Não sei porque me decepcionei tanto porque é lógico que fariam um filme assim! O filme apresenta o impasse sobre a criação e construção da bomba atômica, mas, de forma geral, sinto que o filme faz uma apologia à arma nuclear, já que é melhor os Estados Unidos terem uma bomba dessas do que os seus inimigos – seja a Alemanha Nazista ou a União Soviética.
O filme ainda tenta criar um clima de dilema moral e ético sobre a criação de uma arma nuclear. Em vários momentos, Oppenheimer aparece perturbado pelas imagens de destruição e morte. O roteiro tenta demonstrar que Oppenheimer apenas fez o seu serviço, mas o sangue estaria nas mãos de outras pessoas, como o presidente dos EUA. Mostra que o Oppenheimer se arrependeu e se tornou uma voz importante pela regularização de armas nucleares. Mas isso não me comoveu. É como um tweet antigo que diz que os EUA vão destruir seu país e depois fazer um filme sobre como destruir seu país deixou seus soldados tristes.
Ele estava construindo uma bomba e ele sabia dos riscos e das implicações políticas de tudo. Lembro de um texto do Rubem Alves que eu li no primeiro período da faculdade: é preciso que o cientista se faça a pergunta: ciência para que? Mas também precisa pensar: ciência para QUEM? Não consigo pensar em Oppenheimer como um filme que critica a bomba atômica com algumas cenas comoventes como a do teste da bomba.
Além disso, é um filme muito masculinista (usei a palavra pela falta de outra melhor). Das poucas mulheres no elenco, apenas duas devem ter mais de duas linhas de fala: a Emily Blunt e a Florence Pugh, duas personagens egoístas e desequilibradas que só tem importância porque servem ao arco narrativo do Oppenheimer. Há duas ou três cenas de nudez feminina completamente desnecessária, que, a meu ver, só serve para o prazer voyeurístico dos homens que provavelmente já estão excitados sexualmente com tanta bomba explodindo e com tantos homens foda. A forma como os homens são mostrados em Oppenheimer é justamente o que o filme Barbie critica.
Eu fui assistir ao filme sem grandes expectativas, por isso não desgostei totalmente. Um entretenimento mediano. Queria tratar sobre alguns tópicos.
No início do filme, há uma frase escrita no espelho falando sobre o tempo ser uma mentira, uma ilusão, algo assim. Aos poucos, você entende que o filme quer avaliar a possibilidades de tempos sobrepostos, o que é indicado também pelo título: sincrônico.
O filme parece querer provocar uma reflexão como a do filme A Chegada (Arrival, 2016), em que a protagonista experimenta tempos simultâneos. No entanto, a ideia de viagem no tempo de Synchronic parece mais com De Volta para o Futuro (Back to the Future, 1985), em que, através de uma tecnologia, você volta para um tempo e um lugar específicos.
Achei interessante a possibilidade de explorar o passado escravocrata de Nova Orleans, cidade que ocupa lugar central no comércio de pessoas escravizadas no sul dos Estados Unidos. Me fez lembrar o romance Kindred, da Octavia Butler, em que a protagonista negra também viaja para o passado e chega numa fazenda pré-Guerra Civil em Maryland. No entanto, também faltou aprofundamento. A questão do racismo me parecia ser algo importante no roteiro - já que aparece em vários momentos da história -, mas, em vários momentos, soava superficial demais. O que, a meu ver, desperdiçou o potencial da história.
Se fosse um filme estadunidense, com certeza, estaria na temporada do Oscar 2023. É um filme tão relevante e impactante quanto "Spotlight", que ganhou em 2016.
Assistir filmes sobre as ditaduras latino-americanas, como “No”, “A História Oficial” ou “Argentina, 1985”, é como assistir outras versões da história do nosso próprio país: os interesses das burguesias nacionais e internacionais, o anticomunismo e o militarismo unidos para manter um regime autoritário. É a história do Brasil em outro formato.
Mas “Argentina, 1985”, especificamente, nos coloca, brasileiros, diante da incômoda e indigesta Lei da Anistia de 1979 que concedeu o perdão aos crimes políticos cometidos a partir de 1961, incluindo agentes de Estado que torturaram e mataram opositores. Isso fez com que o Brasil não enfrentasse o trauma coletivo de ter vivido uma ditadura que durou 21 anos e impediu que, como sociedade, condenássemos os líderes desse regime.
E assim, ao não julgar e condenar os responsáveis pela ditadura, abrimos espaço para aberrações políticas defenderem a ditadura publicamente, como é o caso do presidente Jair Bolsonaro e outros apoiadores, como seus filhos ou seu vice, Hamilton Mourão. Jair Bolsonaro que, no processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, fez homenagem ao torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra. Por isso, a importância da Comissão Nacional da Verdade que investiga essas violações de Direitos Humanos aqui no Brasil.
É preciso que nosso passado seja realmente devassado para entender que ditadura “nunca mais”.
O mais interessante do filme é sua análise do islamismo a partir de vários pontos de vista.
Ao contrário do que é feito pelo cinema hollywoodiano, que retrata todos os muçulmanos como fundamentalistas religiosos ou terroristas (como em Sniper Americano, por exemplo), Timbuktu mostra que, mesmo que haja alguns extremistas dentro do islamismo, eles estão longe de serem a grande maioria da população islâmica. Afinal, estamos falando de uma religião que tem mais de 1,5 bilhão de fieis no mundo todo, dentre árabes, persas e outros grupos étnicos.
O filme mostra a violência do grupo extremista que tenta controlar a cidade do Mali, mas também mostra que há muitas discordâncias e muita resistência às imposições arbitrárias dos extremistas/jihadistas. Há aquele que prega o amor e a tolerância; o que questiona as razões para as novas leis, cobrando que haja motivos plausíveis para sua aplicação; e há as mulheres que não querem se submeter às novas regras e tem um entendimento menos radical da religião islâmica, como a mãe que não aceita dar a sua filha a um dos líderes jihadistas. Além disso, o filme também mostra a hipocrisia desses grupos que querem buscar uma experiência mais conservadora da religião, mas, por ser uma concepção idealizada e irreal da religião, nem eles conseguem cumprir suas próprias regras. O personagem do Abel Jafri é um que fuma às escondidas, mesmo que isso seja proibido entre eles.
Acredito que o filme realmente ajuda a entender o medo e o desespero de viver sob um controle que não admite a contradição e se guia pelas leis de uma única religião (inclusive dá para relacionarmos com o Brasil atual, onde vivemos às sombras de regras arbitrárias dos grupos neopentecostais bolsonaristas), mas também mostra para nós, habitantes de um país com uma tradição cristã ocidental, que há possibilidades diversas de entendimento e vivência do islamismo. Na minha visão, é um filme que, sobretudo, permite que sejamos pessoas menos intolerantes com o diferente.
Difícil ser gay e ter que defender uns filmes assim, sem graça demais.
Tem um clima legal, às vezes é divertido, mas a história é mal desenvolvida e os membros da família do Peter são todos basicamente iguais: todos alegres e felizes e obcecados pela solteirice do protagonista. O que parecia ser uma estratégia de fazer uma família gay-friendly, pra mim, foi algo enfadonho. Não havia contraste: as personalidades da mãe, do pai, das irmãs e das sobrinhas são a mesma! A tia Sandy é a única que destoa levemente da alegria eterna e entediante dos outros personagens. E, pela originalidade, o Nick é o melhor personagem.
Quando um filme se propõe a narrar uma história de trás para frente, entendemos que, ao contrário de outras narrativas, a surpresa estará no início do conflito. Isso é o que acontece. Mas não me surpreendeu. Achei o final previsível, subestimando a inteligência do público.
Não acho que deve ser comparado à Amnésia, do Nolan, que tem elementos mais interessantes que esse Shimmer Lake.
Talvez seja o primeiro filme que eu assisto e considero que a trilha sonora atrapalhou o meu envolvimento com a trama. Em vários momentos, a trilha sonora era intencionalmente dramática e fazia com a cena me soasse quase brega. Eu teria uma impressão melhor se houvesse mais silêncios ou mais sutilezas. Mas, pela quantidade de prêmios recebidos, imagino que isso não é algo que incomodou o público da época.
Retirando isso, acho que o filme trouxe uma importante reflexão sobre a história e as ditaduras latino-americanas. Como dito por um aluno de Alicia, a "história oficial" é escrita pelos próprios assassinos.
O ponto alto do filme, para mim, é o elenco. Evidentemente a Norma Aleandro é um destaque, mas a criança que interpreta a Gaby, Analia Castro, também é ótima.
Eu que gosto de história não-lineares, adoro os roteiros do Charlie Kaufman, principalmente em "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças" e "Adaptação". Estou pensando em acabar com tudo não é o pior filme do mundo - acho que ele traz uma visão interessante sobre a memória - mas achei muito monótono. E isso atrapalhou a minha experiência ao assistir o filme.
Entendo que o filme é uma avaliação que Jake faz da sua vida. O Jake é o protagonista que leva a namorada para conhecer seus pais, mas ele também é o senhor que trabalha na escola. O Jake velho dá sentido às suas reminiscências através do encontro dos seus pais com a namorada. Mas, assim como qualquer exercício de rememoração, o passado é desconexo, onírico, sem sentido, não-linear.
Desde o início do filme, acompanhamos a história pelo ponto de vista da namorada. Mas ela não é nada mais que uma projeção da mente do Jake. Por isso que, às vezes, ela suspeita que o Jake está ouvindo seus pensamentos.
Jake lembra dos pais em vários momentos da vida: jovens, velhos, esquecidos, no leito de morte. A namorada não é apenas uma namorada. Ela é uma projeção da mente dele. É uma maneira do filme dar sentido ao processo de relembrar. A namorada existiu? Foram várias namoradas? É só um desejo de Jake? Ela muda de nome e de profissão a todo momento. Numa determinada cena, ela muda até sua fisionomia. Na cabeça de Jake, ela se transforma na atriz do filme que ele assistiu na velhice, a Yvonne. Nossa mente é assim: a gente realmente viveu aquilo ou não? a gente realmente lembra daquele acontecimento ou lembra a partir do que nos contaram sobre ele? eu vivi aquilo ou sonhei? ou vi num filme?
Mas, de maneira geral, o filme é muito monótono, parado, arrastado, com longos diálogos. Por isso, desliguei a televisão com um gosto azedo na memória. Se fosse mais dinâmico, eu gostaria mais.
A vida da Harriet Tubman é uma história que realmente precisava ser contada no cinema, numa dessas biografias épicas do cinema. Mas achei esse filme muito clichê: uma grande quantidade de cenas com enquadramentos e trilha sonora que pareciam pedir que o público se emocionasse. Além das falas dos personagens serem muito previsíveis: um dono de escravos fala assim, uma pessoa escravizada em fuga fala assim e uma heroína solta uma frase de impacto antes de se jogar no rio. Poderia ter um roteiro e uma direção melhor.
No início do filme, Tim está ensaiando para uma peça de teatro na escola. Ele ensaia uma cena em que Páris está ao lado de Julieta morta. Enquanto recita suas falas, o diretor da peça diz que Tim não é convincente, não demonstra a emoção de alguém que está ao lado da sua amada morta. O diretor pede para que ele imagine como é perder a namorada.
Naquela época, Tim não entendia como era perder alguém que amava. No final do filme, vemos como Tim reage a morte da pessoa que ele mais amou na vida. Tim estava com John da mesma maneira que, na peça, Páris estava com Julieta: ao lado do leito de morte. A cena da morte de John é silenciosa, num longo plano-sequência. Em seguida, um corte brusco nos leva para o choro desesperado e doloroso de Tim.
O filme me fez refletir sobre uma notícia dessa semana: a Escócia foi o primeiro país a incluir a história LGBT no seu currículo escolar. E isso é muito necessário. Somos inundados de filmes e livros sobre diversos traumas coletivos da nossa história, mas pouco se fala da dor e do trauma da epidemia de AIDS nos anos 80 e 90. Não sabemos como é perder tantos amigos e namorados para uma doença que não tem cura. E filmes como Holding the man são importantes para conhecermos nossa história, nossos medos e receios que enfrentamos juntos como uma comunidade. Até hoje os homossexuais sofrem com os medos e os preconceitos decorrentes da epidemia de AIDS, como se ser gay fosse sinônimo de ser doente.
Acho que precisamos, sim, de filmes que trazem uma visão mais otimista sobre a AIDS e o HIV, mostrando que, hoje em dia, é possível viver com a doença e que o tratamento com antirretrovirais faz com que o vírus seja indetectável e intransmissível, mas também precisamos conhecer a dor e o sofrimento dos que vieram antes de nós.
Referências a Por um punhado de dólares, Três homens em conflito, Star Wars. A jornada do protagonista é clichê, mas o formato da história é mais interessante que o arco narrativo do herói. Muito engraçado e divertido!
O filme é racista e o final é de um extremo mal-gosto.
Vários críticos e pessoas que estudam a questão do negro no cinema destacam o racismo na figura do "negro mágico": aquele personagem negro que tem, ao seu entorno, uma aura mística e misteriosa. E que, principalmente, tem a função de guiar as ações e decisões de personagens brancos. Tem o Dick de "O Iluminado", a tia Dalma de "Piratas do Caribe" ou Deus de "Todo Poderoso", por exemplo. A Evelyn de "Annabelle" tem esse papel. E isso é extremamente incômodo.
Durante o filme, vemos que Evelyn tem um olhar enigmático indicando que tem um sexto sentido apurado e é dona de uma livraria que tem livros de satanismo na vitrine. Num determinado diálogo, diz para Mia que já teve experiências que a fizeram menos cética a determinados fenômenos - fenômenos sobrenaturais, pelo que se entende. Os dramas de Evelyn (como, por exemplo, o fato de ela ser responsável pela morte da filha num acidente de carro) só são importantes na história para servir de lição para Mia, a mãe protagonista branca. Sua fala indica que mães estão dispostas a fazer sacrifícios para salvar seus filhos: conflito que será desenrolado mais adiante.
O fim do filme, por sua vez, é extremamente indigesto por mostrar que, além de ter seus dramas sendo usados como lição para uma protagonista branca, a vida de Evelyn é descartável. A única personagem negra entrega sua alma ao diabo para livrar a protagonista branca - e seu marido e sua filha - de uma morte e um destino trágico. E a direção explora esse acontecimento de uma maneira que mostra que a morte de Evelyn não é deve ser vista com tristeza.
A câmera mostra Evelyn morta na calçada ao lado da boneca amaldiçoada. No quarto, o casal se abraça com a filha no colo, felizes por terem se livrado da perseguição demoníaca que enfrentavam. A trilha sonora é calma e vitoriosa, como se dissesse que o público pode relaxar porque o problema foi solucionado. Mas e a Evelyn? A Mia, que recebia conselhos e presentes da dona da livraria, não se importa com a morte da amiga, que se suicidou para lhe salvar? Mesmo Evelyn tendo entregue sua alma ao diabo, o final foi feliz por Mia não ter se matado? Ao colocar uma trilha sonora que não condiz com o drama de Evelyn que se sacrificou para salvar um casal de amigos, a direção mostra que essa personagem negra era um mero acessório para os personagens que realmente são dignos de pena e preocupação: o casal branco e sua bebê. Me lembrou o fim absurdo daquele filme "O Impossível", do final feliz da família branca enquanto milhares de tailandeses continuavam sofrendo.
Quando vejo filmes como esse "Annabelle", lembro quão importantes são os filmes do Jordan Peele com seus protagonistas negros que não são diminuídos em estereótipos racistas ou alocados no roteiro de acordo com o arco narrativo de personagens brancos.
Acho que as temáticas do filme não foram bem exploradas, como eu gostaria. Grande parte do filme, explora a relação de Miguel e Johnny com o tráfico de sangue para o narcotráfico mexicano. Vemos que a relação dos dois rapazes, envolve amizade, mas também sexo. Depois de muitos minutos, vemos que o conflito principal do filme tem a ver com o sumiço de 50 pessoas pelo narcotráfico por culpa, principalmente, do Miguel. É o momento mais tenso do filme.
Mas a relação entre Miguel e Johnny também é mediada por questões sociais.
Miguel é um menino rico, de uma família de classe média alta. Johnny é o filho da empregada da família de Miguel. Só no final do filme, vemos que Johnny vivia na rua porque a mãe de Miguel havia expulsado o filho da empregada de casa.
Quando o narcotráfico desaparece com cinquenta pessoas e os dois amantes ainda matam um comparsa, essa diferença social fica mais evidente. Johnny rouba de Miguel o dinheiro que o amante recebera do narcotráfico e continua andando de skate pelas ruas da periferia. Miguel é mandado para os Estados Unidos, com a proteção de um amigo da família. Dois destinos completamente diferentes.
Penso que o filme ganharia em profundidade se desenrolasse o conflito mais rapidamente e aprofundasse nessas questões sociais - porque, do jeito que ficou, o filme é mais um comentário superficial do que uma crítica social do México atual.
Por ser o primeiro filme nesse formato, acho A Bruxa de Blair fantástico. Mas, como a fórmula já foi explorada em outras produções posteriores, vimos que teria muito mais a oferecer.
Para compará-lo a outros filmes parecidos, acho A Bruxa de Blair mais original que Cloverfield: Monstro, mas poderia ser mais bem explorado como em Creep.
senti falta de cenas mais explícitas, como quando encontram bonecos de bruxaria na mata ou na sequência final dentro da casa abandonada. Poderia ser uma câmera esquecida filmando algo ameaçador, um vulto ou algo que passe diante da câmera sem os personagens perceberem. A direção prefere deixar que tudo seja formado na nossa imaginação. (Mas, como já disse, por ser um filme independente que está treinando um novo formato, acho o filme genial. É só uma questão de gosto, assistindo hoje, 21 anos depois da estreia).
Mesmo que retrate uma cultura diferente da nossa, esse filme traz questões que são conhecidas por nós.
No filme, os jovens são conduzidos por um rito de passagem para a vida adulta que tem a circuncisão como acontecimento central. Não compartilho desse mesmo costume, mas, durante a vida, nós, homens, somos levados por outros ritos de passagem pra que, dentre os pares, sejamos considerados machos. Pode ser a primeira relação sexual com uma mulher (às vezes, prostituta), pode ser o alistamento obrigatório no serviço militar ou simplesmente espaços de sociabilidade onde homens interagem e, teoricamente, contribuem para a formação da virilidade dos seus pares, como na academia, futebol ou esportes em geral.
E em todos esses processos, há uma violência, física e emocional, envolvida. O filme mostra que a masculinidade/virilidade se constrói pela dor, pela violência, pela repressão: há uma série de limites impostos para que o jovem seja um homem.
Isso também é refletido nas relações cheias de violência com os homens que aparecem em cena.
O relacionamento de Xolani e Vija é violenta: parece-me que, ao reprimi-la, a homossexualidade emerge com violência. Eles trocam agressões físicas e verbais. A relação deles é vivida nas sombras, como na cena de sexo oral no meio do mato, no início da noite, quando só enxergamos a sombra dos dois homens. Não podem arriscar sua virilidade em nome de um relacionamento amoroso/sexual.
No final, a violência ganha contornos trágicos, quando precisam lançar mão de um assassinato para não perderem a credibilidade naquele meio de sociabilidade essencialmente macho/masculino.
Não sei que Kwanda queria destruir aquele costume, como ele é acusado de fazê-lo. Mas, ao perceber o conflito do seu instrutor, ele tenta alertá-lo: é um embate entre o tradicional/interior com o moderno/Johanesburgo. E, mais uma vez, a resolução desse conflito se dá pela violência, pelo assassinato.
Acho que o mais interessante do filme é refletir sobre um meio de sociabilidade gay peculiar. Somos levados a esse cenário à beira do lago junto com o protagonista que já o conhece: não há estranhamento, não há julgamentos. Junto com a câmera, vamos caminhando e vemos homens nadando nus ou transando no meio da mata.
A observação daquele mundo é perturbada depois da chegada de um elementos externo, o inspetor Damroder. Quando ele começa sua investigação e indaga os frequentadores do lugar sobre seus relacionamentos, percebemos um incômodo. Vocês não trocam telefones? Vocês fazem sexo e ficam horas e horas juntos, mas não sabem o nome um dos outro? Vocês não saem juntos depois daqui?
Eu, um espectador gay, acostumado com o comportamento de homens gays em baladas ou em aplicativos como o Grindr, só transformei o lago numa questão quando esse cenário foi analisado por alguém desconhecido. Como explicar o mundo gay a uma pessoa externa? Algumas coisas parecem meio absurdas quando ditas em voz alta.
Um espectador hétero teria a mesma visão que eu tive ou já estaria intrigado desde o início do filme?
Sobre as questões técnicas do filme: impressionante como o diretor constrói um clima de tensão sem nenhuma trilha sonora, usando apenas uma boa composição de luz, som e enquadramentos.
Interessante assistir esse filme em 2020, em época de pandemia.
No filme, um cientista especialista em tubarões chama a atenção para o animal que ameaça a cidade. A autoridade policial tenta seguir as recomendações do oceanógrafo, mas o prefeito da cidade acha que a economia da cidade é mais importante que a vida da população. Parece os ministros, governadores e prefeitos brasileiros tentando seguir as orientações da OMS para a contenção do covid-19, mas o presidente Bolsonaro e seus seguidores insistem em minimizar o problema e não se importam de arriscarem vidas para salvar a economia.
Oppenheimer
4.0 1,1KNão sei porque me decepcionei tanto porque é lógico que fariam um filme assim! O filme apresenta o impasse sobre a criação e construção da bomba atômica, mas, de forma geral, sinto que o filme faz uma apologia à arma nuclear, já que é melhor os Estados Unidos terem uma bomba dessas do que os seus inimigos – seja a Alemanha Nazista ou a União Soviética.
O filme ainda tenta criar um clima de dilema moral e ético sobre a criação de uma arma nuclear. Em vários momentos, Oppenheimer aparece perturbado pelas imagens de destruição e morte. O roteiro tenta demonstrar que Oppenheimer apenas fez o seu serviço, mas o sangue estaria nas mãos de outras pessoas, como o presidente dos EUA. Mostra que o Oppenheimer se arrependeu e se tornou uma voz importante pela regularização de armas nucleares. Mas isso não me comoveu. É como um tweet antigo que diz que os EUA vão destruir seu país e depois fazer um filme sobre como destruir seu país deixou seus soldados tristes.
Ele estava construindo uma bomba e ele sabia dos riscos e das implicações políticas de tudo. Lembro de um texto do Rubem Alves que eu li no primeiro período da faculdade: é preciso que o cientista se faça a pergunta: ciência para que? Mas também precisa pensar: ciência para QUEM? Não consigo pensar em Oppenheimer como um filme que critica a bomba atômica com algumas cenas comoventes como a do teste da bomba.
Além disso, é um filme muito masculinista (usei a palavra pela falta de outra melhor). Das poucas mulheres no elenco, apenas duas devem ter mais de duas linhas de fala: a Emily Blunt e a Florence Pugh, duas personagens egoístas e desequilibradas que só tem importância porque servem ao arco narrativo do Oppenheimer. Há duas ou três cenas de nudez feminina completamente desnecessária, que, a meu ver, só serve para o prazer voyeurístico dos homens que provavelmente já estão excitados sexualmente com tanta bomba explodindo e com tantos homens foda. A forma como os homens são mostrados em Oppenheimer é justamente o que o filme Barbie critica.
Por isso, saí do cinema revoltado!
Synchronic
2.7 171 Assista AgoraEu fui assistir ao filme sem grandes expectativas, por isso não desgostei totalmente. Um entretenimento mediano. Queria tratar sobre alguns tópicos.
No início do filme, há uma frase escrita no espelho falando sobre o tempo ser uma mentira, uma ilusão, algo assim. Aos poucos, você entende que o filme quer avaliar a possibilidades de tempos sobrepostos, o que é indicado também pelo título: sincrônico.
O filme parece querer provocar uma reflexão como a do filme A Chegada (Arrival, 2016), em que a protagonista experimenta tempos simultâneos. No entanto, a ideia de viagem no tempo de Synchronic parece mais com De Volta para o Futuro (Back to the Future, 1985), em que, através de uma tecnologia, você volta para um tempo e um lugar específicos.
Achei interessante a possibilidade de explorar o passado escravocrata de Nova Orleans, cidade que ocupa lugar central no comércio de pessoas escravizadas no sul dos Estados Unidos. Me fez lembrar o romance Kindred, da Octavia Butler, em que a protagonista negra também viaja para o passado e chega numa fazenda pré-Guerra Civil em Maryland. No entanto, também faltou aprofundamento. A questão do racismo me parecia ser algo importante no roteiro - já que aparece em vários momentos da história -, mas, em vários momentos, soava superficial demais. O que, a meu ver, desperdiçou o potencial da história.
Casablanca
4.3 1,0K Assista AgoraNão tem como negar: há indícios claros de que o capitão Renault é bissexual.
E inclusive nutre pelo protagonista um amor que, a meu ver, é correspondido.
Argentina, 1985
4.3 334Se fosse um filme estadunidense, com certeza, estaria na temporada do Oscar 2023. É um filme tão relevante e impactante quanto "Spotlight", que ganhou em 2016.
Argentina, 1985
4.3 334Assistir filmes sobre as ditaduras latino-americanas, como “No”, “A História Oficial” ou “Argentina, 1985”, é como assistir outras versões da história do nosso próprio país: os interesses das burguesias nacionais e internacionais, o anticomunismo e o militarismo unidos para manter um regime autoritário. É a história do Brasil em outro formato.
Mas “Argentina, 1985”, especificamente, nos coloca, brasileiros, diante da incômoda e indigesta Lei da Anistia de 1979 que concedeu o perdão aos crimes políticos cometidos a partir de 1961, incluindo agentes de Estado que torturaram e mataram opositores. Isso fez com que o Brasil não enfrentasse o trauma coletivo de ter vivido uma ditadura que durou 21 anos e impediu que, como sociedade, condenássemos os líderes desse regime.
E assim, ao não julgar e condenar os responsáveis pela ditadura, abrimos espaço para aberrações políticas defenderem a ditadura publicamente, como é o caso do presidente Jair Bolsonaro e outros apoiadores, como seus filhos ou seu vice, Hamilton Mourão. Jair Bolsonaro que, no processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, fez homenagem ao torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra. Por isso, a importância da Comissão Nacional da Verdade que investiga essas violações de Direitos Humanos aqui no Brasil.
É preciso que nosso passado seja realmente devassado para entender que ditadura “nunca mais”.
Timbuktu
3.8 134 Assista AgoraO mais interessante do filme é sua análise do islamismo a partir de vários pontos de vista.
Ao contrário do que é feito pelo cinema hollywoodiano, que retrata todos os muçulmanos como fundamentalistas religiosos ou terroristas (como em Sniper Americano, por exemplo), Timbuktu mostra que, mesmo que haja alguns extremistas dentro do islamismo, eles estão longe de serem a grande maioria da população islâmica. Afinal, estamos falando de uma religião que tem mais de 1,5 bilhão de fieis no mundo todo, dentre árabes, persas e outros grupos étnicos.
O filme mostra a violência do grupo extremista que tenta controlar a cidade do Mali, mas também mostra que há muitas discordâncias e muita resistência às imposições arbitrárias dos extremistas/jihadistas. Há aquele que prega o amor e a tolerância; o que questiona as razões para as novas leis, cobrando que haja motivos plausíveis para sua aplicação; e há as mulheres que não querem se submeter às novas regras e tem um entendimento menos radical da religião islâmica, como a mãe que não aceita dar a sua filha a um dos líderes jihadistas. Além disso, o filme também mostra a hipocrisia desses grupos que querem buscar uma experiência mais conservadora da religião, mas, por ser uma concepção idealizada e irreal da religião, nem eles conseguem cumprir suas próprias regras. O personagem do Abel Jafri é um que fuma às escondidas, mesmo que isso seja proibido entre eles.
Acredito que o filme realmente ajuda a entender o medo e o desespero de viver sob um controle que não admite a contradição e se guia pelas leis de uma única religião (inclusive dá para relacionarmos com o Brasil atual, onde vivemos às sombras de regras arbitrárias dos grupos neopentecostais bolsonaristas), mas também mostra para nós, habitantes de um país com uma tradição cristã ocidental, que há possibilidades diversas de entendimento e vivência do islamismo. Na minha visão, é um filme que, sobretudo, permite que sejamos pessoas menos intolerantes com o diferente.
Um Crush Para o Natal
3.4 177 Assista AgoraDifícil ser gay e ter que defender uns filmes assim, sem graça demais.
Tem um clima legal, às vezes é divertido, mas a história é mal desenvolvida e os membros da família do Peter são todos basicamente iguais: todos alegres e felizes e obcecados pela solteirice do protagonista. O que parecia ser uma estratégia de fazer uma família gay-friendly, pra mim, foi algo enfadonho. Não havia contraste: as personalidades da mãe, do pai, das irmãs e das sobrinhas são a mesma! A tia Sandy é a única que destoa levemente da alegria eterna e entediante dos outros personagens. E, pela originalidade, o Nick é o melhor personagem.
Shimmer Lake
3.1 108 Assista AgoraMuito ruim.
Quando um filme se propõe a narrar uma história de trás para frente, entendemos que, ao contrário de outras narrativas, a surpresa estará no início do conflito. Isso é o que acontece. Mas não me surpreendeu. Achei o final previsível, subestimando a inteligência do público.
Não acho que deve ser comparado à Amnésia, do Nolan, que tem elementos mais interessantes que esse Shimmer Lake.
Magnatas do Crime
3.8 299 Assista AgoraEu perdi tudo com a tensão sexual entre o Raymond e o Fletcher!
A História Oficial
4.1 140 Assista AgoraTalvez seja o primeiro filme que eu assisto e considero que a trilha sonora atrapalhou o meu envolvimento com a trama. Em vários momentos, a trilha sonora era intencionalmente dramática e fazia com a cena me soasse quase brega. Eu teria uma impressão melhor se houvesse mais silêncios ou mais sutilezas. Mas, pela quantidade de prêmios recebidos, imagino que isso não é algo que incomodou o público da época.
Retirando isso, acho que o filme trouxe uma importante reflexão sobre a história e as ditaduras latino-americanas. Como dito por um aluno de Alicia, a "história oficial" é escrita pelos próprios assassinos.
O ponto alto do filme, para mim, é o elenco. Evidentemente a Norma Aleandro é um destaque, mas a criança que interpreta a Gaby, Analia Castro, também é ótima.
Estou Pensando em Acabar com Tudo
3.1 1,0K Assista AgoraEu que gosto de história não-lineares, adoro os roteiros do Charlie Kaufman, principalmente em "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças" e "Adaptação". Estou pensando em acabar com tudo não é o pior filme do mundo - acho que ele traz uma visão interessante sobre a memória - mas achei muito monótono. E isso atrapalhou a minha experiência ao assistir o filme.
Entendo que o filme é uma avaliação que Jake faz da sua vida. O Jake é o protagonista que leva a namorada para conhecer seus pais, mas ele também é o senhor que trabalha na escola. O Jake velho dá sentido às suas reminiscências através do encontro dos seus pais com a namorada. Mas, assim como qualquer exercício de rememoração, o passado é desconexo, onírico, sem sentido, não-linear.
Desde o início do filme, acompanhamos a história pelo ponto de vista da namorada. Mas ela não é nada mais que uma projeção da mente do Jake. Por isso que, às vezes, ela suspeita que o Jake está ouvindo seus pensamentos.
Jake lembra dos pais em vários momentos da vida: jovens, velhos, esquecidos, no leito de morte. A namorada não é apenas uma namorada. Ela é uma projeção da mente dele. É uma maneira do filme dar sentido ao processo de relembrar. A namorada existiu? Foram várias namoradas? É só um desejo de Jake? Ela muda de nome e de profissão a todo momento. Numa determinada cena, ela muda até sua fisionomia. Na cabeça de Jake, ela se transforma na atriz do filme que ele assistiu na velhice, a Yvonne. Nossa mente é assim: a gente realmente viveu aquilo ou não? a gente realmente lembra daquele acontecimento ou lembra a partir do que nos contaram sobre ele? eu vivi aquilo ou sonhei? ou vi num filme?
Mas, de maneira geral, o filme é muito monótono, parado, arrastado, com longos diálogos. Por isso, desliguei a televisão com um gosto azedo na memória. Se fosse mais dinâmico, eu gostaria mais.
Handia
3.5 38Esse filme me lembrou da terceira história de A Balada de Buster Scruggs.
O Quarto dos Desejos
3.0 374 Assista AgoraUm bom entretenimento.
Harriet: O Caminho Para a Liberdade
3.7 217 Assista AgoraA vida da Harriet Tubman é uma história que realmente precisava ser contada no cinema, numa dessas biografias épicas do cinema. Mas achei esse filme muito clichê: uma grande quantidade de cenas com enquadramentos e trilha sonora que pareciam pedir que o público se emocionasse. Além das falas dos personagens serem muito previsíveis: um dono de escravos fala assim, uma pessoa escravizada em fuga fala assim e uma heroína solta uma frase de impacto antes de se jogar no rio. Poderia ter um roteiro e uma direção melhor.
O Amor é Para Todos
4.0 333É assim que os héteros se sentem quando se veem representados nos filmes de romance?
No início do filme, Tim está ensaiando para uma peça de teatro na escola. Ele ensaia uma cena em que Páris está ao lado de Julieta morta. Enquanto recita suas falas, o diretor da peça diz que Tim não é convincente, não demonstra a emoção de alguém que está ao lado da sua amada morta. O diretor pede para que ele imagine como é perder a namorada.
Naquela época, Tim não entendia como era perder alguém que amava. No final do filme, vemos como Tim reage a morte da pessoa que ele mais amou na vida. Tim estava com John da mesma maneira que, na peça, Páris estava com Julieta: ao lado do leito de morte. A cena da morte de John é silenciosa, num longo plano-sequência. Em seguida, um corte brusco nos leva para o choro desesperado e doloroso de Tim.
O filme me fez refletir sobre uma notícia dessa semana: a Escócia foi o primeiro país a incluir a história LGBT no seu currículo escolar. E isso é muito necessário. Somos inundados de filmes e livros sobre diversos traumas coletivos da nossa história, mas pouco se fala da dor e do trauma da epidemia de AIDS nos anos 80 e 90. Não sabemos como é perder tantos amigos e namorados para uma doença que não tem cura. E filmes como Holding the man são importantes para conhecermos nossa história, nossos medos e receios que enfrentamos juntos como uma comunidade. Até hoje os homossexuais sofrem com os medos e os preconceitos decorrentes da epidemia de AIDS, como se ser gay fosse sinônimo de ser doente.
Acho que precisamos, sim, de filmes que trazem uma visão mais otimista sobre a AIDS e o HIV, mostrando que, hoje em dia, é possível viver com a doença e que o tratamento com antirretrovirais faz com que o vírus seja indetectável e intransmissível, mas também precisamos conhecer a dor e o sofrimento dos que vieram antes de nós.
Rango
3.6 1,6K Assista AgoraReferências a Por um punhado de dólares, Três homens em conflito, Star Wars. A jornada do protagonista é clichê, mas o formato da história é mais interessante que o arco narrativo do herói. Muito engraçado e divertido!
Annabelle
2.7 2,7K Assista AgoraO filme é racista e o final é de um extremo mal-gosto.
Vários críticos e pessoas que estudam a questão do negro no cinema destacam o racismo na figura do "negro mágico": aquele personagem negro que tem, ao seu entorno, uma aura mística e misteriosa. E que, principalmente, tem a função de guiar as ações e decisões de personagens brancos. Tem o Dick de "O Iluminado", a tia Dalma de "Piratas do Caribe" ou Deus de "Todo Poderoso", por exemplo. A Evelyn de "Annabelle" tem esse papel. E isso é extremamente incômodo.
Durante o filme, vemos que Evelyn tem um olhar enigmático indicando que tem um sexto sentido apurado e é dona de uma livraria que tem livros de satanismo na vitrine. Num determinado diálogo, diz para Mia que já teve experiências que a fizeram menos cética a determinados fenômenos - fenômenos sobrenaturais, pelo que se entende. Os dramas de Evelyn (como, por exemplo, o fato de ela ser responsável pela morte da filha num acidente de carro) só são importantes na história para servir de lição para Mia, a mãe protagonista branca. Sua fala indica que mães estão dispostas a fazer sacrifícios para salvar seus filhos: conflito que será desenrolado mais adiante.
O fim do filme, por sua vez, é extremamente indigesto por mostrar que, além de ter seus dramas sendo usados como lição para uma protagonista branca, a vida de Evelyn é descartável. A única personagem negra entrega sua alma ao diabo para livrar a protagonista branca - e seu marido e sua filha - de uma morte e um destino trágico. E a direção explora esse acontecimento de uma maneira que mostra que a morte de Evelyn não é deve ser vista com tristeza.
A câmera mostra Evelyn morta na calçada ao lado da boneca amaldiçoada. No quarto, o casal se abraça com a filha no colo, felizes por terem se livrado da perseguição demoníaca que enfrentavam. A trilha sonora é calma e vitoriosa, como se dissesse que o público pode relaxar porque o problema foi solucionado. Mas e a Evelyn? A Mia, que recebia conselhos e presentes da dona da livraria, não se importa com a morte da amiga, que se suicidou para lhe salvar? Mesmo Evelyn tendo entregue sua alma ao diabo, o final foi feliz por Mia não ter se matado? Ao colocar uma trilha sonora que não condiz com o drama de Evelyn que se sacrificou para salvar um casal de amigos, a direção mostra que essa personagem negra era um mero acessório para os personagens que realmente são dignos de pena e preocupação: o casal branco e sua bebê. Me lembrou o fim absurdo daquele filme "O Impossível", do final feliz da família branca enquanto milhares de tailandeses continuavam sofrendo.
Quando vejo filmes como esse "Annabelle", lembro quão importantes são os filmes do Jordan Peele com seus protagonistas negros que não são diminuídos em estereótipos racistas ou alocados no roteiro de acordo com o arco narrativo de personagens brancos.
Te Prometo Anarquia
2.6 50Acho que as temáticas do filme não foram bem exploradas, como eu gostaria. Grande parte do filme, explora a relação de Miguel e Johnny com o tráfico de sangue para o narcotráfico mexicano. Vemos que a relação dos dois rapazes, envolve amizade, mas também sexo. Depois de muitos minutos, vemos que o conflito principal do filme tem a ver com o sumiço de 50 pessoas pelo narcotráfico por culpa, principalmente, do Miguel. É o momento mais tenso do filme.
Mas a relação entre Miguel e Johnny também é mediada por questões sociais.
Miguel é um menino rico, de uma família de classe média alta. Johnny é o filho da empregada da família de Miguel. Só no final do filme, vemos que Johnny vivia na rua porque a mãe de Miguel havia expulsado o filho da empregada de casa.
Quando o narcotráfico desaparece com cinquenta pessoas e os dois amantes ainda matam um comparsa, essa diferença social fica mais evidente. Johnny rouba de Miguel o dinheiro que o amante recebera do narcotráfico e continua andando de skate pelas ruas da periferia. Miguel é mandado para os Estados Unidos, com a proteção de um amigo da família. Dois destinos completamente diferentes.
Penso que o filme ganharia em profundidade se desenrolasse o conflito mais rapidamente e aprofundasse nessas questões sociais - porque, do jeito que ficou, o filme é mais um comentário superficial do que uma crítica social do México atual.
A Bruxa de Blair
3.1 1,6KPor ser o primeiro filme nesse formato, acho A Bruxa de Blair fantástico. Mas, como a fórmula já foi explorada em outras produções posteriores, vimos que teria muito mais a oferecer.
Para compará-lo a outros filmes parecidos, acho A Bruxa de Blair mais original que Cloverfield: Monstro, mas poderia ser mais bem explorado como em Creep.
Como gosto pessoal,
senti falta de cenas mais explícitas, como quando encontram bonecos de bruxaria na mata ou na sequência final dentro da casa abandonada. Poderia ser uma câmera esquecida filmando algo ameaçador, um vulto ou algo que passe diante da câmera sem os personagens perceberem. A direção prefere deixar que tudo seja formado na nossa imaginação. (Mas, como já disse, por ser um filme independente que está treinando um novo formato, acho o filme genial. É só uma questão de gosto, assistindo hoje, 21 anos depois da estreia).
A Morte Te Dá Parabéns
3.3 1,5K Assista AgoraComo se fosse um filme de terror da Disney. Muito divertido, um ótimo entretenimento. Adorei.
Os Iniciados
3.6 47 Assista AgoraMesmo que retrate uma cultura diferente da nossa, esse filme traz questões que são conhecidas por nós.
No filme, os jovens são conduzidos por um rito de passagem para a vida adulta que tem a circuncisão como acontecimento central. Não compartilho desse mesmo costume, mas, durante a vida, nós, homens, somos levados por outros ritos de passagem pra que, dentre os pares, sejamos considerados machos. Pode ser a primeira relação sexual com uma mulher (às vezes, prostituta), pode ser o alistamento obrigatório no serviço militar ou simplesmente espaços de sociabilidade onde homens interagem e, teoricamente, contribuem para a formação da virilidade dos seus pares, como na academia, futebol ou esportes em geral.
E em todos esses processos, há uma violência, física e emocional, envolvida. O filme mostra que a masculinidade/virilidade se constrói pela dor, pela violência, pela repressão: há uma série de limites impostos para que o jovem seja um homem.
Isso também é refletido nas relações cheias de violência com os homens que aparecem em cena.
O relacionamento de Xolani e Vija é violenta: parece-me que, ao reprimi-la, a homossexualidade emerge com violência. Eles trocam agressões físicas e verbais. A relação deles é vivida nas sombras, como na cena de sexo oral no meio do mato, no início da noite, quando só enxergamos a sombra dos dois homens. Não podem arriscar sua virilidade em nome de um relacionamento amoroso/sexual.
No final, a violência ganha contornos trágicos, quando precisam lançar mão de um assassinato para não perderem a credibilidade naquele meio de sociabilidade essencialmente macho/masculino.
Não sei que Kwanda queria destruir aquele costume, como ele é acusado de fazê-lo. Mas, ao perceber o conflito do seu instrutor, ele tenta alertá-lo: é um embate entre o tradicional/interior com o moderno/Johanesburgo. E, mais uma vez, a resolução desse conflito se dá pela violência, pelo assassinato.
Recomendo.
Um Estranho no Lago
3.3 465 Assista AgoraAcho que o mais interessante do filme é refletir sobre um meio de sociabilidade gay peculiar. Somos levados a esse cenário à beira do lago junto com o protagonista que já o conhece: não há estranhamento, não há julgamentos. Junto com a câmera, vamos caminhando e vemos homens nadando nus ou transando no meio da mata.
Mais adiante, essa visão é perturbada.
A observação daquele mundo é perturbada depois da chegada de um elementos externo, o inspetor Damroder. Quando ele começa sua investigação e indaga os frequentadores do lugar sobre seus relacionamentos, percebemos um incômodo. Vocês não trocam telefones? Vocês fazem sexo e ficam horas e horas juntos, mas não sabem o nome um dos outro? Vocês não saem juntos depois daqui?
Eu, um espectador gay, acostumado com o comportamento de homens gays em baladas ou em aplicativos como o Grindr, só transformei o lago numa questão quando esse cenário foi analisado por alguém desconhecido. Como explicar o mundo gay a uma pessoa externa? Algumas coisas parecem meio absurdas quando ditas em voz alta.
Um espectador hétero teria a mesma visão que eu tive ou já estaria intrigado desde o início do filme?
Sobre as questões técnicas do filme: impressionante como o diretor constrói um clima de tensão sem nenhuma trilha sonora, usando apenas uma boa composição de luz, som e enquadramentos.
Tubarão
3.7 1,2K Assista AgoraInteressante assistir esse filme em 2020, em época de pandemia.
No filme, um cientista especialista em tubarões chama a atenção para o animal que ameaça a cidade. A autoridade policial tenta seguir as recomendações do oceanógrafo, mas o prefeito da cidade acha que a economia da cidade é mais importante que a vida da população. Parece os ministros, governadores e prefeitos brasileiros tentando seguir as orientações da OMS para a contenção do covid-19, mas o presidente Bolsonaro e seus seguidores insistem em minimizar o problema e não se importam de arriscarem vidas para salvar a economia.
Uma Noite de Crime
3.2 2,2K Assista AgoraParece o Brasil sonhado pelo Bolsonaro.