Fjögur Píanó definitivamente é o relato visual que melhor me descreveu e representou entre tudo que já pude assistir. Tem sentido em todo lugar. Em todo lugar mesmo. O próprio sentido de sentir, o sentido não dito, o dito, o visto, o não visto, o gritado, o tocado... Já perdi a conta de quantas vezes vi e revi as mesmas cenas sem sentir um único pingo de cansaço.
Amor doentio, aditivo, vicioso, destrutivo, culposo, dependente, arrependido, mas, acima de tudo, amor. O amor que alastra todas suas características mutuamente a sua maneira. Os machucados, os pirulitos (digo até como a própria droga que pode o ser), as contagens nos cortes, as expressões de quem sofre, os socos, a raiva, os vidros quebrados... Tudo ao lado de dança e borboletas; de delicadeza, de sutileza, de paixão, de carinho, de preocupação, de cuidado. É o retrato do amor em seu maior nível de pureza. O amor real que não só é bom, mas também mal. Ele está para ela, assim como ela está para ele. Ele é ela, ela é ele. Um ciclo. Um ciclo vicioso onde quanto mais se tem, mais se quer: doentio. Cito aqui "Candy", de Neil Armfield - que muito associo, do meu jeito, a Fjögur: "When you can stop you don't want to, and when you want to stop, you can't."
Apesar da cena do estacionamento (ou mesmo quando os dois caras surgem e os levam até lá) não me agradar e me incomodar, conversando com uma amiga a respeito, chegamos a uma bela e satisfatória conclusão: os dois simbolizam nada menos que o acaso. E o acaso não é pra se gostar. Ele só existe, não precisa de lógica, não é opcional. O acaso das drogas, que te cega e te leva sem muito esforço; que te tira do controle e te carrega para uma nova "dimensão" - dai o projetor, que só reforça o fato daquilo tudo ser uma mera projeção, uma "viagem", falso. E então eles retornam ao quarto, onde tudo ainda é lindo, onde o amor é latente, onde tudo que existe é o que se faz presente, onde o passado não tem vez. Até finalmente terem a recaída. O reforço ao vício, o sufoco de se ver preso mais uma vez no mesmo looping de situações, o desgaste, a noção da repetição e de se ver incapaz de impedir, as borboletas enclausuradas nos porta-retratos - retratos de si mesmos.
Eu poderia refletir infinitamente a respeito de tudo que suguei entre minhas idas e vindas com esse curta, mas nada melhor que o próprio fazer por si só pra cada um a sua maneira.
Acho que um dos maiores desejos que eu tenho até agora é o de ter como assistir esse filme. Achei mancada o ingresso custar uma passagem de ida e volta pra Tóquio + a entrada pro museu. Achei muita mancada! Achei mais mancada ainda fazer um personagem que lembra tanto o Howl e eu não ter como assistir.
Sigur Rós: Fjögur píanó
4.4 62Fjögur Píanó definitivamente é o relato visual que melhor me descreveu e representou entre tudo que já pude assistir. Tem sentido em todo lugar. Em todo lugar mesmo. O próprio sentido de sentir, o sentido não dito, o dito, o visto, o não visto, o gritado, o tocado... Já perdi a conta de quantas vezes vi e revi as mesmas cenas sem sentir um único pingo de cansaço.
Amor doentio, aditivo, vicioso, destrutivo, culposo, dependente, arrependido, mas, acima de tudo, amor. O amor que alastra todas suas características mutuamente a sua maneira. Os machucados, os pirulitos (digo até como a própria droga que pode o ser), as contagens nos cortes, as expressões de quem sofre, os socos, a raiva, os vidros quebrados... Tudo ao lado de dança e borboletas; de delicadeza, de sutileza, de paixão, de carinho, de preocupação, de cuidado. É o retrato do amor em seu maior nível de pureza. O amor real que não só é bom, mas também mal. Ele está para ela, assim como ela está para ele. Ele é ela, ela é ele. Um ciclo. Um ciclo vicioso onde quanto mais se tem, mais se quer: doentio. Cito aqui "Candy", de Neil Armfield - que muito associo, do meu jeito, a Fjögur: "When you can stop you don't want to, and when you want to stop, you can't."
Apesar da cena do estacionamento (ou mesmo quando os dois caras surgem e os levam até lá) não me agradar e me incomodar, conversando com uma amiga a respeito, chegamos a uma bela e satisfatória conclusão: os dois simbolizam nada menos que o acaso. E o acaso não é pra se gostar. Ele só existe, não precisa de lógica, não é opcional. O acaso das drogas, que te cega e te leva sem muito esforço; que te tira do controle e te carrega para uma nova "dimensão" - dai o projetor, que só reforça o fato daquilo tudo ser uma mera projeção, uma "viagem", falso. E então eles retornam ao quarto, onde tudo ainda é lindo, onde o amor é latente, onde tudo que existe é o que se faz presente, onde o passado não tem vez. Até finalmente terem a recaída. O reforço ao vício, o sufoco de se ver preso mais uma vez no mesmo looping de situações, o desgaste, a noção da repetição e de se ver incapaz de impedir, as borboletas enclausuradas nos porta-retratos - retratos de si mesmos.
Eu poderia refletir infinitamente a respeito de tudo que suguei entre minhas idas e vindas com esse curta, mas nada melhor que o próprio fazer por si só pra cada um a sua maneira.
Hoshi wo Katta Hi
4.4 22Acho que um dos maiores desejos que eu tenho até agora é o de ter como assistir esse filme. Achei mancada o ingresso custar uma passagem de ida e volta pra Tóquio + a entrada pro museu. Achei muita mancada! Achei mais mancada ainda fazer um personagem que lembra tanto o Howl e eu não ter como assistir.