Vi ontem à noite para matar saudade dos anos 80 quando assistia Sessão da Tarde com ótimos filmes, bem diferente de hoje. Bons tempos. Filme até inocente em certos sentidos, mas muito bem realizado. Nota 4 (de 5)
Duas perguntas vieram à minha mente ao assistir “Coringa”. 1 - Arthur Fleck é vítima da Sociedade, cujo descaso para com as pessoas parte não só do Estado, no caso específico de cidadãos com algum tipo de transtorno mental, mas também do seu semelhante, que simplesmente dá de ombros para os sentimentos dos outros? 2 – Ser tratado com tanto descaso justifica ações violentas para com pessoas insensíveis que riem da desgraça alheia, que humilham em palavras e ações pessoas vistas como diferentes? Bem, em conclusão (é só minha opinião), acho que a resposta da primeira pergunta é SIM. Fleck é vítima da Sociedade como um todo. Ele seria mais um número na lista de pessoas marginalizadas, tratadas com descaso, que aparentemente até tem a compreensão de assistentes sociais e médicos que lhe entopem de medicamentos para controlar sua doença mental, que é uma patologia possível, pois acomete uma porcentagem pequena, mas que existe no mundo real, doença que o estresse e a ansiedade fazem a pessoa rir compulsiva e nervosamente e de modo involuntário. O filme não identifica a doença, apenas fica demonstrado no cartão, entregue por ele para uma passageira no ônibus, que ele ri em ocasiões inoportunas devido a uma condição médica. É importante lembrar que o filme se passa no início dos anos 80, mais precisamente em 1981, como mostram os cartazes dos filmes no cinema nas cenas finais, todos de 1981: “Um tiro na noite”, “Excalibur”, “As duas fazes de Zorro” e “Arthur, o milionário sedutor”. Certamente nessa época pouco se sabia sobre problemas mentais e como tratá-los. Se até hoje alguns são chamados de loucos, imaginem naquela época. Sobre a resposta da segunda pergunta creio que seria um retumbante NÃO. Bem, não é o problema mental que faz o coringa tornar-se violento. A doença o faz rir involuntariamente, o que provoca nos outros estranhamento e antes de saber o que se passa com Fleck, as pessoas tomam as risadas dele como provocativas, o tratam com desdém e até violência. Muitos que sofrem com tais atitudes das pessoas supostamente “normais” não se tornam violentos. Têm noção de que a violência em si nada resolve e são resilientes. O mesmo não acontece com o Coringa. Além de perturbado, ele demonstra uma personalidade narcisista e sociopata, apesar do corpo frágil, o que acaba gerando certa simpatia por parte do público. A atuação de Joaquim Phoenix é de tirar o chapéu. Ele cria um Coringa totalmente diferente dos já vistos no cinema e o faz com maestria trazendo toda a ambiguidade do personagem. Não é surpresa que o filme tenha conseguido prêmios e que o ator Joaquim Phoenix tenha ganho o Oscar e o Globo de Ouro, dois dos principais prêmios no início de cada ano. “Coringa” é um filme único sobre um personagem que não havia sido tratado com tantos detalhes como nessa versão. Dizem que o filme terá sequência, o que seria interessante. Aguardando...
A Coréia do Sul é um país conhecido como exemplo de desenvolvimento em matéria tecnológica, mas também em qualidade de vida de seus habitantes. Mas como qualquer país do mundo, tem problemas sérios em relação à população periférica. A falta de oportunidades e uma aparente acomodação parecem acometer toda a família de Ki-taek, que moram num porão. Pelo visto toda a família de Ki tem intimidade com trapaças, e sem nenhum tipo de remorso, vão se infiltrando, um a um, no ambiente da família rica, que parece um tanto ingênua. O que eles querem é aproveitar a vida de luxo, mas não se contentam em apenas trabalhar, ganhar o dinheiro e melhorar de vida. Eles querem ter a vida dos novos patrões. Surgem aí reviravoltas que obriga os mesmos a seguir mentindo e escondendo os segredos até que uma tragédia se anuncia. O filme ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes, em 2019 e 4 Oscar's da Academia. O estilo do diretor Bong Joon-ho mostra que sua obra não é apenas um filme. Ele mistura elementos da comédia, suspense, drama para fazer uma crítica social que serve não apenas para o seu país, mas para todo o mundo capitalista (tendo em mente que, mesmo os países que não se dizem capitalistas são no fim capitalistas). O diretor usa o surreal de forma aceitável e até verossímil. A frase “que metafórico” surge mais de uma vez na fala dos personagens, talvez para indicar que o diretor quer mesmo é provocar todos ao pensamento. Embora não haja desculpa para o comportamento da família pobre que compõem o “parasita” do título, há certa razão por trás das coisas que eles fazem e no fim, apesar de não ser desejo deles, eles acabam criando situações surpreendentes que levam a um desfecho insuspeito para o espectador. Filme excepcional.
O Gavião do Deserto
3.5 3Vi ontem à noite para matar saudade dos anos 80 quando assistia Sessão da Tarde com ótimos filmes, bem diferente de hoje. Bons tempos. Filme até inocente em certos sentidos, mas muito bem realizado. Nota 4 (de 5)
Coringa
4.4 4,1K Assista AgoraDuas perguntas vieram à minha mente ao assistir “Coringa”.
1 - Arthur Fleck é vítima da Sociedade, cujo descaso para com as pessoas parte não só do Estado, no caso específico de cidadãos com algum tipo de transtorno mental, mas também do seu semelhante, que simplesmente dá de ombros para os sentimentos dos outros?
2 – Ser tratado com tanto descaso justifica ações violentas para com pessoas insensíveis que riem da desgraça alheia, que humilham em palavras e ações pessoas vistas como diferentes?
Bem, em conclusão (é só minha opinião), acho que a resposta da primeira pergunta é SIM. Fleck é vítima da Sociedade como um todo. Ele seria mais um número na lista de pessoas marginalizadas, tratadas com descaso, que aparentemente até tem a compreensão de assistentes sociais e médicos que lhe entopem de medicamentos para controlar sua doença mental, que é uma patologia possível, pois acomete uma porcentagem pequena, mas que existe no mundo real, doença que o estresse e a ansiedade fazem a pessoa rir compulsiva e nervosamente e de modo involuntário. O filme não identifica a doença, apenas fica demonstrado no cartão, entregue por ele para uma passageira no ônibus, que ele ri em ocasiões inoportunas devido a uma condição médica. É importante lembrar que o filme se passa no início dos anos 80, mais precisamente em 1981, como mostram os cartazes dos filmes no cinema nas cenas finais, todos de 1981: “Um tiro na noite”, “Excalibur”, “As duas fazes de Zorro” e “Arthur, o milionário sedutor”. Certamente nessa época pouco se sabia sobre problemas mentais e como tratá-los. Se até hoje alguns são chamados de loucos, imaginem naquela época.
Sobre a resposta da segunda pergunta creio que seria um retumbante NÃO. Bem, não é o problema mental que faz o coringa tornar-se violento. A doença o faz rir involuntariamente, o que provoca nos outros estranhamento e antes de saber o que se passa com Fleck, as pessoas tomam as risadas dele como provocativas, o tratam com desdém e até violência. Muitos que sofrem com tais atitudes das pessoas supostamente “normais” não se tornam violentos. Têm noção de que a violência em si nada resolve e são resilientes.
O mesmo não acontece com o Coringa. Além de perturbado, ele demonstra uma personalidade narcisista e sociopata, apesar do corpo frágil, o que acaba gerando certa simpatia por parte do público. A atuação de Joaquim Phoenix é de tirar o chapéu. Ele cria um Coringa totalmente diferente dos já vistos no cinema e o faz com maestria trazendo toda a ambiguidade do personagem. Não é surpresa que o filme tenha conseguido prêmios e que o ator Joaquim Phoenix tenha ganho o Oscar e o Globo de Ouro, dois dos principais prêmios no início de cada ano. “Coringa” é um filme único sobre um personagem que não havia sido tratado com tantos detalhes como nessa versão. Dizem que o filme terá sequência, o que seria interessante. Aguardando...
Parasita
4.5 3,6K Assista AgoraParasita
A Coréia do Sul é um país conhecido como exemplo de desenvolvimento em matéria tecnológica, mas também em qualidade de vida de seus habitantes. Mas como qualquer país do mundo, tem problemas sérios em relação à população periférica. A falta de oportunidades e uma aparente acomodação parecem acometer toda a família de Ki-taek, que moram num porão. Pelo visto toda a família de Ki tem intimidade com trapaças, e sem nenhum tipo de remorso, vão se infiltrando, um a um, no ambiente da família rica, que parece um tanto ingênua. O que eles querem é aproveitar a vida de luxo, mas não se contentam em apenas trabalhar, ganhar o dinheiro e melhorar de vida. Eles querem ter a vida dos novos patrões. Surgem aí reviravoltas que obriga os mesmos a seguir mentindo e escondendo os segredos até que uma tragédia se anuncia. O filme ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes, em 2019 e 4 Oscar's da Academia. O estilo do diretor Bong Joon-ho mostra que sua obra não é apenas um filme. Ele mistura elementos da comédia, suspense, drama para fazer uma crítica social que serve não apenas para o seu país, mas para todo o mundo capitalista (tendo em mente que, mesmo os países que não se dizem capitalistas são no fim capitalistas). O diretor usa o surreal de forma aceitável e até verossímil. A frase “que metafórico” surge mais de uma vez na fala dos personagens, talvez para indicar que o diretor quer mesmo é provocar todos ao pensamento. Embora não haja desculpa para o comportamento da família pobre que compõem o “parasita” do título, há certa razão por trás das coisas que eles fazem e no fim, apesar de não ser desejo deles, eles acabam criando situações surpreendentes que levam a um desfecho insuspeito para o espectador. Filme excepcional.