Existe um grande diretor no Matt Reeves, preso em releituras de filmes franquia e universos fantasiosos que querem não ser, apesar de gostar bastante do trabalho dele em Planeta dos Macacos. Adoraria ver algo original desde o início feito por ele.
Quanto ao Batman, o tom é de tanta auto importância adulta, que eu sinto uma forte estranheza na figura de um homem fantasiado de morcego andando por aí e sendo levado a sério. Me faz sentir saudade dos filmes do Tim Burton, que abraçavam o cartunesco, o fantasioso e a excentricidade das personagens, vilões e heróis.
Acho que saturei total dessas figuras dos filmes mais recentes da DC e Marvel, que apesar das diferenças entre si, trazem sempre essa aura de seriedade e reverência, mesmo nos filmes mais coloridos da Marvel. Acho sintomático estarmos em uma era em que o subgênero "super herói" seja o que mais leva pessoas adultas ao cinema.
A impressão que dá é de uma animação construída e lapidada através de algoritmos das redes sociais e serviços de streaming. Uma superdose de quadrinhos e cultura pop. Cores, traços e movimentos na concepção dos personagens e cenários que sempre apostam no mais estridente possível. Uma superficialidade contínua nos temas e uma constante impressão de que o filme tá tentando desesperadamente arrancar serotonina do seu cérebro a todo custo ao mesmo tempo que tenta criticar o excesso de informação a que somos expostos nas redes a todo momento.
A narrativa é moldada para encaixar nas piadas, nas referências, nas pequenas irreverências e não o contrário. Não importa se grandes eventos serão solucionados por coincidências convenientes para o roteiro a cada 5 minutos, impedindo que qualquer sensação de tensão real aconteça. A overdose de "sacadinhas espertas" está lá apesar da história e não a favor dela e isso me incomodou do início ao fim do filme.
É uma pena porque no miolo existe um comentário doce e aparentemente sincero sobre o amor familiar, mesmo que apelando pro clichê da família disfuncional que briga, mas que se ama em uma história que é fácil prever o que vai acontecer do início ao fim.
Acho que a parte que mais gostei foi ver as fotos da equipe de produção e membros do elenco com as pessoas que amam nos créditos finais.
Nem imagino o pesadelo que deve ter sido decupar esse roteiro. Ao mesmo tempo, o sonho de qualquer boa atriz/ator. Eu daria os prêmios todos da temporada para os quatro.
O que mais gostei na sátira sobre negacionismo, neoliberalismo, positividade tóxica, falta de senso de coletividade e culto ao poder de Mckay é que ele entende que seu filme é fruto de uma época tão cega, burra e doente, que trabalhar com a elegância narrativa da sutileza não faria muito sentido. Ao menos se a intenção fosse causar um mínimo de impacto em quem precisa.
Essa falta de delicadeza nas mensagens do filme, faz uma rima divertida com a própria situação dos personagens de Lawrence e DiCaprio. Que mesmo literalmente gritando em rede nacional, não conseguem se fazer ouvir e muito menos compreender.
Hoje, pra bom entendedor, meia palavra talvez não baste mais.
Cheguei ao final de "Imperdoável" com um sentimento de frustração, não por mim, mas pela equipe do filme. Isso porque é possível ver que houve afeto envolvido e uma real vontade de criar uma obra com algo a dizer dentro de um tema bastante importante e pouco explorado dentro do cinema de Hollywood. E realmente, dentro da primeira hora existe um trabalho cuidadoso, um estudo de personagens, sobre uma mulher largada dentro da sociedade depois de 20 anos presa e como sua liberdade, mesmo que comprometida, movimenta significativamente a vida de pessoas ligadas a sua história.
Portanto é uma pena que o filme em sua segunda metade abandone o que até então tinha construído para abraçar uma tentativa frágil de se tornar um thriller de reviravoltas, aparentemente com a intenção boba e desnecessária de buscar redenção e uma empatia maior pela personagem de Bullock, que consegue em uma das performances mais maduras de sua carreira, estimular a reflexão sobre a existência complexa de Ruth.
"Imperdoável" é um filme que quer com muita vontade ser relevante e estimular debate, mas que parece não confiar na sua própria elaboração do roteiro e personagens, se acovardando no meio do caminho ao se direcionar para soluções menos espinhosas e eticamente mais palatáveis do que havia desenvolvido até então.
Admiro muito como Jane Campion descasca seus personagens aos poucos, partindo de estereótipos bastante humanos e nunca desinteressantes e óbvios, mas que aos poucos desabrocham em suas reais vontades, desconfortos e desejos, escondidos atrás de uma auto repressão latente. Um estudo inteligente e consciente sobre a cultura da masculinidade em qualquer época.
De metáforas óbvias à reflexões simplistas, Michel Franco constrói um filme de muito mal gosto e que presta um desserviço a qualquer um que pretende se aprofundar sobre a temática da luta de classes.
Janelle Monáe levantando da cama dando um mortal para trás e saindo do quarto de fininho com passos de dinossauro me fez rir mais do que qualquer comédia que assisti em 2020.
Acho curioso esse filme ter estado na competitiva de Cannes junto a Bacurau, ambos saindo premiados. Apesar de completamente diferente cultural e estéticamente, trata de alguns temas bastante semelhantes ao filme do Kleber Mendonça e Juliano Dornelles, colocando o protagonismo e a ação da trama nas mãos dos personagens oprimidos, que se unem vigorosamente para proteger os seus. O filme de Joon-Ho Bong é selvagem como o brasileiro e não quer saber de sutileza ao tratar do tema da desigualdade social, levando o espectador a se questionar sobre quem é o real parasita nessa história: a família miserável que usa métodos questionáveis para trabalhar na casa de outra família ridiculamente rica ou esses últimos, que vivendo em uma realidade de regalias imorais, acreditam que podem resolver todos os seus poucos problemas com uma quantia insignificante de dinheiro a mais combinada a uma dose de humilhação.
Apesar da linguagem ser outra, não consegui deixar de relacionar esse filme a Boyhood de Richard Linklater. Isso porque, apesar de ser um documentário e ter uma escala de produção um tanto mais modesta, Homem Comum partilha uma intenção semelhante: fazer uma reflexão sobre a vida e o passar do tempo através de um ser humano absolutamente comum. Ao confrontar o documentado Nilson de Paula com perguntas sobre o sentido de tudo e com um filme dinamarquês denso e reflexivo, o diretor Carlos Nader faz o papel romântico de tentar extrair do retratado algumas emoções escondidas, enquanto Nilson, nunca compreendendo exatamente o que quer dizer, responde sempre algo que não era a intenção do documentarista. Sendo assim, Nilson faz o filme. Já que obriga a todo momento Nader a mudar o foco, inclusive chamando o cineasta novamente a trabalhar em seu documentário quando já havia desistido, por não saber exatamente o que fazer com o material. Coube ao diretor entender a sensibilidade que havia em seu filme e monta-lo de acordo com as diretrizes que Nilson deixou.
Talvez o filme mais normal da carreira de Tim Burton. Ao contar a história de uma mulher que tem sua propriedade artística roubada pelo marido, Burton tenta ser fiel a biografia de Margaret Keane, homenagear seu trabalho que possui alguma similaridade e expressividade ao seu próprio, além de fazer uma crítica ao machismo enraizado na sociedade. Mesmo honesto em sua intenção e sendo incapaz de realizar um filme feio, falta ousadia para que Grandes Olhos seja algo acima da média. Atrapalha o roteiro redondinho e previsível, preso a obrigação biográfica e sem espaço para a criatividade que deveria existir em uma história sobre uma artista com um trabalho tão incomum.
Ao adaptar a peça de Sófocles, Pasolini não se limita em recriar os significados originais da obra. Trazendo parte da história para a Itália contemporânea, o diretor faz uma correlação entre o mito e a sociedade em que estava pessoalmente inserido, dando um caráter por vezes autobiográfico ao personagem central e destacando a atemporalidade da tragédia.
Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado fazem da experiência de assistir a esse filme algo próximo de uma conversa com alguém cheio de histórias impressionantes para contar, ao mesmo tempo que um álbum de fotografias é aberto como ilustração dessas passagens. Mais do que o documento da vida de Sebastião Salgado, o filme adota uma estrutura simples, permitindo que o artista esmiúce cada foto, falando sobre o contexto em que foi tirada e expondo suas sensações, impressões e o peso emocional que cada momento histórico em que estava presente traria, afetando diretamente sua vida e seus trabalhos futuros.
Cronenberg vai tão longe ao criticar o estilo de vida das celebridades da indústria de filmes de hollywood, que em certo ponto aparenta estar dirigindo uma fantasia indigesta, recheada de personagens absurdos e caricatos que, sem nenhum pudor ou limite e movidos pelo ego, demonstram estar em constante estado de alucinação pelo poder. Apesar de abraçar esse tema acertadamente sem nenhuma sutileza e contar com uma performance insana de Julianne Moore, o filme, quase contraditoriamente, é pouco imaginativo e apela para visões que geram as principais ações dos personagens, o que acaba sendo desnecessário em um mundo tão cheio de excessos.
Quando assisti ao primeiro da série, lembro que, apesar de ter achado bacana, me incomodei com o tom juvenil que impregnava todos os momentos do filme. Não que tenha problemas com isso, mas naquele caso, uma abordagem mais violenta fazia mais sentido. Afinal, era um longa sobre uma sociedade que se estruturava através da repressão e de um jogo anual onde pessoas comuns deveriam se matar até que apenas uma restasse. É ilógico que um tema como esse seja tratado com leveza, mesmo assim, na medida do possível, todos os esforços foram feitos e Jogos Vorazes é um filme com apelo adolescente. O segundo já seguiu por um caminho mais complicado, somando tópicos mais difíceis de se trabalhar e confiando mais na maturidade de seu público. Já esse terceiro quase abandona a necessidade de agradar uma faixa etária e tem mais coisas a oferecer, é o mais sci-fi e político dos três, além de usar a mídia como principal arma, tanto para a revolução, quanto para a repressão. Não é de hoje que tenho uma queda por discussões reais e contemporâneas em universos fantasiosos. Adiciona personagens interessantes e não foge, nem ameniza conflitos imprescindíveis para que a história evolua para um novo patamar. Que bom que o público envelhece e que em alguns casos, o sucesso de uma série cinematográfica acabe relaxando a rigidez dos estúdios, dando mais liberdade aos criadores.
Quando fui apresentado ao trio de mulheres absolutamente diferentes entre si no primeiro terço do filme, não cheguei ao ponto e não compreendi suas funções para a história. Suas personalidades não combinavam e não achei possível sua proximidade. A partir do início do segundo terço, Tabu mergulha em um longo flashback sobre a vida incrível de uma das personagens e é então que começa a dar sentido para o momento das três senhoras. Miguel Gomes surpreende principalmente pela mudança de linguagem. O filme que começa sonoro, logo se transforma em mudo, apenas com sons diegéticos. A paisagem opressora e escura dos apartamentos, dão lugar a paisagens amplas e iluminadas em uma fazenda na África. O diretor opta por uma ruptura brusca na narrativa, mas essa variação de espaço, tempo e estilo não só se fundamenta, como é essencial para a criação da personagem central.
Uma característica que me faz gostar bastante do Scorsese é que, ao contrário de outros diretores que amo, suas marcas registradas são sutis. Não acho tão fácil identificar um filme seu sem ler o nome nos créditos. Não tão fácil, como, por exemplo, um de Tarantino, Jeunet, Hitchcock, Polanski, Trier ou vários outros. Isso não quer dizer que o acho melhor ou pior, mas sim que o torna um grande diretor diferente, que procura moldar seu estilo de acordo com o filme e não o contrário. Dito isso, Cabo do Medo, apesar de ter claras referências aos filmes de Hitchcock e ter algumas passagens marcantes que só poderiam ser realizadas por um diretor de calibre, soa, no geral, como um filme moldado para entreter em um chuvoso sábado a noite, com pizza! Longe de ser um demérito, alguém precisa pensar em dias assim. É divertido vê-lo dirigir um roteiro, que apesar de bem correto, se encaixa em uma formula, desde a época em que foi escrito, já bem batida de filmes de suspense que começam com a apresentação do problema, intensificam o conflito durante toda a narrativa e terminam em um ápice de confronto.
A Mentira é inofensivo e bonitinho demais. Acho muito difícil escrever sobre um filme assim. Que não desperta nenhuma emoção mais arrebatadora, em sentido nenhum, mas não deixa de ser agradável e espertinho o suficiente para te deixar satisfeito. É o típico filme “para passar o tempo”. Não sou fã dessa expressão, já que gosto de filmes e do meu tempo também, mas acho que ilustra bem. Acaba se portando como uma evolução dos filmes do mesmo gênero, e busca referências das últimas décadas, começando pelos anos 80 com John Hughes e as menções descaradas a filmes como Gatinhas e Gatões, Clube dos Cinco e Curtindo a Vida Adoidado. Passa pelos estereótipos de As Patricinhas de Beverly Hills e seus derivados dos anos 90 e traz um humor mais moderno, irônico e muito sutilmente subversivo de filmes dos anos 2000, como o visto em Meninas Malvadas. Sendo assim, A Mentira funciona como um tributo, ao mesmo tempo em que tenta atualizar o gênero.
Típico filme que passa batido. Não é de todo mal, mas é oco e sem personalidade. Usando o Alzheimer em fase inicial de uma senhora como ponto de partida, o longa cria a desculpa da equipe de filmagem que vai fazer um trabalho de doutorado, acompanhando a evolução da doença na casa da mulher. Não existe, em qualquer momento, uma real necessidade ou sentido para a existência desses personagens, já que não fazem a menor diferença para a trama. O único objetivo de suas presenças é a vontade do diretor Adam Robitel em fazer um terror found footage, mesmo que para isso sacrifique qualquer efeito que o filme poderia causar. Com um início tão problemático, fica difícil embarcar no que é proposto, e quando a personagem principal começa a dar indícios de que não é afetada apenas pela doença, já sabemos o que virá a seguir. Sustos bobos, pulos na câmera, correria no escuro com lanternas e todos os clichês que o subgênero consolidou.
Marion Cotillard tem mais uma performance fortíssima ao viver uma mulher que, saindo de uma depressão, tem que lutar para convencer seus parceiros de trabalho a literalmente votar por sua permanência, abrindo mão de um abono salarial. Filmado com simplicidade e naturalismo, os irmão Dardenne contam com a força do seu elenco para o sucesso do filme e obtêm esse êxito principalmente através do desenvolvimento bem cuidado de Cotillard, que nitidamente ainda doente e sob um sutil efeito de medicamentos, busca forças para lidar com situações complicadas, colocando-se, contra sua vontade, em uma posição de inferioridade perante mais de uma dezena de pessoas. O incomodo permanente da personagem é tocante e ver a atriz desenvolver esse processo imposto a ela é o que mais engrandece sua interpretação. Ao confronta-la com vários colegas de trabalho diferentes, os diretores tem a oportunidade de trazer uma discussão sobre empatia e valores, escapando da vilanização e santificação de seus coadjuvantes.
Uncharted: Fora do Mapa
3.1 450 Assista AgoraTransformaram Uncharted no filme fetiche do hétero top. Bom pra ver num domingão, depois de encher o bucho de carne e cerveja. Não é um elogio.
Batman
4.0 1,9K Assista AgoraExiste um grande diretor no Matt Reeves, preso em releituras de filmes franquia e universos fantasiosos que querem não ser, apesar de gostar bastante do trabalho dele em Planeta dos Macacos. Adoraria ver algo original desde o início feito por ele.
Quanto ao Batman, o tom é de tanta auto importância adulta, que eu sinto uma forte estranheza na figura de um homem fantasiado de morcego andando por aí e sendo levado a sério. Me faz sentir saudade dos filmes do Tim Burton, que abraçavam o cartunesco, o fantasioso e a excentricidade das personagens, vilões e heróis.
Acho que saturei total dessas figuras dos filmes mais recentes da DC e Marvel, que apesar das diferenças entre si, trazem sempre essa aura de seriedade e reverência, mesmo nos filmes mais coloridos da Marvel. Acho sintomático estarmos em uma era em que o subgênero "super herói" seja o que mais leva pessoas adultas ao cinema.
A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas
4.0 494A impressão que dá é de uma animação construída e lapidada através de algoritmos das redes sociais e serviços de streaming. Uma superdose de quadrinhos e cultura pop. Cores, traços e movimentos na concepção dos personagens e cenários que sempre apostam no mais estridente possível. Uma superficialidade contínua nos temas e uma constante impressão de que o filme tá tentando desesperadamente arrancar serotonina do seu cérebro a todo custo ao mesmo tempo que tenta criticar o excesso de informação a que somos expostos nas redes a todo momento.
A narrativa é moldada para encaixar nas piadas, nas referências, nas pequenas irreverências e não o contrário. Não importa se grandes eventos serão solucionados por coincidências convenientes para o roteiro a cada 5 minutos, impedindo que qualquer sensação de tensão real aconteça. A overdose de "sacadinhas espertas" está lá apesar da história e não a favor dela e isso me incomodou do início ao fim do filme.
É uma pena porque no miolo existe um comentário doce e aparentemente sincero sobre o amor familiar, mesmo que apelando pro clichê da família disfuncional que briga, mas que se ama em uma história que é fácil prever o que vai acontecer do início ao fim.
Acho que a parte que mais gostei foi ver as fotos da equipe de produção e membros do elenco com as pessoas que amam nos créditos finais.
King Richard: Criando Campeãs
3.8 409Falas emocionais com olhos marejados e uma grande dose de conversa neoliberal meritocrata.
Mass
4.0 70 Assista AgoraNem imagino o pesadelo que deve ter sido decupar esse roteiro. Ao mesmo tempo, o sonho de qualquer boa atriz/ator. Eu daria os prêmios todos da temporada para os quatro.
Não Olhe para Cima
3.7 1,9K Assista AgoraO que mais gostei na sátira sobre negacionismo, neoliberalismo, positividade tóxica, falta de senso de coletividade e culto ao poder de Mckay é que ele entende que seu filme é fruto de uma época tão cega, burra e doente, que trabalhar com a elegância narrativa da sutileza não faria muito sentido. Ao menos se a intenção fosse causar um mínimo de impacto em quem precisa.
Essa falta de delicadeza nas mensagens do filme, faz uma rima divertida com a própria situação dos personagens de Lawrence e DiCaprio. Que mesmo literalmente gritando em rede nacional, não conseguem se fazer ouvir e muito menos compreender.
Hoje, pra bom entendedor, meia palavra talvez não baste mais.
Imperdoável
3.6 521 Assista AgoraCheguei ao final de "Imperdoável" com um sentimento de frustração, não por mim, mas pela equipe do filme. Isso porque é possível ver que houve afeto envolvido e uma real vontade de criar uma obra com algo a dizer dentro de um tema bastante importante e pouco explorado dentro do cinema de Hollywood. E realmente, dentro da primeira hora existe um trabalho cuidadoso, um estudo de personagens, sobre uma mulher largada dentro da sociedade depois de 20 anos presa e como sua liberdade, mesmo que comprometida, movimenta significativamente a vida de pessoas ligadas a sua história.
Portanto é uma pena que o filme em sua segunda metade abandone o que até então tinha construído para abraçar uma tentativa frágil de se tornar um thriller de reviravoltas, aparentemente com a intenção boba e desnecessária de buscar redenção e uma empatia maior pela personagem de Bullock, que consegue em uma das performances mais maduras de sua carreira, estimular a reflexão sobre a existência complexa de Ruth.
"Imperdoável" é um filme que quer com muita vontade ser relevante e estimular debate, mas que parece não confiar na sua própria elaboração do roteiro e personagens, se acovardando no meio do caminho ao se direcionar para soluções menos espinhosas e eticamente mais palatáveis do que havia desenvolvido até então.
Ataque dos Cães
3.7 933Admiro muito como Jane Campion descasca seus personagens aos poucos, partindo de estereótipos bastante humanos e nunca desinteressantes e óbvios, mas que aos poucos desabrocham em suas reais vontades, desconfortos e desejos, escondidos atrás de uma auto repressão latente. Um estudo inteligente e consciente sobre a cultura da masculinidade em qualquer época.
Nova Ordem
3.0 45De metáforas óbvias à reflexões simplistas, Michel Franco constrói um filme de muito mal gosto e que presta um desserviço a qualquer um que pretende se aprofundar sobre a temática da luta de classes.
Mank
3.2 462 Assista AgoraBonito e tecnicamente cuidadoso, mas um exercício de ego frágil e insosso.
A Escolhida
3.5 291Janelle Monáe levantando da cama dando um mortal para trás e saindo do quarto de fininho com passos de dinossauro me fez rir mais do que qualquer comédia que assisti em 2020.
Entre Facas e Segredos
4.0 1,5K Assista AgoraA melhor adaptação de um livro da Agatha Christie que ela nunca escreveu.
Parasita
4.5 3,6K Assista AgoraAcho curioso esse filme ter estado na competitiva de Cannes junto a Bacurau, ambos saindo premiados. Apesar de completamente diferente cultural e estéticamente, trata de alguns temas bastante semelhantes ao filme do Kleber Mendonça e Juliano Dornelles, colocando o protagonismo e a ação da trama nas mãos dos personagens oprimidos, que se unem vigorosamente para proteger os seus. O filme de Joon-Ho Bong é selvagem como o brasileiro e não quer saber de sutileza ao tratar do tema da desigualdade social, levando o espectador a se questionar sobre quem é o real parasita nessa história: a família miserável que usa métodos questionáveis para trabalhar na casa de outra família ridiculamente rica ou esses últimos, que vivendo em uma realidade de regalias imorais, acreditam que podem resolver todos os seus poucos problemas com uma quantia insignificante de dinheiro a mais combinada a uma dose de humilhação.
Homem Comum
3.7 14Apesar da linguagem ser outra, não consegui deixar de relacionar esse filme a Boyhood de Richard Linklater. Isso porque, apesar de ser um documentário e ter uma escala de produção um tanto mais modesta, Homem Comum partilha uma intenção semelhante: fazer uma reflexão sobre a vida e o passar do tempo através de um ser humano absolutamente comum. Ao confrontar o documentado Nilson de Paula com perguntas sobre o sentido de tudo e com um filme dinamarquês denso e reflexivo, o diretor Carlos Nader faz o papel romântico de tentar extrair do retratado algumas emoções escondidas, enquanto Nilson, nunca compreendendo exatamente o que quer dizer, responde sempre algo que não era a intenção do documentarista. Sendo assim, Nilson faz o filme. Já que obriga a todo momento Nader a mudar o foco, inclusive chamando o cineasta novamente a trabalhar em seu documentário quando já havia desistido, por não saber exatamente o que fazer com o material. Coube ao diretor entender a sensibilidade que havia em seu filme e monta-lo de acordo com as diretrizes que Nilson deixou.
Grandes Olhos
3.8 1,1K Assista grátisTalvez o filme mais normal da carreira de Tim Burton. Ao contar a história de uma mulher que tem sua propriedade artística roubada pelo marido, Burton tenta ser fiel a biografia de Margaret Keane, homenagear seu trabalho que possui alguma similaridade e expressividade ao seu próprio, além de fazer uma crítica ao machismo enraizado na sociedade. Mesmo honesto em sua intenção e sendo incapaz de realizar um filme feio, falta ousadia para que Grandes Olhos seja algo acima da média. Atrapalha o roteiro redondinho e previsível, preso a obrigação biográfica e sem espaço para a criatividade que deveria existir em uma história sobre uma artista com um trabalho tão incomum.
Édipo Rei
3.8 54Ao adaptar a peça de Sófocles, Pasolini não se limita em recriar os significados originais da obra. Trazendo parte da história para a Itália contemporânea, o diretor faz uma correlação entre o mito e a sociedade em que estava pessoalmente inserido, dando um caráter por vezes autobiográfico ao personagem central e destacando a atemporalidade da tragédia.
O Sal da Terra
4.6 450 Assista AgoraWim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado fazem da experiência de assistir a esse filme algo próximo de uma conversa com alguém cheio de histórias impressionantes para contar, ao mesmo tempo que um álbum de fotografias é aberto como ilustração dessas passagens. Mais do que o documento da vida de Sebastião Salgado, o filme adota uma estrutura simples, permitindo que o artista esmiúce cada foto, falando sobre o contexto em que foi tirada e expondo suas sensações, impressões e o peso emocional que cada momento histórico em que estava presente traria, afetando diretamente sua vida e seus trabalhos futuros.
Mapas para as Estrelas
3.3 478 Assista AgoraCronenberg vai tão longe ao criticar o estilo de vida das celebridades da indústria de filmes de hollywood, que em certo ponto aparenta estar dirigindo uma fantasia indigesta, recheada de personagens absurdos e caricatos que, sem nenhum pudor ou limite e movidos pelo ego, demonstram estar em constante estado de alucinação pelo poder. Apesar de abraçar esse tema acertadamente sem nenhuma sutileza e contar com uma performance insana de Julianne Moore, o filme, quase contraditoriamente, é pouco imaginativo e apela para visões que geram as principais ações dos personagens, o que acaba sendo desnecessário em um mundo tão cheio de excessos.
Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1
3.8 2,4K Assista AgoraQuando assisti ao primeiro da série, lembro que, apesar de ter achado bacana, me incomodei com o tom juvenil que impregnava todos os momentos do filme. Não que tenha problemas com isso, mas naquele caso, uma abordagem mais violenta fazia mais sentido. Afinal, era um longa sobre uma sociedade que se estruturava através da repressão e de um jogo anual onde pessoas comuns deveriam se matar até que apenas uma restasse. É ilógico que um tema como esse seja tratado com leveza, mesmo assim, na medida do possível, todos os esforços foram feitos e Jogos Vorazes é um filme com apelo adolescente. O segundo já seguiu por um caminho mais complicado, somando tópicos mais difíceis de se trabalhar e confiando mais na maturidade de seu público. Já esse terceiro quase abandona a necessidade de agradar uma faixa etária e tem mais coisas a oferecer, é o mais sci-fi e político dos três, além de usar a mídia como principal arma, tanto para a revolução, quanto para a repressão. Não é de hoje que tenho uma queda por discussões reais e contemporâneas em universos fantasiosos. Adiciona personagens interessantes e não foge, nem ameniza conflitos imprescindíveis para que a história evolua para um novo patamar. Que bom que o público envelhece e que em alguns casos, o sucesso de uma série cinematográfica acabe relaxando a rigidez dos estúdios, dando mais liberdade aos criadores.
Tabu
4.1 110 Assista AgoraQuando fui apresentado ao trio de mulheres absolutamente diferentes entre si no primeiro terço do filme, não cheguei ao ponto e não compreendi suas funções para a história. Suas personalidades não combinavam e não achei possível sua proximidade. A partir do início do segundo terço, Tabu mergulha em um longo flashback sobre a vida incrível de uma das personagens e é então que começa a dar sentido para o momento das três senhoras. Miguel Gomes surpreende principalmente pela mudança de linguagem. O filme que começa sonoro, logo se transforma em mudo, apenas com sons diegéticos. A paisagem opressora e escura dos apartamentos, dão lugar a paisagens amplas e iluminadas em uma fazenda na África. O diretor opta por uma ruptura brusca na narrativa, mas essa variação de espaço, tempo e estilo não só se fundamenta, como é essencial para a criação da personagem central.
Cabo do Medo
3.8 907 Assista AgoraUma característica que me faz gostar bastante do Scorsese é que, ao contrário de outros diretores que amo, suas marcas registradas são sutis. Não acho tão fácil identificar um filme seu sem ler o nome nos créditos. Não tão fácil, como, por exemplo, um de Tarantino, Jeunet, Hitchcock, Polanski, Trier ou vários outros. Isso não quer dizer que o acho melhor ou pior, mas sim que o torna um grande diretor diferente, que procura moldar seu estilo de acordo com o filme e não o contrário. Dito isso, Cabo do Medo, apesar de ter claras referências aos filmes de Hitchcock e ter algumas passagens marcantes que só poderiam ser realizadas por um diretor de calibre, soa, no geral, como um filme moldado para entreter em um chuvoso sábado a noite, com pizza! Longe de ser um demérito, alguém precisa pensar em dias assim. É divertido vê-lo dirigir um roteiro, que apesar de bem correto, se encaixa em uma formula, desde a época em que foi escrito, já bem batida de filmes de suspense que começam com a apresentação do problema, intensificam o conflito durante toda a narrativa e terminam em um ápice de confronto.
A Mentira
3.6 2,2K Assista AgoraA Mentira é inofensivo e bonitinho demais. Acho muito difícil escrever sobre um filme assim. Que não desperta nenhuma emoção mais arrebatadora, em sentido nenhum, mas não deixa de ser agradável e espertinho o suficiente para te deixar satisfeito. É o típico filme “para passar o tempo”. Não sou fã dessa expressão, já que gosto de filmes e do meu tempo também, mas acho que ilustra bem. Acaba se portando como uma evolução dos filmes do mesmo gênero, e busca referências das últimas décadas, começando pelos anos 80 com John Hughes e as menções descaradas a filmes como Gatinhas e Gatões, Clube dos Cinco e Curtindo a Vida Adoidado. Passa pelos estereótipos de As Patricinhas de Beverly Hills e seus derivados dos anos 90 e traz um humor mais moderno, irônico e muito sutilmente subversivo de filmes dos anos 2000, como o visto em Meninas Malvadas. Sendo assim, A Mentira funciona como um tributo, ao mesmo tempo em que tenta atualizar o gênero.
A Possessão de Deborah Logan
3.0 369 Assista AgoraTípico filme que passa batido. Não é de todo mal, mas é oco e sem personalidade. Usando o Alzheimer em fase inicial de uma senhora como ponto de partida, o longa cria a desculpa da equipe de filmagem que vai fazer um trabalho de doutorado, acompanhando a evolução da doença na casa da mulher. Não existe, em qualquer momento, uma real necessidade ou sentido para a existência desses personagens, já que não fazem a menor diferença para a trama. O único objetivo de suas presenças é a vontade do diretor Adam Robitel em fazer um terror found footage, mesmo que para isso sacrifique qualquer efeito que o filme poderia causar. Com um início tão problemático, fica difícil embarcar no que é proposto, e quando a personagem principal começa a dar indícios de que não é afetada apenas pela doença, já sabemos o que virá a seguir. Sustos bobos, pulos na câmera, correria no escuro com lanternas e todos os clichês que o subgênero consolidou.
Dois Dias, Uma Noite
3.9 542Marion Cotillard tem mais uma performance fortíssima ao viver uma mulher que, saindo de uma depressão, tem que lutar para convencer seus parceiros de trabalho a literalmente votar por sua permanência, abrindo mão de um abono salarial. Filmado com simplicidade e naturalismo, os irmão Dardenne contam com a força do seu elenco para o sucesso do filme e obtêm esse êxito principalmente através do desenvolvimento bem cuidado de Cotillard, que nitidamente ainda doente e sob um sutil efeito de medicamentos, busca forças para lidar com situações complicadas, colocando-se, contra sua vontade, em uma posição de inferioridade perante mais de uma dezena de pessoas. O incomodo permanente da personagem é tocante e ver a atriz desenvolver esse processo imposto a ela é o que mais engrandece sua interpretação. Ao confronta-la com vários colegas de trabalho diferentes, os diretores tem a oportunidade de trazer uma discussão sobre empatia e valores, escapando da vilanização e santificação de seus coadjuvantes.