Luta por Justiça é um dos casos frequentes de temática que se sobressai à forma. Não há nada de terrivelmente errado no longa de Destin Daniel Cretton, mas tampouco acerta ou cria identidade própria. O protagonista Bryan Stevenson (Michael B. Jordan), um advogado recém-formado em Harvard, abre mão do caminho óbvio, e mais fácil, para se dedicar a prisioneiros condenados à morte que jamais receberam assistência legal justa. Somente esta decisão, explorada ao máximo no momento em que ele sai de casa e precisa convencer a própria mãe sobre a importância de seu ato, é o suficiente para transformá-lo num homem cujas motivações e caráter jamais serão questionados. E, claro, se há um ator que personifica esta intenção, Jordan é a escalação certeira para o projeto.
Embora a trama se disponha a abordar, na maior parte do tempo, as barbaridades do sistema judicial americano, fica claro o fascínio do roteiro por Stevenson. Todos parecem imediatamente atraídos e encantados pela determinação do rapaz, exceto, talvez, Walter McMillian (Jamie Foxx), cuja função inicial é de demonstrar resistência em receber ajuda, para momentos depois ceder ao já conhecido charme do protagonista — um truque clássico em Hollywood. O curioso desse tipo de recurso não é tanto sua popularidade, mas o fato de normalmente ser utilizado para falar mais do personagem que recebeu a negação do que sobre aquele que talvez merecesse mais da nossa atenção enquanto espectador.
Note como, durante um revés no segundo ato, quando fica claro que as chances do prisioneiro em reverter sua sentença são escassas, é Stevenson quem recebe o consolo de McMillian, e não o contrário. “Você devolveu minha verdade”, diz o homem no corredor da morte para o advogado frustrado. Outro artifício utilizado é aquele em que uma fala com uma informação histórica é inserida de modo a praticamente anunciar uma ruptura. “Você sabe quantas pessoas já se livraram do corredor da morte? Zero”, esbraveja o personagem de Foxx ao demonstrar sua falta de crença no sistema, ao mesmo tempo explicando para o espectador o impacto de sua provável libertação.
A representação feminina na trama é outro aspecto que se mostra problemático, a começar por Eva (Brie Larson), que não só carece de um arco próprio como entra em cena com dois objetivos bastante delimitados. O primeiro é o de antecipar as perguntas do espectador e se certificar de que não há dúvidas sobre o que foi explicado na cena. Exemplo disso é o momento em que Stevenson fala do uso impróprio de um depoimento no julgamento de McMillian, e imediatamente depois Eva repete as mesmas informações com palavras diferentes, acrescentando detalhes e conclusões que possam ter passado batido ao público.
A segunda função é de enaltecer a figura do protagonista. Note como, durante um jantar em sua casa, ela fala de sua trajetória em busca de um trabalho que fizesse a diferença e de como estava prestes a desistir quando finalmente encontra Stevenson, seu salvador. Até mesmo a atendente de um escritório governamental tem como única participação um questionamento sobre o status civil do advogado.
Minnie (Karan Kendrick), por sua vez, é a esposa que se mantém incondicionalmente ao lado do marido, mesmo sabendo de uma traição ocorrida meses antes. Suas dificuldades financeiras e, principalmente, a ambiguidade de seus sentimentos diante da situação do marido jamais são abordadas.
Há uma válida tentativa de trazer profundidade à rotina no corredor da morte, principalmente quando uma maior atenção é dada ao trio de vizinhos de cela. No entanto, a indisponibilidade do longa em abordar os supostos crimes de Herbert (Rob Morgan) e Anthony (O'Shea Jackson Jr.) surpreende, principalmente quando os créditos finais revelam que o último precisou passar décadas na cadeia antes de provar sua inocência, um grave sintoma da estrutura falha do judiciário americano que nunca é explorado pelo roteiro. Ao final, fica claro que a luta referida no título é mais do homem que abriu mão de certos privilégios do que contra as injustiças institucionalizadas dos órgãos judiciais.
'1917' é um pastel de vento (crítica por Rafael Argemon em HuffPost Brasil - trechos selecionados)
A grande vantagem do thriller de guerra do britânico Sam Mendes sobre seus concorrentes mais fortes à estatueta de Melhor Filme é que ele não incomoda ninguém. Mantém o status dos estúdios tradicionais sobre a gigante do streaming, não entra em polêmicas e possui o atrativo do apuro técnico de seu grande plano-sequência.
Aliás, essa última característica é a pedra fundamental de 1917. Seu ponto forte e, ao mesmo tempo, seu calcanhar de Aquiles. É um caso típico da forma que se impõe sobre o conteúdo. Um pastel de vento. Um belo pastel, verdade, mas sem recheio.
O que falta a 1917 não é esmero técnico, mas alma, coração.
O espectador pode se envolver com uma cena baseada na técnica, como o desembarque nas praias da Normandia em O Resgate do Soldado Ryan (1998), para usar outra história de guerra como exemplo, mas em um filme inteiro é necessário um vínculo emocional com a trama ou um personagem. E, nisso, 1917 falha miseravelmente.
Por mais que George MacKay se esforce muito em sua atuação “sofredora” estilo Leonardo DiCaprio em O Regresso (2015), não há como nos identificar com o drama de seu Schofield. Simplesmente porque não sabemos absolutamente nada sobre Schofield. O pouco de história pregressa que temos como base de construção de um personagem é de Blake (Dean-Charles Chapman), mas é um fiapo.
Dito isso, 1917 é um filme ruim? Não. Longe disso. Por mais que force soluções “mágicas” na caminhada de seus protagonistas pelo inferno da guerra e lhe falte humanismo, Mendes e (principalmente) o veterano fotógrafo Roger Deakins conseguem entregar uma produção de grande beleza estética. Certamente uma “experiência visual” das boas, mas que não reverbera na alma do espectador. É um filme frio. Falta tesão. E não há coisa que a Academia odeie mais do que tesão.
O filme vai numa tensão crescente até culminar num final de tirar o fôlego. Difícil adotar um lado nessa história, dada a complexidade das questões sociais. Filme excelente! Extremamente provocador.
Só eu achei uma merda? Tem filmes de guerra MUITO melhores! O roteiro é fraquíssimo, os personagens não cativam, não emociona, nada. Só é visualmente bem feito. Só.
Apesar de algumas falhas no roteiro, que força a barra em certos momentos, o filme é mais contundente na crítica ao racismo do que Green Book. Mostra a luta dos negros, ridiculariza a KKK, relaciona com a situação contemporânea nos EUA, expõe falas de Trump e exibe a bandeira negra no final. Forte e atual!
P.S.: Os comentários racistas por aqui apenas refletem a pertinência do tema.
Não achei nada de mais no filme. A história não surpreende, não inova, não envolve. E a música de suspense durante o filme inteiro é muito irritante, soa artificial.
Algumas reflexões possíveis: - Às vezes é preciso desapegar para tornar a vida mais leve ("É só uma casa"). - A busca pelo sonho é mais importante do que sua realização (afinal, foi só um pretexto para que Carl e Ellie se conhecessem; a história deles foi mais forte do que qualquer suposta aventura). - Nunca é tarde demais para descobrir que o mais saudável é entregar-se à loucura de vez em quando.
"Mas eu não quero sobreviver. Eu quero viver." (Solomon Northup) Que época infeliz! De certa forma, eram todos escravos de seus papéis sociais. Filme forte, maravilhoso!
Gostei do estilo, bem ousado! Tem alguns momentos divertidos e é bastante crítico em relação à banalidade da vida, da morte, às hipocrisias sociais... A Globo satiriza sua própria emissora, o que também é legal de se ver. E o final é ótimo! rs
A ideia já é inovadora: um filme de guerra brasileiro, resgastando um pedaço quase esquecido da nossa história. Elenco ótimo, produção bem feita... Não há grandes cenas de ação. O filme investe no lado humano, nas emoções dos soldados. Uma escolha bastante sensível. Começa um pouco devagar, mas vai tomando ritmo e tem até algumas cenas divertidas, principalmente as do Piauí com o soldado alemão. A narração do Guima também é interessante, com algumas frases marcantes.
Luta Por Justiça
4.2 250 Assista AgoraLuta por Justiça
O fascínio pelo herói solitário
por Sarah Lyra em Adoro Cinema
Luta por Justiça é um dos casos frequentes de temática que se sobressai à forma. Não há nada de terrivelmente errado no longa de Destin Daniel Cretton, mas tampouco acerta ou cria identidade própria. O protagonista Bryan Stevenson (Michael B. Jordan), um advogado recém-formado em Harvard, abre mão do caminho óbvio, e mais fácil, para se dedicar a prisioneiros condenados à morte que jamais receberam assistência legal justa. Somente esta decisão, explorada ao máximo no momento em que ele sai de casa e precisa convencer a própria mãe sobre a importância de seu ato, é o suficiente para transformá-lo num homem cujas motivações e caráter jamais serão questionados. E, claro, se há um ator que personifica esta intenção, Jordan é a escalação certeira para o projeto.
Embora a trama se disponha a abordar, na maior parte do tempo, as barbaridades do sistema judicial americano, fica claro o fascínio do roteiro por Stevenson. Todos parecem imediatamente atraídos e encantados pela determinação do rapaz, exceto, talvez, Walter McMillian (Jamie Foxx), cuja função inicial é de demonstrar resistência em receber ajuda, para momentos depois ceder ao já conhecido charme do protagonista — um truque clássico em Hollywood. O curioso desse tipo de recurso não é tanto sua popularidade, mas o fato de normalmente ser utilizado para falar mais do personagem que recebeu a negação do que sobre aquele que talvez merecesse mais da nossa atenção enquanto espectador.
Note como, durante um revés no segundo ato, quando fica claro que as chances do prisioneiro em reverter sua sentença são escassas, é Stevenson quem recebe o consolo de McMillian, e não o contrário. “Você devolveu minha verdade”, diz o homem no corredor da morte para o advogado frustrado. Outro artifício utilizado é aquele em que uma fala com uma informação histórica é inserida de modo a praticamente anunciar uma ruptura. “Você sabe quantas pessoas já se livraram do corredor da morte? Zero”, esbraveja o personagem de Foxx ao demonstrar sua falta de crença no sistema, ao mesmo tempo explicando para o espectador o impacto de sua provável libertação.
A representação feminina na trama é outro aspecto que se mostra problemático, a começar por Eva (Brie Larson), que não só carece de um arco próprio como entra em cena com dois objetivos bastante delimitados. O primeiro é o de antecipar as perguntas do espectador e se certificar de que não há dúvidas sobre o que foi explicado na cena. Exemplo disso é o momento em que Stevenson fala do uso impróprio de um depoimento no julgamento de McMillian, e imediatamente depois Eva repete as mesmas informações com palavras diferentes, acrescentando detalhes e conclusões que possam ter passado batido ao público.
A segunda função é de enaltecer a figura do protagonista. Note como, durante um jantar em sua casa, ela fala de sua trajetória em busca de um trabalho que fizesse a diferença e de como estava prestes a desistir quando finalmente encontra Stevenson, seu salvador. Até mesmo a atendente de um escritório governamental tem como única participação um questionamento sobre o status civil do advogado.
Minnie (Karan Kendrick), por sua vez, é a esposa que se mantém incondicionalmente ao lado do marido, mesmo sabendo de uma traição ocorrida meses antes. Suas dificuldades financeiras e, principalmente, a ambiguidade de seus sentimentos diante da situação do marido jamais são abordadas.
Há uma válida tentativa de trazer profundidade à rotina no corredor da morte, principalmente quando uma maior atenção é dada ao trio de vizinhos de cela. No entanto, a indisponibilidade do longa em abordar os supostos crimes de Herbert (Rob Morgan) e Anthony (O'Shea Jackson Jr.) surpreende, principalmente quando os créditos finais revelam que o último precisou passar décadas na cadeia antes de provar sua inocência, um grave sintoma da estrutura falha do judiciário americano que nunca é explorado pelo roteiro. Ao final, fica claro que a luta referida no título é mais do homem que abriu mão de certos privilégios do que contra as injustiças institucionalizadas dos órgãos judiciais.
1917
4.2 1,8K Assista Agora'1917' é um pastel de vento (crítica por Rafael Argemon em HuffPost Brasil - trechos selecionados)
A grande vantagem do thriller de guerra do britânico Sam Mendes sobre seus concorrentes mais fortes à estatueta de Melhor Filme é que ele não incomoda ninguém. Mantém o status dos estúdios tradicionais sobre a gigante do streaming, não entra em polêmicas e possui o atrativo do apuro técnico de seu grande plano-sequência.
Aliás, essa última característica é a pedra fundamental de 1917. Seu ponto forte e, ao mesmo tempo, seu calcanhar de Aquiles. É um caso típico da forma que se impõe sobre o conteúdo. Um pastel de vento. Um belo pastel, verdade, mas sem recheio.
O que falta a 1917 não é esmero técnico, mas alma, coração.
O espectador pode se envolver com uma cena baseada na técnica, como o desembarque nas praias da Normandia em O Resgate do Soldado Ryan (1998), para usar outra história de guerra como exemplo, mas em um filme inteiro é necessário um vínculo emocional com a trama ou um personagem. E, nisso, 1917 falha miseravelmente.
Por mais que George MacKay se esforce muito em sua atuação “sofredora” estilo Leonardo DiCaprio em O Regresso (2015), não há como nos identificar com o drama de seu Schofield. Simplesmente porque não sabemos absolutamente nada sobre Schofield. O pouco de história pregressa que temos como base de construção de um personagem é de Blake (Dean-Charles Chapman), mas é um fiapo.
Dito isso, 1917 é um filme ruim? Não. Longe disso. Por mais que force soluções “mágicas” na caminhada de seus protagonistas pelo inferno da guerra e lhe falte humanismo, Mendes e (principalmente) o veterano fotógrafo Roger Deakins conseguem entregar uma produção de grande beleza estética. Certamente uma “experiência visual” das boas, mas que não reverbera na alma do espectador. É um filme frio. Falta tesão. E não há coisa que a Academia odeie mais do que tesão.
Os Miseráveis
4.0 162O filme vai numa tensão crescente até culminar num final de tirar o fôlego. Difícil adotar um lado nessa história, dada a complexidade das questões sociais.
Filme excelente! Extremamente provocador.
1917
4.2 1,8K Assista AgoraSó eu achei uma merda?
Tem filmes de guerra MUITO melhores!
O roteiro é fraquíssimo, os personagens não cativam, não emociona, nada. Só é visualmente bem feito. Só.
Adoráveis Mulheres
4.0 975 Assista Agora“Só porque meus sonhos são diferentes dos seus, não significa que são menos importantes.”
Abismo de um Sonho
3.7 36 Assista Agora"O verdadeiro sentido da vida é o sonho, mas às vezes o sonho é um fosso sem fundo."
Entardecer
2.8 27 Assista AgoraWTF?!
Megarrromântico
3.1 565 Assista Agora"I love... I love me." ♥
Infiltrado na Klan
4.3 1,9K Assista AgoraApesar de algumas falhas no roteiro, que força a barra em certos momentos, o filme é mais contundente na crítica ao racismo do que Green Book. Mostra a luta dos negros, ridiculariza a KKK, relaciona com a situação contemporânea nos EUA, expõe falas de Trump e exibe a bandeira negra no final. Forte e atual!
P.S.: Os comentários racistas por aqui apenas refletem a pertinência do tema.
Green Book: O Guia
4.1 1,5K Assista Agora"É preciso coragem para mudar o coração das pessoas."
A Favorita
3.9 1,2K Assista AgoraNão achei nada de mais no filme. A história não surpreende, não inova, não envolve. E a música de suspense durante o filme inteiro é muito irritante, soa artificial.
Roma
4.1 1,4K Assista Agora"Digam o que nos disserem, nós, mulheres, estamos sempre sozinhas."
A Garota Ocidental
3.9 31 Assista AgoraFilme seco, duro, forte. O choque de tradições se traduz também num choque de emoções para o espectador. Recomendo.
Ninfomaníaca: Volume 2
3.6 1,6K Assista Agora"As qualidades humanas podem ser expressas em uma palavra: hipocrisia."
O Caso SK1
3.6 17"Eu sou apenas o cara que buscou o monstro por 7 anos"
"E eu rastreio o homem por trás do monstro."
Muito bom!
Up: Altas Aventuras
4.3 3,8K Assista AgoraEsse filme é de uma sensibilidade incrível! Tem seu lado lúdico, mas, principalmente, é muito bonito pelo tratamento das questões humanas.
Algumas reflexões possíveis:
- Às vezes é preciso desapegar para tornar a vida mais leve ("É só uma casa").
- A busca pelo sonho é mais importante do que sua realização (afinal, foi só um pretexto para que Carl e Ellie se conhecessem; a história deles foi mais forte do que qualquer suposta aventura).
- Nunca é tarde demais para descobrir que o mais saudável é entregar-se à loucura de vez em quando.
Ligações Perigosas
4.0 342 Assista AgoraNa guerra e no amor, não há vencedores.
O Pequeno Príncipe
4.2 1,1K Assista Agora"O problema não é crescer. É esquecer." ♥
12 Anos de Escravidão
4.3 3,0K"Mas eu não quero sobreviver. Eu quero viver." (Solomon Northup)
Que época infeliz! De certa forma, eram todos escravos de seus papéis sociais.
Filme forte, maravilhoso!
Minions
3.3 996 Assista AgoraBanana!
Romance Policial
2.7 19"Esse era um bom começo de conto. E real."
Sangue Azul
3.3 54 Assista AgoraBelíssimo filme! Inebriante.
Aquela cena em que o Pedro/Zolah chora no quarto e sua mãe ouve do lado de fora é muito comovente.
Sorria, Você Está Sendo Filmado - O Filme
2.4 77 Assista AgoraGostei do estilo, bem ousado! Tem alguns momentos divertidos e é bastante crítico em relação à banalidade da vida, da morte, às hipocrisias sociais... A Globo satiriza sua própria emissora, o que também é legal de se ver.
E o final é ótimo! rs
A Estrada 47
3.3 157 Assista AgoraA ideia já é inovadora: um filme de guerra brasileiro, resgastando um pedaço quase esquecido da nossa história. Elenco ótimo, produção bem feita... Não há grandes cenas de ação. O filme investe no lado humano, nas emoções dos soldados. Uma escolha bastante sensível. Começa um pouco devagar, mas vai tomando ritmo e tem até algumas cenas divertidas, principalmente as do Piauí com o soldado alemão. A narração do Guima também é interessante, com algumas frases marcantes.