O Norte Americano Michael Moore é, sem dúvida, o documentarista mais polêmico e mundialmente reconhecido dos nossos tempos. Com trabalhos de peso como “Tiros em Columbine” (2002 – Oscar de melhor documentário), “Fahrenheit 11 de setembro” (2004), “Capitalism: A Love Story” (2009), Moore expõe, usando de seu tom ácido e bem humorado, as feridas sociais do lado mais sombrio da sociedade Norte Americana e eu recomendaria muito seus documentários para a parte dos Brasileiros que veem nos EUA a terra das eternas maravilhas.
Em minha opinião, seu trabalho mais genial e impactante é “Sicko – S.O.S. Saúde” de 2007. No documentário Moore traz à tona a origem da ideia dos chamados planos de saúde, que ainda na década de 70 foi vislumbrada pelo governo de Richard Nixon, como uma saída inteligente e lucrativa (extremamente lucrativa) de delegar a saúde dos Americanos para grandes corporações privadas. O documentarista viaja para o Canadá e para países Europeus para mostrar como o serviço universal de saúde funciona nesses lugares e constata, de forma jocosa, que ao contrário dos EUA, nesses países as pessoas não necessitam pagar pelos cuidados médicos para serem bem tratadas. Mas o ponto alto do filme é quando Michael Moore leva bombeiros e voluntários, que sofrem com problemas de saúde por consequência do socorro que prestaram quando do atentado de 11 de setembro de 2001, mas que não tinham condições financeiras de obterem o devido tratamento nos EUA (prestaram serviços em seu país e ainda assim não tiveram tratamento adequado), para Cuba e lá conseguem no sistema universal de saúde Cubano, tratamento médico gratuito de qualidade e medicações pelas quais pagaram valores simbólicos, muito mais baratos do que pagariam nos EUA.
Ironicamente, como mostra o documentário, a argumentação dos conservadores do partido republicano dos EUA, contrários ao serviço universal de saúde, defende que a ideia se trata de um experimento socialista, que tiraria do cidadão a possibilidade de escolher o seu próprio médico, algo que seria imposto pelo Estado, numa linha de raciocínio um tanto exótica, visto que se partirmos dela, os grandes países Europeus, por exemplo, onde a saúde pública funciona de maneira bastante satisfatória, seriam nações de práticas socialistas, o que sabemos que obviamente não é o que ocorre. A ideia do serviço universal de saúde para os Norte Americanos, que surgiu no governo de Bill Clinton, sendo o projeto levado adiante pela então primeira dama Hillary Clinton, acabou só sendo colocado em prática mais recentemente, já com a Casa Branca sob o comando de Barack Obama. No entanto, até hoje, a resistência por parte dos conservadores republicanos, que com suas campanhas fomentadas pelo lobby das poderosas empresas de plano de saúde, associadas é claro, com a poderosa e não menos gananciosa indústria farmacêutica, continua sendo um problema para a colocação em prática do projeto efetivamente.
No Brasil, como sabemos, temos o SUS – Sistema Único de Saúde e eu até imagino o que o caro leitor acaba de pensar: “Mas não funciona!”. Pois é, no nosso país o SUS não funciona como deveria e quem acha que isso se deve apenas a incompetência ou má gestão dos recursos públicos, não conhece o que realmente está por trás disso. Os planos de saúde no Brasil faturam milhões de reais e usam boa parte desse dinheiro em lobby político para que a saúde pública por aqui continue inoperante, afinal, quem pagaria mensalidades altas aos planos de saúde, se existisse um serviço público de qualidade??? É isso mesmo, o ramo em questão é enfestado por uma prática mafiosa (afinal que outro nome eu poderia dar a esse tipo de manobra?). Vocês sabiam que nos planos de saúde (e isso é mostrado no documentário de Michael Moore) existem profissionais com altos salários, especializados na busca de justificativas jurídicas para que os planos neguem procedimentos mais complexos (leia-se mais caros) aos seus segurados? Pois é, são profissionais que fazem essas empresas economizarem muito dinheiro e na prática, decretam a morte de muitas pessoas.
Mas a coisa anda mudando de figura. Décadas se passaram e a dinâmica medicina / paciente mudou de patamar, hoje em dia existem procedimentos médicos sofisticados e as pessoas querem dispor disso tudo, daí que a conta não está mais fechando para essas grandes corporações. A recente falência da UNIMED PAULISTANA, uma das gigantes do setor por aqui, mostra que essas empresas não estão mais dando conta de atender a gama de pacientes que amealharam durante todos esses anos. Por outro lado o Estado continua com um serviço de baixa qualidade (salvo raras exceções) e o que se vê é o surgimento de grupos de pequenas clínicas populares privadas (onde se cobram preços mais acessíveis) que estão se tornando uma alternativa aos cidadãos que não conseguem mais pagar as altas mensalidades dos planos de saúde e que não querem se sujeitar aos serviços de baixa qualidade oferecidos pelo SUS. O fato é que não se vislumbra solução quando o assunto é saúde no Brasil, tal fato só ocorrerá quando o Estado tomar conta como deve da saúde de seus contribuintes. Eu, aliás, tenho a esperança (utópica talvez) de que chegue o dia em que seja proibido que exista qualquer empresa privada, que cobre das pessoas por serviços de saúde, educação e segurança, só assim teremos ricos e pobres vendo o tripé básico de sua existência social, sendo oferecido de forma igualitária, justa e definitiva. No fundo, é isso que brada, de forma brilhante, o documentário de Michael Moore.
Mesmo que de uma forma psicodélica (talvez não houvesse outra maneira melhor de faze-lo), o filme mostra como se constrói a relação dos brasileiros com o poder e toda a canastrice e canalhice com as quais vamos levantando diante de nós mesmos os monumentos que mostram exatamente aquilo que somos. Resumir a obra a polêmica que cerca a sua feitura é uma tolice superficialista, ela vai muito além disso e vale muito a pena ser vista e usada como um grande ponto de reflexão. Mas não serão muitos os de nós que terão a percepção para alcançar tudo isso de que falo... De qualquer modo, um salve a perseverança herculana de Guilherme Fontes!!! [NOTA 8.0]
Nessa produção do cinema americano que virou pivô de um incidente diplomático que vem acirrando ainda mais o mal-estar que já existe nas relações entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte, culminando inclusive no adiamento do lançamento do filme por alguns dias, por iniciativa da produtora e de seus distribuidores, temendo as ameaças recebidas (supostamente vindas de Norte Coreanos) quanto a possíveis atentados que ocorreriam nas salas de projeção, o roteiro se constrói basicamente na trama em que dois jornalistas Norte Americanos planejam assassinar o presidente Kim Jong Un durante a viagem que fazem para uma entrevista com o líder maior daquele país.
O filme em si é tecnicamente muito bem realizado, fotografia e som que servem bem ao tipo de trabalho a que se propõem seus produtores, além de um ritmo dinâmico que não o faz cansativo em nenhum momento das quase duas horas de duração, destacando-se individualmente a bela atuação de Randall Park na pele do presidente Kim Jung Un. O humor da comédia, que em alguns momentos exagera no escracho escatológico e sexual (muito provavelmente aí o maior pecado do filme), passa também por momentos interessantes de uma crítica ácida que atinge não só o regime ditatorial que rege a Coreia do Norte, como também o sensacionalismo usado por boa parte do jornalismo Norte Americano na busca desesperada por audiência, equilibrando a direção do foco para as mazelas de ambos os lados (muito provavelmente aí o maior acerto do filme).
No que diz respeito a toda polêmica que se desenrola desde o anuncio do lançamento do filme, acho que é preciso dar um passo atrás para não cairmos no lugar comum, empobrecendo o discurso e limitando-nos a defesa da liberdade de expressão contra o “terrível ditador” Norte Coreano. Fico imaginando se um país como o Irã por exemplo (ou qualquer outra nação que não mantenha relações muito amistosas com o ocidente), lançasse um filme em que fosse encenada a intensão de assassinar o presidente Norte Americano, qual seria então a posição daqueles que hoje criticam tanto o desagrado explicito do governo Norte Coreano para com os produtores de “A Entrevista”. Não se trata aqui de defender um regime ditatorial, que de fato é exercido Kim Jung Un, mas acho interessante que tentemos entender a posição de todos os lados envolvidos.
Trata-se de um país fechado politica e culturalmente, sobre o qual portanto, sabemos pouco de como funcionam suas questões internas, então é interessante imaginar que provavelmente muitas das informações nos chegam sobre aquela nação, dando conta de um lugar extremamente atrasado e opressor, podem ser um tanto distorcidas. Recentemente me deparei com um vídeo rápido, de aproximadamente três minutos, o qual compartilho agora com vocês, que consegue nos mostrar em um plano geral a cidade de Pyongyang, capital Norte Coreana e o que podemos observar nele, ao contrario do que muitos imaginam, é um lugar limpo, organizado e seguro, que está longe de ser a cidade mais avançada do planeta, mas também esta longe, muito longe mesmo, de ser o pior lugar do mundo para se viver.
Creio, mesmo sem muita esperança de que isso verdadeiramente ocorra, que esse filme, mais do que toda a polêmica que ainda deve gerar, deveria nos despertar para uma reflexão de que o mundo real não é feito de heróis e vilões, que as diferenças culturais devem nos levar para um debate mais rico e não simplesmente para um distanciamento entre as pessoas ou mesmo entre as nações. Repito que, não se trata aqui de defender um regime ditatorial (abomino a repressão armada), muito menos de lançar uma visão tola e romântica de um mundo de paz e amor (já vimos que nenhuma das duas vertentes logra êxito em longo prazo), mas de ampliarmos as possibilidades na direção de algo que represente verdadeiramente a evolução da raça humana sobre a terra. [NOTA DO FILME: 7.2] https://www.youtube.com/watch?v=CKRidQJQLrs http://musicaart.net/2015/01/02/filme-a-entrevista-por-tadeu-castro/
Paulo Coelho é o único autor vivo a ser mais traduzido do que William Shakespeare. São 30 livros publicados e um alcance estimado de 165 milhões de leitores em todo o mundo. Sendo assim, mesmo que a crítica especializada ainda torça o nariz para a literatura que ele produz, estamos falando aqui de uma figura que já marcou o nome na história de sua época e que certamente seria tratado, em muitos países, como um ícone de orgulho da terra onde nasceu, o que ao que parece no Brasil, muito provavelmente só ocorrera depois da sua morte. “Não Pare Na Pista” é uma cinebiografia que mostra a história de vida de Paulo Coelho dividida em três momentos, a juventude nos anos 60, a vida adulta nos anos 80 e a maturidade atual mostrada em acontecimentos de sua vida já em 2013. Destaca-se na sua trajetória a parceria como letrista que teve com Raul Seixas, o que, aliás, enriquece bastante a trilha sonora, com músicas como “Gita”, “Meu Amigo Pedro” e “Não Pare Na Pista” (que dá nome ao filme), a prisão e tortura que sofreu durante o regime militar, a relação de mais de 30 anos que dura até os dias de hoje com sua mulher Christina Oiticica e a constante busca do escritor em se aprofundar no autoconhecimento, seja através de experiências sociais, espirituais e também na maneira como se entrega a sua produção literária. O filme talvez não consiga alcançar de forma plena a complexidade da figura retratada, o que aliás não seria mesmo uma tarefa fácil para qualquer pessoa que se aventura-se a tal feito, mas conta com boas atuações de Ravel Andrade, que faz Paulo ainda jovem e Júlio Andrade (os dois atores são irmãos na vida real) que interpreta o escritor já na vida adulta. A infelicidade maior do diretor foi usar o próprio Júlio para representar momentos mais recentes do biografado, fazendo uso de uma mascara grotesca de maquiagem, o que claramente limitava bastante o ator nas reações faciais, ficando aí o tropeço maior do filme, já que ao meu ver, a produção deveria ter simplesmente convidado o próprio Paulo coelho para retratar seus passos atuais. O que mais comove na historia de vida do autor de “Diário De Um Mago” é sua imensa obstinação em se tornar um escritor, mesmo ouvindo ainda jovem do próprio pai que: “ninguém vive de ser escritor” ou de um editor respeitado da época, que ao ler um dos primeiros materiais do escritor diz: “Você acha mesmo que alguém, algum dia, vai querer ler essas coisas que você escreve?”, no momento em que tinha nas mãos os originais de uma obra, que alguns anos depois venderia milhões de cópias, tornado Paulo Coelho um fenômeno literário que arrasta uma multidão de fãs por todos os cantos do mundo por onde passa e mesmo que o filme não tenha chegado onde queria, o biografado, esse sim, chegou muito mais longe do que poderiam imaginar aqueles que questionavam o seu talento. [NOTA 6.9] http://musicaart.net/2014/12/22/filme-nao-pare-na-pista-por-tadeu-castro/
As filmagens acompanham o dia a dia íntimo e profissional do consagrado escritor (prêmio Nobel de literatura) português José Saramago (falecido em 2010, aos 87 anos) e sua esposa, a jornalista espanhola Pilar Del Río, no período que compreende entre 2004 e 2008. Retrata a vida intensa de trabalho do casal, com viagens a feiras literárias, intermináveis entrevistas por toda parte do mundo, entrecortadas por períodos de descanso em casa (localizada na ilha de Lanzarote na Espanha) e a concepção, criação e lançamento de “A viagem do elefante”, que viria a ser seu penúltimo livro (A última obra do autor foi “CAIM”, lançado em 2009).
Tecnicamente o filme usa recortes, imagens e trilha sonora que vão retratando por um ângulo instigante o perfeito encaixe do casal, numa união forte e cheia de significados que podemos vislumbrar em frases do escritor que vão se sucedendo de forma natural e espontânea em momentos diversos do documentário, como quando Saramago diz: “Se eu tivesse morrido aos 63 anos, antes de conhecer Pilar, morreria muito mais velho do que serei quando chegar a minha hora”. A rotina insana de viagens seguidas, revela um momento marcante, quando o mesmo se vê diante da pergunta: “E porque trabalhar tanto?”, eis que ele responde: “É porque o tempo aperta, e quando o tempo aperta, há um sentimento de urgência”, numa clara demonstração da consciência que tinha de que o seu fim já estava relativamente próximo. No que diz respeito a quantidade enorme de entrevistas para as quais era convidado, ele declara com bom humor: “Não sei que diabo de interesse possam ter em declarações tantas vezes repetidas”.
Durante parte das filmagens, Saramago passa por um momento delicado de saúde e a luta pela recuperação, amparada na força extraordinária de Pilar, faz vir à tona reflexões sobre trabalho, arte, morte e amor. O maior mérito do filme é retratar, sem cair em clichês sentimentais, a bela dedicação mutua do casal. O resultado é um todo muito bem acabado, que com sua dinâmica nos prende e nos ejeta, usando como combustível a intensa entrega que se observa na convivência dessas duas figuras absolutamente interessantes e complementares. “José e Pilar” nos instiga a viver, sem dúvida, um belo documentário!
O diretor e roteirista Daniel Ribeiro lançou em 2010 o curta-metragem “EU NÃO QUERO VOLTAR SOZINHO” e com um retorno muito positivo de crítica e público vieram a ideia e os recursos para transformar aquele roteiro em um longa-metragem, que lançado em abril desse ano, com o nome “HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO” deu ao mesmo, merecidamente, um reconhecimento ainda maior, sendo inclusive escolhido para representar o Brasil na busca de uma vaga entre os finalistas na disputa de melhor filme estrangeiro na próxima edição do Oscar.
A história mostra as descobertas e o mergulho na vida que representa o período entre a adolescência e o inicio da juventude de Leonardo, que cego de nascença, lida com a superproteção da família, com os primeiros contatos com os laços mais fortes de afetividade, como também com o lado divertido e o lado cruel que são inerentes ao convívio com os demais colegas de colégio. Tecnicamente o filme mostra fotografia e som bem realizados, uma linda trilha sonora, além de bons atores, em especial no caso do protagonista, interpretado por Guilherme Lobo. Alguns escorregões na luz (sobre tudo nas cenas noturnas) e na montagem, que com alguns cortes abruptos acaba por prejudicar um pouco o desenvolvimento do ritmo de um belo roteiro, questões que, no entanto, passam batidas quando consideramos o ótimo resultado que vemos no todo desse grande trabalho.
Reduzir o filme a questão da homossexualidade (que, diga-se de passagem, é abordada de uma forma extremamente elegante), como fizeram algumas críticas quando do lançamento, é sem dúvida apequenar-se na análise de um roteiro que é antes de tudo uma bela historia de amores e amizades. O filme trata sim, de mostrar o tamanho da dificuldade de um individuo em crescer e se inserir no grupo que o cerca, apenas por não se encaixar naquilo que costumamos chamar de “normal” dentro da nossa sociedade, algo a meu ver didaticamente bem apropriado aos nossos tempos, em que vemos os mais intolerantes colocando as garras de fora de maneira cada vez mais feroz e destrutiva.
Mas o filme vai muito além disso tudo e com um bom gosto refinado nos lança para aquilo que eu chamaria de uma saudade saudável de algo que já vivemos ou que ansiamos por viver envoltos nas doces e conflituosas descobertas daquilo representa nos entregarmos ao amor romântico ou ao amor presente nas amizades mais fortes, e isso tudo visto por um a ângulo divertido e emocionante, retratado aqui no período da adolescência, mas que certamente podemos experimentar em outros momentos da vida. A ternura sutil com a qual o filme toca em todas essas delicadas e controversas questões é de uma felicidade, que nos faz sair da sessão com uma sensação de que podemos sim levar adiante nossa existência com muito mais doçura, leveza, liberdade, tolerância e grandeza de espirito. Bravíssimo!
MAIS DO MESMO Não é de hoje que a indústria artística no Brasil é dada a mergulhar em ondas de modismos, os quais duram o exato tempo do retorno monetário. Aqueles de boa memória, ou talvez nem tanto assim, vão recordar as ocorrências desse tipo de fenômeno na música brasileira com o advento do sertanejo, depois do axé, mais recentemente do funk e os de mais idade lembrarão até da efervescência midiática em cima da lambada e de seu ícone Beto Barbosa. É interessante notar como esse fenômeno vem permeando atualmente o cinema brasileiro, com ganhos de grande monta, provenientes de um publico que está frequentando em massa suas salas para assistir um certo estilo de comédia repetida a exaustão, como em uma linha de produção que cospe um produto em larga escala, plastificado em padrões milimétricos de tamanho, cor, cheiro e função. Aquele tipo de filme consumido pelo individuo para “descansar o cérebro” e dar algumas risadas, mas cujo conteúdo escorre da memória pelo mictório na saída do shopping, junto com o refrigerante consumido na praça de alimentação dez minutos antes de começar a sessão. Títulos como “SE EU FOSSE VOCÊ” (1 e 2 – O 3 já está em processo de produção), “DE PERNAS PRO AR” (1 e 2), “ATÉ QUE A SORTE NOS SEPARE” (1 e 2), “MUITA CALMA NESSA HORA” (não por acaso todos com o selo Globo Filmes) entre outros vão ocupando espaço nas telas modernas dos cinemas e como um rolo compressor levando multidões às salas, mas que não representam exatamente o pulsar criativo de uma geração de notáveis e sim a busca por uma retroalimentação de mercado, que mais dia menos dia esbarrará numa saturação ou quem sabe na substituição por um novo tipo de onda. Não se trata aqui de tentar desvendar o verdadeiro anseio do espectador brasileiro, porque isso seria pretensioso demais, dado um país de povo tão diverso, mas de refletir sobre qual será o legado que esse tipo de fenômeno deixara para a história cinematográfica nacional. Em “ODEIO O DIA DOS NAMORADOS”, produção a qual essa resenha pretende comentar, percebem-se atuações apenas razoáveis, emolduradas num bom padrão de som e fotografia. O roteiro por sua vez é apenas mais um exemplo do cinema que não se propõe ser mais do que um passa tempo tão pueril quanto o mais prosaico dos passa tempos. Aprofundar-me numa análise mais ampla desse filme, seria me repetir ainda mais e mais e mais sobre o mesmo, daquilo que eu prefiro entender apenas como um período de descanso da parte do cinema nacional que consegue chegar ao grande público. [NOTA 5,2] http://musicaart.net/2014/09/29/mais-e-mais-do-mesmo-filme-eu-odeio-dia-dos-namorados-por-tadeu-castro/
ALMODÓVAR E AQUILO QUE SOMOS Se pedirmos a qualquer especialista no assunto (o que não é o meu caso) para citar os dez melhores diretores de cinema da história é quase certo que na relação de todos eles constará o nome do espanhol Pedro Almodóvar, e não é para menos. São 65 anos de idade, 40 desses dirigindo cinema e mais de 20 longas metragem no currículo, com uma obra que inclui trabalhos robustos como “Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos” (1988), “Carne trêmula” (1997), “Má Educação” (2004), e o estonteante “A Pele que Habito” (2011), filme em que ele conseguiu condensar e elevar à potência máxima temáticas fortes como: paixão, sexo, moral, identidade, sobrevivência, que já tinha abordado em trabalhos anteriores, levando para a tela aquilo que poderíamos chamar de o ponto alto de maturidade de um artista. O escracho nonsense que se vê no seu trabalho mais recente, a comédia “Os Amantes Passageiros” (2013), mostra um Almodóvar que saí da zona de conforto, esfriando o tom denso característico em seus roteiros, meio como que um dar de ombros para a seriedade que leva a sua marca. Ainda assim, e talvez esteja aí o mérito maior dessa vez, o filme é uma metáfora daquilo que vivemos no mundo atual, com nossas crises e um olhar incerto sobre o futuro. Dentro de um avião que voa em círculos buscando o melhor local para um pouso de emergência, temos na classe econômica uma grande maioria dos passageiros que dormem dopados pelos comissários de bordo, sem saberem nada do que se passa. Já na classe executiva, se debatem em seus dilemas uma atriz paranóica, um homem de negócios envolvido em um mega escândalo financeiro, uma mulher de meia idade virgem preocupada em como solucionar sua questão maior (perder a virgindade), um matador de aluguel voando rumo a sua próxima missão e três comissários de bordo homossexuais que exercitam a dinâmica que envolve a luta pela sua liberdade sexual. São essas figuras que vão se entrelaçando na trama, cada um representando um subgrupo de nossa sociedade, levam consigo suas próprias prioridades que esbarram-se aqui e ali, construindo um todo caótico, que quando olhado sob uma lupa mais poderosa (no caso aqui a de Almodóvar), parecem fazer parte de uma substancia que se esfarela e se reconstrói em retroalimentação, num movimento cada vez menos dotado de significados e cada vez mais movido por impulsos de quem busca ora alívio, ora uma autoafirmação quase adolescente. Será fácil encontrar por aí aqueles que vão considerar esse filme como “muito longe do melhor de Almodóvar”, mas muito provavelmente essa era a última de suas preocupações quando dirigiu “Os amantes passageiros”, e quem sabe esteja aí o significado maior no resultado final desse trabalho, uma espécie de descompromisso que ao invés de o fazer mergulhar numa possível apatia, o lança ao extremo exagero, jogando na nossa cara, com cores fortes, muito daquilo que somos ou daquilo que negamos em nós mesmos. [NOTA 8,2] http://musicaart.net/2014/10/13/almodovar-e-aquilo-que-somos-text-by-tadeu-castro/
Temos aqui um Woody Allen mais desacelerado e com um roteiro fácil de ser digerido, mas sem perder a qualidade na arte e no poder de reflexão. Blue Jasmine traz para a tela o quão frágil e inconstante podem ser os castelos (físicos e lúdicos) que levantamos em torno de nós durante a vida, na construção e desconstrução daquilo que somos para nós mesmos e sobre tudo daquilo que somos para o meio que nos cerca. A atuação de Cate Blanchett, que no início soa até meio canastrona, se robustece durante o filme e se mostra o ponto alto da produção, que também nos traz, como de costume nas obras mais recentes de Allen, um belo e diferenciado acabamento de luz e fotografia, que nos faz surfar pela tela durante mais de uma hora e meia como quem aprecia uma bela pintura em movimento, talvez não com a mesma grandiosidade que nos causa impacto quando assistimos ao brilhante “Meia noite em Paris” (2011), mas com a marca de um cinema doce e caótico, afinal, esse é Woody Allen, um valioso diamante dos nossos tempos. [NOTA 8,2]
UM SINAL DE AMADURECIMENTO DA GLOBO FILMES Interessante a ideia de retratar o lado humano de Getúlio Vargas num momento histórico para o país como foram os dias que antecederam o seu fim, mesmo que isso cause controvérsias sobre a versão que é colocada aqui, no que diz respeito a sua personalidade, afinal, seria ele tão frágil e até certo ponto passivo em algumas de suas atitudes como mostra o filme?! Isso no entanto, não tira o mérito que se mostra no resultado final, som de qualidade e uma fotografia muito bem acabada, mesmo que atravessada por uma movimentação de câmeras acelerada e nervosa, que ao tentar dar mais impacto as cenas, acaba passando do ponto em vários momentos. Boas atuações de Tony Ramos, Drica Moraes e Alexandre Borges, como de todo o elenco de um modo geral, num trabalho que pode, quem sabe, representar um primeiro passo de amadurecimento da Globo Filmes, apontando para um lado menos mercadológico e tratando o cinema mais como arte, que é como ele deve ser feito, mas isso por enquanto é apenas uma esperança otimista. [NOTA 7.2]
Documentário extremamente robusto, a medida que vai muito além de apenas retratar o fenômeno Serra Pelada, conseguindo traçar uma linha na história brasileira que vai da Guerrilha do Araguaia ao episodio de Eldorado dos Carajás de uma forma que diz muito do que é o Brasil e de como se da por parte dos brasileiros a relação com o poder, seja pelo ponto de vista de um protagonista ou de um mero figurante de nossa historia, bem como o jeito com que colocamos em pratica nossos conceitos éticos extremamente distorcidos ou manuseados conforme as conveniências do momento. Serra Pelada, de seu surgimento aos dias de hoje (já que o documentário nos reporta aos dias atuais), é aqui finalmente mostrada por um ângulo mais aberto e o diretor Victor Lopes o faz com extrema felicidade, trata-se verdadeiramente de uma aula do que é o Brasil e do que são os Brasileiros, no sentido mais rico e amplo que essa afirmação pode carregar, focada do ponto de visão mais alto que um documentarista pode chegar, não o de um retrato, mas o de um raio x de um todo, basta apenas um olhar mais atento para que ao final do filme se tenha esse veredicto, eu pelo menos, ao final, fiz a única coisa que se pode fazer diante de tão brilhante resultado, aplaudir. Aplausos! [NOTA 10]
Extremamente denso, numa proposta de contar uma estória pessoal dentro de um contexto histórico Brasileiro, o filme abre espaço para o talentoso brilho de Denise Fraga. Num mergulho recheado de sensibilidade a trama transcorre com os dois personagens principais tentando fugir de um passado doloroso ligado as torturas criminosas cometidas pela ditadura militar no Brasil. Mesmo com boa atuação, Cesar Troncoso claramente não consegue manter o mesmo nível da atriz principal, um desequilíbrio, que ao final, também se nota em aspectos técnicos, como na luz que oscila entre exageros e acertos, na montagem que parece se perder em certos pontos, ficando a destacar na parte técnica apenas a ousadia (que poderia ter sido explorada em mais momentos do filme) dos efeitos que sobrepõe na imagem partes de um texto publicado em Diário Oficial que traz sentido a trama. O roteiro é outra questão que deixa a desejar, já que como quase todo o filme se passa dentro de um mesmo apartamento, e como se sabe, nesse tipo de caso, em que a cineasta não conta com a dinâmica de cenas externas de ritmo mais forte, o roteiro deve estar à altura dessa proposta de difícil execução. Na densidade do tema, no alto grau de sensibilidade aplicada e na belíssima atuação de Denise Fraga se encontra o tripé que faz grande esforço para manter o resultado final de pé, que em alguns momentos consegue, já em outros, falha claramente. [NOTA 5.8]
Eu não faço a menor ideia de como fazer um filme. Pode existir aí um certo grau de crueldade em se afirmar isso, mas o fato é que o resultado do filme passa essa nítida impressão, o que no entanto, talvez não seja um veredito de todo definitivamente negativo. A ideia de abordar a questão muito atual de como as pessoas estão vivendo no “piloto automático” ou como elas se preocupam em se enquadrarem no padrão geral de escolhas para sua vida e o quanto isso limita e empobrece a experiência de viver, pode ser visto como o ponto (de partida) alto do trabalho. O problema é que na ânsia de vagar livremente entre o mais reflexivo e o mais popular, a coisa toda se desmonta, o que alias fica claro é que é exatamente na montagem que o filme se perde completamente. A ousadia deve ser sempre bem vinda, mas por vezes o preço que se paga é um resultado desencontrado, ainda assim, considerando a boa atuação de Clarice Falcão como protagonista e aparições que cumprem o seu papel, como nos casos de Gregório Duvivier, Daniel Filho e Augusto Madeira, além de uma trilha sonora sutil mas bem colocada, o filme merece ser visto, mesmo considerando que esse é um daqueles casos em que a ideia parece bem melhor do que a execução. [NOTA 6.5]
O filme retrata uma China atual, um país com dimensões geográficas e populacionais gigantescas que passa por transformações profundas, fazendo isso através de historias pessoais de vida, no que talvez esteja o grande mérito do trabalho, que amplia aí seus tentáculos, funcionando como um instrumento de aprendizado sobre um país ao mesmo tempo tão próximo (o que a China produz e a evolução da sua economia já influencia diretamente no dia a dia do resto do mundo) e tão distante, como também como uma reflexão sobre como o ser humano se mistura e se submete ao ambiente macro sócio-produtivo, que pode com seu lado mais cruel nos sufocar e despertar em nós aquilo que temos de mais destrutivo e extremo. Bem acabado tecnicamente e bem dirigido, o filme abre portas para uma visão mais ampla de mundo, sendo assim, vale muito a pena ser visto. [NOTA 7.8]
Mesmo com um tom meio “auto-ajuda”, naquilo que esse estilo tem de mais enfadonho e pouco objetivo, o trabalho mostra uma face interessante que é a de confrontar visões de diferentes figuras das mais diversas áreas sobre a vida, num formato de reflexões. A quantidade de pessoas que o produtor (não se cita quem dirigiu o trabalho) tenta encaixar no documentário (em busca, provavelmente, de ampliar essa diversidade de ideias) também acaba atrapalhando no resultado final, já que figuras interessantes acabam tendo pouco tempo de aparição na edição final. A ideia é boa, mas poderia ter tido um acabamento melhor e um enfoque mais direcionado para a visão de experiência existencial de cada individuo, tirando de cena o lado mais místico e por vezes até um pouco apelativo. [NOTA 6.8]
Quando cito Paulo Francis como um mestre, de forma alguma isso quer dizer que eu tenha concordado com todas as suas posições. Minha deferência a Francis se da pela força apaixonada com que ele se dedicava ao trabalho de jornalista e sobre tudo em prol de um jornalismo de opinião, do qual tanto sentimos falta em nossos tempos atuais, esses tempos tão cheios de “mimimi”. Em CARO FRANCIS, aquilo que poderíamos cobrar de um bom documentário, como uma visão histórica do biografado, perde totalmente o sentido e a necessidade. Falar de Francis é reproduzi-lo como se faz nesse trabalho, isso por si só já basta. Os depoimentos de amigos próximos como Diogo Mainardi e Lucas Mendes, da esposa e de vários desafetos com quem colecionou tantas rusgas por conta de seus posicionamentos fortes, enriquecem o resultado final e fazem valer a pena ser visto e a partir daí caberá a cada um solidificar sua própria opinião sobre essa figura grandiosa da historia do jornalismo Brasileiro, pois como ele mesmo dizia, "as vezes as pessoas supervalorizam uma opinião, tornando aquilo que se diz algo sagrado e ela é apenas mais uma dentre varias que existem, e todas tem algo a acrescentar", daí o que de mais valioso existia no todo dessa figura, um jornalista que por muitos era considerado o supra-sumo do conservador, tinha na sua essência o que de mais libertário e humano pode existir em alguém, mesmo sendo quem era, o grande Paulo Francis! Resumindo, assistam! [NOTA 8,0]
Para ser bem sincero, não perco meu tempo tentando acompanhar essa enxurrada de comédias pastelão com a qual a Globo Filmes inundou o cinema brasileiro de uns três anos para cá. Nesse caso, no entanto, acabei me surpreendendo positivamente, não por um roteiro inteligente (em termos comedia inteligente no cinema brasileiro, acho que vamos ficar mesmo no caso único de O ALTO DA COMPADECIDA), mas pelas atuações que realmente dão ao resultado final uma tonalidade bem interessante. Lúcio Mauro (pai e filho), Fabio Porchat, Gregório Duvivier e Danton Mello vão muito bem e conseguem tirar boas gargalhadas de quem assiste, o que não se pode dizer de Bruno Mazzeo, que não consegue brilhar e patina numa mesmice que nos traz aquela sensação de que já vimos esse mesmo ator, fazendo esse mesmo papel, em algum outro filme de baixa qualidade. A forçação de barra no sotaque paulista e outros exageros são os pontos fracos já comuns em outras produções parecidas e recentes. Uma comédia que se por um lado faz rir, o que poderíamos chamar de alvo básico no gênero, não vai muito além, pelo menos para aqueles que esperam algo mais de um filme. [NOTA 6,2]
Para mim, pessoalmente, duas Francezinhas lindas se beijando na tela já valeria o ingresso, mas se esse não é o seu caso, ainda assim eu digo: Vá ao cinema conferir AZUL É A COR MAIS QUENTE! Retratando encontros e desencontros em meio a descobertas de sensações e sentimentos, o filme claramente não tem a intensão de chocar (mesmo que se ouça burburinhos na sala de cinema nas cenas mais tórridas) e sim de desmistificar o que é a paixão, o amor ou simplesmente o tesão entre duas mulheres, e nesse sentido, sua grande repercussão vem bem a calhar, já que estamos num momento histórico em que a parte mais conservadora e retrógrada da sociedade Francesa (e porque não dizer, mundial) coloca as suas garras de fora. Mesmo que o roteiro não seja o ponto forte nesse trabalho, ainda assim ele serve como uma boa moldura para a mensagem principal do filme, a liberdade no sentir da forma que a cada um convier e a maneira que individualmente a pessoa se lida com essa liberdade. É preciso citar a excelente atuação da linda e talentosa protagonista Adele Exarchopoulos. Tecnicamente, a câmera que insiste freneticamente durante todo o filme em focar na expressão dos rostos tentando extrair sensações diversas e que poderia representar o ponto alto do filme, acaba a meu ver, sendo o ponto falho no conjunto da obra, já que de certa forma, limita as tomadas mais abertas (as mais belas no filme) que poderiam ampliar a visão do que o diretor tenta passar. Mesmo assim o filme marca presença, seja pelo significado na coragem de afrontar o lado mais conservador da sociedade contemporânea, seja pela doçura com que consegue colocar na tela cenas tão intensas. [NOTA 7.2]
Mesmo que o documentário seja todo num tom de homenagem de fãs, o resultado ficou bem interessante, já que mostrou nas imagens de bastidores e depoimentos de empresário e produtor a energia que parecia inesgotável dos rapazes da banda, contando a historia completa desde os tempos de Banda Utopia (foi o primeiro nome do grupo) até o acidente aéreo fatal em 02 de março de 1996. Minha experiência pessoal num show da banda foi de surpresa, ao constatar ao vivo que eram ótimos músicos (em especial o guitarrista Bento Hinoto) e não só um grupo de humor como imaginava boa parte das pessoas. A trajetória meteórica e peculiar do grupo já gerou também o projeto de um longa metragem que já tem previsão de lançamento para 2015 (é aguardar e conferir). [NOTA 6.2]
Grandioso e belíssimo! O primeiro acerto do filme está no nome! Um filme que reúne dentro de si todas as artes, a música (da lírica clássica a barulhenta contemporânea), as artes plásticas (certas cenas são uma pintura, ate mesmo no que diz respeito a suas imperfeições), a literatura (o texto em certos momentos faz jogo com a sensibilidade dos mais atentos), o cinema no sentido mais amplo, seja nas sombras e respingos, seja no foco definitivo e bem acabado, momentos que por vezes se misturam e num estalo se afastam, com cortes por varias vezes abruptos, e que mesmo assim, ao invés de te tirar da historia, te joga ainda mais dentro dela. Da linda atuação de Toni Servillo e a direção magnifica (outra palavra não definiria melhor) de Paolo Sorrentino. O filme joga na tela o encontro e o desencontro do humano com a inspiração, com o mundano, com o lugar onde vive (no caso Roma, mas poderia ser qualquer outro lugar), com o sagrado (o grandioso e o da pura vaidade), com a beleza (no sentido mais amplo e no mais efêmero), com a loucura e com a decadência. O filme é isso, os encontros e os desencontros do humano, mas ele não é só isso e vai ainda mais além, mas o resto não da para explicar com palavras. Grandioso e Belíssimo! Bravo! Bravíssimo! [NOTA 10]
Um filme que mesmo com três horas de duração, consegue prender a atenção sem se tornar cansativo, já mostra aí um mérito considerável. O roteiro não é o seu forte e nem é essa a proposta nesse caso, já que a sacada está em mostrar em flashes como se constrói e se movimenta boa parte do mercado financeiro mundo afora, especialmente nos Estados Unidos. Mais do que relatar ou glamourizar o perfil tresloucado de um manipulador do mundo dos negócios (deve existir milhares deles por aí), o filme joga os mais atentos numa reflexão de como a ânsia pelo sucesso e o pelo poder move muitos de nós, muitas vezes desesperadamente, fazendo do dinheiro e do prazer o foco principal de nossa existência, fato que a trama não julga, apenas constata e retrata de forma muito competente. Quanto as atuações e no que diz respeito a Dicaprio, mais uma vez saio do cinema com a sensação de que outro ator poderia ter feito melhor, mesmo porque para mim, a performance que chama realmente atenção no filme é a de Jonah Hill. No final, perdoados os exageros de algumas cenas, vale a pena investir o ingresso. [NOTA 7.9]
O filme fica apenas na tentativa de ser um bom roteiro de ação, adornado pela questão sentimental da professora para com o aluno, mas se perde totalmente, é descontinuado e se eleva apenas em pontos chaves da historia, se mostrando sem ritmo ou sem a consistência que se espera nesse tipo de filme. O que salva, apenas até certo ponto, são as boas atuações de Andréa Beltrão e Marco Ricca. Um resultado no todo apenas razoável, que em vários momentos flerta com aquilo que de mais medíocre o cinema pode nos mostrar. [NOTA 4.2]
“Ninfomaníaca – Esqueça o Amor”, mostra o cartaz na entrada do cinema. Para quem for ao cinema movido apenas pela polemica das cenas de sexo mais impactantes, encontrara algo que vai muito além disso, e é bom que seja dessa forma. O filme não tem nada de exagerado ou grosseiramente pornográfico como dizem alguns, ao contrario disso, trata-se de um filme bem construído, com uma fotografia que desde a primeira cena já chama atenção, oscilando de forma coerente com aquilo que pretende contar. A abordagem remete os mais atentos a reflexões sobre a culpa e todos os tabus que norteiam, ainda hoje, nossa maneira de lidar com o ato sexual. Através de paralelos com conceitos que vão de escalas numéricas e musicais, manifestações artísticas e sociais, questiona o tom sagrado e a busca desesperada a qual costumamos protagonizar durante a vida em busca do amor romântico/afetivo (será mesmo isso assim tão fundamental para nossa existência?-Fica na tela a pergunta), fazendo naufragar a chance de lidarmos de forma mais natural com nossa sexualidade. Boas atuações e o som do filme que por vezes nos faz mergulhar no drama da protagonista, costuram o todo em um resultado bem interessante, numa conclusão de corte abrupto, uma mensagem clara de “esperamos vocês no cinema para o volume II”, e não sei quanto a vocês, mas eu certamente estarei presente quando da continuação dessa obra, que mais do que qualquer outra coisa, aponta o dedo na nossa direção e nos faz pensar em algumas de nossas questões que ainda estão longe de estarem bem resolvidas. Sem duvida de que vale o ingresso! [NOTA 7.2]
Sem entrar na controvérsia sobre a qualidade do trabalho literário de Paulo Coelho (nunca li um livro completo dele para emitir uma opinião), acho uma tolice deixar de reconhecer mérito num escritor que conseguiu milhões e milhões de fãs pelo mundo, sendo ele brasileiro, visto que nossa literatura nem de longe consegue no mundo o alcance que conseguem nossa música e nosso futebol. O documentário “PAULO COELHO: O ALQUIMISTA DA PALAVRA” tem o mérito de em momento algum levar o tom de biografia autorizada, aquele tipo que costuma ser apenas uma auto-promoção, já que mostra o contra-ponto existente nas criticas mais pesadas a seus livros, além de depoimentos do próprio biografado em que ele em momento algum busca camuflar os momentos errantes que teve durante uma história de vida que de fato se mostra muito intensa e produtiva. Está aqui um documentário bem produzido, bem dirigido, leve e interessante. Recomendo! [NOTA 7.9]
Sicko - S.O.S. Saúde
4.2 301O Norte Americano Michael Moore é, sem dúvida, o documentarista mais polêmico e mundialmente reconhecido dos nossos tempos. Com trabalhos de peso como “Tiros em Columbine” (2002 – Oscar de melhor documentário), “Fahrenheit 11 de setembro” (2004), “Capitalism: A Love Story” (2009), Moore expõe, usando de seu tom ácido e bem humorado, as feridas sociais do lado mais sombrio da sociedade Norte Americana e eu recomendaria muito seus documentários para a parte dos Brasileiros que veem nos EUA a terra das eternas maravilhas.
Em minha opinião, seu trabalho mais genial e impactante é “Sicko – S.O.S. Saúde” de 2007. No documentário Moore traz à tona a origem da ideia dos chamados planos de saúde, que ainda na década de 70 foi vislumbrada pelo governo de Richard Nixon, como uma saída inteligente e lucrativa (extremamente lucrativa) de delegar a saúde dos Americanos para grandes corporações privadas. O documentarista viaja para o Canadá e para países Europeus para mostrar como o serviço universal de saúde funciona nesses lugares e constata, de forma jocosa, que ao contrário dos EUA, nesses países as pessoas não necessitam pagar pelos cuidados médicos para serem bem tratadas. Mas o ponto alto do filme é quando Michael Moore leva bombeiros e voluntários, que sofrem com problemas de saúde por consequência do socorro que prestaram quando do atentado de 11 de setembro de 2001, mas que não tinham condições financeiras de obterem o devido tratamento nos EUA (prestaram serviços em seu país e ainda assim não tiveram tratamento adequado), para Cuba e lá conseguem no sistema universal de saúde Cubano, tratamento médico gratuito de qualidade e medicações pelas quais pagaram valores simbólicos, muito mais baratos do que pagariam nos EUA.
Ironicamente, como mostra o documentário, a argumentação dos conservadores do partido republicano dos EUA, contrários ao serviço universal de saúde, defende que a ideia se trata de um experimento socialista, que tiraria do cidadão a possibilidade de escolher o seu próprio médico, algo que seria imposto pelo Estado, numa linha de raciocínio um tanto exótica, visto que se partirmos dela, os grandes países Europeus, por exemplo, onde a saúde pública funciona de maneira bastante satisfatória, seriam nações de práticas socialistas, o que sabemos que obviamente não é o que ocorre. A ideia do serviço universal de saúde para os Norte Americanos, que surgiu no governo de Bill Clinton, sendo o projeto levado adiante pela então primeira dama Hillary Clinton, acabou só sendo colocado em prática mais recentemente, já com a Casa Branca sob o comando de Barack Obama. No entanto, até hoje, a resistência por parte dos conservadores republicanos, que com suas campanhas fomentadas pelo lobby das poderosas empresas de plano de saúde, associadas é claro, com a poderosa e não menos gananciosa indústria farmacêutica, continua sendo um problema para a colocação em prática do projeto efetivamente.
No Brasil, como sabemos, temos o SUS – Sistema Único de Saúde e eu até imagino o que o caro leitor acaba de pensar: “Mas não funciona!”. Pois é, no nosso país o SUS não funciona como deveria e quem acha que isso se deve apenas a incompetência ou má gestão dos recursos públicos, não conhece o que realmente está por trás disso. Os planos de saúde no Brasil faturam milhões de reais e usam boa parte desse dinheiro em lobby político para que a saúde pública por aqui continue inoperante, afinal, quem pagaria mensalidades altas aos planos de saúde, se existisse um serviço público de qualidade??? É isso mesmo, o ramo em questão é enfestado por uma prática mafiosa (afinal que outro nome eu poderia dar a esse tipo de manobra?). Vocês sabiam que nos planos de saúde (e isso é mostrado no documentário de Michael Moore) existem profissionais com altos salários, especializados na busca de justificativas jurídicas para que os planos neguem procedimentos mais complexos (leia-se mais caros) aos seus segurados? Pois é, são profissionais que fazem essas empresas economizarem muito dinheiro e na prática, decretam a morte de muitas pessoas.
Mas a coisa anda mudando de figura. Décadas se passaram e a dinâmica medicina / paciente mudou de patamar, hoje em dia existem procedimentos médicos sofisticados e as pessoas querem dispor disso tudo, daí que a conta não está mais fechando para essas grandes corporações. A recente falência da UNIMED PAULISTANA, uma das gigantes do setor por aqui, mostra que essas empresas não estão mais dando conta de atender a gama de pacientes que amealharam durante todos esses anos. Por outro lado o Estado continua com um serviço de baixa qualidade (salvo raras exceções) e o que se vê é o surgimento de grupos de pequenas clínicas populares privadas (onde se cobram preços mais acessíveis) que estão se tornando uma alternativa aos cidadãos que não conseguem mais pagar as altas mensalidades dos planos de saúde e que não querem se sujeitar aos serviços de baixa qualidade oferecidos pelo SUS. O fato é que não se vislumbra solução quando o assunto é saúde no Brasil, tal fato só ocorrerá quando o Estado tomar conta como deve da saúde de seus contribuintes. Eu, aliás, tenho a esperança (utópica talvez) de que chegue o dia em que seja proibido que exista qualquer empresa privada, que cobre das pessoas por serviços de saúde, educação e segurança, só assim teremos ricos e pobres vendo o tripé básico de sua existência social, sendo oferecido de forma igualitária, justa e definitiva. No fundo, é isso que brada, de forma brilhante, o documentário de Michael Moore.
Chatô - O Rei do Brasil
2.8 182 Assista AgoraMesmo que de uma forma psicodélica (talvez não houvesse outra maneira melhor de faze-lo), o filme mostra como se constrói a relação dos brasileiros com o poder e toda a canastrice e canalhice com as quais vamos levantando diante de nós mesmos os monumentos que mostram exatamente aquilo que somos. Resumir a obra a polêmica que cerca a sua feitura é uma tolice superficialista, ela vai muito além disso e vale muito a pena ser vista e usada como um grande ponto de reflexão. Mas não serão muitos os de nós que terão a percepção para alcançar tudo isso de que falo... De qualquer modo, um salve a perseverança herculana de Guilherme Fontes!!!
[NOTA 8.0]
A Entrevista
3.1 1,0K Assista AgoraA ENTREVISTA: QUE A POLÊMICA DE LUGAR A REFLEXÃO
Nessa produção do cinema americano que virou pivô de um incidente diplomático que vem acirrando ainda mais o mal-estar que já existe nas relações entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte, culminando inclusive no adiamento do lançamento do filme por alguns dias, por iniciativa da produtora e de seus distribuidores, temendo as ameaças recebidas (supostamente vindas de Norte Coreanos) quanto a possíveis atentados que ocorreriam nas salas de projeção, o roteiro se constrói basicamente na trama em que dois jornalistas Norte Americanos planejam assassinar o presidente Kim Jong Un durante a viagem que fazem para uma entrevista com o líder maior daquele país.
O filme em si é tecnicamente muito bem realizado, fotografia e som que servem bem ao tipo de trabalho a que se propõem seus produtores, além de um ritmo dinâmico que não o faz cansativo em nenhum momento das quase duas horas de duração, destacando-se individualmente a bela atuação de Randall Park na pele do presidente Kim Jung Un. O humor da comédia, que em alguns momentos exagera no escracho escatológico e sexual (muito provavelmente aí o maior pecado do filme), passa também por momentos interessantes de uma crítica ácida que atinge não só o regime ditatorial que rege a Coreia do Norte, como também o sensacionalismo usado por boa parte do jornalismo Norte Americano na busca desesperada por audiência, equilibrando a direção do foco para as mazelas de ambos os lados (muito provavelmente aí o maior acerto do filme).
No que diz respeito a toda polêmica que se desenrola desde o anuncio do lançamento do filme, acho que é preciso dar um passo atrás para não cairmos no lugar comum, empobrecendo o discurso e limitando-nos a defesa da liberdade de expressão contra o “terrível ditador” Norte Coreano. Fico imaginando se um país como o Irã por exemplo (ou qualquer outra nação que não mantenha relações muito amistosas com o ocidente), lançasse um filme em que fosse encenada a intensão de assassinar o presidente Norte Americano, qual seria então a posição daqueles que hoje criticam tanto o desagrado explicito do governo Norte Coreano para com os produtores de “A Entrevista”. Não se trata aqui de defender um regime ditatorial, que de fato é exercido Kim Jung Un, mas acho interessante que tentemos entender a posição de todos os lados envolvidos.
Trata-se de um país fechado politica e culturalmente, sobre o qual portanto, sabemos pouco de como funcionam suas questões internas, então é interessante imaginar que provavelmente muitas das informações nos chegam sobre aquela nação, dando conta de um lugar extremamente atrasado e opressor, podem ser um tanto distorcidas. Recentemente me deparei com um vídeo rápido, de aproximadamente três minutos, o qual compartilho agora com vocês, que consegue nos mostrar em um plano geral a cidade de Pyongyang, capital Norte Coreana e o que podemos observar nele, ao contrario do que muitos imaginam, é um lugar limpo, organizado e seguro, que está longe de ser a cidade mais avançada do planeta, mas também esta longe, muito longe mesmo, de ser o pior lugar do mundo para se viver.
Creio, mesmo sem muita esperança de que isso verdadeiramente ocorra, que esse filme, mais do que toda a polêmica que ainda deve gerar, deveria nos despertar para uma reflexão de que o mundo real não é feito de heróis e vilões, que as diferenças culturais devem nos levar para um debate mais rico e não simplesmente para um distanciamento entre as pessoas ou mesmo entre as nações. Repito que, não se trata aqui de defender um regime ditatorial (abomino a repressão armada), muito menos de lançar uma visão tola e romântica de um mundo de paz e amor (já vimos que nenhuma das duas vertentes logra êxito em longo prazo), mas de ampliarmos as possibilidades na direção de algo que represente verdadeiramente a evolução da raça humana sobre a terra.
[NOTA DO FILME: 7.2]
https://www.youtube.com/watch?v=CKRidQJQLrs
http://musicaart.net/2015/01/02/filme-a-entrevista-por-tadeu-castro/
Não Pare na Pista - A Melhor História de Paulo …
2.8 141PAULO COELHO, UM ESCRITOR
Paulo Coelho é o único autor vivo a ser mais traduzido do que William Shakespeare. São 30 livros publicados e um alcance estimado de 165 milhões de leitores em todo o mundo. Sendo assim, mesmo que a crítica especializada ainda torça o nariz para a literatura que ele produz, estamos falando aqui de uma figura que já marcou o nome na história de sua época e que certamente seria tratado, em muitos países, como um ícone de orgulho da terra onde nasceu, o que ao que parece no Brasil, muito provavelmente só ocorrera depois da sua morte.
“Não Pare Na Pista” é uma cinebiografia que mostra a história de vida de Paulo Coelho dividida em três momentos, a juventude nos anos 60, a vida adulta nos anos 80 e a maturidade atual mostrada em acontecimentos de sua vida já em 2013. Destaca-se na sua trajetória a parceria como letrista que teve com Raul Seixas, o que, aliás, enriquece bastante a trilha sonora, com músicas como “Gita”, “Meu Amigo Pedro” e “Não Pare Na Pista” (que dá nome ao filme), a prisão e tortura que sofreu durante o regime militar, a relação de mais de 30 anos que dura até os dias de hoje com sua mulher Christina Oiticica e a constante busca do escritor em se aprofundar no autoconhecimento, seja através de experiências sociais, espirituais e também na maneira como se entrega a sua produção literária.
O filme talvez não consiga alcançar de forma plena a complexidade da figura retratada, o que aliás não seria mesmo uma tarefa fácil para qualquer pessoa que se aventura-se a tal feito, mas conta com boas atuações de Ravel Andrade, que faz Paulo ainda jovem e Júlio Andrade (os dois atores são irmãos na vida real) que interpreta o escritor já na vida adulta. A infelicidade maior do diretor foi usar o próprio Júlio para representar momentos mais recentes do biografado, fazendo uso de uma mascara grotesca de maquiagem, o que claramente limitava bastante o ator nas reações faciais, ficando aí o tropeço maior do filme, já que ao meu ver, a produção deveria ter simplesmente convidado o próprio Paulo coelho para retratar seus passos atuais.
O que mais comove na historia de vida do autor de “Diário De Um Mago” é sua imensa obstinação em se tornar um escritor, mesmo ouvindo ainda jovem do próprio pai que: “ninguém vive de ser escritor” ou de um editor respeitado da época, que ao ler um dos primeiros materiais do escritor diz: “Você acha mesmo que alguém, algum dia, vai querer ler essas coisas que você escreve?”, no momento em que tinha nas mãos os originais de uma obra, que alguns anos depois venderia milhões de cópias, tornado Paulo Coelho um fenômeno literário que arrasta uma multidão de fãs por todos os cantos do mundo por onde passa e mesmo que o filme não tenha chegado onde queria, o biografado, esse sim, chegou muito mais longe do que poderiam imaginar aqueles que questionavam o seu talento.
[NOTA 6.9]
http://musicaart.net/2014/12/22/filme-nao-pare-na-pista-por-tadeu-castro/
José e Pilar
4.5 160 Assista AgoraO PILAR DE SARAMAGO
As filmagens acompanham o dia a dia íntimo e profissional do consagrado escritor (prêmio Nobel de literatura) português José Saramago (falecido em 2010, aos 87 anos) e sua esposa, a jornalista espanhola Pilar Del Río, no período que compreende entre 2004 e 2008. Retrata a vida intensa de trabalho do casal, com viagens a feiras literárias, intermináveis entrevistas por toda parte do mundo, entrecortadas por períodos de descanso em casa (localizada na ilha de Lanzarote na Espanha) e a concepção, criação e lançamento de “A viagem do elefante”, que viria a ser seu penúltimo livro (A última obra do autor foi “CAIM”, lançado em 2009).
Tecnicamente o filme usa recortes, imagens e trilha sonora que vão retratando por um ângulo instigante o perfeito encaixe do casal, numa união forte e cheia de significados que podemos vislumbrar em frases do escritor que vão se sucedendo de forma natural e espontânea em momentos diversos do documentário, como quando Saramago diz: “Se eu tivesse morrido aos 63 anos, antes de conhecer Pilar, morreria muito mais velho do que serei quando chegar a minha hora”. A rotina insana de viagens seguidas, revela um momento marcante, quando o mesmo se vê diante da pergunta: “E porque trabalhar tanto?”, eis que ele responde: “É porque o tempo aperta, e quando o tempo aperta, há um sentimento de urgência”, numa clara demonstração da consciência que tinha de que o seu fim já estava relativamente próximo. No que diz respeito a quantidade enorme de entrevistas para as quais era convidado, ele declara com bom humor: “Não sei que diabo de interesse possam ter em declarações tantas vezes repetidas”.
Durante parte das filmagens, Saramago passa por um momento delicado de saúde e a luta pela recuperação, amparada na força extraordinária de Pilar, faz vir à tona reflexões sobre trabalho, arte, morte e amor. O maior mérito do filme é retratar, sem cair em clichês sentimentais, a bela dedicação mutua do casal. O resultado é um todo muito bem acabado, que com sua dinâmica nos prende e nos ejeta, usando como combustível a intensa entrega que se observa na convivência dessas duas figuras absolutamente interessantes e complementares. “José e Pilar” nos instiga a viver, sem dúvida, um belo documentário!
[NOTA 8,9]
http://musicaart.net/2014/11/21/o-pilar-de-saramago-por-tadeu-castro/
Hoje Eu Quero Voltar Sozinho
4.1 3,2K Assista AgoraUM FILME DOCE, SUTIL E DIDÁTICO
O diretor e roteirista Daniel Ribeiro lançou em 2010 o curta-metragem “EU NÃO QUERO VOLTAR SOZINHO” e com um retorno muito positivo de crítica e público vieram a ideia e os recursos para transformar aquele roteiro em um longa-metragem, que lançado em abril desse ano, com o nome “HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO” deu ao mesmo, merecidamente, um reconhecimento ainda maior, sendo inclusive escolhido para representar o Brasil na busca de uma vaga entre os finalistas na disputa de melhor filme estrangeiro na próxima edição do Oscar.
A história mostra as descobertas e o mergulho na vida que representa o período entre a adolescência e o inicio da juventude de Leonardo, que cego de nascença, lida com a superproteção da família, com os primeiros contatos com os laços mais fortes de afetividade, como também com o lado divertido e o lado cruel que são inerentes ao convívio com os demais colegas de colégio. Tecnicamente o filme mostra fotografia e som bem realizados, uma linda trilha sonora, além de bons atores, em especial no caso do protagonista, interpretado por Guilherme Lobo. Alguns escorregões na luz (sobre tudo nas cenas noturnas) e na montagem, que com alguns cortes abruptos acaba por prejudicar um pouco o desenvolvimento do ritmo de um belo roteiro, questões que, no entanto, passam batidas quando consideramos o ótimo resultado que vemos no todo desse grande trabalho.
Reduzir o filme a questão da homossexualidade (que, diga-se de passagem, é abordada de uma forma extremamente elegante), como fizeram algumas críticas quando do lançamento, é sem dúvida apequenar-se na análise de um roteiro que é antes de tudo uma bela historia de amores e amizades. O filme trata sim, de mostrar o tamanho da dificuldade de um individuo em crescer e se inserir no grupo que o cerca, apenas por não se encaixar naquilo que costumamos chamar de “normal” dentro da nossa sociedade, algo a meu ver didaticamente bem apropriado aos nossos tempos, em que vemos os mais intolerantes colocando as garras de fora de maneira cada vez mais feroz e destrutiva.
Mas o filme vai muito além disso tudo e com um bom gosto refinado nos lança para aquilo que eu chamaria de uma saudade saudável de algo que já vivemos ou que ansiamos por viver envoltos nas doces e conflituosas descobertas daquilo representa nos entregarmos ao amor romântico ou ao amor presente nas amizades mais fortes, e isso tudo visto por um a ângulo divertido e emocionante, retratado aqui no período da adolescência, mas que certamente podemos experimentar em outros momentos da vida. A ternura sutil com a qual o filme toca em todas essas delicadas e controversas questões é de uma felicidade, que nos faz sair da sessão com uma sensação de que podemos sim levar adiante nossa existência com muito mais doçura, leveza, liberdade, tolerância e grandeza de espirito. Bravíssimo!
[NOTA 9.6]
http://musicaart.net/2014/11/24/cinema-hoje-eu-nao-quero-voltar-sozinho-por-tadeu-castro/
Odeio o Dia dos Namorados
2.8 332MAIS DO MESMO
Não é de hoje que a indústria artística no Brasil é dada a mergulhar em ondas de modismos, os quais duram o exato tempo do retorno monetário. Aqueles de boa memória, ou talvez nem tanto assim, vão recordar as ocorrências desse tipo de fenômeno na música brasileira com o advento do sertanejo, depois do axé, mais recentemente do funk e os de mais idade lembrarão até da efervescência midiática em cima da lambada e de seu ícone Beto Barbosa.
É interessante notar como esse fenômeno vem permeando atualmente o cinema brasileiro, com ganhos de grande monta, provenientes de um publico que está frequentando em massa suas salas para assistir um certo estilo de comédia repetida a exaustão, como em uma linha de produção que cospe um produto em larga escala, plastificado em padrões milimétricos de tamanho, cor, cheiro e função. Aquele tipo de filme consumido pelo individuo para “descansar o cérebro” e dar algumas risadas, mas cujo conteúdo escorre da memória pelo mictório na saída do shopping, junto com o refrigerante consumido na praça de alimentação dez minutos antes de começar a sessão.
Títulos como “SE EU FOSSE VOCÊ” (1 e 2 – O 3 já está em processo de produção), “DE PERNAS PRO AR” (1 e 2), “ATÉ QUE A SORTE NOS SEPARE” (1 e 2), “MUITA CALMA NESSA HORA” (não por acaso todos com o selo Globo Filmes) entre outros vão ocupando espaço nas telas modernas dos cinemas e como um rolo compressor levando multidões às salas, mas que não representam exatamente o pulsar criativo de uma geração de notáveis e sim a busca por uma retroalimentação de mercado, que mais dia menos dia esbarrará numa saturação ou quem sabe na substituição por um novo tipo de onda. Não se trata aqui de tentar desvendar o verdadeiro anseio do espectador brasileiro, porque isso seria pretensioso demais, dado um país de povo tão diverso, mas de refletir sobre qual será o legado que esse tipo de fenômeno deixara para a história cinematográfica nacional.
Em “ODEIO O DIA DOS NAMORADOS”, produção a qual essa resenha pretende comentar, percebem-se atuações apenas razoáveis, emolduradas num bom padrão de som e fotografia. O roteiro por sua vez é apenas mais um exemplo do cinema que não se propõe ser mais do que um passa tempo tão pueril quanto o mais prosaico dos passa tempos. Aprofundar-me numa análise mais ampla desse filme, seria me repetir ainda mais e mais e mais sobre o mesmo, daquilo que eu prefiro entender apenas como um período de descanso da parte do cinema nacional que consegue chegar ao grande público.
[NOTA 5,2]
http://musicaart.net/2014/09/29/mais-e-mais-do-mesmo-filme-eu-odeio-dia-dos-namorados-por-tadeu-castro/
Os Amantes Passageiros
3.1 648 Assista AgoraALMODÓVAR E AQUILO QUE SOMOS
Se pedirmos a qualquer especialista no assunto (o que não é o meu caso) para citar os dez melhores diretores de cinema da história é quase certo que na relação de todos eles constará o nome do espanhol Pedro Almodóvar, e não é para menos. São 65 anos de idade, 40 desses dirigindo cinema e mais de 20 longas metragem no currículo, com uma obra que inclui trabalhos robustos como “Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos” (1988), “Carne trêmula” (1997), “Má Educação” (2004), e o estonteante “A Pele que Habito” (2011), filme em que ele conseguiu condensar e elevar à potência máxima temáticas fortes como: paixão, sexo, moral, identidade, sobrevivência, que já tinha abordado em trabalhos anteriores, levando para a tela aquilo que poderíamos chamar de o ponto alto de maturidade de um artista.
O escracho nonsense que se vê no seu trabalho mais recente, a comédia “Os Amantes Passageiros” (2013), mostra um Almodóvar que saí da zona de conforto, esfriando o tom denso característico em seus roteiros, meio como que um dar de ombros para a seriedade que leva a sua marca. Ainda assim, e talvez esteja aí o mérito maior dessa vez, o filme é uma metáfora daquilo que vivemos no mundo atual, com nossas crises e um olhar incerto sobre o futuro. Dentro de um avião que voa em círculos buscando o melhor local para um pouso de emergência, temos na classe econômica uma grande maioria dos passageiros que dormem dopados pelos comissários de bordo, sem saberem nada do que se passa. Já na classe executiva, se debatem em seus dilemas uma atriz paranóica, um homem de negócios envolvido em um mega escândalo financeiro, uma mulher de meia idade virgem preocupada em como solucionar sua questão maior (perder a virgindade), um matador de aluguel voando rumo a sua próxima missão e três comissários de bordo homossexuais que exercitam a dinâmica que envolve a luta pela sua liberdade sexual.
São essas figuras que vão se entrelaçando na trama, cada um representando um subgrupo de nossa sociedade, levam consigo suas próprias prioridades que esbarram-se aqui e ali, construindo um todo caótico, que quando olhado sob uma lupa mais poderosa (no caso aqui a de Almodóvar), parecem fazer parte de uma substancia que se esfarela e se reconstrói em retroalimentação, num movimento cada vez menos dotado de significados e cada vez mais movido por impulsos de quem busca ora alívio, ora uma autoafirmação quase adolescente.
Será fácil encontrar por aí aqueles que vão considerar esse filme como “muito longe do melhor de Almodóvar”, mas muito provavelmente essa era a última de suas preocupações quando dirigiu “Os amantes passageiros”, e quem sabe esteja aí o significado maior no resultado final desse trabalho, uma espécie de descompromisso que ao invés de o fazer mergulhar numa possível apatia, o lança ao extremo exagero, jogando na nossa cara, com cores fortes, muito daquilo que somos ou daquilo que negamos em nós mesmos.
[NOTA 8,2]
http://musicaart.net/2014/10/13/almodovar-e-aquilo-que-somos-text-by-tadeu-castro/
Blue Jasmine
3.7 1,7K Assista AgoraTemos aqui um Woody Allen mais desacelerado e com um roteiro fácil de ser digerido, mas sem perder a qualidade na arte e no poder de reflexão. Blue Jasmine traz para a tela o quão frágil e inconstante podem ser os castelos (físicos e lúdicos) que levantamos em torno de nós durante a vida, na construção e desconstrução daquilo que somos para nós mesmos e sobre tudo daquilo que somos para o meio que nos cerca. A atuação de Cate Blanchett, que no início soa até meio canastrona, se robustece durante o filme e se mostra o ponto alto da produção, que também nos traz, como de costume nas obras mais recentes de Allen, um belo e diferenciado acabamento de luz e fotografia, que nos faz surfar pela tela durante mais de uma hora e meia como quem aprecia uma bela pintura em movimento, talvez não com a mesma grandiosidade que nos causa impacto quando assistimos ao brilhante “Meia noite em Paris” (2011), mas com a marca de um cinema doce e caótico, afinal, esse é Woody Allen, um valioso diamante dos nossos tempos.
[NOTA 8,2]
Getúlio
3.1 383 Assista AgoraUM SINAL DE AMADURECIMENTO DA GLOBO FILMES
Interessante a ideia de retratar o lado humano de Getúlio Vargas num momento histórico para o país como foram os dias que antecederam o seu fim, mesmo que isso cause controvérsias sobre a versão que é colocada aqui, no que diz respeito a sua personalidade, afinal, seria ele tão frágil e até certo ponto passivo em algumas de suas atitudes como mostra o filme?! Isso no entanto, não tira o mérito que se mostra no resultado final, som de qualidade e uma fotografia muito bem acabada, mesmo que atravessada por uma movimentação de câmeras acelerada e nervosa, que ao tentar dar mais impacto as cenas, acaba passando do ponto em vários momentos. Boas atuações de Tony Ramos, Drica Moraes e Alexandre Borges, como de todo o elenco de um modo geral, num trabalho que pode, quem sabe, representar um primeiro passo de amadurecimento da Globo Filmes, apontando para um lado menos mercadológico e tratando o cinema mais como arte, que é como ele deve ser feito, mas isso por enquanto é apenas uma esperança otimista.
[NOTA 7.2]
Serra Pelada – A Lenda da Montanha de Ouro
3.8 29Documentário extremamente robusto, a medida que vai muito além de apenas retratar o fenômeno Serra Pelada, conseguindo traçar uma linha na história brasileira que vai da Guerrilha do Araguaia ao episodio de Eldorado dos Carajás de uma forma que diz muito do que é o Brasil e de como se da por parte dos brasileiros a relação com o poder, seja pelo ponto de vista de um protagonista ou de um mero figurante de nossa historia, bem como o jeito com que colocamos em pratica nossos conceitos éticos extremamente distorcidos ou manuseados conforme as conveniências do momento. Serra Pelada, de seu surgimento aos dias de hoje (já que o documentário nos reporta aos dias atuais), é aqui finalmente mostrada por um ângulo mais aberto e o diretor Victor Lopes o faz com extrema felicidade, trata-se verdadeiramente de uma aula do que é o Brasil e do que são os Brasileiros, no sentido mais rico e amplo que essa afirmação pode carregar, focada do ponto de visão mais alto que um documentarista pode chegar, não o de um retrato, mas o de um raio x de um todo, basta apenas um olhar mais atento para que ao final do filme se tenha esse veredicto, eu pelo menos, ao final, fiz a única coisa que se pode fazer diante de tão brilhante resultado, aplaudir. Aplausos!
[NOTA 10]
Hoje
3.3 91Extremamente denso, numa proposta de contar uma estória pessoal dentro de um contexto histórico Brasileiro, o filme abre espaço para o talentoso brilho de Denise Fraga. Num mergulho recheado de sensibilidade a trama transcorre com os dois personagens principais tentando fugir de um passado doloroso ligado as torturas criminosas cometidas pela ditadura militar no Brasil. Mesmo com boa atuação, Cesar Troncoso claramente não consegue manter o mesmo nível da atriz principal, um desequilíbrio, que ao final, também se nota em aspectos técnicos, como na luz que oscila entre exageros e acertos, na montagem que parece se perder em certos pontos, ficando a destacar na parte técnica apenas a ousadia (que poderia ter sido explorada em mais momentos do filme) dos efeitos que sobrepõe na imagem partes de um texto publicado em Diário Oficial que traz sentido a trama. O roteiro é outra questão que deixa a desejar, já que como quase todo o filme se passa dentro de um mesmo apartamento, e como se sabe, nesse tipo de caso, em que a cineasta não conta com a dinâmica de cenas externas de ritmo mais forte, o roteiro deve estar à altura dessa proposta de difícil execução. Na densidade do tema, no alto grau de sensibilidade aplicada e na belíssima atuação de Denise Fraga se encontra o tripé que faz grande esforço para manter o resultado final de pé, que em alguns momentos consegue, já em outros, falha claramente.
[NOTA 5.8]
Eu Não Faço a Menor Ideia do que eu Tô …
3.0 803Eu não faço a menor ideia de como fazer um filme. Pode existir aí um certo grau de crueldade em se afirmar isso, mas o fato é que o resultado do filme passa essa nítida impressão, o que no entanto, talvez não seja um veredito de todo definitivamente negativo. A ideia de abordar a questão muito atual de como as pessoas estão vivendo no “piloto automático” ou como elas se preocupam em se enquadrarem no padrão geral de escolhas para sua vida e o quanto isso limita e empobrece a experiência de viver, pode ser visto como o ponto (de partida) alto do trabalho. O problema é que na ânsia de vagar livremente entre o mais reflexivo e o mais popular, a coisa toda se desmonta, o que alias fica claro é que é exatamente na montagem que o filme se perde completamente. A ousadia deve ser sempre bem vinda, mas por vezes o preço que se paga é um resultado desencontrado, ainda assim, considerando a boa atuação de Clarice Falcão como protagonista e aparições que cumprem o seu papel, como nos casos de Gregório Duvivier, Daniel Filho e Augusto Madeira, além de uma trilha sonora sutil mas bem colocada, o filme merece ser visto, mesmo considerando que esse é um daqueles casos em que a ideia parece bem melhor do que a execução.
[NOTA 6.5]
Um Toque de Pecado
3.8 63O filme retrata uma China atual, um país com dimensões geográficas e populacionais gigantescas que passa por transformações profundas, fazendo isso através de historias pessoais de vida, no que talvez esteja o grande mérito do trabalho, que amplia aí seus tentáculos, funcionando como um instrumento de aprendizado sobre um país ao mesmo tempo tão próximo (o que a China produz e a evolução da sua economia já influencia diretamente no dia a dia do resto do mundo) e tão distante, como também como uma reflexão sobre como o ser humano se mistura e se submete ao ambiente macro sócio-produtivo, que pode com seu lado mais cruel nos sufocar e despertar em nós aquilo que temos de mais destrutivo e extremo. Bem acabado tecnicamente e bem dirigido, o filme abre portas para uma visão mais ampla de mundo, sendo assim, vale muito a pena ser visto.
[NOTA 7.8]
Eu Maior
4.4 138 Assista AgoraMesmo com um tom meio “auto-ajuda”, naquilo que esse estilo tem de mais enfadonho e pouco objetivo, o trabalho mostra uma face interessante que é a de confrontar visões de diferentes figuras das mais diversas áreas sobre a vida, num formato de reflexões. A quantidade de pessoas que o produtor (não se cita quem dirigiu o trabalho) tenta encaixar no documentário (em busca, provavelmente, de ampliar essa diversidade de ideias) também acaba atrapalhando no resultado final, já que figuras interessantes acabam tendo pouco tempo de aparição na edição final. A ideia é boa, mas poderia ter tido um acabamento melhor e um enfoque mais direcionado para a visão de experiência existencial de cada individuo, tirando de cena o lado mais místico e por vezes até um pouco apelativo.
[NOTA 6.8]
Caro Francis
3.6 17Quando cito Paulo Francis como um mestre, de forma alguma isso quer dizer que eu tenha concordado com todas as suas posições. Minha deferência a Francis se da pela força apaixonada com que ele se dedicava ao trabalho de jornalista e sobre tudo em prol de um jornalismo de opinião, do qual tanto sentimos falta em nossos tempos atuais, esses tempos tão cheios de “mimimi”. Em CARO FRANCIS, aquilo que poderíamos cobrar de um bom documentário, como uma visão histórica do biografado, perde totalmente o sentido e a necessidade. Falar de Francis é reproduzi-lo como se faz nesse trabalho, isso por si só já basta. Os depoimentos de amigos próximos como Diogo Mainardi e Lucas Mendes, da esposa e de vários desafetos com quem colecionou tantas rusgas por conta de seus posicionamentos fortes, enriquecem o resultado final e fazem valer a pena ser visto e a partir daí caberá a cada um solidificar sua própria opinião sobre essa figura grandiosa da historia do jornalismo Brasileiro, pois como ele mesmo dizia, "as vezes as pessoas supervalorizam uma opinião, tornando aquilo que se diz algo sagrado e ela é apenas mais uma dentre varias que existem, e todas tem algo a acrescentar", daí o que de mais valioso existia no todo dessa figura, um jornalista que por muitos era considerado o supra-sumo do conservador, tinha na sua essência o que de mais libertário e humano pode existir em alguém, mesmo sendo quem era, o grande Paulo Francis! Resumindo, assistam!
[NOTA 8,0]
Vai Que Dá Certo
2.9 802 Assista AgoraPara ser bem sincero, não perco meu tempo tentando acompanhar essa enxurrada de comédias pastelão com a qual a Globo Filmes inundou o cinema brasileiro de uns três anos para cá. Nesse caso, no entanto, acabei me surpreendendo positivamente, não por um roteiro inteligente (em termos comedia inteligente no cinema brasileiro, acho que vamos ficar mesmo no caso único de O ALTO DA COMPADECIDA), mas pelas atuações que realmente dão ao resultado final uma tonalidade bem interessante. Lúcio Mauro (pai e filho), Fabio Porchat, Gregório Duvivier e Danton Mello vão muito bem e conseguem tirar boas gargalhadas de quem assiste, o que não se pode dizer de Bruno Mazzeo, que não consegue brilhar e patina numa mesmice que nos traz aquela sensação de que já vimos esse mesmo ator, fazendo esse mesmo papel, em algum outro filme de baixa qualidade. A forçação de barra no sotaque paulista e outros exageros são os pontos fracos já comuns em outras produções parecidas e recentes. Uma comédia que se por um lado faz rir, o que poderíamos chamar de alvo básico no gênero, não vai muito além, pelo menos para aqueles que esperam algo mais de um filme.
[NOTA 6,2]
Azul é a Cor Mais Quente
3.7 4,3K Assista AgoraPara mim, pessoalmente, duas Francezinhas lindas se beijando na tela já valeria o ingresso, mas se esse não é o seu caso, ainda assim eu digo: Vá ao cinema conferir AZUL É A COR MAIS QUENTE! Retratando encontros e desencontros em meio a descobertas de sensações e sentimentos, o filme claramente não tem a intensão de chocar (mesmo que se ouça burburinhos na sala de cinema nas cenas mais tórridas) e sim de desmistificar o que é a paixão, o amor ou simplesmente o tesão entre duas mulheres, e nesse sentido, sua grande repercussão vem bem a calhar, já que estamos num momento histórico em que a parte mais conservadora e retrógrada da sociedade Francesa (e porque não dizer, mundial) coloca as suas garras de fora. Mesmo que o roteiro não seja o ponto forte nesse trabalho, ainda assim ele serve como uma boa moldura para a mensagem principal do filme, a liberdade no sentir da forma que a cada um convier e a maneira que individualmente a pessoa se lida com essa liberdade. É preciso citar a excelente atuação da linda e talentosa protagonista Adele Exarchopoulos. Tecnicamente, a câmera que insiste freneticamente durante todo o filme em focar na expressão dos rostos tentando extrair sensações diversas e que poderia representar o ponto alto do filme, acaba a meu ver, sendo o ponto falho no conjunto da obra, já que de certa forma, limita as tomadas mais abertas (as mais belas no filme) que poderiam ampliar a visão do que o diretor tenta passar. Mesmo assim o filme marca presença, seja pelo significado na coragem de afrontar o lado mais conservador da sociedade contemporânea, seja pela doçura com que consegue colocar na tela cenas tão intensas.
[NOTA 7.2]
Mamonas Pra Sempre
3.9 358 Assista AgoraMesmo que o documentário seja todo num tom de homenagem de fãs, o resultado ficou bem interessante, já que mostrou nas imagens de bastidores e depoimentos de empresário e produtor a energia que parecia inesgotável dos rapazes da banda, contando a historia completa desde os tempos de Banda Utopia (foi o primeiro nome do grupo) até o acidente aéreo fatal em 02 de março de 1996. Minha experiência pessoal num show da banda foi de surpresa, ao constatar ao vivo que eram ótimos músicos (em especial o guitarrista Bento Hinoto) e não só um grupo de humor como imaginava boa parte das pessoas. A trajetória meteórica e peculiar do grupo já gerou também o projeto de um longa metragem que já tem previsão de lançamento para 2015 (é aguardar e conferir).
[NOTA 6.2]
A Grande Beleza
3.9 463 Assista AgoraGrandioso e belíssimo! O primeiro acerto do filme está no nome! Um filme que reúne dentro de si todas as artes, a música (da lírica clássica a barulhenta contemporânea), as artes plásticas (certas cenas são uma pintura, ate mesmo no que diz respeito a suas imperfeições), a literatura (o texto em certos momentos faz jogo com a sensibilidade dos mais atentos), o cinema no sentido mais amplo, seja nas sombras e respingos, seja no foco definitivo e bem acabado, momentos que por vezes se misturam e num estalo se afastam, com cortes por varias vezes abruptos, e que mesmo assim, ao invés de te tirar da historia, te joga ainda mais dentro dela. Da linda atuação de Toni Servillo e a direção magnifica (outra palavra não definiria melhor) de Paolo Sorrentino. O filme joga na tela o encontro e o desencontro do humano com a inspiração, com o mundano, com o lugar onde vive (no caso Roma, mas poderia ser qualquer outro lugar), com o sagrado (o grandioso e o da pura vaidade), com a beleza (no sentido mais amplo e no mais efêmero), com a loucura e com a decadência. O filme é isso, os encontros e os desencontros do humano, mas ele não é só isso e vai ainda mais além, mas o resto não da para explicar com palavras. Grandioso e Belíssimo! Bravo! Bravíssimo!
[NOTA 10]
O Lobo de Wall Street
4.1 3,4K Assista AgoraUm filme que mesmo com três horas de duração, consegue prender a atenção sem se tornar cansativo, já mostra aí um mérito considerável. O roteiro não é o seu forte e nem é essa a proposta nesse caso, já que a sacada está em mostrar em flashes como se constrói e se movimenta boa parte do mercado financeiro mundo afora, especialmente nos Estados Unidos. Mais do que relatar ou glamourizar o perfil tresloucado de um manipulador do mundo dos negócios (deve existir milhares deles por aí), o filme joga os mais atentos numa reflexão de como a ânsia pelo sucesso e o pelo poder move muitos de nós, muitas vezes desesperadamente, fazendo do dinheiro e do prazer o foco principal de nossa existência, fato que a trama não julga, apenas constata e retrata de forma muito competente. Quanto as atuações e no que diz respeito a Dicaprio, mais uma vez saio do cinema com a sensação de que outro ator poderia ter feito melhor, mesmo porque para mim, a performance que chama realmente atenção no filme é a de Jonah Hill. No final, perdoados os exageros de algumas cenas, vale a pena investir o ingresso. [NOTA 7.9]
Verônica
3.5 465O filme fica apenas na tentativa de ser um bom roteiro de ação, adornado pela questão sentimental da professora para com o aluno, mas se perde totalmente, é descontinuado e se eleva apenas em pontos chaves da historia, se mostrando sem ritmo ou sem a consistência que se espera nesse tipo de filme. O que salva, apenas até certo ponto, são as boas atuações de Andréa Beltrão e Marco Ricca. Um resultado no todo apenas razoável, que em vários momentos flerta com aquilo que de mais medíocre o cinema pode nos mostrar. [NOTA 4.2]
Ninfomaníaca: Volume 1
3.7 2,7K Assista Agora“Ninfomaníaca – Esqueça o Amor”, mostra o cartaz na entrada do cinema. Para quem for ao cinema movido apenas pela polemica das cenas de sexo mais impactantes, encontrara algo que vai muito além disso, e é bom que seja dessa forma. O filme não tem nada de exagerado ou grosseiramente pornográfico como dizem alguns, ao contrario disso, trata-se de um filme bem construído, com uma fotografia que desde a primeira cena já chama atenção, oscilando de forma coerente com aquilo que pretende contar. A abordagem remete os mais atentos a reflexões sobre a culpa e todos os tabus que norteiam, ainda hoje, nossa maneira de lidar com o ato sexual. Através de paralelos com conceitos que vão de escalas numéricas e musicais, manifestações artísticas e sociais, questiona o tom sagrado e a busca desesperada a qual costumamos protagonizar durante a vida em busca do amor romântico/afetivo (será mesmo isso assim tão fundamental para nossa existência?-Fica na tela a pergunta), fazendo naufragar a chance de lidarmos de forma mais natural com nossa sexualidade. Boas atuações e o som do filme que por vezes nos faz mergulhar no drama da protagonista, costuram o todo em um resultado bem interessante, numa conclusão de corte abrupto, uma mensagem clara de “esperamos vocês no cinema para o volume II”, e não sei quanto a vocês, mas eu certamente estarei presente quando da continuação dessa obra, que mais do que qualquer outra coisa, aponta o dedo na nossa direção e nos faz pensar em algumas de nossas questões que ainda estão longe de estarem bem resolvidas. Sem duvida de que vale o ingresso! [NOTA 7.2]
Paulo Coelho: O Alquimista da Palavra
2.8 3Sem entrar na controvérsia sobre a qualidade do trabalho literário de Paulo Coelho (nunca li um livro completo dele para emitir uma opinião), acho uma tolice deixar de reconhecer mérito num escritor que conseguiu milhões e milhões de fãs pelo mundo, sendo ele brasileiro, visto que nossa literatura nem de longe consegue no mundo o alcance que conseguem nossa música e nosso futebol. O documentário “PAULO COELHO: O ALQUIMISTA DA PALAVRA” tem o mérito de em momento algum levar o tom de biografia autorizada, aquele tipo que costuma ser apenas uma auto-promoção, já que mostra o contra-ponto existente nas criticas mais pesadas a seus livros, além de depoimentos do próprio biografado em que ele em momento algum busca camuflar os momentos errantes que teve durante uma história de vida que de fato se mostra muito intensa e produtiva. Está aqui um documentário bem produzido, bem dirigido, leve e interessante. Recomendo! [NOTA 7.9]