Me lembro que da primeira vez que assisti esse filme fiquei bem impressionada, mas ao mesmo tempo senti uma grande frustração por ter ficado muito confusa. Foi difícil permanecer ligada ao filme a partir do momento que eles entram no túnel "moedor de carne" até o retorno para casa.
Por sorte assisti ontem mais uma vez e foi uma experiência muito diferente. Que filme maravilhoso... Ele é, do começo ao fim, em diversos aspectos, absolutamente insólito. O cenário da Zona é completamente arrepiante e estranho, constrói de uma maneira perfeita todo o suspense e tensão desse espaço vivido pelas personagens. Existem todos os cuidados exigidos pelo Stalker, o próprio fato de nem os soldados terem coragem de entrar na região, as porcas com os lenços brancos que precisam ser lançadas antes de avançar, a impossibilidade de seguir em linha reta pelo caminho mais curto: também é assim o filme, em nenhum momento vai direto ao ponto, da maneira mais simples. E agora entendo o porquê de ter sentindo tanta dificuldade de assistir a partir do momento que eles entram naquele túnel, ali realmente se constrói uma tensão absurda sobre o espaço e o desconhecido que precisa ser enfrentado.
É curioso porque, por mais que nada efetivamente aconteça, as armadilhas e distorções da Zona se fazem presentes. Naquela passagem, por exemplo, em que o Stalker e o Escritor descem a escada de ferro após terem atirado a porca e o Professor retrocede por conta da mochila e eles simplesmente retornam ao mesmo lugar de onde haviam saído! Ou em alguns momentos também em que os dois visitantes seguiram na frente, mas no plano seguinte quem aparece a frente, estranhamente, é o Stalker. Também quando todos deitam para descansar a adormecem, a imagem retorna a ser sépia, a câmera está filmando o Stalker e começa a se deslocar em apenas uma direção, filmando a água com os pertences perdidos daqueles que outrora viveram na vila destruída pelo suposto meteorito ou daqueles que os perderam lá no difícil trajeto para realizar seus desejos no quarto, e, depois desse longo trajeto linear, a câmera se depara novamente com a mão do Stalker, retorna, estranhamente, ao mesmo ponto de onde partiu. Estamos também presos nas armadilhas daquele espaço junto com as personagens.
E diante dessa questão sobre o que de fato é místico, o que de fato pode ser explicado de maneira puramente racional, as desconfianças que o escritor e o professor possuem sobre a misticidade da Zona, por mais que se apresentem céticos, querem chegar ao quarto para que seus desejos se realizem. O professor, inclusive, tamanha (e surpreendente) a crença que acaba depositando nesse fato, leva sua bomba para destruí-lo, porque crê que a infelicidade da humanidade se deve a realização de desejos mesquinhos e egoístas de poucos. Mas aí é que está: quando todos chegam finalmente no quarto, o Escritor passa a questionar muito insistentemente a veracidade daquilo tudo, querendo saber quem havia contado sobre as mortes causadas pela zona, quem comprovadamente já havia sido feliz depois de sair do quarto, quem tinha certeza realmente de todas as histórias que pairavam sobre aquele espaço. Dessa maneira agressiva e incisiva, ele consegue inclusive desbancar o Stalker, que, por sua vez, tinha naquele espaço sensação de felicidade, de liberdade, de altruísmo, era onde se sentia pleno e retornava apesar da possibilidade de apodrecer na prisão. Todos naquele momento perdem suas esperanças, cada um à sua maneira. A bomba é jogada na água, as lágrimas correm, todos sentam exaustos e em silêncio, desiludidos. Retornam para casa. E a cena final do filme? Ela simplesmente põe em cheque tudo que é construído até então, redimensiona todo o filme. Não existem respostas simples nem fechadas.
Enfim, ainda tem milhares de discussões e aspectos do filme muito essenciais, como a presença constante da água (dentro e fora da Zona, invadindo inclusive os espaços privados dos lares e construções), as discussões sobre a arte, as discussões metalinguísticas, a presença do cachorro preto, a trilha sonora, a poesia, as cores, a perturbação de constatar que os desejos mais profundos podem não corresponder com aquilo que racionalmente mais queremos, a questão sobre o que é enfim a felicidade...
É maravilhoso. E pra terminar coloco aqui duas citações do próprio Tarkovski: "em si mesmos, os fatos registrados naturalisticamente são absolutamente inadequados para a criação da imagem cinematográfica. No cinema, a imagem baseia-se na capacidade de apresentar como uma observação a percepção pessoal de um objeto". "[...] para ser fiel à vida e intrinsicamente verdadeira, uma obra deve, a meu ver, ser ao mesmo tempo um relato exato e efetivo de uma verdadeira comunicação de sentimentos" (T., 2002: 21)
Fiquei decepcionada. Independentemente dessa minha impressão mais individual, acho que o filme absolutamente não consegue se aprofundar nas questões que aborda e que de repente todos os conflitos encontram soluções simples e tudo fica bem. Não acho que represente a vida das mulheres brasileiras: é uma visão muito restrita e específica que passa ferozmente por uma questão de classe. Claro que tece críticas ao machismo no que diz respeito às cobranças feitas para as mulheres e às relações heteros desiguais, mas tudo muito água com açúcar. Que São Paulo é essa que é mostrada no filme de Laís Bodanzky? Tudo muito limpo, rico, todo mundo branco, sem contradições. Sem contradições: se colando de maneira ingênua a vida de Rosa, tem sim o papel muito ruim de não abordar o essencial, de não aprofundar aquilo que é mais sensível. Deixa de lado a realidade urgente das mulheres que sofrem também com o machismo sentido por Rosa, mas de forma muito mais violenta, muito mais urgente, muito mais desesperadora. Cheio de clichês, cheio de personagens estereotipadas. Prima pela conciliação. Triste...
Documentário lindo. Acaba aprofundando diversas questões, acho que preciso ver mais uma vez pra conseguir assimilar melhor. De toda forma, fiquei bem impactada com as cenas do maio de 68 na França. Parece que o filme coloca a gente ali, dentro daquele universo, aprofunda muito o que foi esse processo, tendo uma visão bastante crítica. Mostra todo o potencial revolucionário desse movimento, mas também evidencia todos as suas contradições e limites. Contradições de classe mesmo, a desconfiança do movimento operário com os estudantes, os limites de direção e para onde o movimento deveria seguir. Fiquei pensando muito sobre o tema da apropriação dos símbolos de luta por parte da indústria de massa. É revoltante como isso acontece, como o capitalismo consegue assimilar até aquilo que tenta o subverter e transforma em produto a ser consumido. Enfim, o documentário consegue travar reflexões políticas importantes, mas não dá respostas prontas e mantém sempre uma visão desconfiada daquilo que mostra: sem respostas prontas não há espaço pra uma postura passiva de quem assiste.
Achei um filme bastante forte. Sim, possui uma visão bastante imperialista, mas justamente por isso consegue fazer com que de certa forma se possa entender a ideologia construída de "pouco importa se vamos torturar brutalmente esses assassinos que possuem ligações com a Al-Qaeda. O que importa é salvar a vida de quem realmente significa (brancos, europeus e norte americanos) a qualquer custo.". É a expressão do que eles chamam de "Guerra ao terror" (que, inclusive, é título de outro filme de Kathryn Bigelow rs)
Esse filme é simplesmente maravilhoso. Tive a sorte de o escolher ao acaso pra assistir na mostra de cinema árabe de 2013.
Recomendo muito! E quero assistir mais uma vez Fiquei feliz de tê-lo encontrado aqui no filmow, mas uma pena que não tenha achado nenhum comentário aqui e só 1 avaliação :(
Eraserhead
3.9 922 Assista AgoraNunca assisti um filme que se parecesse tanto com um sonho quanto esse...
Digo, pesadelo. rs
Angustiante, amei
Retrato de uma Jovem em Chamas
4.4 901 Assista AgoraTô maravilhada
Stalker
4.3 504 Assista AgoraMe lembro que da primeira vez que assisti esse filme fiquei bem impressionada, mas ao mesmo tempo senti uma grande frustração por ter ficado muito confusa. Foi difícil permanecer ligada ao filme a partir do momento que eles entram no túnel "moedor de carne" até o retorno para casa.
Por sorte assisti ontem mais uma vez e foi uma experiência muito diferente. Que filme maravilhoso... Ele é, do começo ao fim, em diversos aspectos, absolutamente insólito. O cenário da Zona é completamente arrepiante e estranho, constrói de uma maneira perfeita todo o suspense e tensão desse espaço vivido pelas personagens. Existem todos os cuidados exigidos pelo Stalker, o próprio fato de nem os soldados terem coragem de entrar na região, as porcas com os lenços brancos que precisam ser lançadas antes de avançar, a impossibilidade de seguir em linha reta pelo caminho mais curto: também é assim o filme, em nenhum momento vai direto ao ponto, da maneira mais simples. E agora entendo o porquê de ter sentindo tanta dificuldade de assistir a partir do momento que eles entram naquele túnel, ali realmente se constrói uma tensão absurda sobre o espaço e o desconhecido que precisa ser enfrentado.
É curioso porque, por mais que nada efetivamente aconteça, as armadilhas e distorções da Zona se fazem presentes. Naquela passagem, por exemplo, em que o Stalker e o Escritor descem a escada de ferro após terem atirado a porca e o Professor retrocede por conta da mochila e eles simplesmente retornam ao mesmo lugar de onde haviam saído! Ou em alguns momentos também em que os dois visitantes seguiram na frente, mas no plano seguinte quem aparece a frente, estranhamente, é o Stalker. Também quando todos deitam para descansar a adormecem, a imagem retorna a ser sépia, a câmera está filmando o Stalker e começa a se deslocar em apenas uma direção, filmando a água com os pertences perdidos daqueles que outrora viveram na vila destruída pelo suposto meteorito ou daqueles que os perderam lá no difícil trajeto para realizar seus desejos no quarto, e, depois desse longo trajeto linear, a câmera se depara novamente com a mão do Stalker, retorna, estranhamente, ao mesmo ponto de onde partiu. Estamos também presos nas armadilhas daquele espaço junto com as personagens.
E diante dessa questão sobre o que de fato é místico, o que de fato pode ser explicado de maneira puramente racional, as desconfianças que o escritor e o professor possuem sobre a misticidade da Zona, por mais que se apresentem céticos, querem chegar ao quarto para que seus desejos se realizem. O professor, inclusive, tamanha (e surpreendente) a crença que acaba depositando nesse fato, leva sua bomba para destruí-lo, porque crê que a infelicidade da humanidade se deve a realização de desejos mesquinhos e egoístas de poucos. Mas aí é que está: quando todos chegam finalmente no quarto, o Escritor passa a questionar muito insistentemente a veracidade daquilo tudo, querendo saber quem havia contado sobre as mortes causadas pela zona, quem comprovadamente já havia sido feliz depois de sair do quarto, quem tinha certeza realmente de todas as histórias que pairavam sobre aquele espaço. Dessa maneira agressiva e incisiva, ele consegue inclusive desbancar o Stalker, que, por sua vez, tinha naquele espaço sensação de felicidade, de liberdade, de altruísmo, era onde se sentia pleno e retornava apesar da possibilidade de apodrecer na prisão. Todos naquele momento perdem suas esperanças, cada um à sua maneira. A bomba é jogada na água, as lágrimas correm, todos sentam exaustos e em silêncio, desiludidos.
Retornam para casa.
E a cena final do filme? Ela simplesmente põe em cheque tudo que é construído até então, redimensiona todo o filme. Não existem respostas simples nem fechadas.
Enfim, ainda tem milhares de discussões e aspectos do filme muito essenciais, como a presença constante da água (dentro e fora da Zona, invadindo inclusive os espaços privados dos lares e construções), as discussões sobre a arte, as discussões metalinguísticas, a presença do cachorro preto, a trilha sonora, a poesia, as cores, a perturbação de constatar que os desejos mais profundos podem não corresponder com aquilo que racionalmente mais queremos, a questão sobre o que é enfim a felicidade...
É maravilhoso.
E pra terminar coloco aqui duas citações do próprio Tarkovski: "em si mesmos, os fatos registrados naturalisticamente são absolutamente inadequados para a criação da imagem cinematográfica. No cinema, a imagem baseia-se na capacidade de apresentar como uma observação a percepção pessoal de um objeto". "[...] para ser fiel à vida e intrinsicamente verdadeira, uma obra deve, a meu ver, ser ao mesmo tempo um relato exato e efetivo de uma verdadeira comunicação de sentimentos" (T., 2002: 21)
Capitão Fantástico
4.4 2,7K Assista Agorakkkkkk
toskera
Como Nossos Pais
3.8 444Fiquei decepcionada. Independentemente dessa minha impressão mais individual, acho que o filme absolutamente não consegue se aprofundar nas questões que aborda e que de repente todos os conflitos encontram soluções simples e tudo fica bem. Não acho que represente a vida das mulheres brasileiras: é uma visão muito restrita e específica que passa ferozmente por uma questão de classe. Claro que tece críticas ao machismo no que diz respeito às cobranças feitas para as mulheres e às relações heteros desiguais, mas tudo muito água com açúcar.
Que São Paulo é essa que é mostrada no filme de Laís Bodanzky? Tudo muito limpo, rico, todo mundo branco, sem contradições. Sem contradições: se colando de maneira ingênua a vida de Rosa, tem sim o papel muito ruim de não abordar o essencial, de não aprofundar aquilo que é mais sensível. Deixa de lado a realidade urgente das mulheres que sofrem também com o machismo sentido por Rosa, mas de forma muito mais violenta, muito mais urgente, muito mais desesperadora.
Cheio de clichês, cheio de personagens estereotipadas.
Prima pela conciliação. Triste...
No Intenso Agora
4.0 38Documentário lindo. Acaba aprofundando diversas questões, acho que preciso ver mais uma vez pra conseguir assimilar melhor. De toda forma, fiquei bem impactada com as cenas do maio de 68 na França. Parece que o filme coloca a gente ali, dentro daquele universo, aprofunda muito o que foi esse processo, tendo uma visão bastante crítica. Mostra todo o potencial revolucionário desse movimento, mas também evidencia todos as suas contradições e limites. Contradições de classe mesmo, a desconfiança do movimento operário com os estudantes, os limites de direção e para onde o movimento deveria seguir.
Fiquei pensando muito sobre o tema da apropriação dos símbolos de luta por parte da indústria de massa. É revoltante como isso acontece, como o capitalismo consegue assimilar até aquilo que tenta o subverter e transforma em produto a ser consumido.
Enfim, o documentário consegue travar reflexões políticas importantes, mas não dá respostas prontas e mantém sempre uma visão desconfiada daquilo que mostra: sem respostas prontas não há espaço pra uma postura passiva de quem assiste.
Tomates Verdes Fritos
4.2 1,3K Assista AgoraA Idgie e a Ruth não eram só amigas! Viva o amor entre as mulheres <3 Filme lindo demais.
A Hora Mais Escura
3.6 1,1K Assista AgoraAchei um filme bastante forte. Sim, possui uma visão bastante imperialista, mas justamente por isso consegue fazer com que de certa forma se possa entender a ideologia construída de "pouco importa se vamos torturar brutalmente esses assassinos que possuem ligações com a Al-Qaeda. O que importa é salvar a vida de quem realmente significa (brancos, europeus e norte americanos) a qualquer custo.". É a expressão do que eles chamam de "Guerra ao terror" (que, inclusive, é título de outro filme de Kathryn Bigelow rs)
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Quando Duas Mulheres Pecam
4.4 1,1K Assista AgoraO que foi esse filme? Ainda estou processando...
Lore
3.8 128 Assista AgoraA trilha sonora desse filme é fantástica. Igualmente à fotografia e à atuação de Saskia Rosendahl.
Habibi
4.1 2Esse filme é simplesmente maravilhoso. Tive a sorte de o escolher ao acaso pra assistir na mostra de cinema árabe de 2013.
Recomendo muito! E quero assistir mais uma vez
Fiquei feliz de tê-lo encontrado aqui no filmow, mas uma pena que não tenha achado nenhum comentário aqui e só 1 avaliação :(