Li o livro quase dez anos atrás, e foi espantoso reencontrar cenas que eu já tinha imaginado hoje, na telona. É o tipo de filme que deve ser visto no cinema, de verdade. Esta foi a mais fiel e interessante adaptação de um livro para filme que eu já vi - adaptou, trouxe elementos novos e afirmou o que era canônico das Crônicas de Duna. Espero de coração que o Villeneuve assine as produções subsequentes, caso haja uma franquia, e que este filme jogue luz de volta a essa série de livros tão querida. Mora no meu coração... Assistido em 1/03/2024!
Apesar do sucesso da série, e o humor fino (e ao mesmo tempo escrachado) que desenvolveu nos seus primeiros anos, “31 Minutos - O Filme” não consegue atingir os patamares que a produção para a TV estabeleceu, não funcionando nem como a comédia ‘independente’ que tenta ser... As altivas direções televisivas de Alvaro Díaz e Pedro Peirano não são suficientes para dar conta da linguagem cinematográfica que o filme exige. Depois de assistir ao material original, ver o filme parece uma experiência “menor”, ou pelo menos “pouco proveitosa”, mesmo sem comparar diretamente a episódios ou ápices específicos. Aqui e ali, há piadas características e situações abjetas, claro, mas num geral, o filme não consegue transmitir o timing e a pegada da série que o originou, e acaba fracassando em ambas as coisas. Para além disso, nota-se que, no “casting” dos personagens, alguns clássicos ficaram de fora, como o Super Meia Man; e há, por vezes, fantoches demais (ou elementos demais, por assim dizer) em cada cena, o que bagunça um pouco a compreensão do longa. Com a série, porém, não tem erro! Corre lá!
“Juan Carlos Bodoque: Esto fue mi Nota Verde, soy Juan Carlos Bodoque.”
O supergrupo de K-pop BLACKPINK ganha, pela primeira vez, um documentário sobre o seu início de carreira. “Light Up the Sky” é a primeira produção da Netflix com a Coréia do Sul sobre este gênero musical que, nas últimas décadas, conseguiu criar inúmeros nichos de consumo pelo mundo. E não é para menos. Grupos assinados por gigantes como a YG Entertainment movimentam toda uma economia, e representam, no caso da Coréia, um soft power através da música - o mesmo que o Japão conseguiu, há muitos anos, com os mangás e animes. A cultura não tem barreiras de idioma, e a prova disso é o sucesso absoluto que o quarteto atingiu no ocidente, onde talvez uma parcela relativamente pequena de seus fãs saiba coreano, japonês e/ou tailandês, para poder acompanhar o que dizem... Qualquer que seja o caso, é inegável que BLACKPINK se apresenta como um produto cultural relevante, ainda que nunca se tenha ouvido falar a respeito. Para além disso, o documentário, como uma propaganda positiva, funciona perfeitamente, uma vez que evita, a todo custo, quaisquer partes “ruins” ou “indesejáveis” que envolvam o trabalho que Jisoo, Jennie, Rosé e Lisa fazem desembocar tão arduamente. Ainda que seja explicitamente parcial, trata-se de um bom documentário, ao que vale a pena dar uma chance.
“Jennie: Ser dita na minha cara que não sou boa nas coisas que faço e tentar seguir em frente... É realmente difícil.”
Visitar os spin-offs da superprodução “Invocação do Mal” é, quase sempre, uma experiência mediana. Com “Annabelle 2: A Criação do Mal”, isso já era de se esperar - o que não torna, infelizmente, a visita menos penosa... A segunda instalação da franquia “Annabelle”, iniciada por um filme ainda pior que este, toma lugar num cenário clássico do Terror dos anos 2000: uma casa no meio do nada, um poço misterioso, e uma família em desespero. A questão, como se tem dito, não é a repetição dos elementos, mas a inadaptação deles aos novos formatos que o Terror vem tomando, sobretudo nos últimos anos... O que se tem visto, mundialmente, é uma verdadeira renovação do Terror enquanto gênero, sem perder os seus recursos clássicos, como jumpscares e a mitologia cristã/católica versus o diabo/demônio, por exemplo. O Novo Terror, que gerou filmes como “A Bruxa” (2015), “Hereditário” (2018), e “O Sacrifício do Cervo Sagrado” (2017), tem se valido de elementos semelhantes, porém reinventados a um público que, certamente, já se cansou da fórmula refeita inúmeras vezes, que consagrou filmes parecidos com este. Falo sobre isso sempre: é importante dar uma olhada nos longas que vem sendo produzidos hoje, e que possuem uma roupagem que foge do que se convencionou. Filmes como os da franquia “Annabelle”, se muito, passam longe de marcar positivamente os amantes do gênero. É preciso conhecer novas formas de produzir e se reinventar, sempre e sempre. Se não for isso, será sempre o cansaço da volta, e a espera por algo novo ou diferente que, a depender de direções como esta, nunca vai chegar.
“Janice: Perdoe-me, Pai, pois estou prestes a pecar.”
Não há muito o que dizer contra essa série. O fato é que, há muito, já se procurava a versão completa dela (hoje disponibilizada no Youtube pelo próprio programa) e que, depois de assistir a todas as temporadas, só se pode dizer que vale muito a pena... ”31 Minutos” é uma série irreverente, contagiante e de um humor finíssimo, sobretudo em relação ao contexto econômico-social do Chile. O uso de regionalismos, gírias e discretas citações aos outros países da América Latina enriquecem todo o percurso também. Trata-se de uma produção leve, engraçada e ágil, com sacadas adultas e bastante específicas. Para além disso, há inequívocos pontos altos: a adaptação de Dom Quixote, as Notícias Verdes de Bodoque, as canções super bem escritas, os especiais de Natal, enfim... Dá pra ficar falando um monte sobre como a série acerta em praticamente tudo, mas o ideal é mesmo buscar assistir e favorecer a APLAPLAC, que conseguiu construir um legado que se retroalimenta à medida que o tempo passa. É uma daquelas produções que nunca vai ficar velha! Incrível. Mesmo.
“Tulio y sus amigos: Yo nunca vi televisión porque es muy fome...”
Clássico do terror dos anos 90, o longa de Neil Jordan explora o universo vampiresco a partir de uma excêntrica dupla de vampiros. Tendo sido roteirizado pela Anne Rice, a autora do livro, "Entrevista com o Vampiro” conta com as irreverentes atuações de Tom Cruise, Brad Pitt e um irreconhecível Antonio Banderas. Para completar, ainda temos a Kirsten Dunst em começo de carreira (literalmente começo, aos 11 anos!), mandando super bem também. Em relação aos aspectos técnicos, trata-se de uma boa montagem, com ágil edição, mas efeitos especiais medianos (sobretudo a maquiagem de Cruise, que é uma verdadeira bola fora nesta produção). E assim como em “Supernatural” e “On The Road”, temos aqui também uma obra em que os dois protagonistas homens exalam uma tensão sexual quase que infinita, ainda que nunca se veja, efetivamente, nada em tela. O elemento da adoção de Claudia torna tudo isso ainda mais implícito, dada a responsabilidade que o casal de vampiros passa a ter ao criar uma “criança que nunca vai crescer”. De qualquer maneira, é uma referência, sem dúvidas. Faz uma boa homenagem aos primeiros contos de vampiros, e adiciona à sua mitologia elementos que realmente funcionam, e que entretém sem grandes dificuldades. Certamente, em relação aos mais recentes livros e filmes que abordam o assunto, este longa dá de dez a zero sem descanso. Assista! Realmente vale a pena.
“Lestat: Ninguém podia resistir a mim, nem mesmo você, Louis. Louis: Eu tentei. Lestat: [sorrindo] E quanto mais você tentava, mais eu te queria.”
A aclamada e polêmica “YOU”, com todas as suas falhas, ainda se apresenta um olhar no mínimo interessante sobre um fenômeno social ainda pouco explorado... Toda vez que a NETFLIX assina a produção de algo, é costume que pegue um hype, e que morra quase tão rápido quanto estourou. Pelo que parece, não é este o caso desta série que, prestes a ganhar uma terceira temporada, marcou bastante o imaginário dos aficcionados pelo formato. A produção, estrelada pelo galã Penn Badgley, conta a história de um stalker que se apaixona por uma aspirante a escritora. A série procura apresentar um perseguidor de maneira a questionar, como disse o protagonista, “quanto a nossa sociedade é capaz de passar pano para crimes de um homem com o meu tom de pele, e que se pareça comigo”. Isso, de fato, ela faz muito bem. Ignorando os vários furos que o roteiro apresenta (e que ficam ainda piores na segunda temporada), dá para perceber um alto grau de consciência por parte dos roteiristas em não apologizar a violência contra a mulher, ou tentar “suavizar” os aspectos mais doentes do personagem. Ainda que alguns núcleos (como o de Paco) sirvam mais para humanizar que retratar como que um assediador seria, na realidade, o resultado sai mais satisfatório do que o esperado - e pode servir como um excelente alerta ao seu público-alvo, meninas jovens, sobre quais os métodos e, principalmente, o quê caracteriza um acossador, um invasor de privacidade, e um potencial feminicida.
“Joe Goldberg : Olá, quem é você? Todas as suas contas são públicas. Você quer que eles te vejam, quer que te conheçam. E eu te agradeço por isso."
A comédia social dirigida por Lucien Jean-Baptiste (que também protagoniza o longa) é definitivamente um must-see. “Ele Tem Mesmo os Seus Olhos” narra a história “invertida” de uma adoção inter-racial, e os excêntricos e curiosos desdobramentos que podem segui-la. O filme, de maneira geral, incute um discurso anti-racista de forma sutil e leve. Apesar de tratar, especialmente, da situação negra numa França politicamente branca, a produção se sobressai por explicitar o fenômeno contrário a esse, em que casais brancos que adotam crianças não-brancas sejam vistos de forma diferente à retratada aqui. O estranhamento, os questionamentos, os comentários são todos pelo menos distintos, o que torna a visita a este filme uma experiência marcante e inesquecível. Aliás, há de se reconhecer a edição finíssima do longa, que garante a dinâmica perfeita, e torna essa hora e meia muito mais ágil e eficaz na entrega de sua mensagem... Incrível!
Caramba... A (surpreendentemente bem-feita) adaptação do thriller considerado “infilmável” de Stephen King chega à Netflix em 2017 de maneira sorrateira, quase despercebida, e como é bizarro que não se fale tanto dela... “Jogo Perigoso”, primeira transposição ao cinema do livro homônimo do Rei do Terror, narra a história de uma situação que ocorre a um casal em crise, e que pode, por pior que isso soe, acontecer de verdade com alguém. A partir de um incidente infeliz que acomete um dos personagens, somos brindados com uma dose cavalar de incerteza e ansiedade, de medo e desespero. O característico (e hoje clássico) Terror que faz desembocar Stephen King tem, entre outras marcas, a quase sempre presente fidedignidade; são situações parecidas com a realidade, e que ninguém questiona ser passíveis de tomar lugar de fato. Tal grau de realismo é, talvez, o maior trunfo de sua literatura; por isso, filmes como este se apresentam superlativamente perturbadores. E para além dessas coisas, o longa maneja ser instigante partindo praticamente de uma única personagem, presa a uma cama por quase todo o tempo. Um dos desafios daqueles “roteiros mínimos”, em que, com a menor quantidade possível de elementos, tenta-se contar uma boa (e traumatizante) história. Acredito que este é um desses bons casos. Um filme que vale uma visita preparada. Respira fundo que lá vem trauma...
“Jessie: Só me desamarra logo e a gente conversa. Gerald: E se eu não desamarrar? Jessie: O quê? Gerald: E se eu não desamarrar?”
Pérola do cinema estadunidense sobre Educação (ficando atrás somente do seminal “Sociedade dos Poetas Mortos”), FREEDOM WRITERS é um daqueles filmes que meio que nasceu clássico, ainda que tenha envelhecido mal em certos aspectos. Sendo revisitada hoje, a produção estrelada por Hilary Swank tem uma pitada de “white saviour”, como tem sido repetidamente apontado por ativistas da internet, o que deve ser reconhecido, embora não represente um empecilho para o filme em si. De maneira geral, o filme entrega um drama bem construído, e se baseia numa premissa incrível: no quão transformadora pode ser a licenciatura quando abordada por métodos não-tradicionais e específicos, voltados para determinadas vivências e biografias... O drama vivido pelos alunos desta escola é real, tenebrosamente real, e só de pensar que uma revolução de pensamento possa de fato ter ocorrido em um ambiente complexo como este, enche o nosso coração de orgulho e admiração pelo poder das palavras. Toda pessoa que estuda Letras ou deseja se tornar docente deveria dar uma olhada neste longa... Busque saber do método inovador que Erin Gruwell desenvolveu na vida real, com a ajuda de todos os seus alunos. Vale muito a pena conhecer o seu trabalho!
“Eva: Gente branca querendo respeito como se merecessem de graça.”
Como alguns documentários, “O Dilema das Redes” produz ao mesmo tempo uma visita repetitiva e um tanto superficial sobre este que é o grande tema da contemporaneidade. THE SOCIAL DILEMMA, primeira produção da Netflix sobre o problema das tecnologias de comunicação, é um filme dinâmico, e tem algo exclusivo a seu favor: as entrevistas com ex-funcionários das gigantes empresas que hoje dominam a forma como nos comunicamos: Google, Facebook, Instagram, Whatsapp e muitas outras... Ainda que se vejam, aqui e ali, informações novas (como a justificativa para o botão “curtir” do Facebook pelo seu próprio criador), a sensação é que o filme dá uma pincelada leve sobre o tema, expondo pontos gerais que, para qualquer pessoa que já entrou em contato com este conteúdo antes (ou já ouviu qualquer um dos entrevistados), já são senso comum. Há, também, um problema com a dramatização do longa, que parece didática e exagerada demais para ser levada a sério. Reconheço a importância de seguir falando a respeito, repetindo as advertências e insistindo na revisão dos hábitos de consumo que temos - essas são as mensagens mais poderosas que o filme traz. Entretanto, a verdade é que mesmo as soluções que os funcionários sugerem, como desativar notificações de alguns aplicativos ou evitar usar o celular em determinadas situações, são atitudes desproporcionais ao tamanho do problema, que chega a ser escutar o que falamos com nossos amigos e personalizar inclusive que tipo de conteúdo somos mais “passíveis de desejar”. O ideal, ainda que pareça utópico, seria que os celulares e outros dispositivos não dispusessem a nossa informação às empresas por padrão, ou pelo menos não impusessem isso para poder funcionar. Como foi dito noutro doc, os Direitos Digitais precisam estar vinculados aos Direitos Humanos, para que nossa privacidade seja sempre respeitada (e nunca hackeada). Enquanto os Direitos Humanos não contemplarem os Direitos Digitais, a manipulação e a revenda de informações será inescrupulosa, e inequivocamente presente.
“Sófocles: Nada grandioso entra nas vidas dos mortais sem uma maldição."
E nossa série finalmente encontra seu destino... “3%”, distopia tupiniquim que se passa numa República das Bananas infelizmente muito real, encontra seu desfecho em 2020, numa quarta instalação que faz jus a tudo que veio antes. Por causa do inesperado sucesso que alcançou a primeira temporada, pessoas do mundo todo conheceram um pouco do nosso idioma, da nossa gente e da dura realidade em que vivemos. Escrevo “nossa série” porque, de fato, esta produção honra com todos os méritos a Brasilidade, nas suas infinitas beleza e corrupção. “3%” é um experimento social num Brasil menor, reduzido a um Continente e um Maralto, dois polos que se complementam (e se podem destruir) com a mesma facilidade com que as democracias latino-americanas se rendem ao fascismo e o superam com o passar dos anos. A narrativa político-social que se encontra no roteiro desta última temporada vale ouro. O sentido da ocupação na tomada dos territórios simbólicos, o poder de uma população conscientizada, a utopia do bem-comum, enfim, são inúmeros elementos que tornam o assistir valer a pena. Tem os seus problemas de atuação e condução? Claro, como tantas outras séries da Netflix que os brasileiros idolatram, mas o que há de representatividade aqui, para a nossa gente, realmente não tem preço... Menção honrosa para a impecável atuação de Bianca Comparato e as participações de Chico César e Ney Matogrosso, igualmente irretocáveis. Assista sem medo. Vale muito a pena chegar ao final!
”Ezequiel: Você é o criador do seu próprio mérito.”
Um filme leve e divertido. NO STRINGS ATTACHED, produção de 2011 do Ivan Reitman (responsável pelo sucesso dos anos 80 “Os Caça-Fantasmas” e por outras comédias menores) é um romance simples, direto ao ponto, e com alguns momentos interessantes. A trama, protagonizada pela excelente Natalie Portman e por um Ashton Kutcher confortável, explora a relação “inesperada” que surge a partir de uma “amizade com benefícios” entre os dois. Como outras produções que abordam este tema (em especial, a cópia escarrada “Amizade Colorida”, que saiu meses depois), é um filme evidentemente clichê e previsível, mas que cumpre sua função no que lhe tange a forma e a sua execução. Destaque para o fato de que, ainda que haja resquícios de pensamentos machistas e às vezes até gordofóbicos em alguns desses filmes, “Sexo sem Compromisso” se sai até que razoavelmente bem, considerando o contexto em que foi produzido e a mentalidade de então, dez anos atrás. Como um divertimento “sem compromisso”, retém o espectador e funciona, mesmo que, para alguns, moderadamente.
Eli: [batendo na porta de Adam] Não consigo focar no meu pornô com todo esse sexo real acontecendo do meu lado!
Uma produção leve, e com alguns aspectos bacanas. GATOS, FIOS DENTAIS E AMASSOS é uma comédia/drama naquele estilo “coming of age”, em que a protagonista passa pela temerosa fase da puberdade, e vai descobrindo o corpo, o social e, principalmente, o outro. A representatividade neste universo branco está devidamente feita, ainda que com alguns problemas bastante sérios; o fato de Georgia ser uma menina “feia” contribui para que algumas lições sejam possivelmente tiradas do filme, mesmo que, eticamente, ela seja uma protagonista extremamente egoísta, e não aprenda com os seus erros em momento algum... Problemas de construção de arco em produções como essa se encontram aos montes, mas não devemos nos ater a buscar comentários político-sociais e/ou representações absolutamente diversas em filmes que não se propõem a fazê-lo, ou sequer pensam nisso. O fato é que, apesar das boas intenções, GATOS... é uma comédia mediana, com alguns pontos positivos no sentido do entretenimento, e negativos no sentido representativo, se é que se deve falar assim. Entre as produções de sua geração, não é uma que se sobressai. E, sobre elas, “Meninas Malvadas”, de alguns anos antes, ainda se mostra um referencial aparentemente imbatível. Se fosse para escolher entre uma e outra, eu reveria "Meninas Malvadas", com certeza.
”Georgia Nicolson: Eu não me importo mais com parecer perfeita, isso é tão superestimado! Não preciso de uma cirurgia plástica ou de cabelo loiro, porque meu namorado deus-do-sexo gosta de mim DO JEITO QUE EU SOU!”
Aqui, realmente, a coisa desandou. LAS CHICAS DEL CABLE, que tinha sido um retumbante sucesso nas suas primeiras duas instalações (ambas ainda em 2017), reencontra em sua terceira temporada problemas que já tinha, e dessa vez com origens novas... Os comprometimentos que a produção vinha apresentando, especialmente no roteiro e em algumas atuações, só ficam mais evidentes e chamativos. A maldade “irreal” e “desproporcional” da vilã Carmen simplesmente torna os acontecimentos pouco críveis, junto de uma série de novas situações que são difíceis de acreditar (como todo o arco do irmão gêmeo de Pablo e o improvável novo romance que vive Ángeles). Esses são alguns dos maiores defeitos que apresenta a terceira temporada, que para além disso, se estende por tempo demais demais no triângulo amoroso central (que nunca parece se resolver) e traz várias discussões importantes (como o aborto e a transsexualidade) de maneira superficial e pouco debatida de fato. Tais características “novelescas” são a delícia de alguns, mas para outros, realmente incomodam. É por motivos como esses que pessoas abandonam séries que chegam a ter seis temporadas inteiras com episódios de uma hora cada. Não veria de novo, e não indico.
”Alba: Não podemos mudar o passado, mas podemos ser pacientes e aprender a viver com ele, embora não seja uma tarefa fácil.”
A irreverente e memorável atuação de Jack Black neste que é um de seus maiores sucessos segue sendo, quase vinte anos depois, diversão garantida. ESCOLA DE ROCK, filme que chamou a atenção do mundo para a musicalidade do Tenacious D, apresenta uma história simples e curiosa: o quê aconteceria se um roqueiro fracassado desse aulas numa escola particular, como o professor substituto com quem vive? O resultado, como era de se esperar, é uma coleção de situações bizarras e cômicas, sobretudo pela relação que se estabelece entre a “rebeldia” do rock clássico com a “rigidez” do ensino formal. O que a Música passa a representar, para os alunos privilegiados dessa escola, é talvez uma das coisas mais bonitas de que se tem notícia; é sobre como a Arte pode, de fato, ajudar um aluno a se expressar, se entender melhor, coisa que outras disciplinas talvez não produzam com a mesma eficácia. E não é para menos: esta é a comédia com tema musical de maior receita do mundo, até 2015. Se esses não são motivos suficientes para dar uma olhada neste clássico de Jack Black, eu não sei quais podem ser. Para ver repetidas vezes!
“Dewey Finn: Eu tenho sido tocado pelas suas crianças... E tenho certeza que toquei elas também.”
Apesar dos visíveis esforços em conjunto, aqui temos uma temporada consideravelmente inferior à sua antecessora... LAS CHICAS DEL CABLE, primeira produção da Netflix completamente em espanhol, havia estreado ainda naquele ano de 2017, tendo aproveitado o momentum de seu êxito para rapidamente produzir uma sequência à sua história. Tal sequência, que resultou nesta segunda temporada, não se apresenta com o mesmo vigor da anterior, ainda que entretenha de maneira aceitável. Os furos roteirísticos, a falta de lógica de algumas atitudes (que não condizem com os núcleos das personagens) e algumas atuações medianas (em especial, nos trabalhos de Martiño Rivas e Ana Polvorosa) tornam o assistir a esta série um pouco enfadonho. Soma-se a isso uma antagonista absolutamente repetitiva, e irrealisticamente má, na personagem Carmen, e alguns episódios simplesmente “encheção de linguiça”, como os mais ao meio da temporada. Todos esses aspectos contribuem para que a série decline cada vez mais, nas temporadas que seguem, a medida que os problemas não se consertam e só seguem aumentando... Ainda que eu tenha assistido à produção seguinte, não indicaria. Como uma visita melhor, e ainda hispânica, em seu lugar, assistam à “Vis a Vis” - me parece muito mais proveitoso. Não indico.
"Carmen: Deixe-me te dar um conselho. Não espere nunca que um homem te solucione a vida."
O patriotismo exagerado que alguns brasileiros têm em relação aos Estados Unidos encontra em produções como essa um desafio muito grande com o qual lidar. Ao deixar-nos sem palavras, "A Máfia dos Tigres”, assinada por Rebecca Chaiklin põe em xeque nossas considerações sobre o que é “normal”, “legal” e “ético” no que tange a cultura estadunidense (tida por muitos como a maior referência de sucesso e prosperidade do mundo). De fato, TIGER KING não mede esforços em chocar seu público. Trabalhando com uma temática inusitada, e protagonizada por personagens absurdos (que facilmente poderiam ter saído de algum mocumentário norte-americano), “A Máfia dos Tigres” representa o que há de mais estranho e intenso na dita maior potência do mundo. Corrupção, mentiras, motivações escusas e tigres, muitos tigres esperam o espectador que, desatento, não dá nada pela série que, surpreendentemente, vai ficando cada vez mais esquisita. As personalidades excêntricas que compõem esta disputa territorial e capital têm, todas, seus esqueletos no armário, e Chaiklin não hesita em apresentá-los um a um, a cada episódio que passa. Sem perder o fôlego, e não parando de surpreender mesmo no último episódio, TIGER KING se apresenta uma série imperdível pelo ineditismo de sua temática, e ainda mais pela sua execução, que, primorosa, honra o nome das clássicas formas roteirísticas de prender o espectador em seu assento... Quem curte uma boa bizarrice não vai sair ileso. Assista!
“Doc Antle: Com certeza, Carole Baskin matou seu marido e o deu aos tigres. Na minha opinião.”
O hoje referencial “filme de monstro” THE MUMMY, assinado por Stephen Sommers, ainda se apresenta, vinte anos mais tarde, como um filme divertido, didático e “para toda a família”, como boa parte dos blockbusters de sua época. Evidentemente, “A Múmia” não é um filme que se leva tão a sério e, como característica das superproduções voltadas ao público infanto-juvenil, tem deslizes sociais, étnicos e até machistas, embora não se deva esperar de um filme “pipoca” como este um documentário realístico sobre o Egito Antigo... Ainda que tenha seus problemas de representação do povo árabe, este clássico dos filmes B tem, sim, sua dose de entretenimento garantida nas reviravoltas que dá e nas boas atuações de todo o elenco, e em especial nos trabalhos de Brendan Fraser e de uma Rachel Weisz em começo de carreira. De fato, é daqueles para assistir “desligando o cérebro”, como alguns dizem, o que não significa que seja um filme enfadonho ou pouco movimentado. É só não pensar que os povos retratados em películas como esta assim o são na realidade, como é costumeiro fazer com os povos asiáticos e sul-africanos, por exemplo. Um divertimento passageiro.
“Evelyn: [abrindo o sarcófago] Ah, tenho sonhado com isso desde que era menininha. Rick: Você sonha com gente morta?”
A série espanhola LAS CHICAS DEL CABLE deu o que falar na época de sua estreia; a primeira produção em espanhol da Netflix aborda o movimento feminista (ou o Feminismo como instituição incipiente) nos anos 20, numa Madrid retrógrada e difícil, sobretudo para as mulheres que, então, começavam a entrar no mercado de trabalho. Neste contexto, o cargo de telefonista era muito visado, no que se via uma possibilidade de crescimento e manutenção própria - a independência que, historicamente, tanto custou quanto custa hoje a mulheres de diversas regiões do mundo. Cenograficamente, e na indumentária de todas as personagens, “As Telefonistas” acerta e muito; entretanto, em questão de roteiro, ela não vai muito longe. A série aborda um tema amplo, mas num contexto específico, o que confere a ela certo ineditismo, embora a sua execução não esteja à altura da qualidade estética que ela apresenta... Há, aqui, alguns furos no roteiro, e absurdos que simplesmente passam despercebidos, em momentos que claramente a equipe de roteiristas se esqueceu de alguns personagens e situações... Mesmo assim, como um esforço em conjunto - próprio do movimento social de que se vale -, esta primeira temporada se sai bem e justifica a espera de uma segunda instalação. Para assistir sem suspender a ficção.
“Alba: Es hora de hacer las cosas a nuestra manera.”
A bem-realizada comédia estadunidense Brooklyn Nine-Nine chega a sua segunda temporada em 2014, dando continuidade a suas instalações no formato sitcom e divertindo praticamente todas as pessoas que a assistem. Dirigida por uma boa equipe e escrita de maneira até bastante responsável, a turma de Jake Peralta segue chamando atenção por sua irreverência e diversidade, com personagens tão distintos entre si quanto seja possível, ainda que dentro de certos padrões de protagonismo. Nesta segunda temporada, por vezes, vemos um humor etarista e capacitista, que escapa das bocas desses queridos personagens ainda que em momentos cada vez mais espaçados. O desenvolvimento de determinado romance, no meio desta temporada, soa natural e cheio de química, e a apresentação do pano de fundo do capitão Holt é um dos elementos que mais chama atenção no roteiro em geral. É uma série leve e divertida, embora seja cada dia mais notável que a polícia estadunidense da realidade está muito longe desta utopia de empatia e compreensão pelas minorias sociais (e talvez caminhe justo na direção contrária disso). Contudo, é uma baita série! Mandem ver que vale a pena.
“Gina Linetti: A língua inglesa não pode traduzir completamente a complexidade e profundidade dos meus pensamentos, então estou incorporando emojis na minha fala para me expressar melhor. Carinha piscando.”
A tão aguardada (e um pouco tardia) segunda temporada de FLEABAG chega em 2019 para sacudir a boa confusão da anterior e garantir, mais uma vez, um entretenimento irreverente e de ótima qualidade. Já era sabido que Phoebe Waller-Bridge era uma excelente roteirista, e o seu sucesso, também promovido pela emergente Amazon Prime, reapresentou a seus assinantes um tipo de humor muito específico, característico das comédias do Reino Unido dos anos 90. A sátira “chique”, o deboche velado, as situações constrangedoras e seus silêncios ainda mais, e o “companheirismo” que sentimos ao identificarmo-nos com Fleabag são alguns dos elementos que caracterizam tanto a série quanto o humor (revigoradíssimo) que ela retoma daquelas antigas comédias inglesas. O recurso da quebra da quarta parede, e a chegada de um elemento religioso bastante polêmico, roubam a cena e fazem com que cada episódio seja mais aguardado que o anterior. Por ser também tão curta, dá para assisti-la de uma vez só, tão fácil que é ser carregado por sua narrativa. Torna muito especial o fato de que, segundo a própria protagonista-roteirista, esta temporada é a última, e que nela, Phoebe disse tudo que queria dizer com o projeto. Vale muito a pena investir o pouco tempo que ela pede para apreciá-la - podendo ser revisitada sempre, e sempre com um bom fôlego! Assista sem receios!
“Fleabag: Não me faça uma otimista, você vai arruinar minha vida.”
Duna: Parte 2
4.4 626Li o livro quase dez anos atrás, e foi espantoso reencontrar cenas que eu já tinha imaginado hoje, na telona. É o tipo de filme que deve ser visto no cinema, de verdade. Esta foi a mais fiel e interessante adaptação de um livro para filme que eu já vi - adaptou, trouxe elementos novos e afirmou o que era canônico das Crônicas de Duna. Espero de coração que o Villeneuve assine as produções subsequentes, caso haja uma franquia, e que este filme jogue luz de volta a essa série de livros tão querida. Mora no meu coração... Assistido em 1/03/2024!
Pobres Criaturas
4.1 1,1K Assista AgoraVi no festival de cinema do Rio, duas semanas atrás.
Acho que nunca vou conseguir esquecer esse filme. É realmente impressionante, e o maior trabalho do Yorgos desde o Kinodontas.
Attenberg
3.3 73 Assista AgoraAcho que estou envelhecendo rsrsrs
31 Minutos - O Filme
3.3 82Apesar do sucesso da série, e o humor fino (e ao mesmo tempo escrachado) que desenvolveu nos seus primeiros anos, “31 Minutos - O Filme” não consegue atingir os patamares que a produção para a TV estabeleceu, não funcionando nem como a comédia ‘independente’ que tenta ser...
As altivas direções televisivas de Alvaro Díaz e Pedro Peirano não são suficientes para dar conta da linguagem cinematográfica que o filme exige. Depois de assistir ao material original, ver o filme parece uma experiência “menor”, ou pelo menos “pouco proveitosa”, mesmo sem comparar diretamente a episódios ou ápices específicos. Aqui e ali, há piadas características e situações abjetas, claro, mas num geral, o filme não consegue transmitir o timing e a pegada da série que o originou, e acaba fracassando em ambas as coisas.
Para além disso, nota-se que, no “casting” dos personagens, alguns clássicos ficaram de fora, como o Super Meia Man; e há, por vezes, fantoches demais (ou elementos demais, por assim dizer) em cada cena, o que bagunça um pouco a compreensão do longa.
Com a série, porém, não tem erro!
Corre lá!
“Juan Carlos Bodoque: Esto fue mi Nota Verde, soy Juan Carlos Bodoque.”
BLACKPINK: Light Up the Sky
3.9 83O supergrupo de K-pop BLACKPINK ganha, pela primeira vez, um documentário sobre o seu início de carreira. “Light Up the Sky” é a primeira produção da Netflix com a Coréia do Sul sobre este gênero musical que, nas últimas décadas, conseguiu criar inúmeros nichos de consumo pelo mundo.
E não é para menos. Grupos assinados por gigantes como a YG Entertainment movimentam toda uma economia, e representam, no caso da Coréia, um soft power através da música - o mesmo que o Japão conseguiu, há muitos anos, com os mangás e animes. A cultura não tem barreiras de idioma, e a prova disso é o sucesso absoluto que o quarteto atingiu no ocidente, onde talvez uma parcela relativamente pequena de seus fãs saiba coreano, japonês e/ou tailandês, para poder acompanhar o que dizem...
Qualquer que seja o caso, é inegável que BLACKPINK se apresenta como um produto cultural relevante, ainda que nunca se tenha ouvido falar a respeito. Para além disso, o documentário, como uma propaganda positiva, funciona perfeitamente, uma vez que evita, a todo custo, quaisquer partes “ruins” ou “indesejáveis” que envolvam o trabalho que Jisoo, Jennie, Rosé e Lisa fazem desembocar tão arduamente.
Ainda que seja explicitamente parcial, trata-se de um bom documentário, ao que vale a pena dar uma chance.
“Jennie: Ser dita na minha cara que não sou boa nas coisas que faço e tentar seguir em frente... É realmente difícil.”
Annabelle 2: A Criação do Mal
3.3 1,1K Assista AgoraVisitar os spin-offs da superprodução “Invocação do Mal” é, quase sempre, uma experiência mediana. Com “Annabelle 2: A Criação do Mal”, isso já era de se esperar - o que não torna, infelizmente, a visita menos penosa...
A segunda instalação da franquia “Annabelle”, iniciada por um filme ainda pior que este, toma lugar num cenário clássico do Terror dos anos 2000: uma casa no meio do nada, um poço misterioso, e uma família em desespero. A questão, como se tem dito, não é a repetição dos elementos, mas a inadaptação deles aos novos formatos que o Terror vem tomando, sobretudo nos últimos anos...
O que se tem visto, mundialmente, é uma verdadeira renovação do Terror enquanto gênero, sem perder os seus recursos clássicos, como jumpscares e a mitologia cristã/católica versus o diabo/demônio, por exemplo. O Novo Terror, que gerou filmes como “A Bruxa” (2015), “Hereditário” (2018), e “O Sacrifício do Cervo Sagrado” (2017), tem se valido de elementos semelhantes, porém reinventados a um público que, certamente, já se cansou da fórmula refeita inúmeras vezes, que consagrou filmes parecidos com este.
Falo sobre isso sempre: é importante dar uma olhada nos longas que vem sendo produzidos hoje, e que possuem uma roupagem que foge do que se convencionou. Filmes como os da franquia “Annabelle”, se muito, passam longe de marcar positivamente os amantes do gênero. É preciso conhecer novas formas de produzir e se reinventar, sempre e sempre.
Se não for isso, será sempre o cansaço da volta, e a espera por algo novo ou diferente que, a depender de direções como esta, nunca vai chegar.
“Janice: Perdoe-me, Pai, pois estou prestes a pecar.”
31 minutos (1ª Temporada)
4.6 13Não há muito o que dizer contra essa série.
O fato é que, há muito, já se procurava a versão completa dela (hoje disponibilizada no Youtube pelo próprio programa) e que, depois de assistir a todas as temporadas, só se pode dizer que vale muito a pena...
”31 Minutos” é uma série irreverente, contagiante e de um humor finíssimo, sobretudo em relação ao contexto econômico-social do Chile. O uso de regionalismos, gírias e discretas citações aos outros países da América Latina enriquecem todo o percurso também. Trata-se de uma produção leve, engraçada e ágil, com sacadas adultas e bastante específicas. Para além disso, há inequívocos pontos altos: a adaptação de Dom Quixote, as Notícias Verdes de Bodoque, as canções super bem escritas, os especiais de Natal, enfim...
Dá pra ficar falando um monte sobre como a série acerta em praticamente tudo, mas o ideal é mesmo buscar assistir e favorecer a APLAPLAC, que conseguiu construir um legado que se retroalimenta à medida que o tempo passa.
É uma daquelas produções que nunca vai ficar velha!
Incrível. Mesmo.
“Tulio y sus amigos: Yo nunca vi televisión porque es muy fome...”
Entrevista Com o Vampiro
4.1 2,2K Assista AgoraClássico do terror dos anos 90, o longa de Neil Jordan explora o universo vampiresco a partir de uma excêntrica dupla de vampiros.
Tendo sido roteirizado pela Anne Rice, a autora do livro, "Entrevista com o Vampiro” conta com as irreverentes atuações de Tom Cruise, Brad Pitt e um irreconhecível Antonio Banderas. Para completar, ainda temos a Kirsten Dunst em começo de carreira (literalmente começo, aos 11 anos!), mandando super bem também.
Em relação aos aspectos técnicos, trata-se de uma boa montagem, com ágil edição, mas efeitos especiais medianos (sobretudo a maquiagem de Cruise, que é uma verdadeira bola fora nesta produção). E assim como em “Supernatural” e “On The Road”, temos aqui também uma obra em que os dois protagonistas homens exalam uma tensão sexual quase que infinita, ainda que nunca se veja, efetivamente, nada em tela. O elemento da adoção de Claudia torna tudo isso ainda mais implícito, dada a responsabilidade que o casal de vampiros passa a ter ao criar uma “criança que nunca vai crescer”.
De qualquer maneira, é uma referência, sem dúvidas. Faz uma boa homenagem aos primeiros contos de vampiros, e adiciona à sua mitologia elementos que realmente funcionam, e que entretém sem grandes dificuldades. Certamente, em relação aos mais recentes livros e filmes que abordam o assunto, este longa dá de dez a zero sem descanso.
Assista! Realmente vale a pena.
“Lestat: Ninguém podia resistir a mim, nem mesmo você, Louis.
Louis: Eu tentei.
Lestat: [sorrindo] E quanto mais você tentava, mais eu te queria.”
Você (1ª Temporada)
3.7 916 Assista AgoraA aclamada e polêmica “YOU”, com todas as suas falhas, ainda se apresenta um olhar no mínimo interessante sobre um fenômeno social ainda pouco explorado...
Toda vez que a NETFLIX assina a produção de algo, é costume que pegue um hype, e que morra quase tão rápido quanto estourou. Pelo que parece, não é este o caso desta série que, prestes a ganhar uma terceira temporada, marcou bastante o imaginário dos aficcionados pelo formato.
A produção, estrelada pelo galã Penn Badgley, conta a história de um stalker que se apaixona por uma aspirante a escritora. A série procura apresentar um perseguidor de maneira a questionar, como disse o protagonista, “quanto a nossa sociedade é capaz de passar pano para crimes de um homem com o meu tom de pele, e que se pareça comigo”. Isso, de fato, ela faz muito bem.
Ignorando os vários furos que o roteiro apresenta (e que ficam ainda piores na segunda temporada), dá para perceber um alto grau de consciência por parte dos roteiristas em não apologizar a violência contra a mulher, ou tentar “suavizar” os aspectos mais doentes do personagem. Ainda que alguns núcleos (como o de Paco) sirvam mais para humanizar que retratar como que um assediador seria, na realidade, o resultado sai mais satisfatório do que o esperado - e pode servir como um excelente alerta ao seu público-alvo, meninas jovens, sobre quais os métodos e, principalmente, o quê caracteriza um acossador, um invasor de privacidade, e um potencial feminicida.
“Joe Goldberg : Olá, quem é você? Todas as suas contas são públicas. Você quer que eles te vejam, quer que te conheçam. E eu te agradeço por isso."
Ele Tem Mesmo os Seus Olhos
3.6 53A comédia social dirigida por Lucien Jean-Baptiste (que também protagoniza o longa) é definitivamente um must-see. “Ele Tem Mesmo os Seus Olhos” narra a história “invertida” de uma adoção inter-racial, e os excêntricos e curiosos desdobramentos que podem segui-la.
O filme, de maneira geral, incute um discurso anti-racista de forma sutil e leve. Apesar de tratar, especialmente, da situação negra numa França politicamente branca, a produção se sobressai por explicitar o fenômeno contrário a esse, em que casais brancos que adotam crianças não-brancas sejam vistos de forma diferente à retratada aqui. O estranhamento, os questionamentos, os comentários são todos pelo menos distintos, o que torna a visita a este filme uma experiência marcante e inesquecível.
Aliás, há de se reconhecer a edição finíssima do longa, que garante a dinâmica perfeita, e torna essa hora e meia muito mais ágil e eficaz na entrega de sua mensagem...
Incrível!
Jogo Perigoso
3.5 1,1K Assista AgoraCaramba...
A (surpreendentemente bem-feita) adaptação do thriller considerado “infilmável” de Stephen King chega à Netflix em 2017 de maneira sorrateira, quase despercebida, e como é bizarro que não se fale tanto dela...
“Jogo Perigoso”, primeira transposição ao cinema do livro homônimo do Rei do Terror, narra a história de uma situação que ocorre a um casal em crise, e que pode, por pior que isso soe, acontecer de verdade com alguém. A partir de um incidente infeliz que acomete um dos personagens, somos brindados com uma dose cavalar de incerteza e ansiedade, de medo e desespero.
O característico (e hoje clássico) Terror que faz desembocar Stephen King tem, entre outras marcas, a quase sempre presente fidedignidade; são situações parecidas com a realidade, e que ninguém questiona ser passíveis de tomar lugar de fato. Tal grau de realismo é, talvez, o maior trunfo de sua literatura; por isso, filmes como este se apresentam superlativamente perturbadores.
E para além dessas coisas, o longa maneja ser instigante partindo praticamente de uma única personagem, presa a uma cama por quase todo o tempo. Um dos desafios daqueles “roteiros mínimos”, em que, com a menor quantidade possível de elementos, tenta-se contar uma boa (e traumatizante) história. Acredito que este é um desses bons casos. Um filme que vale uma visita preparada.
Respira fundo que lá vem trauma...
“Jessie: Só me desamarra logo e a gente conversa.
Gerald: E se eu não desamarrar?
Jessie: O quê?
Gerald: E se eu não desamarrar?”
Escritores da Liberdade
4.2 1,1K Assista AgoraPérola do cinema estadunidense sobre Educação (ficando atrás somente do seminal “Sociedade dos Poetas Mortos”), FREEDOM WRITERS é um daqueles filmes que meio que nasceu clássico, ainda que tenha envelhecido mal em certos aspectos.
Sendo revisitada hoje, a produção estrelada por Hilary Swank tem uma pitada de “white saviour”, como tem sido repetidamente apontado por ativistas da internet, o que deve ser reconhecido, embora não represente um empecilho para o filme em si. De maneira geral, o filme entrega um drama bem construído, e se baseia numa premissa incrível: no quão transformadora pode ser a licenciatura quando abordada por métodos não-tradicionais e específicos, voltados para determinadas vivências e biografias...
O drama vivido pelos alunos desta escola é real, tenebrosamente real, e só de pensar que uma revolução de pensamento possa de fato ter ocorrido em um ambiente complexo como este, enche o nosso coração de orgulho e admiração pelo poder das palavras. Toda pessoa que estuda Letras ou deseja se tornar docente deveria dar uma olhada neste longa...
Busque saber do método inovador que Erin Gruwell desenvolveu na vida real, com a ajuda de todos os seus alunos. Vale muito a pena conhecer o seu trabalho!
“Eva: Gente branca querendo respeito como se merecessem de graça.”
O Dilema das Redes
4.0 594 Assista AgoraComo alguns documentários, “O Dilema das Redes” produz ao mesmo tempo uma visita repetitiva e um tanto superficial sobre este que é o grande tema da contemporaneidade.
THE SOCIAL DILEMMA, primeira produção da Netflix sobre o problema das tecnologias de comunicação, é um filme dinâmico, e tem algo exclusivo a seu favor: as entrevistas com ex-funcionários das gigantes empresas que hoje dominam a forma como nos comunicamos: Google, Facebook, Instagram, Whatsapp e muitas outras...
Ainda que se vejam, aqui e ali, informações novas (como a justificativa para o botão “curtir” do Facebook pelo seu próprio criador), a sensação é que o filme dá uma pincelada leve sobre o tema, expondo pontos gerais que, para qualquer pessoa que já entrou em contato com este conteúdo antes (ou já ouviu qualquer um dos entrevistados), já são senso comum. Há, também, um problema com a dramatização do longa, que parece didática e exagerada demais para ser levada a sério.
Reconheço a importância de seguir falando a respeito, repetindo as advertências e insistindo na revisão dos hábitos de consumo que temos - essas são as mensagens mais poderosas que o filme traz. Entretanto, a verdade é que mesmo as soluções que os funcionários sugerem, como desativar notificações de alguns aplicativos ou evitar usar o celular em determinadas situações, são atitudes desproporcionais ao tamanho do problema, que chega a ser escutar o que falamos com nossos amigos e personalizar inclusive que tipo de conteúdo somos mais “passíveis de desejar”.
O ideal, ainda que pareça utópico, seria que os celulares e outros dispositivos não dispusessem a nossa informação às empresas por padrão, ou pelo menos não impusessem isso para poder funcionar. Como foi dito noutro doc, os Direitos Digitais precisam estar vinculados aos Direitos Humanos, para que nossa privacidade seja sempre respeitada (e nunca hackeada). Enquanto os Direitos Humanos não contemplarem os Direitos Digitais, a manipulação e a revenda de informações será inescrupulosa, e inequivocamente presente.
“Sófocles: Nada grandioso entra nas vidas dos mortais sem uma maldição."
3% (4ª Temporada)
4.0 128E nossa série finalmente encontra seu destino...
“3%”, distopia tupiniquim que se passa numa República das Bananas infelizmente muito real, encontra seu desfecho em 2020, numa quarta instalação que faz jus a tudo que veio antes. Por causa do inesperado sucesso que alcançou a primeira temporada, pessoas do mundo todo conheceram um pouco do nosso idioma, da nossa gente e da dura realidade em que vivemos.
Escrevo “nossa série” porque, de fato, esta produção honra com todos os méritos a Brasilidade, nas suas infinitas beleza e corrupção. “3%” é um experimento social num Brasil menor, reduzido a um Continente e um Maralto, dois polos que se complementam (e se podem destruir) com a mesma facilidade com que as democracias latino-americanas se rendem ao fascismo e o superam com o passar dos anos.
A narrativa político-social que se encontra no roteiro desta última temporada vale ouro. O sentido da ocupação na tomada dos territórios simbólicos, o poder de uma população conscientizada, a utopia do bem-comum, enfim, são inúmeros elementos que tornam o assistir valer a pena. Tem os seus problemas de atuação e condução? Claro, como tantas outras séries da Netflix que os brasileiros idolatram, mas o que há de representatividade aqui, para a nossa gente, realmente não tem preço...
Menção honrosa para a impecável atuação de Bianca Comparato e as participações de Chico César e Ney Matogrosso, igualmente irretocáveis.
Assista sem medo. Vale muito a pena chegar ao final!
”Ezequiel: Você é o criador do seu próprio mérito.”
Sexo Sem Compromisso
3.3 2,2K Assista AgoraUm filme leve e divertido.
NO STRINGS ATTACHED, produção de 2011 do Ivan Reitman (responsável pelo sucesso dos anos 80 “Os Caça-Fantasmas” e por outras comédias menores) é um romance simples, direto ao ponto, e com alguns momentos interessantes.
A trama, protagonizada pela excelente Natalie Portman e por um Ashton Kutcher confortável, explora a relação “inesperada” que surge a partir de uma “amizade com benefícios” entre os dois. Como outras produções que abordam este tema (em especial, a cópia escarrada “Amizade Colorida”, que saiu meses depois), é um filme evidentemente clichê e previsível, mas que cumpre sua função no que lhe tange a forma e a sua execução.
Destaque para o fato de que, ainda que haja resquícios de pensamentos machistas e às vezes até gordofóbicos em alguns desses filmes, “Sexo sem Compromisso” se sai até que razoavelmente bem, considerando o contexto em que foi produzido e a mentalidade de então, dez anos atrás.
Como um divertimento “sem compromisso”, retém o espectador e funciona, mesmo que, para alguns, moderadamente.
Eli: [batendo na porta de Adam] Não consigo focar no meu pornô com todo esse sexo real acontecendo do meu lado!
Gatos, Fios Dentais e Amassos
3.4 577 Assista AgoraUma produção leve, e com alguns aspectos bacanas.
GATOS, FIOS DENTAIS E AMASSOS é uma comédia/drama naquele estilo “coming of age”, em que a protagonista passa pela temerosa fase da puberdade, e vai descobrindo o corpo, o social e, principalmente, o outro. A representatividade neste universo branco está devidamente feita, ainda que com alguns problemas bastante sérios; o fato de Georgia ser uma menina “feia” contribui para que algumas lições sejam possivelmente tiradas do filme, mesmo que, eticamente, ela seja uma protagonista extremamente egoísta, e não aprenda com os seus erros em momento algum...
Problemas de construção de arco em produções como essa se encontram aos montes, mas não devemos nos ater a buscar comentários político-sociais e/ou representações absolutamente diversas em filmes que não se propõem a fazê-lo, ou sequer pensam nisso. O fato é que, apesar das boas intenções, GATOS... é uma comédia mediana, com alguns pontos positivos no sentido do entretenimento, e negativos no sentido representativo, se é que se deve falar assim.
Entre as produções de sua geração, não é uma que se sobressai. E, sobre elas, “Meninas Malvadas”, de alguns anos antes, ainda se mostra um referencial aparentemente imbatível.
Se fosse para escolher entre uma e outra, eu reveria "Meninas Malvadas", com certeza.
”Georgia Nicolson: Eu não me importo mais com parecer perfeita, isso é tão superestimado! Não preciso de uma cirurgia plástica ou de cabelo loiro, porque meu namorado deus-do-sexo gosta de mim DO JEITO QUE EU SOU!”
As Telefonistas (3ª Temporada)
4.0 105 Assista AgoraAqui, realmente, a coisa desandou.
LAS CHICAS DEL CABLE, que tinha sido um retumbante sucesso nas suas primeiras duas instalações (ambas ainda em 2017), reencontra em sua terceira temporada problemas que já tinha, e dessa vez com origens novas...
Os comprometimentos que a produção vinha apresentando, especialmente no roteiro e em algumas atuações, só ficam mais evidentes e chamativos. A maldade “irreal” e “desproporcional” da vilã Carmen simplesmente torna os acontecimentos pouco críveis, junto de uma série de novas situações que são difíceis de acreditar (como todo o arco do irmão gêmeo de Pablo e o improvável novo romance que vive Ángeles).
Esses são alguns dos maiores defeitos que apresenta a terceira temporada, que para além disso, se estende por tempo demais demais no triângulo amoroso central (que nunca parece se resolver) e traz várias discussões importantes (como o aborto e a transsexualidade) de maneira superficial e pouco debatida de fato.
Tais características “novelescas” são a delícia de alguns, mas para outros, realmente incomodam. É por motivos como esses que pessoas abandonam séries que chegam a ter seis temporadas inteiras com episódios de uma hora cada.
Não veria de novo, e não indico.
”Alba: Não podemos mudar o passado, mas podemos ser pacientes e aprender a viver com ele, embora não seja uma tarefa fácil.”
Escola de Rock
3.7 1,2K Assista AgoraA irreverente e memorável atuação de Jack Black neste que é um de seus maiores sucessos segue sendo, quase vinte anos depois, diversão garantida.
ESCOLA DE ROCK, filme que chamou a atenção do mundo para a musicalidade do Tenacious D, apresenta uma história simples e curiosa: o quê aconteceria se um roqueiro fracassado desse aulas numa escola particular, como o professor substituto com quem vive? O resultado, como era de se esperar, é uma coleção de situações bizarras e cômicas, sobretudo pela relação que se estabelece entre a “rebeldia” do rock clássico com a “rigidez” do ensino formal.
O que a Música passa a representar, para os alunos privilegiados dessa escola, é talvez uma das coisas mais bonitas de que se tem notícia; é sobre como a Arte pode, de fato, ajudar um aluno a se expressar, se entender melhor, coisa que outras disciplinas talvez não produzam com a mesma eficácia. E não é para menos: esta é a comédia com tema musical de maior receita do mundo, até 2015. Se esses não são motivos suficientes para dar uma olhada neste clássico de Jack Black, eu não sei quais podem ser.
Para ver repetidas vezes!
“Dewey Finn: Eu tenho sido tocado pelas suas crianças... E tenho certeza que toquei elas também.”
As Telefonistas (2ª Temporada)
4.2 119 Assista AgoraApesar dos visíveis esforços em conjunto, aqui temos uma temporada consideravelmente inferior à sua antecessora...
LAS CHICAS DEL CABLE, primeira produção da Netflix completamente em espanhol, havia estreado ainda naquele ano de 2017, tendo aproveitado o momentum de seu êxito para rapidamente produzir uma sequência à sua história. Tal sequência, que resultou nesta segunda temporada, não se apresenta com o mesmo vigor da anterior, ainda que entretenha de maneira aceitável.
Os furos roteirísticos, a falta de lógica de algumas atitudes (que não condizem com os núcleos das personagens) e algumas atuações medianas (em especial, nos trabalhos de Martiño Rivas e Ana Polvorosa) tornam o assistir a esta série um pouco enfadonho. Soma-se a isso uma antagonista absolutamente repetitiva, e irrealisticamente má, na personagem Carmen, e alguns episódios simplesmente “encheção de linguiça”, como os mais ao meio da temporada.
Todos esses aspectos contribuem para que a série decline cada vez mais, nas temporadas que seguem, a medida que os problemas não se consertam e só seguem aumentando... Ainda que eu tenha assistido à produção seguinte, não indicaria.
Como uma visita melhor, e ainda hispânica, em seu lugar, assistam à “Vis a Vis” - me parece muito mais proveitoso.
Não indico.
"Carmen: Deixe-me te dar um conselho. Não espere nunca que um homem te solucione a vida."
A Máfia dos Tigres (1ª Temporada)
4.0 219O patriotismo exagerado que alguns brasileiros têm em relação aos Estados Unidos encontra em produções como essa um desafio muito grande com o qual lidar. Ao deixar-nos sem palavras, "A Máfia dos Tigres”, assinada por Rebecca Chaiklin põe em xeque nossas considerações sobre o que é “normal”, “legal” e “ético” no que tange a cultura estadunidense (tida por muitos como a maior referência de sucesso e prosperidade do mundo).
De fato, TIGER KING não mede esforços em chocar seu público. Trabalhando com uma temática inusitada, e protagonizada por personagens absurdos (que facilmente poderiam ter saído de algum mocumentário norte-americano), “A Máfia dos Tigres” representa o que há de mais estranho e intenso na dita maior potência do mundo.
Corrupção, mentiras, motivações escusas e tigres, muitos tigres esperam o espectador que, desatento, não dá nada pela série que, surpreendentemente, vai ficando cada vez mais esquisita. As personalidades excêntricas que compõem esta disputa territorial e capital têm, todas, seus esqueletos no armário, e Chaiklin não hesita em apresentá-los um a um, a cada episódio que passa.
Sem perder o fôlego, e não parando de surpreender mesmo no último episódio, TIGER KING se apresenta uma série imperdível pelo ineditismo de sua temática, e ainda mais pela sua execução, que, primorosa, honra o nome das clássicas formas roteirísticas de prender o espectador em seu assento...
Quem curte uma boa bizarrice não vai sair ileso. Assista!
“Doc Antle: Com certeza, Carole Baskin matou seu marido e o deu aos tigres. Na minha opinião.”
A Múmia
3.5 1,0K Assista AgoraO hoje referencial “filme de monstro” THE MUMMY, assinado por Stephen Sommers, ainda se apresenta, vinte anos mais tarde, como um filme divertido, didático e “para toda a família”, como boa parte dos blockbusters de sua época.
Evidentemente, “A Múmia” não é um filme que se leva tão a sério e, como característica das superproduções voltadas ao público infanto-juvenil, tem deslizes sociais, étnicos e até machistas, embora não se deva esperar de um filme “pipoca” como este um documentário realístico sobre o Egito Antigo...
Ainda que tenha seus problemas de representação do povo árabe, este clássico dos filmes B tem, sim, sua dose de entretenimento garantida nas reviravoltas que dá e nas boas atuações de todo o elenco, e em especial nos trabalhos de Brendan Fraser e de uma Rachel Weisz em começo de carreira.
De fato, é daqueles para assistir “desligando o cérebro”, como alguns dizem, o que não significa que seja um filme enfadonho ou pouco movimentado. É só não pensar que os povos retratados em películas como esta assim o são na realidade, como é costumeiro fazer com os povos asiáticos e sul-africanos, por exemplo.
Um divertimento passageiro.
“Evelyn: [abrindo o sarcófago] Ah, tenho sonhado com isso desde que era menininha.
Rick: Você sonha com gente morta?”
As Telefonistas (1ª Temporada)
4.2 228 Assista AgoraA série espanhola LAS CHICAS DEL CABLE deu o que falar na época de sua estreia; a primeira produção em espanhol da Netflix aborda o movimento feminista (ou o Feminismo como instituição incipiente) nos anos 20, numa Madrid retrógrada e difícil, sobretudo para as mulheres que, então, começavam a entrar no mercado de trabalho.
Neste contexto, o cargo de telefonista era muito visado, no que se via uma possibilidade de crescimento e manutenção própria - a independência que, historicamente, tanto custou quanto custa hoje a mulheres de diversas regiões do mundo.
Cenograficamente, e na indumentária de todas as personagens, “As Telefonistas” acerta e muito; entretanto, em questão de roteiro, ela não vai muito longe. A série aborda um tema amplo, mas num contexto específico, o que confere a ela certo ineditismo, embora a sua execução não esteja à altura da qualidade estética que ela apresenta... Há, aqui, alguns furos no roteiro, e absurdos que simplesmente passam despercebidos, em momentos que claramente a equipe de roteiristas se esqueceu de alguns personagens e situações...
Mesmo assim, como um esforço em conjunto - próprio do movimento social de que se vale -, esta primeira temporada se sai bem e justifica a espera de uma segunda instalação.
Para assistir sem suspender a ficção.
“Alba: Es hora de hacer las cosas a nuestra manera.”
Brooklyn Nine-Nine (2ª Temporada)
4.4 187 Assista AgoraA bem-realizada comédia estadunidense Brooklyn Nine-Nine chega a sua segunda temporada em 2014, dando continuidade a suas instalações no formato sitcom e divertindo praticamente todas as pessoas que a assistem.
Dirigida por uma boa equipe e escrita de maneira até bastante responsável, a turma de Jake Peralta segue chamando atenção por sua irreverência e diversidade, com personagens tão distintos entre si quanto seja possível, ainda que dentro de certos padrões de protagonismo. Nesta segunda temporada, por vezes, vemos um humor etarista e capacitista, que escapa das bocas desses queridos personagens ainda que em momentos cada vez mais espaçados. O desenvolvimento de determinado romance, no meio desta temporada, soa natural e cheio de química, e a apresentação do pano de fundo do capitão Holt é um dos elementos que mais chama atenção no roteiro em geral.
É uma série leve e divertida, embora seja cada dia mais notável que a polícia estadunidense da realidade está muito longe desta utopia de empatia e compreensão pelas minorias sociais (e talvez caminhe justo na direção contrária disso).
Contudo, é uma baita série! Mandem ver que vale a pena.
“Gina Linetti: A língua inglesa não pode traduzir completamente a complexidade e profundidade dos meus pensamentos, então estou incorporando emojis na minha fala para me expressar melhor. Carinha piscando.”
Fleabag (2ª Temporada)
4.7 889 Assista AgoraA tão aguardada (e um pouco tardia) segunda temporada de FLEABAG chega em 2019 para sacudir a boa confusão da anterior e garantir, mais uma vez, um entretenimento irreverente e de ótima qualidade.
Já era sabido que Phoebe Waller-Bridge era uma excelente roteirista, e o seu sucesso, também promovido pela emergente Amazon Prime, reapresentou a seus assinantes um tipo de humor muito específico, característico das comédias do Reino Unido dos anos 90. A sátira “chique”, o deboche velado, as situações constrangedoras e seus silêncios ainda mais, e o “companheirismo” que sentimos ao identificarmo-nos com Fleabag são alguns dos elementos que caracterizam tanto a série quanto o humor (revigoradíssimo) que ela retoma daquelas antigas comédias inglesas.
O recurso da quebra da quarta parede, e a chegada de um elemento religioso bastante polêmico, roubam a cena e fazem com que cada episódio seja mais aguardado que o anterior. Por ser também tão curta, dá para assisti-la de uma vez só, tão fácil que é ser carregado por sua narrativa.
Torna muito especial o fato de que, segundo a própria protagonista-roteirista, esta temporada é a última, e que nela, Phoebe disse tudo que queria dizer com o projeto. Vale muito a pena investir o pouco tempo que ela pede para apreciá-la - podendo ser revisitada sempre, e sempre com um bom fôlego!
Assista sem receios!
“Fleabag: Não me faça uma otimista, você vai arruinar minha vida.”