Ele a estupra porque é o único meio pelo qual ainda consegue obter algum poder sobre ela, já que no trabalho isso já não era mais possível estando ela hierarquicamente acima dele. Em todas as tentativas que ela faz de ter sexo, ele brocha. Só consegue gozar num sexo violento e forçado, um estupro. No início do filme vemos uma cena engraçada de tentativa de sexo oral, mais pra frente esse mesmo tipo de sexo é visto como um ato humilhante. Luke não suporta chupar uma mulher profissionalmente superior a ele, embora não se importe em ajoelhar para seu chefe e implorar por um cargo numa cena completamente ridícula.
Atuações pavorosas, roteiro ridículo, direção horrenda, fotografia pior ainda. Mas como crente não tem repertório e viu no máximo uns cinco filmes na vida contando com Deus Não Está Morto e a saga Deixados para Trás, acharam essa bomba a coisa mais comovente do mundo. Como obra artística, lamentável. Com relação a mensagem transmitida, deve ter uns trocentos filmes melhores.
Conhecem o estereótipo da pessoa preta amiga da protagonista branca? Essa série tá cheia disso. Parece que pessoas pretas só servem pra aconselhar e elogiar os protagonistas brancos, elas não têm suas histórias desenvolvidas. Sempre que uma pessoa preta aparece aqui ela está dando conselhos a uma branca, servindo de apoio/suporte. Isso é muito incômodo.
A babá não tem vida própria, vive de adular uma mãe irresponsável (e sabe-se lá Deus se ela recebe salário pra viver naquela situação deplorável). Teu filho tá com Leucemia? Vai pra balada, aproveitar, se divertir, transar, eu cuido dele.
Aliás, incrível como a Angel, mesmo falida, sem dinheiro nem pra comprar os medicamentos do filho doente, consegue pagar uma babá em TEMPO INTEGRAL. A babá dorme naquele muquifo minúsculo e ainda é obrigada a ouvir a patroa trepando a noite inteira pelos cantos. Inclusive, considerando que a dondoca não faz porra nenhuma e não para em casa, quem cozinha? Quem limpa? Quem faz as compras do supermercado? A babá? Alguém denuncia essa exploradora, pelo amor de Deus! Nalva, procure seus direitos, estamos com você!
Que fixação é essa por vermelho e azul? Passaram completamente do ponto. Haja papel celofane. Tacaram vermelho até no quarto da pobre da criança. Puteiro ou puxadinho do inferno? Apenas um quarto infantil kkk passo mal.
O apartamento da Giovanna parece uma mistura de cemitério com balada erótica.
A Angel conversando com o médico e o local totalmente escuro. Que hospital é esse que não tem luz? Que pediatra atende na penumbra? É a crise energética?
Enfim, uma bela porcaria. Sem tempo pra apontar os furos desse queijo suíço de roteiro. No fim, eu estava tonta de tanto ver neon e transição brega com prédio espelhado. Uma coisinha: o Ícaro Silva daria um protagonista beeeem melhor do que o policial dançarino saído de uma fanfic do wattpad.
Se uma cara chegar em você com esse papo bizarro de que quer cuidar de você porque te acha ingênua e frágil, manda ele fazer terapia, ter um filho ou prestar serviço voluntário em alguma casa de repouso para idosos.
Não consegui comprar o vício dela em crack, porque não é o tipo de droga que médicos costumam se viciar. Morfina, algum tipo de anfetamina, álcool, até mesmo cocaína seria um vício mais crível. Não faz sentido uma mulher burguesa, médica recém-formada, simplesmente decidir usar crack pra ter um barato, como se não soubesse as consequências disso, como se não tivesse grana pra usar algo melhor/menos danoso. Usuários de crack são indivíduos frutos de uma série de negligências e em sua maioria estão em situação econômica vulnerável. Mas aí se não fosse crack não ia gerar o mesmo impacto, né? Senti que quiseram emular um pouco o arco da Grazi Massafera em Verdades Secretas, o que me irrita um pouco.
Não acho que o marido foi suficientemente responsabilizado por ter trazido o crack pra vida da esposa, e me incomoda isso ser tratado como somente um passatempo dos dois. A dependência afeta a família do usuário, é um problema que se alastra e atinge quem estiver ao redor.
Qual o intuito de enfiar aquela subtrama ridícula no último ep. envolvendo a irmã caçula e o cunhado dela? Aliás, qual o propósito dessa garota na trama toda? Nem vou comentar sobre aquela ladainha de Eu Decidi Esperar ZzzZzzz.
A Viviam é apresentada como uma mulher cheia de autoestima, decidida e com muitos planos, mas termina se matando (numa cena exageradamente dramática, diga-se) por causa de um fora. Sério que foi o melhor fim que arranjaram pra ela? A mulher já era incoveniente, chata de galocha, não tinha necessidade de transformá-la numa psicótica suicida.
A trilha sonora é bonita, mas certas músicas são repetidas à exaustão, chato pra cacete isso! Mesmo assim vale a pena, sobretudo pelas atuações acima da média.
Shia LaBeouf interpretando um tipinho que ele conhece bem. Aliás, o personagem acaba sendo uma mera distração, porque serve pra pouquíssima coisa. Não dá pra se importar com alguém tão desagradável. O tempo todo eu só queria que ele desaparecesse. Insuportável assitir a tantas agressões. Ele agride a esposa repetidas vezes, de várias formas, sob a justificativa de também estar machucado. Péssimo ficar sem sexo, né? Nada que uma traição não resolva. Difícil voltar pra casa e encarar o problema? Uma carreira de pó ajuda. Mas o que fazer quando seu corpo é uma lembrança constante da sua dor e você não pode sair dele? A agência de uma mulher acaba assim que as pessoas ao seu redor sentem que ela falhou. A dor é de quem sente.
É constrangedor como os EUA tentam, a todo custo, fazer parecer que venceram a guerra sozinhos. Ao longo do filme personagens vociferam que os russos estão chegando. Mas qual a bandeira que aparece? Os caras tiveram a cara a de pau de mostrar a bandeira americana em Berlim ao invés da soviética. Sequer posso dizer que estou surpresa. Uma pena, pois o resto do filme é excelente. Não fosse o revisionismo histórico, seria um filme nota dez. Waititi utiliza-se da sátira enquanto potência ficcional de forma genial.
Jojo: “What did they do?” Rosie: “What they could.”
Promissor, mas decepcionante em vários pontos. Talvez o erro seja esperar que um norte-americano, mesmo negro, fosse capaz de retratar vietnamitas fora da lógica unidimensional de sempre. Me deparei com as mesmas caricaturas vilanescas típicas de personagens vietnamitas (subservientes a um francês, na única reviravolta aqui). Em um dado momento, no que se refere ao Massacre de My Lay, o veterano americano dispara: “Houve atrocidades dos dois lados.” Me pergunto se essa resposta representa apenas a mente reacionária do personagem em questão ou se é a mensagem que o filme quer nos fazer acreditar. Só um dos lados usou armas químicas; só um dos lados teve o seu ecossistema completamente alterado por milhões de litros de herbicidas; só um dos lados continuou morrendo mesmo depois de anos por causa de minas terrestres que foram deixadas para trás. Ao invés de lidar com as contradições de um grupo oprimido ter sido usado para exportar violência para um país tão oprimido quanto, Lee parece mais interessado em um suposto heroísmo negro - tão inexistente e fantasioso quanto o branco. A crítica ao imperialismo/colonialismo se torna rasa e acaba caindo no mesmo papo liberal cansativo: e se a gente tivesse um Rambo negro?
Norman: “War is about money. Money is about war. Every time I walk out my front door, I see cops patrolling my neighborhood like it’s some kind of police state. I can feel just how much I ain’t worth.”
Achei que seriam averiguadas evidências sérias, não uma história idiota de pacto com o diabo. A associação feita entre o demônio, o mal, e a cor negra é antiga na história do cristianismo. Nesse sentido, o documentário faz um retrato até que decente da demonização do blues pela sociedade ferozmente racista e pentecostalista da época, mas se perde no misticismo exagerado e estúpido. Como Robert Johnson poderia ter ficado tão bom em tão pouco tempo? Estudando? Praticando? Aperfeiçoando técnicas? Não, indo pra uma encruzilhada e oferecendo a alma ao próprio Belzebu. Aqui, mais uma vez, vemos difundido o estereótipo do homem negro preguiçoso, que não se força pra nada, que não é capaz. O documentário enfatiza, ainda, que as pessoas que queriam Robert morto nutriam esse sentimento por vontade de vê-lo pagar sua suposta dívida com o diabo. A verdade é que o queriam morto por puro racismo, por não saberem lidar com um negro talentoso que estava fora das plantações de algodão do Mississippi. O inferno era o Mississippi, o demônio era a branquitude racista. Enfim. Não acredito em quase nada do que foi dito por essas pessoas. Em suma: sensacionalismo e espetacularização da morte.
O sistema patriarcal da Índia desumaniza mulheres e as oprime com base em sua biologia. Aqui o respeito se mede pela capacidade de gerar receita, de fazer dinheiro. Em meio a tanta crueldade, sempre me vem essas perguntas: cultura imposta é cultura? Cultura da submissão tem que ser aceita? Podemos escolher o que respeitar, ou se deve respeitar, mesmo sendo uma cultura de submissão imposta? O próprio conceito de felicidade ou de legalidade servia pra sustentar a antiga hierarquia de castas no país. São velhas questões que não se desgastam. A menstruação existe como validação de feminilidade, mas junto com a validação vem uma série de abusos, humilhações e estigmas. Como bem disse Beauvoir, o corpo da mulher é um dos elementos essenciais da situação que ela ocupa neste mundo. O mundo não pode avançar sem as mulheres, mas segue nos machucando. Excelente documentário, enfurece e comove. Go guurls!!
Bahia, Oxum, Caymmi, reconstrução, afeto, feminino, negro, luto(a), travessias, identidade, subjetividades, corpo, passado, presente. Às vezes a vida amarga, e só açúcar não basta. Tem que ter canela, agindo devagarinho, pelos sentidos, com calma e respeito pelos processos da memória. Perdoar a si mesmo é abandonar um fardo.
“Todo mundo diz que cinema serve para você esquecer da vida, dos problemas, viver num mundo mágico e fora da sua realidade. Eu não acredito nisso.”
A situação da Jamaica do final anos 70 é assustadoramente parecida com o que estamos vivendo agora. Muito além da tentativa de assassinato de Bob, o documentário retrata as ações da CIA no Caribe e os episódios de violência política que resultaram numa guerra civil de rua entre facções e militantes dos dois únicos partidos políticos da ilha caribenha (que só havia deixado de ser colônia britânica a pouco mais de 10 anos). O medo de que a Jamaica seguisse os passos de Cuba e aderisse ao socialismo era enorme, e o discurso anti-establishment de Bob começava a incomodar pessoas muito perigosas, mesmo ele nunca tendo se definido como marxista. Pelo que eu entendi, o interesse particular da CIA pelo músico surgiu da ligação que ele tinha com o então primeiro ministro Michael Manley, que por sua vez era amigo pessoal de Fidel Castro. Essa relação, obviamente, em nada agradava aos Estados Unidos, que na época já se articulava para intervir politicamente no país (enviando, inclusive, armas à oposição jamaicana no meio de instrumentos musicais que seriam usados no festival One Love Concert). Edward Seaga, conservador que partilhava da visão anticomunista estadunidense, ascendeu ao poder em 1980 e foi recebido pelo próprio presidente Reagan na Casa Branca. Também gostei bastante da abordagem que foi dada ao envolvimento de Bob com a crença Rastafari e como isso repercutiu em sua música, que a partir de 77 passou a abordar temas de cunho espiritual e social (o álbum Exodus é reflexo direto dessas mudanças). A única coisa que depõe contra é o fato de ser um documentário muito curto. Bob era uma persona complexa inserida num contexto histórico mais complexo ainda, merecia no mínimo mais uma hora de tela. Contudo, trata-se de um excelente material. Recomendadíssimo!
A obsessão contemporânea com Ted Bundy não conhece limites. Entendo que há muita curiosidade sobre o assunto, mas a única coisa que essa minissérie consegue é servir de instrumento para a glorificação de um assassino feminicida confesso. Materiais como esse só fortalecem a aura mítica que uma mídia especializada em transformar homicidas em celebridades construiu em volta do nome desse sujeito grotesco. Inteligente, bonito, charmoso, carismático, esperto, eloquente, brilhante, olhos azuis (?), engraçado, enfim, parece que quando se trata de Ted os elogios são inesgotáveis, chega a dar preguiça. Pra quê isso? É o tipo de admiração e benevolência que uma mulher jamais receberia se tivesse arrancado cabeças de pessoas e praticado necrofilia com elas. Agora é a vez de Zac Efron interpretar o famoso serial killer no cinema - com a maior pinta de galã, claro. Mereço, viu! Ted segue no palco, sob as luzes da ribalta, que é exatamente onde ele amaria estar. A minissérie não vai além do que os documentários produzidos pelo Discovery ID já mostraram. Talvez a experiência seja mais surpreendente para quem nunca leu nada sobre o caso. Um episódio a menos evitaria a exibição de tantas imagens de pessoas aleatórias nos anos 70. Ter dado ênfase aos transtornos psicológicos/psiquiátricos dele seria um caminho muito mais interessante a ser tomado.
O filme acabou e em nenhum momento eu enxerguei motivos pra esse roteiro ser revisitado tantas vezes ao longo dos anos. É o típico conto de fadas hollywoodiano que a indústria americana tenta fazer o resto do mundo engolir a qualquer custo – dessa vez conduzido por um marketing extremamente agressivo. Acontece que essa fórmula requentada e sem inspiração não funciona mais pra mim. A intenção por trás desse filme é tão disfuncional quanto a própria história que ele conta, e é simplesmente bizarro que a trajetória desses dois seja celebrada como algo romântico. Não tem nada de romântico em viver uma vida de concessões em prol de um homem destrutivo que absorve toda a subjetividade da mulher com quem ele está. O vício de Jack não define quem ele é, apenas aflora o que há de pior em sua personalidade. O que vemos é um homem invejoso, egocêntrico, manipulador, com uma masculinidade construída na base do machismo. Nada disso seria um problema se o filme trouxesse esses equívocos de modo a criticá-los. O problema é que o roteiro assina e endossa o relacionamento abusivo do casal. E, como se não bastasse, o tempo todo tenta justificar o comportamento tóxico de seu protagonista, como se o alcoolismo fosse a resposta pra tudo. Em uma das discussões Jack chega a afirmar que além de feia, Ally é desprovida de talento. Depois disso acontece o quê? Nada, tudo é esquecido com um pedido de desculpa. Não há nenhum interesse em questionar a relação maternal que culturalmente as mulheres acabam tendo com aqueles que deveriam agir como seus parceiros. Dificilmente um homem acharia que tem alguma responsabilidade paterna com uma mulher que ele conheceu bêbada e que só faz merda. Por que então continuamos a romantizar isso? Por que uma mulher abrindo mão dos seus sonhos por um homem é visto com tanta naturalidade? Não há nobreza em se anular. Pra encerrar, estão presentes aqui dois estereótipos que me incomodam muitíssimo. O primeiro é o do amigo gay que não serve pra mais nada além de seguir os passos da amiga hétero e puxar o saco dela. O segundo envolve a visão preconceituosa e rasa que o filme demonstra ter a respeito da música pop. Bradley Copper está bem, mas se inspirou tanto no Eddie Vedder que eu fiquei esperando ele cantar Black a qualquer momento. A atuação da Gaga é digna, e só. As pessoas são histéricas.
Nossa, mas que grandessíssima porcaria, hein?! O privilégio chega a escorrer da TV enquanto você assiste. Eu tô longe de achar que minimalismo e capitalismo são excludentes, mas esse doc é simplesmente patético. O recado é claro: minimalismo é para os que podem pagar por ele. Só que minimalismo que busca redefinir toda uma estética não é minimalismo, é late capitalism. Aqui, pra variar, vemos apenas homens abastados e entediados que resolveram ser pobres por algum tempo em nome de uma experiência antropológica tosca. Preguiça eterna dessa romantizacão da pobreza, com a qual quase todos lucram, menos os pobres. Se a lógica é abandonar tudo, eu pergunto quem é realmente minimalista: o ex-wall street que ganhava 6 dígitos de salário por ano e vive num apartamento de 110m² mobiliado com móveis planejados, ou o white trash que vive num trailer com a família inteira rezando pra nunca precisar de atendimento médico porque o sistema de saúde do país em que ele vive enxerga toda vida humana como um cifrão ambulante? Uma existência minimalista é o oposto de sair por aí vomitando american way of life, fazendo trips mundo a fora e usando roupa monocromática de corte alinhado. Outra coisa que me incomodou bastante foram as ostensivas cenas da black friday americana exibidas ao longo do documentário. As imagens dão a entender que o supérfluo é só aquilo que serve a classe baixa, sem mostrar que o que há num desfile de alta costura, por exemplo, é tão inútil quanto uma TV de 50 polegadas. O minimalismo é um espectro vasto, e ainda não encontrei nenhum documentário que conseguiu abordar o assunto sem esvaziá-lo. Péssimo, péssimo, péssimo! Cúmulo do umbiguismo e da falta de noção, tô fora!
A humanização do soldado alemão nos ajuda a entender como o nazifascismo age no indivíduo enquanto fenômeno psicológico. Hannah Arendt escreve sobre como a burocracia do Terceiro Reich retirou a subjetividade do sujeito e transformou assassinato em massa em pequenas tarefas impessoais do cotidiano. Provavelmente o rapaz que ajudou Szpilman não tinha problemas com judeus, mas deixou adormecer o exercício do pensamento e teve sua moral individual diluída pela banalização das coisas erradas. A burocracia é mesmo a pior forma de violência. Grande filme!
É difícil apontar a pior mancha deixada pela Ditadura Civil-Militar de 64, mas talvez a guerrilha do Araguaia (que não foi guerrilha, foi massacre) seja a mais macabra delas. O horror de uma guerra que aconteceu na calada da noite, longe das metrópoles, contra inimigos que os próprios soldados sequer sabiam quem eram. Passado o conflito, esses mesmos soldados foram descartados, largados à própria sorte, cheios de estresse pós-traumático e outros transtornos psicológicos irreversíveis. O documentário mostra que o sadismo do Exército não poupou ninguém no Araguaia. Guerrilheiros do PCdoB pagaram um alto preço, mas também índios, mulheres (algumas delas grávidas que perderam seus bebês), idosos e crianças. Essa gente simples continuou sendo perseguida mesmo depois da redemocratização do país, e várias morreram nos anos seguintes devido represálias. Quando deixa-se que a História seja varrida para debaixo do tapete é isso que acontece. Revisionismo histórico é um bang foda.
Tudo é interesse do capital estrangeiro. Os tentáculos dos EUA abraçam o mundo. Revoltante demais toda a barbárie que são capazes para deter nosso desenvolvimento. Tristeza sem fim. O legado de Jango e Brizola VIVE!
"Mas da violência, da verdadeira violência, não se pode escapar, pelo menos não nós, os nascidos na América Latina (...)
Não é fácil narrar a luta de certas figuras históricas (da esquerda, principalmente) de maneira acessível, que faça sentido para o espectador leigo disposto a conhecer melhor a vida de tais pessoas, mas que ao mesmo tempo não caia em um ditatismo estúpido. Se quiser aprofundamento teórico e crítico vai ter que ler as obras, não tem jeito. Dito isto, achei uma cinebiografia honesta, à altura da melhor teórica marxista da política e uma das maiores revolucionárias que o mundo já viu! Cheguei a pensar que muito tempo seria gasto com explicações óbvias (ex.: a condição da mulher na época), mas Von Trotta passa longe disso e vai direito ao que importa, sem rodeios. Acho até que poderia ter uns 20 minutos a mais. Magnânima, necessária, cada dia mais atual. Em tempos difíceis, Rosa será sempre uma luz a ser seguida.
Lembro-me de assistir este filme, pela primeira vez, depois de três meses inteiros em uma tentativa árdua e frustrada de ler Mrs. Dalloway (não conseguia sequer passar das primeiras vinte páginas, tamanha a complexidade do texto). Isto foi em 2010, há 8 anos. Apesar de encantada e profundamente tocada pela história de Virginia, Laura e Clarissa, eu só viria a entrar novamente em contato com o romance da escritora inglesa muitos anos depois. Essa revisita foi especialmente emocionante porque me fez pensar em como foi dificil parir essa leitura e tudo que eu vivi até chegar num estado em que as palavras daquele livro fizessem algum sentido pra mim. Ainda com relação a adaptação, é curioso observar como cada geração parece lidar com a manifestação da depressão conforme o contexto histórico. As Horas é um filme sobre a dor; sobre o desenvolvimento dela, sobre como lidar com ela. Às vezes, sem darmos conta, o direito à vida passa a ser algo que exercemos em face de terceiros. É, na verdade, um mandamento ao Outro: não mate.
“Virginia Woolf: Eu luto sozinha contra a escuridão, na mais profunda escuridão, e só eu sei o que isso significa. Só eu posso entender minha condição. Você vive sob a ameaça de minha extinção. Eu também vivo sob esta ameaça.”
Jogo Justo
3.4 153 Assista AgoraEle a estupra porque é o único meio pelo qual ainda consegue obter algum poder sobre ela, já que no trabalho isso já não era mais possível estando ela hierarquicamente acima dele. Em todas as tentativas que ela faz de ter sexo, ele brocha. Só consegue gozar num sexo violento e forçado, um estupro. No início do filme vemos uma cena engraçada de tentativa de sexo oral, mais pra frente esse mesmo tipo de sexo é visto como um ato humilhante. Luke não suporta chupar uma mulher profissionalmente superior a ele, embora não se importe em ajoelhar para seu chefe e implorar por um cargo numa cena completamente ridícula.
Muitos Luke's por aí. É complexo.
Som da Liberdade
3.8 482 Assista AgoraAtuações pavorosas, roteiro ridículo, direção horrenda, fotografia pior ainda. Mas como crente não tem repertório e viu no máximo uns cinco filmes na vida contando com Deus Não Está Morto e a saga Deixados para Trás, acharam essa bomba a coisa mais comovente do mundo. Como obra artística, lamentável. Com relação a mensagem transmitida, deve ter uns trocentos filmes melhores.
Verdades Secretas 2
2.2 158Conhecem o estereótipo da pessoa preta amiga da protagonista branca? Essa série tá cheia disso. Parece que pessoas pretas só servem pra aconselhar e elogiar os protagonistas brancos, elas não têm suas histórias desenvolvidas. Sempre que uma pessoa preta aparece aqui ela está dando conselhos a uma branca, servindo de apoio/suporte. Isso é muito incômodo.
A babá não tem vida própria, vive de adular uma mãe irresponsável (e sabe-se lá Deus se ela recebe salário pra viver naquela situação deplorável). Teu filho tá com Leucemia? Vai pra balada, aproveitar, se divertir, transar, eu cuido dele.
Aliás, incrível como a Angel, mesmo falida, sem dinheiro nem pra comprar os medicamentos do filho doente, consegue pagar uma babá em TEMPO INTEGRAL. A babá dorme naquele muquifo minúsculo e ainda é obrigada a ouvir a patroa trepando a noite inteira pelos cantos. Inclusive, considerando que a dondoca não faz porra nenhuma e não para em casa, quem cozinha? Quem limpa? Quem faz as compras do supermercado? A babá? Alguém denuncia essa exploradora, pelo amor de Deus! Nalva, procure seus direitos, estamos com você!
Sobre a fotografia:
Que fixação é essa por vermelho e azul? Passaram completamente do ponto. Haja papel celofane. Tacaram vermelho até no quarto da pobre da criança. Puteiro ou puxadinho do inferno? Apenas um quarto infantil kkk passo mal.
O apartamento da Giovanna parece uma mistura de cemitério com balada erótica.
A Angel conversando com o médico e o local totalmente escuro. Que hospital é esse que não tem luz? Que pediatra atende na penumbra? É a crise energética?
Enfim, uma bela porcaria. Sem tempo pra apontar os furos desse queijo suíço de roteiro. No fim, eu estava tonta de tanto ver neon e transição brega com prédio espelhado. Uma coisinha: o Ícaro Silva daria um protagonista beeeem melhor do que o policial dançarino saído de uma fanfic do wattpad.
Conselho:
Se uma cara chegar em você com esse papo bizarro de que quer cuidar de você porque te acha ingênua e frágil, manda ele fazer terapia, ter um filho ou prestar serviço voluntário em alguma casa de repouso para idosos.
Onde Está Meu Coração
4.1 112Não consegui comprar o vício dela em crack, porque não é o tipo de droga que médicos costumam se viciar. Morfina, algum tipo de anfetamina, álcool, até mesmo cocaína seria um vício mais crível. Não faz sentido uma mulher burguesa, médica recém-formada, simplesmente decidir usar crack pra ter um barato, como se não soubesse as consequências disso, como se não tivesse grana pra usar algo melhor/menos danoso. Usuários de crack são indivíduos frutos de uma série de negligências e em sua maioria estão em situação econômica vulnerável. Mas aí se não fosse crack não ia gerar o mesmo impacto, né? Senti que quiseram emular um pouco o arco da Grazi Massafera em Verdades Secretas, o que me irrita um pouco.
Três pontos:
1.
Não acho que o marido foi suficientemente responsabilizado por ter trazido o crack pra vida da esposa, e me incomoda isso ser tratado como somente um passatempo dos dois. A dependência afeta a família do usuário, é um problema que se alastra e atinge quem estiver ao redor.
2.
Qual o intuito de enfiar aquela subtrama ridícula no último ep. envolvendo a irmã caçula e o cunhado dela? Aliás, qual o propósito dessa garota na trama toda? Nem vou comentar sobre aquela ladainha de Eu Decidi Esperar ZzzZzzz.
3.
A Viviam é apresentada como uma mulher cheia de autoestima, decidida e com muitos planos, mas termina se matando (numa cena exageradamente dramática, diga-se) por causa de um fora. Sério que foi o melhor fim que arranjaram pra ela? A mulher já era incoveniente, chata de galocha, não tinha necessidade de transformá-la numa psicótica suicida.
A trilha sonora é bonita, mas certas músicas são repetidas à exaustão, chato pra cacete isso! Mesmo assim vale a pena, sobretudo pelas atuações acima da média.
Army of the Dead: Invasão em Las Vegas
2.8 956O homem deu um jeito de meter máscara e capa num filme de zumbi. Apegadíssimo ao morcegão ainda. Snyder, supera, cara!
Pedaços De Uma Mulher
3.8 544 Assista AgoraShia LaBeouf interpretando um tipinho que ele conhece bem. Aliás, o personagem acaba sendo uma mera distração, porque serve pra pouquíssima coisa. Não dá pra se importar com alguém tão desagradável. O tempo todo eu só queria que ele desaparecesse. Insuportável assitir a tantas agressões. Ele agride a esposa repetidas vezes, de várias formas, sob a justificativa de também estar machucado. Péssimo ficar sem sexo, né? Nada que uma traição não resolva. Difícil voltar pra casa e encarar o problema? Uma carreira de pó ajuda. Mas o que fazer quando seu corpo é uma lembrança constante da sua dor e você não pode sair dele? A agência de uma mulher acaba assim que as pessoas ao seu redor sentem que ela falhou. A dor é de quem sente.
Jojo Rabbit
4.2 1,6K Assista AgoraÉ constrangedor como os EUA tentam, a todo custo, fazer parecer que venceram a guerra sozinhos. Ao longo do filme personagens vociferam que os russos estão chegando. Mas qual a bandeira que aparece? Os caras tiveram a cara a de pau de mostrar a bandeira americana em Berlim ao invés da soviética. Sequer posso dizer que estou surpresa. Uma pena, pois o resto do filme é excelente. Não fosse o revisionismo histórico, seria um filme nota dez. Waititi utiliza-se da sátira enquanto potência ficcional de forma genial.
Jojo: “What did they do?”
Rosie: “What they could.”
Destacamento Blood
3.8 448 Assista AgoraPromissor, mas decepcionante em vários pontos. Talvez o erro seja esperar que um norte-americano, mesmo negro, fosse capaz de retratar vietnamitas fora da lógica unidimensional de sempre. Me deparei com as mesmas caricaturas vilanescas típicas de personagens vietnamitas (subservientes a um francês, na única reviravolta aqui). Em um dado momento, no que se refere ao Massacre de My Lay, o veterano americano dispara: “Houve atrocidades dos dois lados.” Me pergunto se essa resposta representa apenas a mente reacionária do personagem em questão ou se é a mensagem que o filme quer nos fazer acreditar. Só um dos lados usou armas químicas; só um dos lados teve o seu ecossistema completamente alterado por milhões de litros de herbicidas; só um dos lados continuou morrendo mesmo depois de anos por causa de minas terrestres que foram deixadas para trás.
Ao invés de lidar com as contradições de um grupo oprimido ter sido usado para exportar violência para um país tão oprimido quanto, Lee parece mais interessado em um suposto heroísmo negro - tão inexistente e fantasioso quanto o branco. A crítica ao imperialismo/colonialismo se torna rasa e acaba caindo no mesmo papo liberal cansativo: e se a gente tivesse um Rambo negro?
Norman: “War is about money. Money is about war. Every time I walk out my front door, I see cops patrolling my neighborhood like it’s some kind of police state. I can feel just how much I ain’t worth.”
ReMastered: O Diabo na Encruzilhada
3.8 54 Assista AgoraAchei que seriam averiguadas evidências sérias, não uma história idiota de pacto com o diabo. A associação feita entre o demônio, o mal, e a cor negra é antiga na história do cristianismo. Nesse sentido, o documentário faz um retrato até que decente da demonização do blues pela sociedade ferozmente racista e pentecostalista da época, mas se perde no misticismo exagerado e estúpido. Como Robert Johnson poderia ter ficado tão bom em tão pouco tempo? Estudando? Praticando? Aperfeiçoando técnicas? Não, indo pra uma encruzilhada e oferecendo a alma ao próprio Belzebu. Aqui, mais uma vez, vemos difundido o estereótipo do homem negro preguiçoso, que não se força pra nada, que não é capaz. O documentário enfatiza, ainda, que as pessoas que queriam Robert morto nutriam esse sentimento por vontade de vê-lo pagar sua suposta dívida com o diabo. A verdade é que o queriam morto por puro racismo, por não saberem lidar com um negro talentoso que estava fora das plantações de algodão do Mississippi. O inferno era o Mississippi, o demônio era a branquitude racista. Enfim. Não acredito em quase nada do que foi dito por essas pessoas. Em suma: sensacionalismo e espetacularização da morte.
Absorvendo o Tabu
4.4 201 Assista AgoraO sistema patriarcal da Índia desumaniza mulheres e as oprime com base em sua biologia. Aqui o respeito se mede pela capacidade de gerar receita, de fazer dinheiro. Em meio a tanta crueldade, sempre me vem essas perguntas: cultura imposta é cultura? Cultura da submissão tem que ser aceita? Podemos escolher o que respeitar, ou se deve respeitar, mesmo sendo uma cultura de submissão imposta? O próprio conceito de felicidade ou de legalidade servia pra sustentar a antiga hierarquia de castas no país. São velhas questões que não se desgastam.
A menstruação existe como validação de feminilidade, mas junto com a validação vem uma série de abusos, humilhações e estigmas. Como bem disse Beauvoir, o corpo da mulher é um dos elementos essenciais da situação que ela ocupa neste mundo. O mundo não pode avançar sem as mulheres, mas segue nos machucando.
Excelente documentário, enfurece e comove. Go guurls!!
ReMastered: Massacre no Estádio - A História de Victor Jara
4.1 15A arte é mesmo perigosa para um caralho. Te seguimos recordando año tras año, Víctor!
Café com Canela
4.1 164Bahia, Oxum, Caymmi, reconstrução, afeto, feminino, negro, luto(a), travessias, identidade, subjetividades, corpo, passado, presente. Às vezes a vida amarga, e só açúcar não basta. Tem que ter canela, agindo devagarinho, pelos sentidos, com calma e respeito pelos processos da memória. Perdoar a si mesmo é abandonar um fardo.
“Todo mundo diz que cinema serve para você esquecer da vida, dos problemas, viver num mundo mágico e fora da sua realidade. Eu não acredito nisso.”
Eu também não, Margarida. Eu também não.
ReMastered: Who Shot The Sheriff?
4.0 15 Assista AgoraA situação da Jamaica do final anos 70 é assustadoramente parecida com o que estamos vivendo agora. Muito além da tentativa de assassinato de Bob, o documentário retrata as ações da CIA no Caribe e os episódios de violência política que resultaram numa guerra civil de rua entre facções e militantes dos dois únicos partidos políticos da ilha caribenha (que só havia deixado de ser colônia britânica a pouco mais de 10 anos). O medo de que a Jamaica seguisse os passos de Cuba e aderisse ao socialismo era enorme, e o discurso anti-establishment de Bob começava a incomodar pessoas muito perigosas, mesmo ele nunca tendo se definido como marxista. Pelo que eu entendi, o interesse particular da CIA pelo músico surgiu da ligação que ele tinha com o então primeiro ministro Michael Manley, que por sua vez era amigo pessoal de Fidel Castro. Essa relação, obviamente, em nada agradava aos Estados Unidos, que na época já se articulava para intervir politicamente no país (enviando, inclusive, armas à oposição jamaicana no meio de instrumentos musicais que seriam usados no festival One Love Concert). Edward Seaga, conservador que partilhava da visão anticomunista estadunidense, ascendeu ao poder em 1980 e foi recebido pelo próprio presidente Reagan na Casa Branca.
Também gostei bastante da abordagem que foi dada ao envolvimento de Bob com a crença Rastafari e como isso repercutiu em sua música, que a partir de 77 passou a abordar temas de cunho espiritual e social (o álbum Exodus é reflexo direto dessas mudanças). A única coisa que depõe contra é o fato de ser um documentário muito curto. Bob era uma persona complexa inserida num contexto histórico mais complexo ainda, merecia no mínimo mais uma hora de tela. Contudo, trata-se de um excelente material. Recomendadíssimo!
Conversando Com um Serial Killer: Ted Bundy
4.2 221A obsessão contemporânea com Ted Bundy não conhece limites. Entendo que há muita curiosidade sobre o assunto, mas a única coisa que essa minissérie consegue é servir de instrumento para a glorificação de um assassino feminicida confesso. Materiais como esse só fortalecem a aura mítica que uma mídia especializada em transformar homicidas em celebridades construiu em volta do nome desse sujeito grotesco. Inteligente, bonito, charmoso, carismático, esperto, eloquente, brilhante, olhos azuis (?), engraçado, enfim, parece que quando se trata de Ted os elogios são inesgotáveis, chega a dar preguiça. Pra quê isso? É o tipo de admiração e benevolência que uma mulher jamais receberia se tivesse arrancado cabeças de pessoas e praticado necrofilia com elas. Agora é a vez de Zac Efron interpretar o famoso serial killer no cinema - com a maior pinta de galã, claro. Mereço, viu! Ted segue no palco, sob as luzes da ribalta, que é exatamente onde ele amaria estar.
A minissérie não vai além do que os documentários produzidos pelo Discovery ID já mostraram. Talvez a experiência seja mais surpreendente para quem nunca leu nada sobre o caso. Um episódio a menos evitaria a exibição de tantas imagens de pessoas aleatórias nos anos 70. Ter dado ênfase aos transtornos psicológicos/psiquiátricos dele seria um caminho muito mais interessante a ser tomado.
Nasce Uma Estrela
4.0 2,4K Assista AgoraO filme acabou e em nenhum momento eu enxerguei motivos pra esse roteiro ser revisitado tantas vezes ao longo dos anos. É o típico conto de fadas hollywoodiano que a indústria americana tenta fazer o resto do mundo engolir a qualquer custo – dessa vez conduzido por um marketing extremamente agressivo. Acontece que essa fórmula requentada e sem inspiração não funciona mais pra mim. A intenção por trás desse filme é tão disfuncional quanto a própria história que ele conta, e é simplesmente bizarro que a trajetória desses dois seja celebrada como algo romântico. Não tem nada de romântico em viver uma vida de concessões em prol de um homem destrutivo que absorve toda a subjetividade da mulher com quem ele está. O vício de Jack não define quem ele é, apenas aflora o que há de pior em sua personalidade. O que vemos é um homem invejoso, egocêntrico, manipulador, com uma masculinidade construída na base do machismo. Nada disso seria um problema se o filme trouxesse esses equívocos de modo a criticá-los. O problema é que o roteiro assina e endossa o relacionamento abusivo do casal. E, como se não bastasse, o tempo todo tenta justificar o comportamento tóxico de seu protagonista, como se o alcoolismo fosse a resposta pra tudo. Em uma das discussões Jack chega a afirmar que além de feia, Ally é desprovida de talento. Depois disso acontece o quê? Nada, tudo é esquecido com um pedido de desculpa. Não há nenhum interesse em questionar a relação maternal que culturalmente as mulheres acabam tendo com aqueles que deveriam agir como seus parceiros. Dificilmente um homem acharia que tem alguma responsabilidade paterna com uma mulher que ele conheceu bêbada e que só faz merda. Por que então continuamos a romantizar isso? Por que uma mulher abrindo mão dos seus sonhos por um homem é visto com tanta naturalidade? Não há nobreza em se anular.
Pra encerrar, estão presentes aqui dois estereótipos que me incomodam muitíssimo. O primeiro é o do amigo gay que não serve pra mais nada além de seguir os passos da amiga hétero e puxar o saco dela. O segundo envolve a visão preconceituosa e rasa que o filme demonstra ter a respeito da música pop.
Bradley Copper está bem, mas se inspirou tanto no Eddie Vedder que eu fiquei esperando ele cantar Black a qualquer momento. A atuação da Gaga é digna, e só. As pessoas são histéricas.
Minimalismo: Um Documentário Sobre Coisas Importantes
3.5 195Nossa, mas que grandessíssima porcaria, hein?! O privilégio chega a escorrer da TV enquanto você assiste. Eu tô longe de achar que minimalismo e capitalismo são excludentes, mas esse doc é simplesmente patético. O recado é claro: minimalismo é para os que podem pagar por ele. Só que minimalismo que busca redefinir toda uma estética não é minimalismo, é late capitalism. Aqui, pra variar, vemos apenas homens abastados e entediados que resolveram ser pobres por algum tempo em nome de uma experiência antropológica tosca. Preguiça eterna dessa romantizacão da pobreza, com a qual quase todos lucram, menos os pobres. Se a lógica é abandonar tudo, eu pergunto quem é realmente minimalista: o ex-wall street que ganhava 6 dígitos de salário por ano e vive num apartamento de 110m² mobiliado com móveis planejados, ou o white trash que vive num trailer com a família inteira rezando pra nunca precisar de atendimento médico porque o sistema de saúde do país em que ele vive enxerga toda vida humana como um cifrão ambulante?
Uma existência minimalista é o oposto de sair por aí vomitando american way of life, fazendo trips mundo a fora e usando roupa monocromática de corte alinhado. Outra coisa que me incomodou bastante foram as ostensivas cenas da black friday americana exibidas ao longo do documentário. As imagens dão a entender que o supérfluo é só aquilo que serve a classe baixa, sem mostrar que o que há num desfile de alta costura, por exemplo, é tão inútil quanto uma TV de 50 polegadas.
O minimalismo é um espectro vasto, e ainda não encontrei nenhum documentário que conseguiu abordar o assunto sem esvaziá-lo. Péssimo, péssimo, péssimo! Cúmulo do umbiguismo e da falta de noção, tô fora!
O Pianista
4.4 1,8K Assista AgoraA humanização do soldado alemão nos ajuda a entender como o nazifascismo age no indivíduo enquanto fenômeno psicológico. Hannah Arendt escreve sobre como a burocracia do Terceiro Reich retirou a subjetividade do sujeito e transformou assassinato em massa em pequenas tarefas impessoais do cotidiano. Provavelmente o rapaz que ajudou Szpilman não tinha problemas com judeus, mas deixou adormecer o exercício do pensamento e teve sua moral individual diluída pela banalização das coisas erradas. A burocracia é mesmo a pior forma de violência.
Grande filme!
Nós que Aqui Estamos Por Vós Esperamos
4.3 416Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar, o meu coração fecha os olhos e sinceramente chora.
Camponeses do Araguaia
3.8 3É difícil apontar a pior mancha deixada pela Ditadura Civil-Militar de 64, mas talvez a guerrilha do Araguaia (que não foi guerrilha, foi massacre) seja a mais macabra delas. O horror de uma guerra que aconteceu na calada da noite, longe das metrópoles, contra inimigos que os próprios soldados sequer sabiam quem eram. Passado o conflito, esses mesmos soldados foram descartados, largados à própria sorte, cheios de estresse pós-traumático e outros transtornos psicológicos irreversíveis. O documentário mostra que o sadismo do Exército não poupou ninguém no Araguaia. Guerrilheiros do PCdoB pagaram um alto preço, mas também índios, mulheres (algumas delas grávidas que perderam seus bebês), idosos e crianças. Essa gente simples continuou sendo perseguida mesmo depois da redemocratização do país, e várias morreram nos anos seguintes devido represálias. Quando deixa-se que a História seja varrida para debaixo do tapete é isso que acontece. Revisionismo histórico é um bang foda.
Dossiê Jango
4.4 72Tudo é interesse do capital estrangeiro. Os tentáculos dos EUA abraçam o mundo. Revoltante demais toda a barbárie que são capazes para deter nosso desenvolvimento. Tristeza sem fim. O legado de Jango e Brizola VIVE!
"Mas da violência, da verdadeira violência, não se pode escapar, pelo menos não nós, os nascidos na América Latina (...)
— Roberto Bolaño
O Cinema Falado
3.7 22Eu gosto de sexo explícito, Sartre e Simone de Beauvoir.
Rosa Luxemburgo
3.9 37Não é fácil narrar a luta de certas figuras históricas (da esquerda, principalmente) de maneira acessível, que faça sentido para o espectador leigo disposto a conhecer melhor a vida de tais pessoas, mas que ao mesmo tempo não caia em um ditatismo estúpido. Se quiser aprofundamento teórico e crítico vai ter que ler as obras, não tem jeito. Dito isto, achei uma cinebiografia honesta, à altura da melhor teórica marxista da política e uma das maiores revolucionárias que o mundo já viu! Cheguei a pensar que muito tempo seria gasto com explicações óbvias (ex.: a condição da mulher na época), mas Von Trotta passa longe disso e vai direito ao que importa, sem rodeios. Acho até que poderia ter uns 20 minutos a mais. Magnânima, necessária, cada dia mais atual. Em tempos difíceis, Rosa será sempre uma luz a ser seguida.
Pocilga
3.7 43Matei meu pai, comi carne humana, e tremo de alegria!
As Horas
4.2 1,4KLembro-me de assistir este filme, pela primeira vez, depois de três meses inteiros em uma tentativa árdua e frustrada de ler Mrs. Dalloway (não conseguia sequer passar das primeiras vinte páginas, tamanha a complexidade do texto). Isto foi em 2010, há 8 anos. Apesar de encantada e profundamente tocada pela história de Virginia, Laura e Clarissa, eu só viria a entrar novamente em contato com o romance da escritora inglesa muitos anos depois. Essa revisita foi especialmente emocionante porque me fez pensar em como foi dificil parir essa leitura e tudo que eu vivi até chegar num estado em que as palavras daquele livro fizessem algum sentido pra mim.
Ainda com relação a adaptação, é curioso observar como cada geração parece lidar com a manifestação da depressão conforme o contexto histórico. As Horas é um filme sobre a dor; sobre o desenvolvimento dela, sobre como lidar com ela. Às vezes, sem darmos conta, o direito à vida passa a ser algo que exercemos em face de terceiros. É, na verdade, um mandamento ao Outro: não mate.
“Virginia Woolf: Eu luto sozinha contra a escuridão, na mais profunda escuridão, e só eu sei o que isso significa. Só eu posso entender minha condição. Você vive sob a ameaça de minha extinção. Eu também vivo sob esta ameaça.”