Aparentemente o maior desafio que filmes sobre divórcio enfrentam é o senso simplista, real e coerente da humanidade. Por vezes recheados de brigas e intensas discussões, tais filmes falham ao criar o senso de empatia entre os personagens e o espectador, justamente pela distância entre a realidade deste tipo de situação e o roteiro escrito. Mariage Story superou tal obstáculo com maestria. São as duas melhores atuações das carreiras de Driver e Johansson, somadas ao melhor roteiro e direção de Baumbach, simplesmente impecável.
Depois de todas as controvérsias espalhadas pela mídia sobre o longa antes mesmo dele ser lançado, finalmente tive a chance de descobrir se o todo o barulho valia o esforço em manchar a imagem do filme.
Em nenhum momento prévio ao seu lançamento Joker se vendeu como um filme de super-herói, pelo menos não um tradicional, seus trailers sempre mostraram um drama pesado repleto de violência, e é exatamente isso que é entregue, Joker está longe de ser o pesadelo vendido nas últimas semanas.
Arthur é um psicopata, desde as transições de suas emoções faciais, a postura esquizofrênica de seu corpo, às suas ações, que por vezes possuem uma motivação clara por traz, criando uma certa empatia pelo personagem. Todas as características dele requerem uma atuação que puxe o ator tanto aos limites físicos quanto emocionais, e é exatamente isso que Joaquim Phoenix entrega.
Phoenix é majestoso, a cada longa que faz me impressiona mais e mais por sua dedicação e claro, sua técnica. A maneira com que ele controla suas expressões faciais exageradas, suas risadas sufocantes, seus gestos corporais, Phoenix é completamente inseparável de Arthur, em uma atuação mais do digna de Oscar.
Tod Phillips também mostra sua grande capacidade de escrever e dirigir um drama. Joker não é só a transformação de Arthur no Coringa, mas também é uma reflexão sobre o autoconhecimento, apesar de suas ações desprezíveis, existe uma certa beleza na forma com que Arthur, depois de um turning point, encontra um propósito e começa a agir, começa a entender quem ele realmente é e molda seu futuro.
Toda essa transformação é mostrada pelas lentes de uma belíssima direção de fotografia, sempre mantendo uma certa paleta de cores que define bem o tom do longa. Em sua conclusão, a cinematografia é fantástica, acompanhada de uma linda trilha sonora, é quase que uma ode ao caos.
Sinceramente, apesar de que eu já estava esperando um bom filme, Joker me surpreendeu, me fez ter muita empatia por Arthur, mas ao mesmo tempo, uma grande apatia por suas ações. De qualquer forma, está longe de ser um filme de super-herói, é muito mais um belíssimo drama que conta a história de um psicopata, com uma pegada Taxi Driver.
A nova jornada de James Gray toma seu tempo para desenrolar uma longa e complexa reflexão sobre relações fraternais e o autoconhecimento, que tem sua monotonia mascarada por visuais fantásticos, por vezes te fazendo esquecer da mediocridade de seu roteiro.
Muito por parte do diretor de fotografia ser o mesmo de Interestelar, visualmente Ad Astra é uma obra impecável, com diversas sequências de tirar o fôlego, acompanhadas sempre de excelentes atuações de Brad Pitt, como esperado.
Gloriosamente, sem tratar o espectador como criança, o uso da narração em Ad Astra é um exemplo perfeito de como utilizar tal técnica, sendo utilizada apenas em momentos específicos, como forma de trazer mais profundidade à uma sequência ao invés de tentar explicá-la.
Já a trama não mede esforços em tentar ser uma ode às reflexões mencionadas anteriormente, mas de certa forma fracassa ao fazê-lo e esquece do essencial: contar uma história intrigante. Durante seu desenrolar, o filme raramente adiciona qualquer fator de complexidade à sua premissa premissa inicial e pior, conclui sua trama da forma mais óbvia e sem graça possível.
Ad Astra é o resultado do fato de que filmes de ficção científica mais reflexivos, como Gravidade e Moon, estão cada vez mais em alta, mas está longe de ser o resultado que eu esperava, particularmente.
Em sua mais nova jornada de bizarrices inquietas, que sucede o excelente Hereditary, Ari Aster te convida à entrar em uma trip igualmente sedutora e perturbadora, numa jornada complexa repleta de possíveis interpretações.
Tal qual sua obra de 2018, Aster te apresenta à personagens complexos, passando por conflitos emocionais, eventualmente passando por um evento chocante, evento este que serve como gatilho para iniciar a jornada principal do longa. A excelente receita de bolo se repete, mas a repetição não tira seu mérito, pois Midsommar possui suas próprias emoções, motivações e seu próprio tom, como uma experiência completamente nova.
Mascarada de conflitos de um namoro em seus últimos dias, a real mensagem de Midsommar exalta o suporte e conforto emocional que uma crença trás, ao mesmo tempo que critica a realidade sombria por trás da máscara utópica de algumas crenças. Mas tal mensagem nunca se é feita clara, sendo esta apenas uma das variadas interpretações do filme.
Florence Pugh é definitivamente a rainha de Midsommar, de seus gritos sufocados e recheados de sofrimento à sua óbvia transformação durante o longa, Dani desenvolve-se ao ponto de se tornar uma excelente personagem, completamente quebrada e adequada para as bizarrices da obra, que usa ela como foco central de suas sequências mais impactantes.
Assim como feito ano passado, Aster novamente prova que sua visão cinematográfica é única e geniosa, desde a linda fotografia dos gramados suecos, às fantásticas nuances visuais suaves que simulam belas alucinações, que por perdurarem durante longas sequências, te fazem realmente achar que está sob efeito de alguma droga.
Somado à isso, Aster não pensa duas vezes antes de mostrar, sem censura ou pudor, as práticas absolutamente abomináveis do culto introduzido no longa, e, ao fazê-lo, cria a sensação mais perturbadora de Midsommar: seu contraste.
Sem sombra de dúvidas Midsommar consolida ainda mais o potencial de Ari Aster, já colocando-o como um dos melhores diretores de terror da nova geração, um longa complexo, visualmente maravilhoso e para contrastar, absurdamente perturbador. É certamente um dos pontos altos de 2019.
O terceiro marco na franquia de Chad Stahelski que carimbou a carreira de Keanu Reeves é uma importante confirmação da consistência de seus longas, mas dessa vez um pouco mais arrastada.
Tal qual Missão Impossível, John Wick vem sendo uma das franquias de ação mais consistentes dos últimos anos, uma que deixa claro a fantástica compreensão de Stahelski em relação a o que torna um filme de ação bom. Tal qual os dois anteriores, John Wick 3 é um mostruário de todas as excelentes ideias de Stahelski, maravilhosas sequências de ação que são gravadas com um camera work magistral, repleto de wide shots, tornando cada detalhe da ação muito mais claro, criando um palco para que Reeves e todos os demais atores deem o melhor de si.
É inegável que as sequências de ação aqui estão muito próximas da perfeição, mas como todo filme desta franquia, existe um espaço de tempo no qual o longa desenvolve a motivação por trás de toda a ação, explorando os mistérios e esquisitices seu universo fictício, o que por vezes prende a atenção do público, mas é incapaz de acertar seu timing.
O maior erro de John Wick 3 são seus longos, por vezes monótonos, 130 minutos, que deixam o espectador sedento por mais ação enquanto busca desenvolver a motivação de seu personagem, para depois inverter tal motivação em seu fechamento, deixando o espectador a questionar a necessidade de todo o desenvolvimento prévio.
John Wick 3 definitivamente possui entre 90 e 100 excelentes minutos, recheados de sequencias magníficas, mas erra ao definir a duração de seu desenvolvimento.
O único mérito que eu dou a Bandersnatch é por sua coragem ao trazer algo novo que se tornou possível com o serviço de streamming, de resto, péssima experiência.
O que mais me impressiona é que estamos em 2019, com inúmeros filmes de super-herói quase que criando um gênero próprio absurdamente mainstream, mas mesmo assim Into the Spider-Verse, que traz o formato mais próximo às HQs possível, é visto como algo revolucionário.
O trio formado por Persichetti, Ramsey e Rothman construiu uma estética original consistente durante as duas horas de filme, estética essa que possibilitou transições da animação ao quadrinho, além de algumas genialidades de edição a parte, é uma animação tecnicamente perfeita.
Into the Spider-Verse é aquele filme puramente feito para entreter, com um roteiro que aproveita a maluquice dos quadrinhos originais para trazer um humor sincero ao filme, um tipo de humor que certamente pode ser apreciado por qualquer idade.
A fantástica qualidade das personagens, somada a uma estética maravilhosa, uma animação excepcional e um roteiro genuinamente divertido, Into the Spider-Verse traz um enorme frescor a uma história que já foi contada e recontada várias vezes, além de introduzir uma nova estética original a um tipo de filme tão saturado da mesma coisa, simplesmente perfeito.
O projeto de 19 anos de Shyamalan finalmente conecta todas as pontas em uma de suas obras mais grandiosas, Glass me tirou o ar em sua conclusão.
Ao contrário de dramas tecnicamente impecáveis, construídos para brilhar os olhos da academia, Unbreakable, Split e Glass são obras tão relevantes quanto, porém encontram sua grandeza em aspectos diferentes, tal qual um álbum de rock progressivo experimental pode soar um tanto estranho ao público mainstream, a trilogia concluída por Glass pode ser o famoso caso do "não é pra todo mundo".
Dito isto, Glass traz de volta os fantásticos papéis múltiplos de McAvoy, o obscuro de Bruce Willis e a genialidade de L Jackson, juntos durante 169 minutos mais agitados que outros dois anteriores, o longa não só encontra a cinematografia aventuresca de Shyamalan a flor da pele como também seus personagens em seu pico emocional, colocados no limite.
Difícil colocar a conclusão de Glass em palavras sem estragar o filme, sendo assim, diria que Glass é algo para ser experienciado, especialmente após rever os dois longas anteriores.
Searching jogou todos os "Unfriended da vida" no lixo enquanto me deixou quase caindo da poltrona ao desenvolver sua trama cheia de suspense. A estréia de Chaganty é maravilhosa, rendeu mais uma prova da genialidade de John Cho e, principalmente, provou que é possível sim conduzir longas maravilhosos nesse formato.
Absurdamente confiante nas tempestades de emoções do longa, Cooper define sua estréia como diretor como a maior surpresa de 2018.
A simplicidade de diálogos como "Hey! / What? / I just wanted to take another look at you" é uma constante em A Star is Born, carregada nos ombros de fantásticas atuações por Cooper e Gaga. A cinematografia do longa em partes é quase que claustrofíbica, completamente focada no desenrolar da relação dos dois protagonistas, tornando o filme extramente humano, utilizando apenas da combinação de um ótimo roteiro com atuações maravilhosas como o seu pilar principal para desenvolver sua narrativa.
Pouquíssimos filmes são capazes de transmitir um verdadeiro amor entre dois personagens, mas os closes em Ally, o seu olhar para Maine, mesmo que estivesse caindo de bêbado, é um dos pontos que mais humanizam o romance entre eles, romance esse que cria empatia pelas personagens e consegue desenvolver o longa para seus picos emocionais mais fortes.
Fora os protagonistas, Dave Chappelle e Sam Elliott estão ótimos no longa. Elliott em especial, durante uma cena rápida em que olha para trás enquanto dá a ré, é certamente uma das melhores sequencias de atuação do ano.
A Star Is Born é um romance simples repleto de atuações impecáveis, brutalmente pesado em seu desenvolver. Certamente um dos principais concorrentes ao Oscar de 2019.
O terceiro longa de Chazelle o desafia a contar uma das histórias mais conhecidas, inclusive já contada com maestria anteriorimente. Chazelle tinha que encontrar um diferencial, uma nova perspectiva.
First Man progride cronologicamente ao passo que alterna entre a vida profissional e a pessoal de Armstrong, criando um certo dinamismo narrativo, que em tese construiría empatia pelas personagens, para posteriormente colocá-las em risco, quase que testando o nível empático do público. Em partes essa técnica funciona, em outras, os momentos da vida de Niel escolhidos eram de certa forma monótonos, não conseguiam demonstrar uma certa simplicidade na vida de Niel, nem construir um valor empático expressivo pelas personagens.
Todavia, a narrativa da vida profissional de Niel é cheia de movimento, apresentada por diferentes perspectivas, tanto na visão da NASA, quanto na visão política, quanto na visão da corrida espacial, tornando cada missão intrigante, repleta de efeitos especiais fantásticos, tomada pela excelente trilha de Hurwitz, que volta a trabalhar com Chazelle após o ótimo La La Land.
Fato é que Chazelle trouxe uma diferente perspectiva e dinâmica para a história, mas o resultado final de sua técnica narrativa não é exatamente o mais glorioso, apesar do quão maravilhosas são as sequências de cada missão espacial, a narrativa de sua vida pessoal deixa a desejar. Mas certamente é mais um ótimo trabalho para o portifólio de Chazelle, que até agora tem sido impecável.
A complexa amarração de entrelinhas desenvolvidas no início e elucidadas no fim é a tão comentada estreia de Ari Aster, conduzida sonoricamente pelos experimentos de Colin Stetson, gritando estranhismo durante seus impactantes 126 minutos.
Por meio de um fantástico trabalho de câmera e uma excelente noção de iluminação, Aster me colocou numa posição que nunca estive no cinema, na qual ele apresentava o fator terror de forma ofuscada e deixava que eu, enquanto olhava cada canto da tela, me assustasse, quase como se estivesse acabado de acordar e avistasse um vulto em meu quarto. Por esta construção excepcional sozinha, Aster já conseguiu fugir da mesmisse de boa parte dos thrillers.
Além destes momentos, Hereditary são brutais desventuras em série, com ótimas atuações de Alex Wolff, Ann Dowd e Milly Shapiro, além de uma atuação fora de série de Toni Collette (prevejo indicações ao Oscar). Já o roteiro por trás destas atuações, com escolhas como a bizarra profissão de Toni Collette, a condição extrema de sua filha e a própria história de sua família, foi capaz de construir uma conclusão aberta a reflexão, completamente condizente com a complexidade da trama paresentada até então.
Hereditary é mais um acerto da A24, mais um para os excelentes filmes de terror da década e uma surpreendente estréia para Ari Aster.
Com a proposta de unificar personagens introduzidos e desenvolvidos por outros escritores e diretores, os irmãos Russo tinham em suas mãos o desafio de entregar um roteiro coeso por longos 149 minutos, porém possuíam uma vantagem, boa parte dos personagens e o universo em si já foram devidamente desenvolvidos e destrinchados anteriormente, o longa poderia ir direto ao ponto. Ao fazê-lo, Infinity War provou ser, em sua primeira parte, um gigantesco longa que concluirá um projeto de anos, uma jornada que levou a Marvel Studios no topo.
Transicionando de um grupo de personagens para outro, conectando-os e, ao mesmo tempo, introduzindo e desenvolvendo talvez o melhor vilão da Marvel, encaixando ótimas cenas de ação (como de praxe) no meio de tal desenvolvimento, definindo um ótimo ritmo. Não só isso, sua conclusão é no mínimo respeitosa, largando os fãs ansiosos para a conclusão de toda a história.
O retorno de Alex Garland, 4 anos depois do excelente Ex Machina, não foi pensado para ser um longa do Netflix, pelo contrário, toda sua magnitude foi meticulosamente imaginada para as grandes telas, uma pena.
De qualquer maneira, este não é de forma alguma um demérito do longa, já que Annihilation é um filme que segue a receita de bolo da grande maioria de "Alien-inspired Sci-fi's" medíocres, porém acertando em literalmente todas as falhas de seus predecessores.
Do seu calmo desenvolvimento introdutório, às sequências de tirar o fôlego, ao suspense bem desenrolado, aos cenários espetaculares, Annihilation contrasta o limite da racionalidade com o nunca antes visto, ao passo que reflete sobre a forma humana e a dualidade, tudo isso sem deixar de ser um action sci-fi repleto de suspense e ação.
Garland entrega o melhor final de sua carreira até então, deixando o sentido do filme aberto para interpretação, deixando os acontecimentos que tomariam lugar após tal final à mera interpretação do espectador, é um espetáculo visual com boas atuações, ótimo roteiro e fantásticas reflexões debaixo de seus lençóis.
Enquanto a premissa de fazer uma comédia ao redor de um assunto tão brutal e delicado como a ditadura de Stalin soe loucura, Armando Ianucci de alguma forma consegue encontrar um humor coerente com uma estética, coerente com os posicionamentos políticos absurdos retratados e que, em diversas vezes, arranca boas gargalhadas.
Das incríveis atuações de Jeffrey Tambor e Steve Buscemi, ao ótimo roteiro e à fantástica estética, The Death of Stalin é uma obra concisa e coerente, como uma orquestra, com cada aspecto individual em harmonia com o todo. Contudo, apesar de todos os acertos, o longa em poucas partes toma alguns descuidos ao tratar de assassinatos, torturas e atos violentos, o que não tira o mérito de todas as suas proezas.
O hype de Blade Runner 2049 vem ecoando em tudo quanto é canto na Netflix, Altered Carbon e agora Mute. Considerando Moon e Source Code, Duncan Jones parece ser a escolha certa para dirigir o filme, o trailer é foda, espero que assim seja o longa.
Não possui o mesmo carisma de Thor Ragnarok, nem mesmo a complexidade e imensidão do universo de Guardiões da Galáxia, contudo, Black Panther se destaca em algo raro de ser encontrado em filmes da Marvel, um ótimo desenvolvimento de trama e personagens, resolvendo um dos problemas mais recorrentes dos longas da MCU, o vilão. Mas ainda tropeça em alguns momentos.
Black Panther introduz uma cultura fictícia baseada em uma real, enaltecendo tal cultura a um ponto que reverte a situação socioeconômica da factual, criando uma utopia excitante, que mistura o esplendor da flora com absurdos avanços tecnológicos, resultando na melhor ambientação já vista em uma obra da MCU.
Somos aprensentados a um vilão que tem pontos plausíveis e claros para fazer o que faz, sua motivação conquista, gerando uma dualidade entre torcer para o herói e torcer para o vilão, algo raro no gênero. Não só isso, Ryan Coogler para o filme foi uma das decisões mais sensatas da Marvel, uma vez que o diretor reuniu um apanhado de excelentes atores que estão muito bem no filme.
Contudo, a glória de Black Panther não se extende muito mais que isso, todos os êxitos no âmbito do gênero Ação são os mesmos apresentados em muitos outros longas de heróis, mas sem o carisma e o espírito cômico. O tom de Black Panther é uma verdadeira montanha russa, uma vez que roteiro não se decide se é um filme de ação bem humorado ou um filme de ação repleto de dramas, o ritmo também se torna confuso como reflexo. Não só isso, como de praxe, a conclusão da trama abandona todas as excelências de seus personagens em troca de um gigantesco showroom de CGs.
Talvez este seja assim o melhor filme da MCU, mas eu continuo na espera de um filme que quebre a receita de bolo da produtora, defina e se mantenha firme em um tom e ritmo, mas que também agregue as excelências dos filmes anteriores. Black Panther não é de forma alguma um filme perfeito, mas representa um ótimo amadurecimento da MCU.
The Post é sim o resultado de uma linha de produção industrial de obras que normalmente ganham o Oscar de melhor filme, todavia, apesar de sua falta de expressão e emoções, a tecnicidade cinematográfica é louvável, com alguns planos sequência claustrofóbicos ditando o ritmo agitado do longa, ótimas atuações e num geral bons diálogos. Spielberg deixa claro com tais aspectos do filme que está produzindo uma obra direto ao ponto, que veio para contar uma história, apresentar ambos os lados e concluir-se, uma vez que o longa se mantém coerente a tal proposta do começo ao fim, The Post entrega com maestria e precisão o que se propõe a fazer.
Guillermo del Toro encontra em sua auto-expressão maneiras não-humanas de contar histórias puramente humanas. O clássico cultuado Pan's Labyrinth foi a prova mais verdadeira de tal fato, todavia, o esplendor do ilustre diretor e escritor mexicano ficou ofuscado por anos, com filmes alguns degraus abaixo do clássico citado. The Sape of Water é o etendimento sobre almas gêmeas que del Toro possui, sendo transcorrido por belíssimos 119 minutos, demonstrado por meio da visão uníca do diretor.
Harmonia é uma palavra chave para descrever o filme, enquanto a ambientação está no mesmo ritmo da linda trilha sonora, as atuações estão a par da qualidade de roteiro. Sally Hawkins entra na pele de uma personagem complexa, que tem de demonstrar seus sentimentos somente por ações, tornando sua atuação muito mais intrigante. Doug Jones por outro lado desparece no corpo de uma criatura única e fantástica, como de praxe para todas as criaturas fictícias que del Toro já criou.
Suas diversas indicações ao Oscar são mais do que justificáveis, não me surpreenderia se visse algumas estatuetas na mão de del Toro esse ano, fantástica obra.
Ugh, Suburbicon é o tipo de filme que não é tão ruim ao ponto de ser hilário, mas é terrível de qualquer forma. O fato de bons atores terem aceitado um roteiro desses é completamente bizarro. O longa não entende a diferença entre um filme vintage nostálgico e um filme brega, introduzindo sem motivo algum uma determinada estética que não interage com a história de forma alguma. Além disso, o filme introduz uma família de negros e martela diversas cenas de racismo sem razão alguma, nenhum dos personagens dessa família são desenvolvidos e nem se quer reagem a tudo que está acontecendo ao seu redor.
Como se não bastasse a enorme quantidade de problemas secundários, a trama principal possui uma atriz interpretando dois personagens pelo simples prazer de introduzir uma problemática malígnica extremamente clichê. E cara, Matt Damon estava se esforçando demais, pena que não tem atuação que salve um roteiro desses.
Ah Lady Bird, inseparável de Saoirse Ronan, trilha sua vida durante curtos 93 minutos, esbarrando em personagens únicos, mostrando um pouco de seus sonhos, ideais e suas reviravoltas. Cada cena do longa é meticulosamente encaixada, entretanto a concretização delas flui de tal maneira que não assistimos a um filme, mas sim à Lady Bird crescendo, evoluindo, chorando e sorrindo, entendo o significado de relacionamentos, amizades e amores, religião e valores, mas ainda mais enfático, conhecendo a si mesma.
São tantos os âmbitos da vida abordados neste filme, tantos personagens introduzidos e desenvolvidos, porém o foco em Christine nunca se vai, o tom nunca é perdido, sequer o ritmo. Como se não bastasse seu roteiro majestoso, as atuações são fantásticas, não só da protagonista mas principalmente de Laurie Metcalf como Marion. É quase impossível não citar Lady Bird, um filme tão bem resolvido, maravilhosamente planejado e construído, como um dos melhores filmes que 2017 trouxe, só queria poder participar mais da vida de Christine, saber quais decisões ela tomaria para sua vida dali pra frente, fantástica personagem.
Consigo me recordar apenas de um filme lançado em 2017 com uma fotografia que possa competir com a de Columbus, mas até ele não consegue ser tão intimista e realista se comparado à estréia de Kogonada, longa que, com o uso de wideshots contemplativos da beleza urbana e natural, assim como da beleza das simples interações sociais, é capaz de transmitir muito mais apenas com o uso da imagem.
Se separarmos cada quadro de Columbus obtemos uma imagem fantástica, transmitindo a ideia de que Elisha Christian ficou horas planejando cada ângulo de câmera, cada frame. Não só isso, as atuações e o roteiro também funcionam ao seu favor, muitas vezes dançando a mesma música da fotografia, em sintonia.
Esta é de longe a melhor performance de Haley Lu Richardson, a qual como Casey é indistinguível de sua personagem, com seus próprios problemas, sonhos e desejos. Muito de seu desenvolvimento é a própria vivência, o próprio cotidiano. Até mesmo seu novo relacionamento com um quê platônico não é levado ao exageiro de Hollywood, tornando a simplicidade do roteiro o seu real brilho, tal qual seu realismo.
Columbus é silencioso, reflexivo nos pequenos trechos de sua trilha, enquanto sua fotografia grita muito mais do que os diálogos simples e realistas de seu roteiro, mais do que sua progressão minimalista, um ótimo longa.
História de um Casamento
4.0 1,9K Assista AgoraAparentemente o maior desafio que filmes sobre divórcio enfrentam é o senso simplista, real e coerente da humanidade. Por vezes recheados de brigas e intensas discussões, tais filmes falham ao criar o senso de empatia entre os personagens e o espectador, justamente pela distância entre a realidade deste tipo de situação e o roteiro escrito. Mariage Story superou tal obstáculo com maestria. São as duas melhores atuações das carreiras de Driver e Johansson, somadas ao melhor roteiro e direção de Baumbach, simplesmente impecável.
Coringa
4.4 4,1K Assista AgoraDepois de todas as controvérsias espalhadas pela mídia sobre o longa antes mesmo dele ser lançado, finalmente tive a chance de descobrir se o todo o barulho valia o esforço em manchar a imagem do filme.
Em nenhum momento prévio ao seu lançamento Joker se vendeu como um filme de super-herói, pelo menos não um tradicional, seus trailers sempre mostraram um drama pesado repleto de violência, e é exatamente isso que é entregue, Joker está longe de ser o pesadelo vendido nas últimas semanas.
Arthur é um psicopata, desde as transições de suas emoções faciais, a postura esquizofrênica de seu corpo, às suas ações, que por vezes possuem uma motivação clara por traz, criando uma certa empatia pelo personagem. Todas as características dele requerem uma atuação que puxe o ator tanto aos limites físicos quanto emocionais, e é exatamente isso que Joaquim Phoenix entrega.
Phoenix é majestoso, a cada longa que faz me impressiona mais e mais por sua dedicação e claro, sua técnica. A maneira com que ele controla suas expressões faciais exageradas, suas risadas sufocantes, seus gestos corporais, Phoenix é completamente inseparável de Arthur, em uma atuação mais do digna de Oscar.
Tod Phillips também mostra sua grande capacidade de escrever e dirigir um drama. Joker não é só a transformação de Arthur no Coringa, mas também é uma reflexão sobre o autoconhecimento, apesar de suas ações desprezíveis, existe uma certa beleza na forma com que Arthur, depois de um turning point, encontra um propósito e começa a agir, começa a entender quem ele realmente é e molda seu futuro.
Toda essa transformação é mostrada pelas lentes de uma belíssima direção de fotografia, sempre mantendo uma certa paleta de cores que define bem o tom do longa. Em sua conclusão, a cinematografia é fantástica, acompanhada de uma linda trilha sonora, é quase que uma ode ao caos.
Sinceramente, apesar de que eu já estava esperando um bom filme, Joker me surpreendeu, me fez ter muita empatia por Arthur, mas ao mesmo tempo, uma grande apatia por suas ações. De qualquer forma, está longe de ser um filme de super-herói, é muito mais um belíssimo drama que conta a história de um psicopata, com uma pegada Taxi Driver.
Ad Astra: Rumo às Estrelas
3.3 850 Assista AgoraA nova jornada de James Gray toma seu tempo para desenrolar uma longa e complexa reflexão sobre relações fraternais e o autoconhecimento, que tem sua monotonia mascarada por visuais fantásticos, por vezes te fazendo esquecer da mediocridade de seu roteiro.
Muito por parte do diretor de fotografia ser o mesmo de Interestelar, visualmente Ad Astra é uma obra impecável, com diversas sequências de tirar o fôlego, acompanhadas sempre de excelentes atuações de Brad Pitt, como esperado.
Gloriosamente, sem tratar o espectador como criança, o uso da narração em Ad Astra é um exemplo perfeito de como utilizar tal técnica, sendo utilizada apenas em momentos específicos, como forma de trazer mais profundidade à uma sequência ao invés de tentar
explicá-la.
Já a trama não mede esforços em tentar ser uma ode às reflexões mencionadas anteriormente, mas de certa forma fracassa ao fazê-lo e esquece do essencial: contar uma história intrigante. Durante seu desenrolar, o filme raramente adiciona qualquer fator de complexidade à sua premissa premissa inicial e pior, conclui sua trama da forma mais óbvia e sem graça possível.
Ad Astra é o resultado do fato de que filmes de ficção científica mais reflexivos, como Gravidade e Moon, estão cada vez mais em alta, mas está longe de ser o resultado que eu esperava, particularmente.
Midsommar: O Mal Não Espera a Noite
3.6 2,8K Assista AgoraEm sua mais nova jornada de bizarrices inquietas, que sucede o excelente Hereditary, Ari Aster te convida à entrar em uma trip igualmente sedutora e perturbadora, numa jornada complexa repleta de possíveis interpretações.
Tal qual sua obra de 2018, Aster te apresenta à personagens complexos, passando por conflitos emocionais, eventualmente passando por um evento chocante, evento este que serve como gatilho para iniciar a jornada principal do longa. A excelente receita de bolo se repete, mas a repetição não tira seu mérito, pois Midsommar possui suas próprias emoções, motivações e seu próprio tom, como uma experiência completamente nova.
Mascarada de conflitos de um namoro em seus últimos dias, a real mensagem de Midsommar exalta o suporte e conforto emocional que uma crença trás, ao mesmo tempo que critica a realidade sombria por trás da máscara utópica de algumas crenças. Mas tal mensagem nunca se é feita clara, sendo esta apenas uma das variadas interpretações do filme.
Florence Pugh é definitivamente a rainha de Midsommar, de seus gritos sufocados e recheados de sofrimento à sua óbvia transformação durante o longa, Dani desenvolve-se ao ponto de se tornar uma excelente personagem, completamente quebrada e adequada para as bizarrices da obra, que usa ela como foco central de suas sequências mais impactantes.
Assim como feito ano passado, Aster novamente prova que sua visão cinematográfica é única e geniosa, desde a linda fotografia dos gramados suecos, às fantásticas nuances visuais suaves que simulam belas alucinações, que por perdurarem durante longas sequências, te fazem realmente achar que está sob efeito de alguma droga.
Somado à isso, Aster não pensa duas vezes antes de mostrar, sem censura ou pudor, as práticas absolutamente abomináveis do culto introduzido no longa, e, ao fazê-lo, cria a sensação mais perturbadora de Midsommar: seu contraste.
Sem sombra de dúvidas Midsommar consolida ainda mais o potencial de Ari Aster, já colocando-o como um dos melhores diretores de terror da nova geração, um longa complexo, visualmente maravilhoso e para contrastar, absurdamente perturbador. É certamente um dos pontos altos de 2019.
John Wick 3: Parabellum
3.9 1,0K Assista AgoraO terceiro marco na franquia de Chad Stahelski que carimbou a carreira de Keanu Reeves é uma importante confirmação da consistência de seus longas, mas dessa vez um pouco mais arrastada.
Tal qual Missão Impossível, John Wick vem sendo uma das franquias de ação mais consistentes dos últimos anos, uma que deixa claro a fantástica compreensão de Stahelski em relação a o que torna um filme de ação bom. Tal qual os dois anteriores, John Wick 3 é um mostruário de todas as excelentes ideias de Stahelski, maravilhosas sequências de ação que são gravadas com um camera work magistral, repleto de wide shots, tornando cada detalhe da ação muito mais claro, criando um palco para que Reeves e todos os demais atores deem o melhor de si.
É inegável que as sequências de ação aqui estão muito próximas da perfeição, mas como todo filme desta franquia, existe um espaço de tempo no qual o longa desenvolve a motivação por trás de toda a ação, explorando os mistérios e esquisitices seu universo fictício, o que por vezes prende a atenção do público, mas é incapaz de acertar seu timing.
O maior erro de John Wick 3 são seus longos, por vezes monótonos, 130 minutos, que deixam o espectador sedento por mais ação enquanto busca desenvolver a motivação de seu personagem, para depois inverter tal motivação em seu fechamento, deixando o espectador a questionar a necessidade de todo o desenvolvimento prévio.
John Wick 3 definitivamente possui entre 90 e 100 excelentes minutos, recheados de sequencias magníficas, mas erra ao definir a duração de seu desenvolvimento.
Black Mirror: Bandersnatch
3.5 1,4KO único mérito que eu dou a Bandersnatch é por sua coragem ao trazer algo novo que se tornou possível com o serviço de streamming, de resto, péssima experiência.
Homem-Aranha: No Aranhaverso
4.4 1,5K Assista AgoraO que mais me impressiona é que estamos em 2019, com inúmeros filmes de super-herói quase que criando um gênero próprio absurdamente mainstream, mas mesmo assim Into the Spider-Verse, que traz o formato mais próximo às HQs possível, é visto como algo revolucionário.
O trio formado por Persichetti, Ramsey e Rothman construiu uma estética original consistente durante as duas horas de filme, estética essa que possibilitou transições da animação ao quadrinho, além de algumas genialidades de edição a parte, é uma animação tecnicamente perfeita.
Into the Spider-Verse é aquele filme puramente feito para entreter, com um roteiro que aproveita a maluquice dos quadrinhos originais para trazer um humor sincero ao filme, um tipo de humor que certamente pode ser apreciado por qualquer idade.
A fantástica qualidade das personagens, somada a uma estética maravilhosa, uma animação excepcional e um roteiro genuinamente divertido, Into the Spider-Verse traz um enorme frescor a uma história que já foi contada e recontada várias vezes, além de introduzir uma nova estética original a um tipo de filme tão saturado da mesma coisa, simplesmente perfeito.
Vidro
3.5 1,3K Assista AgoraO projeto de 19 anos de Shyamalan finalmente conecta todas as pontas em uma de suas obras mais grandiosas, Glass me tirou o ar em sua conclusão.
Ao contrário de dramas tecnicamente impecáveis, construídos para brilhar os olhos da academia, Unbreakable, Split e Glass são obras tão relevantes quanto, porém encontram sua grandeza em aspectos diferentes, tal qual um álbum de rock progressivo experimental pode soar um tanto estranho ao público mainstream, a trilogia concluída por Glass pode ser o famoso caso do "não é pra todo mundo".
Dito isto, Glass traz de volta os fantásticos papéis múltiplos de McAvoy, o obscuro de Bruce Willis e a genialidade de L Jackson, juntos durante 169 minutos mais agitados que outros dois anteriores, o longa não só encontra a cinematografia aventuresca de Shyamalan a flor da pele como também seus personagens em seu pico emocional, colocados no limite.
Difícil colocar a conclusão de Glass em palavras sem estragar o filme, sendo assim, diria que Glass é algo para ser experienciado, especialmente após rever os dois longas anteriores.
2019 começando com o pé direito =)
Buscando...
4.0 1,3K Assista AgoraSearching jogou todos os "Unfriended da vida" no lixo enquanto me deixou quase caindo da poltrona ao desenvolver sua trama cheia de suspense. A estréia de Chaganty é maravilhosa, rendeu mais uma prova da genialidade de John Cho e, principalmente, provou que é possível sim conduzir longas maravilhosos nesse formato.
Nasce Uma Estrela
4.0 2,4K Assista AgoraAbsurdamente confiante nas tempestades de emoções do longa, Cooper define sua estréia como diretor como a maior surpresa de 2018.
A simplicidade de diálogos como "Hey! / What? / I just wanted to take another look at you" é uma constante em A Star is Born, carregada nos ombros de fantásticas atuações por Cooper e Gaga. A cinematografia do longa em partes é quase que claustrofíbica, completamente focada no desenrolar da relação dos dois protagonistas, tornando o filme extramente humano, utilizando apenas da combinação de um ótimo roteiro com atuações maravilhosas como o seu pilar principal para desenvolver sua narrativa.
Pouquíssimos filmes são capazes de transmitir um verdadeiro amor entre dois personagens, mas os closes em Ally, o seu olhar para Maine, mesmo que estivesse caindo de bêbado, é um dos pontos que mais humanizam o romance entre eles, romance esse que cria empatia pelas personagens e consegue desenvolver o longa para seus picos emocionais mais fortes.
Fora os protagonistas, Dave Chappelle e Sam Elliott estão ótimos no longa. Elliott em especial, durante uma cena rápida em que olha para trás enquanto dá a ré, é certamente uma das melhores sequencias de atuação do ano.
A Star Is Born é um romance simples repleto de atuações impecáveis, brutalmente pesado em seu desenvolver. Certamente um dos principais concorrentes ao Oscar de 2019.
O Primeiro Homem
3.6 649 Assista AgoraO terceiro longa de Chazelle o desafia a contar uma das histórias mais conhecidas, inclusive já contada com maestria anteriorimente. Chazelle tinha que encontrar um diferencial, uma nova perspectiva.
First Man progride cronologicamente ao passo que alterna entre a vida profissional e a pessoal de Armstrong, criando um certo dinamismo narrativo, que em tese construiría empatia pelas personagens, para posteriormente colocá-las em risco, quase que testando o nível empático do público. Em partes essa técnica funciona, em outras, os momentos da vida de Niel escolhidos eram de certa forma monótonos, não conseguiam demonstrar uma certa simplicidade na vida de Niel, nem construir um valor empático expressivo pelas personagens.
Todavia, a narrativa da vida profissional de Niel é cheia de movimento, apresentada por diferentes perspectivas, tanto na visão da NASA, quanto na visão política, quanto na visão da corrida espacial, tornando cada missão intrigante, repleta de efeitos especiais fantásticos, tomada pela excelente trilha de Hurwitz, que volta a trabalhar com Chazelle após o ótimo La La Land.
Fato é que Chazelle trouxe uma diferente perspectiva e dinâmica para a história, mas o resultado final de sua técnica narrativa não é exatamente o mais glorioso, apesar do quão maravilhosas são as sequências de cada missão espacial, a narrativa de sua vida pessoal deixa a desejar. Mas certamente é mais um ótimo trabalho para o portifólio de Chazelle, que até agora tem sido impecável.
Hereditário
3.8 3,0K Assista AgoraA complexa amarração de entrelinhas desenvolvidas no início e elucidadas no fim é a tão comentada estreia de Ari Aster, conduzida sonoricamente pelos experimentos de Colin Stetson, gritando estranhismo durante seus impactantes 126 minutos.
Por meio de um fantástico trabalho de câmera e uma excelente noção de iluminação, Aster me colocou numa posição que nunca estive no cinema, na qual ele apresentava o fator terror de forma ofuscada e deixava que eu, enquanto olhava cada canto da tela, me assustasse, quase como se estivesse acabado de acordar e avistasse um vulto em meu quarto. Por esta construção excepcional sozinha, Aster já conseguiu fugir da mesmisse de boa parte dos thrillers.
Além destes momentos, Hereditary são brutais desventuras em série, com ótimas atuações de Alex Wolff, Ann Dowd e Milly Shapiro, além de uma atuação fora de série de Toni Collette (prevejo indicações ao Oscar). Já o roteiro por trás destas atuações, com escolhas como a bizarra profissão de Toni Collette, a condição extrema de sua filha e a própria história de sua família, foi capaz de construir uma conclusão aberta a reflexão, completamente condizente com a complexidade da trama paresentada até então.
Hereditary é mais um acerto da A24, mais um para os excelentes filmes de terror da década e uma surpreendente estréia para Ari Aster.
Vingadores: Guerra Infinita
4.3 2,6K Assista AgoraCom a proposta de unificar personagens introduzidos e desenvolvidos por outros escritores e diretores, os irmãos Russo tinham em suas mãos o desafio de entregar um roteiro coeso por longos 149 minutos, porém possuíam uma vantagem, boa parte dos personagens e o universo em si já foram devidamente desenvolvidos e destrinchados anteriormente, o longa poderia ir direto ao ponto. Ao fazê-lo, Infinity War provou ser, em sua primeira parte, um gigantesco longa que concluirá um projeto de anos, uma jornada que levou a Marvel Studios no topo.
Transicionando de um grupo de personagens para outro, conectando-os e, ao mesmo tempo, introduzindo e desenvolvendo talvez o melhor vilão da Marvel, encaixando ótimas cenas de ação (como de praxe) no meio de tal desenvolvimento, definindo um ótimo ritmo. Não só isso, sua conclusão é no mínimo respeitosa, largando os fãs ansiosos para a conclusão de toda a história.
Aniquilação
3.4 1,6K Assista AgoraO retorno de Alex Garland, 4 anos depois do excelente Ex Machina, não foi pensado para ser um longa do Netflix, pelo contrário, toda sua magnitude foi meticulosamente imaginada para as grandes telas, uma pena.
De qualquer maneira, este não é de forma alguma um demérito do longa, já que Annihilation é um filme que segue a receita de bolo da grande maioria de "Alien-inspired Sci-fi's" medíocres, porém acertando em literalmente todas as falhas de seus predecessores.
Do seu calmo desenvolvimento introdutório, às sequências de tirar o fôlego, ao suspense bem desenrolado, aos cenários espetaculares, Annihilation contrasta o limite da racionalidade com o nunca antes visto, ao passo que reflete sobre a forma humana e a dualidade, tudo isso sem deixar de ser um action sci-fi repleto de suspense e ação.
Garland entrega o melhor final de sua carreira até então, deixando o sentido do filme aberto para interpretação, deixando os acontecimentos que tomariam lugar após tal final à mera interpretação do espectador, é um espetáculo visual com boas atuações, ótimo roteiro e fantásticas reflexões debaixo de seus lençóis.
A Morte de Stalin
3.6 134 Assista AgoraEnquanto a premissa de fazer uma comédia ao redor de um assunto tão brutal e delicado como a ditadura de Stalin soe loucura, Armando Ianucci de alguma forma consegue encontrar um humor coerente com uma estética, coerente com os posicionamentos políticos absurdos retratados e que, em diversas vezes, arranca boas gargalhadas.
Das incríveis atuações de Jeffrey Tambor e Steve Buscemi, ao ótimo roteiro e à fantástica estética, The Death of Stalin é uma obra concisa e coerente, como uma orquestra, com cada aspecto individual em harmonia com o todo. Contudo, apesar de todos os acertos,
o longa em poucas partes toma alguns descuidos ao tratar de assassinatos, torturas e atos violentos, o que não tira o mérito de todas as suas proezas.
Mudo
2.6 240O hype de Blade Runner 2049 vem ecoando em tudo quanto é canto na Netflix, Altered Carbon e agora Mute. Considerando Moon e Source Code, Duncan Jones parece ser a escolha certa para dirigir o filme, o trailer é foda, espero que assim seja o longa.
Pantera Negra
4.2 2,3K Assista AgoraNão possui o mesmo carisma de Thor Ragnarok, nem mesmo a complexidade e imensidão do universo de Guardiões da Galáxia, contudo, Black Panther se destaca em algo raro de ser encontrado em filmes da Marvel, um ótimo desenvolvimento de trama e personagens, resolvendo um dos problemas mais recorrentes dos longas da MCU, o vilão. Mas ainda tropeça em alguns momentos.
Black Panther introduz uma cultura fictícia baseada em uma real, enaltecendo tal cultura a um ponto que reverte a situação socioeconômica da factual, criando uma utopia excitante, que mistura o esplendor da flora com absurdos avanços tecnológicos, resultando na melhor ambientação já vista em uma obra da MCU.
Somos aprensentados a um vilão que tem pontos plausíveis e claros para fazer o que faz, sua motivação conquista, gerando uma dualidade entre torcer para o herói e torcer para o vilão, algo raro no gênero. Não só isso, Ryan Coogler para o filme foi uma das decisões mais sensatas da Marvel, uma vez que o diretor reuniu um apanhado de excelentes atores que estão muito bem no filme.
Contudo, a glória de Black Panther não se extende muito mais que isso, todos os êxitos no âmbito do gênero Ação são os mesmos apresentados em muitos outros longas de heróis, mas sem o carisma e o espírito cômico. O tom de Black Panther é uma verdadeira montanha russa, uma vez que roteiro não se decide se é um filme de ação bem humorado ou um filme de ação repleto de dramas, o ritmo também se torna confuso como reflexo. Não só isso, como de praxe, a conclusão da trama abandona todas as excelências de seus personagens em troca de um gigantesco showroom de CGs.
Talvez este seja assim o melhor filme da MCU, mas eu continuo na espera de um filme que quebre a receita de bolo da produtora, defina e se mantenha firme em um tom e ritmo, mas que também agregue as excelências dos filmes anteriores. Black Panther não é de forma alguma um filme perfeito, mas representa um ótimo amadurecimento da MCU.
The Post: A Guerra Secreta
3.5 607 Assista AgoraThe Post é sim o resultado de uma linha de produção industrial de obras que normalmente ganham o Oscar de melhor filme, todavia, apesar de sua falta de expressão e emoções, a tecnicidade cinematográfica é louvável, com alguns planos sequência claustrofóbicos ditando o ritmo agitado do longa, ótimas atuações e num geral bons diálogos. Spielberg deixa claro com tais aspectos do filme que está produzindo uma obra direto ao ponto, que veio para contar uma história, apresentar ambos os lados e concluir-se, uma vez que o longa se mantém coerente a tal proposta do começo ao fim, The Post entrega com maestria e precisão o que se propõe a fazer.
A Forma da Água
3.9 2,7KGuillermo del Toro encontra em sua auto-expressão maneiras não-humanas de contar histórias puramente humanas. O clássico cultuado Pan's Labyrinth foi a prova mais verdadeira de tal fato, todavia, o esplendor do ilustre diretor e escritor mexicano ficou ofuscado por anos, com filmes alguns degraus abaixo do clássico citado. The Sape of Water é o etendimento sobre almas gêmeas que del Toro possui, sendo transcorrido por belíssimos 119 minutos, demonstrado por meio da visão uníca do diretor.
Harmonia é uma palavra chave para descrever o filme, enquanto a ambientação está no mesmo ritmo da linda trilha sonora, as atuações estão a par da qualidade de roteiro. Sally Hawkins entra na pele de uma personagem complexa, que tem de demonstrar seus sentimentos somente por ações, tornando sua atuação muito mais intrigante. Doug Jones por outro lado desparece no corpo de uma criatura única e fantástica, como de praxe para todas as criaturas fictícias que del Toro já criou.
Suas diversas indicações ao Oscar são mais do que justificáveis, não me surpreenderia se visse algumas estatuetas na mão de del Toro esse ano, fantástica obra.
Suburbicon: Bem-Vindos ao Paraíso
3.1 160 Assista AgoraUgh, Suburbicon é o tipo de filme que não é tão ruim ao ponto de ser hilário, mas é terrível de qualquer forma. O fato de bons atores terem aceitado um roteiro desses é completamente bizarro. O longa não entende a diferença entre um filme vintage nostálgico e um filme brega, introduzindo sem motivo algum uma determinada estética que não interage com a história de forma alguma. Além disso, o filme introduz uma família de negros e martela diversas cenas de racismo sem razão alguma, nenhum dos personagens dessa família são desenvolvidos e nem se quer reagem a tudo que está acontecendo ao seu redor.
Como se não bastasse a enorme quantidade de problemas secundários, a trama principal possui uma atriz interpretando dois personagens pelo simples prazer de introduzir uma problemática malígnica extremamente clichê. E cara, Matt Damon estava se esforçando demais, pena que não tem atuação que salve um roteiro desses.
Três Anúncios Para um Crime
4.2 2,0K Assista AgoraNa boa alguém dá o Oscar logo pra Frances McDormand, que filme, que atriz.
Lady Bird: A Hora de Voar
3.8 2,1K Assista AgoraAh Lady Bird, inseparável de Saoirse Ronan, trilha sua vida durante curtos 93 minutos, esbarrando em personagens únicos, mostrando um pouco de seus sonhos, ideais e suas reviravoltas. Cada cena do longa é meticulosamente encaixada, entretanto a concretização delas flui de tal maneira que não assistimos a um filme, mas sim à Lady Bird crescendo, evoluindo, chorando e sorrindo, entendo o significado de relacionamentos, amizades e amores, religião e valores, mas ainda mais enfático, conhecendo a si mesma.
São tantos os âmbitos da vida abordados neste filme, tantos personagens introduzidos e desenvolvidos, porém o foco em Christine nunca se vai, o tom nunca é perdido, sequer o ritmo. Como se não bastasse seu roteiro majestoso, as atuações são fantásticas, não só da protagonista mas principalmente de Laurie Metcalf como Marion. É quase impossível não citar Lady Bird, um filme tão bem resolvido, maravilhosamente planejado e construído, como um dos melhores filmes que 2017 trouxe, só queria poder participar mais da vida de Christine, saber quais decisões ela tomaria para sua vida dali pra frente, fantástica personagem.
Star Wars, Episódio VIII: Os Últimos Jedi
4.1 1,6K Assista AgoraAs definições de "overrated" foram atualizadas.
Columbus
3.8 129Consigo me recordar apenas de um filme lançado em 2017 com uma fotografia que possa competir com a de Columbus, mas até ele não consegue ser tão intimista e realista se comparado à estréia de Kogonada, longa que, com o uso de wideshots contemplativos da beleza urbana e natural, assim como da beleza das simples interações sociais, é capaz de transmitir muito mais apenas com o uso da imagem.
Se separarmos cada quadro de Columbus obtemos uma imagem fantástica, transmitindo a ideia de que Elisha Christian ficou horas planejando cada ângulo de câmera, cada frame. Não só isso, as atuações e o roteiro também funcionam ao seu favor, muitas vezes dançando a mesma música da fotografia, em sintonia.
Esta é de longe a melhor performance de Haley Lu Richardson, a qual como Casey é indistinguível de sua personagem, com seus próprios problemas, sonhos e desejos. Muito de seu desenvolvimento é a própria vivência, o próprio cotidiano. Até mesmo seu novo relacionamento com um quê platônico não é levado ao exageiro de Hollywood, tornando a simplicidade do roteiro o seu real brilho, tal qual seu realismo.
Columbus é silencioso, reflexivo nos pequenos trechos de sua trilha, enquanto sua fotografia grita muito mais do que os diálogos simples e realistas de seu roteiro, mais do que sua progressão minimalista, um ótimo longa.