Scott Pilgrim Takes Off opta por uma linha do tempo alternativa à história original, mas apesar de não segui-la a risca, nunca se distancia a ponto de ter vida própria. É a sequência de um material que nunca foi adaptado nesse formato e um metacomentário sobre uma série que nunca foi feita. Isso dificulta que a série seja uma introdução daquele mundo a um novo público, já que em sua maior parte é preciso ter conhecimento prévio — seja dos quadrinhos ou do filme — para saber, afinal, o que diabos está sendo aludido a todo momento na história.
Só li os quadrinhos muito recentemente, então não tenho e nem posso ter nostalgia pela história e não era o que busquei na série. Mas ler o material original me permitiu entender todo o alvoroço em torno da obra e das suas personagens, principalmente ao encontrar o charme dos aspectos mais mundanos da história e que costumam ser menos comentados que seu conceito maximalista ou o absurdismo bem humorado da sua trama. É uma história bastante cativante sobre um grupo de jovens adultos completamente desnorteados, frequentemente babacas e imaturos, mas humanos e geralmente bem intencionados. Sobre o filme, é fantástico como o estilo de direção do Edgar Wright engrandece o humor já presente na história, mas sua segunda metade também tropeça no volume de fatos que não tem tempo hábil para adaptar e conclui num final anticlimático, embora não arruíne a experiência. É um bom filme.
Roteirizada pelo próprio criador dos quadrinhos, Bryan Lee O'Malley, essa série ainda trabalha com alguns dos mesmos temas do material original, mas perde aquele charme casual que senti nos quadrinhos — e mesmo no filme — porque as personagens quase não interagem como o grupo de amigos que deveriam ser. SP Takes Off não dedica tempo para explorar seu número volumoso de personagens, nem tem a edição dinâmica e magistral do filme, mas os referencia o tempo todo como se tivesse. Chegam a ser vergonhosos os momentos em que a série reproduz piadas visuais do filme, mas sem ter um resquício do timing cômico que as fizeram engraçadas originalmente. A animação tem seus momentos, mas em geral é engessada demais para ser engraçada como o filme do Wright e é difícil não compará-los quando o live-action é referenciado tantas vezes. Ao mesmo tempo, ela recorre muito a marcadores estilísticos de animes para comédia, que contrastam negativamente com o humor norteamericano e a atuação vocal mais naturalista. Talvez seja influência da própria direção dos atores, mas enquanto alguns se revelam ótimos dubladores/voice actors, como a Aubrey Plaza (Julie), outros são terríveis, como o Brandon Routh (Todd).
Aos poucos, a série começa a encontrar sua própria voz e sua segunda metade é muito mais cativante (ep 5 em diante — aliás, o melhor dos 8), mas é difícil desconsiderar a falta de jeito dos primeiros 4 eps. Apesar disso, para mim, é o que ainda garantiu uma nota positiva.
> Beyond the Sea: Desde a 3ª temporada eu não gostava tanto de um episódio de Black Mirror quanto gostei de Beyond the Sea. Se a história desse episódio seguiu um rumo que consegui antecipar, sem plot twits surpreendentes — e isso pouco importa para a qualidade de uma história — é porque foi consistente, bem construído e trouxe qualidade tanto enquanto drama quanto enquanto sci-fi. Para mim, um dos melhores episódios da série.
> Loch Henry: outra grata surpresa. Um raro retorno ao comentário social mais pé no chão para os padrões da antologia, aos moldes de The National Anthem, em sentido de que, como ele, não recorre a futurismos ou tecnologias fantasiosas para explorar seus temas. Não se compara aos momentos de auge da série, mas é um episódio muito bom.
Esses dois são a única razão para minha nota não ser mais baixa. Na verdade, ela seria mais baixa, apesar deles, se eu me baseasse na média das notas que atribuí aos episódios isoladamente, mas concedi mais meia estrela por me lembrarem que Black Mirror não precisa ser um completo fiasco. Vamos ao resto:
> Joan Is Awful: auto-paródia tão mal-pensada e executada, tão sofrível na memória que traz dos piores momentos da 5ª temporada e tão insultuosa à inteligência do espectador, atrevendo-se a explicar, no mais enfadonho diálogo expositivo que tenta ser cômico, toda aquela baboseira, que questionei seriamente a razão de eu dar uma chance a esses novos episódios. Segundo pior da temporada.
> Demon 79: season finale e um de dois episódios tão completamente perdidos no conceito da série que geram uma forte impressão de que Charlie Brooker deveria estar se sentido tão pressionado ou limitado pelo peso do nome Black Mirror que decidiu fingir que a série nunca teve uma ideia central que confere (/conferia?) alguma coesão à antologia. Não é horrível, muito menos inassistível, mas tampouco faz qualquer coisa digna de atenção com seu enredo.
> Mazey Day: ???????????? !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ????????????????????? Tentando expressar o inexplicável em palavras: Rachel, Jack and Ashley Too é o pior episódio de Black Mirror. Mazey Day é o pior episódio de alguma outra série, mas esqueceram de nos dizer o nome dela.
Fui um grande divulgador de Yellowjackets durante e após a 1ª temporada e é triste ter que dizer que a queda de qualidade foi evidente neste segundo ano. Além de mais inconsistente em ritmo e tom, mesmo com um ep a menos, furos e conveniências de roteiro foram abundantes.
O pior, na verdade, não foi isso. Desta vez, todos os personagens foram mal desenvolvimentos, sem qualquer rumo na trama ou um arco próprio que realmente afetasse a história. Personagens essenciais foram completamente esquecidos, tanto no núcleo dos anos 90, quanto do presente. E a decepção é especialmente maior com o tratamento de uma certa personagem e a situação em que ela se encontra no último episódio, principalmente por ela ter ficado tão apagada ao longo de toda a temporada:
a morte de Natalie foi patética, mal executada e muito prematura.
A longo termo, uma preocupação séria com o rumo da série é que muitos outros mistérios foram apresentados sem que tivéssemos qualquer resquício de resposta para questões importantíssimas da 1ª temporada, e isso desacredita aquele discurso dos criadores de que toda a história já estava planejada. Um grande exemplo, para mim, é o abandono de um dos *cliffhangers* do episódio 10 da série, que nem sequer volta a ser mencionado: o assassinato daquela mulher que ajudou a Natalie a descobrir quem movimentou a conta do Travis. Aquela cena sugeria que
o grupo da Lottie era muito perigoso, a ponto de cometer homicídios,
e que aquilo era uma questão urgente, mas, afinal, não foi a lugar algum.
Espero que a terceira temporada possa (começar a) redimir os erros cometidos nesse ano e que a série, pelo menos, volte a recuperar o carisma que já teve. Com a greve dos roteiristas, vamos ter um hiato maior entre temporadas. Talvez essa seja a oportunidade necessária para que os criadores reflitam sobre o rumo da história antes de continuá-la.
Já estava apaixonado com o trabalho da Bella Ramsey e do Pedro Pascal, cada vez mais encantado com suas personagens, e a série ainda me presenteia com a MELANIE LYNSKEY!?
Avaliar séries tem uma peculiaridade complicada, pois o parâmetro não inclui apenas outras obras, mas também as outras temporadas daquela mesma história. E isso significa que você sabe, o tempo todo, o quão boa aquela história foi e ainda pode ser.
Apesar de muitas decepções com as duas temporadas anteriores, eu gosto de The Handmaid's Tale. Acontece que após a obra-prima que foi a 1ª temporada, ver os obstáculos, riscos e consequências já estabelecidas naquele mundo serem tão despreocupadamente distorcidos para a conveniência das protagonistas é absolutamente frustrante e não só deprecia o potencial da história, como menospreza a inteligência do espectador.
Tendência que já vinha da 2ª temporada e se intensificou na 3ª, os roteiristas recorrem a artifícios tão absurdos que te faz questionar, seriamente, como Gilead ainda se mantém de pé enquanto Estado totalitário. > Como é possível que
membros de um grupo tão infame de terroristas (do ponto de vista de Gilead, é isso que são), que fizeram o impensável ao conseguir levar 86 crianças + algumas mulheres escravizadas para fora do país, não apenas são mantidas vivas após serem capturadas, mas em seguida são transportadas por UM ÚNICO GUARDA, numa VAN QUE PODERIA SER DESTRANCADA POR DENTRO (!!!) para sua nova prisão? Até mesmo na 3ª temporada nós vimos aias serem executadas por muito menos, mas aqui utilizam o argumento da escassez de aias para não executá-las. E quando elas fogem, qual foi a reação imediata daquele único guarda responsável por elas e que saiu do caminhão para urinar? ATIRAR PARA MATÁ-LAS! Isso é um nível de contradição surreal! Além disso, ainda que fosse possível acreditar que mesmo aias terroristas são tão valiosas, é muito questionável que não teriam matado pelo menos a June, enquanto clara líder do movimento e cuja morte poderia desmobilizar as outras. Mas esperar que a protagonista intocável sofra esse tipo repressão já se tornou impossível, como a 3ª temporada nos deixou muito claro.
> Ainda sobre essa última cena, é francamente desrespeitoso
se livrar da Alma e da Brianna de forma tão barata. Não bastasse o péssimo artifício de roteiro, a própria execução da cena, com aquele trem de CGi mal feito e elas sendo atropeladas sem vermos uma gota de sangue, foi inacreditável
que não deveria restar dúvidas que conspirou para salvar aquelas crianças? Ainda que esteja preso, por que seria poupado? Nem mesmo a chantagem que ele fez para reaver seu posto de comandante deveria significar muito num Estado em que basta a palavra de outro comandante para tê-lo executado.
que declara seu amor por June, a inimiga nº 1 de Gilead, para quem quiser ouvir? Ainda que tenha sido promovido à Comandante, por que o posto dele seria tão alto? Ou seria mesmo, já que a temporada passada pareceu introduzir DC como local em que comandantes de hierarquia ainda mais alta moravam? E sobre isso, teve alguma importância, afinal? Por que agora o centro do comando de Gilead parece ser Boston novamente, quase como se toda a história em DC nunca tivesse acontecido.
presos. Ótimo! Mas por que eles têm tanta liberdade de locomoção? Como podem deixar que eles entrem e saiam dos seus aposentos quando querem ou que recebam visitas no mínimo questionáveis, como outro criminoso de guerra e comandante em Gilead? Por que deixariam June numa cela, sozinha, com Fred ou Serena?
foi resgatada, FINALMENTE! E a todo momento eu temia que os roteiristas a jogariam em Gilead novamente porque eles não têm um bom histórico. É muito questionável que a deixariam ir se encontrar com o Nick, sozinha com ele numa casa, quando é a pessoa mais procurada por Gilead. Ela recebeu algum tratamento médico após se refugiar? Sabemos, pelo avanço da gravidez de Serena, que meses se passaram e podemos imaginar que nenhuma terapia faria milagre com ela, mas até o brinco de aia ainda está na orelha dela. Com toda aquela preocupação em cortar o brinco fora quando conseguiu fugir no início da 2ª temporada, poderíamos imaginar que ele pelo menos continha algum dispositivo de rastreação, mas agora já não parece importar.
São algumas das minhas frustrações com a série. Frustrações que, já ficou muito claro, são truques baratos que os roteiristas, que já não tem a escrita redondinha da Artwood para adaptar, recorrem com muito gosto e sem vergonha alguma.
Mas não minto quando digo que gosto muito de The Handmaid's Tale, e ainda aprecio bastante o que a série tem de excelente. Se o roteiro tem seus altos e baixos (e muito baixos), a atuação é sempre majestosa. E esta é outra grande frustração: ter que dar 6/10 estrelas para uma temporada que, fosse de uma série da qual eu esperasse algo de menor qualidade, talvez não hesitasse em em dar uma nota um pouco mais alta.
Agora *aquela* cena do último episódio? Nada menos que catártica.
Quando terminei a 2ª temporada, além do gosto amargo deixado pela conclusão absurda, ficou o temor por uma certa tendência que eu vinha percebendo no roteiro — e ele se confirmou.
Primeiramente, a June se tornou intocável, sendo capaz de abertamente cometer atos que, no mínimo, levariam à mutilação de qualquer outra Aia (como já aconteceu com a Janine (1ª T) e Lillie (2ª T), mas também poderiam muito bem levar à sua execução. Sim,
durante a festa de um comandante, em que as Aias estão isoladas em um cômodo da casa, ela anda por onde quer, dá conselhos para o casamento de Serena e Fred, confronta Lydia na frente de todos os comandantes e esposas, e ainda fica depois da festa para espionar os Waterfords! (lembrando que as Aias são acompanhadas para entrar e sair dali, menos June)
no antigo Memorial Lincoln, onde comandantes, guardas e milhares de Aias aguardavam para gravar o vídeo do Waterford, lá está June insultando Serena aos berros, para quem quisesse ouvir.
E em diversos episódios, nas muitas cenas no mercado, ela passa minutos a fio conversando com outras Aias, paradas em frente a um refrigerador praticamente vazio, e não há um guarda para desconfiar daquilo? Os guardas estão ali para quê? E o que aconteceu com os Olhos? Por que alguém tão importante como Lawrence não teria guardas em torno da sua casa? Pior: lembrando que, com tudo que já aconteceu envolvendo ela, sobretudo agora, com a questão da Nicole, ela se tornou bastante infame naquele distrito.
Mas os problemas da 3ª temporada vão além da invencibilidade da June. Tramas começam e não são concluídas, personagens são abandonados, aqueles que não são sofrem com uma inconsistência absurda, e até mesmo o estilo visual da série parece beirar a auto-paródia. Se antes os close-ups na June traziam peso aos momentos mais intensos da história, esse artifício foi usado com tanto descaso e tantas vezes num mesmo episódio que perdeu completamente o propósito. Close-up não tem poder de dar profundidade a uma cena rasa e formulaica.
Nick e Emily desapareceram no meio da temporada, sem qualquer conclusão à promessa dos seus arcos nesse 3º ano. A insinuação sobre a sexualidade do Comandante Winslow não foi a lugar algum, bem como todo o potencial do personagem. Não bastasse ter sido morto tão cedo, sua morte nem mesm gerou consequências. Ainda que tenha coincidido com a prisão dos Waterfords, como é possível que Gilead simplesmente desse como desaparecido alguém da posição dele? Por acaso ele foi ao Jezebel's sozinho, sem guardas? E como a June conseguiu entrar lá, sem ser acompanhada por um Comandante, se não sabia de entradas secretas? Escolheram simplesmente não nos mostrar e deixar tudo ir a favor dela, como tantas outras vezes.
Sem querer listar mais frustrações, algo (talvez?) positivo: se na 2ª temporada eu consegui relevar muitos dos problemas que identifiquei, até que chegamos ao final revoltante, aqui aconteceu o oposto. Muito da temporada pareceu ser filler (e os eternos close-ups nos olhos de June...), muito de fato foi, mas a partir do episódio 10, apesar de muitos desses problemas listados, a série recuperou o fôlego. Mas não dá para dizer que a queda de qualidade não foi sentida, e muito.
Eu me envolvi muito com a série na primeira temporada. Aqui não foi diferente, com momentos brilhantes no desenvolvimento de diversas personagens. Mas apesar disso, ao longo de toda a temporada, cresceu em mim a impressão de que o roteiro não só se acovardou com a brutalidade de Gilead, mas jogou muito sujo com as personagens e os espectadores.
Quando falo em brutalidade, não me refiro às punições físicas e psicológicas, que são mais enfurecedoras que nunca. O que ocorreu foi perda de consequências reais para a protagonista.
June fugiu 3 vezes e chegou a revidar um tapa do merda do Waterford. Nenhuma dessas ações teve consequências para ela. Não só isso, mas dada nova oportunidade de fugir de Gilead no episódio final, ela desiste, supostamente para proteger Hannah.
E não digo "supostamente" por não acreditar nessa motivação, mas porque não faz qualquer sentido para a personagem, que sabe bem que
Não se a série ainda tem qualquer preocupação com verossimilhança do que é viver como uma mulher escravizada em Gilead.
Eu relevei muitos momentos em que senti a inconsistência em relação às pesadas consequências que recaíram sobre as personagens, incluindo June, inclusive pelas menores transgressões, na primeira temporada. Mas é difícil engolir
um final que só parece indicar que cederam de vez ao comercialismo para continuar a explorar o sofrimento dessas personagens, dure quanto durar, custe o que custar, inclusive a credibilidade da história.
Em geral, sim, gostei muito da temporada, mas prossigo, agora, com muito receio pela qualidade do que vem a seguir.
Que a impiedade de obras como O Conto da Aia seja reveladora. Às vezes parece que a posição do gênero distopia na cultura de massa, ou quem sabe justamente por ele estar tão bem consolidado na consciência popular como espécie de entretenimento, aliena os destinatários dessas obras do seu caráter satírico e da concretude da sua denúncia.
Se em 2022 O Conto da Aia parece ressoar como um presságio da recente e imensurável perda aos direitos das mulheres nos EUA, assim como Afeganistão e outros tantos países tomados pela ascensão de grupos reacionários — para não mancionar o eterno risco de regresso no Brasil, hoje ainda maior —, não se enganem, pois essa não é uma obra premonitória. O Conto da Aia parece fadada a sempre ser uma obra secamente descritiva da realidade corrente, fosse primeiro contada há 500 ou daqui a 200 anos .
Nosso país foi fundado no estupro de mulheres indígenas e negras escravizadas. Também foi fundado no estupro de mulheres brancas, "livres" apenas numa interpretação muito ampla do termo. Essa herança não se perde. Em 2021, mais de 17 mil meninas com menos de 14 anos se tornaram mães no Brasil. Tantas outras crianças estupradas que conseguiram realizar o aborto legal foram continuamente violentadas e psicologicamente torturadas para não recorrerem ao seu direito. Tantas outras milhares de mulheres jovens e adultas enfrentaram a mesma realidade. E para além delas, aquelas que não podem engravidar, não se esqueçam que há muitas outras crianças e mulheres idosas. Não se esqueçam também que o estupro é apenas um dos atos simbólicos da opressão feminina, e que os crimes de indivíduos não são nada diante da escala da dominação institucional em todas suas esferas, do Estado e da religião à família e outros espaços de convívio social.
As tragédias de June, Moira, Emily, Janine, Alma, e mesmo de monstros como Serena Joy e Tia Lydia, não são tragédias de um futuro imaginado de uma distopia fictícia. São as vidas de bilhões das mulheres que hoje estão vivas, e das incontáveis mulheres que já se foram.
Acabo de terminar a 3ª temporada, mas não trarei nenhum spoiler aqui. Se alguém lendo isso ainda está incerto sobre assistir a essa série ou não, eu espero muito te convencer a fazer isso.
Começar a assistir Barry, com uma premissa que por si só já é hilária e magnífica, foi uma coisa. Mas nada te prepara para a coragem do Bill Hader ao conduzir essa história.
Ao longo de uma temporada, a quase absoluta maioria das séries antecipará, aos poucos, um certo desfecho grandioso, culminando num acontecimento surpreendente, cujo maior objetivo é criar um hype imenso para o que virá a seguir. Mas ao começar a temporada seguinte, toda aquela grandiosidade será contida, muitas vezes de forma completamente anti-climática, apenas para que novamente se construa um grande hype para o ano seguinte. Todo fã de série sabe e aceita isso, porque a essa altura é mera metalinguagem.
Barry não faz isso. Coisas acontecem, coisas são feitas, personagens crescem e se revelam, e não há volta. Nunca. A série nunca se trai. A história continua crescendo, e entre o riso impossível de conter, gargalhando de muitas das coisas mais humanamente reprováveis e devastadoras, a bizarra tragédia de personagens tão improváveis apenas te deixa sem palavras.
Com esse novo arco, finalmente (!), nos é revelado algo mais sobre o Upside-Down. É o mínimo, depois de dezenas de horas investidas e 6 anos desde a primeira temporada. Igualmente, muito bem vindo é o desenvolvimento de certos personagens (com destaque para Max), mas ainda paira sobre ST o absurdo desperdício de tantos outros. Há quantos anos os fãs não apontam o potencial do Will, só para aqui ele ser relegado ao núcleo mais redundante e entediante dos quatro? E digo isso, SIM, levando em conta o núcleo da Joyce e da União Soviética. E por que diabos introduzir um novo personagem a um núcleo recorrente, apenas para fazê-lo tão sem propósito como o Argyle!? POR QUÊ!???
ST4 tem muitos pontos positivos, mas também recai em muitos dos mesmos erros das temporadas anteriores. Representa uma evolução para Stranger Things, sem dúvidas, mas também não é revolucionária. A série teima em seguir um fórmula muito rígida com a movimentação dos seus núcleos, com a inicial separação dos personagens, reunião no último episódio e um clímax à base do "poder da amizade". É muito peculiar como uma série que permanece andando em círculos, continua causando tanto alvoroço sempre que novos episódios são lançados, mas também não posso fingir que já não aceitei que essa é realidade de quem assiste ST. Com a 3ª temporada, considerei não retornar, mas aqui estamos e também recuperei um pouco do meu entusiasmo com a série. Que venha a quinta e última.
Me sinto tão validado em ver que essa saga é odiada rs
Na época que estava sendo lançada, eu já bastante exausto com alguns animes eternos e até One Piece perdendo seu rumo nessa saga interminável e chata, acabei abandonando o anime e, meses depois, o mangá (os dois estavam bem próximos na época, então era sofrimento em dobro). Até comecei Punk Hazard no mangá e me lembro da minha primeira gargalhada em muito tempo (com o Usopp, é claro), mas já tinha acumulado tantos capítulos que aos poucos deixei de acompanhar. Vendo as datas de lançamento do mangá, já vai fazer 10 anos (caramba).
Ainda sinto falta, mas (re)começar agora parece ainda mais intimidante do que quando comecei a ler o mangá, em 2009.
Demora um pouco para mostrar a que veio, mas a chegada do Blackbeard realmente transforma a série. Depois que ele se encontra com o Stede, não há um episódio arrastado, como foram os primeiros, e OFMD te conquista tanto pelos momentos não ortodoxos quanto pelos mais bobos.
A única dificuldade que persiste, e que espero muito que consigam superar na segunda temporada, é a inconsistência interna dos episódios. Blackbeard e Stede, (juntos, principalmente) são incríveis, e a série sabe disso. O problema é que os outros personagens são tão mal explorados que, salvo os poucos momentos em que alguns deles puderam brilhar, suas cenas mais pareceram intervalos indesejados que interrompiam o que realmente te conquista na série.
Nota final: be gay, do crime/10 estrelas (mas na real, 6/10)
Uma mais que grata surpresa. A sinopse transcrita no filmow é bastantes direta, embora seja mesmo apenas a camada mais superficial da história.
Intercalando passado e presente, acompanhamos, em 1996, o grupo que sobreviveu ao desastre aéreo, e em 2021, quatro das sobreviventes que foram regatadas, 19 meses depois do ocorrido. O cuidado em conectar o elenco de ambos períodos é mais que evidente, e um dos grandes pontos positivos da série, que consegue transitar entre as duas tramas de forma bastante orgânica e engajadora. É aos poucos que vamos conhecendo as personagens, a dinâmica entre elas, e como a tragédia que as uniu afetou cada uma intimamente.
Ocorre que não se trata de apenas um drama de sobreviventes, mas também de um mistério. A cena que introduz a série de pronto estabelece que o trauma sofrido não se limitou à ocorrência do acidente, tampouco ao que precisaram fazer para não sucumbir na selva. Apesar disso, o que nos é revelado até o décimo e último episódio da temporada ocorre gradualmente, tanto no núcleo de 96 quanto no núcleo de 2021. E entre conflitos e paranoia, nunca sabemos se os elementos sobrenaturais da história realmente existem naquele mundo ou se são manifestação da perturbação interna das personagens.
Sem querer revelar muito, garanto que vale a pena ser conferida.
Agora que a série se encerrou e as inevitáveis reações negativas estão aparecendo, eu começo dizendo o que para mim já era evidente há muitos episódios: a trama de New Blood foi muito mal escrita, e não se limita ao último episódio.
Inclusive, aquele evento final não me parece um caminho inusitado para a jornada do Dexter, como foi o também terrível encerramento da série original. Foi, é claro, muito mal executado, com o incoerente comportamento do Dexter e do Harrison, como muitos já escreveram abaixo, mas também pela falta de desenvolvimento da relação entre pai e filho. Entre as infinitas birras do Harrison e o eterno silêncio do Dexter, tivemos um único episódio, com pouco proveito do que antecedeu o episódio 8 (no qual eles só têm a última cena juntos).
Apesar de não ver o destino do Dexter como algo saído do nada, como foi na 8ª temporada (e só o do Dexter, o do Harrison é outra história) o que me parece é que roteiristas criaram a série a partir do que tinham em mente para o final, e deixaram um rastro de furos, contradições e deus ex machina no caminho.
Dexter foi o único personagem minimamente desenvolvido ao longo de New Blood. Harrison foi instrumental, e os outros personagens e a promessa do primeiro episódio de que eles teriam alguma jornada pessoal, simplesmente desapareceram. Angela, cuja vida adulta INTEIRA foi moldada pelo desaparecimento da melhor amiga, desiste da investigação do assassinato da Iris sem maiores repercussões, e com pouco ou nenhum motivo decide investigar o Dexter. Desde o encontro dela com Batista, a Angela foi reduzida ao mais ridículo artifício de roteiro que essa série já viu.
Quando não eram as coincidências mais inacreditáveis possíveis para tentar mover a trama para o fim desejado, tornando a exposição do Dexter como o assassino de Matt e como o Bay Harbor Butcher completamente desmerecida e inorgânica, eram as mais irritantes contradições e absurdos. Investigação policial que avança com simples pesquisas ao Google? Marca de injeção em cadáver? Em cadáver que ficou meses, anos até, submerso no mar? E ketamina!? Nem era essa a substância que o Dexter usava na série original! Era Etorfina, e isso foi parte integral de diversas tramas de diversas temporadas. Como uma substância que ele usou somente em New Blood, justamente por já não ter acesso ao laboratório forense, ser o que ligou ele ao Bay Harbor Butcher, um caso que foi concluído 20 anos antes? Como Angela se contenta e para de investigar o Kurt, apesar de a única oposição à evidência FORENSE que ela coletou, de ele ter mentido sobre ter conversado com o filho, de ele ter uma maldita cabana isolada na floresta, para onde ele levou a Molly, que foi RESGATADA pelo Dexter e EXPRESSAMENTE FALOU para a Angela sobre como ela achou que seria morta (cabine cuja área subterrânea foi completamente destruída pelo próprio Kurt) é uma historiazinha contada justamente pelo único suspeito de matar a Iris? Em vez disso, sem qualquer correlação com nada, ela "institivamente" suspeita que o Dexter é um assassino e passa a investigá-lo sem ter qualquer razão sólida para fazer isso.
Pois é, no fim eu já não esperava qualquer coisa perto de satisfatória. Até engraçado dizer isso depois do textão, mas no fim eu realmente não me importava com o que aconteceria no último episódio, porque já tinha desistido da série há uma boas semanas. Para quem pelo menos achou esse final melhor que o original, que tenham feito bom proveito do que nos foi dado. Para mim, infelizmente, não consigo ser favorável a qualquer de duas péssimas alternativas.
E agora que estravazei o que me restava de frustração, enterro Dexter de vez e encerro uma review desnecessariamente longa sobre uma série desnecessariamente desnecessária.
Pensei em escrever isso em resposta a um comentário, mas a extensão do texto fugiu meu controle. Sempre achei muito estranha a questão de Michel. Primeiro porque na mesma época em que Gilmore Girls estreou, Buffy, do mesmo canal, tinha Willow e Tara como um casal de mulheres. Buffy mudou de emissora para suas duas últimas temporadas, mas durante seu tempo na Warner elas se beijaram uma única vez, com o criador da série conseguindo, com bastante dificuldade, convencê-los de que a ação era uma reação natural e esperada ao que acontecera no episódio anterior. A emissora nunca teve problema com expressões de sexo e afetividade mostradas na série, inclusive com Willow, anteriormente em uma relação heterossexual. É clara, então, a posição da WB na época, mas meu ponto é que as personagens eram *reconhecidas* como um casal de lésbicas. E então há Michel, que possui vários dos estereótipos atribuídos a personagens homossexuais, em uma série que teve sua evidente parcela de piadas homofóbicas. No revival confirmam o que nunca foi um segredo, expõe que ele está casado com outro homem, mas essa personagem nunca aparece, então não há qualquer interação verdadeira de Michel como homossexual. Não é muito diferente de personagens gays que, nunca sendo estando em uma relação [com alguém do mesmo sexo], servem apenas de alívio cômico por observações sobre suas peculiaridades e falta de masculinidade. E masculinidade porque, não só personagens lésbicas sempre foram mais raras -- e sequer me recordo de alguma personagem feminina que tenha assumido essa posição de alívio cômico por tempo tão prolongado quanto toda a extensão de uma série --, mas porque é a primeira característica a ser insultada em um homem. E há ainda aquele diálogo/piada sobre Stars Hollow não poder ter sua própria parada gay, porque há apenas um homossexual na cidade. Vendo reações ao revival, parece ser consenso agora de que Lorelai e Rory não são exatamente boas pessoas, mas a criadora sempre foi muito confusa ao abordar (ou deixar de fazer menção à) sexualidade, raça, ou mesmo quando ela e o marido escrevem cenas como aquela na piscina, no terceiro episódio -- que levou muitos à essa conclusão sobre as protagonistas. É apenas estranho ver isso em uma série considerada progressiva e, por que não, icônica. O revival parece tão parado no tempo quanto o desenvolvimento das suas personagens.
Scott Pilgrim: A Série
4.0 58Scott Pilgrim Takes Off opta por uma linha do tempo alternativa à história original, mas apesar de não segui-la a risca, nunca se distancia a ponto de ter vida própria. É a sequência de um material que nunca foi adaptado nesse formato e um metacomentário sobre uma série que nunca foi feita. Isso dificulta que a série seja uma introdução daquele mundo a um novo público, já que em sua maior parte é preciso ter conhecimento prévio — seja dos quadrinhos ou do filme — para saber, afinal, o que diabos está sendo aludido a todo momento na história.
Só li os quadrinhos muito recentemente, então não tenho e nem posso ter nostalgia pela história e não era o que busquei na série. Mas ler o material original me permitiu entender todo o alvoroço em torno da obra e das suas personagens, principalmente ao encontrar o charme dos aspectos mais mundanos da história e que costumam ser menos comentados que seu conceito maximalista ou o absurdismo bem humorado da sua trama. É uma história bastante cativante sobre um grupo de jovens adultos completamente desnorteados, frequentemente babacas e imaturos, mas humanos e geralmente bem intencionados. Sobre o filme, é fantástico como o estilo de direção do Edgar Wright engrandece o humor já presente na história, mas sua segunda metade também tropeça no volume de fatos que não tem tempo hábil para adaptar e conclui num final anticlimático, embora não arruíne a experiência. É um bom filme.
Roteirizada pelo próprio criador dos quadrinhos, Bryan Lee O'Malley, essa série ainda trabalha com alguns dos mesmos temas do material original, mas perde aquele charme casual que senti nos quadrinhos — e mesmo no filme — porque as personagens quase não interagem como o grupo de amigos que deveriam ser. SP Takes Off não dedica tempo para explorar seu número volumoso de personagens, nem tem a edição dinâmica e magistral do filme, mas os referencia o tempo todo como se tivesse. Chegam a ser vergonhosos os momentos em que a série reproduz piadas visuais do filme, mas sem ter um resquício do timing cômico que as fizeram engraçadas originalmente. A animação tem seus momentos, mas em geral é engessada demais para ser engraçada como o filme do Wright e é difícil não compará-los quando o live-action é referenciado tantas vezes. Ao mesmo tempo, ela recorre muito a marcadores estilísticos de animes para comédia, que contrastam negativamente com o humor norteamericano e a atuação vocal mais naturalista. Talvez seja influência da própria direção dos atores, mas enquanto alguns se revelam ótimos dubladores/voice actors, como a Aubrey Plaza (Julie), outros são terríveis, como o Brandon Routh (Todd).
Aos poucos, a série começa a encontrar sua própria voz e sua segunda metade é muito mais cativante (ep 5 em diante — aliás, o melhor dos 8), mas é difícil desconsiderar a falta de jeito dos primeiros 4 eps. Apesar disso, para mim, é o que ainda garantiu uma nota positiva.
Black Mirror (6ª Temporada)
3.3 600> Beyond the Sea: Desde a 3ª temporada eu não gostava tanto de um episódio de Black Mirror quanto gostei de Beyond the Sea. Se a história desse episódio seguiu um rumo que consegui antecipar, sem plot twits surpreendentes — e isso pouco importa para a qualidade de uma história — é porque foi consistente, bem construído e trouxe qualidade tanto enquanto drama quanto enquanto sci-fi. Para mim, um dos melhores episódios da série.
> Loch Henry: outra grata surpresa. Um raro retorno ao comentário social mais pé no chão para os padrões da antologia, aos moldes de The National Anthem, em sentido de que, como ele, não recorre a futurismos ou tecnologias fantasiosas para explorar seus temas. Não se compara aos momentos de auge da série, mas é um episódio muito bom.
Esses dois são a única razão para minha nota não ser mais baixa. Na verdade, ela seria mais baixa, apesar deles, se eu me baseasse na média das notas que atribuí aos episódios isoladamente, mas concedi mais meia estrela por me lembrarem que Black Mirror não precisa ser um completo fiasco. Vamos ao resto:
> Joan Is Awful: auto-paródia tão mal-pensada e executada, tão sofrível na memória que traz dos piores momentos da 5ª temporada e tão insultuosa à inteligência do espectador, atrevendo-se a explicar, no mais enfadonho diálogo expositivo que tenta ser cômico, toda aquela baboseira, que questionei seriamente a razão de eu dar uma chance a esses novos episódios. Segundo pior da temporada.
> Demon 79: season finale e um de dois episódios tão completamente perdidos no conceito da série que geram uma forte impressão de que Charlie Brooker deveria estar se sentido tão pressionado ou limitado pelo peso do nome Black Mirror que decidiu fingir que a série nunca teve uma ideia central que confere (/conferia?) alguma coesão à antologia. Não é horrível, muito menos inassistível, mas tampouco faz qualquer coisa digna de atenção com seu enredo.
> Mazey Day: ???????????? !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ?????????????????????
Tentando expressar o inexplicável em palavras: Rachel, Jack and Ashley Too é o pior episódio de Black Mirror. Mazey Day é o pior episódio de alguma outra série, mas esqueceram de nos dizer o nome dela.
Yellowjackets (2ª Temporada)
3.5 101Fui um grande divulgador de Yellowjackets durante e após a 1ª temporada e é triste ter que dizer que a queda de qualidade foi evidente neste segundo ano. Além de mais inconsistente em ritmo e tom, mesmo com um ep a menos, furos e conveniências de roteiro foram abundantes.
O pior, na verdade, não foi isso. Desta vez, todos os personagens foram mal desenvolvimentos, sem qualquer rumo na trama ou um arco próprio que realmente afetasse a história. Personagens essenciais foram completamente esquecidos, tanto no núcleo dos anos 90, quanto do presente. E a decepção é especialmente maior com o tratamento de uma certa personagem e a situação em que ela se encontra no último episódio, principalmente por ela ter ficado tão apagada ao longo de toda a temporada:
a morte de Natalie foi patética, mal executada e muito prematura.
A longo termo, uma preocupação séria com o rumo da série é que muitos outros mistérios foram apresentados sem que tivéssemos qualquer resquício de resposta para questões importantíssimas da 1ª temporada, e isso desacredita aquele discurso dos criadores de que toda a história já estava planejada. Um grande exemplo, para mim, é o abandono de um dos *cliffhangers* do episódio 10 da série, que nem sequer volta a ser mencionado:
o assassinato daquela mulher que ajudou a Natalie a descobrir quem movimentou a conta do Travis. Aquela cena sugeria que
o grupo da Lottie era muito perigoso, a ponto de cometer homicídios,
Espero que a terceira temporada possa (começar a) redimir os erros cometidos nesse ano e que a série, pelo menos, volte a recuperar o carisma que já teve. Com a greve dos roteiristas, vamos ter um hiato maior entre temporadas. Talvez essa seja a oportunidade necessária para que os criadores reflitam sobre o rumo da história antes de continuá-la.
Succession (1ª Temporada)
4.2 261Única torcida é pela queda dos Murdoch e da Fox Corporation. Mas sobre a série, única torcida é pela queda dos Roy e da Waystar.
Barry (4ª Temporada)
3.9 65 Assista AgoraDROGA DE SÉRIE MARAVILHOSA! BEM-VINDA DE VOLTA!!!!!!11
The Last of Us (1ª Temporada)
4.4 1,2K Assista AgoraJá estava apaixonado com o trabalho da Bella Ramsey e do Pedro Pascal, cada vez mais encantado com suas personagens, e a série ainda me presenteia com a MELANIE LYNSKEY!?
O Conto da Aia (5ª Temporada)
4.0 172 Assista Agora🎶 Todo mundo tem terapista canadense
Só a June Osborne que não tem 🎶
O Conto da Aia (4ª Temporada)
4.3 428 Assista AgoraAvaliar séries tem uma peculiaridade complicada, pois o parâmetro não inclui apenas outras obras, mas também as outras temporadas daquela mesma história. E isso significa que você sabe, o tempo todo, o quão boa aquela história foi e ainda pode ser.
Apesar de muitas decepções com as duas temporadas anteriores, eu gosto de The Handmaid's Tale. Acontece que após a obra-prima que foi a 1ª temporada, ver os obstáculos, riscos e consequências já estabelecidas naquele mundo serem tão despreocupadamente distorcidos para a conveniência das protagonistas é absolutamente frustrante e não só deprecia o potencial da história, como menospreza a inteligência do espectador.
Tendência que já vinha da 2ª temporada e se intensificou na 3ª, os roteiristas recorrem a artifícios tão absurdos que te faz questionar, seriamente, como Gilead ainda se mantém de pé enquanto Estado totalitário.
> Como é possível que
membros de um grupo tão infame de terroristas (do ponto de vista de Gilead, é isso que são), que fizeram o impensável ao conseguir levar 86 crianças + algumas mulheres escravizadas para fora do país, não apenas são mantidas vivas após serem capturadas, mas em seguida são transportadas por UM ÚNICO GUARDA, numa VAN QUE PODERIA SER DESTRANCADA POR DENTRO (!!!) para sua nova prisão? Até mesmo na 3ª temporada nós vimos aias serem executadas por muito menos, mas aqui utilizam o argumento da escassez de aias para não executá-las. E quando elas fogem, qual foi a reação imediata daquele único guarda responsável por elas e que saiu do caminhão para urinar? ATIRAR PARA MATÁ-LAS! Isso é um nível de contradição surreal! Além disso, ainda que fosse possível acreditar que mesmo aias terroristas são tão valiosas, é muito questionável que não teriam matado pelo menos a June, enquanto clara líder do movimento e cuja morte poderia desmobilizar as outras. Mas esperar que a protagonista intocável sofra esse tipo repressão já se tornou impossível, como a 3ª temporada nos deixou muito claro.
> Ainda sobre essa última cena, é francamente desrespeitoso
se livrar da Alma e da Brianna de forma tão barata. Não bastasse o péssimo artifício de roteiro, a própria execução da cena, com aquele trem de CGi mal feito e elas sendo atropeladas sem vermos uma gota de sangue, foi inacreditável
> E Lawrence,
que não deveria restar dúvidas que conspirou para salvar aquelas crianças? Ainda que esteja preso, por que seria poupado? Nem mesmo a chantagem que ele fez para reaver seu posto de comandante deveria significar muito num Estado em que basta a palavra de outro comandante para tê-lo executado.
> E Nick,
que declara seu amor por June, a inimiga nº 1 de Gilead, para quem quiser ouvir? Ainda que tenha sido promovido à Comandante, por que o posto dele seria tão alto? Ou seria mesmo, já que a temporada passada pareceu introduzir DC como local em que comandantes de hierarquia ainda mais alta moravam? E sobre isso, teve alguma importância, afinal? Por que agora o centro do comando de Gilead parece ser Boston novamente, quase como se toda a história em DC nunca tivesse acontecido.
> Waterfords
presos. Ótimo! Mas por que eles têm tanta liberdade de locomoção? Como podem deixar que eles entrem e saiam dos seus aposentos quando querem ou que recebam visitas no mínimo questionáveis, como outro criminoso de guerra e comandante em Gilead? Por que deixariam June numa cela, sozinha, com Fred ou Serena?
> June,
foi resgatada, FINALMENTE! E a todo momento eu temia que os roteiristas a jogariam em Gilead novamente porque eles não têm um bom histórico. É muito questionável que a deixariam ir se encontrar com o Nick, sozinha com ele numa casa, quando é a pessoa mais procurada por Gilead. Ela recebeu algum tratamento médico após se refugiar? Sabemos, pelo avanço da gravidez de Serena, que meses se passaram e podemos imaginar que nenhuma terapia faria milagre com ela, mas até o brinco de aia ainda está na orelha dela. Com toda aquela preocupação em cortar o brinco fora quando conseguiu fugir no início da 2ª temporada, poderíamos imaginar que ele pelo menos continha algum dispositivo de rastreação, mas agora já não parece importar.
São algumas das minhas frustrações com a série. Frustrações que, já ficou muito claro, são truques baratos que os roteiristas, que já não tem a escrita redondinha da Artwood para adaptar, recorrem com muito gosto e sem vergonha alguma.
Mas não minto quando digo que gosto muito de The Handmaid's Tale, e ainda aprecio bastante o que a série tem de excelente. Se o roteiro tem seus altos e baixos (e muito baixos), a atuação é sempre majestosa. E esta é outra grande frustração: ter que dar 6/10 estrelas para uma temporada que, fosse de uma série da qual eu esperasse algo de menor qualidade, talvez não hesitasse em em dar uma nota um pouco mais alta.
Agora *aquela* cena do último episódio? Nada menos que catártica.
O Conto da Aia (3ª Temporada)
4.3 596 Assista AgoraQuando terminei a 2ª temporada, além do gosto amargo deixado pela conclusão absurda, ficou o temor por uma certa tendência que eu vinha percebendo no roteiro — e ele se confirmou.
Primeiramente, a June se tornou intocável, sendo capaz de abertamente cometer atos que, no mínimo, levariam à mutilação de qualquer outra Aia (como já aconteceu com a Janine (1ª T) e Lillie (2ª T), mas também poderiam muito bem levar à sua execução. Sim,
ela foi punida psicologicamente
Segundo — e muito mais inacreditável —, June faz o que quer e na frente de qualquer um. Alguns exemplos: No ep. 4,
durante a festa de um comandante, em que as Aias estão isoladas em um cômodo da casa, ela anda por onde quer, dá conselhos para o casamento de Serena e Fred, confronta Lydia na frente de todos os comandantes e esposas, e ainda fica depois da festa para espionar os Waterfords! (lembrando que as Aias são acompanhadas para entrar e sair dali, menos June)
no antigo Memorial Lincoln, onde comandantes, guardas e milhares de Aias aguardavam para gravar o vídeo do Waterford, lá está June insultando Serena aos berros, para quem quisesse ouvir.
Mas os problemas da 3ª temporada vão além da invencibilidade da June. Tramas começam e não são concluídas, personagens são abandonados, aqueles que não são sofrem com uma inconsistência absurda, e até mesmo o estilo visual da série parece beirar a auto-paródia. Se antes os close-ups na June traziam peso aos momentos mais intensos da história, esse artifício foi usado com tanto descaso e tantas vezes num mesmo episódio que perdeu completamente o propósito. Close-up não tem poder de dar profundidade a uma cena rasa e formulaica.
Nick e Emily desapareceram no meio da temporada, sem qualquer conclusão à promessa dos seus arcos nesse 3º ano. A insinuação sobre a sexualidade do Comandante Winslow não foi a lugar algum, bem como todo o potencial do personagem. Não bastasse ter sido morto tão cedo, sua morte nem mesm gerou consequências. Ainda que tenha coincidido com a prisão dos Waterfords, como é possível que Gilead simplesmente desse como desaparecido alguém da posição dele? Por acaso ele foi ao Jezebel's sozinho, sem guardas? E como a June conseguiu entrar lá, sem ser acompanhada por um Comandante, se não sabia de entradas secretas? Escolheram simplesmente não nos mostrar e deixar tudo ir a favor dela, como tantas outras vezes.
Sem querer listar mais frustrações, algo (talvez?) positivo: se na 2ª temporada eu consegui relevar muitos dos problemas que identifiquei, até que chegamos ao final revoltante, aqui aconteceu o oposto. Muito da temporada pareceu ser filler (e os eternos close-ups nos olhos de June...), muito de fato foi, mas a partir do episódio 10, apesar de muitos desses problemas listados, a série recuperou o fôlego. Mas não dá para dizer que a queda de qualidade não foi sentida, e muito.
O Conto da Aia (2ª Temporada)
4.5 1,2K Assista AgoraEu me envolvi muito com a série na primeira temporada. Aqui não foi diferente, com momentos brilhantes no desenvolvimento de diversas personagens. Mas apesar disso, ao longo de toda a temporada, cresceu em mim a impressão de que o roteiro não só se acovardou com a brutalidade de Gilead, mas jogou muito sujo com as personagens e os espectadores.
Quando falo em brutalidade, não me refiro às punições físicas e psicológicas, que são mais enfurecedoras que nunca. O que ocorreu foi perda de consequências reais para a protagonista.
June fugiu 3 vezes e chegou a revidar um tapa do merda do Waterford. Nenhuma dessas ações teve consequências para ela. Não só isso, mas dada nova oportunidade de fugir de Gilead no episódio final, ela desiste, supostamente para proteger Hannah.
E não digo "supostamente" por não acreditar nessa motivação, mas porque não faz qualquer sentido para a personagem, que sabe bem que
ela não teria meios de protegê-la ali dentro.
Eu relevei muitos momentos em que senti a inconsistência em relação às pesadas consequências que recaíram sobre as personagens, incluindo June, inclusive pelas menores transgressões, na primeira temporada. Mas é difícil engolir
um final que só parece indicar que cederam de vez ao comercialismo para continuar a explorar o sofrimento dessas personagens, dure quanto durar, custe o que custar, inclusive a credibilidade da história.
Em geral, sim, gostei muito da temporada, mas prossigo, agora, com muito receio pela qualidade do que vem a seguir.
O Conto da Aia (1ª Temporada)
4.7 1,5K Assista AgoraQue a impiedade de obras como O Conto da Aia seja reveladora. Às vezes parece que a posição do gênero distopia na cultura de massa, ou quem sabe justamente por ele estar tão bem consolidado na consciência popular como espécie de entretenimento, aliena os destinatários dessas obras do seu caráter satírico e da concretude da sua denúncia.
Se em 2022 O Conto da Aia parece ressoar como um presságio da recente e imensurável perda aos direitos das mulheres nos EUA, assim como Afeganistão e outros tantos países tomados pela ascensão de grupos reacionários — para não mancionar o eterno risco de regresso no Brasil, hoje ainda maior —, não se enganem, pois essa não é uma obra premonitória. O Conto da Aia parece fadada a sempre ser uma obra secamente descritiva da realidade corrente, fosse primeiro contada há 500 ou daqui a 200 anos .
Nosso país foi fundado no estupro de mulheres indígenas e negras escravizadas. Também foi fundado no estupro de mulheres brancas, "livres" apenas numa interpretação muito ampla do termo. Essa herança não se perde. Em 2021, mais de 17 mil meninas com menos de 14 anos se tornaram mães no Brasil. Tantas outras crianças estupradas que conseguiram realizar o aborto legal foram continuamente violentadas e psicologicamente torturadas para não recorrerem ao seu direito. Tantas outras milhares de mulheres jovens e adultas enfrentaram a mesma realidade. E para além delas, aquelas que não podem engravidar, não se esqueçam que há muitas outras crianças e mulheres idosas. Não se esqueçam também que o estupro é apenas um dos atos simbólicos da opressão feminina, e que os crimes de indivíduos não são nada diante da escala da dominação institucional em todas suas esferas, do Estado e da religião à família e outros espaços de convívio social.
As tragédias de June, Moira, Emily, Janine, Alma, e mesmo de monstros como Serena Joy e Tia Lydia, não são tragédias de um futuro imaginado de uma distopia fictícia. São as vidas de bilhões das mulheres que hoje estão vivas, e das incontáveis mulheres que já se foram.
Barry (1ª Temporada)
4.1 118 Assista AgoraAcabo de terminar a 3ª temporada, mas não trarei nenhum spoiler aqui. Se alguém lendo isso ainda está incerto sobre assistir a essa série ou não, eu espero muito te convencer a fazer isso.
Começar a assistir Barry, com uma premissa que por si só já é hilária e magnífica, foi uma coisa. Mas nada te prepara para a coragem do Bill Hader ao conduzir essa história.
Ao longo de uma temporada, a quase absoluta maioria das séries antecipará, aos poucos, um certo desfecho grandioso, culminando num acontecimento surpreendente, cujo maior objetivo é criar um hype imenso para o que virá a seguir. Mas ao começar a temporada seguinte, toda aquela grandiosidade será contida, muitas vezes de forma completamente anti-climática, apenas para que novamente se construa um grande hype para o ano seguinte. Todo fã de série sabe e aceita isso, porque a essa altura é mera metalinguagem.
Barry não faz isso. Coisas acontecem, coisas são feitas, personagens crescem e se revelam, e não há volta. Nunca. A série nunca se trai. A história continua crescendo, e entre o riso impossível de conter, gargalhando de muitas das coisas mais humanamente reprováveis e devastadoras, a bizarra tragédia de personagens tão improváveis apenas te deixa sem palavras.
Stranger Things (4ª Temporada)
4.2 1,0K Assista AgoraCom esse novo arco, finalmente (!), nos é revelado algo mais sobre o Upside-Down. É o mínimo, depois de dezenas de horas investidas e 6 anos desde a primeira temporada. Igualmente, muito bem vindo é o desenvolvimento de certos personagens (com destaque para Max), mas ainda paira sobre ST o absurdo desperdício de tantos outros. Há quantos anos os fãs não apontam o potencial do Will, só para aqui ele ser relegado ao núcleo mais redundante e entediante dos quatro? E digo isso, SIM, levando em conta o núcleo da Joyce e da União Soviética. E por que diabos introduzir um novo personagem a um núcleo recorrente, apenas para fazê-lo tão sem propósito como o Argyle!? POR QUÊ!???
ST4 tem muitos pontos positivos, mas também recai em muitos dos mesmos erros das temporadas anteriores. Representa uma evolução para Stranger Things, sem dúvidas, mas também não é revolucionária. A série teima em seguir um fórmula muito rígida com a movimentação dos seus núcleos, com a inicial separação dos personagens, reunião no último episódio e um clímax à base do "poder da amizade". É muito peculiar como uma série que permanece andando em círculos, continua causando tanto alvoroço sempre que novos episódios são lançados, mas também não posso fingir que já não aceitei que essa é realidade de quem assiste ST. Com a 3ª temporada, considerei não retornar, mas aqui estamos e também recuperei um pouco do meu entusiasmo com a série. Que venha a quinta e última.
One Piece: Saga 9 - Ilha dos Tritões
4.1 31Me sinto tão validado em ver que essa saga é odiada rs
Na época que estava sendo lançada, eu já bastante exausto com alguns animes eternos e até One Piece perdendo seu rumo nessa saga interminável e chata, acabei abandonando o anime e, meses depois, o mangá (os dois estavam bem próximos na época, então era sofrimento em dobro). Até comecei Punk Hazard no mangá e me lembro da minha primeira gargalhada em muito tempo (com o Usopp, é claro), mas já tinha acumulado tantos capítulos que aos poucos deixei de acompanhar. Vendo as datas de lançamento do mangá, já vai fazer 10 anos (caramba).
Ainda sinto falta, mas (re)começar agora parece ainda mais intimidante do que quando comecei a ler o mangá, em 2009.
Nossa Bandeira é a Morte (1ª Temporada)
4.2 51 Assista AgoraDemora um pouco para mostrar a que veio, mas a chegada do Blackbeard realmente transforma a série. Depois que ele se encontra com o Stede, não há um episódio arrastado, como foram os primeiros, e OFMD te conquista tanto pelos momentos não ortodoxos quanto pelos mais bobos.
A única dificuldade que persiste, e que espero muito que consigam superar na segunda temporada, é a inconsistência interna dos episódios. Blackbeard e Stede, (juntos, principalmente) são incríveis, e a série sabe disso. O problema é que os outros personagens são tão mal explorados que, salvo os poucos momentos em que alguns deles puderam brilhar, suas cenas mais pareceram intervalos indesejados que interrompiam o que realmente te conquista na série.
Nota final: be gay, do crime/10 estrelas (mas na real, 6/10)
Yellowjackets (1ª Temporada)
3.8 209 Assista AgoraUma mais que grata surpresa. A sinopse transcrita no filmow é bastantes direta, embora seja mesmo apenas a camada mais superficial da história.
Intercalando passado e presente, acompanhamos, em 1996, o grupo que sobreviveu ao desastre aéreo, e em 2021, quatro das sobreviventes que foram regatadas, 19 meses depois do ocorrido. O cuidado em conectar o elenco de ambos períodos é mais que evidente, e um dos grandes pontos positivos da série, que consegue transitar entre as duas tramas de forma bastante orgânica e engajadora. É aos poucos que vamos conhecendo as personagens, a dinâmica entre elas, e como a tragédia que as uniu afetou cada uma intimamente.
Ocorre que não se trata de apenas um drama de sobreviventes, mas também de um mistério. A cena que introduz a série de pronto estabelece que o trauma sofrido não se limitou à ocorrência do acidente, tampouco ao que precisaram fazer para não sucumbir na selva. Apesar disso, o que nos é revelado até o décimo e último episódio da temporada ocorre gradualmente, tanto no núcleo de 96 quanto no núcleo de 2021. E entre conflitos e paranoia, nunca sabemos se os elementos sobrenaturais da história realmente existem naquele mundo ou se são manifestação da perturbação interna das personagens.
Sem querer revelar muito, garanto que vale a pena ser conferida.
Dexter: Sangue Novo
3.7 396Agora que a série se encerrou e as inevitáveis reações negativas estão aparecendo, eu começo dizendo o que para mim já era evidente há muitos episódios: a trama de New Blood foi muito mal escrita, e não se limita ao último episódio.
Inclusive, aquele evento final não me parece um caminho inusitado para a jornada do Dexter, como foi o também terrível encerramento da série original. Foi, é claro, muito mal executado, com o incoerente comportamento do Dexter e do Harrison, como muitos já escreveram abaixo, mas também pela falta de desenvolvimento da relação entre pai e filho. Entre as infinitas birras do Harrison e o eterno silêncio do Dexter, tivemos um único episódio, com pouco proveito do que antecedeu o episódio 8 (no qual eles só têm a última cena juntos).
Apesar de não ver o destino do Dexter como algo saído do nada, como foi na 8ª temporada (e só o do Dexter, o do Harrison é outra história) o que me parece é que roteiristas criaram a série a partir do que tinham em mente para o final, e deixaram um rastro de furos, contradições e deus ex machina no caminho.
Dexter foi o único personagem minimamente desenvolvido ao longo de New Blood. Harrison foi instrumental, e os outros personagens e a promessa do primeiro episódio de que eles teriam alguma jornada pessoal, simplesmente desapareceram. Angela, cuja vida adulta INTEIRA foi moldada pelo desaparecimento da melhor amiga, desiste da investigação do assassinato da Iris sem maiores repercussões, e com pouco ou nenhum motivo decide investigar o Dexter. Desde o encontro dela com Batista, a Angela foi reduzida ao mais ridículo artifício de roteiro que essa série já viu.
Quando não eram as coincidências mais inacreditáveis possíveis para tentar mover a trama para o fim desejado, tornando a exposição do Dexter como o assassino de Matt e como o Bay Harbor Butcher completamente desmerecida e inorgânica, eram as mais irritantes contradições e absurdos. Investigação policial que avança com simples pesquisas ao Google? Marca de injeção em cadáver? Em cadáver que ficou meses, anos até, submerso no mar? E ketamina!? Nem era essa a substância que o Dexter usava na série original! Era Etorfina, e isso foi parte integral de diversas tramas de diversas temporadas. Como uma substância que ele usou somente em New Blood, justamente por já não ter acesso ao laboratório forense, ser o que ligou ele ao Bay Harbor Butcher, um caso que foi concluído 20 anos antes? Como Angela se contenta e para de investigar o Kurt, apesar de a única oposição à evidência FORENSE que ela coletou, de ele ter mentido sobre ter conversado com o filho, de ele ter uma maldita cabana isolada na floresta, para onde ele levou a Molly, que foi RESGATADA pelo Dexter e EXPRESSAMENTE FALOU para a Angela sobre como ela achou que seria morta (cabine cuja área subterrânea foi completamente destruída pelo próprio Kurt) é uma historiazinha contada justamente pelo único suspeito de matar a Iris? Em vez disso, sem qualquer correlação com nada, ela "institivamente" suspeita que o Dexter é um assassino e passa a investigá-lo sem ter qualquer razão sólida para fazer isso.
Pois é, no fim eu já não esperava qualquer coisa perto de satisfatória. Até engraçado dizer isso depois do textão, mas no fim eu realmente não me importava com o que aconteceria no último episódio, porque já tinha desistido da série há uma boas semanas. Para quem pelo menos achou esse final melhor que o original, que tenham feito bom proveito do que nos foi dado. Para mim, infelizmente, não consigo ser favorável a qualquer de duas péssimas alternativas.
E agora que estravazei o que me restava de frustração, enterro Dexter de vez e encerro uma review desnecessariamente longa sobre uma série desnecessariamente desnecessária.
Gilmore Girls: Um Ano para Recordar
4.2 419 Assista AgoraPensei em escrever isso em resposta a um comentário, mas a extensão do texto fugiu meu controle.
Sempre achei muito estranha a questão de Michel.
Primeiro porque na mesma época em que Gilmore Girls estreou, Buffy, do mesmo canal, tinha Willow e Tara como um casal de mulheres. Buffy mudou de emissora para suas duas últimas temporadas, mas durante seu tempo na Warner elas se beijaram uma única vez, com o criador da série conseguindo, com bastante dificuldade, convencê-los de que a ação era uma reação natural e esperada ao que acontecera no episódio anterior. A emissora nunca teve problema com expressões de sexo e afetividade mostradas na série, inclusive com Willow, anteriormente em uma relação heterossexual. É clara, então, a posição da WB na época, mas meu ponto é que as personagens eram *reconhecidas* como um casal de lésbicas.
E então há Michel, que possui vários dos estereótipos atribuídos a personagens homossexuais, em uma série que teve sua evidente parcela de piadas homofóbicas. No revival confirmam o que nunca foi um segredo, expõe que ele está casado com outro homem, mas essa personagem nunca aparece, então não há qualquer interação verdadeira de Michel como homossexual. Não é muito diferente de personagens gays que, nunca sendo estando em uma relação [com alguém do mesmo sexo], servem apenas de alívio cômico por observações sobre suas peculiaridades e falta de masculinidade. E masculinidade porque, não só personagens lésbicas sempre foram mais raras -- e sequer me recordo de alguma personagem feminina que tenha assumido essa posição de alívio cômico por tempo tão prolongado quanto toda a extensão de uma série --, mas porque é a primeira característica a ser insultada em um homem.
E há ainda aquele diálogo/piada sobre Stars Hollow não poder ter sua própria parada gay, porque há apenas um homossexual na cidade. Vendo reações ao revival, parece ser consenso agora de que Lorelai e Rory não são exatamente boas pessoas, mas a criadora sempre foi muito confusa ao abordar (ou deixar de fazer menção à) sexualidade, raça, ou mesmo quando ela e o marido escrevem cenas como aquela na piscina, no terceiro episódio -- que levou muitos à essa conclusão sobre as protagonistas. É apenas estranho ver isso em uma série considerada progressiva e, por que não, icônica. O revival parece tão parado no tempo quanto o desenvolvimento das suas personagens.
Além da Imaginação (2ª Temporada)
4.6 31Ficção científica é um gênero que envelhece mal, mas um bom roteiro sempre será um bom roteiro.
In the Flesh (2ª Temporada)
4.3 106Esperando que Amy volte nessa temporada...
Seinfeld (3ª Temporada)
4.5 101 Assista AgoraJá vi essa cena várias vezes, mas não consigo ficar sem rir quando Elaine começa a gritar 'Stella'.