Galera, um amigo meu fez essa crítica muito legal desse filme:
"Kaiju é um termo vindo do japonês e que significa literalmente “monstro gigante”. E esse também é o nome dado á extensa linhagem de enormes criaturas, sejam elas orgânicas ou robóticas, cujo maior objetivo parece ser a destruição de grandes metrópoles. Surgido do medo nuclear dos anos 50 e fruto do crescente descuido humano com a radioatividade e tecnologia, tais criaturas passaram a habitar o fértil imaginário da Guera Fria, com seus comunistas dominadores de mente e salas secretas que guardavam em si a destruição do mundo. A mãe de todas essas criaturas é o Godzilla, com sua genética modificada ,meio lagarto meio dinossauro aquático e dotado de uma sede de destruição animalesca, é claro, mas estranhamente melancólica.
Depois disso, o Japão se manteve supremo na sua cronica de destruição, ampliando as escalas até níveis mirabolantes. Os EUA também seguiram a onda, chegando a fazerem seus próprios Godzillas. Mas era óbvio que a essência se perdeu em algum canto, já que o kaiju original se transmutou em algo a mais (ou a menos). Precisou Guillermo del Toro assumir a direção, em toda sua fascinação e inventividade, para novamente estabelecer e modernizar noções clássicas, aliá-las ao divertimento típico dos grandes blockbusters americanos e adicionar elementos mais globalizados. E assim que Círculo de Fogo veio ao mundo todos pensamos que aquele era o limite do gênero. E que se algo a mais fosse feito, apenas se manteria um nível abaixo.
Mas 4 anos depois, e vem mais um espanhol, agora Nacho Vigalondo, e muda as dinâmicas mais uma vez. Mas se del Toro conquistou a partir do aperfeiçoamento visual e destilação do entretenimento, Vigalondo vai até as raízes antigas do mito, o torcendo e aplicando nele um elemento humano que embora sempre fizesse sentido ao cerne das questões a respeito desse subgênero, ainda nunca foram pensadas com tamanha literalidade.
A questão é: Godzilla possuía dentro de si um resquício humano? Parece provável, assim como tal equação acaba se aplicando para diversos outros monstros que povoam o cinema: a paridade do monstro com o espírito humano, e como os dois em resumo descambam em quocientes semelhantes. Muito foi filmado no que se diz respeito a monstruosidade inerente ao ser humano, mas o que Vigalondo fez em Colossal é simplesmente adicionar uma via nesse fluxo de significados, perguntando se nós já pensamos no quanto de humano possui nessas criaturas e se tais criaturas apenas possuem essa característica monstruosa devido á própria semente da destruição que habita em nós. Sim, são questões muito complexas, mas sempre bastante recorrentes em vários filmes que se propõem a lidar com essas dicotomias. E se engana quem acha um exagero tirar tantos significados de um filme que aparentemente se direciona a um publico que não se preocupa com tais reflexões.
Primeiro vem a questão de se Colossal foi feito ou não para um grande público. E se, assim como eu, a resposta for “sim”, cabe a pergunta de em que medida tal escolha impossibilitaria a exploração de novos territórios. Óbvio que ele foi feito para gerar algum divertimento, se não não receberia o orçamento que recebeu para a proposta que carrega em si. Mas também fica claro que suas intenções vão muito além do desprendimento fácil, enveredando por caminhos diferentes e assimilando conceitos tipicamente americanos da comédia romântica e do drama de superação, para assim atinar em novas dinâmicas. O vício como via de escape ao mesmo tempo em que leva inevitavelmente para uma gradual degeneração. Relacionamentos como ações diretamente ligadas a formas de poder e a própria dualidade do poder… Tudo isso não deixa de ser tratado de forma simples, isso é fato, mas tudo é construído com um tato incrível para o humano e com um senso de cinema imaginativo em estado bruto pelo qual é difícil não se encantar.
Se na primeira metade, o que domina é a regra do fascínio pelo fascínio e o ato quase infantil de encantamento frente a esse elemento fantástico, logo depois Vigalondo trata de por tudo no chão (ou seria elevá-lo ainda mais?) com sua sacada quase lúdica de tão eficiente e mínima. E o que antes seria levado apenas como um divertido exercício de gênero passa por uma transformação muito mais profunda, num jogo divertidíssimo em que simples movimentos e planos instantaneamente passam a ter uma importância muito maior (literalmente), onde uma das micro narrativas mais duradouras do cinema narrativo (a dramédia de relacionamentos), acaba servindo como instrumento interessantíssimo para redefinir ideias a respeito dos filmes de kaiju . Ao soprar vida nos místicos monstros orientais e ao inflar a realidade de grandiosa imaginação, Colossal é um poço de criatividade e eficiência, de forma que poucos grandes filmes ainda possuem coragem de fazer."
Se vocês curtiram deem uma olhada do blog dele ;) Se chama 'sindromecinefila' (tentei botar o site todo, mas o filmow achou que era spam) Vlwwwwww
Comprar Ingressos
Este site usa cookies para oferecer a melhor experiência possível. Ao navegar em nosso site, você concorda com o uso de cookies.
Se você precisar de mais informações e / ou não quiser que os cookies sejam colocados ao usar o site, visite a página da Política de Privacidade.
Colossal
3.1 338 Assista AgoraGalera, um amigo meu fez essa crítica muito legal desse filme:
"Kaiju é um termo vindo do japonês e que significa literalmente “monstro gigante”. E esse também é o nome dado á extensa linhagem de enormes criaturas, sejam elas orgânicas ou robóticas, cujo maior objetivo parece ser a destruição de grandes metrópoles. Surgido do medo nuclear dos anos 50 e fruto do crescente descuido humano com a radioatividade e tecnologia, tais criaturas passaram a habitar o fértil imaginário da Guera Fria, com seus comunistas dominadores de mente e salas secretas que guardavam em si a destruição do mundo. A mãe de todas essas criaturas é o Godzilla, com sua genética modificada ,meio lagarto meio dinossauro aquático e dotado de uma sede de destruição animalesca, é claro, mas estranhamente melancólica.
Depois disso, o Japão se manteve supremo na sua cronica de destruição, ampliando as escalas até níveis mirabolantes. Os EUA também seguiram a onda, chegando a fazerem seus próprios Godzillas. Mas era óbvio que a essência se perdeu em algum canto, já que o kaiju original se transmutou em algo a mais (ou a menos). Precisou Guillermo del Toro assumir a direção, em toda sua fascinação e inventividade, para novamente estabelecer e modernizar noções clássicas, aliá-las ao divertimento típico dos grandes blockbusters americanos e adicionar elementos mais globalizados. E assim que Círculo de Fogo veio ao mundo todos pensamos que aquele era o limite do gênero. E que se algo a mais fosse feito, apenas se manteria um nível abaixo.
Mas 4 anos depois, e vem mais um espanhol, agora Nacho Vigalondo, e muda as dinâmicas mais uma vez. Mas se del Toro conquistou a partir do aperfeiçoamento visual e destilação do entretenimento, Vigalondo vai até as raízes antigas do mito, o torcendo e aplicando nele um elemento humano que embora sempre fizesse sentido ao cerne das questões a respeito desse subgênero, ainda nunca foram pensadas com tamanha literalidade.
A questão é: Godzilla possuía dentro de si um resquício humano? Parece provável, assim como tal equação acaba se aplicando para diversos outros monstros que povoam o cinema: a paridade do monstro com o espírito humano, e como os dois em resumo descambam em quocientes semelhantes. Muito foi filmado no que se diz respeito a monstruosidade inerente ao ser humano, mas o que Vigalondo fez em Colossal é simplesmente adicionar uma via nesse fluxo de significados, perguntando se nós já pensamos no quanto de humano possui nessas criaturas e se tais criaturas apenas possuem essa característica monstruosa devido á própria semente da destruição que habita em nós. Sim, são questões muito complexas, mas sempre bastante recorrentes em vários filmes que se propõem a lidar com essas dicotomias. E se engana quem acha um exagero tirar tantos significados de um filme que aparentemente se direciona a um publico que não se preocupa com tais reflexões.
Primeiro vem a questão de se Colossal foi feito ou não para um grande público. E se, assim como eu, a resposta for “sim”, cabe a pergunta de em que medida tal escolha impossibilitaria a exploração de novos territórios. Óbvio que ele foi feito para gerar algum divertimento, se não não receberia o orçamento que recebeu para a proposta que carrega em si. Mas também fica claro que suas intenções vão muito além do desprendimento fácil, enveredando por caminhos diferentes e assimilando conceitos tipicamente americanos da comédia romântica e do drama de superação, para assim atinar em novas dinâmicas. O vício como via de escape ao mesmo tempo em que leva inevitavelmente para uma gradual degeneração. Relacionamentos como ações diretamente ligadas a formas de poder e a própria dualidade do poder… Tudo isso não deixa de ser tratado de forma simples, isso é fato, mas tudo é construído com um tato incrível para o humano e com um senso de cinema imaginativo em estado bruto pelo qual é difícil não se encantar.
Se na primeira metade, o que domina é a regra do fascínio pelo fascínio e o ato quase infantil de encantamento frente a esse elemento fantástico, logo depois Vigalondo trata de por tudo no chão (ou seria elevá-lo ainda mais?) com sua sacada quase lúdica de tão eficiente e mínima. E o que antes seria levado apenas como um divertido exercício de gênero passa por uma transformação muito mais profunda, num jogo divertidíssimo em que simples movimentos e planos instantaneamente passam a ter uma importância muito maior (literalmente), onde uma das micro narrativas mais duradouras do cinema narrativo (a dramédia de relacionamentos), acaba servindo como instrumento interessantíssimo para redefinir ideias a respeito dos filmes de kaiju . Ao soprar vida nos místicos monstros orientais e ao inflar a realidade de grandiosa imaginação, Colossal é um poço de criatividade e eficiência, de forma que poucos grandes filmes ainda possuem coragem de fazer."
Se vocês curtiram deem uma olhada do blog dele ;) Se chama 'sindromecinefila' (tentei botar o site todo, mas o filmow achou que era spam)
Vlwwwwww