Penso que, ao contrário do que pensava Heidegger no vertiginoso e derradeiro ser-para-a-morte, há aqueles que nessa perspectiva tornam-se ser-para-a-vida, como fala Proust, aquele ou aquela que vai em direção ao fim de costas. É o caso de Watanabe e da história que conta Kurosawa. Mas, para quem fica com a morte, o caso é distinto: ela revela a vacuidade da nossa existência no cotidiano.
Pudia ser Brasil 2018 sem muitas diferenças. Destaque para a postura do próprio Pasolini, com suas questões que desarmaram especialmente a classe "intelectual" da época.
Aquém de toda "questão política" do filme, eu gostaria de marcar uma única coisa: a encenação das mãos. usualmente, quando não a paisagem ou os movéis (cadeiras principalmente - aliás umas das cenas mais bonitas é a das cadeiras na igreja), o que aparece em cena, primeiramente, são as mãos: mãos em movimento, mãos em seus afazeres, mãos descansando. Passa-se, como na cena do ônibus, de uma mão a outra: do motorista aos passageiros que estão descendo, aos que estão sentados, aos que estão de pé. A câmera geralmente abaixo do ombro só mostra o rosto, quando as pessoas sentam ou descem de alguma maneira. Há toda uma plasticidade das mãos em cena, que estão "aquém" da política, mas não são menos dignas de encenação.
Sobre um solo fascista, as estrelas não florescem. Precisou um socialista para enxergá-las. Fotografia sempre magnífica. As personagens, todas caricatas, coisa de quem fantasia a memória.
A arte é uma ferida que fala na/pela mão do artista. Não há como querer se desfazer dessa "ferida". Cocteau põe em ação muitos elementos que obsedam a arte desde seu início: a obsessão por dar vida à obra (Pigmalião), a própria questão do duplo e do espelho ("que deveria refletir um pouco mais antes de devolver uma imagem") e artista como contemplador do mundo que o circunda, por exemplo. O surrealismo do autor serve ao propósito de encarnar essas questões e oferecer uma saída sempre por uma vida de morte. No fim, o artista é consumido na medida em que consome as matérias. Ele caí, como caí a torre no final. Não para a morte, mas para a imortalidade, ainda que tediosa, do por vir que ele engendra.
Todo mundo deseja um final como novela da globo, no qual tudo se explica, as coisas são postas nos seus devidos lugares. Subitamente descobre-se quem era o assassino todo o tempo, quem roubou quem, quem era filho de quem e daí por diante. Quando uma obra não se presta a tal trabalho, por que sua função não é a dos finais felizes e fechados, nunca foi, então a incompreensão surge como mácula que diminiu a "qualidade" da obra. Se há algum desejo de entender o que se passa, o exercício é simples: pensar, pesquisar, olhar mais atentamente ao que se passa, sem desperdiçar seja o que for. Eu também fiquei sem compreender a "razão".
Aceitei apenas o fato, como princípio de partida, de que o rapaz possuia algum tipo de poder para realizar o que realizou. Sem problemas. A arte tem tal liberdade. Não muito tempo depois do começo, já sabemos a motivação real e o desejo de vingança. A tensão está presente desde sempre com a trilha sonora. Cada personagem parece flutuar numa bolha imóvel ao qual o outro não acessa, a não ser pela linguagem sempre sofrível e apática. Mas, isso não é o suficiente para tentar compreender a obra. Isso sequer explica o título. Todavia, talvez por sorte, percebi uma coisa que, sem considerar como gratuidade do dito, possa ajudar a ampliar o entendimento, senão a apreensão. Quando Steven vai falar com o diretor da escola dos meninos, o homem "revela" que a filha dele havia escrito um trabalho excelente sobre "Ifigência". Informação aparentemente desnecessária. Porém, esse mero fato, possibilita escrever a obra de Lanthimos numa tradição que vai da tragédia de Eurípedes, passando por Racine e desaguando em Michel Azama. Isto é, nada muito simples. A partir dessa possibilidade, é possível entender, por exemplo, o título: o "cervo sagrado", na peça euripidiana, é o animal que Agamemnon mata e depois vangloria-se, irritando profundamente a deusa Artêmis, quem exige do rei o sacrifício de sua filha Ifigênia. O "sacrifício" aparece como o operador, na peça, da relação da decisão, no espaço do mito, do rei. Decidir não vem sem consequência. E tomar uma decisão entre duas possibilidades terríveis, ainda que em nome da glória, não a torna menos selvagem. Além disso, aquele a quem cabe a decisão é o verdadeiro culpado, mas não é quem será punido. O espaço dessas tragédias é também o espaço das erínias, as deusas da justiça e da vingança. Poderíamos pensar no rapaz como uma encarnação dessas erínias (de onde vem seu poder). Não há razão ("logos", que também pode ser traduzido como "discurso racional") que convença uma erínia quando está em busca de justiça. Não é a toa que ele fala constantemente em "equilibrio" do universo. Enredado nesse esquema, não é de se estranhar que o filme adiquira um aspecto irreal, como se transportado para um lugar mítico, fechado na casa do casal. Da obra de Racine, talvez, provenha o drama singular de cada um frente ao "sacrifício". Obviamente que eles não acreditam estar respondendo a um chamado do universo para reestabelecer o destino. Pelo contrário, na proximidade do fim certo, já previsto pela "erínia", eles começam a querem mostrar seu valor, em nome do desejo de viver, sem muita sinceridade, não se importando se outro membro da família morrerá. Deixar ao acaso a decisão, como se faz no final é uma forma de "democracia". Poderíamos pensar que, em alguma medida, frente à necessidade do sacrfício (forma de justiça, forma de governo antiga) responde o acaso (que na Grécia era a forma mais radical e própria da democracia).
Um filme herdeiro da forma balzaquiana de contar suas histórias. Os diálogos, com frases soberbas, são sempre interessantes, cheios de ironia. Acredito que esse seja o modo peculiar de fazer comédia dos franceses. A iminência da guerra, talvez, seja um elemento a soar nas camadas do filme, sem contar a xenofobia latente que só não atinge Christine claramente porque ela está casada com um homem muito rico. O dinheiro a protege. Mas, a ideia de que "mãos estrangeiras podem acabar com o herói do progresso" deixa isso evidente.
A ilha é uma figura antiga, para a fantasia(peter pan, por exemplo), para o poder mítico que ainda reina (Calipso, por exemplo), para a solidão (Robinson Crusoé, por exemplo), para a utopia (Paraíso terrestre, natureza intocada pelo homem, por exemplo), para o conhecimento (como Atlântida, por exemplo). Acredito que essa polifonia da ilha não escapa ao filme, ainda que todas estejam enredadas no realismo de Rosselini. É a fantasia do guerreiro-pescador que sonha em voltar pra sua casa, ou mesmo o instante de delírio da mulher que decide casar com ele para livrar-se do campo. É o poder mítico que reina com o vulcão em atividade, e do santo que supostamente teria impedido o vulcão de destruir a vila. É a solidão de Ingrid no meio daquela terra desolada, que fala para quem não consegue entender. Fala demais, palavras demais (como a literatura). É a utopia, uma utopia fraturada, todavia, de quem ainda sonha sair dali, da ilha para o continente, ainda que já conheça o resultado. E o conhecimento que encontram é "apenas" o do desejo que irrompe com violência, seja do vulcão, seja dos peixes que se debatem a fim de escaparem da morte quase certa. Tal conhecimento é o excesso que desperta a mulher para fugir, porque sabe estar cercada por esse desejo masculino que a isola, que a condena à ilha.
Não se pode imputar o desvalor de uma forma de vida simplesmente pela possibilidade de destruição. Mona afirmou isso em cada oportunidade que teve, mesmo quando se viu abandonada. A liberdade não está na simples "crítica" do sistema, a fim de encontrar outros meios. Ela está na destituição desse próprio sistema. Nesse sentido, Mona é, de fato, revolucionária na sua solidão, ainda que seja completamente desprovida de poder. O filósofo, bem como a professora, são os personagens mais sintomáticos da história. Reconhecem as macroestruturas que governam. Todavia, um tenta encontrar um "meio termo", a outra está assujeitada às convenções. A moça, com um nível de estudo razoável, mas longe da pompa universitária dos grandes especialistas é quem mais mostra que as formas de vidas possíveis passam por ensaios na vida do corpo. Ele é a mensagem, é a forma da '"coragem da verdade", a verdade que encarna e é a sua própria forma sendo vivida. Agnes Varda é um gênio da alteridade para colocar tudo isso, e certamente um bocado mais, em cena. Sua arte é a arte da potência, a arte em potência.
Um filme difícil. A princípio, a técnica se sobrepõe ao "conteúdo", por assim dizer. Mas, pensando um pouco mais, o princípio do filme poderia remeter ao próprio princípio do cinema, ou indo mais longe, da própria possibilidade de perceber as coisas na infância: a imagem mistura-se à carne, imagem e toque são a mesma coisa, enquanto na "descida" para a terra, ou seja, para a convivência com o outros, elas vão se dividindo, estabilizando-se, adquirindo sentidos por nós mesmos atribuídos. Parece que o "comer o fruto proibido do conhecimento" segundo Chytilová significa, simplesmente, viver entre outros, abandonar a si mesmo em direção ao outro. Isso é a queda. Há quem diga tratar-se do egoísmo (C.S.Lewis) como o porquê da "queda". Porém, o abrir-se aos outros aqui é o que surge como a "real" razão. Na convivência (o mal) é que cada um descobre outras possibilidades de viver, de relacionar-se. O paradoxal é que isso se torna um "mal" porque o ponto de partida é cristão (o casamento), desde o princípio, inclusive do filme. A obra passa pela tentativa de desconstrução dessa forma, tendo ao fim o cometimento do "pecado" (cristão). Apesar dos entremeios da obra estarem condicionadas às experimentações, inclusive corporais, o filme retrocendo ao final em que Eva retornaria à Adão arrependida, enquanto ele que já havia flertado muito não demonstra o mesmo, traí a própria obra. O filme parece fugir o tempo inteiro dessa estrutura para encerrar-se nele. Isso não sucede em "As pequenas margaridas", por exemplo. Aquele filme é verdadeiramente liberador, libertador, não apenas na forma.
A maioria foca muito na "trama", por assim dizer. Se tomar o mote da obra que dá nome ao filme, é possível estender "ao rés do chão" outra questão: parece ser preciso a "institucionalização" da bondade para que esses homens brancos tornem-se bons. Ninguém ajuda aqueles que estão habitando as praças e vielas da cidade, perambulando pelos shoppins e lanchonetes em busca de alimento. Em contrapartida, numa cena, temos uma moça perguntando "gostaria de salvar uma vida?", provavelmente representante de uma ONG qualquer. A cena é alternada com um senhor domindo ali próximo. De que vida ela está falando? A bondade, como o quadrado, parece reduzida a uma abstração, ou ainda, uma "forma vazia em busca de seu conteúdo" (a se pensar nessa medida, por exemplo, no próprio museu como instituição [forma] que está sempre em busca de novas obras [conteúdo]). As obras, no fim, sequer respondem a esse problema, ou pior, como acontece com a pergunta que a jornalista faz logo no início sobre a obra de Robert Smithson. O gerente do museu simplesmente não sabe responder à obra do artista. Apesar do problema central estar na procura de uma forma de promoção das obras (a diferença entre arte e publicidade levantada em algum momento), recaem sobre um princípio de partida (adotado pela agência de comunicaçao): a de que o espectador do museu tem o mesmo tempo que o espectador das mídias sociais. Se se considerar a veracidade desse "princípio", de fato a arte fica reduzida a um engodo; qualquer arte. Podemos pensar que as pinturas de retratos ao longo da história da arte servem à promoção de seu comprador, e não a da arte. Esse é o eterno dilema (ou eterno enquanto existir) da arte: lidar com os mercados, lidar com a própria liberdade. Todavia, adotar tal "princípio" é já abandonar a arte à sua má-chance, ou seja, às mãos dos ricos e do mercado publicitário. Por isso, parece que o filme trata de uma ridicularização dos museus em promoverem obras "sem sentido", ou de simplesmente "inventarem-no". Ora, uma obra de arte não é uma ontologia, ela não possui um "ser", uma "essência" que a determina como obra de arte. Tudo é inventado pelo olhar de quem olha. Sempre. Basta olhar, e olhar com atenção.
A música que dá nome ao filme é realmente linda! A trama toda, nessa lentidão do tédio e nas tomadas praticamente estáticas, o que é impressionante, fazem a angústia atingir os píncaros daqueles gritos desesperado de quem preferiu abraçar o abismo do desespero por um amor perdido, a fechar-se numa indiferença ressentida. Isso tudo, sem necessitar reproduzir de fato os encontros. Tudo intensificado na dança e na música, com um texto lindo. A sensualidade exala, como exalaram a cada instante aqueles insensos.
É impressionante como, não apenas a questão agrária, mas a própria situação "democrática" do país não se alterou em mais de 50 anos - ainda lutamos pelas mesmas coisas. Sem contar que é possível ver o trabalho da grande imprensa sempre realizando o serviço dos poderosos, desde sempre. O trabalho de Eduardo Coutinho de pegar o que seria um filme e transformar em um documentário sobre sua não-concretização é uma daquelas formas de ver a intensidade da própria arte, muito além do princípio de prazer.
Levei um tempo para digerir esse filme. Ainda mais a se pensar na contraposição das cenas finais, de Edmund brincando, num raro momento de leveza, em meio às ruínas, essa chaga visível que envolve todos, antes de pular para a morte. O cinema, certamente, mostra aí a sua potência, inclusive, e talvez principalmente, de refletir e fazer aparecer o sem-sentido, as ações mais ordinárias da vida e o acaso de uma decisão. Os finais felizes e regozijos do público nas salas de cinema é uma traição da própria arte cinematográfica. Uma traição com uma função social bem específica e lucrativa: permitir a catarse do público que precisa voltar para um trabalho e uma vida que, usualmente, detestam.
Os despossuídos, texto pelo qual se abre o filme, é um dos mais potentes da filosofia de Marx. Um cara que conhecia Hegel profundamente, ao ponto de inverter seu sistema. Conhecia Economia clássica, sabendo aplicá-la à história recente da era industrial. E conhecia Shakespeare, sempre citando-o quando podia. Para além das condições de ideologia, qualquer um que o lê só tem a ganhar, ao invés de ficar chamando de "ficção". Como se tudo na nossa vida não fosse um trançado ficcional pra dar sentido ao que nunca teve sentido. Os maiores (e mais ferozes) crítico de Marx sempre foram aqueles do seu lado. O filme não se detém tão nitidamente numa emoção pueril de prestar homenagem a esse homem. Mas, certamente, não deixa de transmitir uma simpatia. Coisa que se revela nas últimas cenas, muito provavelmente o mote para a realização da obra.
Primeiro, a maioria dos comentários feitos atestam mais a ignorância do espectador do que algum problema da obra em si mesma. O filme, de fato, não é fácil de compreender, até por que ele não toma a construção "pedagógica" como é comum nos filmes à la Hollywood. Ela é bem aberto nas suas passagens.
Mas, se prestarmos atenção há alguns serviços que nos orientam. A explicação que o casal do rancho (?) dá, serve de conexão do meteorito do início (coisa que lembra "2001, uma odisseia no espaço") com a trama que corre. Algumas tomadas, e mesmo a maneira como a paisagem é filmada e a forma de entrada das personagens, lembrou-me "Salker" de Tarkovski. Partindo disso, dá para entender que toda essa passagem e entrada nesse "espaço", é mais uma aventura na própria intimidade do que num espaço existente mesmo. É como se o espaço materializado graças a uma força "exterior", que na verdade é "interior" (o casal deixa isso patente),é a figuração cinematográfica dessa relação. Assim, a existência de duas tramas é na verdade, uma única, cindida e interconectada. O íntimo que a criatura representa (é importante notar sua clara semelhaça com a criatura de "Possessão") é o de cada um dos personagens, e ao mesmo tempo é o que condiz a cada um. A relação entre sexo e morte não é nova. Ela está no "centro" da vida. Enquanto no filme de Tarkovski o "ser" é um "nada", nesse filme, o "ser" é o animal que somos, e esse animal é intimamente erótico. Esse pathos é o que congrega e, ao mesmo tempo, destrói a família. É ele que engedra a relações amorosas e, igualmente, a fúria. Pensei também, na separação idílica do casal como uma representação bíblica: a de Adão e Eva convivendo no paraíso, protegente justamente o pecado, o mais íntimo/interior que diz respeito a qualquer um..
Acho que ele permite a possibilidade de construção de sentido por parte de cada um. Nessa perspectiva, a obra é mais interessante, porque ela não toma seu espectador como um idiota, incapaz de construir relações de sentido. Ela pode até ver uma luz de inteligência em quem assiste.
O filme é mal realizado, porque o roteiro é muito ruim. 1 hora do filme poderia ser simplesmente cortado que não faria diferença algumano enredo (como a cena da apresentação da cidade dos mil planetas... ou mesmo toda a cena de salvação da moça). Além disso, soa machista: temos um "bad boy" autossuficiente, e uma moça notademente competente que acaba vivendo em função da personagem, com uma promessa de casamento (wtf??). E eu ainda fico me perguntando, depois de milhares de anos conhecendo todo tipo de ser no universo, por que, diabos, esse povo ainda pede ajuda de deus? E, por que, os humanos tem uma centralidade tão grande na cidade? (a relação com o aperto de mão do início é o cúmulo do narcisismo. Ao invés de adaptar-se às culturas alheias, aprender com elas, não, todos cumprem um ritual humano. Na veredas desses tipos de filme, Valerian é apenas uma casca brilhante vazia
Que filme delicado. Delicado como nossa falha memória, que é muito mais um lugar de esquecimento. O filme poderia ter como epígrafe, um verso de Rilke: "perder também nos é próprio".
A trama em si é batida e previsível. A fascinação toda é a da imagem em si, de sua composição, de sua cor, da estrutura formal dos cenários, deslumbrantes, tal como eram as de 2001: Uma odisseia no espaço, mais do que o próprio Blade Runner. A trilha sonora e a maneira como aparece lembra ainda mais o primeiro do que o segundo.
Primeiro, chamou-me atenção o fato de qualquer um deles ter o nome mencionado. Pensei que se tratava do genesis. Todavia, com o desenvolver, e com o final, a metáfora pareceu mais clara. O Poeta (o "Verbo": e deus disse...) como o criador e a esposa como a Mãe-Natureza. O primeiro que chega sem convite é o Adão (entendi depois o outro esconder a costela ferida...). A segunda seria Eva, sua segunda esposa (na tradição judaica existe menção a uma mulher que teria sido criada juntamente com o primeiro homem, tendo saído do paraíso por conta própria e procriado com os demônios: Lilith). A briga dos filhos pela herança do pai, seguida do acidente são Caim e Abel (o que me ajudou a supor serem Adão e Eva os primeiros hóspedes). A sala do Poeta, com seu "fruto proibido", corresponde a sua sala. Ele, egocêntrico, não se conforma com o amor da própria Natureza. Criou o homem, disseminou e aceitou o seu amor, na forma do culto. O resto é o desenrolar da história da própria humanidade. O final me pareceu demasiado patronal, o que incomoda ao longo de toda a história. Sei que a visão de Aronosfki é de que é o homem que é mal. Mas, isso não significa a passividade da mãe, que vinag-se, mas sua vingança é parte da criação do Poeta. As frases finais foram dignas de um clichê. Agora nesse processo, ficam algumas questões: o que era aquele líquido amarelado que ela tomava constantemente (raios do sol [luz]?), e o que ela vê no vaso sanitário? qual o sentido daquilo? Por que tantos primeiros planos na "mãe"?
Quem conhece um mínimo da obra de Leskov, sabe bem que o "insignificante" é sua marca. Mais ainda, apesar de trazer no título a grande personagem shakeasperiana, pelo decorrer da trama, os personagens de direito, por assim dizer, são Sebastian e Anna, aqueles que sofrem pelas pervesidades de sua "sinhá". A diferença assenta aí, o que é já uma grande diferença.
Viver
4.4 166 Assista AgoraPenso que, ao contrário do que pensava Heidegger no vertiginoso e derradeiro ser-para-a-morte, há aqueles que nessa perspectiva tornam-se ser-para-a-vida, como fala Proust, aquele ou aquela que vai em direção ao fim de costas. É o caso de Watanabe e da história que conta Kurosawa. Mas, para quem fica com a morte, o caso é distinto: ela revela a vacuidade da nossa existência no cotidiano.
Comícios de Amor
4.2 13Pudia ser Brasil 2018 sem muitas diferenças. Destaque para a postura do próprio Pasolini, com suas questões que desarmaram especialmente a classe "intelectual" da época.
O Diabo, Provavelmente
3.7 45Aquém de toda "questão política" do filme, eu gostaria de marcar uma única coisa: a encenação das mãos. usualmente, quando não a paisagem ou os movéis (cadeiras principalmente - aliás umas das cenas mais bonitas é a das cadeiras na igreja), o que aparece em cena, primeiramente, são as mãos: mãos em movimento, mãos em seus afazeres, mãos descansando. Passa-se, como na cena do ônibus, de uma mão a outra: do motorista aos passageiros que estão descendo, aos que estão sentados, aos que estão de pé. A câmera geralmente abaixo do ombro só mostra o rosto, quando as pessoas sentam ou descem de alguma maneira. Há toda uma plasticidade das mãos em cena, que estão "aquém" da política, mas não são menos dignas de encenação.
Amarcord
4.2 177 Assista AgoraSobre um solo fascista, as estrelas não florescem. Precisou um socialista para enxergá-las. Fotografia sempre magnífica. As personagens, todas caricatas, coisa de quem fantasia a memória.
O Sangue de um Poeta
4.2 44A arte é uma ferida que fala na/pela mão do artista. Não há como querer se desfazer dessa "ferida". Cocteau põe em ação muitos elementos que obsedam a arte desde seu início: a obsessão por dar vida à obra (Pigmalião), a própria questão do duplo e do espelho ("que deveria refletir um pouco mais antes de devolver uma imagem") e artista como contemplador do mundo que o circunda, por exemplo. O surrealismo do autor serve ao propósito de encarnar essas questões e oferecer uma saída sempre por uma vida de morte. No fim, o artista é consumido na medida em que consome as matérias. Ele caí, como caí a torre no final. Não para a morte, mas para a imortalidade, ainda que tediosa, do por vir que ele engendra.
O Sacrifício do Cervo Sagrado
3.7 1,2K Assista AgoraTodo mundo deseja um final como novela da globo, no qual tudo se explica, as coisas são postas nos seus devidos lugares. Subitamente descobre-se quem era o assassino todo o tempo, quem roubou quem, quem era filho de quem e daí por diante. Quando uma obra não se presta a tal trabalho, por que sua função não é a dos finais felizes e fechados, nunca foi, então a incompreensão surge como mácula que diminiu a "qualidade" da obra. Se há algum desejo de entender o que se passa, o exercício é simples: pensar, pesquisar, olhar mais atentamente ao que se passa, sem desperdiçar seja o que for. Eu também fiquei sem compreender a "razão".
Aceitei apenas o fato, como princípio de partida, de que o rapaz possuia algum tipo de poder para realizar o que realizou. Sem problemas. A arte tem tal liberdade. Não muito tempo depois do começo, já sabemos a motivação real e o desejo de vingança. A tensão está presente desde sempre com a trilha sonora. Cada personagem parece flutuar numa bolha imóvel ao qual o outro não acessa, a não ser pela linguagem sempre sofrível e apática. Mas, isso não é o suficiente para tentar compreender a obra. Isso sequer explica o título. Todavia, talvez por sorte, percebi uma coisa que,
sem considerar como gratuidade do dito, possa ajudar a ampliar o entendimento, senão a apreensão. Quando Steven vai falar com o diretor da escola dos meninos, o homem "revela" que a filha dele havia escrito um trabalho excelente sobre "Ifigência". Informação aparentemente desnecessária. Porém, esse mero fato, possibilita escrever a obra de Lanthimos numa tradição que vai da tragédia de Eurípedes, passando por Racine e desaguando em Michel Azama. Isto é, nada muito simples. A partir dessa possibilidade, é possível entender, por exemplo, o título: o "cervo sagrado", na peça euripidiana, é o animal que Agamemnon mata e depois vangloria-se, irritando profundamente a deusa Artêmis, quem exige do rei o sacrifício de sua filha Ifigênia. O "sacrifício" aparece como o operador, na peça, da relação da decisão, no espaço do mito, do rei. Decidir não vem sem consequência. E tomar uma decisão entre duas possibilidades terríveis, ainda que em nome da glória, não a torna menos selvagem. Além disso, aquele a quem cabe a decisão é o verdadeiro culpado, mas não é quem será punido. O espaço dessas tragédias é também o espaço das erínias, as deusas da justiça e da vingança. Poderíamos pensar no rapaz como uma encarnação dessas erínias (de onde vem seu poder). Não há razão ("logos", que também pode ser traduzido como "discurso racional") que convença uma erínia quando está em busca de justiça. Não é a toa que ele fala constantemente em "equilibrio" do universo. Enredado nesse esquema, não é de se estranhar que o filme adiquira um aspecto irreal, como se transportado para um lugar mítico, fechado na casa do casal. Da obra de Racine, talvez, provenha o drama singular de cada um frente ao "sacrifício". Obviamente que eles não acreditam estar respondendo a um chamado do universo para reestabelecer o destino. Pelo contrário, na proximidade do fim certo, já previsto pela "erínia", eles começam a querem mostrar seu valor, em nome do desejo de viver, sem muita sinceridade, não se importando se outro membro da família morrerá. Deixar ao acaso a decisão, como se faz no final é uma forma de "democracia". Poderíamos pensar que, em alguma medida, frente à necessidade do sacrfício (forma de justiça, forma de governo antiga) responde o acaso (que na Grécia era a forma mais radical e própria da democracia).
A Regra do Jogo
4.1 122 Assista AgoraUm filme herdeiro da forma balzaquiana de contar suas histórias. Os diálogos, com frases soberbas, são sempre interessantes, cheios de ironia. Acredito que esse seja o modo peculiar de fazer comédia dos franceses. A iminência da guerra, talvez, seja um elemento a soar nas camadas do filme, sem contar a xenofobia latente que só não atinge Christine claramente porque ela está casada com um homem muito rico. O dinheiro a protege. Mas, a ideia de que "mãos estrangeiras podem acabar com o herói do progresso" deixa isso evidente.
Stromboli
4.0 40A ilha é uma figura antiga, para a fantasia(peter pan, por exemplo), para o poder mítico que ainda reina (Calipso, por exemplo), para a solidão (Robinson Crusoé, por exemplo), para a utopia (Paraíso terrestre, natureza intocada pelo homem, por exemplo), para o conhecimento (como Atlântida, por exemplo). Acredito que essa polifonia da ilha não escapa ao filme, ainda que todas estejam enredadas no realismo de Rosselini. É a fantasia do guerreiro-pescador que sonha em voltar pra sua casa, ou mesmo o instante de delírio da mulher que decide casar com ele para livrar-se do campo. É o poder mítico que reina com o vulcão em atividade, e do santo que supostamente teria impedido o vulcão de destruir a vila. É a solidão de Ingrid no meio daquela terra desolada, que fala para quem não consegue entender. Fala demais, palavras demais (como a literatura). É a utopia, uma utopia fraturada, todavia, de quem ainda sonha sair dali, da ilha para o continente, ainda que já conheça o resultado. E o conhecimento que encontram é "apenas" o do desejo que irrompe com violência, seja do vulcão, seja dos peixes que se debatem a fim de escaparem da morte quase certa. Tal conhecimento é o excesso que desperta a mulher para fugir, porque sabe estar cercada por esse desejo masculino que a isola, que a condena à ilha.
O Paradoxo Cloverfield
2.7 779 Assista AgoraAchei meio pombo.
Certamente o ser humano que comanda a escolha de filmes não é a mesma que comanda a de séries...
Os Renegados
4.1 86 Assista AgoraNão se pode imputar o desvalor de uma forma de vida simplesmente pela possibilidade de destruição. Mona afirmou isso em cada oportunidade que teve, mesmo quando se viu abandonada. A liberdade não está na simples "crítica" do sistema, a fim de encontrar outros meios. Ela está na destituição desse próprio sistema. Nesse sentido, Mona é, de fato, revolucionária na sua solidão, ainda que seja completamente desprovida de poder. O filósofo, bem como a professora, são os personagens mais sintomáticos da história. Reconhecem as macroestruturas que governam. Todavia, um tenta encontrar um "meio termo", a outra está assujeitada às convenções. A moça, com um nível de estudo razoável, mas longe da pompa universitária dos grandes especialistas é quem mais mostra que as formas de vidas possíveis passam por ensaios na vida do corpo. Ele é a mensagem, é a forma da '"coragem da verdade", a verdade que encarna e é a sua própria forma sendo vivida. Agnes Varda é um gênio da alteridade para colocar tudo isso, e certamente um bocado mais, em cena. Sua arte é a arte da potência, a arte em potência.
Fruto do Paraíso
4.1 33 Assista AgoraUm filme difícil. A princípio, a técnica se sobrepõe ao "conteúdo", por assim dizer. Mas, pensando um pouco mais, o princípio do filme poderia remeter ao próprio princípio do cinema, ou indo mais longe, da própria possibilidade de perceber as coisas na infância: a imagem mistura-se à carne, imagem e toque são a mesma coisa, enquanto na "descida" para a terra, ou seja, para a convivência com o outros, elas vão se dividindo, estabilizando-se, adquirindo sentidos por nós mesmos atribuídos. Parece que o "comer o fruto proibido do conhecimento" segundo Chytilová significa, simplesmente, viver entre outros, abandonar a si mesmo em direção ao outro. Isso é a queda. Há quem diga tratar-se do egoísmo (C.S.Lewis) como o porquê da "queda". Porém, o abrir-se aos outros aqui é o que surge como a "real" razão. Na convivência (o mal) é que cada um descobre outras possibilidades de viver, de relacionar-se. O paradoxal é que isso se torna um "mal" porque o ponto de partida é cristão (o casamento), desde o princípio, inclusive do filme. A obra passa pela tentativa de desconstrução dessa forma, tendo ao fim o cometimento do "pecado" (cristão). Apesar dos entremeios da obra estarem condicionadas às experimentações, inclusive corporais, o filme retrocendo ao final em que Eva retornaria à Adão arrependida, enquanto ele que já havia flertado muito não demonstra o mesmo, traí a própria obra. O filme parece fugir o tempo inteiro dessa estrutura para encerrar-se nele. Isso não sucede em "As pequenas margaridas", por exemplo. Aquele filme é verdadeiramente liberador, libertador, não apenas na forma.
The Square - A Arte da Discórdia
3.6 318 Assista AgoraA maioria foca muito na "trama", por assim dizer. Se tomar o mote da obra que dá nome ao filme, é possível estender "ao rés do chão" outra questão: parece ser preciso a "institucionalização" da bondade para que esses homens brancos tornem-se bons. Ninguém ajuda aqueles que estão habitando as praças e vielas da cidade, perambulando pelos shoppins e lanchonetes em busca de alimento. Em contrapartida, numa cena, temos uma moça perguntando "gostaria de salvar uma vida?", provavelmente representante de uma ONG qualquer. A cena é alternada com um senhor domindo ali próximo. De que vida ela está falando? A bondade, como o quadrado, parece reduzida a uma abstração, ou ainda, uma "forma vazia em busca de seu conteúdo" (a se pensar nessa medida, por exemplo, no próprio museu como instituição [forma] que está sempre em busca de novas obras [conteúdo]). As obras, no fim, sequer respondem a esse problema, ou pior, como acontece com a pergunta que a jornalista faz logo no início sobre a obra de Robert Smithson. O gerente do museu simplesmente não sabe responder à obra do artista. Apesar do problema central estar na procura de uma forma de promoção das obras (a diferença entre arte e publicidade levantada em algum momento), recaem sobre um princípio de partida (adotado pela agência de comunicaçao): a de que o espectador do museu tem o mesmo tempo que o espectador das mídias sociais. Se se considerar a veracidade desse "princípio", de fato a arte fica reduzida a um engodo; qualquer arte. Podemos pensar que as pinturas de retratos ao longo da história da arte servem à promoção de seu comprador, e não a da arte. Esse é o eterno dilema (ou eterno enquanto existir) da arte: lidar com os mercados, lidar com a própria liberdade. Todavia, adotar tal "princípio" é já abandonar a arte à sua má-chance, ou seja, às mãos dos ricos e do mercado publicitário. Por isso, parece que o filme trata de uma ridicularização dos museus em promoverem obras "sem sentido", ou de simplesmente "inventarem-no". Ora, uma obra de arte não é uma ontologia, ela não possui um "ser", uma "essência" que a determina como obra de arte. Tudo é inventado pelo olhar de quem olha. Sempre. Basta olhar, e olhar com atenção.
India Song
3.3 21A música que dá nome ao filme é realmente linda!
A trama toda, nessa lentidão do tédio e nas tomadas praticamente estáticas, o que é impressionante, fazem a angústia atingir os píncaros daqueles gritos desesperado de quem preferiu abraçar o abismo do desespero por um amor perdido, a fechar-se numa indiferença ressentida. Isso tudo, sem necessitar reproduzir de fato os encontros. Tudo intensificado na dança e na música, com um texto lindo. A sensualidade exala, como exalaram a cada instante aqueles insensos.
Cabra Marcado Para Morrer
4.5 253 Assista AgoraÉ impressionante como, não apenas a questão agrária, mas a própria situação "democrática" do país não se alterou em mais de 50 anos - ainda lutamos pelas mesmas coisas. Sem contar que é possível ver o trabalho da grande imprensa sempre realizando o serviço dos poderosos, desde sempre.
O trabalho de Eduardo Coutinho de pegar o que seria um filme e transformar em um documentário sobre sua não-concretização é uma daquelas formas de ver a intensidade da própria arte, muito além do princípio de prazer.
Alemanha, Ano Zero
4.3 92Levei um tempo para digerir esse filme. Ainda mais a se pensar na contraposição das cenas finais, de Edmund brincando, num raro momento de leveza, em meio às ruínas, essa chaga visível que envolve todos, antes de pular para a morte. O cinema, certamente, mostra aí a sua potência, inclusive, e talvez principalmente, de refletir e fazer aparecer o sem-sentido, as ações mais ordinárias da vida e o acaso de uma decisão. Os finais felizes e regozijos do público nas salas de cinema é uma traição da própria arte cinematográfica. Uma traição com uma função social bem específica e lucrativa: permitir a catarse do público que precisa voltar para um trabalho e uma vida que, usualmente, detestam.
Visages, Villages
4.4 161 Assista AgoraO mundo é um lugar muito melhor com Agnès Varda.
O Jovem Karl Marx
3.6 272 Assista AgoraOs despossuídos, texto pelo qual se abre o filme, é um dos mais potentes da filosofia de Marx. Um cara que conhecia Hegel profundamente, ao ponto de inverter seu sistema. Conhecia Economia clássica, sabendo aplicá-la à história recente da era industrial. E conhecia Shakespeare, sempre citando-o quando podia. Para além das condições de ideologia, qualquer um que o lê só tem a ganhar, ao invés de ficar chamando de "ficção". Como se tudo na nossa vida não fosse um trançado ficcional pra dar sentido ao que nunca teve sentido. Os maiores (e mais ferozes) crítico de Marx sempre foram aqueles do seu lado. O filme não se detém tão nitidamente numa emoção pueril de prestar homenagem a esse homem. Mas, certamente, não deixa de transmitir uma simpatia. Coisa que se revela nas últimas cenas, muito provavelmente o mote para a realização da obra.
A Região Selvagem
3.2 49 Assista AgoraPrimeiro, a maioria dos comentários feitos atestam mais a ignorância do espectador do que algum problema da obra em si mesma. O filme, de fato, não é fácil de compreender, até por que ele não toma a construção "pedagógica" como é comum nos filmes à la Hollywood. Ela é bem aberto nas suas passagens.
Mas, se prestarmos atenção há alguns serviços que nos orientam. A explicação que o casal do rancho (?) dá, serve de conexão do meteorito do início (coisa que lembra "2001, uma odisseia no espaço") com a trama que corre. Algumas tomadas, e mesmo a maneira como a paisagem é filmada e a forma de entrada das personagens, lembrou-me "Salker" de Tarkovski. Partindo disso, dá para entender que toda essa passagem e entrada nesse "espaço", é mais uma aventura na própria intimidade do que num espaço existente mesmo. É como se o espaço materializado graças a uma força "exterior", que na verdade é "interior" (o casal deixa isso patente),é a figuração cinematográfica dessa relação. Assim, a existência de duas tramas é na verdade, uma única, cindida e interconectada. O íntimo que a criatura representa (é importante notar sua clara semelhaça com a criatura de "Possessão") é o de cada um dos personagens, e ao mesmo tempo é o que condiz a cada um. A relação entre sexo e morte não é nova. Ela está no "centro" da vida. Enquanto no filme de Tarkovski o "ser" é um "nada", nesse filme, o "ser" é o animal que somos, e esse animal é intimamente erótico. Esse pathos é o que congrega e, ao mesmo tempo, destrói a família. É ele que engedra a relações amorosas e, igualmente, a fúria. Pensei também, na separação idílica do casal como uma representação bíblica: a de Adão e Eva convivendo no paraíso, protegente justamente o pecado, o mais íntimo/interior que diz respeito a qualquer um..
Valerian e a Cidade dos Mil Planetas
3.1 580 Assista AgoraO filme é mal realizado, porque o roteiro é muito ruim. 1 hora do filme poderia ser simplesmente cortado que não faria diferença algumano enredo (como a cena da apresentação da cidade dos mil planetas... ou mesmo toda a cena de salvação da moça). Além disso, soa machista: temos um "bad boy" autossuficiente, e uma moça notademente competente que acaba vivendo em função da personagem, com uma promessa de casamento (wtf??). E eu ainda fico me perguntando, depois de milhares de anos conhecendo todo tipo de ser no universo, por que, diabos, esse povo ainda pede ajuda de deus? E, por que, os humanos tem uma centralidade tão grande na cidade? (a relação com o aperto de mão do início é o cúmulo do narcisismo. Ao invés de adaptar-se às culturas alheias, aprender com elas, não, todos cumprem um ritual humano. Na veredas desses tipos de filme, Valerian é apenas uma casca brilhante vazia
Marjorie Prime
3.4 43 Assista AgoraQue filme delicado. Delicado como nossa falha memória, que é muito mais um lugar de esquecimento. O filme poderia ter como epígrafe, um verso de Rilke: "perder também nos é próprio".
Blade Runner 2049
4.0 1,7K Assista AgoraA trama em si é batida e previsível. A fascinação toda é a da imagem em si, de sua composição, de sua cor, da estrutura formal dos cenários, deslumbrantes, tal como eram as de 2001: Uma odisseia no espaço, mais do que o próprio Blade Runner. A trilha sonora e a maneira como aparece lembra ainda mais o primeiro do que o segundo.
Mãe!
4.0 3,9K Assista AgoraPrimeiro, chamou-me atenção o fato de qualquer um deles ter o nome mencionado. Pensei que se tratava do genesis. Todavia, com o desenvolver, e com o final,
a metáfora pareceu mais clara. O Poeta (o "Verbo": e deus disse...) como o criador e a esposa como a Mãe-Natureza. O primeiro que chega sem convite é o Adão (entendi depois o outro esconder a costela ferida...). A segunda seria Eva, sua segunda esposa (na tradição judaica existe menção a uma mulher que teria sido criada juntamente com o primeiro homem, tendo saído do paraíso por conta própria e procriado com os demônios: Lilith).
A briga dos filhos pela herança do pai, seguida do acidente são Caim e Abel (o que me ajudou a supor serem Adão e Eva os primeiros hóspedes). A sala do Poeta, com seu "fruto proibido", corresponde a sua sala. Ele, egocêntrico, não se conforma com o amor da própria Natureza. Criou o homem, disseminou e aceitou o seu amor, na forma do culto.
O resto é o desenrolar da história da própria humanidade. O final me pareceu demasiado patronal, o que incomoda ao longo de toda a história. Sei que a visão de Aronosfki é de que é o homem que é mal. Mas, isso não significa a passividade da mãe, que vinag-se,
mas sua vingança é parte da criação do Poeta. As frases finais foram dignas de um clichê. Agora nesse processo, ficam algumas questões: o que era aquele líquido amarelado que ela tomava constantemente (raios do sol [luz]?), e o que ela vê no vaso sanitário? qual o sentido daquilo? Por que tantos primeiros planos na "mãe"?
Os Parecidos
3.0 126Parece um apocalipse, no qual todo mundo vira hipster. um horror! hahaha
Lady Macbeth
3.5 157Quem conhece um mínimo da obra de Leskov, sabe bem que o "insignificante" é sua marca. Mais ainda, apesar de trazer no título a grande personagem shakeasperiana, pelo decorrer da trama, os personagens de direito, por assim dizer, são Sebastian e Anna, aqueles que sofrem pelas pervesidades de sua "sinhá". A diferença assenta aí, o que é já uma grande diferença.