Raffael

O filme foi uma grande surpresa do dia. Tem boa atuação de personagens perturbados, reprimidos e incompreendidos, mas que na verdade são simplesmente humanos como qualquer outro. Há uma ótima desenvoltura da trama e essa dissecação da carência latente e gritante do ser humano é fascinante e é algo que se torna um problema tão sério no mundo atual onde sua negação gera conflitos, sua repressão, traumas e seu excesso, coisas ainda piores. Trata do amor de uma forma tão sensível e realista, sem clichés, sem modismos, sem exageros, mas do jeito que realmente é na prática, sob diferentes circunstâncias... uma necessidade e/ou uma escolha? Só me faz continuar acreditando, apesar de tudo, que o amor verdadeiro e saudável é sim possível, entre duas pessoas, mesmo depois de vacilos, erros e o que quer que seja. Que desfecho!

Uma experiência estética bem interessante que me fez incluí-lo entre meus filmes favoritos do Jarmusch junto com Permanente Vacation, Coffee and Cigarettes e Estranhos no Paraíso, apesar de uma premissa e enredo sem muito sentido e uma trama que se desenrola pra direção nenhuma. Um filme simples que aborda esse mito do vampiro, que eu tanto admiro, de uma forma mais interessante ainda, o qual os filmes atuais de mesmo tema tem desapontado muito ao falhar em fazê-lo. Explora e torna os vampiros mais humanos, mais vulneráveis, mas com aquele ar e aquela beleza e intocabilidade inerentes a eles. É impregnado de críticas ácidas e descaradas à sociedade atual e a todas as suas vaidades, superficialidades e sua decadência devido ao positivismo, capitalismo,consumismo exacerbado e sua busca pela felicidade/plenitude financeira, a ruína de transformar tudo ora em mercadoria ora em utensílio para qualquer que seja o fim. A trilha sonora é sensacional,possui uma fotografia bem peculiar, a poesia visual, o roteiro as vezes massante as vezes brilhante, mas com a presença da Tilda e os diálogos recorrentes sobre Tesla.

É uma obra prima do cinema. É talvez um dos filmes que retratou de forma mais lírica e ao mesmo tempo realista a guerra, com todas as suas atrocidades, peculiaridades e rasgando os recônditos da alma humana no que ela mostra de pior e de melhor nesses momentos insanos. É um filme de uma sensibilidade e de uma meticulosidade sem iguais. É agoniante, triste, torturante, por hora quase que insuportável, atordoante, mas é belo e é do tipo que faz você mergulhar em si mesmo e se perguntar o porquê de tudo ter sido como foi e ser como é. Fala do amor e da dor e da complexa convivência dessas duas coisas em momentos que não temos mais nada a não ser nós mesmos. Arranca lágrimas pela beleza e pela feiura da humanidade, pela injustiça, pela dor de muitos por causa dos poucos que decidem as coisas mais importantes e, acima de tudo, arranca lágrimas por ser uma perfeita descrição do ser humano despido de suas máscaras com todos seus medos, dores e sonhos.