Era Uma Vez Um Gênio (3000 Years Of Longing) é um filme de 2022, que o mestre George Miller dirigiu após o espetacular Mad Max: Estrada da Fúria (2015). E como são obras tão diferentes. Miller troca os tons pastéis e o azul soturno por uma explosão de cores. E também de ideias e sensações. A visão sombria da humanidade é deixada de lado. Temos agora uma perspectiva que não dar para chamar de otimista, e sim de apaixonada, na qual os seres humanos tentam lidar com os tortuosos caminhos do coração e da mente, na alegria ou na dor. O veterano cineasta se permitiu criar uma fábula metalinguística cheia de nuances para falar sobre o que mais nos atormenta: o sentido de estarmos nesse mundo, o sentido que temos para as outras pessoas. As falhas do filme, sejam em alguns efeitos especiais ou oscilações de ritmo, são mais do que recompensadas pelos diálogos maduros, as atuações vibrantes de Tilda Swinton e Idris Elba e toda uma produção que celebra a arte de contar histórias.
Sou grande fã de Donald Glover, um artista multitalentoso que, quando inspirado, consegue entregar algo impactante. No caso da série Sr. & Sra. Smith, temos aqui uma dramédia de ação muito bem produzida, e só. Uma farofa superior ao filme com Angelina Jolie e Brad Pitt. Recomendado para maratonar ao lado do companheiro ou da companheira, num final de semana preguiçoso. Glover tem todo o direito de apenas se divertir em seus projetos, ainda mais quando ele tem poder de decisão. Mas, como órfão de Atlanta, aguardo uma nova obra que mostre todo o seu potencial.
Produção nacional competente, com pegada hollywoodiana, mas selo de qualidade brasileiro/nordestino/cearense. Mesmo com certa falta de coesão, uma barriga lá pelo meio da história e algumas soluções de roteiro pra lá de convenientes, a trama é dinâmica e instigante. E os melhores personagens são bem desenvolvidos. Não romantiza o cangaço nem a vida criminosa. Tudo é muito próximo aos casos de assaltos reais e o contexto regional que inspiraram a série. Os realizadores acertaram ao optar pela crítica social em tons de cinza do que por um caminho mais sinistro e cínico de um Bons Companheiros, de Scorsese, por exemplo.
À primeira vista, Dias Perfeitos, de Wim Wnders, é um filme edificante, lindo, emocionante, até terapêutico. Mas, passado o arrebatamento inicial, percebemos que há muito a se refletir e a desvendar na felicidade da vida simples do protagonista.
Harayama é um homem de sessenta e poucos anos, comedido, de poucas palavras, que gosta de ouvir música, ler, fotografar e cuidar de suas plantas em casa. Seu trabalho é limpar banheiros públicos em Tóquio. Função essencial, mas desprestigiada. Mesmo num país como o Japão, que valoriza tanto o bem comum, a vida em comunidade.
Acompanhando a rotina restrita e repetitiva do protagonista, ou quando ela é abalada por algum episódio inesperado, notamos cada vez mais que a simplicidade da vida de Harayama é a mistura de uma escolha, de um propósito, talvez de uma penitência, com um isolamento social e emocional ferrenho. Tem a ver com sua personalidade, seu passado e sua cultura. Ele delimita sua existência para ter um maior controle sobre ela. Acima de tudo, o filme é um estudo de personagem.
Apesar do diretor ser alemão, o roteiro é co-escrito pelo também produtor japonês Takuma Takasaki. Há a mesma sutileza e força no retrato de pessoas “comuns” de outras obras de Wenders como Paris, Texas e Asas do Desejo. A grande atuação do veterano Koji Yakusho, contida, mas de muita expressividade nos closes, no olhar, transforma a vida interior de Harayama num mistério intrigante.
De fato, Dias Perfeitos é um belo filme. Não se trata aqui de romantizar a precarização do trabalho. E nem de glorificar a alienação. Wim Wnders nos convida a desacelerar nossas percepções, a questionarmos o que realmente importa; lição a ser aprendida até pelo próprio Harayama. Num mundo em que acontecem o genocídio da população preta no Brasil e dos palestinos na Faixa de Gaza, colocar em xeque a lógica do esgotamento físico e moral, da alta velocidade produtiva, promovida pelo capitalismo, é urgente.
A 3ª temporada de Slow Horses está afiadíssima como nunca. Depois de uma ótima 1ª temporada, que nos aprensentou a um mundo da espionagem mais realista, e de uma 2ª temporada boa mas convoluta, temos no terceiro ano uma trama mais simples, intensa e coesa. A dinâmica entre os personagens faz a história avançar de maneira consistente, com reviravoltas que causam consequências reais. É a temporada mais imprevisível e sombria da série. A cereja do bolo são os diálogos no seu melhor, que vão do sarcasmo mais infame à fina ironia. Em 2024, vem aí a 4ª temporada, e a 5ª já foi confirmada.
Uma das experiências mais incríveis de 2023 foi maratonar as três temporadas dessa dramédia revolucionária. Ora se tira muito sarro, ora se aborda com muita sensibilidade temas caros aos povos indígenas nos EUA, como decolonialismo, pobreza e orgulhoso ancestral. Com diálogos afiados, personagens cativantes e muito afeto, chegamos ao fim da série com uma perspectiva renovada.
A segunda temporada conseguiu a façanha de superar a primeira. Roteiros mais inspirados, melhor desenvolvimento de personagens secundários, maior protagonismo de Sydney e participações especiais de grandes atores. O caos afetivo e profissional de Carmy ganha novas camadas. E o amor pela gastronomia e pela cidade de Chicago continua mais vivo do que nunca.
Nunca tinha jogado o game, mas sabia de sua existência, de sua importância. O que me fisgou foram os trailers, as pessoas envolvidas, o valor de produção. A HBO prometeu e entregou a primeira grande série de 2023. Intensa e brutal, mas com momentos afetuosos marcantes, temos aqui um universo que pega o tema batido do pós-apocalipse zumbi e traz uma abordagem revigorante.
Essa adaptação fez justiça à obra do mestre do suspense Naoki Urasawa. A fidelidade não engessou o anime. Pelo contrário, proporcionou uma outra experiência sensorial. O silêncio das páginas em preto e branco do mangá deu lugar às cores e sons de uma animação deslumbrante. A melancolia dos personagens continua presente. Afinal, o que é ser humano?
Gêmeas – Mórbida Semelhança (Dead Ringers) é uma série baseada no filme de Cronenberg. O que parecia ser uma péssima ideia se mostrou uma grata surpresa. Uma produção que quebra estereótipos e expectativas sobre a condição feminina. Mulheres fora da curva em luta contra um patriarcado brutal. Mesmo que suas batalhas tomem rumos pra lá de questionáveis. Rachel Weisz tem o papel (duplo) de sua vida como as irmãs Mentle. Os diálogos são afiadíssimos. E a montagem arrojada eleva o poder e o suspense da narrativa. Mas infelizmente nem todo o potencial da série é aproveitado. O desenvolvimento de personagens relevantes fica pelo caminho. E subtramas importantes foram mal resolvidas. Além do final apressado e inverossímil. De qualquer maneira, Dead Ringers é uma série impactante que merece ser vista.
As duas primeiras temporadas de Atlanta são brilhantes. Donald Glover e sua galera souberam criar uma série impactante sobre o que é ser negro nos EUA. Temas relevantes e difíceis são levantados, mas sempre de maneira criativa e inesperada, criando assim a marca registrada da série: o surreal, o bizarro que toma conta da narrativa, nos pega de surpresa e escancara a questão social ou existencial numa abordagem única. E o conceito da série é aprimorado pela sofisticação da produção de cada episódio. Roteiro, atuações, fotografia, montagem, direção de arte, trilha sonora, tudo contribui para que Atlanta se torne um marco da televisão, no mesmo patamar de outras grandes obras (Sopranos, Mad Men, Succession, Twin Peaks).
O problema é que Atlanta sofreu algo parecido com os rumos de Westworld, uma série que mostrou algo novo, fez sucesso, criou expectativa, mas acabou caindo de qualidade. O caso de Westworld é mais decepcionante. No final das contas, as temporadas 3 e 4 de Atlanta são bem irregulares, só que ainda apresentam momentos de excelência. O último episódio da série é mais do que digno. Valoriza o que Atlanta teve de melhor em sua perspectiva de mundo maluca, autoconsciente e melancólica.
A diretora do excelente "Retrato de uma Mulher em Chamas" nos apresenta uma obra singela sobre o tema da maternidade. Não é um filme para explicar, e sim para sentir. A atuação das duas meninas de oito anos é impactante. Mas o filme poderia ter mais uns vinte minutos para desenvolver melhor o personagem da mãe.
Para um diretor, a armadilha das cinebiografias se dá quando um ou mais desses fatores estão presentes: falta de ambição estética, didatismo engessado e excessivo, e distorção dos acontecimentos ao ponto de questionarem a credibilidade do filme. Mas existem exemplos que subvertem tais regras de forma brilhante, como Não Estou Lá, de Todd Haynes, uma cinebio de Bob Dylan infiel aos fatos, porém fiel às várias facetas do artista. No caso de Oppenheimer, Nolan buscou um meio termo entre ousadia e convenção.
Podemos dizer que Oppenheimer é parte independente, parte filme de estúdio. Como co-produtor, roteirista e diretor, Nolan queria total controle sobre a produção para aplicar sua cartilha cinematográfica. Todas as qualidades, defeitos e cacoetes estão lá. No entanto, o que ficou evidente foi a evolução do poder narrativo de Nolan. Para falar sobre J. Robert Oppenheimer, o projeto Manhattan e a criação da bomba atômica, o cineasta sabia que não podia ser leviano, não podia empregar um tom hollywoodiano demais, como em Uma Mente Brilhante (um delírio sobre a vida de um matemático vencedor do Nobel). E também o filme não podia ser tão sombrio que afastasse o público médio. Porque Nolan precisava e almejava um sucesso de bilheteria considerável. Então ele decidiu fazer do sombrio um espetáculo. Essa é sua maneira de fazer cinema com montagem arrojada, atuações vigorosas, trilha sonora retumbante, fotografia épica. Por isso, em Oppenheimer, Nolan recalibrou seu repertório a favor do tema. Procurou entender e representar, da maneira mais criativa e menos óbvia possível, não só a vida e a obra, mas a mente de uma figura complexa e trágica. E o espectador tenta imaginar, tenta especular quem foi essa pessoa por dentro por meio de imagens realistas e abstratas, e pelo olhar, pelo rosto e pela voz de tom aveludado de Cillian Murphy.
Se um cineasta como Paul Thomas Anderson, de O Mestre e Sangue Negro, dirigisse Oppenheimer seria outro filme. Talvez fosse ainda mais duro, ainda mais perturbador, mais silencioso, menos convencional, porque existe até um vilão, um nêmesis na história. Agora é inegável que, ao que se propôs, Nolan conseguiu dirigir seu filme mais maduro.
Barbie é um filme divertido, emocionante e afiado, mas também problemático. A diretora e co-roteirista Greta Gerwig se saiu bem diante de um tremendo desafio com cheiro de cilada. Como fazer um filme decente sobre a Barbie? A solução foi a sátira. Claro que há aqui um pouco de tudo, comédia, drama, musical, ação, fantasia, uma mistura que nos leva a uma aventura filosófica sobre a existência da mulher no mundo. Não como ideia, abstração, mas como alguém de carne e osso, com dificuldades reais numa sociedade patriarcal que precisa mudar não só em prol da sanidade das mulheres, mas do mesmo modo pela sanidade dos homens, lutando-se contra qualquer tipo de padrões tóxicos de feminilidade e, principalmente, de masculinidade.
As referências estéticas e conceituais de Barbie são muitas: O Mágico de Oz, Katharine Hepburn, Doris Day, Genne Kelly, Jerry Lewis, Fellini, Hitchcock, Jacques Demy, Jacques Tati, 2001, Spielberg, Chaplin, Tim Burton, Almodóvar, Grease, O Show de Truman, Splash, Os Embalos de Sábado à Noite, Matrix e outras. Mas, no final das contas, Gerwig fez um filme com ideias e estéticas próprias. Mesmo sendo baseado num produto icônico e tão valioso como a boneca Barbie. A força do filme está nos seus diálogos, performances e imagens quando atingem o auge da sátira, com as piadas e gags mais devastadoras. Ou em momentos mais tocantes, durante crises existências da Barbie, por exemplo, culminando num desfecho catártico. Porém a estrutura do roteiro é convencional, seguindo bastante o passo a passo da jornada do herói. E poucas atuações realmente se destacam. Há atrizes e atores incríveis que mal abrem a boca. Às vezes, fica a sensação de muita correria, muito conteúdo para caber num filme de menos de duas horas.
Margot Robbie é uma Barbie cativante. Ryan Gosling é um Ken perversamente hilário. E a produção é deslumbrante, especialmente nas cenas passadas na Barbielândia, com o uso criativo de cores, músicas, cenários e enquadramentos. Mas não podemos esquecer que o filme foi autorizado pela Mattel. A autoparódia foi uma jogada arriscada que deu certo, ressignificando a marca Barbie após uma histórica queda de vendas da boneca. Esse filme ainda vai continuar gerando muitos debates sobre suas intenções, mensagens e limites. Afinal, até onde vai o feminismo da Barbie?
Treta (Beef), na Netflix, é uma série esquisita. E foi por isso que gostei tanto. Teve uma grande repercussão pela combinação bastante acertada entre comédia nonsense e drama sombrio. Vemos aqui um elenco majoriatamente asiático tirando sarro e subvertendo estereótipos. Steven Yeun e Ali Wong interprertam protagonistas antipáticos, mas tridimensionais. Além de termos outros personagens igualmente bizarros e humanos. O showrunner, Lee Sung Jin, soube dar uma estética comteporânea e cinematográfica (afinal, é uma produção da A24) a essa série que já fez história.
Reinventar-se não é o problema, e sim não executar bem essa mudança. Apenas os episódios Loch Henry e Beyond The Sea me causaram algum impacto. Produção de primeira, só que, no geral, os roteiros e as atuações ficaram devendo.
Chega ao fim uma das melhores séries de todos os tempos. Sem exagero. A saga da infame família Roy termina com um gosto amargo para a maioria dos personagens. Mesmo vencendo, muitos saem de cena com uma sensação de derrota. Avassaladora para uns, mais assimilável para outros. No final, o grande vencedor foi o capitalismo e o maior perdedor foi o povo, as pessoas “comuns”. Afinal, a série é um ácido espelho do mundo real, no qual a vida de bilhões de consumidores/cidadãos/eleitores fica à mercê das vaidades, caprichos e interesses de alguns poucos magnatas, de algumas poucas famílias.
O fascinante em acompanhar Succession é que o criador da série, Jesse Armstrong, não leva essa gente rica a sério, mas sabe muito bem os danos que elas podem causar. Além disso, temos uma produção impecável, com todos os elementos convergindo para entregar ao espectador uma sátira ou dramédia de alto nível.
O grande trunfo aqui são seus personagens. Roteiro, fotografia, montagem, trilha sonora, tudo faz com que as atuações se tornem ainda mais marcantes, em suas sutilezas e brutalidades.
Em Succession, mais do que glamurosos, os ricos são patéticos em seus excessos, sem escrúpulos, imaturos, malignos e ainda assim muito humanos. São pessoas desprezíveis enfrentando dramas reais. Você não torce por ninguém (ou não deveria). Só quer ver o circo pegar fogo nessa mistura de um The Office dos endinheirados com um Game of Thrones corporativo.
Primeiro longa-mentragem produzido no Acre, Noites Alienígenas é um retrato vigoroso de uma realidade esquecida. O filme se passa na periferia da capital Rio Branco. O cenário amazônico é transformado pelas novas rotas do tráfico e a chegada de facções criminosas de outras regiões. Jovens já negliegenciados, entre amor, sexo, drogas, batalhas de slam e dramas familiares, tentam realizar seus sonhos, mudar de vida.
O diretor e roteirista Sérgio de Carvalho é um paulista há muitos anos radicado no Acre. Esta é sua estreia em longas. Entre erros e acertos, ele mostrou conhecimento de causa e talento para filmar as quebradas, paticularidades e culturas daquele trecho da região norte. Destaque para as atuações do sempre excelente Chico Diaz, da pernambucana Joana Gatis, do rapper acreano Gabriel Knoxx e o amazonense Adanilo.
O elemento de ficção científica cabe a interpretações.
Depois de Endgame, o MCU não foi mais o mesmo. E não estou falando em uma nostalgia de algo que acabou tão recentemente. Mas de fato os filmes seguintes não mostraram o mesmo vigor e carisma dos anteriores (descontando bombas como Thor 2 e Era de Ultron).
Guardiões da Galáxia 3 é um dos poucos acertos atuais da Marvel. Consegue manter o humor do primeiro filme e conta uma história de origem melhor do que no segundo, com maior impacto emocional. Aliás, as cenas do passado de Rocket tem uma pegada de terror digna de um Sam Raimi ou Clive Barker.
A saga dos heróis mais sem-noção e fofos do MCU termina de maneira bem satisfatória.
Era Uma Vez um Gênio
3.5 160 Assista AgoraEra Uma Vez Um Gênio (3000 Years Of Longing) é um filme de 2022, que o mestre George Miller dirigiu após o espetacular Mad Max: Estrada da Fúria (2015). E como são obras tão diferentes. Miller troca os tons pastéis e o azul soturno por uma explosão de cores. E também de ideias e sensações. A visão sombria da humanidade é deixada de lado. Temos agora uma perspectiva que não dar para chamar de otimista, e sim de apaixonada, na qual os seres humanos tentam lidar com os tortuosos caminhos do coração e da mente, na alegria ou na dor. O veterano cineasta se permitiu criar uma fábula metalinguística cheia de nuances para falar sobre o que mais nos atormenta: o sentido de estarmos nesse mundo, o sentido que temos para as outras pessoas. As falhas do filme, sejam em alguns efeitos especiais ou oscilações de ritmo, são mais do que recompensadas pelos diálogos maduros, as atuações vibrantes de Tilda Swinton e Idris Elba e toda uma produção que celebra a arte de contar histórias.
Sr. e Sra. Smith (1ª Temporada)
3.7 75 Assista AgoraSou grande fã de Donald Glover, um artista multitalentoso que, quando inspirado, consegue entregar algo impactante. No caso da série Sr. & Sra. Smith, temos aqui uma dramédia de ação muito bem produzida, e só. Uma farofa superior ao filme com Angelina Jolie e Brad Pitt. Recomendado para maratonar ao lado do companheiro ou da companheira, num final de semana preguiçoso. Glover tem todo o direito de apenas se divertir em seus projetos, ainda mais quando ele tem poder de decisão. Mas, como órfão de Atlanta, aguardo uma nova obra que mostre todo o seu potencial.
Cangaço Novo (1ª Temporada)
4.4 208 Assista AgoraProdução nacional competente, com pegada hollywoodiana, mas selo de qualidade brasileiro/nordestino/cearense. Mesmo com certa falta de coesão, uma barriga lá pelo meio da história e algumas soluções de roteiro pra lá de convenientes, a trama é dinâmica e instigante. E os melhores personagens são bem desenvolvidos. Não romantiza o cangaço nem a vida criminosa. Tudo é muito próximo aos casos de assaltos reais e o contexto regional que inspiraram a série. Os realizadores acertaram ao optar pela crítica social em tons de cinza do que por um caminho mais sinistro e cínico de um Bons Companheiros, de Scorsese, por exemplo.
Dias Perfeitos
4.2 285 Assista AgoraÀ primeira vista, Dias Perfeitos, de Wim Wnders, é um filme edificante, lindo, emocionante, até terapêutico. Mas, passado o arrebatamento inicial, percebemos que há muito a se refletir e a desvendar na felicidade da vida simples do protagonista.
Harayama é um homem de sessenta e poucos anos, comedido, de poucas palavras, que gosta de ouvir música, ler, fotografar e cuidar de suas plantas em casa. Seu trabalho é limpar banheiros públicos em Tóquio. Função essencial, mas desprestigiada. Mesmo num país como o Japão, que valoriza tanto o bem comum, a vida em comunidade.
Acompanhando a rotina restrita e repetitiva do protagonista, ou quando ela é abalada por algum episódio inesperado, notamos cada vez mais que a simplicidade da vida de Harayama é a mistura de uma escolha, de um propósito, talvez de uma penitência, com um isolamento social e emocional ferrenho. Tem a ver com sua personalidade, seu passado e sua cultura. Ele delimita sua existência para ter um maior controle sobre ela. Acima de tudo, o filme é um estudo de personagem.
Apesar do diretor ser alemão, o roteiro é co-escrito pelo também produtor japonês Takuma Takasaki. Há a mesma sutileza e força no retrato de pessoas “comuns” de outras obras de Wenders como Paris, Texas e Asas do Desejo. A grande atuação do veterano Koji Yakusho, contida, mas de muita expressividade nos closes, no olhar, transforma a vida interior de Harayama num mistério intrigante.
De fato, Dias Perfeitos é um belo filme. Não se trata aqui de romantizar a precarização do trabalho. E nem de glorificar a alienação. Wim Wnders nos convida a desacelerar nossas percepções, a questionarmos o que realmente importa; lição a ser aprendida até pelo próprio Harayama. Num mundo em que acontecem o genocídio da população preta no Brasil e dos palestinos na Faixa de Gaza, colocar em xeque a lógica do esgotamento físico e moral, da alta velocidade produtiva, promovida pelo capitalismo, é urgente.
Slow Horses (3ª Temporada)
4.1 4 Assista AgoraA 3ª temporada de Slow Horses está afiadíssima como nunca. Depois de uma ótima 1ª temporada, que nos aprensentou a um mundo da espionagem mais realista, e de uma 2ª temporada boa mas convoluta, temos no terceiro ano uma trama mais simples, intensa e coesa. A dinâmica entre os personagens faz a história avançar de maneira consistente, com reviravoltas que causam consequências reais. É a temporada mais imprevisível e sombria da série. A cereja do bolo são os diálogos no seu melhor, que vão do sarcasmo mais infame à fina ironia. Em 2024, vem aí a 4ª temporada, e a 5ª já foi confirmada.
Reservation Dogs (3ª Temporada)
4.3 7Uma das experiências mais incríveis de 2023 foi maratonar as três temporadas dessa dramédia revolucionária. Ora se tira muito sarro, ora se aborda com muita sensibilidade temas caros aos povos indígenas nos EUA, como decolonialismo, pobreza e orgulhoso ancestral. Com diálogos afiados, personagens cativantes e muito afeto, chegamos ao fim da série com uma perspectiva renovada.
O Urso (2ª Temporada)
4.5 236A segunda temporada conseguiu a façanha de superar a primeira. Roteiros mais inspirados, melhor desenvolvimento de personagens secundários, maior protagonismo de Sydney e participações especiais de grandes atores. O caos afetivo e profissional de Carmy ganha novas camadas. E o amor pela gastronomia e pela cidade de Chicago continua mais vivo do que nunca.
The Last of Us (1ª Temporada)
4.4 1,2K Assista AgoraNunca tinha jogado o game, mas sabia de sua existência, de sua importância. O que me fisgou foram os trailers, as pessoas envolvidas, o valor de produção. A HBO prometeu e entregou a primeira grande série de 2023. Intensa e brutal, mas com momentos afetuosos marcantes, temos aqui um universo que pega o tema batido do pós-apocalipse zumbi e traz uma abordagem revigorante.
Pluto (1ª Temporada)
4.2 42Essa adaptação fez justiça à obra do mestre do suspense Naoki Urasawa. A fidelidade não engessou o anime. Pelo contrário, proporcionou uma outra experiência sensorial. O silêncio das páginas em preto e branco do mangá deu lugar às cores e sons de uma animação deslumbrante. A melancolia dos personagens continua presente. Afinal, o que é ser humano?
O Assassino
3.3 515The Killer parece mais o filme de estreia de um iniciante promissor do que um do veterano David Fintcher. Bem feito, mas super preguiçoso.
Planeta dos Abutres (1ª Temporada)
4.4 46 Assista AgoraCriação de mundo incrível. Personagens instigantes. Belíssima trilha sonora.
Gêmeas: Mórbida Semelhança
3.5 42 Assista AgoraGêmeas – Mórbida Semelhança (Dead Ringers) é uma série baseada no filme de Cronenberg. O que parecia ser uma péssima ideia se mostrou uma grata surpresa. Uma produção que quebra estereótipos e expectativas sobre a condição feminina. Mulheres fora da curva em luta contra um patriarcado brutal. Mesmo que suas batalhas tomem rumos pra lá de questionáveis. Rachel Weisz tem o papel (duplo) de sua vida como as irmãs Mentle. Os diálogos são afiadíssimos. E a montagem arrojada eleva o poder e o suspense da narrativa. Mas infelizmente nem todo o potencial da série é aproveitado. O desenvolvimento de personagens relevantes fica pelo caminho. E subtramas importantes foram mal resolvidas. Além do final apressado e inverossímil. De qualquer maneira, Dead Ringers é uma série impactante que merece ser vista.
Atlanta (4ª Temporada)
4.4 53 Assista AgoraAs duas primeiras temporadas de Atlanta são brilhantes. Donald Glover e sua galera souberam criar uma série impactante sobre o que é ser negro nos EUA. Temas relevantes e difíceis são levantados, mas sempre de maneira criativa e inesperada, criando assim a marca registrada da série: o surreal, o bizarro que toma conta da narrativa, nos pega de surpresa e escancara a questão social ou existencial numa abordagem única. E o conceito da série é aprimorado pela sofisticação da produção de cada episódio. Roteiro, atuações, fotografia, montagem, direção de arte, trilha sonora, tudo contribui para que Atlanta se torne um marco da televisão, no mesmo patamar de outras grandes obras (Sopranos, Mad Men, Succession, Twin Peaks).
O problema é que Atlanta sofreu algo parecido com os rumos de Westworld, uma série que mostrou algo novo, fez sucesso, criou expectativa, mas acabou caindo de qualidade. O caso de Westworld é mais decepcionante. No final das contas, as temporadas 3 e 4 de Atlanta são bem irregulares, só que ainda apresentam momentos de excelência. O último episódio da série é mais do que digno. Valoriza o que Atlanta teve de melhor em sua perspectiva de mundo maluca, autoconsciente e melancólica.
Pequena Mamãe
3.8 87A diretora do excelente "Retrato de uma Mulher em Chamas" nos apresenta uma obra singela sobre o tema da maternidade. Não é um filme para explicar, e sim para sentir. A atuação das duas meninas de oito anos é impactante. Mas o filme poderia ter mais uns vinte minutos para desenvolver melhor o personagem da mãe.
Oppenheimer
4.0 1,1KPara um diretor, a armadilha das cinebiografias se dá quando um ou mais desses fatores estão presentes: falta de ambição estética, didatismo engessado e excessivo, e distorção dos acontecimentos ao ponto de questionarem a credibilidade do filme. Mas existem exemplos que subvertem tais regras de forma brilhante, como Não Estou Lá, de Todd Haynes, uma cinebio de Bob Dylan infiel aos fatos, porém fiel às várias facetas do artista. No caso de Oppenheimer, Nolan buscou um meio termo entre ousadia e convenção.
Podemos dizer que Oppenheimer é parte independente, parte filme de estúdio. Como co-produtor, roteirista e diretor, Nolan queria total controle sobre a produção para aplicar sua cartilha cinematográfica. Todas as qualidades, defeitos e cacoetes estão lá. No entanto, o que ficou evidente foi a evolução do poder narrativo de Nolan. Para falar sobre J. Robert Oppenheimer, o projeto Manhattan e a criação da bomba atômica, o cineasta sabia que não podia ser leviano, não podia empregar um tom hollywoodiano demais, como em Uma Mente Brilhante (um delírio sobre a vida de um matemático vencedor do Nobel). E também o filme não podia ser tão sombrio que afastasse o público médio. Porque Nolan precisava e almejava um sucesso de bilheteria considerável. Então ele decidiu fazer do sombrio um espetáculo. Essa é sua maneira de fazer cinema com montagem arrojada, atuações vigorosas, trilha sonora retumbante, fotografia épica. Por isso, em Oppenheimer, Nolan recalibrou seu repertório a favor do tema. Procurou entender e representar, da maneira mais criativa e menos óbvia possível, não só a vida e a obra, mas a mente de uma figura complexa e trágica. E o espectador tenta imaginar, tenta especular quem foi essa pessoa por dentro por meio de imagens realistas e abstratas, e pelo olhar, pelo rosto e pela voz de tom aveludado de Cillian Murphy.
Se um cineasta como Paul Thomas Anderson, de O Mestre e Sangue Negro, dirigisse Oppenheimer seria outro filme. Talvez fosse ainda mais duro, ainda mais perturbador, mais silencioso, menos convencional, porque existe até um vilão, um nêmesis na história. Agora é inegável que, ao que se propôs, Nolan conseguiu dirigir seu filme mais maduro.
Barbie
3.9 1,6K Assista AgoraBarbie é um filme divertido, emocionante e afiado, mas também problemático. A diretora e co-roteirista Greta Gerwig se saiu bem diante de um tremendo desafio com cheiro de cilada. Como fazer um filme decente sobre a Barbie? A solução foi a sátira. Claro que há aqui um pouco de tudo, comédia, drama, musical, ação, fantasia, uma mistura que nos leva a uma aventura filosófica sobre a existência da mulher no mundo. Não como ideia, abstração, mas como alguém de carne e osso, com dificuldades reais numa sociedade patriarcal que precisa mudar não só em prol da sanidade das mulheres, mas do mesmo modo pela sanidade dos homens, lutando-se contra qualquer tipo de padrões tóxicos de feminilidade e, principalmente, de masculinidade.
As referências estéticas e conceituais de Barbie são muitas: O Mágico de Oz, Katharine Hepburn, Doris Day, Genne Kelly, Jerry Lewis, Fellini, Hitchcock, Jacques Demy, Jacques Tati, 2001, Spielberg, Chaplin, Tim Burton, Almodóvar, Grease, O Show de Truman, Splash, Os Embalos de Sábado à Noite, Matrix e outras. Mas, no final das contas, Gerwig fez um filme com ideias e estéticas próprias. Mesmo sendo baseado num produto icônico e tão valioso como a boneca Barbie. A força do filme está nos seus diálogos, performances e imagens quando atingem o auge da sátira, com as piadas e gags mais devastadoras. Ou em momentos mais tocantes, durante crises existências da Barbie, por exemplo, culminando num desfecho catártico. Porém a estrutura do roteiro é convencional, seguindo bastante o passo a passo da jornada do herói. E poucas atuações realmente se destacam. Há atrizes e atores incríveis que mal abrem a boca. Às vezes, fica a sensação de muita correria, muito conteúdo para caber num filme de menos de duas horas.
Margot Robbie é uma Barbie cativante. Ryan Gosling é um Ken perversamente hilário. E a produção é deslumbrante, especialmente nas cenas passadas na Barbielândia, com o uso criativo de cores, músicas, cenários e enquadramentos. Mas não podemos esquecer que o filme foi autorizado pela Mattel. A autoparódia foi uma jogada arriscada que deu certo, ressignificando a marca Barbie após uma histórica queda de vendas da boneca. Esse filme ainda vai continuar gerando muitos debates sobre suas intenções, mensagens e limites. Afinal, até onde vai o feminismo da Barbie?
The Flash
3.1 749 Assista AgoraA incrível história do filme que é divertido mas é ruim.
Treta
4.1 313 Assista AgoraTreta (Beef), na Netflix, é uma série esquisita. E foi por isso que gostei tanto. Teve uma grande repercussão pela combinação bastante acertada entre comédia nonsense e drama sombrio. Vemos aqui um elenco majoriatamente asiático tirando sarro e subvertendo estereótipos. Steven Yeun e Ali Wong interprertam protagonistas antipáticos, mas tridimensionais. Além de termos outros personagens igualmente bizarros e humanos. O showrunner, Lee Sung Jin, soube dar uma estética comteporânea e cinematográfica (afinal, é uma produção da A24) a essa série que já fez história.
Black Mirror (6ª Temporada)
3.3 602Reinventar-se não é o problema, e sim não executar bem essa mudança. Apenas os episódios Loch Henry e Beyond The Sea me causaram algum impacto. Produção de primeira, só que, no geral, os roteiros e as atuações ficaram devendo.
Black Mirror (5ª Temporada)
3.2 959O primeiro episódio é bom. O segundo tem um potencial desperdiçado. E o terceiro é constrangedor; o pior episódio de Black Mirror ever.
Homem-Aranha: Através do Aranhaverso
4.3 522 Assista AgoraAssim como "Duna", "Através do Aranhaverso" só poderá ser avaliado mesmo, em sua totalidade, quando a parte 2 sair. Mas que parte 1 sensacional!
Succession (4ª Temporada)
4.5 219 Assista AgoraChega ao fim uma das melhores séries de todos os tempos. Sem exagero. A saga da infame família Roy termina com um gosto amargo para a maioria dos personagens. Mesmo vencendo, muitos saem de cena com uma sensação de derrota. Avassaladora para uns, mais assimilável para outros. No final, o grande vencedor foi o capitalismo e o maior perdedor foi o povo, as pessoas “comuns”. Afinal, a série é um ácido espelho do mundo real, no qual a vida de bilhões de consumidores/cidadãos/eleitores fica à mercê das vaidades, caprichos e interesses de alguns poucos magnatas, de algumas poucas famílias.
O fascinante em acompanhar Succession é que o criador da série, Jesse Armstrong, não leva essa gente rica a sério, mas sabe muito bem os danos que elas podem causar. Além disso, temos uma produção impecável, com todos os elementos convergindo para entregar ao espectador uma sátira ou dramédia de alto nível.
O grande trunfo aqui são seus personagens. Roteiro, fotografia, montagem, trilha sonora, tudo faz com que as atuações se tornem ainda mais marcantes, em suas sutilezas e brutalidades.
Em Succession, mais do que glamurosos, os ricos são patéticos em seus excessos, sem escrúpulos, imaturos, malignos e ainda assim muito humanos. São pessoas desprezíveis enfrentando dramas reais. Você não torce por ninguém (ou não deveria). Só quer ver o circo pegar fogo nessa mistura de um The Office dos endinheirados com um Game of Thrones corporativo.
Noites Alienígenas
3.4 56Primeiro longa-mentragem produzido no Acre, Noites Alienígenas é um retrato vigoroso de uma realidade esquecida. O filme se passa na periferia da capital Rio Branco. O cenário amazônico é transformado pelas novas rotas do tráfico e a chegada de facções criminosas de outras regiões. Jovens já negliegenciados, entre amor, sexo, drogas, batalhas de slam e dramas familiares, tentam realizar seus sonhos, mudar de vida.
O diretor e roteirista Sérgio de Carvalho é um paulista há muitos anos radicado no Acre. Esta é sua estreia em longas. Entre erros e acertos, ele mostrou conhecimento de causa e talento para filmar as quebradas, paticularidades e culturas daquele trecho da região norte. Destaque para as atuações do sempre excelente Chico Diaz, da pernambucana Joana Gatis, do rapper acreano Gabriel Knoxx e o amazonense Adanilo.
O elemento de ficção científica cabe a interpretações.
Guardiões da Galáxia: Vol. 3
4.2 804 Assista AgoraDepois de Endgame, o MCU não foi mais o mesmo. E não estou falando em uma nostalgia de algo que acabou tão recentemente. Mas de fato os filmes seguintes não mostraram o mesmo vigor e carisma dos anteriores (descontando bombas como Thor 2 e Era de Ultron).
Guardiões da Galáxia 3 é um dos poucos acertos atuais da Marvel. Consegue manter o humor do primeiro filme e conta uma história de origem melhor do que no segundo, com maior impacto emocional. Aliás, as cenas do passado de Rocket tem uma pegada de terror digna de um Sam Raimi ou Clive Barker.
A saga dos heróis mais sem-noção e fofos do MCU termina de maneira bem satisfatória.