Se eu sempre fico em dúvida se gostei mais de "Hereditário" ou de "Midsommar", este aqui certamente não vai entrar para a briga. Talvez tenha interferido eu ir para o cinema sem saber que a sessão levaria 3h, mas a minha surpresa com a duração só chegou quando eu já estava enfadado demais com a história para querer que a experiência durasse mais.
A primeira hora do filme se sustenta bem em uma atmosfera bizarra à la "Mother", do Aronofsky, com pitadas de humor que nos deixa intrigados para saber o que é realidade e o que é divagação do protagonista. Infelizmente, o filme perde o ritmo nas horas seguintes, causado por varias sequências sem a devida coesão, o que, aliado à longa duração, nos cansa. O final, momento que possibilita a redenção e que foi executado de forma magistral nos filmes anteriores do Aster, aqui é a cereja no topo do bolo - da decepção.
Por isso que eu gosto de ver filmes sem ler a sinopse, quiçá ver o trailer. A surpresa que as reviravoltas do filme trazem são uma experiência muito melhor, para mim. O descrito na sinopse não acontece até 1h30 de filme, já no terceiro ato. Ou seja, há muito mais camadas de história do que o apresentado. E, como eu adoro este estilo de filme que termina de uma forma bem diferente do que eu imaginava quando ele começou, foi uma surpresa muito positiva. Também adorei o tom sarcástico do roteiro e as ótimas metáforas para alfinetar a hierarquia social!
Um filme colombiano que eleva o casamento entre cinema e música. É bem mais um espetáculo filmado que uma ficção. A partir de narrativas em off e de performances teatrais, somos convidados a viajar pela Colombia e conhecer as diferentes camadas artísticas de uma trupe de músicos, com fragmentos de suas histórias pessoais e com uma dose homérica de suas qualidades artísticas. Tal qual "Pina", de Wim Wenders, esse espetáculo filmado tem o poder de hipnotizar dizendo o mínimo de palavras.
Tive a oportunidade de ver no cinema, em uma Sala de Arte aqui em Salvador. Me foi óbvio de que estava diante de um clássico, principalmente pela atualidade do discurso. 80 anos depois, e mesmo com todos os traumas que os regimes autoritários imprimiram na sociedade, o homem não parece ter aprendido com a história, e discursos de defesa da democracia e da liberdade ainda se fazem necessários. Filmaço!!
As primeiras cenas me levaram a impressão de que iria assistir mais um filme de diálogos existencialistas com personagens não-convencionais, mas creio ter sido positivamente surpreendido. A história dá uma guinada após cerca de meia hora, com a interação entre Jack e Scarlet ganhando novos contornos. Não é nada revolucionário no cinema, mas acho que vale a sessão.
PERDEU TRÊS ESTRELINHAS porque eu achei um ABSURDO a Mayra se perder das amigas na Barra e ir parar no Pelourinho!!
Zoeira ;) dei nota baixa porque, pra mim, o filme perdeu uma excelente oportunidade de representar o Carnaval de Salvador nos diversos elementos que lhe singularizam. Quedou que o filme poderia se passar em qualquer carnaval de cidade grande que a história seria a mesma. O roteiro do filme é bobo, clichê, e não me trouxe absolutamente nada de novo. Comecei a assistir já sabendo que era escapismo, mas existem escapismos que são muito bons e que, se não são muito originais, pelo menos trazem algumas piadas bem construídas. Fui até o final para ver como a cidade que moro e amo estava sendo representada, mas confesso que pulei algumas cenas.
Como podem jovens de uma renomadissima universidade indiana, considerados as mentes mais brilhantes do país, com um futuro abastado garantido pelo prestígio da medicina, perderem a luta para a depressão? O documentário, com um tom bastante intimista, pois está diretamente ligado à realidade do autor, revela as contradições entre a estrutura tradicional acadêmica e as pressões que sufocam a saúde mental dos universitários. Apesar de contar uma história específica, não deixa de ser possível fazer paralelos com a estrutura acadêmica como um todo, que, em nome da excelência e da entrega dos resultados, "faz vista grossa" à psicologia dos jovens, que, muitas vezes, pela imaturidade da idade, pela ativação de gatilhos de traumas passados, ou mesmo motivados por valores negativos, como baixa auto-estima ou sensação de incompetência, perdem a batalha para uma etapa que deveria se resultar em uma grande conquista pessoal.
Minha tendência é curtir documentários sobre a vida cotidiana de um determinado espaço-tempo quando a edição me apresenta um fiapo de profundidade dos personagens a ponto de eu me importar com eles. Não é o que acontece aqui. As cenas são tão desprovidas de coesão que eu acabei achando um porre! Nada é aprofundado, e, depois de meia-hora, me perguntei o que este filme estava acrescentando na minha vida. Com a ausência de respostas, desliguei.
Achei interessantíssimo, tanto por apresentar os costumes, as vivências e as celebrações do povo huichol (o qual eu ainda não tinha ouvido falar) tanto por aproveitar a arte de la Torre para promover cenas hipnotizantes com as suas cores e os seus significados. Um ótimo documentário para refletir sobre o modo de vida de um outro grupo social, ao mesmo tempo que refletimos sobre a nossa própria ancestralidade.
Lançado no Mubi como parte da mostra "redescobertas", o que se justifica quando descobrimos a história desta obra: realizada pelos produtores como uma tentativa de lançar as bases para um cinema genuinamente marroquino, foi exibido apenas uma vez e logo foi censurado pelo governo, se tornando uma obra "perdida" por mais de 40 anos, até uma cópia ser encontrada em uma filmoteca na Catalunha e restaurada para o público. Desta forma, a sua intenção de ser um filme de resistência ao "terceiro mundismo", servindo ao cinema social que vai além do entretenimento e busca conscientizar a população sobre os problemas sociais, se confunde com a história de resistência da própria obra. Décadas depois, ela resiste, e o que encontramos é um documentário que se propõe ser metalinguístico, mas que, a partir de determinado evento, acaba indo além. Comparável a obras-primas do cinema-verdade, como as de Abbas Kiarostami e Eduardo Coutinho, é uma bem-vinda, mesmo que tardia, agregação ao time.
Tal qual o livro de Thomas Piketty no qual é baseado, apresenta uma crítica contundente, e necessária, sobre a organização do capitalismo atual. Apresenta-nos aa evolução histórica do sistema capitalista, passando por marcos sistêmicos que se traduziram em alguma mudança material para a sociedade, como a Crise de 29, o New Deal, a Crise do Petróleo, o neoliberalismo de Tatcher e Reagan, dentre outros. É possível percebermos, então, a deterioração do trabalho e da qualidade de vida que se aportou com o neoliberalismo, fortalecendo a grande contradição do sistema na qual os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres, cada vez mais pobres. É um documentário de fácil acesso a quem não tem conhecimento aprofundado sobre economia, mas que busca compreender os efeitos da concentração de renda e das consequências presentes e futuras na estrutura social.
Expõe, com primor e delicadeza, a fragilidade das mulheres que se dedicam ao trabalho doméstico no exterior. O que, inicialmente, parece ser a documentação de um treinamento comum de trabalho transforma-se em filme-denúncia dos abusos e violências a que as mulheres são submetidas enquanto posições subalternas na divisão do trabalho. Entre aprender a como pôr corretamente a mesa e como lavar as peças sujas, estão também lições de defesa pessoal em caso de assédios sexuais do patronado, por exemplo. Através de depoimentos das mulheres que dividem suas experiências com as outras, é possível termos ideia da dimensão destas violências, e refletirmos tanto sobre a fronteira tênue que separa o trabalho despido de direitos e a escravidão, quanto as questões identitárias, como a condição de mulher e de imigrante, que atravessam a existências destes corpos e os relegam à vulnerabilidade.
Uma crítica eficiente ao academicismo, aquele nível de debate intelectual que mais serve para massagear o ego dos debatedores do que buscar propostas concretas e funcionais aos problemas sociais. Apesar de, claro, se relacionar com o contexto alemão, não deixa de ser possível traçar paralelos com a situação das universidades brasileiras, da qual também padecem desse academicismo, muitas vezes, exagerado. Muitos intelectuais se refinam tanto na dimensão teórica que acabam negligenciando a necessidade de traduzir estas teorias em termos simplificados para que o conhecimento seja compreendido fora dos muros da universidade.
Em consonância com esse debate sobre a conexão do espaço acadêmico com o mundo exterior, temos a crítica à mercadologização da ciência. Aqui, adentramos a um debate comum em setores políticos sobre qual a real funcionalidade dos campus: seguir um entendimento neoliberal de produção rentável do conhecimento, que responda a investimentos da iniciativa privada, ou entender a função social da universidade como leitora e propositora de alternativas às nossas contradições estruturais. Compreendi o embate discursivo entre a professora e a coach, no diálogo das duas no carro, como a personificação dos dois lados desta dicotomia.
Ainda são possíveis extrair outras críticas, como a contradição do discurso pseudo-meritocrático de que ter um diploma te garante empregos, quando estamos observando tantos mestres e doutores desempregados por aí. Em que a universidade está falhando? Ou estaria o sistema falhando como um todo? Por sentir que tais críticas são tão latentes, e por pertencer ao espaço universitário e vivenciar tais debates, este filme me chamou bastante atenção!
Documentário singelo inicial da diretora turca sobre o seu tio, Mithat. Um bom estudo de personalidade. Mithat é um colecionador nato - coleciona tudo que é tipo de coisa desde a juventude, de modo que sua casa não tem mais espaço nem mesmo para andar. Enquanto acompanhamos sua história, refletimos sobre a relação entre a materialidade e o desapego. É como o personagem fala: "só um colecionador entende outro". Porque, para nós, de fora, chega a parecer doença psicológica. Mas esta é a forma que o colecionador encontra para preencher sua vida de um significado concreto (beeeeem concreto mesmo).
A inocência da infância imersa no clima amargo de seu meio. Injustamente desconhecido, o documentário retrata a relação entre três irmãos de uma família desajustada, cuja mãe encontra-se na prisão por drogas. O apartamento em que vivem é bastante precário, e habitado por usuários de heroínas. Apesar disso, Toto, o mais novo, não parece ser absorvido por estas energias nefastas, mantendo a positividade típica da infância. As duas irmãs mais velhas, pela maturidade, não possuem a mesma visão, sendo possível perceber o quanto a desestrutura familiar as afeta. Filme para se confrontar com o lado amargo de uma vida marginalizada, e que é capaz tanto de nos fazer sorrir com as atitudes do Toto quanto de sentir um nó no estômago pelo decorrer dos acontecimentos. Recomendadíssimo!
Os planos idílicos da floresta amazônica me hipnotizaram. As cores e o som ambiente dos animais estimularam os meus sentidos, de modo que a história, para mim, ficou em segundo plano até mais ou menos 1h de filme, momento em que uma situação angustiante passa a se desenrolar e me prende através da aflição. Ao final do filme, apesar de ter um ritmo bastante lento, foi uma experiência recompensadora.
Para quem conhece a estética de Béla Tarr, as comparações são naturais. Ouso dizer, porém, que aqui a "lentidão contemplativa" não é orquestrada com igual maestria. A fotografia é belíssima, mas os quadros não são tão envolventes. A história do filme é boa, abordando a luta de classes no sul de Portugal na década de 50, e é possível fazer um paralelo com o coronelismo brasileiro. A sua condução, porém, não me prendeu. Como nem a fotografia nem o roteiro fizeram com que eu me envolvesse completamente, um filme curto, de menos de 1h30, me pareceu ter o dobro da duração. Porém, acredito que vale a pena conferir.
Road-movies são tradicionais jornadas de auto-descoberta: novos ambientes trazem novas experiências, que trazem novas impressões. Este não é diferente, mas não significa que não traga nada de novo. É muito interessante como o elemento "morte" serve de conexão para que as duas protagonistas façam as pazes com "suas próprias dores". Com elas, temos a oportunidades de viajar pela Grã-Bretanha e encontrar personagens excêntricos, o que confere um tom sarcástico ao filme, que não se sobrepõe, porém, ao drama das relações mal resolvidas.
Os últimos 20 minutos do filme foram uma grata surpresa para mim!
Filme bastante sensível. Trata-se um filme sobre os sentimentos e escolhas de uma mãe negra e solteira, e os seus eventuais conflitos em se encaixar em um espaço o qual sente não pertencer. Evidencia, com bastante sutilidade, as separações raciais e a herança da mentalidade colonial na sociedade francesa, pois, embora este debate não fique totalmente explícito, é possível lê-lo através das relações entre os personagens.
É só ver pelo prisma adolescente pra perceber o quão maravilhoso e necessário é esse filme. Tem que ter filme teen empoderando jovem trans sim! São produções como essa que contribuem para a saúde mental e a auto-estima de jovens como a Alice, que percebem que não estão sozinhas nas dificuldades estruturais de nossa sociedade historicamente patriarcal. Gostei muito que o filme não limitou o mundo da protagonista à questão da transexualidade, mas interligou esta vivência com outras expectativas típicas da adolescência, mostrando que Alice tem os mesmos anseios e desejos que as/os demais jovens. Fiquei querendo mais!!
Como um nordestino que já teve a oportunidade de visitar o sul, super entendo o choque que a Alice deve ter sentido. A gente se assusta com tantas pessoas brancas. Rs. (sabendo, claro, que o choque dela não se dá apenas pela questão racial.)
PS: o estereótipo da bicha má cis-gênero que rejeita a amizade da trans por ser "queimação" é muito verdadeiro, infelizmente. Ainda é necessário muita desconstrução do machismo dentro de nosso próprio meio LGBTQIA+
Pra mim, dizer que "Mignonnes" fornece material para pedófilos vem da mesma mentalidade de dizer que as mulheres são estupradas porque estão usando roupa curta. Ou seja: culpar as cenas pseudo-sensuais (que são, visivelmente, uma crítica) em vez de culpar quem vai sexualizá-las. A escolha da diretora pelos closes nos corpos me pareceu óbvia, e, pelo visto, funcionou: incomodar. Desta forma, como recurso para chamar atenção para a sexualização infantil, ele é bastante bem sucedido. Mas o filme não é só isso. A sexualização da protagonista me pareceu uma válvula de escape de toda uma estrutura familiar arruinada, decorrente de uma tradição a qual a mesma, por motivos geracionais, tecnológicos, e por encontrar-se em outro contexto (Paris não é Dakar), não mais se encaixa. O filme também é bem sucedido ao nos fazer refletir sobre choques culturais, a influência das redes sociais no desenvolvimento dos jovens, a falência de alguns pais em lidarem com esses conflitos geracionais, e o papel da mulher na tradição de algumas sociedades africanas. Essas críticas, assim como a principal, porém, só se mostrarão àqueles abertos a enxergá-las, sem preconceitos.
Eu gosto desta estética "caravaggiana" do Pedro Costa de valorizar as sombras e melancolizar os cenários. Tal opção, aliada aos diálogos vazios, quando existem, e aos atos destrutivos das personagens, confere um ar altamente deprimente à história. Por isso, rankeio o filme com 3 estrelas, por achar a proposta boa. Meu problema aqui é o mesmo que tive com "Ossos": pouco mais me é dito além do que já foi nos primeiros 20 minutos. Entendo a intenção do diretor em nos transformar em observadores da decadência, mas, se a forma de narrar a história tinha resultado para mim em uma experiência cansativa no primeiro filme, nesse, com suas quase três horas de duração, foi praticamente uma tortura. Não acho que eu tenha me sentido cansado porque aquelas pessoas retratadas estão "cansadas da vida"; que eu tenha me sentido claustrofóbico porque aquele estilo de vida "aprisiona as esperanças do ser", ou algo do tipo. Eu me senti preso porque eu senti que o que ele tinha para me dizer, já tinha me dito muito antes do filme chegar na metade. Em suma: admiro a proposta, mas sinto-me feliz em ter visto em casa, o que me proporcionou a liberdade de avançar certas cenas para encurtar a experiência. No cinema, teria sido um suplício, dada a minha dificuldade de abandonar uma sessão antes do fim (nunca fiz isso, na verdade).
O filme caiu muito no meu conceito devido á quebra de expectativa. Foi o canibalismo que me chamou a atenção, mas, ao meu ver, este deixa o tema bastante em segundo plano, preferindo atingir o clímax com uma intriga que poderia ter se desenvolvido em qualquer outra história. Como amante do cinema nacional, e ainda mais do nordestino, é doído ter que admitir que perdi meu tempo. Para alguém que sentiu o mesmo que eu, e deseja ver um filme satisfatório com essa temática, sugiro "O animal cordial".
Beau Tem Medo
3.2 406 Assista AgoraSe eu sempre fico em dúvida se gostei mais de "Hereditário" ou de "Midsommar", este aqui certamente não vai entrar para a briga. Talvez tenha interferido eu ir para o cinema sem saber que a sessão levaria 3h, mas a minha surpresa com a duração só chegou quando eu já estava enfadado demais com a história para querer que a experiência durasse mais.
A primeira hora do filme se sustenta bem em uma atmosfera bizarra à la "Mother", do Aronofsky, com pitadas de humor que nos deixa intrigados para saber o que é realidade e o que é divagação do protagonista. Infelizmente, o filme perde o ritmo nas horas seguintes, causado por varias sequências sem a devida coesão, o que, aliado à longa duração, nos cansa. O final, momento que possibilita a redenção e que foi executado de forma magistral nos filmes anteriores do Aster, aqui é a cereja no topo do bolo - da decepção.
Triângulo da Tristeza
3.6 730 Assista AgoraPor isso que eu gosto de ver filmes sem ler a sinopse, quiçá ver o trailer. A surpresa que as reviravoltas do filme trazem são uma experiência muito melhor, para mim. O descrito na sinopse não acontece até 1h30 de filme, já no terceiro ato. Ou seja, há muito mais camadas de história do que o apresentado. E, como eu adoro este estilo de filme que termina de uma forma bem diferente do que eu imaginava quando ele começou, foi uma surpresa muito positiva. Também adorei o tom sarcástico do roteiro e as ótimas metáforas para alfinetar a hierarquia social!
Fait Vivir
3.8 1Um filme colombiano que eleva o casamento entre cinema e música. É bem mais um espetáculo filmado que uma ficção. A partir de narrativas em off e de performances teatrais, somos convidados a viajar pela Colombia e conhecer as diferentes camadas artísticas de uma trupe de músicos, com fragmentos de suas histórias pessoais e com uma dose homérica de suas qualidades artísticas. Tal qual "Pina", de Wim Wenders, esse espetáculo filmado tem o poder de hipnotizar dizendo o mínimo de palavras.
O Grande Ditador
4.6 804 Assista AgoraTive a oportunidade de ver no cinema, em uma Sala de Arte aqui em Salvador. Me foi óbvio de que estava diante de um clássico, principalmente pela atualidade do discurso. 80 anos depois, e mesmo com todos os traumas que os regimes autoritários imprimiram na sociedade, o homem não parece ter aprendido com a história, e discursos de defesa da democracia e da liberdade ainda se fazem necessários. Filmaço!!
PVT CHAT
3.2 7As primeiras cenas me levaram a impressão de que iria assistir mais um filme de diálogos existencialistas com personagens não-convencionais, mas creio ter sido positivamente surpreendido. A história dá uma guinada após cerca de meia hora, com a interação entre Jack e Scarlet ganhando novos contornos. Não é nada revolucionário no cinema, mas acho que vale a sessão.
Carnaval
2.5 105PERDEU TRÊS ESTRELINHAS porque eu achei um ABSURDO a Mayra se perder das amigas na Barra e ir parar no Pelourinho!!
Zoeira ;) dei nota baixa porque, pra mim, o filme perdeu uma excelente oportunidade de representar o Carnaval de Salvador nos diversos elementos que lhe singularizam. Quedou que o filme poderia se passar em qualquer carnaval de cidade grande que a história seria a mesma. O roteiro do filme é bobo, clichê, e não me trouxe absolutamente nada de novo. Comecei a assistir já sabendo que era escapismo, mas existem escapismos que são muito bons e que, se não são muito originais, pelo menos trazem algumas piadas bem construídas. Fui até o final para ver como a cidade que moro e amo estava sendo representada, mas confesso que pulei algumas cenas.
Placebo
3.7 1Como podem jovens de uma renomadissima universidade indiana, considerados as mentes mais brilhantes do país, com um futuro abastado garantido pelo prestígio da medicina, perderem a luta para a depressão? O documentário, com um tom bastante intimista, pois está diretamente ligado à realidade do autor, revela as contradições entre a estrutura tradicional acadêmica e as pressões que sufocam a saúde mental dos universitários. Apesar de contar uma história específica, não deixa de ser possível fazer paralelos com a estrutura acadêmica como um todo, que, em nome da excelência e da entrega dos resultados, "faz vista grossa" à psicologia dos jovens, que, muitas vezes, pela imaturidade da idade, pela ativação de gatilhos de traumas passados, ou mesmo motivados por valores negativos, como baixa auto-estima ou sensação de incompetência, perdem a batalha para uma etapa que deveria se resultar em uma grande conquista pessoal.
Sacro Gra
2.6 7Minha tendência é curtir documentários sobre a vida cotidiana de um determinado espaço-tempo quando a edição me apresenta um fiapo de profundidade dos personagens a ponto de eu me importar com eles. Não é o que acontece aqui. As cenas são tão desprovidas de coesão que eu acabei achando um porre! Nada é aprofundado, e, depois de meia-hora, me perguntei o que este filme estava acrescentando na minha vida. Com a ausência de respostas, desliguei.
Eco de la Montaña
3.7 3Achei interessantíssimo, tanto por apresentar os costumes, as vivências e as celebrações do povo huichol (o qual eu ainda não tinha ouvido falar) tanto por aproveitar a arte de la Torre para promover cenas hipnotizantes com as suas cores e os seus significados. Um ótimo documentário para refletir sobre o modo de vida de um outro grupo social, ao mesmo tempo que refletimos sobre a nossa própria ancestralidade.
De quelques événements sans signification
3.6 2Lançado no Mubi como parte da mostra "redescobertas", o que se justifica quando descobrimos a história desta obra: realizada pelos produtores como uma tentativa de lançar as bases para um cinema genuinamente marroquino, foi exibido apenas uma vez e logo foi censurado pelo governo, se tornando uma obra "perdida" por mais de 40 anos, até uma cópia ser encontrada em uma filmoteca na Catalunha e restaurada para o público.
Desta forma, a sua intenção de ser um filme de resistência ao "terceiro mundismo", servindo ao cinema social que vai além do entretenimento e busca conscientizar a população sobre os problemas sociais, se confunde com a história de resistência da própria obra. Décadas depois, ela resiste, e o que encontramos é um documentário que se propõe ser metalinguístico, mas que, a partir de determinado evento, acaba indo além. Comparável a obras-primas do cinema-verdade, como as de Abbas Kiarostami e Eduardo Coutinho, é uma bem-vinda, mesmo que tardia, agregação ao time.
O Capital no Século XXI
3.7 4Tal qual o livro de Thomas Piketty no qual é baseado, apresenta uma crítica contundente, e necessária, sobre a organização do capitalismo atual. Apresenta-nos aa evolução histórica do sistema capitalista, passando por marcos sistêmicos que se traduziram em alguma mudança material para a sociedade, como a Crise de 29, o New Deal, a Crise do Petróleo, o neoliberalismo de Tatcher e Reagan, dentre outros. É possível percebermos, então, a deterioração do trabalho e da qualidade de vida que se aportou com o neoliberalismo, fortalecendo a grande contradição do sistema na qual os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres, cada vez mais pobres. É um documentário de fácil acesso a quem não tem conhecimento aprofundado sobre economia, mas que busca compreender os efeitos da concentração de renda e das consequências presentes e futuras na estrutura social.
Overseas
4.0 3Expõe, com primor e delicadeza, a fragilidade das mulheres que se dedicam ao trabalho doméstico no exterior. O que, inicialmente, parece ser a documentação de um treinamento comum de trabalho transforma-se em filme-denúncia dos abusos e violências a que as mulheres são submetidas enquanto posições subalternas na divisão do trabalho. Entre aprender a como pôr corretamente a mesa e como lavar as peças sujas, estão também lições de defesa pessoal em caso de assédios sexuais do patronado, por exemplo.
Através de depoimentos das mulheres que dividem suas experiências com as outras, é possível termos ideia da dimensão destas violências, e refletirmos tanto sobre a fronteira tênue que separa o trabalho despido de direitos e a escravidão, quanto as questões identitárias, como a condição de mulher e de imigrante, que atravessam a existências destes corpos e os relegam à vulnerabilidade.
Música e Apocalipse
3.2 5Uma crítica eficiente ao academicismo, aquele nível de debate intelectual que mais serve para massagear o ego dos debatedores do que buscar propostas concretas e funcionais aos problemas sociais. Apesar de, claro, se relacionar com o contexto alemão, não deixa de ser possível traçar paralelos com a situação das universidades brasileiras, da qual também padecem desse academicismo, muitas vezes, exagerado. Muitos intelectuais se refinam tanto na dimensão teórica que acabam negligenciando a necessidade de traduzir estas teorias em termos simplificados para que o conhecimento seja compreendido fora dos muros da universidade.
Em consonância com esse debate sobre a conexão do espaço acadêmico com o mundo exterior, temos a crítica à mercadologização da ciência. Aqui, adentramos a um debate comum em setores políticos sobre qual a real funcionalidade dos campus: seguir um entendimento neoliberal de produção rentável do conhecimento, que responda a investimentos da iniciativa privada, ou entender a função social da universidade como leitora e propositora de alternativas às nossas contradições estruturais. Compreendi o embate discursivo entre a professora e a coach, no diálogo das duas no carro, como a personificação dos dois lados desta dicotomia.
Ainda são possíveis extrair outras críticas, como a contradição do discurso pseudo-meritocrático de que ter um diploma te garante empregos, quando estamos observando tantos mestres e doutores desempregados por aí. Em que a universidade está falhando? Ou estaria o sistema falhando como um todo? Por sentir que tais críticas são tão latentes, e por pertencer ao espaço universitário e vivenciar tais debates, este filme me chamou bastante atenção!
O Colecionador
3.8 6Documentário singelo inicial da diretora turca sobre o seu tio, Mithat. Um bom estudo de personalidade. Mithat é um colecionador nato - coleciona tudo que é tipo de coisa desde a juventude, de modo que sua casa não tem mais espaço nem mesmo para andar. Enquanto acompanhamos sua história, refletimos sobre a relação entre a materialidade e o desapego. É como o personagem fala: "só um colecionador entende outro". Porque, para nós, de fora, chega a parecer doença psicológica. Mas esta é a forma que o colecionador encontra para preencher sua vida de um significado concreto (beeeeem concreto mesmo).
Toto and his sisters
4.3 2 Assista AgoraA inocência da infância imersa no clima amargo de seu meio. Injustamente desconhecido, o documentário retrata a relação entre três irmãos de uma família desajustada, cuja mãe encontra-se na prisão por drogas. O apartamento em que vivem é bastante precário, e habitado por usuários de heroínas. Apesar disso, Toto, o mais novo, não parece ser absorvido por estas energias nefastas, mantendo a positividade típica da infância. As duas irmãs mais velhas, pela maturidade, não possuem a mesma visão, sendo possível perceber o quanto a desestrutura familiar as afeta. Filme para se confrontar com o lado amargo de uma vida marginalizada, e que é capaz tanto de nos fazer sorrir com as atitudes do Toto quanto de sentir um nó no estômago pelo decorrer dos acontecimentos. Recomendadíssimo!
A Floresta de Jonathas
2.7 16Os planos idílicos da floresta amazônica me hipnotizaram. As cores e o som ambiente dos animais estimularam os meus sentidos, de modo que a história, para mim, ficou em segundo plano até mais ou menos 1h de filme, momento em que uma situação angustiante passa a se desenrolar e me prende através da aflição. Ao final do filme, apesar de ter um ritmo bastante lento, foi uma experiência recompensadora.
Raiva
3.2 14Para quem conhece a estética de Béla Tarr, as comparações são naturais. Ouso dizer, porém, que aqui a "lentidão contemplativa" não é orquestrada com igual maestria. A fotografia é belíssima, mas os quadros não são tão envolventes. A história do filme é boa, abordando a luta de classes no sul de Portugal na década de 50, e é possível fazer um paralelo com o coronelismo brasileiro. A sua condução, porém, não me prendeu. Como nem a fotografia nem o roteiro fizeram com que eu me envolvesse completamente, um filme curto, de menos de 1h30, me pareceu ter o dobro da duração.
Porém, acredito que vale a pena conferir.
Burn Burn Burn
3.6 36 Assista AgoraRoad-movies são tradicionais jornadas de auto-descoberta: novos ambientes trazem novas experiências, que trazem novas impressões. Este não é diferente, mas não significa que não traga nada de novo. É muito interessante como o elemento "morte" serve de conexão para que as duas protagonistas façam as pazes com "suas próprias dores". Com elas, temos a oportunidades de viajar pela Grã-Bretanha e encontrar personagens excêntricos, o que confere um tom sarcástico ao filme, que não se sobrepõe, porém, ao drama das relações mal resolvidas.
Os últimos 20 minutos do filme foram uma grata surpresa para mim!
Minha amiga Victoria
3.5 3Filme bastante sensível. Trata-se um filme sobre os sentimentos e escolhas de uma mãe negra e solteira, e os seus eventuais conflitos em se encaixar em um espaço o qual sente não pertencer. Evidencia, com bastante sutilidade, as separações raciais e a herança da mentalidade colonial na sociedade francesa, pois, embora este debate não fique totalmente explícito, é possível lê-lo através das relações entre os personagens.
Alice Júnior
3.8 144É só ver pelo prisma adolescente pra perceber o quão maravilhoso e necessário é esse filme. Tem que ter filme teen empoderando jovem trans sim! São produções como essa que contribuem para a saúde mental e a auto-estima de jovens como a Alice, que percebem que não estão sozinhas nas dificuldades estruturais de nossa sociedade historicamente patriarcal. Gostei muito que o filme não limitou o mundo da protagonista à questão da transexualidade, mas interligou esta vivência com outras expectativas típicas da adolescência, mostrando que Alice tem os mesmos anseios e desejos que as/os demais jovens. Fiquei querendo mais!!
Como um nordestino que já teve a oportunidade de visitar o sul, super entendo o choque que a Alice deve ter sentido. A gente se assusta com tantas pessoas brancas. Rs. (sabendo, claro, que o choque dela não se dá apenas pela questão racial.)
PS: o estereótipo da bicha má cis-gênero que rejeita a amizade da trans por ser "queimação" é muito verdadeiro, infelizmente. Ainda é necessário muita desconstrução do machismo dentro de nosso próprio meio LGBTQIA+
Monos: Entre o Céu e o Inferno
3.3 39 Assista AgoraTenho uma queda pela simbiose de fotografia primorosa com enredo angustiante!
Lindinhas
3.0 195 Assista AgoraPra mim, dizer que "Mignonnes" fornece material para pedófilos vem da mesma mentalidade de dizer que as mulheres são estupradas porque estão usando roupa curta. Ou seja: culpar as cenas pseudo-sensuais (que são, visivelmente, uma crítica) em vez de culpar quem vai sexualizá-las. A escolha da diretora pelos closes nos corpos me pareceu óbvia, e, pelo visto, funcionou: incomodar. Desta forma, como recurso para chamar atenção para a sexualização infantil, ele é bastante bem sucedido.
Mas o filme não é só isso. A sexualização da protagonista me pareceu uma válvula de escape de toda uma estrutura familiar arruinada, decorrente de uma tradição a qual a mesma, por motivos geracionais, tecnológicos, e por encontrar-se em outro contexto (Paris não é Dakar), não mais se encaixa. O filme também é bem sucedido ao nos fazer refletir sobre choques culturais, a influência das redes sociais no desenvolvimento dos jovens, a falência de alguns pais em lidarem com esses conflitos geracionais, e o papel da mulher na tradição de algumas sociedades africanas. Essas críticas, assim como a principal, porém, só se mostrarão àqueles abertos a enxergá-las, sem preconceitos.
No Quarto da Vanda
4.0 15Eu gosto desta estética "caravaggiana" do Pedro Costa de valorizar as sombras e melancolizar os cenários. Tal opção, aliada aos diálogos vazios, quando existem, e aos atos destrutivos das personagens, confere um ar altamente deprimente à história. Por isso, rankeio o filme com 3 estrelas, por achar a proposta boa.
Meu problema aqui é o mesmo que tive com "Ossos": pouco mais me é dito além do que já foi nos primeiros 20 minutos. Entendo a intenção do diretor em nos transformar em observadores da decadência, mas, se a forma de narrar a história tinha resultado para mim em uma experiência cansativa no primeiro filme, nesse, com suas quase três horas de duração, foi praticamente uma tortura. Não acho que eu tenha me sentido cansado porque aquelas pessoas retratadas estão "cansadas da vida"; que eu tenha me sentido claustrofóbico porque aquele estilo de vida "aprisiona as esperanças do ser", ou algo do tipo. Eu me senti preso porque eu senti que o que ele tinha para me dizer, já tinha me dito muito antes do filme chegar na metade.
Em suma: admiro a proposta, mas sinto-me feliz em ter visto em casa, o que me proporcionou a liberdade de avançar certas cenas para encurtar a experiência. No cinema, teria sido um suplício, dada a minha dificuldade de abandonar uma sessão antes do fim (nunca fiz isso, na verdade).
O Clube dos Canibais
3.1 148 Assista AgoraO filme caiu muito no meu conceito devido á quebra de expectativa. Foi o canibalismo que me chamou a atenção, mas, ao meu ver, este deixa o tema bastante em segundo plano, preferindo atingir o clímax com uma intriga que poderia ter se desenvolvido em qualquer outra história. Como amante do cinema nacional, e ainda mais do nordestino, é doído ter que admitir que perdi meu tempo.
Para alguém que sentiu o mesmo que eu, e deseja ver um filme satisfatório com essa temática, sugiro "O animal cordial".