Da época em que Jean-Luc Godard se preocupava em manter uma certa racionalidade e propósito em seus filmes. Sem dúvidas este é um de seus longas mais "americanizados", tiro certo para quem gostaria de conhecer a obra do diretor. E, acima de tudo: é um filme fresco, inventivo, moderno, que transpira um sentimento de renovação - ao melhor estilo da nouvelle vague.
Obra totalmente avant garde, talvez um dos mais inventivos filmes mudos que já assisti. Muito da estética empregada aqui iria se consolidar no cinema apenas 30 anos mais tarde. O esmero de Mario Peixoto ao compor cada quadro deste filme é digno de aplausos - há algo de muito belo neste mar de melancolia que "Limite" abraça.
"Tempo de Viagem" surge como o outro lado da moeda de "Nostalgia", embora não necessariamente um complemento a este. É um documentário de cunho muito mais artístico que informativo. É precioso ver dois gênios do cinema de arte dialogando sobre literatura, filmes e poesia. Vale a conferida também pelas belas paisagens italianas que mostra e pela reflexão muito bem-vinda sobre a relação entre lugares e tempo. Tarkovski havia saído da URSS e toda sua nostalgia e angústia sobre sua terra natal são expressas em cada segundo deste filme.
"Maboroshi" ganha pontos pela forma como trabalha o suicídio de maneira quase material, palpável. A protagonista passa a projeção procurando respostas e a aura de luto paire do início ao fim, é como se a ideia de tirar a própria vida fosse um personagem como qualquer outro em cena. A sobriedade da direção se reflete nos ambientes totalmente pautados em linhas retas e tons pouco chamativos, mesmo que prejudique um tanto a identificação com os personagens. Durante toda a projeção, não comprei a ideia de luto muito menos o drama e confusão da viúva. Sem isso, o filme acaba se tornando uma experiência inócua, sem motivo.
O filme começa bem e funciona a partir do momento que estabelece uma aura de claustrofobia. O grande problema é a inserção errada e descompassada das criaturas. O suspense acaba, se abandona a noção de espaço enclausurado e o perigo parece muito menos iminente do que deveria ser. Além disso, o trauma da protagonista é totalmente subaproveitado e, com exceção de dois ou três bons momentos esparsos, o filme falha na criação e manutenção do medo.
Emergindo no auge da nouvelle vague, Jacques Demy mostra, com este filme, que não fica muito atrás de seus colegas de profissão e movimento. Seu longa é elegante, sincero, ácido e emotivo. Porém, o grande trunfo é a forma com que narra o vício e mostra como a doença pode se encontrar de forma discreta até nos mais altos padrões de sociedade. A idealização de Moreau como prostituta involuntária de luxo não deixa de chocar e eternizar um retrato triste de ser humano.
Meu primeiro contato com o cinema de Naruse não foi muito prolífero - confesso que "Quando a Mulher Sobe a Escada" não me agradou tanto. Resolvi, então, dar mais uma chance ao diretor e conferir "O Som da Montanha" (que, por coincidência, é protagonizado pela eterna Setsuko Hara, falecida há poucos dias). E que filme surpreendente, que trama poderosa! Mesmo sob uma direção discreta e reservada, o longa dá conta do recado e entrega uma protagonista guerreira, verdadeira mártir dos valores clássicos japoneses. E sob todo o drama denso que apresenta, Naruse ainda encontra espaço para discorrer sobre a quebra dos antigos costumes (a figura feminina surge quase como uma crítica) - tudo de forma muito respeitosa, como de costume no cinema oriental.
Impossível não comparar este filme ao clássico de Scorsese, "Taxi Driver", não só por Schrader ter escrito o filme de 76 e dirigido este aqui, mas principalmente porque as duas produções andam de mãos dadas em proposta e conteúdo. Ambas estão interessadas em analisar o choque de realidades e a reação do personagem dividido em dois. Neste sentido, embora o longa pudesse ser mais pesado em sua forma narrativa, com um protagonista melhor trabalhado, ainda assim consegue entreter e expõe sua ideia de maneira clara e objetiva. O trunfo aqui é não julgar nenhum dos partidos. O que vemos são pessoas adultas fazendo o que acham melhor para suas vidas e seus corpos. A opção de Schrader em não discernir o certo do errado foi provavelmente a mais acertada no filme - deixa a cargo do espectador tirar sua próprias conclusões.
"Quando a Mulher Sobe a Escada" é um daqueles filmes cuja importância transcende sua época. De problemática atual ainda hoje, o filme levanta questões muito pertinentes e tenta abrir os olhos da cultura japonesa às novas convenções que surgem com o passar do tempo. Fora isso, a fotografia é deslumbrante e a técnica na Naruse é admirável. Minha ressalva é na relação que estabeleci com os personagens. O que me impediu de mergulhar na trama e entender o sofrimento da protagonista foi justamente uma leva de personalidades que, para mim, pareceram muito brandas e mais acomodados que de fato deveriam ser.
É o típico documentário cujo tema transcende o próprio gênero. Embora seja um tanto televisivo em sua abordagem, a importância do que é tratado é tamanha que não pode passar despercebido.
Vamos por partes: devo confessar que o encerramento e a dedicatória deram um novo significado a este filme, me comoveram pela simplicidade e homenagem. Mas, embora repleto de boas intenções, "2:37" carece de identidade própria e acaba se tornando uma emulação forçada e desajeitada da obra-prima de Van Sant, "Elefante". Além de o roteiro não conseguir convencer em nenhum de seus personagens, ainda reserva diálogos caricatos e forçados - e empurra situações extremas a cada momento (embora algumas delas funcionem, tenho que admitir) na tentativa desesperada de chocar. A direção imatura comanda uma fotografia perdida e sem propósito que opta por diversos planos sequência desnecessários e mal elaborados durante toda a projeção. O resultado final poderia, sim, ter sido mais agradável. Não pela falta de sinceridade, mas pela falta de experiência e tato para saber que a fórmula para um bom filme não se resume a repetir o sucesso de outro.
Wellman usa o gênero western apenas como pretexto para realizar exercícios narrativos que até hoje não envelheceram - vide os excepcionais "Consciências Mortas" e "Céu Amarelo". O truque é não atar a trama a personagens genéricos, caricatos e temas batidos. O que o diretor costuma fazer é levar às telas personalidades conflitantes e interessantes o suficiente para carregar um longa inteiro nas costas. Diversas sequências de "Dominados pelo Terror" (ainda que um western menor do diretor) se sobressaem e não envelheceram um dia sequer. Ótimo filme, com lindas paisagens recobertas de neve como pano de fundo.
Nykvist na direção, homenageando Bergman e reunindo o trio habitual do diretor... não poderia ser diferente: uma pequena obra-prima. Um crime este filme ser tão pouco conhecido. De narrativa direta e de beleza descomunal, Sven traz à tela um estudo de personagens interessante, de uma vila reservada, onde nenhum homem é de fato bom ou mau - o extremismo das situações rege seus caráteres. E apesar de Josephson e Ullmann fazerem pequenas pontas (von Sydow participa mais), já vale a conferida toda esta experiência em cinema reunida em um único filme.
Embora longe de ser o melhor filme do diretor, "Os Mil Olhos do Dr. Mabuse" é gratificante não apenas por encerrar com chave de ouro a carreira de um dos maiores cineastas da história, mas principalmente por fazê-lo com toda a vitalidade e esperteza possíveis. É nítido em cada quadro e cada jump cut o domínio total que Lang tem sobre seu filme, sabendo de onde quer sair para onde vai chegar. É direto em mensagem e narrativa, possuindo uma elegância muito bem-vinda.
É um mistério para mim os motivos que levaram Polley a acreditar que uma crônica de sua vida possuísse o menor apelo para ser registrado em vídeo. O que vi foi apenas mais um retrato corriqueiro de uma família como outra. O filme me pareceu longo demais para o propósito e desproposital como documentário. Parece testar uma noção de metalinguagem que serve à produção para sair do nada e chegar a lugar algum.
O que é vendido como um terror logo se revela um suspense dramático muito mais preocupado em explorar o psicológico infantil que qualquer intento de assustar. A técnica é bem trabalhada e consegue entregar diversas sequências muito bem fotografadas e montadas. Mas o problema é a obviedade. A obviedade da direção de arte, dos diálogos, do uso da iluminação - tudo acaba quebrando o clima de tensão que tanto se tenta criar. Se explorasse a trama em todo seu potencial sombrio, poderia ser um ícone do terror dos últimos anos. E embora o final convença e impressione, o restante é hermético demais. Às vezes, um pouco menos de formalidade é muito bem-vindo.
Embora tivesse uma cópia deste filme arquivada há tempos antes da morte de sua realizadora, é inegável que a tragédia tenha me despertado o interesse neste longa. E, como novato no universo da diretora, talvez não tenha sido a melhor escolha para mergulhar em sua filmografia. Se de início as intenções da cineasta são evidentes (não mostrar a NY que costumamos ver, mas sim aquela a qual viramos a cara), com o passar dos minutos a experiência passa a se tornar incômoda, como não deveria acontecer em um filme-ambiente deste tipo. Vale pela abordagem e, claro, por Akerman. Mas como cinema, poderia ser mais.
Dono de uma estética muito interessante e inteligente (o filme realmente parece ter sido filmados em idos dos 40's), este talvez seja um dos mais brandos projetos de Von Trier. E um dos mais despretensiosos também. Me agradou demais a forma como não existe um vilão muito claro neste longa, fazendo um estudo social já rotineiro na carreira do diretor. O filme ainda porta diálogos fortes e os flashes de cor que cintilam em tela transformam a experiência em uma criativa jornada interessada não apenas em seu conteúdo, mas também em sua forma.
Como de costume, King Vidor aposta sua trama em personagens rotineiros, vivendo situações cotidianas e enfrentando verdadeiras tragédias como qualquer ser humano o faria - neste filme não há vilões ou mocinhos, apenas pessoas comuns. Isso permite que o diretor leve às telas a figura inesquecível de Stella Dallas, uma figura que, por maior melancolia que manifeste no espectador, ainda reserva a esperança de mudança dentro de si. Uma lição de altruísmo em um dos mais belos filmes do diretor.
Duas coisas neste filme muito me agradaram: a primeira é uma tentativa acertada de fuga do ponto comum. A técnica se preocupa em estabelecer um tom diferenciado e mais caprichado que seus filmes contemporâneos (basta notar o uso recorrente do ponto de vista do personagem). Fora isso, o segundo trunfo foi o longa apostar muito mais no horror e desconforto de tudo aquilo que mostra que propriamente o terror da transformação da criatura. Assim, mais de 80 anos após seu lançamento o filme ainda incomoda em diversas sequências e deixa o espectador angustiado com o destino de seus personagens.
Um dos maiores motivos de minha admiração por Waters é justamente a capacidade de se reinventar e seu talento criativo mesmo na casa dos 70 anos. O que Roger entrega aqui vai além de um simples documentário – é uma obra-prima muito mais interessada em explorar as mazelas traumáticas do gênio por trás de The Wall e, principalmente, é uma reinvenção da própria peça original. Tive o prazer inenarrável de comparecer a um dos shows de sua turnê (2010 – 2013) e tanto ao vivo quanto neste filme, pode-se perceber o esforço de Waters em se relacionar com o público mais jovem. E é por isso que o astro se permite abordar temas traumáticos de seu passado em tela grande – demonstrar que cada ser humano, por mais diferente que seja seu contexto, carrega a dor da perda de algo ou alguém (nem que seja a sanidade). Fora isso, o documentário, apesar de sofrer com algumas sequências vídeo-clipadas, é um acerto como linguagem visual. Contagia pela montagem excelente e inteligente que não apenas realça a grandiosidade do espetáculo, mas não exita em construir uma narrativa mais complexa que o esperado (um road movie com espíritos e lembranças). Ao fim, a experiência é edificante.
Singeleza habitual ao abordar um festival de personagens que clamam por liberdade. Ao passo que exalta a cultura japonesa, Ozu também incita um espírito de mudança. Como sempre em sua carreira, o cineasta fala muito com pouco barulho. Prefere apostar em olhares e cenários para delinear suas intenções. E isso, no final das contas, é o que difere os bons dos genios.
Não apenas um dos documentários mais originais que já vi, mas também um dos mais preciosos. Presenciar com tamanha intimidade um genio em processo de criação é, ao menos, impagável. Clouzot entrega um filme necessário não só aqueles e estudam este tipo de arte, mas a todos os que conseguem se identificar emocionalmente com o trabalho de terceiros.
O trunfo aqui não é originalidade ou inventividade, mas o carisma e a preocupação social. Assistir a um filme testosterona que milite a favor de casas feministas já vale o ingresso. Mas George Miller vai além: é um desfile estético muito divertido, um filme que apesar de se desenvolver grande parte em sequencias de ação ininterruptas, ainda nos entrega uma trama bem trabalhada com personagens marcantes.
O Bando à Parte
4.1 211Da época em que Jean-Luc Godard se preocupava em manter uma certa racionalidade e propósito em seus filmes. Sem dúvidas este é um de seus longas mais "americanizados", tiro certo para quem gostaria de conhecer a obra do diretor. E, acima de tudo: é um filme fresco, inventivo, moderno, que transpira um sentimento de renovação - ao melhor estilo da nouvelle vague.
Limite
4.0 168 Assista AgoraObra totalmente avant garde, talvez um dos mais inventivos filmes mudos que já assisti. Muito da estética empregada aqui iria se consolidar no cinema apenas 30 anos mais tarde. O esmero de Mario Peixoto ao compor cada quadro deste filme é digno de aplausos - há algo de muito belo neste mar de melancolia que "Limite" abraça.
Tempo de Viagem
4.1 23"Tempo de Viagem" surge como o outro lado da moeda de "Nostalgia", embora não necessariamente um complemento a este. É um documentário de cunho muito mais artístico que informativo. É precioso ver dois gênios do cinema de arte dialogando sobre literatura, filmes e poesia. Vale a conferida também pelas belas paisagens italianas que mostra e pela reflexão muito bem-vinda sobre a relação entre lugares e tempo. Tarkovski havia saído da URSS e toda sua nostalgia e angústia sobre sua terra natal são expressas em cada segundo deste filme.
Maborosi, a Luz da Ilusão
3.9 24"Maboroshi" ganha pontos pela forma como trabalha o suicídio de maneira quase material, palpável. A protagonista passa a projeção procurando respostas e a aura de luto paire do início ao fim, é como se a ideia de tirar a própria vida fosse um personagem como qualquer outro em cena. A sobriedade da direção se reflete nos ambientes totalmente pautados em linhas retas e tons pouco chamativos, mesmo que prejudique um tanto a identificação com os personagens. Durante toda a projeção, não comprei a ideia de luto muito menos o drama e confusão da viúva. Sem isso, o filme acaba se tornando uma experiência inócua, sem motivo.
Abismo do Medo
3.2 884 Assista AgoraO filme começa bem e funciona a partir do momento que estabelece uma aura de claustrofobia. O grande problema é a inserção errada e descompassada das criaturas. O suspense acaba, se abandona a noção de espaço enclausurado e o perigo parece muito menos iminente do que deveria ser. Além disso, o trauma da protagonista é totalmente subaproveitado e, com exceção de dois ou três bons momentos esparsos, o filme falha na criação e manutenção do medo.
A Baía dos Anjos
3.8 30Emergindo no auge da nouvelle vague, Jacques Demy mostra, com este filme, que não fica muito atrás de seus colegas de profissão e movimento. Seu longa é elegante, sincero, ácido e emotivo. Porém, o grande trunfo é a forma com que narra o vício e mostra como a doença pode se encontrar de forma discreta até nos mais altos padrões de sociedade. A idealização de Moreau como prostituta involuntária de luxo não deixa de chocar e eternizar um retrato triste de ser humano.
O Som da Montanha
4.2 9Meu primeiro contato com o cinema de Naruse não foi muito prolífero - confesso que "Quando a Mulher Sobe a Escada" não me agradou tanto. Resolvi, então, dar mais uma chance ao diretor e conferir "O Som da Montanha" (que, por coincidência, é protagonizado pela eterna Setsuko Hara, falecida há poucos dias). E que filme surpreendente, que trama poderosa! Mesmo sob uma direção discreta e reservada, o longa dá conta do recado e entrega uma protagonista guerreira, verdadeira mártir dos valores clássicos japoneses. E sob todo o drama denso que apresenta, Naruse ainda encontra espaço para discorrer sobre a quebra dos antigos costumes (a figura feminina surge quase como uma crítica) - tudo de forma muito respeitosa, como de costume no cinema oriental.
Hardcore - No Submundo do Sexo
3.6 39Impossível não comparar este filme ao clássico de Scorsese, "Taxi Driver", não só por Schrader ter escrito o filme de 76 e dirigido este aqui, mas principalmente porque as duas produções andam de mãos dadas em proposta e conteúdo. Ambas estão interessadas em analisar o choque de realidades e a reação do personagem dividido em dois. Neste sentido, embora o longa pudesse ser mais pesado em sua forma narrativa, com um protagonista melhor trabalhado, ainda assim consegue entreter e expõe sua ideia de maneira clara e objetiva. O trunfo aqui é não julgar nenhum dos partidos. O que vemos são pessoas adultas fazendo o que acham melhor para suas vidas e seus corpos. A opção de Schrader em não discernir o certo do errado foi provavelmente a mais acertada no filme - deixa a cargo do espectador tirar sua próprias conclusões.
Quando a Mulher Sobe a Escada
4.2 18"Quando a Mulher Sobe a Escada" é um daqueles filmes cuja importância transcende sua época. De problemática atual ainda hoje, o filme levanta questões muito pertinentes e tenta abrir os olhos da cultura japonesa às novas convenções que surgem com o passar do tempo. Fora isso, a fotografia é deslumbrante e a técnica na Naruse é admirável. Minha ressalva é na relação que estabeleci com os personagens. O que me impediu de mergulhar na trama e entender o sofrimento da protagonista foi justamente uma leva de personalidades que, para mim, pareceram muito brandas e mais acomodados que de fato deveriam ser.
Livrai-nos do Mal
3.9 49É o típico documentário cujo tema transcende o próprio gênero. Embora seja um tanto televisivo em sua abordagem, a importância do que é tratado é tamanha que não pode passar despercebido.
2h37: É Só Uma Questão de Tempo
3.8 245 Assista AgoraVamos por partes: devo confessar que o encerramento e a dedicatória deram um novo significado a este filme, me comoveram pela simplicidade e homenagem. Mas, embora repleto de boas intenções, "2:37" carece de identidade própria e acaba se tornando uma emulação forçada e desajeitada da obra-prima de Van Sant, "Elefante". Além de o roteiro não conseguir convencer em nenhum de seus personagens, ainda reserva diálogos caricatos e forçados - e empurra situações extremas a cada momento (embora algumas delas funcionem, tenho que admitir) na tentativa desesperada de chocar. A direção imatura comanda uma fotografia perdida e sem propósito que opta por diversos planos sequência desnecessários e mal elaborados durante toda a projeção. O resultado final poderia, sim, ter sido mais agradável. Não pela falta de sinceridade, mas pela falta de experiência e tato para saber que a fórmula para um bom filme não se resume a repetir o sucesso de outro.
Dominados Pelo Terror
3.3 7Wellman usa o gênero western apenas como pretexto para realizar exercícios narrativos que até hoje não envelheceram - vide os excepcionais "Consciências Mortas" e "Céu Amarelo". O truque é não atar a trama a personagens genéricos, caricatos e temas batidos. O que o diretor costuma fazer é levar às telas personalidades conflitantes e interessantes o suficiente para carregar um longa inteiro nas costas. Diversas sequências de "Dominados pelo Terror" (ainda que um western menor do diretor) se sobressaem e não envelheceram um dia sequer. Ótimo filme, com lindas paisagens recobertas de neve como pano de fundo.
O Boi
4.0 16Nykvist na direção, homenageando Bergman e reunindo o trio habitual do diretor... não poderia ser diferente: uma pequena obra-prima. Um crime este filme ser tão pouco conhecido. De narrativa direta e de beleza descomunal, Sven traz à tela um estudo de personagens interessante, de uma vila reservada, onde nenhum homem é de fato bom ou mau - o extremismo das situações rege seus caráteres. E apesar de Josephson e Ullmann fazerem pequenas pontas (von Sydow participa mais), já vale a conferida toda esta experiência em cinema reunida em um único filme.
Os Mil Olhos do Dr. Mabuse
3.9 14Embora longe de ser o melhor filme do diretor, "Os Mil Olhos do Dr. Mabuse" é gratificante não apenas por encerrar com chave de ouro a carreira de um dos maiores cineastas da história, mas principalmente por fazê-lo com toda a vitalidade e esperteza possíveis. É nítido em cada quadro e cada jump cut o domínio total que Lang tem sobre seu filme, sabendo de onde quer sair para onde vai chegar. É direto em mensagem e narrativa, possuindo uma elegância muito bem-vinda.
Histórias que Contamos
4.2 32 Assista AgoraÉ um mistério para mim os motivos que levaram Polley a acreditar que uma crônica de sua vida possuísse o menor apelo para ser registrado em vídeo. O que vi foi apenas mais um retrato corriqueiro de uma família como outra. O filme me pareceu longo demais para o propósito e desproposital como documentário. Parece testar uma noção de metalinguagem que serve à produção para sair do nada e chegar a lugar algum.
Boa Noite, Mamãe
3.5 1,5K Assista AgoraO que é vendido como um terror logo se revela um suspense dramático muito mais preocupado em explorar o psicológico infantil que qualquer intento de assustar. A técnica é bem trabalhada e consegue entregar diversas sequências muito bem fotografadas e montadas. Mas o problema é a obviedade. A obviedade da direção de arte, dos diálogos, do uso da iluminação - tudo acaba quebrando o clima de tensão que tanto se tenta criar. Se explorasse a trama em todo seu potencial sombrio, poderia ser um ícone do terror dos últimos anos. E embora o final convença e impressione, o restante é hermético demais. Às vezes, um pouco menos de formalidade é muito bem-vindo.
Notícias de Casa
4.1 32 Assista AgoraEmbora tivesse uma cópia deste filme arquivada há tempos antes da morte de sua realizadora, é inegável que a tragédia tenha me despertado o interesse neste longa. E, como novato no universo da diretora, talvez não tenha sido a melhor escolha para mergulhar em sua filmografia. Se de início as intenções da cineasta são evidentes (não mostrar a NY que costumamos ver, mas sim aquela a qual viramos a cara), com o passar dos minutos a experiência passa a se tornar incômoda, como não deveria acontecer em um filme-ambiente deste tipo. Vale pela abordagem e, claro, por Akerman. Mas como cinema, poderia ser mais.
Europa
4.0 117 Assista AgoraDono de uma estética muito interessante e inteligente (o filme realmente parece ter sido filmados em idos dos 40's), este talvez seja um dos mais brandos projetos de Von Trier. E um dos mais despretensiosos também. Me agradou demais a forma como não existe um vilão muito claro neste longa, fazendo um estudo social já rotineiro na carreira do diretor. O filme ainda porta diálogos fortes e os flashes de cor que cintilam em tela transformam a experiência em uma criativa jornada interessada não apenas em seu conteúdo, mas também em sua forma.
Stella Dallas, Mãe Redentora
4.0 26Como de costume, King Vidor aposta sua trama em personagens rotineiros, vivendo situações cotidianas e enfrentando verdadeiras tragédias como qualquer ser humano o faria - neste filme não há vilões ou mocinhos, apenas pessoas comuns. Isso permite que o diretor leve às telas a figura inesquecível de Stella Dallas, uma figura que, por maior melancolia que manifeste no espectador, ainda reserva a esperança de mudança dentro de si. Uma lição de altruísmo em um dos mais belos filmes do diretor.
O Médico e o Monstro
4.0 66Duas coisas neste filme muito me agradaram: a primeira é uma tentativa acertada de fuga do ponto comum. A técnica se preocupa em estabelecer um tom diferenciado e mais caprichado que seus filmes contemporâneos (basta notar o uso recorrente do ponto de vista do personagem). Fora isso, o segundo trunfo foi o longa apostar muito mais no horror e desconforto de tudo aquilo que mostra que propriamente o terror da transformação da criatura. Assim, mais de 80 anos após seu lançamento o filme ainda incomoda em diversas sequências e deixa o espectador angustiado com o destino de seus personagens.
Roger Waters The Wall
4.7 64Um dos maiores motivos de minha admiração por Waters é justamente a capacidade de se reinventar e seu talento criativo mesmo na casa dos 70 anos. O que Roger entrega aqui vai além de um simples documentário – é uma obra-prima muito mais interessada em explorar as mazelas traumáticas do gênio por trás de The Wall e, principalmente, é uma reinvenção da própria peça original. Tive o prazer inenarrável de comparecer a um dos shows de sua turnê (2010 – 2013) e tanto ao vivo quanto neste filme, pode-se perceber o esforço de Waters em se relacionar com o público mais jovem. E é por isso que o astro se permite abordar temas traumáticos de seu passado em tela grande – demonstrar que cada ser humano, por mais diferente que seja seu contexto, carrega a dor da perda de algo ou alguém (nem que seja a sanidade). Fora isso, o documentário, apesar de sofrer com algumas sequências vídeo-clipadas, é um acerto como linguagem visual. Contagia pela montagem excelente e inteligente que não apenas realça a grandiosidade do espetáculo, mas não exita em construir uma narrativa mais complexa que o esperado (um road movie com espíritos e lembranças). Ao fim, a experiência é edificante.
Fim de Verão
4.2 14Singeleza habitual ao abordar um festival de personagens que clamam por liberdade. Ao passo que exalta a cultura japonesa, Ozu também incita um espírito de mudança. Como sempre em sua carreira, o cineasta fala muito com pouco barulho. Prefere apostar em olhares e cenários para delinear suas intenções. E isso, no final das contas, é o que difere os bons dos genios.
O Mistério de Picasso
4.2 38Não apenas um dos documentários mais originais que já vi, mas também um dos mais preciosos. Presenciar com tamanha intimidade um genio em processo de criação é, ao menos, impagável. Clouzot entrega um filme necessário não só aqueles e estudam este tipo de arte, mas a todos os que conseguem se identificar emocionalmente com o trabalho de terceiros.
Mad Max: Estrada da Fúria
4.2 4,7K Assista AgoraO trunfo aqui não é originalidade ou inventividade, mas o carisma e a preocupação social. Assistir a um filme testosterona que milite a favor de casas feministas já vale o ingresso. Mas George Miller vai além: é um desfile estético muito divertido, um filme que apesar de se desenvolver grande parte em sequencias de ação ininterruptas, ainda nos entrega uma trama bem trabalhada com personagens marcantes.