Visceral e perturbador. Apesar de o filme exaltar os americanos como bons e tratar os turcos como porcos de uma maneira muito maniqueísta, o que pode causar pensamentos e sensações conflitantes, ainda mais nos dias atuais, ainda levo em consideração de que este modo de ver as coisas é de Billy, o protagonista, que, só lembrando, comete um delito considerado grave nesses países. Mas a questão aqui é o filme em si, e ele é estupendo no modo visceral como conta essa história real: seja no modo torturante que o roteiro de Oliver Stone nos mostra a passagem dos anos na prisão turca e a transformação de um homem neste ambiente enlouquecedor; seja pela parte técnica - e Alan Parker é um diretor de mão cheia; ou ainda pelas atuações que externalizam a loucura impregnada na alma dos personagens. Filmaço. Mas não recomendo que assistam quando estiverem deprimidos, pois é arrasador em sua crueza.
Dirigido por Chris Columbus, conhecido por filmes infantis, Harry Potter e a Pedra Filosofal é a grande introdução de muitos ao mundo mágico criado por J. K. Rowling. Claro que o livro já era uma febre, mas foi com a estreia da adaptação para as telonas, em 2001, que muitos foram convidados a participar deste mundo repleto de aventuras, magia e segredos. Confesso que gostei do primeiro filme, quando o vi na escola em 2002, porém não me fisgou de uma vez, até a noite em que vi o segundo filme (Harry Potter e a Câmara Secreta).
O primeiro filme é muito bom, e ouso dizer que é decente como adaptação do material original, com mudanças naturais aqui e ali, algumas regras do próprio universo do livro sendo quebradas em prol do andamento do filme, e algumas pontas soltas (não me refiro ao artifício do foreshadowing, muito bem utilizado por Rowling ao longo da saga, mas ao deixar de lado algumas pequenas questões contidas nesta primeira história, como, por exemplo, quem foi que deu um certo item de presente ao Harry no Natal, algo que o livro responde claramente, introduzindo a importância de determinado personagem para a saga), mas a essência da história está ali, e é bem contada dentro do primeiro filme em si.
Como adaptação, o filme é muito bom, mas ainda não é certeiro em sua execução. Tecnicamente, ficou um pouco datado, tanto em, seu visual como na execução dos efeitos. A direção de Columbus sustenta bem o filme, tornando-o chamativo e envolvente, e transmite um tom infantil adequado à primeira história; porém, não é uma direção inventiva, um ponto que pode ser relevado se você considerar que não havia ainda toda uma referência visual anterior aos mecanismos e regras daquele universo, que não fosse o livro. Digamos que ainda estavam para encontrar um tom mais certeiro (algo que melhora um pouco mais no próximo filme). O roteiro do filme, muito semelhante ao livro neste sentido, salienta o fator episódico desta primeira história, com o mistério sendo descoberto por acaso apenas porque Harry e seus amigos o procuraram, diferente do que se convencionaria nos demais episódios, com os perigos e mistérios procurando Harry.
Quanto ao elenco, há uma galeria de monstros britânicos no elenco adulto, com personagens que, em suas maiores ou menores aparições, são figuras marcantes e naturais a este mundo, sendo difícil imaginá-lo sem eles.
Quanto ao elenco infantil, digamos que cumprem bem sua função, para a idade, mas ainda é possível notar que eram novatos ali, a julgar por suas reações a cada descoberta naquele mundo. Mas, considerando que tudo ali era novidade para eles e para quem assiste, vejo que este detalhe casa bem com o fato de que também somos novatos. As atuações em si não são muito boas, mas vale destacar o trio principal.
Há quem diga que Radcliffe é insosso como Harry, mas particularmente, depois deste tempo, não consigo imaginar muito outro em seu lugar. Ele entrega um Harry que é tipicamente um garoto de sua idade, deslumbrado com a grande descoberta de sua vida (ser um bruxo) e ainda reagente às possibilidades de tudo aquilo e aos acontecimentos, uma postura que se altera no filme seguinte, com o Harry mais estabelecido como pertencente ao mundo mágico e suas regras.
Grint nos apresenta um Ron Weasley ainda não tão brilhante, mas já carismático e engraçado, sendo em alguns bons momentos o alívio cômico do trio.
Watson é a Hermione. Ela transmite muito bem aquele ar pretensioso de quem pensa que sabe sobre tudo. Dos três, é quem mais se transforma ao longo do filme.
Vale também destacar a atuação de Tom Felton, com o o odioso Draco Malfoy, mas que aqui ainda corresponde a um garoto de sua idade, não tendo apresentado de vez o seu lado mais obscuro (se bem que no livro há um diálogo entre ele e Harry, que já revela um pouquinho mais do que foi apresentado no filme sobre os preconceitos de Malfoy).
Harry Potter e a Pedra Filosofal é um filme bom em seu tom de aventura infantil com muitas possibilidades a serem descobertas, mas ainda não é certeiro na execução e em seu diferencial criativo em relação a outros tantos outros filmes de aventura. Porém, é um bom convite a um mundo (até então novo) de pura magia. Já é cativante e muito envolvente. Subiu no meu conceito com o tempo.
Joe Gideon, diretor e coreógrafo de musicais se vê colocando toda sua vida de excessos em perspectiva, e isto é mostrado entre diálogos e memórias divididas com a Morte e por meio de números musicais.
O filme é dirigido por Bob Fosse, que é um conhecido diretor de musicais, sendo este ainda o primeiro filme dele que assisti. De qualquer modo, vou atrás dos demais.
Bob Fosse tem total domínio na direção de um musical que flerta com o onírico em muitos momentos, mas sem o exagero cafona de musicais atuais ou a pompa de musicais clássicos, num bom equilíbrio entre onírico e real. Tudo é dosado e contextualmente muito bem encaixado. As pessoas aqui cantam e dançam porque estão de fato ensaiando e apresentando números musicais no palco, o que dá à estrutura um efeito de metalinguagem executado de maneira eficiente. All That Jazz ainda parece ter um quê de autobiográfico, além de possuir traços de Oito e Meio do Fellini, o que indica um filme não original, mas ainda longe de ter sido prejudicado por isso. É um filme carismático, delicioso de ser assistido, sexy e ousado quando quer ser, com coreografias que valorizam o corpo dos atores, e feito com o devido cuidado.
O roteiro, auxiliado por uma edição ágil que alterna entre passado e um presente feito de expectativas claras, mas que se alongam até consumir a vida do protagonista, é simples na história que quer contar, mas se estrutura na complexidade da personalidade de Gideon. Temos aqui um estudo de personagem: a vida de um homem consideravelmente brilhante na vida profissional, mas uma negação na vida pessoal, ainda que não em sua totalidade, o que torna o personagem interessante de acompanhar, longe de ser uma figura desprezível, apesar de suas atitudes que se alternam entre não ligar para muita coisa e se importar o suficiente com quem ainda é importante em sua vida. Estruturalmente, o roteiro se divide entre os 5 estágios da perda/ do luto, sugeridos por Elizabeth Kübler-Ross, e que são: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Vemos cada um desses estágios em tela a partir do momento em que Gideon se vê tomado pelos problemas de saúde. Temos aqui um roteiro previsível, mas estruturado de maneira inventiva.
Para além do roteiro, nas imagens, nas coreografias e nas canções há todo um deboche no tom feel good e otimista das apresentações, sobretudo do meio e mais para o final, conforme os números musicais se relacionam ainda mais aos rumos seguidos pelo Gideon. O único porém é que não fiquei com nenhuma das canções na cabeça, nem mesmo aquela que foi ensaiada muitas e muitas vezes, mas penso eu que o filme não tem mesmo a intenção de ser um musical que se pauta por ter canções marcantes, mas de utilizar as canções como recurso narrativo, puro e simples, o que não me faz tirar pontos. Não é um musical por musical, mas a história de Gideon.
Falando em Gideon, o trabalho de Roy Scheider na atuação é muito boa. Seu personagem está num tom equilibrado. Ele imprime em Gideon uma personalidade dividida entre o cafajeste não exagerado ou abertamente orgulhoso de suas atitudes e alguém que ainda se apega à vida, o que se torna ainda mais evidente quando entra a figura da Morte, interpretada por Jessica Lange. São poucas as suas aparições, mas são todas muito marcantes, envoltas em puro onirismo, pontuando cada passo inevitável dado por Gideon em sua direção. Lange imprime em sua personagem um aspecto sedutor, mesmo sendo quem ela é. Você consegue aceitá-la como Morte. E é tão bom ver Lange num filme muito melhor que a sua estréia naquela versão capenga de King Kong. hehehe.
All That Jazz é um musical mais teatral e menos cotidiano, apesar de tratar ironicamente sobre a vida e a morte, feito sem os exageros comuns do gênero e que faz de seus números musicais uma forma inventiva de contar uma história.
Dirigido por um Scorsese um pouco mais inspirado em relação aos dois filmes anteriores, Mean Streets é um filme que ainda sofre ao apresentar um roteiro muito simples que não nos diz muita coisa, mas não sendo ainda este o seu maior problema, e sim o seu ritmo arrastado.
O filme em sua maior parte nos passa uma impressão de que não está realmente contando uma história específica, mas cumprindo a função de retratar um ambiente e seus costumes sob o olhar de personagens duvidosos, por meio de blocos de situações que são um tanto rotineiras para eles. Existe, sim, uma história, envolvendo os personagens de De Niro, Keitel e Robinson, mas que se esconde no cotidiano de uma galeria de personagens pertencentes a um mundo ruim.
Apesar de arrastado, o filme nos prende pelos ótimos diálogos, que nos prendem ao filme, e também pelo carisma de seus personagens. De Niro nos apresenta um bom trabalho no papel de Johnny Boy: um jovem abobalhado e inconsequente que ainda assimarruma seus próprios meios duvidosos de sobrevivência; Keitel está ótimo como Charlie: um homem que ao mesmo tempo em que tem uma busca pessoal (seus questionamentos religiosos enriquecem sua personalidade), preza por se preocupar e cuidar do Johnny Boy. Teresa (Robinson), prima de Johnny, é a personagem que mais sofre ao se ver envolvida pelos sentimentos amorosos que nutre por Charlie, quando este se vê afundado nos trambiques e perigos daquela vida de máfia. Outros personagens, alguns com mais e outros com menos importância, também possuem seu destaque e movem a trama.
Apesar de arrastado, Mean Streets já nos dá uma mostra mais evidente do grande diretor que Scorsese se tornaria algum dia. E o resto é história... É um bom filme, mas que poderia facilmente ter sido um pouco mais curto, pela simplicidade de seu roteiro.
Explorando um subgênero do terror ultimamente em voga (mas nada novo), que é o de assassinos mascarados invadindo residências, You're Next é um filme que começa um tanto moroso, com um clima quase nulo na construção de seu horror, além de ter um elenco que precisaria de umas aulinhas a mais de atuação, tornando os personagens pouco carismáticos. O filme tem um aspecto de cru neste começo; não chegando a ser amador, mas já nos mostrando que o filme não vai nos apresentar, cinematograficamente falando, algo especial.
O primeiro ato é simplesmente desinteressante. Mas é só aparentemente que o filme demora a engrenar, e logo melhora muito com a chegada de todos os personagens, apesar de alguns não serem devidamente apresentados antes de a coisa ficar feia.
A partir daí temos um filme bom não somente em suas muitas cenas gore (que ocorrem em meio a um senso de urgência e de perigo à espreita, que funciona muito bem aqui), como também em quebrar expectativas, mesmo que ainda não apresente em sua totalidade cenas que fujam de clichês, pois o filme recorre aos clichês em diversos momentos; mas a diferença está em sua protagonista, que foge da figura de donzela em perigo! Que o cinema tenha mais personagens como a Erin! Ela é simplesmente maravilhosa!
Como um exercício de tensão, este filme funciona muito bem quando resolve brincar. O roteiro em si não é dos mais inspirados, mas ainda apresenta algumas reviravoltas interessantes, que no final levam a um sentido maior, mas ao mesmo tempo você se pega pensando: Não, simplesmente não. Quando tudo estava sendo devidamente explicado, eu me constrangi quando certo personagem tentou se explicar. É algo que soa tão absurdo, que você se pega se sentindo constrangido, ao mesmo tempo em que pensa no quão doentio aquilo é. É um filme que, pelo menos para mim, conseguiu funcionar por se assumir absurdo.
Tecnicamente não é um filme nada impressionante. A câmera não para de se mover, mesmo quando os movimentos seriam dispensáveis, além de se sacudir bastante nas cenas de tensão. Não funciona indo por aí. Mas no conjunto da obra, é um filme bom e também bem divertido a partir do momento em que ele deixa de lado a enrolação do primeiro ato (normalmente detesto esta expressão "enrolação", mas pelo menos neste filme eu senti isto). Temos também uma trilha muito bacana de sintetizador, bem anos 80, perto do fim.
É mais um daqueles casos em que aumento a nota conforme o filme chega perto do fim. Eu me diverti bastante. Poderia ficar com 3 estrelas e meia, mas gostei o suficiente para arredondar. hehehe.
Eu não tinha assistido até o dia 1 de janeiro de 2017, justamente na Temperatura Máxima da Globo. Pouco conheço das HQs, então levarei em consideração o que só vi no filme. E nem imaginaria que este fosse o meu primeiro filme do ano, mas como estava sem muito o que fazer, resolvi ver TV. hehehe.
Bom, não achei que foi aquela porcaria toda que dizem. O Hal Jordan de Ryan Reynolds não é um dos heróis mais heroicos, mas ele é até bem apresentado e desenvolvido dentro da falta de pretensão deste filme, e ainda possui algum carisma, mesmo que mínimo. O conceito da vontade como um poder forte que tem como o ponto fraco o medo é bem interessante. Tecnicamente, o filme é excessivamente bagunçado nos efeitos, tornando-se poluído; eu sei que o verde é a cor essencial aqui, mas em alguns momentos o filme peca pelo excesso. O Parallax naquele CGI todo, então, é inacreditável como ameaça... Não, não, não. Não serve. E o antagonista humano, Dr. Hector, não é de todo ruim no início, mas ele se torna caricato ao extremo quando finalmente mostra do que é capaz, o que deixa o filme num nível quase igual aos filmes do Batman de 1995 e 1997. Quase. Chegando bem perto.
Ainda assim, eu consegui me divertir e me envolver pelo filme o suficiente para uma tarde preguiçosa.
Finalmente consegui acompanhar um filme recém lançado! E nada melhor que fazer isto revisitando um território familiar, como o universo mágico de Harry P...
Um momento! Já começo dizendo que não se trata de mais um filme de Harry Potter, mas de uma expansão do mesmo universo, indo além do que vemos pelos olhos do menino que sobreviveu. Ainda que vejamos o que já conhecemos, há acréscimos não explorados anteriormente pela mitologia. Há também menções importantes a coisas conhecidas, que fazem a gente sorrir, sentindo-se confortável por conhecer tudo aquilo. E aqui temos quase a mesma experiência de acompanharmos esta história como uma novidade, apesar de ser conhecida. Com o roteiro original de J. K. Rowling (ainda que tendo como base o curto catálogo de criaturas mágicas de mesmo título) e a direção familiar de Yates, nota-se aqui um trabalho que excede as pretensões de um mero caça-níquel, tornando-se uma história realmente boa de acompanhar, ainda que, pelo menos inicialmente, não tenha o mesmo peso e carisma da série principal, o que não é em si um defeito; é apenas um conceito diferente.
Pode-se fazer uma comparação com o andamento da série Harry Potter: Animais Fantásticos e Onde Habitam, apesar de já nos inserir numa trama de exigência mais imediatista, pois não precisa nos apresentar as regras do universo mágico, inicia essa nova série com uma história que oscila entre o divertido e até ingênuo com momentos em que o tom pende mais para o sombrio, mas não ainda num nível que vemos a partir de O Prisioneiro de Azkaban, por exemplo.
Sobre a história, como eu disse antes: inicialmente, não tem o mesmo peso da série principal, com a premissa até simples de Newt Scamander ter de correr para resgatar as criaturas mágicas que fugiram de sua maleta em plena New York antes que causem maiores problemas e exponham o mundo bruxo; mas, aos poucos, considerando que já no início também somos inseridos ao contexto de um grande perigo, o filme se alterna em blocos que dividem o filme entre a aventura de Scamander e a exploração de um conceito novo (do qual não falarei, preferindo que vejam por si). Às vezes há a impressão de que essas duas linhas de história não se conversam, apesar de se convergirem em determinado ponto da trama. A narrativa não é de todo perfeita, mas segura nossa atenção e a história é bem contada, abrindo brechas para as continuações. Outro aspecto interessante do texto está na contextualização de uma época, debatendo temas importantes como preconceito, repressão, entre outros, ao mesmo tempo em que esses temas ecoam em relevância até os dias de hoje, o que é lamentável, não por causa do filme, mas por ser ainda necessário levantar esses temas, numa demonstração de como ainda somos bem falhos.
O filme, em termos técnicos, é estupendo, o que não é uma novidade ao se falar deste universo no cinema. David Yates, apesar de suas conhecidas limitações na direção, consegue ser bem inventivo aqui, com bons movimentos e enquadramentos de câmera, o que beneficiou na experiência com o 3D, que, mesmo não sendo um filme que necessite disso para ser melhor aproveitado, conseguiu explorar bem o recurso; há uma boa profundidade aqui, não chega a desperdiçar a tecnologia. Também destaco o retrato bem feito da época (1926), embora exista ainda a familiaridade do vestuário dos bruxos, apesar da ausência dos uniformes, e de não serem tão excêntricos aqui.
Bom, não vou entrar no mérito da qualidade das atuações, pois só tinha a cópia dublada para eu ver, mas pelo que consegui captar, o elenco é muito bom.
O Newt Scamander do Eddie Redmayne é carismático quase num nível parecido ao do Harry; ele não chega a ser um protagonista heroico em sua essência, mas suas qualidades de caráter, somadas com o seu talento em quebrar regras e agir pelo bem de seus objetivos, ainda que seja bem atrapalhado, tornam seu personagem mais imediatamente ágil e comprável que o Harry logo de cara. Mas, repito, é outra história; comparei sem querer comparar. hehehe.
Os outros integrantes do quarteto principal são muito interessantes, sendo o destaque o o Jacob Kowalski, um trouxa ou no-maj, que por sorte do destino é lançado para dentro desta história envolvendo magia. Em certos sentidos, ele é o que a gente, fã de Harry Potter, gostaria: de viver essa história. hahaha. Ele aparentemente serve de alívio cômico, mas não se resume a isso, tendo um arco próprio com a formação de um interesse romântico, mas não somente para embelezar, e sim sofrendo da influência de implicações do que está acontecendo ao redor.
Animais Fantásticos e Onde Habitam possui o potencial de levar adiante a mitologia, é um ótimo entretenimento, ainda que tenha muito a contar pela frente. E também souberam desenvolver a história sem que queimassem todas as possibilidades. Estava com saudades disso.
Dou um pequeno desconto pelo fato de minha experiência com este filme ter sido prejudicada pela baixa qualidade da cópia que vi, mas, francamente, é um filme bem inferior em relação ao primeiro.
Enquanto A Saga do Judô se focava mais nos aspectos humanos de crescimento do protagonista, tendo a luta como o meio, este segundo se concentra muito na propaganda a favor das artes marciais japonesas, o que não é em si um problema, mas que, pelo menos para mim, me foi apresentado de uma maneira um bocado desinteressante. Interessante ver como, a julgar pelo ano de lançamento do filme, que marcou o fim da Segunda Guerra, existe um senso de revanchismo do Japão sobre os Estados Unidos, ainda que de maneira elegante, nas demonstrações da supremacia das artes marciais japoneses contra o espetáculo de brutalidade mais comercial do boxe.
Apesar de nos apresentar um filme pouco inspirado, Kurosawa ainda nos presenteia com um bom domínio sobre as imagens que vemos. Ele sabe nos cativar com sua câmera, em como esta capta a movimentação de seus personagens, não somente nas cenas de ação, como também quando são enquadrados em momentos mais silenciosos e até introspectivos. Mas, apesar de boas cenas, com destaque para a luta na neve, aqui eu senti que houve um peso de enfado em quase todo o filme, algo que não senti com o primeiro.
Antes, quero justificar as quatro estrelas que dei a este filme.
Em seu segundo longa, Kubrick nos apresenta um filme noir convencional, com uma história bem simples, não sendo das mais inspiradas, mas redondinha o suficiente para nos entreter.
Entretanto, o destaque do filme está nas qualidades de Kubrick como diretor (entre outras funções que o próprio assumiu aqui), que vai desde um melhor trabalho na direção de atores, mesmo que ainda não apresentem atuações marcantes, mas definitivamente superiores aos atores de Medo e Desejo, até um maior apuro técnico e um nível de produção até bem decente. Há enquadramentos em que se nota a boa visão de Kubrick como fotógrafo, como a sequência em que o protagonista está observando a dançarina pela janela e a imagem capta tudo o que ele vê por meio do reflexo no espelho; um enquadramento que a princípio não diz muita coisa, mas que não deixa de parecer naturalmente interessante de ver. Há também um bom controle de ritmo e coreografia nas sequências de ação, em que os personagens se movimentam como pessoas reais se movimentariam, sem perfeição; são sequências em que o silêncio prevalece a maior parte do tempo, o que às vezes faz a tensão oscilar, indo muito mais para o lado do incômodo, como se Kubrick nos torturasse com uma perseguição sem fim.
Outro aspecto interessante é a forma como a história é contada. Temos um filme praticamente todo em flashback, com o protagonista nos revelando tudo aos poucos através do recurso voice over, pouco antes do desfecho que, ainda não sabemos, responderá a questão mais importante do filme, depois de tudo o que ele passa. Mas dentro desta narrativa, quando determinada personagem precisa contar algo, não simplesmente narra os acontecimentos, mas o filme mostra um flashback dentro de um flashback; em outro momento, o filme faz diferente, numa bela sequência em que esta mesma personagem conta uma história sobre sua vida, mas a imagem que vemos não é necessariamente do que ela está contando, ainda que se case de uma maneira bela e diferente com o relato. Não é a invenção da pilha, mas a edição e a forma como o roteiro é montado tornam este filme mais envolvente do que aparenta no início, construído com uma paciência quase lenta na primeira metade, mas que deslancha consideravelmente, quando finalmente um grande ponto de virada acontece, quase que tardiamente, considerando que se encontra na sinopse como se fosse algo mais inicial e imediato na trama. hehehe. Kubrick, aparentemente, sempre fez filmes com uma cadência muito própria.
Não falarei exatamente das atuações, que são razoáveis para boas, mas dos personagens. O casal principal é, de longe, o destaque: é formado em circunstâncias incomuns, e até o fim do filme dificilmente acreditamos neles como um casal realmente apaixonado, e essa dúvida paira no ar até o último instante, mas considero que em termos seja pelas atuações pouco marcantes, e em termos seja intencional; aqui vemos Kubrick até inserindo alguns traços de doçura entre eles, mas com a sua frieza habitual começando a se destacar mais, e assim o casal me parece muito duvidoso. O vilão... Bom, ele não é um vilão que amamos odiar, mas que odiamos totalmente. Ele não possui grandes camadas de personalidade, a não ser a obsessão doentia que ele tem pela dançarina, sendo um vilão que beira ao caricato; mas a raiva e asco que sentimentos dele são suficientes para que o compremos como ameaça.
Pelo conjunto da obra, ainda que não se destaque entre os melhores trabalhos de Kubrick, dou quatro estrelas a este "A Morte Passou Por Perto", pois o avanço em relação ao primeiro me chamou muito a atenção, e é um bom entretenimento. E só pelo confronto no final
entre os manequins, que se transformaram em plateia silenciosa entre protagonista e antagonista, acrescentando um tom de bizarro à cena, ainda mais com aqueles cortes mostrando partes soltas, como que mostrando o que seria deles se fossem atingidos pelos golpes de um contra o outro
este filme vale a conferida. Eu só queria que o encerramento fosse mais Kubrick; achei muito certinho. Mas tudo bem.
De Repente 30 é um filme do qual é muito fácil falar, considerando a sua simplicidade e falta de pretensão, tanto cinematograficamente quanto na mensagem que quer passar. É uma história simples, bem good vibe, bem água com açúcar (pelo menos na superfície), e encabeçada por uma dupla bem carismática (Garner e Ruffalo). E é nisto em que encontramos o acerto do filme. É um dos dois filmes (o outro é Escola de Rock) que eu paro para assistir em qualquer horário que passe na TV, desde que eu possa assistir naquele momento. E não enjoa justamente por causa desta simplicidade.
O filme, apesar de sua falta de maiores pretensões, possui seus méritos.
Há o contraste entre a fotografia nos poucos trechos em 1987 e o restante do filme, em 2004, ainda que a protagonista Jenna acertadamente insira cores e detalhes que nos remetem aos anos 80, destoando daquele mundo inteiramente adulto. A trilha sonora é ótima, com músicas de ambas as épocas dividindo espaço.
O ritmo do filme é preciso entre seus três atos, que não destoam em momento algum uns dos outros, ainda que uma pitada de drama comece a se fazer presente na transição entre o segundo e o terceiro atos.
O filme também se vale pela atuação de Garner, que em todo momento fala com uma voz ligeiramente infantilizada, e também age como uma adolescente, mas também precisando fingir que é adulta; sua personagem tem o tom certo para este filme. As piadas envolvendo esse choque entre a idade que ela tem e a que ela sente ter são muito boas; há alguns momentos que beiram ao politicamente incorreto, mas possuem uma leveza natural, que faz com passem batidos como possivelmente problemáticos. Nada que exatamente nos leve às gargalhadas, mas o humor do filme nos segura confortavelmente. Não ofende a ninguém, e ainda funciona razoavelmente bem.
Mas o destaque fica nas mensagens, bonitas e simples, porém não menos importantes, sobre crescer, sobre voltar no tempo, sobre não estarmos preparados para a vida adulta, o que deixamos para trás, entre outras mensagens, que dão o tom deste filme, proporcionando ao espectador uma experiência tranquila, boa e confortável. Diversão de vez em quando vai bem. E De Repente 30 filme cumpre bem a sua proposta simples.
Rogério Sganzerla, mais um cineasta que começou com o pé direito, e ainda tão jovem: com somente 22 anos. Ele nos apresenta aqui um trabalho maduro e muito consciente de suas intenções e da execução como pretendida.
É um exemplar do cinema brasileiro que, mesmo quase 50 anos depois, parece tão moderno e distante de uma repetição de conceito que pudesse ser outra vez satisfatório, em qualquer outro filme que viesse depois deste. Temos um filme que quebra com as convenções narrativas, num liquidificador de ideias conectadas aos aspectos técnicos e visuais, ao mesmo tempo que não abre mão delas para dar coerência ao que vemos. É um filme que gosta de brincar, mas havendo ainda muita seriedade nas entrelinhas e na experiência audiovisual que acompanhamos.
Repleto de referências ao momento do Brasil de 1968, o filme coloca na figura do Bandido da Luz Vermelha, figura que aterrorizou principalmente a sociedade paulista com um modus operandi que mais revela uma personalidade inconstante e imprevisível em suas ações, um espectro e símbolo daquele período; apesar de ele ser apenas a ponta do iceberg em meio àquele cenário político e social. Pode-se dizer que, no filme, ele era a personificação do bicho-papão daqueles tempos. E apesar do longa retratar a jornada criminosa desta figura, o filme não se concentra apenas em suas ações, mas nos efeitos de suas ações sobre os outros personagens.
O filme se torna dinâmico e ao mesmo tempo ácido na forma de sua narrativa bem criativa. Há voice over dos pensamentos do bandido; há a narração radiofônica bem sensacionalista, e a combinação de vozes como num jogral, que dá todo um tom cômico e alarmante ao que vemos; há os letreiros luminosos com notícias e frases de efeito (que, aliás, são uma marca especial deste filme). A edição não apenas dita o ritmo aqui, como amplia de significado as imagens que vemos, pois, muitas vezes, não estão sincronizadas com o que ouvimos. E isto não é um defeito, mas uma qualidade que realça o emaranhado de significados e simbolismos, assim como a complexidade da personalidade e das atitudes de João Acácio. É um filme de camadas sobre camadas, que valem ser analisadas com calma.
O destaque na atuação fica para Paulo Villaça, no papel do bandido. Ele é a personificação perfeita da instabilidade humana. Ele não tem um personagem de um tom só, mas as demais nuances são bem sutis. O personagem fica mais completo ao ser extrapolada a figura atuada, mas ao captar todas as demais informações que temos sobre ele ao longo da narrativa.
Apenas o final me parece um tanto estranho demais, além de corrido, e isso pesou um pouco na minha avaliação, mas nada que comprometa as qualidades anteriormente estabelecidas.
Mas posso dizer com toda a certeza de que temos aqui um grande exemplar do cinema brasileiro. Um filme com conceitos e execução tão diferentes de muito do que já vi, principalmente no cinema nacional, e que nos transmite modernidade ainda hoje. Bom, as coisas não mudaram tanto assim...
Em Moscou Contra 007, temos as consequências da ameaça de Dr. No, do filme anterior, e aqui o filme já começa nos apresentando logo de início toda uma situação pela qual James Bond passará, e que apenas ele não sabe. Tanto que o próprio Bond não aparece pelos primeiros 15 a 17 minutos de filme, e somos preparados para um terreno já criado.
A sequência inicial é misteriosa e inicialmente impactante; apesar de que, pelo menos para mim, me pareça irreal que alguém morra numa simulação como aquela. O primeiro ato se constrói bem lentamente, mas sem ficar desinteressante, pois recebemos informações que serão cruciais para o que virá depois.
O filme engrena para valer a partir do segundo ato, e temos cenas de ação, suspense e desconfiança que nos prendem a atenção e faz o espectador ansiar pela sucessão de acontecimentos, até o seu desfecho.
A direção de Terence Young é segura e nos rende sequências mais bem equilibradas de ação e suspense, ainda dentro do campo da espionagem mais simples, sem aqueles tantos apetrechos que se tornariam típicos mais para frente.
O roteiro é bom, melhor que o de Dr. No, muito mais intrigante, o que dá todo o andamento do bom suspense apresentado, mas em alguns sentidos é um tanto confuso. Você capta algumas informações e simplesmente aceita, sem que as explicações fiquem claras o bastante para a compreensão de quem assiste. Não se trata de não entregar um roteiro mastigado, até porque este aqui não é especialmente complexo, mas ele não conecta tão naturalmente suas informações.
Sean Connery está ótimo como James Bond, mantendo o mesmo charme com traços irônicos, bem dosado entre seu senso de humor e a seriedade que o personagem busca ter quando em ação. Porém, em alguns momentos suas atitudes são questionáveis até para o padrão Bond, principalmente envolvendo a Bond Girl da vez.
A bond girl é bem interessante, tanto pela sua beleza e carisma (ainda que ela seja um tanto melosa em muitos momentos, o que acaba por enjoar um pouco), como pela sua dúvida entre seguir com a missão ou não, do qual não entrarei em detalhes.
From Russia With Love segue com a série, conectando-se com o primeiro. Apresenta um avanço em relação a Dr. No, dando aos filmes os primeiros traços de sua identidade própria. Possui ação e roteiro de suspense muito bem conectados. É um filme que vale a pena conferir.
Tive uma das experiências mais inusitadas com este Bugsy Malone, um filme até então desconhecido por mim.
A começar pelo elenco, formado inteiramente por crianças e adolescentes, com uma Jodie Foster ainda bem jovem e no início de carreira. E falarei logo deste aspecto por ser o grande destaque do filme. São crianças em papéis que seriam de adultos, mas que continuam a atuar feito crianças, sem forçarem, o que torna tudo muito orgânico, por mais que o filme não tire de nossa cabeça de que estamos assistindo algo bem pouco convencional. A originalidade do filme se dá muito por este conceito, e isto torna as atuações difíceis de analisar pela qualidade de imitarem adultos, e mais facilmente pela verdade das atuações de todo o elenco infantil. São crianças fazendo papéis de adultos, mas agindo como uma naturalidade própria de suas idades. Imagino que Alan Parker deve ter se divertido muito ao dirigir este projeto.
O filme é todo ambientado num cenário real dos anos 20 e 30, com lugares e objetos verossímeis, mesmo com algumas exceções (como os carros movidos a pedais) e isso eleva a brincadeira de faz de conta a um patamar acima. Pois é disto que o filme se trata: de um grande faz de conta. Não há violência gráfica, ainda que exista uma naturalidade nas ações dos personagens, criminosos ou não, que eu chamaria de violência caricatural, pertinente à proposta aqui. No lugar de sangue há muito merengue, substituindo as balas das metralhadoras. Ninguém morre de verdade, embora a guerra seja para valer; há apenas o baque momentâneo e lembramos que tudo não passa de uma brincadeira. É muito divertido de assistir.
Apesar de ser um faz de conta, contendo alguns traços até bem teatrais, Bugsy Malone é cinematograficamente impressionante. A ambientação, os figurinos, tudo isso é bem fiel aos filmes de gangster e à época retratada. Tem toda uma atmosfera noir num filme em cores, e há um tipo de nebulosidade na fotografia que transforma aquelas imagens em imagens de sonho, fazendo parecer que a imaginação de alguém - provavelmente de uma criança - está projetando aquelas imagens.
O filme possui uma mistura de gêneros, indo de filmes noir, ao romance, comédia e até musical, sendo que este último tem um grande destaque. Alan Parker já mostra aqui o seu talento com musicais. As canções são bem cativantes e deliciosas de escutar, e estão muito bem acompanhadas por belas sequências de dança, que funcionam como vinhetas entre diferentes blocos de filme, e que ainda conseguem se encaixar naturalmente ao todo, nunca parecendo desnecessárias ou artificiais. Existe uma sequência que lembra uma sequência bem famosa de Pink Floyd - The Wall, do próprio Parker, que sairia 6 anos depois. O roteiro em si não tem nada de mirabolante, mas justamente pela simplicidade consegue nos prender ao longo de 90 minutos. E o final... Posso dizer que é genial, mesmo parecendo tão obvio. Não consigo imaginar um final melhor para este filme.
Bugsy Malone é um filme divertido, lúdico, mesmo em um território tipicamente adulto, e que funciona muito bem como uma brincadeira. Provoca no espectador um sorriso e saudade da inocência e da graça de ser criança. Alan Parker acertou em cheio. Não posso dar menos que 5 estrelas.
Interessante como os japoneses costumam estruturar seus roteiros. Quando não são expositivos demais na tentativa de explicar aos espectadores de suas produções, eles incumbem ao espectador que monte a história em sua cabeça.
Aqui, em Horus, temos um exemplar que mistura história simples e linear com algumas surpresas que fazem a trama crescer da metade para o final. E isto, somado aos aspectos técnicos e ao ritmo, torna esta animação interessante de acompanhar, embora bastante regular e longe de envolver o suficiente para fazer a minha nota ser maior, embora as resoluções e algumas mensagens que podemos encontrar nas entrelinhas valham a pena.
Pertencente a fase pré Ghibli, Horus: O Príncipe do Sol não é uma animação que envelheceu bem. A animação possui traços razoáveis, diria que decentes para a época, mas nada espetacular ou marcante. A coloração chega a cansar os olhos, com muitos momentos em tons acinzentados ou monocromáticos, com aparições ocasionais de cores mais ricas; funciona para ressaltar a melancolia presente nas situações e no tipo de ameaça que aquele povo sofre em meio a momentos de descontração ou da alegria dos inocentes, mas cansa os olhos. Eu me peguei com os olhos pesando. Vale destacar momentos em que trocam movimentos por imagens mais estáticas, que, se não são relevantes para a narrativa, no mínimo chamam atenção.
O ritmo também não ajuda muito. O começo é apressado demais, ao ponto em que a apresentação dos fatos não cumpre o objetivo de ser ágil, mas atropelado, causando depois a impressão de que o roteiro queimou suas possibilidades nos primeiros quinze, vinte minutos.
O vilão também não é marcante e suas motivações são muito simples, não havendo um maior desenvolvimento de personagem; o que, aliás, vale para quase todos os demais personagens. O herói aqui é um bom personagem, você sente que ele é destemido em suas atitudes, mas não creio que seja um dos mais marcantes.
Felizmente, o roteiro, como eu disse antes, reserva boas surpresas e reviravoltas, quando eu já não esperava mais.
Um elemento muito presente aqui é a música. Os habitantes da vila todo o tempo cantam e dançam. Vejo nisto um modo de tentarem se animar apesar das dificuldades impostas pelo vilão sobre eles. E é neste ponto em que surge a personagem que considero a mais intrigante e complexa da história: Hilda. Com uma bela e hipnotizante voz, a garota que não é bem vinda a vila alguma é logo bem recebida por aquele povo que adora ouvi-la cantar. É uma personagem em constante conflito consigo mesma e suas convicções a respeito de pertencer ou não a algum lugar, além de outras questões que a tornam uma personagem intrigante de acompanhar.
Temas como bem e mal, egoísmo e altruísmo, querer fugir da luta ou se sacrificar em prol de um bem maior estão presentes.
Horus é assistível. Vale para ver a progressão das animações desta turma que um dia se tornaria SÓ o Estúdio Ghibli, um criador de clássicos. Não vai ficar na minha cabeça por muito tempo como uma animação especialmente marcante, mas é uma boa aventura que vale conferir.
"Por trás de um grande homem, sempre há uma grande mulher." Penso que esta máxima se aplica aos protagonistas deste filme, ainda que de maneira bem distorcida. Pois temos aqui uma história que caberia muito bem no gênero romance, considerando que tanto Bonnie quanto Clyde se completam, possuindo uma química em que não conseguimos separar um do outro, tornando-os uma unidade, apesar de seus traços individuais e facetas que descobrimos conforme eles vivem perigosamente, em fuga constante. E olha só: estamos falando de uma dupla de foras da lei que já existiu.
O filme tem essa capacidade de provocar no espectador sentimentos conflitantes em relação à sua galeria de personagens peculiares. O casal de protagonistas, então, são carismáticos, às vezes atrapalhados, o que nos garante aquele sorriso de quem está acompanhando uma série de aventuras e desventuras. Ao mesmo tempo, a gente sabe que eles fogem e não pararão de fugir até que sejam detidos. Você acaba torcendo para eles, ainda que se lembre de que são personagens que os jornais vendem como perigosos. Este é o grande jogo proposto pelo filme, conforme nos afeiçoamos e vemos de perto e analisamos as pequenas nuances de cada personagem importante neste filme. E os personagens de Boyne e Clyde são interessantes de ler. Mas quero chegar nesta parte depois.
Primeiro eu tenho que falar que este filme é de encher os olhos em seus aspectos técnicos. Temos um filme ao mesmo tempo elegante e clássico, com imagens bonitas que tornam o filme agradável aos olhos, ao mesmo tempo em que o filme subverte algumas convenções da época com uma crueza admirável em momentos tensos, o que viria ser ainda mais comum no cinema dos anos 70. Temos sequências de ação que às vezes provocam a diversão dos personagens, como que desafiando todo o tempo às próprias capacidades de cometerem atos reprováveis, e outras que chocam com a dureza de seu realismo.
O roteiro tem uma estrutura muito bem definida: divide-se em momentos de descanso, com um aprofundamento dos personagens, e momentos de fuga, formando blocos de sequências que parecem se repetir, mas intencionalmente, cabendo muito bem à situação. É também um bom retrato da grande Depressão americana, mas como um pano de fundo, um contexto histórico, sem ser um filme com a intenção de explicar minuciosamente os detalhes da época. O contexto está ali, os personagens reagem às circunstâncias, vemos como as pessoas vivem aquele momento, mas o filme é conduzido como mais um excelente exemplar do gênero policial, em sua maior parte, mesmo que flertando com outros gêneros.
Também há espaço para temas comuns aos personagens principais, como a nostalgia, o afastamento de seu lar e de suas origens, com ímpetos de retorno, mesmo sabendo que não há como voltar atrás. E esses temas se tornam ainda mais importantes, aqui, principalmente por causa da força de seus personagens. Eles entram em cena sempre de maneira inesperada, muitas vezes causando uma sensação de estranheza em quem assiste, mas logo você inclui cada um deles como participantes do jogo. E as atuações também são responsáveis pelo sucesso do filme e da riqueza de seus personagens.
Dunaway e Beatty possuem uma química muito forte, tornando suas performances, assim como seus personagens, dependentes um do outro. Porém, devo dizer que, individualmente, cada um deles consegue expressar muito bem como são. Enquanto Beatty faz um Clyde enigmático, ainda que deixe claro em suas expressões aquele gostinho de ser bom no que faz de mau, com um triunfo no olhar, um jeito debochado de quem está sempre se divertindo muito com as situações, ao mesmo tempo ele é um homem preocupado em agradar e atender aos caprichos e desejos de Bonnie. Faye Dunaway nos entrega aqui a personagem que considero mais rica do filme: ela tem em sua personalidade um misto de entusiasmo em se aventurar e fugir de sua vida comum e uma saudade latente de casa, uma personalidade agradável que oculta picos de frieza. Outro aspecto interessante da atuação de ambos é o nível de paixão de ambos, quando Clyde corre para logo resolver os problemas com Bonnie e ela apresenta momentos de hesitação que são logo engolidos e esquecidos. Isso mostra ao mesmo tempo o compromisso que eles possuem um com o outro e com a vida que estão levando, e uma preocupação com as consequências disso, por mais inconsequentes que eles sejam em seus atos. Eles se transformam em celebridades pelos motivos mais errados, e ainda se preocupam de acompanhar a repercussão de seus atos e como aparentam na opinião pública. São personagens bem complexos.
Gene Hackman está muito bem no papel do irmão de Clyde, Buck, numa relação fraternal que muitas vezes rouba um pouco do espaço de Bonnie, ainda que não o suficiente para que esta seja negligenciada. E Estelle Parsons se torna insuportável no papel de Blanche, a esposa histérica de Buck, mas que talvez seja a única integrante da quadrilha com noção de perigo, apesar de seguir os demais e ter seus momentos de ânimo por estar ali, fugindo de sua vida ordinária. Com o tempo, ela adquire uma camada extra. com uma forte camada dramática em relação às consequências que me fez entender melhor o seu lado.
O personagem C. W. Moss, interpretado por Michael J. Pollard é bem peculiar, não mostrando muito a que veio no início, mas sendo outro que cresce conforme o filme avança. Ele carrega no rosto uma expressão um tanto maníaca que fez eu me perguntar até certo ponto qual era a dele, mas este é um personagem que apresenta um arco bem interessante em seu ponto de retorno.
Gene Wilder teve uma pequena participação, bem estranha por sinal, com um personagem que age da maneira mais inesperada ao que acontece com ele, assim como sua parceira, interpretada por Evans Evans. Sabe que eu senti um quê de Irmãos Coen na parte em que apareceram? (Risos)
Bonnie e Clyde é um clássico muito bem realizado, agradável de assistir, ao mesmo tempo em que se torna conflitante pela natureza errante de seus personagens. Excelente.
Confesso que ainda hoje eu não assisti ao primeiro King Kong, de 1933. Mas vi a versão de 2005, dirigida por Peter Jackson, que é um filme bem longo, recheado de megalomania de Jackson, mas bem eficiente e tocante, com um Kong bem decente e a sempre bela e talentosa Naomi Watts. E este aqui (ou a sequência, de 1986, algo que não tenho certeza) eu lembro de ter visto quando garoto na Sessão da Tarde, nos anos 90, apesar de não lembrar de detalhes, a não ser pelo Kong, que claramente era um homem fantasiado.
Revendo (ou vendo pela primeira vez, de fato), devo dizer que esta refilmagem é bem regular. A começar por uma história um tanto contada de modo pouco interessante. Os primeiros quarenta minutos se arrastam, ainda que tenham segurado minha atenção, mas não o suficiente para que eu chegasse empolgado nas cenas que antecipam a primeira aparição de Kong. A cena do Kong aparecendo em si é boa, tem o seu nível de impacto enquanto o vemos derrubando árvores e indo ao encontro de Dwan, personagem de Jessica Lange, em sua estréia como atriz. Mas logo em seguida o impacto se perde quando vemos Kong de corpo inteiro. Ainda assim, o trabalho de Rick Baker na concepção da fantasia de Kong é OK, e até conseguimos ver sentimentos nas feições do gorila, o suficiente para provocar tristeza quando o vemos se entristecer ou sofrer; mas ainda continua sendo um tanto estranho de ver.
Os efeitos são decentes para um filme dos anos 70; portanto, este não foi um problema para mim. Mas certas situações em que esses efeitos são utilizados beiram ao ridículo, com sequências que não causam tensão, mas um riso involuntário. Repito, não pelos efeitos, mas pelas situações. Eu me peguei rindo quando deveria me sentir tenso, e normalmente sou um crítico das hienas dos cinemas, daqueles que riem em momentos impróprios, quando o filme não tem a intenção de fazer rir... Mas não consegui me segurar.
Agora, falemos sobre as atuações. Os destaques ficam para Jessica Lange e Jeff Bridges, sendo ela uma atriz estreante. Não há nada de marcante em Jeff, mas no geral faz um bom trabalho. Lange faz uma personagem com personalidade e sensual, algo que o filme sabe utilizar de maneira interessante, ainda que com uma insinuação discreta, na dinâmica entre ela e Kong, um aspecto que difere bastante da personagem da Naomi Watts, no filme de 2005, que tem um pouco mais daquela velha atitude de donzela em perigo. Ainda assim, acho que faltou um quê a mais nas cenas de Dwan com Kong, pois não teve um carisma que depois se converteria numa comoção maior quando as coisas saíssem do controle, no final. Neste sentido, a ternura que existe entre a bela e a fera no filme de 2005 é superior.
Falando no final, é uma sequência impactante, mas muito mais pela violência e não tanto pelo aspecto emocional. Dá vontade de pedir para que acabem logo com aquilo, pois é horrível de se ver. É uma sequência bem feitinha, Curiosamente, o final se passa nas extintas Torres Gêmeas. É estranho ver isso hoje em dia.
King Kong de 1976 não é um filme ruim, mas ao mesmo tempo em que não é curto, é muito precipitado nas cenas de ação, ao mesmo tempo em que se alonga em cenas comuns que são pouco envolventes. Também senti falta de mais criaturas naquela ilha, havendo somente uma cobra gigante, sem maiores perigos além do próprio Kong. Não é algo ruim em si, mas torna o filme um pouco vazio de maiores atrativos se comparado aos outros (sei que a versão de 1933 também tem dinossauros, como o de 2005). Não envelheceu bem, mas vale a curiosidade.
"Rosebud!" Com esta única palavra misteriosa sussurrada por Charles Kane pouco antes de morrer, Orson Welles inicia seu primeiro filme, realizado quando este tinha somente 26 anos de idade, e que historicamente foi eleito o melhor filme de todos os tempos (ou o mais relevante).
E devo dizer que quando o assisti pela primeira vez há alguns anos, eu não consegui entender muito bem o que havia de tão grandioso neste filme para merecer estar neste pedestal todo. O filme é ótimo, sim, mas considerei à época em que o vi pela primeira vez que a história não era algo assim tão longe dos filmes de sua época. Eu sabia que o filme havia revolucionado o cinema para se tornar o que conhecemos hoje, isto lá em 1941; hoje, porém, eu consegui analisar o filme em suas pequenas minúcias, tendo eu evoluído em compreensão de cinema ao longo dos anos.
E este filme é realmente uma obra prima!
A começar pelo grande mistério inicial, a respeito da última palavra de Kane, que em determinado ponto da trama é deixado um pouco de lado para que todo o contexto se desenvolva (ou seja, a jornada de Charles Foster Kane desde a infância até a ascenção na imprensa americana e culminando em sua morte, como um círculo se fechando. Não se trata de spoiler, mas de algo que se espera.)
O personagem de Kane, numa brilhante atuação de Welles, é um personagem complexo, rico em camadas, podendo ser carismático, ao mesmo tempo que rude e cínico, com um senso muito forte e autoconsciente de poder, de quem sabe que pode acender ou apagar a estrela de alguém com suas palavras, manipulando o pensamento do público e atendendo aos próprios desejos, ao mesmo tempo em que não consegue ter muito controle de sua própria vida pessoal.
Então o grande mistério ressurge e temos aqui algo que seria comum no cinema: o final surpresa. Mas aqui, neste filme, a resolução do mistério não vem para chocar, mas para acrescentar mais uma camada importantíssima ao personagem, pois este filme é, em essência, um estudo de personagem, e se encerra com chave de ouro. Então o roteiro não é qualquer coisa. O trabalho de roteiro deste filme, quando comparado aos filmes da época, é de um bom nível acima.
E soma-se ao roteiro o apuro técnico de Welles na direção. E é impressionante pensar que ele foi o responsável por mudar a maneira como as histórias seriam contadas nos filmes, como as cenas seriam filmadas, ângulos de câmera precisos, transições dinâmicas entre cenas, a inserção de flashbacks (tão comuns hoje em dia), que permitem que o filme se torne ainda mais dinâmico para um filme da época, além de apresentar de passagem elementos importantes para que os mesmos ressurjam depois dentro de um contexto maior, muito mais significativos... Entre outros tantos aspectos. Lembre-se: para apreciar um filme mais antigo, é necessário considerar o contexto de sua época. E Cidadão Kane é um filme a frente de seu tempo.
Interessante também é perceber como este filme em muito se assemelha à mídia real, com sua capacidade de ser tendenciosa, de manipular e influenciar a sociedade em muitos sentidos, convencendo-a a pensar conforme certos interesses. E isto reverbera ainda hoje.
A vida imita a arte ou a arte imita a vida? Seria muito teoria da conspiração?
Cidadão Kane é uma obra prima de fato, mas seria realmente o melhor filme de todos os tempos? Subjetivamente, eu diria que não (apesar de nem eu mesmo conseguir decidir qual é o meu filme favorito de todos); mas é inegável a sua relevância para a História do cinema.
Este (ou Match Point, não tenho certeza) deve ter sido o primeiro filme do Woody Allen que eu vi na vida. E ficou bem melhor na revisão.
Esta é uma comédia pastelão de primeira, bem leve e com um quê de Charlie Chaplin, repleta de gags visuais engraçadíssimas, com imagens aceleradas e acompanhadas daquela típica trilha de comédias do cinema mudo, mas é também uma distopia com um quê de 1984.
Allen não apenas critica o seu próprio tempo, como também faz previsões a respeito do futuro, que em certos sentidos é apenas uma repetição piorada de qualquer outro tempo, mesmo com toda a tecnologia e mudança de hábitos, de cultura e comportamento. A personalidade do neurótico, sempre muito bem representado pelo próprio Allen, encaixa-se perfeitamente neste contexto, tanto para nos fazer rir com suas tiradas espertas e irônicas, como também para nos fazer refletir.
E junto de Diane Keaton, com quem veio a ter uma boa parceria no cinema, temos aqui uma dupla com uma grande química, em que um se fortalece com o outro, mesmo com a resistência inicial de uma das partes.
É um filme gostoso de se assistir! Não acho que entraria nem na lista dos 10 mais da filmografia de Woody Allen, mas é um dos bons exemplares entre os primeiros trabalhos deste sujeito tão prolífico!
Confesso que este foi um dos casos em que fui aumentando a nota do filme conforme o tempo estava passando.
Diferente do The Evil Dead de 1981, esta refilmagem dá um pouco mais de solidez à premissa de amigos passando a noite numa cabana no meio da floresta, enquanto o original era puro anos 80, sem querer justificar nada; eles vão para lá porque sim. E eu gostei da ideia da personagem Mia tendo de lidar com a abstinência de drogas, e isto servir até de subtexto com a questão de ter de lidar com seus próprios demônios
como a doença da mãe dela, enquanto o irmão David esteva ausente
como um reflexo do que viria a acontecer. Mas de início achei os personagens pouco carismáticos, até genéricos demais para o meu gosto, o que é de se estranhar, pois personagens de muitos filmes do gênero costumam ser genéricos, e a gente não se importa com isso. O clima no início também é pouco sutil, sem aquela construção atmosférica sobre um cenário inóspito, porém ameaçador em detalhes mínimos, como (de novo) o original fazia muito bem.
Então as coisas começam a ficar realmente feias e cada vez mais viscerais, e aos poucos o filme foi subindo no meu conceito. Na verdade, a graça desta refilmagem se encontra em parecer familiar, pois até os personagens correspondem exatamente aos mesmos personagens do original,
David seria o Ash; Mia seria Cheryl, irmã de Ash; Natalie seria Linda, namorada de Ash; Eric seria Scott, amigo deles; e Olívia seria Shelly, namorada de Scott.
então basicamente sabemos a ordem dos acontecimentos, apesar de seguirem por rumos diferentes e apresentarem algumas cenas parecidas, mas acontecendo de outra maneira. E é aqui que o filme acerta, inclusive surpreendendo na questão de quem vive e quem morre. Há também referências ao universo da franquia original, como a importância do Necronomicon, o livro dos mortos, na trama, assim como algumas situações que vimos principalmente no segundo The Evil Dead (uma delas ocorre duas vezes!). Pode-se dizer que, ao mesmo tempo em que é um remake, este filme aqui é também uma sequência ou um universo alternativo do original.
O remake, assim como o original, é um filme mais sério, ainda que exista um senso de humor negro velado, bem menos ainda que o original, que arrepiava e causava um riso nervoso, principalmente quando uma das personagens possuídas ficava brincando com o psicológico do protagonista e agindo com atitudes infantis. Quem não se lembra da canção "We're gonna get you"? A mão de produtor de Sam Raimi deve ter tremido aqui, mas eles realmente quiseram fazer um filme mais sério. E conseguiram.
As atuações são razoáveis, apesar de considerar que Elizabeth Blackmore (Natalie) perde feio para sua contraparte do filme original, sendo bem esquecível. Mas o destaque vai mesmo para a Jane Levy, no papel de Mia.
"A Morte do Demônio" de 2013 não me impactou facilmente, diferente do de 1981 (que em algum momento contarei como descobri o filme), ainda que seja mais bonito (com uma fotografia de encher os olhos) e tenha um aspecto mais profissional que o primeiro, que era bem barato, e apesar da violência gráfica pesadíssima, o filme me pareceu um tanto automático na primeira metade. Mas somos recompensados com algumas quebras de expectativas, sobretudo na sequência final, que é uma das coisas mais bonitas e bizarras que vi ultimamente. Não dá para acreditar em seus olhos quando aquilo acontece.
Mesmo preferindo o original, este é um filme decente. Não é o filme mais apavorante que vi nesta vida, o que o cartaz brasileiro pretensamente aponta, mas vale conferir e sentir agonia com as cenas. hahaha.
Talvez nunca saibamos o que havia nos cortes que este filme sofreu, mas o que temos aqui já nos apresenta um Akira Kurosawa com domínio sobre a imagem, com enquadramentos que não apenas são bonitos, como também conseguem transmitir os sentimentos de seus personagens, além de ter uma boa habilidade de compor movimentos dos atores e até de enfatizar os movimentos no cenário. É um bom primeiro filme, tecnicamente falando.
Já a história em si eu achei bem simples, mas o filme retrata com competência a História e a cultura do Japão, com seus valores sempre relevantes de coragem e dignidade, principalmente em tempos e numa cultura em que certas coisas eram conquistadas principalmente por meio de duelos, hehehe! É estranho ver isso hoje em dia, mas reconheço que é o retrato de uma época e de uma cultura. Aliás, interessante ver como o roteiro retrata bem as artes marciais como um meio de autoconhecimento, o que é bem fiel aos aspectos filosóficos de uma arte marcial (digo, dentro do pouco que eu sei a respeito.)
Concordo que o ritmo é um tanto vagaroso às vezes, mas, mesmo se tratando de um filme de luta, penso que o ritmo funciona bem na proposta de retratar uma arte marcial, que exige concentração e não pancadaria. Está justo para a história que o filme quer contar. Consigo entender isto.
Em "71 Fragmentos", terceiro filme da trilogia da incomunicabilidade, ele nos apresenta um quebra-cabeças do cotidiano, que inicialmente parece ser muito complexo e difícil de montar até chegarmos à imagem final, uma tragédia aparentemente sem sentido anunciada nos primeiros segundos de projeção.
Haneke propõe explicar as possíveis razões por trás da tragédia (e como chegaram até lá) com trechos da vida de pessoas diferentes, aparentemente sem haver conexão alguma entre essas pessoas. Ele registra e explora silenciosamente cada uma dessas histórias de maneira individual, como se fossem microcosmos, com toda a naturalidade que sua câmera, muitas vezes parada e não invasiva, consegue transmitir, ao mesmo tempo em que aos poucos deixa claro que essas histórias irão se convergir e se conectarão como partes de algo maior. Nem sempre o filme dá continuidade imediata às histórias de um fragmento para o fragmento seguinte, e isto torna mais interessante o exercício de guardar o que já sabemos e aguardar pela continuidade de cada história.
Além disso, Haneke insere entre esses fragmentos trechos de telejornais, que reforçam o tom de verdade plausível do filme, com cenas de uma realidade existente em nosso mundo, e que, fazendo paralelo com o que acontece no final do filme, também não aparentam ter sentido muitas vezes, se a gente parar para pensar. Este é o mundo no qual vivemos. E este recurso dos recortes dos telejornais também surge como a aparição da obsessão com a imagem, com o vídeo, a manipulação de imagens, um aspecto muito explorado em boa parte da filmografia de Haneke.
O filme parece ser mais complexo do que é, mas possui basicamente 6 arcos:
Do garoto estrangeiro que foge e tenta, com muita dificuldade, sobreviver nas ruas de Viena; Do casal que está se distanciando; Do casal que deseja aumentar a família, mas encontram dificuldades iniciais de comunicação com a criança que adotaram; Do idoso que vive sozinho e é praticamente ignorado pela filha; De um jovem inteligente e habilidoso, porém problemático; E os recortes de telejornais, com notícias de guerras sem sentido, muita violência e... Michael Jackson! E também é aqui onde algumas conexões começam a se tornar mais claras no meio do filme, numa mistura de verdade (o formato do telejornal) com ficção (o garoto sendo entrevistado.)
Eu já tinha gostado da primeira vez em que vi, mas o filme ficou ainda melhor na revisão. Muito bom!
Não é um filme ruim, mas também não é bom. No entanto, mesmo que o próprio Kubrick tenha tentado sumir com este filme (sem sucesso), é válida a experiência de assisti-lo. O filme por vezes é confuso, as atuações são um tanto medíocres, mas o filme prendeu minha atenção o suficiente para notar as aparições mais tímidas de alguns traços que viriam a ser marcantes nas obras de Kubrick. Fotografia, bons enquadramentos de câmera, discussão de temas referentes à natureza humana, à loucura... É interessante, mas ainda não é o Kubrick que conhecemos.
Não achei tão aterrorizante quanto o primeiro, que tinha momentos de tensão e sustos que, de acordo com a experiência que tive assistindo, funcionavam ainda melhor. Mas com certeza é tão bom filme quanto o primeiro The Conjuring. James Wan é um dos poucos na atualidade que sabe como utilizar bons recursos cinematográficos para construir situações, cenas e sequências de deixar o espectador inquieto, com muito suspense e tensão crescentes. Tão bom ver um filme de terror que funciona bem.
O verdadeiro filme de horror urbano. Sim, de horror. E quando Requiem for a Dream chega ao fim, a sensação que fica no espectador é de pura desolação, tamanha a força do que vivenciamos junto dos personagens, que são bem plausíveis. É um filme que não apenas nos evoca imagens fortes, mas também sensações fortes. Realmente sufocante. Meu segundo Aronofsky favorito.
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O Expresso da Meia-Noite
4.1 476 Assista AgoraVisceral e perturbador. Apesar de o filme exaltar os americanos como bons e tratar os turcos como porcos de uma maneira muito maniqueísta, o que pode causar pensamentos e sensações conflitantes, ainda mais nos dias atuais, ainda levo em consideração de que este modo de ver as coisas é de Billy, o protagonista, que, só lembrando, comete um delito considerado grave nesses países. Mas a questão aqui é o filme em si, e ele é estupendo no modo visceral como conta essa história real: seja no modo torturante que o roteiro de Oliver Stone nos mostra a passagem dos anos na prisão turca e a transformação de um homem neste ambiente enlouquecedor; seja pela parte técnica - e Alan Parker é um diretor de mão cheia; ou ainda pelas atuações que externalizam a loucura impregnada na alma dos personagens. Filmaço. Mas não recomendo que assistam quando estiverem deprimidos, pois é arrasador em sua crueza.
Harry Potter e a Pedra Filosofal
4.1 1,7K Assista AgoraDirigido por Chris Columbus, conhecido por filmes infantis, Harry Potter e a Pedra Filosofal é a grande introdução de muitos ao mundo mágico criado por J. K. Rowling. Claro que o livro já era uma febre, mas foi com a estreia da adaptação para as telonas, em 2001, que muitos foram convidados a participar deste mundo repleto de aventuras, magia e segredos. Confesso que gostei do primeiro filme, quando o vi na escola em 2002, porém não me fisgou de uma vez, até a noite em que vi o segundo filme (Harry Potter e a Câmara Secreta).
O primeiro filme é muito bom, e ouso dizer que é decente como adaptação do material original, com mudanças naturais aqui e ali, algumas regras do próprio universo do livro sendo quebradas em prol do andamento do filme, e algumas pontas soltas (não me refiro ao artifício do foreshadowing, muito bem utilizado por Rowling ao longo da saga, mas ao deixar de lado algumas pequenas questões contidas nesta primeira história, como, por exemplo, quem foi que deu um certo item de presente ao Harry no Natal, algo que o livro responde claramente, introduzindo a importância de determinado personagem para a saga), mas a essência da história está ali, e é bem contada dentro do primeiro filme em si.
Como adaptação, o filme é muito bom, mas ainda não é certeiro em sua execução. Tecnicamente, ficou um pouco datado, tanto em, seu visual como na execução dos efeitos. A direção de Columbus sustenta bem o filme, tornando-o chamativo e envolvente, e transmite um tom infantil adequado à primeira história; porém, não é uma direção inventiva, um ponto que pode ser relevado se você considerar que não havia ainda toda uma referência visual anterior aos mecanismos e regras daquele universo, que não fosse o livro. Digamos que ainda estavam para encontrar um tom mais certeiro (algo que melhora um pouco mais no próximo filme). O roteiro do filme, muito semelhante ao livro neste sentido, salienta o fator episódico desta primeira história, com o mistério sendo descoberto por acaso apenas porque Harry e seus amigos o procuraram, diferente do que se convencionaria nos demais episódios, com os perigos e mistérios procurando Harry.
Quanto ao elenco, há uma galeria de monstros britânicos no elenco adulto, com personagens que, em suas maiores ou menores aparições, são figuras marcantes e naturais a este mundo, sendo difícil imaginá-lo sem eles.
Quanto ao elenco infantil, digamos que cumprem bem sua função, para a idade, mas ainda é possível notar que eram novatos ali, a julgar por suas reações a cada descoberta naquele mundo. Mas, considerando que tudo ali era novidade para eles e para quem assiste, vejo que este detalhe casa bem com o fato de que também somos novatos. As atuações em si não são muito boas, mas vale destacar o trio principal.
Há quem diga que Radcliffe é insosso como Harry, mas particularmente, depois deste tempo, não consigo imaginar muito outro em seu lugar. Ele entrega um Harry que é tipicamente um garoto de sua idade, deslumbrado com a grande descoberta de sua vida (ser um bruxo) e ainda reagente às possibilidades de tudo aquilo e aos acontecimentos, uma postura que se altera no filme seguinte, com o Harry mais estabelecido como pertencente ao mundo mágico e suas regras.
Grint nos apresenta um Ron Weasley ainda não tão brilhante, mas já carismático e engraçado, sendo em alguns bons momentos o alívio cômico do trio.
Watson é a Hermione. Ela transmite muito bem aquele ar pretensioso de quem pensa que sabe sobre tudo. Dos três, é quem mais se transforma ao longo do filme.
Vale também destacar a atuação de Tom Felton, com o o odioso Draco Malfoy, mas que aqui ainda corresponde a um garoto de sua idade, não tendo apresentado de vez o seu lado mais obscuro (se bem que no livro há um diálogo entre ele e Harry, que já revela um pouquinho mais do que foi apresentado no filme sobre os preconceitos de Malfoy).
Harry Potter e a Pedra Filosofal é um filme bom em seu tom de aventura infantil com muitas possibilidades a serem descobertas, mas ainda não é certeiro na execução e em seu diferencial criativo em relação a outros tantos outros filmes de aventura. Porém, é um bom convite a um mundo (até então novo) de pura magia. Já é cativante e muito envolvente. Subiu no meu conceito com o tempo.
O Show Deve Continuar
4.0 126 Assista AgoraJoe Gideon, diretor e coreógrafo de musicais se vê colocando toda sua vida de excessos em perspectiva, e isto é mostrado entre diálogos e memórias divididas com a Morte e por meio de números musicais.
O filme é dirigido por Bob Fosse, que é um conhecido diretor de musicais, sendo este ainda o primeiro filme dele que assisti. De qualquer modo, vou atrás dos demais.
Bob Fosse tem total domínio na direção de um musical que flerta com o onírico em muitos momentos, mas sem o exagero cafona de musicais atuais ou a pompa de musicais clássicos, num bom equilíbrio entre onírico e real. Tudo é dosado e contextualmente muito bem encaixado. As pessoas aqui cantam e dançam porque estão de fato ensaiando e apresentando números musicais no palco, o que dá à estrutura um efeito de metalinguagem executado de maneira eficiente. All That Jazz ainda parece ter um quê de autobiográfico, além de possuir traços de Oito e Meio do Fellini, o que indica um filme não original, mas ainda longe de ter sido prejudicado por isso. É um filme carismático, delicioso de ser assistido, sexy e ousado quando quer ser, com coreografias que valorizam o corpo dos atores, e feito com o devido cuidado.
O roteiro, auxiliado por uma edição ágil que alterna entre passado e um presente feito de expectativas claras, mas que se alongam até consumir a vida do protagonista, é simples na história que quer contar, mas se estrutura na complexidade da personalidade de Gideon. Temos aqui um estudo de personagem: a vida de um homem consideravelmente brilhante na vida profissional, mas uma negação na vida pessoal, ainda que não em sua totalidade, o que torna o personagem interessante de acompanhar, longe de ser uma figura desprezível, apesar de suas atitudes que se alternam entre não ligar para muita coisa e se importar o suficiente com quem ainda é importante em sua vida. Estruturalmente, o roteiro se divide entre os 5 estágios da perda/ do luto, sugeridos por Elizabeth Kübler-Ross, e que são: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Vemos cada um desses estágios em tela a partir do momento em que Gideon se vê tomado pelos problemas de saúde. Temos aqui um roteiro previsível, mas estruturado de maneira inventiva.
Para além do roteiro, nas imagens, nas coreografias e nas canções há todo um deboche no tom feel good e otimista das apresentações, sobretudo do meio e mais para o final, conforme os números musicais se relacionam ainda mais aos rumos seguidos pelo Gideon. O único porém é que não fiquei com nenhuma das canções na cabeça, nem mesmo aquela que foi ensaiada muitas e muitas vezes, mas penso eu que o filme não tem mesmo a intenção de ser um musical que se pauta por ter canções marcantes, mas de utilizar as canções como recurso narrativo, puro e simples, o que não me faz tirar pontos. Não é um musical por musical, mas a história de Gideon.
Falando em Gideon, o trabalho de Roy Scheider na atuação é muito boa. Seu personagem está num tom equilibrado. Ele imprime em Gideon uma personalidade dividida entre o cafajeste não exagerado ou abertamente orgulhoso de suas atitudes e alguém que ainda se apega à vida, o que se torna ainda mais evidente quando entra a figura da Morte, interpretada por Jessica Lange. São poucas as suas aparições, mas são todas muito marcantes, envoltas em puro onirismo, pontuando cada passo inevitável dado por Gideon em sua direção. Lange imprime em sua personagem um aspecto sedutor, mesmo sendo quem ela é. Você consegue aceitá-la como Morte. E é tão bom ver Lange num filme muito melhor que a sua estréia naquela versão capenga de King Kong. hehehe.
All That Jazz é um musical mais teatral e menos cotidiano, apesar de tratar ironicamente sobre a vida e a morte, feito sem os exageros comuns do gênero e que faz de seus números musicais uma forma inventiva de contar uma história.
Caminhos Perigosos
3.6 255 Assista AgoraDirigido por um Scorsese um pouco mais inspirado em relação aos dois filmes anteriores, Mean Streets é um filme que ainda sofre ao apresentar um roteiro muito simples que não nos diz muita coisa, mas não sendo ainda este o seu maior problema, e sim o seu ritmo arrastado.
O filme em sua maior parte nos passa uma impressão de que não está realmente contando uma história específica, mas cumprindo a função de retratar um ambiente e seus costumes sob o olhar de personagens duvidosos, por meio de blocos de situações que são um tanto rotineiras para eles. Existe, sim, uma história, envolvendo os personagens de De Niro, Keitel e Robinson, mas que se esconde no cotidiano de uma galeria de personagens pertencentes a um mundo ruim.
Apesar de arrastado, o filme nos prende pelos ótimos diálogos, que nos prendem ao filme, e também pelo carisma de seus personagens. De Niro nos apresenta um bom trabalho no papel de Johnny Boy: um jovem abobalhado e inconsequente que ainda assimarruma seus próprios meios duvidosos de sobrevivência; Keitel está ótimo como Charlie: um homem que ao mesmo tempo em que tem uma busca pessoal (seus questionamentos religiosos enriquecem sua personalidade), preza por se preocupar e cuidar do Johnny Boy. Teresa (Robinson), prima de Johnny, é a personagem que mais sofre ao se ver envolvida pelos sentimentos amorosos que nutre por Charlie, quando este se vê afundado nos trambiques e perigos daquela vida de máfia. Outros personagens, alguns com mais e outros com menos importância, também possuem seu destaque e movem a trama.
Apesar de arrastado, Mean Streets já nos dá uma mostra mais evidente do grande diretor que Scorsese se tornaria algum dia. E o resto é história... É um bom filme, mas que poderia facilmente ter sido um pouco mais curto, pela simplicidade de seu roteiro.
Você é o Próximo
3.2 1,5K Assista AgoraExplorando um subgênero do terror ultimamente em voga (mas nada novo), que é o de assassinos mascarados invadindo residências, You're Next é um filme que começa um tanto moroso, com um clima quase nulo na construção de seu horror, além de ter um elenco que precisaria de umas aulinhas a mais de atuação, tornando os personagens pouco carismáticos. O filme tem um aspecto de cru neste começo; não chegando a ser amador, mas já nos mostrando que o filme não vai nos apresentar, cinematograficamente falando, algo especial.
O primeiro ato é simplesmente desinteressante. Mas é só aparentemente que o filme demora a engrenar, e logo melhora muito com a chegada de todos os personagens, apesar de alguns não serem devidamente apresentados antes de a coisa ficar feia.
A partir daí temos um filme bom não somente em suas muitas cenas gore (que ocorrem em meio a um senso de urgência e de perigo à espreita, que funciona muito bem aqui), como também em quebrar expectativas, mesmo que ainda não apresente em sua totalidade cenas que fujam de clichês, pois o filme recorre aos clichês em diversos momentos; mas a diferença está em sua protagonista, que foge da figura de donzela em perigo! Que o cinema tenha mais personagens como a Erin! Ela é simplesmente maravilhosa!
Como um exercício de tensão, este filme funciona muito bem quando resolve brincar. O roteiro em si não é dos mais inspirados, mas ainda apresenta algumas reviravoltas interessantes, que no final levam a um sentido maior, mas ao mesmo tempo você se pega pensando: Não, simplesmente não. Quando tudo estava sendo devidamente explicado, eu me constrangi quando certo personagem tentou se explicar. É algo que soa tão absurdo, que você se pega se sentindo constrangido, ao mesmo tempo em que pensa no quão doentio aquilo é. É um filme que, pelo menos para mim, conseguiu funcionar por se assumir absurdo.
Tecnicamente não é um filme nada impressionante. A câmera não para de se mover, mesmo quando os movimentos seriam dispensáveis, além de se sacudir bastante nas cenas de tensão. Não funciona indo por aí. Mas no conjunto da obra, é um filme bom e também bem divertido a partir do momento em que ele deixa de lado a enrolação do primeiro ato (normalmente detesto esta expressão "enrolação", mas pelo menos neste filme eu senti isto). Temos também uma trilha muito bacana de sintetizador, bem anos 80, perto do fim.
É mais um daqueles casos em que aumento a nota conforme o filme chega perto do fim. Eu me diverti bastante. Poderia ficar com 3 estrelas e meia, mas gostei o suficiente para arredondar. hehehe.
Lanterna Verde
2.4 2,4K Assista AgoraEu não tinha assistido até o dia 1 de janeiro de 2017, justamente na Temperatura Máxima da Globo. Pouco conheço das HQs, então levarei em consideração o que só vi no filme. E nem imaginaria que este fosse o meu primeiro filme do ano, mas como estava sem muito o que fazer, resolvi ver TV. hehehe.
Bom, não achei que foi aquela porcaria toda que dizem. O Hal Jordan de Ryan Reynolds não é um dos heróis mais heroicos, mas ele é até bem apresentado e desenvolvido dentro da falta de pretensão deste filme, e ainda possui algum carisma, mesmo que mínimo. O conceito da vontade como um poder forte que tem como o ponto fraco o medo é bem interessante. Tecnicamente, o filme é excessivamente bagunçado nos efeitos, tornando-se poluído; eu sei que o verde é a cor essencial aqui, mas em alguns momentos o filme peca pelo excesso. O Parallax naquele CGI todo, então, é inacreditável como ameaça... Não, não, não. Não serve. E o antagonista humano, Dr. Hector, não é de todo ruim no início, mas ele se torna caricato ao extremo quando finalmente mostra do que é capaz, o que deixa o filme num nível quase igual aos filmes do Batman de 1995 e 1997. Quase. Chegando bem perto.
Ainda assim, eu consegui me divertir e me envolver pelo filme o suficiente para uma tarde preguiçosa.
Animais Fantásticos e Onde Habitam
4.0 2,2K Assista AgoraFinalmente consegui acompanhar um filme recém lançado! E nada melhor que fazer isto revisitando um território familiar, como o universo mágico de Harry P...
Um momento! Já começo dizendo que não se trata de mais um filme de Harry Potter, mas de uma expansão do mesmo universo, indo além do que vemos pelos olhos do menino que sobreviveu. Ainda que vejamos o que já conhecemos, há acréscimos não explorados anteriormente pela mitologia. Há também menções importantes a coisas conhecidas, que fazem a gente sorrir, sentindo-se confortável por conhecer tudo aquilo. E aqui temos quase a mesma experiência de acompanharmos esta história como uma novidade, apesar de ser conhecida. Com o roteiro original de J. K. Rowling (ainda que tendo como base o curto catálogo de criaturas mágicas de mesmo título) e a direção familiar de Yates, nota-se aqui um trabalho que excede as pretensões de um mero caça-níquel, tornando-se uma história realmente boa de acompanhar, ainda que, pelo menos inicialmente, não tenha o mesmo peso e carisma da série principal, o que não é em si um defeito; é apenas um conceito diferente.
Pode-se fazer uma comparação com o andamento da série Harry Potter: Animais Fantásticos e Onde Habitam, apesar de já nos inserir numa trama de exigência mais imediatista, pois não precisa nos apresentar as regras do universo mágico, inicia essa nova série com uma história que oscila entre o divertido e até ingênuo com momentos em que o tom pende mais para o sombrio, mas não ainda num nível que vemos a partir de O Prisioneiro de Azkaban, por exemplo.
Sobre a história, como eu disse antes: inicialmente, não tem o mesmo peso da série principal, com a premissa até simples de Newt Scamander ter de correr para resgatar as criaturas mágicas que fugiram de sua maleta em plena New York antes que causem maiores problemas e exponham o mundo bruxo; mas, aos poucos, considerando que já no início também somos inseridos ao contexto de um grande perigo, o filme se alterna em blocos que dividem o filme entre a aventura de Scamander e a exploração de um conceito novo (do qual não falarei, preferindo que vejam por si). Às vezes há a impressão de que essas duas linhas de história não se conversam, apesar de se convergirem em determinado ponto da trama. A narrativa não é de todo perfeita, mas segura nossa atenção e a história é bem contada, abrindo brechas para as continuações. Outro aspecto interessante do texto está na contextualização de uma época, debatendo temas importantes como preconceito, repressão, entre outros, ao mesmo tempo em que esses temas ecoam em relevância até os dias de hoje, o que é lamentável, não por causa do filme, mas por ser ainda necessário levantar esses temas, numa demonstração de como ainda somos bem falhos.
O filme, em termos técnicos, é estupendo, o que não é uma novidade ao se falar deste universo no cinema. David Yates, apesar de suas conhecidas limitações na direção, consegue ser bem inventivo aqui, com bons movimentos e enquadramentos de câmera, o que beneficiou na experiência com o 3D, que, mesmo não sendo um filme que necessite disso para ser melhor aproveitado, conseguiu explorar bem o recurso; há uma boa profundidade aqui, não chega a desperdiçar a tecnologia. Também destaco o retrato bem feito da época (1926), embora exista ainda a familiaridade do vestuário dos bruxos, apesar da ausência dos uniformes, e de não serem tão excêntricos aqui.
Bom, não vou entrar no mérito da qualidade das atuações, pois só tinha a cópia dublada para eu ver, mas pelo que consegui captar, o elenco é muito bom.
O Newt Scamander do Eddie Redmayne é carismático quase num nível parecido ao do Harry; ele não chega a ser um protagonista heroico em sua essência, mas suas qualidades de caráter, somadas com o seu talento em quebrar regras e agir pelo bem de seus objetivos, ainda que seja bem atrapalhado, tornam seu personagem mais imediatamente ágil e comprável que o Harry logo de cara. Mas, repito, é outra história; comparei sem querer comparar. hehehe.
Os outros integrantes do quarteto principal são muito interessantes, sendo o destaque o o Jacob Kowalski, um trouxa ou no-maj, que por sorte do destino é lançado para dentro desta história envolvendo magia. Em certos sentidos, ele é o que a gente, fã de Harry Potter, gostaria: de viver essa história. hahaha. Ele aparentemente serve de alívio cômico, mas não se resume a isso, tendo um arco próprio com a formação de um interesse romântico, mas não somente para embelezar, e sim sofrendo da influência de implicações do que está acontecendo ao redor.
Animais Fantásticos e Onde Habitam possui o potencial de levar adiante a mitologia, é um ótimo entretenimento, ainda que tenha muito a contar pela frente. E também souberam desenvolver a história sem que queimassem todas as possibilidades. Estava com saudades disso.
A Saga do Judô II
3.3 12 Assista AgoraDou um pequeno desconto pelo fato de minha experiência com este filme ter sido prejudicada pela baixa qualidade da cópia que vi, mas, francamente, é um filme bem inferior em relação ao primeiro.
Enquanto A Saga do Judô se focava mais nos aspectos humanos de crescimento do protagonista, tendo a luta como o meio, este segundo se concentra muito na propaganda a favor das artes marciais japonesas, o que não é em si um problema, mas que, pelo menos para mim, me foi apresentado de uma maneira um bocado desinteressante. Interessante ver como, a julgar pelo ano de lançamento do filme, que marcou o fim da Segunda Guerra, existe um senso de revanchismo do Japão sobre os Estados Unidos, ainda que de maneira elegante, nas demonstrações da supremacia das artes marciais japoneses contra o espetáculo de brutalidade mais comercial do boxe.
Apesar de nos apresentar um filme pouco inspirado, Kurosawa ainda nos presenteia com um bom domínio sobre as imagens que vemos. Ele sabe nos cativar com sua câmera, em como esta capta a movimentação de seus personagens, não somente nas cenas de ação, como também quando são enquadrados em momentos mais silenciosos e até introspectivos. Mas, apesar de boas cenas, com destaque para a luta na neve, aqui eu senti que houve um peso de enfado em quase todo o filme, algo que não senti com o primeiro.
A Morte Passou por Perto
3.3 142Antes, quero justificar as quatro estrelas que dei a este filme.
Em seu segundo longa, Kubrick nos apresenta um filme noir convencional, com uma história bem simples, não sendo das mais inspiradas, mas redondinha o suficiente para nos entreter.
Entretanto, o destaque do filme está nas qualidades de Kubrick como diretor (entre outras funções que o próprio assumiu aqui), que vai desde um melhor trabalho na direção de atores, mesmo que ainda não apresentem atuações marcantes, mas definitivamente superiores aos atores de Medo e Desejo, até um maior apuro técnico e um nível de produção até bem decente. Há enquadramentos em que se nota a boa visão de Kubrick como fotógrafo, como a sequência em que o protagonista está observando a dançarina pela janela e a imagem capta tudo o que ele vê por meio do reflexo no espelho; um enquadramento que a princípio não diz muita coisa, mas que não deixa de parecer naturalmente interessante de ver. Há também um bom controle de ritmo e coreografia nas sequências de ação, em que os personagens se movimentam como pessoas reais se movimentariam, sem perfeição; são sequências em que o silêncio prevalece a maior parte do tempo, o que às vezes faz a tensão oscilar, indo muito mais para o lado do incômodo, como se Kubrick nos torturasse com uma perseguição sem fim.
Outro aspecto interessante é a forma como a história é contada. Temos um filme praticamente todo em flashback, com o protagonista nos revelando tudo aos poucos através do recurso voice over, pouco antes do desfecho que, ainda não sabemos, responderá a questão mais importante do filme, depois de tudo o que ele passa. Mas dentro desta narrativa, quando determinada personagem precisa contar algo, não simplesmente narra os acontecimentos, mas o filme mostra um flashback dentro de um flashback; em outro momento, o filme faz diferente, numa bela sequência em que esta mesma personagem conta uma história sobre sua vida, mas a imagem que vemos não é necessariamente do que ela está contando, ainda que se case de uma maneira bela e diferente com o relato. Não é a invenção da pilha, mas a edição e a forma como o roteiro é montado tornam este filme mais envolvente do que aparenta no início, construído com uma paciência quase lenta na primeira metade, mas que deslancha consideravelmente, quando finalmente um grande ponto de virada acontece, quase que tardiamente, considerando que se encontra na sinopse como se fosse algo mais inicial e imediato na trama. hehehe. Kubrick, aparentemente, sempre fez filmes com uma cadência muito própria.
Não falarei exatamente das atuações, que são razoáveis para boas, mas dos personagens. O casal principal é, de longe, o destaque: é formado em circunstâncias incomuns, e até o fim do filme dificilmente acreditamos neles como um casal realmente apaixonado, e essa dúvida paira no ar até o último instante, mas considero que em termos seja pelas atuações pouco marcantes, e em termos seja intencional; aqui vemos Kubrick até inserindo alguns traços de doçura entre eles, mas com a sua frieza habitual começando a se destacar mais, e assim o casal me parece muito duvidoso.
O vilão... Bom, ele não é um vilão que amamos odiar, mas que odiamos totalmente. Ele não possui grandes camadas de personalidade, a não ser a obsessão doentia que ele tem pela dançarina, sendo um vilão que beira ao caricato; mas a raiva e asco que sentimentos dele são suficientes para que o compremos como ameaça.
Pelo conjunto da obra, ainda que não se destaque entre os melhores trabalhos de Kubrick, dou quatro estrelas a este "A Morte Passou Por Perto", pois o avanço em relação ao primeiro me chamou muito a atenção, e é um bom entretenimento. E só pelo confronto no final
entre os manequins, que se transformaram em plateia silenciosa entre protagonista e antagonista, acrescentando um tom de bizarro à cena, ainda mais com aqueles cortes mostrando partes soltas, como que mostrando o que seria deles se fossem atingidos pelos golpes de um contra o outro
este filme vale a conferida. Eu só queria que o encerramento fosse mais Kubrick; achei muito certinho. Mas tudo bem.
De Repente 30
3.5 2,1K Assista AgoraDe Repente 30 é um filme do qual é muito fácil falar, considerando a sua simplicidade e falta de pretensão, tanto cinematograficamente quanto na mensagem que quer passar. É uma história simples, bem good vibe, bem água com açúcar (pelo menos na superfície), e encabeçada por uma dupla bem carismática (Garner e Ruffalo). E é nisto em que encontramos o acerto do filme. É um dos dois filmes (o outro é Escola de Rock) que eu paro para assistir em qualquer horário que passe na TV, desde que eu possa assistir naquele momento. E não enjoa justamente por causa desta simplicidade.
O filme, apesar de sua falta de maiores pretensões, possui seus méritos.
Há o contraste entre a fotografia nos poucos trechos em 1987 e o restante do filme, em 2004, ainda que a protagonista Jenna acertadamente insira cores e detalhes que nos remetem aos anos 80, destoando daquele mundo inteiramente adulto. A trilha sonora é ótima, com músicas de ambas as épocas dividindo espaço.
O ritmo do filme é preciso entre seus três atos, que não destoam em momento algum uns dos outros, ainda que uma pitada de drama comece a se fazer presente na transição entre o segundo e o terceiro atos.
O filme também se vale pela atuação de Garner, que em todo momento fala com uma voz ligeiramente infantilizada, e também age como uma adolescente, mas também precisando fingir que é adulta; sua personagem tem o tom certo para este filme. As piadas envolvendo esse choque entre a idade que ela tem e a que ela sente ter são muito boas; há alguns momentos que beiram ao politicamente incorreto, mas possuem uma leveza natural, que faz com passem batidos como possivelmente problemáticos. Nada que exatamente nos leve às gargalhadas, mas o humor do filme nos segura confortavelmente. Não ofende a ninguém, e ainda funciona razoavelmente bem.
Mas o destaque fica nas mensagens, bonitas e simples, porém não menos importantes, sobre crescer, sobre voltar no tempo, sobre não estarmos preparados para a vida adulta, o que deixamos para trás, entre outras mensagens, que dão o tom deste filme, proporcionando ao espectador uma experiência tranquila, boa e confortável. Diversão de vez em quando vai bem. E De Repente 30 filme cumpre bem a sua proposta simples.
O Bandido da Luz Vermelha
3.9 268 Assista AgoraRogério Sganzerla, mais um cineasta que começou com o pé direito, e ainda tão jovem: com somente 22 anos. Ele nos apresenta aqui um trabalho maduro e muito consciente de suas intenções e da execução como pretendida.
É um exemplar do cinema brasileiro que, mesmo quase 50 anos depois, parece tão moderno e distante de uma repetição de conceito que pudesse ser outra vez satisfatório, em qualquer outro filme que viesse depois deste. Temos um filme que quebra com as convenções narrativas, num liquidificador de ideias conectadas aos aspectos técnicos e visuais, ao mesmo tempo que não abre mão delas para dar coerência ao que vemos. É um filme que gosta de brincar, mas havendo ainda muita seriedade nas entrelinhas e na experiência audiovisual que acompanhamos.
Repleto de referências ao momento do Brasil de 1968, o filme coloca na figura do Bandido da Luz Vermelha, figura que aterrorizou principalmente a sociedade paulista com um modus operandi que mais revela uma personalidade inconstante e imprevisível em suas ações, um espectro e símbolo daquele período; apesar de ele ser apenas a ponta do iceberg em meio àquele cenário político e social. Pode-se dizer que, no filme, ele era a personificação do bicho-papão daqueles tempos. E apesar do longa retratar a jornada criminosa desta figura, o filme não se concentra apenas em suas ações, mas nos efeitos de suas ações sobre os outros personagens.
O filme se torna dinâmico e ao mesmo tempo ácido na forma de sua narrativa bem criativa. Há voice over dos pensamentos do bandido; há a narração radiofônica bem sensacionalista, e a combinação de vozes como num jogral, que dá todo um tom cômico e alarmante ao que vemos; há os letreiros luminosos com notícias e frases de efeito (que, aliás, são uma marca especial deste filme). A edição não apenas dita o ritmo aqui, como amplia de significado as imagens que vemos, pois, muitas vezes, não estão sincronizadas com o que ouvimos. E isto não é um defeito, mas uma qualidade que realça o emaranhado de significados e simbolismos, assim como a complexidade da personalidade e das atitudes de João Acácio. É um filme de camadas sobre camadas, que valem ser analisadas com calma.
O destaque na atuação fica para Paulo Villaça, no papel do bandido. Ele é a personificação perfeita da instabilidade humana. Ele não tem um personagem de um tom só, mas as demais nuances são bem sutis. O personagem fica mais completo ao ser extrapolada a figura atuada, mas ao captar todas as demais informações que temos sobre ele ao longo da narrativa.
Apenas o final me parece um tanto estranho demais, além de corrido, e isso pesou um pouco na minha avaliação, mas nada que comprometa as qualidades anteriormente estabelecidas.
Mas posso dizer com toda a certeza de que temos aqui um grande exemplar do cinema brasileiro. Um filme com conceitos e execução tão diferentes de muito do que já vi, principalmente no cinema nacional, e que nos transmite modernidade ainda hoje. Bom, as coisas não mudaram tanto assim...
Moscou Contra 007
3.7 198 Assista AgoraEm Moscou Contra 007, temos as consequências da ameaça de Dr. No, do filme anterior, e aqui o filme já começa nos apresentando logo de início toda uma situação pela qual James Bond passará, e que apenas ele não sabe. Tanto que o próprio Bond não aparece pelos primeiros 15 a 17 minutos de filme, e somos preparados para um terreno já criado.
A sequência inicial é misteriosa e inicialmente impactante; apesar de que, pelo menos para mim, me pareça irreal que alguém morra numa simulação como aquela. O primeiro ato se constrói bem lentamente, mas sem ficar desinteressante, pois recebemos informações que serão cruciais para o que virá depois.
O filme engrena para valer a partir do segundo ato, e temos cenas de ação, suspense e desconfiança que nos prendem a atenção e faz o espectador ansiar pela sucessão de acontecimentos, até o seu desfecho.
A direção de Terence Young é segura e nos rende sequências mais bem equilibradas de ação e suspense, ainda dentro do campo da espionagem mais simples, sem aqueles tantos apetrechos que se tornariam típicos mais para frente.
O roteiro é bom, melhor que o de Dr. No, muito mais intrigante, o que dá todo o andamento do bom suspense apresentado, mas em alguns sentidos é um tanto confuso. Você capta algumas informações e simplesmente aceita, sem que as explicações fiquem claras o bastante para a compreensão de quem assiste. Não se trata de não entregar um roteiro mastigado, até porque este aqui não é especialmente complexo, mas ele não conecta tão naturalmente suas informações.
Sean Connery está ótimo como James Bond, mantendo o mesmo charme com traços irônicos, bem dosado entre seu senso de humor e a seriedade que o personagem busca ter quando em ação. Porém, em alguns momentos suas atitudes são questionáveis até para o padrão Bond, principalmente envolvendo a Bond Girl da vez.
A bond girl é bem interessante, tanto pela sua beleza e carisma (ainda que ela seja um tanto melosa em muitos momentos, o que acaba por enjoar um pouco), como pela sua dúvida entre seguir com a missão ou não, do qual não entrarei em detalhes.
From Russia With Love segue com a série, conectando-se com o primeiro. Apresenta um avanço em relação a Dr. No, dando aos filmes os primeiros traços de sua identidade própria. Possui ação e roteiro de suspense muito bem conectados. É um filme que vale a pena conferir.
Quando as Metralhadoras Cospem
3.7 52 Assista AgoraTive uma das experiências mais inusitadas com este Bugsy Malone, um filme até então desconhecido por mim.
A começar pelo elenco, formado inteiramente por crianças e adolescentes, com uma Jodie Foster ainda bem jovem e no início de carreira. E falarei logo deste aspecto por ser o grande destaque do filme. São crianças em papéis que seriam de adultos, mas que continuam a atuar feito crianças, sem forçarem, o que torna tudo muito orgânico, por mais que o filme não tire de nossa cabeça de que estamos assistindo algo bem pouco convencional. A originalidade do filme se dá muito por este conceito, e isto torna as atuações difíceis de analisar pela qualidade de imitarem adultos, e mais facilmente pela verdade das atuações de todo o elenco infantil. São crianças fazendo papéis de adultos, mas agindo como uma naturalidade própria de suas idades. Imagino que Alan Parker deve ter se divertido muito ao dirigir este projeto.
O filme é todo ambientado num cenário real dos anos 20 e 30, com lugares e objetos verossímeis, mesmo com algumas exceções (como os carros movidos a pedais) e isso eleva a brincadeira de faz de conta a um patamar acima. Pois é disto que o filme se trata: de um grande faz de conta. Não há violência gráfica, ainda que exista uma naturalidade nas ações dos personagens, criminosos ou não, que eu chamaria de violência caricatural, pertinente à proposta aqui. No lugar de sangue há muito merengue, substituindo as balas das metralhadoras. Ninguém morre de verdade, embora a guerra seja para valer; há apenas o baque momentâneo e lembramos que tudo não passa de uma brincadeira. É muito divertido de assistir.
Apesar de ser um faz de conta, contendo alguns traços até bem teatrais, Bugsy Malone é cinematograficamente impressionante. A ambientação, os figurinos, tudo isso é bem fiel aos filmes de gangster e à época retratada. Tem toda uma atmosfera noir num filme em cores, e há um tipo de nebulosidade na fotografia que transforma aquelas imagens em imagens de sonho, fazendo parecer que a imaginação de alguém - provavelmente de uma criança - está projetando aquelas imagens.
O filme possui uma mistura de gêneros, indo de filmes noir, ao romance, comédia e até musical, sendo que este último tem um grande destaque. Alan Parker já mostra aqui o seu talento com musicais. As canções são bem cativantes e deliciosas de escutar, e estão muito bem acompanhadas por belas sequências de dança, que funcionam como vinhetas entre diferentes blocos de filme, e que ainda conseguem se encaixar naturalmente ao todo, nunca parecendo desnecessárias ou artificiais. Existe uma sequência que lembra uma sequência bem famosa de Pink Floyd - The Wall, do próprio Parker, que sairia 6 anos depois. O roteiro em si não tem nada de mirabolante, mas justamente pela simplicidade consegue nos prender ao longo de 90 minutos. E o final... Posso dizer que é genial, mesmo parecendo tão obvio. Não consigo imaginar um final melhor para este filme.
Bugsy Malone é um filme divertido, lúdico, mesmo em um território tipicamente adulto, e que funciona muito bem como uma brincadeira. Provoca no espectador um sorriso e saudade da inocência e da graça de ser criança. Alan Parker acertou em cheio. Não posso dar menos que 5 estrelas.
Horus: O Príncipe do Sol
3.4 26Interessante como os japoneses costumam estruturar seus roteiros. Quando não são expositivos demais na tentativa de explicar aos espectadores de suas produções, eles incumbem ao espectador que monte a história em sua cabeça.
Aqui, em Horus, temos um exemplar que mistura história simples e linear com algumas surpresas que fazem a trama crescer da metade para o final. E isto, somado aos aspectos técnicos e ao ritmo, torna esta animação interessante de acompanhar, embora bastante regular e longe de envolver o suficiente para fazer a minha nota ser maior, embora as resoluções e algumas mensagens que podemos encontrar nas entrelinhas valham a pena.
Pertencente a fase pré Ghibli, Horus: O Príncipe do Sol não é uma animação que envelheceu bem. A animação possui traços razoáveis, diria que decentes para a época, mas nada espetacular ou marcante. A coloração chega a cansar os olhos, com muitos momentos em tons acinzentados ou monocromáticos, com aparições ocasionais de cores mais ricas; funciona para ressaltar a melancolia presente nas situações e no tipo de ameaça que aquele povo sofre em meio a momentos de descontração ou da alegria dos inocentes, mas cansa os olhos. Eu me peguei com os olhos pesando. Vale destacar momentos em que trocam movimentos por imagens mais estáticas, que, se não são relevantes para a narrativa, no mínimo chamam atenção.
O ritmo também não ajuda muito. O começo é apressado demais, ao ponto em que a apresentação dos fatos não cumpre o objetivo de ser ágil, mas atropelado, causando depois a impressão de que o roteiro queimou suas possibilidades nos primeiros quinze, vinte minutos.
O vilão também não é marcante e suas motivações são muito simples, não havendo um maior desenvolvimento de personagem; o que, aliás, vale para quase todos os demais personagens. O herói aqui é um bom personagem, você sente que ele é destemido em suas atitudes, mas não creio que seja um dos mais marcantes.
Felizmente, o roteiro, como eu disse antes, reserva boas surpresas e reviravoltas, quando eu já não esperava mais.
Um elemento muito presente aqui é a música. Os habitantes da vila todo o tempo cantam e dançam. Vejo nisto um modo de tentarem se animar apesar das dificuldades impostas pelo vilão sobre eles. E é neste ponto em que surge a personagem que considero a mais intrigante e complexa da história: Hilda. Com uma bela e hipnotizante voz, a garota que não é bem vinda a vila alguma é logo bem recebida por aquele povo que adora ouvi-la cantar. É uma personagem em constante conflito consigo mesma e suas convicções a respeito de pertencer ou não a algum lugar, além de outras questões que a tornam uma personagem intrigante de acompanhar.
Temas como bem e mal, egoísmo e altruísmo, querer fugir da luta ou se sacrificar em prol de um bem maior estão presentes.
Horus é assistível. Vale para ver a progressão das animações desta turma que um dia se tornaria SÓ o Estúdio Ghibli, um criador de clássicos. Não vai ficar na minha cabeça por muito tempo como uma animação especialmente marcante, mas é uma boa aventura que vale conferir.
Bonnie e Clyde - Uma Rajada de Balas
4.0 399 Assista Agora"Por trás de um grande homem, sempre há uma grande mulher." Penso que esta máxima se aplica aos protagonistas deste filme, ainda que de maneira bem distorcida. Pois temos aqui uma história que caberia muito bem no gênero romance, considerando que tanto Bonnie quanto Clyde se completam, possuindo uma química em que não conseguimos separar um do outro, tornando-os uma unidade, apesar de seus traços individuais e facetas que descobrimos conforme eles vivem perigosamente, em fuga constante. E olha só: estamos falando de uma dupla de foras da lei que já existiu.
O filme tem essa capacidade de provocar no espectador sentimentos conflitantes em relação à sua galeria de personagens peculiares. O casal de protagonistas, então, são carismáticos, às vezes atrapalhados, o que nos garante aquele sorriso de quem está acompanhando uma série de aventuras e desventuras. Ao mesmo tempo, a gente sabe que eles fogem e não pararão de fugir até que sejam detidos. Você acaba torcendo para eles, ainda que se lembre de que são personagens que os jornais vendem como perigosos. Este é o grande jogo proposto pelo filme, conforme nos afeiçoamos e vemos de perto e analisamos as pequenas nuances de cada personagem importante neste filme. E os personagens de Boyne e Clyde são interessantes de ler. Mas quero chegar nesta parte depois.
Primeiro eu tenho que falar que este filme é de encher os olhos em seus aspectos técnicos. Temos um filme ao mesmo tempo elegante e clássico, com imagens bonitas que tornam o filme agradável aos olhos, ao mesmo tempo em que o filme subverte algumas convenções da época com uma crueza admirável em momentos tensos, o que viria ser ainda mais comum no cinema dos anos 70. Temos sequências de ação que às vezes provocam a diversão dos personagens, como que desafiando todo o tempo às próprias capacidades de cometerem atos reprováveis, e outras que chocam com a dureza de seu realismo.
O roteiro tem uma estrutura muito bem definida: divide-se em momentos de descanso, com um aprofundamento dos personagens, e momentos de fuga, formando blocos de sequências que parecem se repetir, mas intencionalmente, cabendo muito bem à situação. É também um bom retrato da grande Depressão americana, mas como um pano de fundo, um contexto histórico, sem ser um filme com a intenção de explicar minuciosamente os detalhes da época. O contexto está ali, os personagens reagem às circunstâncias, vemos como as pessoas vivem aquele momento, mas o filme é conduzido como mais um excelente exemplar do gênero policial, em sua maior parte, mesmo que flertando com outros gêneros.
Também há espaço para temas comuns aos personagens principais, como a nostalgia, o afastamento de seu lar e de suas origens, com ímpetos de retorno, mesmo sabendo que não há como voltar atrás. E esses temas se tornam ainda mais importantes, aqui, principalmente por causa da força de seus personagens. Eles entram em cena sempre de maneira inesperada, muitas vezes causando uma sensação de estranheza em quem assiste, mas logo você inclui cada um deles como participantes do jogo. E as atuações também são responsáveis pelo sucesso do filme e da riqueza de seus personagens.
Dunaway e Beatty possuem uma química muito forte, tornando suas performances, assim como seus personagens, dependentes um do outro. Porém, devo dizer que, individualmente, cada um deles consegue expressar muito bem como são. Enquanto Beatty faz um Clyde enigmático, ainda que deixe claro em suas expressões aquele gostinho de ser bom no que faz de mau, com um triunfo no olhar, um jeito debochado de quem está sempre se divertindo muito com as situações, ao mesmo tempo ele é um homem preocupado em agradar e atender aos caprichos e desejos de Bonnie. Faye Dunaway nos entrega aqui a personagem que considero mais rica do filme: ela tem em sua personalidade um misto de entusiasmo em se aventurar e fugir de sua vida comum e uma saudade latente de casa, uma personalidade agradável que oculta picos de frieza. Outro aspecto interessante da atuação de ambos é o nível de paixão de ambos, quando Clyde corre para logo resolver os problemas com Bonnie e ela apresenta momentos de hesitação que são logo engolidos e esquecidos. Isso mostra ao mesmo tempo o compromisso que eles possuem um com o outro e com a vida que estão levando, e uma preocupação com as consequências disso, por mais inconsequentes que eles sejam em seus atos. Eles se transformam em celebridades pelos motivos mais errados, e ainda se preocupam de acompanhar a repercussão de seus atos e como aparentam na opinião pública. São personagens bem complexos.
Gene Hackman está muito bem no papel do irmão de Clyde, Buck, numa relação fraternal que muitas vezes rouba um pouco do espaço de Bonnie, ainda que não o suficiente para que esta seja negligenciada. E Estelle Parsons se torna insuportável no papel de Blanche, a esposa histérica de Buck, mas que talvez seja a única integrante da quadrilha com noção de perigo, apesar de seguir os demais e ter seus momentos de ânimo por estar ali, fugindo de sua vida ordinária. Com o tempo, ela adquire uma camada extra. com uma forte camada dramática em relação às consequências que me fez entender melhor o seu lado.
O personagem C. W. Moss, interpretado por Michael J. Pollard é bem peculiar, não mostrando muito a que veio no início, mas sendo outro que cresce conforme o filme avança. Ele carrega no rosto uma expressão um tanto maníaca que fez eu me perguntar até certo ponto qual era a dele, mas este é um personagem que apresenta um arco bem interessante em seu ponto de retorno.
Gene Wilder teve uma pequena participação, bem estranha por sinal, com um personagem que age da maneira mais inesperada ao que acontece com ele, assim como sua parceira, interpretada por Evans Evans. Sabe que eu senti um quê de Irmãos Coen na parte em que apareceram? (Risos)
Bonnie e Clyde é um clássico muito bem realizado, agradável de assistir, ao mesmo tempo em que se torna conflitante pela natureza errante de seus personagens. Excelente.
King Kong
3.2 176 Assista AgoraConfesso que ainda hoje eu não assisti ao primeiro King Kong, de 1933. Mas vi a versão de 2005, dirigida por Peter Jackson, que é um filme bem longo, recheado de megalomania de Jackson, mas bem eficiente e tocante, com um Kong bem decente e a sempre bela e talentosa Naomi Watts. E este aqui (ou a sequência, de 1986, algo que não tenho certeza) eu lembro de ter visto quando garoto na Sessão da Tarde, nos anos 90, apesar de não lembrar de detalhes, a não ser pelo Kong, que claramente era um homem fantasiado.
Revendo (ou vendo pela primeira vez, de fato), devo dizer que esta refilmagem é bem regular. A começar por uma história um tanto contada de modo pouco interessante. Os primeiros quarenta minutos se arrastam, ainda que tenham segurado minha atenção, mas não o suficiente para que eu chegasse empolgado nas cenas que antecipam a primeira aparição de Kong. A cena do Kong aparecendo em si é boa, tem o seu nível de impacto enquanto o vemos derrubando árvores e indo ao encontro de Dwan, personagem de Jessica Lange, em sua estréia como atriz. Mas logo em seguida o impacto se perde quando vemos Kong de corpo inteiro. Ainda assim, o trabalho de Rick Baker na concepção da fantasia de Kong é OK, e até conseguimos ver sentimentos nas feições do gorila, o suficiente para provocar tristeza quando o vemos se entristecer ou sofrer; mas ainda continua sendo um tanto estranho de ver.
Os efeitos são decentes para um filme dos anos 70; portanto, este não foi um problema para mim. Mas certas situações em que esses efeitos são utilizados beiram ao ridículo, com sequências que não causam tensão, mas um riso involuntário. Repito, não pelos efeitos, mas pelas situações. Eu me peguei rindo quando deveria me sentir tenso, e normalmente sou um crítico das hienas dos cinemas, daqueles que riem em momentos impróprios, quando o filme não tem a intenção de fazer rir... Mas não consegui me segurar.
Agora, falemos sobre as atuações. Os destaques ficam para Jessica Lange e Jeff Bridges, sendo ela uma atriz estreante. Não há nada de marcante em Jeff, mas no geral faz um bom trabalho. Lange faz uma personagem com personalidade e sensual, algo que o filme sabe utilizar de maneira interessante, ainda que com uma insinuação discreta, na dinâmica entre ela e Kong, um aspecto que difere bastante da personagem da Naomi Watts, no filme de 2005, que tem um pouco mais daquela velha atitude de donzela em perigo. Ainda assim, acho que faltou um quê a mais nas cenas de Dwan com Kong, pois não teve um carisma que depois se converteria numa comoção maior quando as coisas saíssem do controle, no final. Neste sentido, a ternura que existe entre a bela e a fera no filme de 2005 é superior.
Falando no final, é uma sequência impactante, mas muito mais pela violência e não tanto pelo aspecto emocional. Dá vontade de pedir para que acabem logo com aquilo, pois é horrível de se ver. É uma sequência bem feitinha, Curiosamente, o final se passa nas extintas Torres Gêmeas. É estranho ver isso hoje em dia.
King Kong de 1976 não é um filme ruim, mas ao mesmo tempo em que não é curto, é muito precipitado nas cenas de ação, ao mesmo tempo em que se alonga em cenas comuns que são pouco envolventes. Também senti falta de mais criaturas naquela ilha, havendo somente uma cobra gigante, sem maiores perigos além do próprio Kong. Não é algo ruim em si, mas torna o filme um pouco vazio de maiores atrativos se comparado aos outros (sei que a versão de 1933 também tem dinossauros, como o de 2005). Não envelheceu bem, mas vale a curiosidade.
Cidadão Kane
4.3 992 Assista Agora"Rosebud!"
Com esta única palavra misteriosa sussurrada por Charles Kane pouco antes de morrer, Orson Welles inicia seu primeiro filme, realizado quando este tinha somente 26 anos de idade, e que historicamente foi eleito o melhor filme de todos os tempos (ou o mais relevante).
E devo dizer que quando o assisti pela primeira vez há alguns anos, eu não consegui entender muito bem o que havia de tão grandioso neste filme para merecer estar neste pedestal todo. O filme é ótimo, sim, mas considerei à época em que o vi pela primeira vez que a história não era algo assim tão longe dos filmes de sua época. Eu sabia que o filme havia revolucionado o cinema para se tornar o que conhecemos hoje, isto lá em 1941; hoje, porém, eu consegui analisar o filme em suas pequenas minúcias, tendo eu evoluído em compreensão de cinema ao longo dos anos.
E este filme é realmente uma obra prima!
A começar pelo grande mistério inicial, a respeito da última palavra de Kane, que em determinado ponto da trama é deixado um pouco de lado para que todo o contexto se desenvolva (ou seja, a jornada de Charles Foster Kane desde a infância até a ascenção na imprensa americana e culminando em sua morte, como um círculo se fechando. Não se trata de spoiler, mas de algo que se espera.)
O personagem de Kane, numa brilhante atuação de Welles, é um personagem complexo, rico em camadas, podendo ser carismático, ao mesmo tempo que rude e cínico, com um senso muito forte e autoconsciente de poder, de quem sabe que pode acender ou apagar a estrela de alguém com suas palavras, manipulando o pensamento do público e atendendo aos próprios desejos, ao mesmo tempo em que não consegue ter muito controle de sua própria vida pessoal.
Então o grande mistério ressurge e temos aqui algo que seria comum no cinema: o final surpresa. Mas aqui, neste filme, a resolução do mistério não vem para chocar, mas para acrescentar mais uma camada importantíssima ao personagem, pois este filme é, em essência, um estudo de personagem, e se encerra com chave de ouro. Então o roteiro não é qualquer coisa. O trabalho de roteiro deste filme, quando comparado aos filmes da época, é de um bom nível acima.
E soma-se ao roteiro o apuro técnico de Welles na direção. E é impressionante pensar que ele foi o responsável por mudar a maneira como as histórias seriam contadas nos filmes, como as cenas seriam filmadas, ângulos de câmera precisos, transições dinâmicas entre cenas, a inserção de flashbacks (tão comuns hoje em dia), que permitem que o filme se torne ainda mais dinâmico para um filme da época, além de apresentar de passagem elementos importantes para que os mesmos ressurjam depois dentro de um contexto maior, muito mais significativos... Entre outros tantos aspectos.
Lembre-se: para apreciar um filme mais antigo, é necessário considerar o contexto de sua época. E Cidadão Kane é um filme a frente de seu tempo.
Interessante também é perceber como este filme em muito se assemelha à mídia real, com sua capacidade de ser tendenciosa, de manipular e influenciar a sociedade em muitos sentidos, convencendo-a a pensar conforme certos interesses. E isto reverbera ainda hoje.
A vida imita a arte ou a arte imita a vida?
Seria muito teoria da conspiração?
Cidadão Kane é uma obra prima de fato, mas seria realmente o melhor filme de todos os tempos? Subjetivamente, eu diria que não (apesar de nem eu mesmo conseguir decidir qual é o meu filme favorito de todos); mas é inegável a sua relevância para a História do cinema.
O Dorminhoco
3.7 195Este (ou Match Point, não tenho certeza) deve ter sido o primeiro filme do Woody Allen que eu vi na vida. E ficou bem melhor na revisão.
Esta é uma comédia pastelão de primeira, bem leve e com um quê de Charlie Chaplin, repleta de gags visuais engraçadíssimas, com imagens aceleradas e acompanhadas daquela típica trilha de comédias do cinema mudo, mas é também uma distopia com um quê de 1984.
Allen não apenas critica o seu próprio tempo, como também faz previsões a respeito do futuro, que em certos sentidos é apenas uma repetição piorada de qualquer outro tempo, mesmo com toda a tecnologia e mudança de hábitos, de cultura e comportamento. A personalidade do neurótico, sempre muito bem representado pelo próprio Allen, encaixa-se perfeitamente neste contexto, tanto para nos fazer rir com suas tiradas espertas e irônicas, como também para nos fazer refletir.
E junto de Diane Keaton, com quem veio a ter uma boa parceria no cinema, temos aqui uma dupla com uma grande química, em que um se fortalece com o outro, mesmo com a resistência inicial de uma das partes.
É um filme gostoso de se assistir! Não acho que entraria nem na lista dos 10 mais da filmografia de Woody Allen, mas é um dos bons exemplares entre os primeiros trabalhos deste sujeito tão prolífico!
A Morte do Demônio
3.2 3,9K Assista AgoraConfesso que este foi um dos casos em que fui aumentando a nota do filme conforme o tempo estava passando.
Diferente do The Evil Dead de 1981, esta refilmagem dá um pouco mais de solidez à premissa de amigos passando a noite numa cabana no meio da floresta, enquanto o original era puro anos 80, sem querer justificar nada; eles vão para lá porque sim. E eu gostei da ideia da personagem Mia tendo de lidar com a abstinência de drogas, e isto servir até de subtexto com a questão de ter de lidar com seus próprios demônios
como a doença da mãe dela, enquanto o irmão David esteva ausente
como um reflexo do que viria a acontecer.
Mas de início achei os personagens pouco carismáticos, até genéricos demais para o meu gosto, o que é de se estranhar, pois personagens de muitos filmes do gênero costumam ser genéricos, e a gente não se importa com isso. O clima no início também é pouco sutil, sem aquela construção atmosférica sobre um cenário inóspito, porém ameaçador em detalhes mínimos, como (de novo) o original fazia muito bem.
Então as coisas começam a ficar realmente feias e cada vez mais viscerais, e aos poucos o filme foi subindo no meu conceito. Na verdade, a graça desta refilmagem se encontra em parecer familiar, pois até os personagens correspondem exatamente aos mesmos personagens do original,
David seria o Ash; Mia seria Cheryl, irmã de Ash; Natalie seria Linda, namorada de Ash; Eric seria Scott, amigo deles; e Olívia seria Shelly, namorada de Scott.
então basicamente sabemos a ordem dos acontecimentos, apesar de seguirem por rumos diferentes e apresentarem algumas cenas parecidas, mas acontecendo de outra maneira. E é aqui que o filme acerta, inclusive surpreendendo na questão de quem vive e quem morre.
Há também referências ao universo da franquia original, como a importância do Necronomicon, o livro dos mortos, na trama, assim como algumas situações que vimos principalmente no segundo The Evil Dead (uma delas ocorre duas vezes!). Pode-se dizer que, ao mesmo tempo em que é um remake, este filme aqui é também uma sequência ou um universo alternativo do original.
O remake, assim como o original, é um filme mais sério, ainda que exista um senso de humor negro velado, bem menos ainda que o original, que arrepiava e causava um riso nervoso, principalmente quando uma das personagens possuídas ficava brincando com o psicológico do protagonista e agindo com atitudes infantis. Quem não se lembra da canção "We're gonna get you"? A mão de produtor de Sam Raimi deve ter tremido aqui, mas eles realmente quiseram fazer um filme mais sério. E conseguiram.
As atuações são razoáveis, apesar de considerar que Elizabeth Blackmore (Natalie) perde feio para sua contraparte do filme original, sendo bem esquecível. Mas o destaque vai mesmo para a Jane Levy, no papel de Mia.
"A Morte do Demônio" de 2013 não me impactou facilmente, diferente do de 1981 (que em algum momento contarei como descobri o filme), ainda que seja mais bonito (com uma fotografia de encher os olhos) e tenha um aspecto mais profissional que o primeiro, que era bem barato, e apesar da violência gráfica pesadíssima, o filme me pareceu um tanto automático na primeira metade. Mas somos recompensados com algumas quebras de expectativas, sobretudo na sequência final, que é uma das coisas mais bonitas e bizarras que vi ultimamente. Não dá para acreditar em seus olhos quando aquilo acontece.
Mesmo preferindo o original, este é um filme decente. Não é o filme mais apavorante que vi nesta vida, o que o cartaz brasileiro pretensamente aponta, mas vale conferir e sentir agonia com as cenas. hahaha.
A Saga do Judô
3.5 22 Assista AgoraTalvez nunca saibamos o que havia nos cortes que este filme sofreu, mas o que temos aqui já nos apresenta um Akira Kurosawa com domínio sobre a imagem, com enquadramentos que não apenas são bonitos, como também conseguem transmitir os sentimentos de seus personagens, além de ter uma boa habilidade de compor movimentos dos atores e até de enfatizar os movimentos no cenário.
É um bom primeiro filme, tecnicamente falando.
Já a história em si eu achei bem simples, mas o filme retrata com competência a História e a cultura do Japão, com seus valores sempre relevantes de coragem e dignidade, principalmente em tempos e numa cultura em que certas coisas eram conquistadas principalmente por meio de duelos, hehehe! É estranho ver isso hoje em dia, mas reconheço que é o retrato de uma época e de uma cultura. Aliás, interessante ver como o roteiro retrata bem as artes marciais como um meio de autoconhecimento, o que é bem fiel aos aspectos filosóficos de uma arte marcial (digo, dentro do pouco que eu sei a respeito.)
Concordo que o ritmo é um tanto vagaroso às vezes, mas, mesmo se tratando de um filme de luta, penso que o ritmo funciona bem na proposta de retratar uma arte marcial, que exige concentração e não pancadaria. Está justo para a história que o filme quer contar. Consigo entender isto.
Gostei.
71 Fragmentos de uma Cronologia do Acaso
3.7 74Ah, Haneke não é moleza! E isso é muito bom.
Em "71 Fragmentos", terceiro filme da trilogia da incomunicabilidade, ele nos apresenta um quebra-cabeças do cotidiano, que inicialmente parece ser muito complexo e difícil de montar até chegarmos à imagem final, uma tragédia aparentemente sem sentido anunciada nos primeiros segundos de projeção.
Haneke propõe explicar as possíveis razões por trás da tragédia (e como chegaram até lá) com trechos da vida de pessoas diferentes, aparentemente sem haver conexão alguma entre essas pessoas. Ele registra e explora silenciosamente cada uma dessas histórias de maneira individual, como se fossem microcosmos, com toda a naturalidade que sua câmera, muitas vezes parada e não invasiva, consegue transmitir, ao mesmo tempo em que aos poucos deixa claro que essas histórias irão se convergir e se conectarão como partes de algo maior. Nem sempre o filme dá continuidade imediata às histórias de um fragmento para o fragmento seguinte, e isto torna mais interessante o exercício de guardar o que já sabemos e aguardar pela continuidade de cada história.
Além disso, Haneke insere entre esses fragmentos trechos de telejornais, que reforçam o tom de verdade plausível do filme, com cenas de uma realidade existente em nosso mundo, e que, fazendo paralelo com o que acontece no final do filme, também não aparentam ter sentido muitas vezes, se a gente parar para pensar. Este é o mundo no qual vivemos. E este recurso dos recortes dos telejornais também surge como a aparição da obsessão com a imagem, com o vídeo, a manipulação de imagens, um aspecto muito explorado em boa parte da filmografia de Haneke.
O filme parece ser mais complexo do que é, mas possui basicamente 6 arcos:
Do garoto estrangeiro que foge e tenta, com muita dificuldade, sobreviver nas ruas de Viena;
Do casal que está se distanciando;
Do casal que deseja aumentar a família, mas encontram dificuldades iniciais de comunicação com a criança que adotaram;
Do idoso que vive sozinho e é praticamente ignorado pela filha;
De um jovem inteligente e habilidoso, porém problemático;
E os recortes de telejornais, com notícias de guerras sem sentido, muita violência e... Michael Jackson! E também é aqui onde algumas conexões começam a se tornar mais claras no meio do filme, numa mistura de verdade (o formato do telejornal) com ficção (o garoto sendo entrevistado.)
Eu já tinha gostado da primeira vez em que vi, mas o filme ficou ainda melhor na revisão. Muito bom!
Medo e Desejo
2.9 93 Assista AgoraNão é um filme ruim, mas também não é bom. No entanto, mesmo que o próprio Kubrick tenha tentado sumir com este filme (sem sucesso), é válida a experiência de assisti-lo. O filme por vezes é confuso, as atuações são um tanto medíocres, mas o filme prendeu minha atenção o suficiente para notar as aparições mais tímidas de alguns traços que viriam a ser marcantes nas obras de Kubrick. Fotografia, bons enquadramentos de câmera, discussão de temas referentes à natureza humana, à loucura... É interessante, mas ainda não é o Kubrick que conhecemos.
Invocação do Mal 2
3.8 2,1K Assista AgoraNão achei tão aterrorizante quanto o primeiro, que tinha momentos de tensão e sustos que, de acordo com a experiência que tive assistindo, funcionavam ainda melhor. Mas com certeza é tão bom filme quanto o primeiro The Conjuring. James Wan é um dos poucos na atualidade que sabe como utilizar bons recursos cinematográficos para construir situações, cenas e sequências de deixar o espectador inquieto, com muito suspense e tensão crescentes. Tão bom ver um filme de terror que funciona bem.
Réquiem para um Sonho
4.3 4,4K Assista AgoraO verdadeiro filme de horror urbano. Sim, de horror. E quando Requiem for a Dream chega ao fim, a sensação que fica no espectador é de pura desolação, tamanha a força do que vivenciamos junto dos personagens, que são bem plausíveis. É um filme que não apenas nos evoca imagens fortes, mas também sensações fortes. Realmente sufocante. Meu segundo Aronofsky favorito.