência de acontecimentos em torno de Laurie Strodes com doses de violência mais extrema do que no original. E de fato, quando Michael passa a botar sua máscara, o fã de Halloween se sente em casa. Uma pena que a primeira metade (que mais parece oriunda de "O Massacre da Serra Elétrica", pelos caipiras rednecks imbecis que compõe a família de Michael) seja tão prejudicial. Gastando tempo com gatilhos óbvios (o estupro na cela de Michael, a família abusiva, o bullying na escola), personagens coadjuvantes aleatórios (o motorista de caminhão é tosquíssimo).
Mulher-Maravilha 1984
3.0 1,4K Assista AgoraQuando vilões que estão sendo controlados mentalmente são árabes, pode matar tranquilamente. Mas quando são norte-americanos brancos, Diana faz questão de avisar ao parceiro "Não mate, não é culpa deles". Ótima mensagem mesmo
Tenet
3.4 1,3K Assista AgoraEnquanto cinema espetáculo, não há o que se criticar em "Tenet". Os valores de produção são absurdos, efeitos especiais e direção das cenas de ação impressionantes. Sempre foi clara a ambição de Christopher Nolan como autor. Porém, para se ter ambição e enxergar mais além, primeiro é preciso olhar para o que está perto. E isso infelizmente não ocorre em "Tenet". Que possui um roteiro absolutamente irregular, cheio de frases clichês
("SE EU NÃO POSSO TE TER, NINGUÉM MAIS PODE!"),
O mais triste em "Tenet" é perceber como que quase todos os personagens são absolutamente sem personalidade. Todos possuem meras funções narrativas, o único que sai um pouco dessa seara é o personagem de Robert Pattinson. Todos os outros sofrem do mal de uma hora serem phds em física quântica, e segundos depois tornarem-se completos imbecis. Esses problemas todos são ainda mais evidentes quando comparados ao outro sci-fi ambicioso de Nolan, "A Origem". Um filme cujos personagens eram críveis, o roteiro era polido, não haviam frases de efeito e onde regras daquele mundo eram observadas com rigor. Nada disso pode ser dito de "Tenet", um bom blockbuster que desaponta ante a competência observada anteriormente por Nolan e os envolvidos na produção.
Hellraiser II: Renascido das Trevas
3.4 304 Assista AgoraÉ uma sequência visivelmente empolgada em expandir o universo mostrado no 1o filme, assim até mesmo os coadjuvantes Cenobitas recebem sua dose de profundidade e background. O problema é que os envolvidos não perceberam que os monstros apresentados no 1o filme assustam por nossa incompreensão deles. Frases como "Você não perde por esperar pelos deleites que te apresentaremos" tem poder por permitir que a imaginação do espectador preencha a lacuna. Não é o caso dessa sequência, onde tudo é explica e ressaltado nas minúcias. Se antes a dimensão dos cenobitas era uma zona neutra, agora ganha contornos literalmente infernais. Os Cenobitas não podem ser criaturas angelicais pervertidas, mas sim seres humanos que caíram na tentação do Cubo das Lamentações. Assim, o impacto é muito menos sentido pelo espectador. Resta ao filme mergulhar de cabeça no gore, nas nojeiras, nos insetos e nos cadáveres. E nesse sentido, não há do que reclamar do filme. O problema é que a produção esqueceu de desenvolver o roteiro. Assim, temos inúmeras situações absolutamente ridículas tamanha a falta de coerência do roteiro. Como por exemplo, o personagem que vai a determinado lugar para enfrentar uma vilã, chegando lá esquece que está nessa missão e é ludibriado e morto por ela. Outro momento sensacional resta na personagem que corre feliz para o inferno por livre e espontânea vontade, mas que depois afirma que precisa sair de lá como se não tivesse entrado com ânimo impressionante. Não nego, a continuação de "Hellraiser" é épica e ambiciosa em sua nojeira e design de produção. O problema é que o mesmo não pode ser dito de seu roteiro. Que consegue enfraquecer até mesmo um dos monstros mais sinistros da história do cinema, o infelizmente subaproveitado aqui Pinhead (Doug Bradley).
Os Novos Mutantes
2.6 719 Assista AgoraImpressionante como "Novos Mutantes" é muito mais um produto da novela da Record do que dos X-Men. Colcha de retalhos causada por inúmeras refilmagens, feito no meio da venda da Fox pra Disney. Um filme que não tem trama, personagens. Cheio de boa intenção, como o inferno
Convenção das Bruxas
2.7 436 Assista AgoraEsse remake se sobressai por manter a estranheza do filme original, com inúmeras cenas que fazem os espectadores se perguntarem "É um filme pra crianças mesmo??".
Curioso que as pessoas estejam criticando e malhando tanto o filme, já que é muito fiel ao livro de Roald Dahl. A impressão que fica é que os espectadores se esquecem que é uma trama feita especialmente para crianças. Já que antigamente filmes infantis não eram pasteurizados e sem alma como hoje. Ver um produto assumidamente bizarro e com coragem em ousar sempre é bacana.
Anne Hathaway é uma boa vilã. Mas ela não tem a perversidade e o sorriso malicioso de Anjelica Huston como a High Witch em 1990. Ela certamente está se divertindo, não tem problema nenhum em se expor com caras e bocas, portando um sotaque hilário. Mas parece que falta a simbiose maligna de Anjelica.
Outro pequeno problema resta em certas passagens do roteiro, que por vezes explica literalmente o que acabou de acontecer e que nós espectadores presenciamos e vimos.
Porém nenhum desses problemas empalidece o novo "A Convenção das Bruxas". Um filme divertidíssimo que mantém a estranheza e doçura do seu original.
A Maldição da Mansão Bly
3.9 924 Assista AgoraInicialmente, “A Maldição da Mansão Bly” pode parecer um produto do horror clássico. Afinal, inspirada pelo livro de Henry James, “A Volta do Parafuso” (que por sua vez foi adaptado para o cinema, no clássico absoluto do terror “Os Inocentes), a série bebe do horror gótico. No entanto, a série comandada por Mike Flanagan tem ambições mais psicológicas.
O espectador que aguarda uma série cheia de sustos (como foi o caso da temporada anterior, “A Maldição da Residência Hill”), pode se decepcionar. Por mais que a história esteja recheada de fantasmas, estes não estão presentes para darem sustos. E sim para relembrar e confrontar os personagens de seus receios, arrependimentos, traumas e rancores.
Portanto, é importante ressaltar ao espectador que enquanto a temporada anterior era mais próxima de “Invocação do Mal”, a nova temporada da série de sucesso da Netflix é equiparável a “Colina Escarlate”. Outra obra cujos espectros apresentados eram reflexos de traumas não superados dos protagonistas, pois tanto Flanagan quanto Guillermo del Toro sabem que é muito mais difícil superar uma sequela do passado do que enfrentar um monstro sobrenatural.
A série se passa nos anos 80, mostrando uma jovem babá (Victoria Pedretti) que é contratada por um advogado (Henry Thomas) para cuidar de seus dois sobrinhos em uma mansão. Assim, a babá também será apresentada a uma governanta (T’Nia Miller), um cozinheiro (Rahul Kohli) e uma jardineira (Amelie Eve). Chegando lá, a jovem terá que fugir de seus demônios do passado e enfrentar as próprias mágoas e medos da mansão e de seus habitantes, já que as duas crianças apresentam comportamento estranho.
Assim como em “A Maldição da Residência Hill”, o elenco da série é impecável (inclusive, repetindo muitos dos intérpretes da temporada anterior). A história consegue aprofundar e mostrar cada personagem de maneira tridimensional, assim sendo sabemos as motivações de cada um. Já é marca característica de Mike Flanagan em apresentar personagens que parecem ser reais, basta ver o exemplo dado em seu último filme “Doutor Sono”. Outra obra que mostrava que é muito mais assustador enfrentar um trauma do passado, do que uma entidade sobrenatural.
Os 9 episódios da série são muito competentes, com exceção do 7º. Sem entrar em detalhes específicos, mas a decisão de mostrar a história de determinados personagens retirou muito do impacto a ser dimensionado nos episódios restantes. Portanto, é uma temporada mais irregular e menos redonda que a anterior. Isso não reduz o brilho de “A Maldição da Mansão Bly”. Uma série que respeita o espectador, apresenta personagens adultos e maduros. E que entende que o horror deve ser objeto de discussão, questionamento e reflexão. Por levantar tantos temas fascinantes (culpa, ressentimento, abuso, trauma, amor), a série deve ser vista. Pois jamais apresenta um fantasma gratuito ao espectador, e sim o desafia a confrontar os seus próprios fantasmas do passado.
Nada mais assustador que isso.
Observação: sempre fiquem atentos ao que está em volta nas cenas na mansão, assim como em “A Maldição da Residência Hill” inúmeros fantasmas estão escondidos nas cenas passadas no local título.
A Maldição da Lua Cheia
2.9 31Assistindo "The Boy Who Cried Werewolf" foi impossível não pensar na possibilidade de remake. Isso porque apesar dos efeitos especiais parcos, a história do filme é irresistivelmente atraente pra qualquer fã de terror. Temos um casal separado que ainda não sabe como lidar com o divórcio, tendo mais uma preocupação com o impacto disso na vida de seu filho. Esse é o mote principal que a metáfora do Lobisomem abarca, pois o filme apresenta que em determinado momento desse processo de separação, o pai se torna uma figura monstruosa para o filho. Com um final que demonstra que as atitudes tomadas podem gerar sequelas no próprio filho. É muito interessante ver como que o filme se torna um drama sem os elementos licantropos.
Infelizmente, a história principal da família é obscurecida pelos múltiplos problemas da produção. Como por exemplo, o desnecessário enredo da comunidade hippie cristã (que se torna ainda mais absurdo quando nos damos conta que o intérprete do líder é também o roteirista do filme). Mas o principal elemento que desanima o espectador é constatar que todas as cenas do Lobisomem foram filmadas DE DIA. A produção tentou filmar as cenas noturnas de dia, botando apenas sombras de árvores para escurecer. Mas é pífia a tentativa, já que vemos claramente que se trata de um ator fantasiado correndo de dia pela floresta. Ainda assim, o filme vale a pena ser visto. Pois existe uma ousadia visível na trama de um filho temer que seu pai virá matá-lo no meio da noite. Elemento este que posteriormente Stephen King e Stanley Kubrick utilizariam em "O Iluminado". A quebra da figura paterna, o ato de você ter que "matar o pai" para crescer. Por apresentar esses elementos "The Boy Who Cried Werewolf" merece ser conferido. Uma pena que os envolvidos não tenham filmado em preto e branco, pois assim ao menos a ilusão de "day for night" seria eficaz.
Estou Pensando em Acabar com Tudo
3.1 1,0K Assista AgoraCharlie Kaufman despontou como roteirista em “Quero Ser John Malkovich” (1998), desde então tornou-se referência em roteiros criativos e pouco usuais. Sempre investindo em personagens complexos, metáforas visuais, surrealismo. De sua cabeça que saíram obras elogiadas pela crítica como “Adaptação”, “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças” (que lhe rendeu o Oscar de Melhor Roteiro Original), “Confissões de Uma Mente Perigosa”).
Em 2008, despontou seu primeiro projeto como diretor. No ambicioso “Sinédoque, Nova York”. Que estrelado pelo falecido ator Phillip Seymour Hoffman, já demonstrou que o autor passaria a roteirizar obras ainda mais complexas do que quando estava apenas no cargo de roteirista. Em 2015, dirigiu a animação em stop-motion “Anomalisa”. Com isso, foram cinco anos até seu mais recente trabalho. O filme original Netflix, “Eu Estou Pensando em Acabar com Tudo”.
É seu primeiro filme que não é baseado em um roteiro original, e sim em um livro escrito por Ian Reid. Contando com uma trama aparentemente simples, na qual uma jovem (Jessia Buckey) acompanha seu namorado (Jesse Plemons) em uma visita para conhecer seus sogros (Toni Collette e David Thewlis).
Muitos temas presentes na filmografia de Kaufman surgem novamente em seu mais recente trabalho. É até curiosa a escalação de Jesse Plemons, já que o ator muito se assemelha com o falecido Phillip Seymour Hoffman (chegando a interpretar seu filho na obra de Paul Thomas Anderson, “O Mestre”).
Infelizmente, diferente dos demais trabalhos do diretor/roteirista, “Eu Estou Pensando em Acabar com Tudo” é um filme muito irregular. O roteiro não oferece uma narrativa tão fascinante a ponto do espectador não sentir as duas horas e dez de projeção, os personagens não são interessantes a ponto de querermos acompanhar suas trajetórias.
E o maior problema presente na narrativa é a previsibilidade na metáfora utilizada. Porém, a impressão que fica é que Kaufman se acha genial na proposta apresentada ao espectador. O que é curioso, já que em todos os seus projetos anteriores as metáforas e temáticas são muito mais ricas. É estranho que um autor tão ambicioso pareça ter se impressionado com uma trama tão previsível em mensagem e tema. Fora o artifício final do filme, que sem entrar em spoilers é quase ofensivo.
Ao final, “Eu Estou Pensando em Acabar com Tudo” é uma obra decepcionante. É extremamente longo, a metáfora é tosca, os personagens não são tão interessantes, os temas oferecidos não são fascinantes. É uma experiência cinematográfica absolutamente banal.
Algo jamais esperado de um autor como Charlie Kaufman.
Bill & Ted: Encare a Música
2.8 147 Assista AgoraEm um ano tão desgraçado, ver um filme tão otimista e bem humorado é um verdadeiro bálsamo. Uma besteira maravilhosamente divertida.
"Be excellent to each other and party on, dudes!"
O Segredo do Bosque dos Sonhos
3.8 88Longe de mim desmerecer o talento de Fulci. Sua filmografia é invejável. Mas confesso que não fiquei tão impressionado com o impacto de "O Segredo do Bosque dos Sonhos". Filme muito reverenciado e com uma seleção de temas impressionantes. É inegável a coragem do roteiro: pedofilia, violência contra crianças, a natureza sinistra sobre a instituição católica, magia negra, o preconceito em uma pequena comunidade. No entanto, faltou uma revisão ao roteiro no concernente a coesão entre as cenas. Não raras são as situações em que um personagem emite uma opinião forte sobre o assunto, apenas para sete segundos depois mudar de opinião sobre o mesmo tema quase como se tivesse dupla personalidade. Ou então, personagens que jamais dizem a que veio (como é o caso do delegado da cidadezinha). No entanto, o filme merece ser visto pela coragem e pela magnífica cena de um linchamento. Se o filme tivesse a sutileza e requinte dessa cena, seria uma obra-prima.
Cemitério Maldito
3.7 1,1K Assista AgoraMais de trinta anos depois, "Cemitério Maldito" de Mary Lambert ainda é uma das melhores adaptações de um livro de Stephen King. É incrível como que o filme faz questão de permear subliminarmente aspectos sutis do livro. Como é o caso da presença espiritual da criatura Wendigo, que não é diretamente referenciada e nomeada pelos personagens. Mas presente em inúmeras cenas, como o espectador que leu o livro de King irá perceber. O caso mais evidente, na cena em que Jud leva Louis pela 1a vez ao cemitério. Onde o próprio Jud demonstra por um olhar do perigo de estar se aproximando da criatura. Pedindo inclusive para seu amigo parar a caminhada, esperando que o monstro passe sem avistá-lo. Claro, o filme não é perfeito. Alguns efeitos especiais se tornaram bastante datados. Porém mesmo o melodrama que me incomodou na primeira vez que assisti, não gerou efeito negativo nessa nova conferida. Creio que serve justamente para que sintamos a dor presente na perde vivida pelos personagens (justamente por não ter o mesmo impacto de uma leitura de 700 páginas). Dentro de suas limitações orçamentárias e pela época em que foi feito, "Cemitério Maldito" de Mary Lambert é um grande filme. Coisa que o remake moderno de 2019 jamais poderá dizer de si.
O Cobrador de Impostos
2.3 37 Assista AgoraO novo longa de David Ayer trata sobre amor, honra, lealdade, família. Não estou interpretando, literalmente a 1a cena do filme mostra essas palavras em destaque rosa estilizado como uma tatuagem tribal de 2002. Essa falta de sutileza marca cada um dos dolorosos 95 minutos de projeção, uma bagunça previsível que pensar estar tratando sobre temas profundos. O mais curioso é pensar que Shia Labeouf não só aceitou fazer o filme, como quis tatuar seu torso para um papel que jamais diz a que veio. O personagem parece ser bruto, um sociopata funcional e com muita raiva interna. Mas o filme jamais exibe qualquer nuance do mesmo. Preferindo gastar tempo com a história mais clichê de gangster que JAMAIS IMAGINOU que violência poderia afetar sua família. E falando na temática, poderia ocorrer um acordo mundial entre roteiristas para acabarem com o clichê tonto do bandido que mata, rouba, mas EI EI EI: NÃO VAMOS MATAR NINGUÉM COM FAMÍLIA, HEIN? Não nego, "The Tax Collector" é um filme absolutamente ultrapassado. Uma produção que deveria ter sua estréia imediata no canal Space, ou então na Temperatura Máxima. Um filme que faz "Esquadrão Suicida" parecer interessante.
O Novo Pesadelo: O Retorno de Freddy Krueger
3.4 393 Assista AgoraAté a metade de projeção, o filme genuinamente assusta e intimida. Utilizando de atmosfera e suspense bem construídos (as ligações feitas para Heather são assustadoras). Porém quando a protagonista e seu filho adentram o hospital, o filme recebe todos os clichês e galhofas presentes nos pontos baixos da franquia. Nem o Freddy Krueger parece mais o mesmo do começo da produção. Ainda assim, é um dos mais interessantes da franquia, pela sua pegada metalinguística e no novo Freddy. Além de ser uma boa despedida ao personagem.