Quando soube que a atriz Halle Berry protagonizaria um novo filme, senti uma mistura de curiosidade e desconfiança. Dona de uma carreira com mais pontos baixos do que altos, a atriz americana ultimamente era apenas uma vaga lembrança daquela que um dia ja foi considerada uma estrela promissora do cinema. Em plena ascensão, Halle viu sua carreira ser atropelada por um trem de carga após o horrendo filme "Mulher-Gato" (2004), que lhe rendeu uma Framboesa de Ouro e obscureceu seu verdadeiro potencial. Mas talvez ele ainda estivesse ali, adormecido, esperando pelo filme que lhe daria a chance de aparecer novamente.
Quase uma década mais tarde, eis que é lançado "Chamada de Emergência" (The Call, 2013), o filme do qual a atriz precisava para finalmente juntar os cacos e resgatar sua carreira. Ou quase. No papel de Jordan Turner, a atriz interpreta uma despachante da polícia de Los Angeles. Em contato constante com o que há de pior na sociedade, seu psicológico é enfim quebrado quando um erro seu provoca a captura e morte de uma menina. Abalada, Jordan carrega consigo a lembrança dolorosa de seu fracasso, até que 6 meses depois uma ligação parecida a põe em contato com Casey Welson (a Pequena Miss Sunshine, Abigail Breslin).
E após essa introdução direta e (in)tensa, é aqui que o filme engrena de vez. Presa no porta-malas de um carro, Casey tem em Jordan a única esperança para ser resgatada. O problema é que a garota não faz idéia de onde esteja, e Jordan precisa à todo custo superar seu trauma e se concentrar em seu trabalho se não quiser ver a história se repetir. É nesse cenário claustrofóbico que está o núcleo do suspense do filme. Numa concepção pós-iluminista, a liberdade torna-se o bem mais valorizado do ser humano, acima até mesmo de sua integridade física. Do ponto de vista da vítima sequestrada, porém, ambos foram roubados de si à força sem saber por quem ou por quê, e esse mistério ameaçador gera uma angústia subconsciente que absorve o público e provoca a catarse.
E essa catarse mesmo tem razão de ser. Desde o início o filme assume sua condição de thriller e nega ao público a posição onisciente, submetendo-o à tensão sofrida pela vítima e pela policial, cada uma em seu distinto núcleo. Ao focar em Jordan, o diretor Brad Anderson ("O Maquinista") põe a angústia da policial em 3a pessoa, com Halle brilhando ao esbanjar seu carisma e compondo uma personagem de fácil empatia. Com o foco em Casey, a situação muda de figura. Estamos presos no escuro do porta-malas com ela, sentimos o seu medo e angústia em 1a mão. Numa situação muito verossímil, é fácil nos identificarmos com ela - aquilo poderia facilmente acontecer com qualquer um de nós. Além disso, ao restringir-se em grande parte à um cenário, o roteiro é forçado a ser criativo em sua simplicidade, à exemplo de "Por Um Fio" (2002) e "Jogos Mortais" (2004). Do diálogo entre esses fatores surge a atmosfera instigante do thriller.
Então por quê este não é um ótimo filme? A resposta está em seu terceiro ato. Aqui há uma ruptura inexplicável em sua estrutura narrativa, que põe o longa num caminho sem volta rumo ao fundo do mar de clichês. Sem revelar muito, é possível dizer que a protagonista, despachante da polícia, toma a responsabilidade para si e decide resolver tudo com as próprias mãos, arremessando pela janela toda aquela verossimilhança anterior que era o maior elo do filme com o público. À essa altura do campeonato Halle ainda tenta segurar as pontas, é verdade, mas o mesmo não pode ser dito do elenco de apoio e (principalmente) da direção. Assim como o roteiro a que é encumbido de dar vida, o cineasta Anderson se entrega ao caminho dos sustos fáceis, dos enquadramentos em "pontos de vista" forçados, do sangue e mulheres seminuas, que assola as piores produções do gênero.
Tudo isso compõe um terceiro ato que parece ter sido produzido por uma equipe completamente diferente e não faz jus ao que havia sido estabelecido anteriormente, pondo à perder todo o mérito anterior do filme. A repentina mudança narrativa evidencia a falta de entrosamento entre as visões de seus 4 roteiristas distintos, o que por sua vez prejudica a unidade da obra. Com um final que não ajuda, a última impressão acaba sendo a que fica. É de forma plenamente consciente que o filme troca a subjetividade de um suspense bem-construído pela objetividade clichê de sustos baratos que subestimam o público. Por essa razão, "Chamada de Emergência" é um thriller decente mas, em última análise, capenga. E ainda não é o filme que Halle esperava.
Para fins de marketing, os estúdios muitas vezes rotulam os próprios filmes em gêneros cinematográficos antes mesmo de chegarem às telas, facilitando a divulgação focada em determinado público alvo, o chamado "nicho". O problema é que, ao mesmo tempo, quase sempre os rótulos acabam por alienar boa parte do público fora deste grupo, pois encaixam o filme no estereótipo adequado à seu gênero e por isso criam um preconceito entre aqueles que nem mesmo o assistiram. Comédias românticas, por exemplo, são reconhecidas por muitos como caça-níqueis, pois costumam ter pouco investimento dos estúdios em roteiro, elenco e produção. No entanto, vez ou outra aparecem filmes que simplesmente não podem ser rotulados devido à riqueza de elementos que apresentam. É o caso de "O Lado Bom da Vida", baseado em livro homônimo de Matthew Quick.
Pat Jr. Solitano (Bradley Cooper) acaba de ser liberado do hospital onde esteve internado por 8 meses para tratamento de um severo transtorno bipolar, após um episódio violento na presença de sua esposa Nikki. Ainda em tratamento e sofrendo com constantes crises que dificultam a convivência até com seus pais, Pat tenta reconstruir sua vida e se reaproximar de Nikki. Após conhecer Tiffany (Jennifer Lawrence), amiga em comum de Nikki e viúva problemática que acaba de perder o emprego, Pat vê nela um meio de se comunicar com sua ex-esposa, mas Tiffany só o ajudará caso ele participe de uma competição de dança com ela. À partir daí ambos desenvolvem uma amizade e acabam descobrindo que possuem muito em comum em meio às suas neuroses.
Diante da sinopse, era fácil rotular o filme como mais uma comédia romântica genérica, porém o foco na relação entre pessoas com transtornos mentais evita essa cilada e acaba sendo o maior trunfo do filme escrito e dirigido por David O' Russel. A própria condição psiquiátrica dos protagonistas, temática pouco explorada no cinema, dá ao roteiro uma originalidade muito bem-vinda num mercado dominado por sequências e filmes que parecem saídos do mesmo molde. A inteligência com que a narrativa é conduzida transparece no ritmo bem cadenciado e nos diálogos criativos, principalmente entre o par principal. Embora os graves problemas psiquiátricos de Pat e Tiffany sejam dignos de um drama, a relação de ambos é conduzida com leveza. Isso não quer dizer que sejam tratados de forma leviana, apenas que o filme não mistifica ainda mais algo que já é fonte de muito preconceito na vida real. Este trunfo do roteiro faz o longa flutuar em algum ponto entre o drama e a comédia, tornando-o mais atrativo para um público maior.
Naturalmente, "O Lado Bom da Vida" não faz do roteiro seu único ponto forte. Esse é o tipo de filme que foca mais na dinâmica entre os personagens do que na ação propriamente dita, e era necessário um elenco capaz de trabalhar com um texto delicado sem fazer caricaturas de seus papéis. Durante o primeiro ato já dá pra concluir que a missão foi cumprida. Bradley Cooper é um ator versátil capaz de fazer tanto boas comédias como "Se Beber Não Case!" (2009) quanto o subestimado thriller "Sem Limites" (2011) e aqui, no papel mais denso de sua carreira, se consagra de vez como um ator de alto nível. Interpretado por Cooper com naturalidade, Pat Solitano é um homem atormentado por sua própria mente, mas ao mesmo tempo conserva uma atitude positiva que o torna um personagem carismático e ambíguo. O mesmo pode ser dito de Jennifer Lawrence, que deixa de ser promessa para finalmente virar realidade. No papel da viúva Tiffany, Lawrence possui química com Cooper e compõe uma mulher transtornada que esconde sua vulnerabilidade por trás de uma personalidade forte, salientando no olhar toda a dor que sente dentro de si. Todo o elenco de apoio capitaneado por Robert De Niro (que dispensa comentários) faz um ótimo trabalho, mas nenhum chega perto de Lawrence. Uma performance de fato digna do Oscar que recebeu.
Tamanha qualidade do elenco evidencia a habilidade do cineasta David O' Russel em escrever e dirigir seus personagens, mas não são apenas estes dignos de nota. Masanobu Takayanagi ("Babel") é o responsável por uma cinematografia que torna o filme gostoso de ser assistido, sua câmera flutua pelos ambientes de forma interessante, favorecendo como um todo a dinâmica do longa. A edição também torna o filme fluente sem se tornar econômico demais, dando o tempo certo para fechar todas as tramas sem deixar pontas soltas.
Todo esse capricho técnico afasta do longa qualquer estereótipo barato."O Lado Bom da Vida" possui uma alma poucas vezes encontrada numa produção de Hollywood, e merece mesmo todo o destaque recebido. Seus temas delicados são tratados com naturalidade, e sem maniqueísmos. Pat e Tiffany são rotulados como "loucos" por aqueles à seu redor, mas no fim das contas todos possuem seus pequenos desequilibrios e defeitos, como o vício do pai de Pat em apostas e o policial que vigia a conduta de Pat como um "pilar moral" mas não hesita em tentar se aproveitar da viúva Tiffany. "Definir é limitar", ja dizia Oscar Wilde, e aqui a frase não poderia ser mais adequada. Assim como seus personagens, o filme não pode ser rotulado e vence os preconceitos de gêneros com todas as suas virtudes.
Road Movie é o gênero cinematográfico onde o personagem principal viaja de um lugar a outro, sendo moldado pelas experiências vividas durante a viagem, que típicamente alteram a perspectiva de sua vida cotidiana. Entre os representantes mais famosos do gênero estão os filmes "Thelma e Louise" (1991), "Pequena Miss Sunshine" (2006) e "Diários de Motocicleta" (2004), este último do brasileiro Walter Salles. Todos esses filmes tem em comum o fato de que o público é convidado a embarcar com os protagonistas numa jornada de autoconhecimento e reflexão que altera profundamente suas vidas. É isso que "A Busca" tenta realizar, mas com um roteiro raso e nas mãos de uma equipe inexperiente, acaba falhando em seu objetivo.
Theo (Wagner Moura) é um médico em plena crise conjugal com sua esposa Branca (Mariana Lima), que ameaça acabar de vez com seu casamento. No meio do tiroteio acaba sobrando uma bala perdida para seu filho Pedro (Brás Moreau Antunes), adolescente de 15 anos cansado de toda a situação, que decide fugir de casa após sofrer com a grosseria aparentemente gratuita de seu pai durante uma grave discussão. Desesperado e vendo sua vida desmoronar diante de si, não resta outra alternativa a Theo senão cair na estrada para ir em busca de seu filho e, inesperadamente, de si mesmo.
Descontando-se a pequena "licença poética" ao ignorar a existência de uma polícia ao qual os desesperados pais do garoto poderiam recorrer para encontrar seu filho (afinal de contas o filme precisa de história pra contar), a premissa de fato é interessante. Além de seu significado óbvio, a "busca" do título se refere principalmente à viagem de Theo por seu próprio interior, sendo a estrada um fio condutor de todas as experiências que entram em confronto com suas convicções já consolidadas, metáfora característica de filmes de estrada. Desde a primeira cena fica claro que Theo é um personagem complexo. As referências sutis à relação problemática com seu próprio pai dão a pista de que toda a frustração e ira do médico são na verdade uma projeção de seus traumas de infância na figura de seu filho. Paralelamente, o sumiço do garoto é o catalisador de uma possível reconciliação de seus pais, unidos diante da questão em comum.
Há portanto muitas questões a serem trabalhadas durante seus 90 minutos de duração, dando amplo espaço para o desenvolvimento do personagem. É justamente nisso que reside o charme dos road movies, afinal. Surpreendentemente, acontece o oposto. Nenhuma das questões apresentadas é aprofundada como deveria, pois o roteiro limita-se a mencioná-las sem se preocupar com seu desenvolvimento e conclusão. Wagner Moura é um ator competente, e aqui dá o sangue para extrair o máximo do texto que lhe é dado, com mais um trabalho digno de nota. Brilha muito principalmente em comparação com seus colegas de elenco, em sua maioria sofríveis. Mas o ator não faz milagre: Theo é um personagem problemático condenado a permanecer assim. Apenas se sabe que a relação com seu pai é a grande fonte de sua angústia pois o filme aponta isso constantemente, mas nunca sabemos o por quê. O assunto também é concluído nas coxas numa rápida cena com Lima Duarte, em participação pequena demais para o tamanho de seu talento e da carga dramática depositada em seu personagem. Do ponto de vista narrativo, se não há um ponto de partida e um destino certo a jornada também fica comprometida. Portanto na falta de uma conclusão satisfatória fica difícil avaliar a real progressão psicológica do personagem durante o filme.
Diante desses problemas, é possível dizer que "A Busca" é um reflexo da habilidade de seus criadores. Primeiro filme de Luciano Moura, diretor oriundo da publicidade e sem qualquer experiência prévia no cinema, o longa apresenta as qualidades e deficiências de seu capitão e roteirista. A opção por uma fotografia em planos fechados torna o filme claustrofóbico, e isso funciona muito bem principalmente no início, quando é possível compreender a vontade de Pedro em escapar daquele ambiente pesado e a angústia de Theo. Mas conforme o médico vai entregando seus medos para a estrada e libertando-se de um grande peso esse sentimento claustrofóbico perde razão de ser, porém sem que a tensão do filme diminua. Uma opção estética subjetiva de seu diretor e por isso não pode ser considerada um problema técnico propriamente dito, mas não deixa de ser algo incômodo.
Apesar disso, existem no filme algumas sequências maravilhosas, recheadas de significado e beleza estética, mas de pouca ou nenhuma serventia na trama. Fica evidenciada a origem publicitária do cineasta, hábil para compôr cenas individuais mas perdido ao pintar o quadro todo. Novamente temos o problema do roteiro. Apesar de seus personagens estarem aparentemente ao sabor dos ventos, mesmo o roteirista de um filme de estrada deve ter toda a progressão narrativa planejada, pois só assim o público compreenderá a mensagem em sua plenitude ao final. Não importam as experiências vividas pelos personagens durante a viagem, mas sim o impacto que estas causarão. Importa a comparação psicológica do personagem no ponto A e no ponto B. A aparente "aleatoriedade" dos acontecimentos somente pode ser sugerida, mas nunca levada à sério por aquele que escreve a trama sob pena de prejudicar a coesão do filme. Somado com o déficit do desenvolvimento das linhas narrativas, o roteiro capenga acaba por afundar de vez uma história promissora.
"A Busca" possui o grande mérito de tentar romper a inércia que aflige o cinema brasileiro, estagnado em comédias e filmes de favela. Nesse ponto, o drama ajuda a oxigenar o nosso cinema, mas não é o bastante. No fim das contas, é uma oportunidade perdida. Embora o diretor estreante seja promissor (pelo menos tecnicamente), fica claro que deu um passo bem maior que a perna. É verdade que seu filme não subestima o público e não tenta conduzi-lo pela mão, deixando coisas no ar para que as pessoas descubram sozinhas. Mas sem um roteiro que entregue o prometido desde o início, "A Busca" se torna um filme vazio que patina em torno das questões que quer abordar sem mergulhar em nenhuma. No fim das contas, é um filme com muitos pássaros voando e nenhum na mão.
Excelente filme. Não é uma comédia romântica, mas sim um drama disfarçado como tal. Toda a temática da bipolaridade e dos transtornos mentais, chamados de "loucura", foi muito interessante. Igualmente instigante é o questionamento que o filme propõe, "o que seria a loucura senão a fuga da normalidade?". Pat e Tiffany eram rotulados como problemáticos, mas à sua volta as pessoas também apresentavam seus pequenos transtornos particulares, como o pai de Pat.
Sobre a Jennifer Lawrence, fui um dos que criticou seu Oscar mas agora concordo que seu trabalho foi digno do prêmio.
Enfim, ótimo filme e muito mais do que eu esperava que seria.
Um filme perfeito para pseudo-cults e "profundos conhecedores da Sétima Arte".
Autoral ao extremo, com simbolismos forçados e diálogos arrastados, embora bem elaborados. Tudo isso faz desse um filme extremamente pretensioso, pedante para pessoas pedantes. É o filme perfeito para o tipo de gente que faz questão de dizer "os filmes de Bergman sao uma alegoria do micro que se justificam no macro". Gente que deve fazer questão de escrever uma redação existencialista até para Transformers. Gente que é capaz de olhar um quadro pintado por um cavalo e ver mil significados profundos. Quanto mais o filme é autoral, sem nexo e desconhecido, mais essas pessoas amam. Se for europeu então, nossa, ganha um "bônus cult".
Lógico que cada um é cada um e os gostos devem ser respeitados. Por isso mesmo, não me venham impôr a lógica "perfeita" de que se a pessoa não gosta do filme a culpa é dela. A culpa é dessa produção lenta e pedante. Agora podem negativar à vontade.
Um filme excelente, clássico. Seria ainda melhor se tivesse abraçado sua natureza politicamente incorreta e tivesse um final à altura. Mas os executivos de Hollywood precisaram de um final "certinho", fazer o que?
Ainda assim, é um filme muito bom no qual é impossível não simpatizar com o protagonista, anti-herói que dá voz à todos os nossos pensamentos e desejos diários, impulsos controlados apenas pela moral e convenções sociais. Enfim, é um filme que fala diretamente com o animal dentro de todos nós. Sensacional.
O longa tenta imitar os antigos grindhouses sobre motoqueiros mas falha completamente em capturar o principal: o sentimento de liberdade das estradas no meio-oeste americano. Isso por si só não faria um filme péssimo, mas todo o resto também fracassa: temos um roteiro confuso e inexistente, uma direção perdida e, por consequencia, atuações fraquíssimas. O que é uma pena, considerando o calibre de alguns integrantes do elenco como o David Carradine. Um desperdício de talento.
É uma clara tentativa de fazer um filme B, que resulta numa bagunça que mal pode ser considerada um longa-metragem. Pra resumir, o filme fracassa em fracassar.
Um filme muito bom no conjunto da obra, mas com uma jovem heroína principal bem fraca. A personagem é tão arrogante que acabei torcendo pra ela se dar mal. Ops, acho que esse não era o objetivo né Ang Lee? No entanto, a fotografia e as lutas são tão bem-feitas, com uma coreografia genial, que acabam compensando em grande parte. Mas poderia ser melhor.
1858. Dr. King Schultz (Christoph Waltz), caçador de recompensas alemão, compra um escravo chamado Django (Jamie Foxx) para que este o ajude a encontrar 3 fugitivos da lei com um preço em suas cabeças. Ao descobrir que Django tem uma habilidade nata com armas e que pretende encontrar sua esposa, também escrava e vendida separadamente após uma tentativa de fuga mal-sucedida, Schultz propõe uma parceria que os levará das montanhas nevadas ao Mississippi para resgatar Broomhilda (Kerry Washington), esposa de Django. O problema é que Broomhilda pertence à Calvin Candie (Leonardo DiCaprio), fazendeiro inescrupuloso que não irá se interessar em vender uma simples escrava à preço barato. Django e King precisam então de um plano para salvar Hilda, e finalmente reunir o casal em sua liberdade. Com essa premissa simples surge "Django Livre", filho mais novo de Quentin Tarantino e muito aguardado após o sucesso de "Bastardos Inglórios".
Pela temática e contexto histórico do filme, ambientado num cenário no qual um indivíduo oprimido se levanta contra a classe dominante e moralmente corrompida, é nítido que Tarantino volta ao tema de vingança abordado anteriormente em "Bastardos". No entanto, as semelhanças param por aí. "Django" é um filme mais refinado em muitos sentidos, mostrando uma clara evolução na habilidade de Tarantino como diretor e roteirista, sem abandonar a irreverência característica que o acompanha desde o início de sua carreira.
A primeira coisa que salta aos olhos é a plástica do filme. Desde o logotipo antigo da Columbia Pictures que surge logo nos primeiros segundos de projeção fica claro que este será um filme fiel às suas raízes de spaghetti western, gênero antigo de faroestes com produção italiana e dirigidos por cineastas como Sergio Leone, hoje consagrados no rol de lendas da sétima arte. As diversas referências à antigos filmes famosos do gênero denunciam a condição de cinéfilo de Tarantino, conhecido no meio cinematográfico por ter assistido à muitas centenas de filmes e ser um fã da própria arte. O próprio nome do longa é uma homenagem ao faroeste "Django" de 1966, no qual o personagem homônimo era interpretado por Franco Nero, que também faz uma pequena participação aqui numa breve porém interessante cena com Jamie Foxx. Até mesmo a trilha sonora mescla músicas exclusivas com temas de faroestes clássicos, compondo uma trilha incrível que poderia facilmente ser uma coletânea de grandes sucessos antigos e novos.
Porém não é só de referências que vive "Django Livre". O filme é sustentado por um roteiro muito original e extremamente bem-escrito, no qual sobram poucas arestas a serem aparadas. Apesar de ser um filme longo, com quase 3 horas de duração, não há qualquer gordura a ser cortada e o ritmo do filme flui sem enrolação, permitindo que a temática interessante e as situações criadas mantenham presa naturalmente a atenção do espectador, e fazendo com que o tempo passe sem perceber. Por isso é um filme que vale muito a pena ser assistido no cinema, o que explica o grande sucesso de bilheteria mesmo semanas após a estréia.
Só que de nada adiantaria um ótimo roteiro sem atuações convincentes para apoiá-lo, o que certamente não é um problema com o time de atores envolvidos. Comandado por um diretor que domina sua técnica, o elenco dá o melhor de si e certamente acredita no filme. Há total entrega dos atores, simplesmente não há um que destoe negativamente dos demais. Positivamente, no entanto, a história é outra. O trio principal composto por Jamie Foxx, Christoph Waltz e Leonardo DiCaprio possui um entrosamento raro de se ver, com os 3 atores entregando performances memoráveis e dignas de prêmios. DiCaprio, inclusive, talvez seja o que mais chame a atenção em tela, incorporando o sádico Calvin Candie de uma forma impressionante e por vezes assutadora. Chega ao extremo de cortar a mão em cena e continuar atuando como se nada tivesse acontecido, aproveitando para esfregar seu sangue na cara de uma (genuinamente) horrorizada Kerry Washington, no auge do sadismo e loucura de seu personagem.
Mas o filme gira em torno da parceira entre Django e dr. Schultz, e portanto o que brilha mesmo é a dinâmica entre os atores. Nesse ponto, destaca-se novamente o alemão Waltz, no domínio de seu talento para criar um personagem carismático, sábio, e cheio de maneirismos. Certamente é um trabalho digno de Oscar, que ficará marcado na memória dos que assistirem ao filme. A evolução dos personagens em si também é algo que chama a atenção. Ao passo que o dr. King já nos é apresentado como um homem guiado pela razão e não pelos sentimentos, Django é seu extremo oposto. Mas enquanto o escravo aprende com seu mentor a pensar com a cabeça antes de agir, King gradualmente é afetado pela barbárie da sociedade doente em sua volta. No final das contas fica claro que o alemão, vindo de uma sociedade mais desenvolvida, construiu a sua moral e personalidade baseado em elementos exteriores aos acontecimentos do filme, e como tal acaba por ser suscetível às constantes marteladas morais que recebe ao entrar em contato com a exploração de um ser humano pelo outro, algo inerente à escravidão.
Django, por outro lado, carrega consigo as marcas desses abusos, tanto em seu corpo quanto em sua alma. Sua persona é construída e cimentada por tal exploração, e é daí que vem o seu desejo tão grande por liberdade. Moldado por toda a violência sofrida, é menos propenso a se impressionar com os acontecimentos à sua volta, o que permite que entre no jogo escravocrata dos brancos ao seu redor apenas até resgatar Broomhilda, como último e supremo esforço em busca de sua liberdade. Aqui, no entanto, Tarantino faz uma observação de que é preciso tomar cuidado. Stephen, o escravo-secretário de Candie interpretado por Samuel L. Jackson, é o exemplo do que pode acontecer com quem sacrifica sua moral constantemente em troca de vantagens. Chegou à um ponto em que não é possível mais diferenciar-se dos que o escravizaram, tornando-se tão desprezível quanto eles. Ja avisava Nietzche que quando se olha durante muito tempo para o abismo, o abismo olha de volta para você. Stephen é o exemplo perfeito.
Porém Tarantino está muito longe de ser um moralista, e não é aqui que ele começa a se levar a sério. Aqui ainda há muita violência, comédia, diálogos e situações politicamente incorretas que sempre foram sua assinatura. "Django Livre" é um grande progresso para o diretor, que possui o controle criativo de seus longas e está visivelmente no topo de suas habilidades. Como tal, é um filme melhor que o excelente "Bastardos Inglórios", e certamente um dos melhores da carreira do cineasta. É recheado de referências que irão agradar aqueles apaixonados por cinema, e atuações incríveis por parte de todo o elenco. Costumo dizer que direção e atuação andam juntas. Ponto para Tarantino novamente. Mais um em sua cada vez mais brilhante trajetória.
Um filme feito sob medida para a Tela Quente, e em breve para a Sessão da Tarde. Escrito e dirigido pelo próprio Stallone, "Os Mercenários" é um retrato das (parcas) habilidades de seu criador nesses quesitos. Portanto é de se imaginar que há algumas boas cenas de ação, principalmente as lutas. Isso ocorre mais pelo fato de serem antigas estrelas de filmes do gênero se enfrentando em cena do que pela técnica de Stallone atrás de uma câmera. E o roteiro, como esperado, sofre.
Melhor que Crepúsculo, é verdade, mas ainda assim é fraco. De acordo com quem leu o livro (não é o meu caso) a comparação com Crepúsculo não deveria nem existir, mas ja que a distribuidora o divulgou assim e o próprio filme se esforça em copiar muita coisa da saga de Stephanie Meyer, é inevitável colocá-los lado a lado.
Dezesseis Luas é fraco, é bobo, e esta sendo criticado até por quem leu os livros. Dá pra ver que há um certo fiapo de potencial, mas o filme joga fora todas as chances de ser minimamente bom. À começar pelo elenco sofrível e pelos "defeitos especiais" tão ruins que prejudicam completamente a verossimilhança da obra. Me fez rir em cenas que deveriam ser encaradas de outra forma.
Lembro bem da primeira vez que assisti "Psicose". Com 12 anos de idade, foi o filme que mais me atraiu na prateleira de uma locadora. Por todos os 109 minutos de duração a minha atenção esteve completamente presa no suspense do Hotel Overlook. Eram os anos 2000 e, numa época de franca ascensão da internet, tv à cabo e alta resolução, aquele filme em preto e branco vindo direto de 1960 deixou uma impressão tão forte que moldou para sempre meu gosto por cinema. Estava evidenciada a atemporalidade da obra genial de Hitchcock.
Ao longo dos anos, quanto mais eu pesquisava mais percebia que a história de Alfred Hitchcock por vezes se confunde com a do próprio cinema, tamanha a sua contribuição para a sétima arte. Em mais de 50 anos de carreira, o inglês revolucionou a cinematografia, introduzindo técnicas e conceitos copiados até os dias de hoje por gerações de cineastas após ele. Sua habilidade única para editar o material filmado e sua compreensão dos instintos mais básicos da mente humana rendeu à Sir Hitchcock uma carreira repleta de suspenses e thrillers psicológicos, sucessos tanto de público quanto de crítica.
Mas ele não fez tudo sozinho.
Uma personagem sempre foi esquecida nessa história, ofuscada pela trajetória brilhante e pela personalidade excêntrica do cineasta: sua esposa Alma. É esse o foco de "Hitchcock", filme de Sacha Gervasi baseado no livro " Alfred Hitchcock and the Making of Psycho" de Stephen Rebello, que vem para jogar uma luz na colaboração entre o casal, a verdadeira força motriz por trás de dezenas de clássicos do suspense incluindo a obra-prima do diretor inglês.
O filme retrata justamente os bastidores da idealização e produção de "Psicose", época conturbada tanto do ponto de vista profissional quando pessoal na vida do diretor. Para resumir a trama sem revelar muito, ninguém queria financiar e lançar o filme. O longa era baseado em livro homônimo que foi um completo fracasso de vendas, e ainda haviam cenas de nudez e assassinato com um tom muito maior do que o admitido pela forte censura moralista da época. Além disso, Hitchcock teve que enfrentar batalhas dentro de sua própria casa, em meio à uma crise conjugal com Alma. Mesmo assim, foi ela a verdadeira responsável por colocar a mão na massa e estimular o diretor quando ninguém mais acreditava em seu trabalho, nem mesmo os estúdios que ja haviam ganho tanto dinheiro com seus filmes.
Interpretada por Helen Mirren, carismática e linda como sempre, Alma por vezes assume papel de co-protagonista da trama, tamanha sua importância. Ao mesmo tempo que a relação conjugal com Hitchcock não fosse das mais convencionais devido ao gênio forte do diretor, sua parceria era inabalável. Além de cuidar da parte financeira do lar e dos projetos cinematográficos de Alfred, Alma também trabalhava como assistente de direção, roteirista e editora, inclusive assumindo a direção de "Psicose" por um breve período por ocasião de um colapso nervoso do diretor. A importância de Alma é tanta que por vezes o próprio Hitchcock funciona como seu "MacGuffin" dentro da narrativa, termo popularizado pelo próprio Hitch para designar truque de roteiro na forma de objeto ou pessoa pelo qual o protagonista está disposto a sacrificar tudo para perseguir, controlar, ou nesse caso, proteger. É apenas uma feliz coincidência que este seja seu nome, já que a esposa do lendário inglês é parte da alma de sua obra.
Aqui temos um dos grandes méritos de "Hitchcock". O diretor Sacha Gervasi faz justiça e traz à tona a verdadeira razão pela qual o cineasta inglês entrou para o panteão de lendas do cinema. É verdade que Alfred Hitchcock era um gênio, que chamava atenção tanto pela sua técnica quanto pela sua personalidade extravagante, mas grande parte de sua história se deve à sua esposa. Aqui, Alma finalmente ganha o destaque merecido, algo que o filme mostra sem diminuir em momento algum o mérito do diretor. Além disso, é fascinante ver a produção de "Psicose" e toda a dificuldade encontrada desde a elaboração de seu argumento até a sua distribuição nos cinemas. Nesse sentido, "Hitchcock" de Sacha Gervasi se assemelha em menor grau à "Hugo Cabret" de Scorsese, reverenciando a própria sétima arte.
Claro que é impossível falar isso tudo sem mencionar Anthony Hopkins, no papel da estrela do filme. Aliás, Hopkins só aparece mesmo nos primeiros 5 minutos de projeção, porque após isso sua simbiose com a figura de Hitchcock é tanta que simplesmente esquecemos que ali está um ator contemporâneo e não o próprio Hitch, de forma semelhante ao trabalho realizado por Daniel Day-Lewis em "Lincoln" (2012). Hopkins consegue emular perfeitamente os maneirismos e hábitos conhecidos do diretor, incluindo seus defeitos, e ao fazer isso humaniza uma figura icônica rodeada de uma aura mística. Parte disso se deve à maquiagem que o tornou quase idêntico à Hitchcock, assim como Scarlett Johansson e James Darcy se assemelham à Janet Leigh e Anthony Perkins, estrelas de "Psicose".
Tudo isso cria uma atmosfera verossímil e facilita a catarse do público em "Hitchcock". Aliado à um roteiro ágil e enxuto o filme é sempre dinâmico, afastando a característica maçante que muitas vezes assola cinebiografias. No entanto, em certas horas esse roteiro econômico demais acaba por trabalhar contra o próprio filme. Há partes na trama que são apresentadas e pouco desenvolvidas nos 90 minutos de duração do longa, como as visões de Hitchcock do assassino Ed Gein, que inspirou a história de "Psicose". Não fica claro o real propósito dessas alucinações, que no final das contas ficam perdidas no meio da história. O filme também não se preocupa em aprofundar os aspectos da personalidade do diretor, assumindo que o público já possui certo conhecimento prévio da figura de Hitch. Ainda assim, tudo isso é compensado quando "Hitchcock" foca nos aspectos da produção do clássico de 1960. E levanta uma questão: se até mesmo o "Mestre do Suspense" teve tanta dificuldade para filmar e lançar um longa que viria a se tornar um clássico, quantas boas idéias são abortadas pelos estúdios e quantas outras são esquartejadas ao nascer pela censura exagerada? São questões retóricas que o filme deixa suspensas no ar e provocam reflexão.
Para evitar decepções, antes de assistir "Hitchcock" é preciso ter uma coisa em mente: este não é um filme de Alfred Hitchcock, mas sim sobre um curto período de sua vida. Não há suspense algum, apenas um filme divertido sobre uma figura icônica. É puro entretenimento, e atinge seu objetivo mesmo com diversos problemas que o impedem de explorar todo o potencial disponível. Portanto é injusto ir ao cinema esperando um filme com todos os atributos que consagraram o Mestre do Suspense. Sacha Gervasi finalmente apresenta Alma para o mundo, e ao fazer isso nos permite compreender melhor o trabalho de Hitchcock como um todo, consagrando mais uma vez o famoso ditado "por trás de todo grande homem há uma grande mulher". Mas não é só disso que vive o filme. O foco na produção de "Psicose" torna o longa interessante tanto pela natureza do clássico em si quanto pela metalinguagem. Não é apenas o cinema contando parte da história de Hitchcock. É o cinema contanto a história do cinema.
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Chamada de Emergência
3.7 1,5K Assista AgoraChamada de Emergência (2013) - Review
Quando soube que a atriz Halle Berry protagonizaria um novo filme, senti uma mistura de curiosidade e desconfiança. Dona de uma carreira com mais pontos baixos do que altos, a atriz americana ultimamente era apenas uma vaga lembrança daquela que um dia ja foi considerada uma estrela promissora do cinema. Em plena ascensão, Halle viu sua carreira ser atropelada por um trem de carga após o horrendo filme "Mulher-Gato" (2004), que lhe rendeu uma Framboesa de Ouro e obscureceu seu verdadeiro potencial. Mas talvez ele ainda estivesse ali, adormecido, esperando pelo filme que lhe daria a chance de aparecer novamente.
Quase uma década mais tarde, eis que é lançado "Chamada de Emergência" (The Call, 2013), o filme do qual a atriz precisava para finalmente juntar os cacos e resgatar sua carreira. Ou quase. No papel de Jordan Turner, a atriz interpreta uma despachante da polícia de Los Angeles. Em contato constante com o que há de pior na sociedade, seu psicológico é enfim quebrado quando um erro seu provoca a captura e morte de uma menina. Abalada, Jordan carrega consigo a lembrança dolorosa de seu fracasso, até que 6 meses depois uma ligação parecida a põe em contato com Casey Welson (a Pequena Miss Sunshine, Abigail Breslin).
E após essa introdução direta e (in)tensa, é aqui que o filme engrena de vez. Presa no porta-malas de um carro, Casey tem em Jordan a única esperança para ser resgatada. O problema é que a garota não faz idéia de onde esteja, e Jordan precisa à todo custo superar seu trauma e se concentrar em seu trabalho se não quiser ver a história se repetir. É nesse cenário claustrofóbico que está o núcleo do suspense do filme. Numa concepção pós-iluminista, a liberdade torna-se o bem mais valorizado do ser humano, acima até mesmo de sua integridade física. Do ponto de vista da vítima sequestrada, porém, ambos foram roubados de si à força sem saber por quem ou por quê, e esse mistério ameaçador gera uma angústia subconsciente que absorve o público e provoca a catarse.
E essa catarse mesmo tem razão de ser. Desde o início o filme assume sua condição de thriller e nega ao público a posição onisciente, submetendo-o à tensão sofrida pela vítima e pela policial, cada uma em seu distinto núcleo. Ao focar em Jordan, o diretor Brad Anderson ("O Maquinista") põe a angústia da policial em 3a pessoa, com Halle brilhando ao esbanjar seu carisma e compondo uma personagem de fácil empatia. Com o foco em Casey, a situação muda de figura. Estamos presos no escuro do porta-malas com ela, sentimos o seu medo e angústia em 1a mão. Numa situação muito verossímil, é fácil nos identificarmos com ela - aquilo poderia facilmente acontecer com qualquer um de nós. Além disso, ao restringir-se em grande parte à um cenário, o roteiro é forçado a ser criativo em sua simplicidade, à exemplo de "Por Um Fio" (2002) e "Jogos Mortais" (2004). Do diálogo entre esses fatores surge a atmosfera instigante do thriller.
Então por quê este não é um ótimo filme? A resposta está em seu terceiro ato. Aqui há uma ruptura inexplicável em sua estrutura narrativa, que põe o longa num caminho sem volta rumo ao fundo do mar de clichês. Sem revelar muito, é possível dizer que a protagonista, despachante da polícia, toma a responsabilidade para si e decide resolver tudo com as próprias mãos, arremessando pela janela toda aquela verossimilhança anterior que era o maior elo do filme com o público. À essa altura do campeonato Halle ainda tenta segurar as pontas, é verdade, mas o mesmo não pode ser dito do elenco de apoio e (principalmente) da direção. Assim como o roteiro a que é encumbido de dar vida, o cineasta Anderson se entrega ao caminho dos sustos fáceis, dos enquadramentos em "pontos de vista" forçados, do sangue e mulheres seminuas, que assola as piores produções do gênero.
Tudo isso compõe um terceiro ato que parece ter sido produzido por uma equipe completamente diferente e não faz jus ao que havia sido estabelecido anteriormente, pondo à perder todo o mérito anterior do filme. A repentina mudança narrativa evidencia a falta de entrosamento entre as visões de seus 4 roteiristas distintos, o que por sua vez prejudica a unidade da obra. Com um final que não ajuda, a última impressão acaba sendo a que fica. É de forma plenamente consciente que o filme troca a subjetividade de um suspense bem-construído pela objetividade clichê de sustos baratos que subestimam o público. Por essa razão, "Chamada de Emergência" é um thriller decente mas, em última análise, capenga. E ainda não é o filme que Halle esperava.
O Lado Bom da Vida
3.7 4,7K Assista AgoraO Lado Bom da Vida ( 2012) - Review
Para fins de marketing, os estúdios muitas vezes rotulam os próprios filmes em gêneros cinematográficos antes mesmo de chegarem às telas, facilitando a divulgação focada em determinado público alvo, o chamado "nicho". O problema é que, ao mesmo tempo, quase sempre os rótulos acabam por alienar boa parte do público fora deste grupo, pois encaixam o filme no estereótipo adequado à seu gênero e por isso criam um preconceito entre aqueles que nem mesmo o assistiram. Comédias românticas, por exemplo, são reconhecidas por muitos como caça-níqueis, pois costumam ter pouco investimento dos estúdios em roteiro, elenco e produção. No entanto, vez ou outra aparecem filmes que simplesmente não podem ser rotulados devido à riqueza de elementos que apresentam. É o caso de "O Lado Bom da Vida", baseado em livro homônimo de Matthew Quick.
Pat Jr. Solitano (Bradley Cooper) acaba de ser liberado do hospital onde esteve internado por 8 meses para tratamento de um severo transtorno bipolar, após um episódio violento na presença de sua esposa Nikki. Ainda em tratamento e sofrendo com constantes crises que dificultam a convivência até com seus pais, Pat tenta reconstruir sua vida e se reaproximar de Nikki. Após conhecer Tiffany (Jennifer Lawrence), amiga em comum de Nikki e viúva problemática que acaba de perder o emprego, Pat vê nela um meio de se comunicar com sua ex-esposa, mas Tiffany só o ajudará caso ele participe de uma competição de dança com ela. À partir daí ambos desenvolvem uma amizade e acabam descobrindo que possuem muito em comum em meio às suas neuroses.
Diante da sinopse, era fácil rotular o filme como mais uma comédia romântica genérica, porém o foco na relação entre pessoas com transtornos mentais evita essa cilada e acaba sendo o maior trunfo do filme escrito e dirigido por David O' Russel. A própria condição psiquiátrica dos protagonistas, temática pouco explorada no cinema, dá ao roteiro uma originalidade muito bem-vinda num mercado dominado por sequências e filmes que parecem saídos do mesmo molde. A inteligência com que a narrativa é conduzida transparece no ritmo bem cadenciado e nos diálogos criativos, principalmente entre o par principal. Embora os graves problemas psiquiátricos de Pat e Tiffany sejam dignos de um drama, a relação de ambos é conduzida com leveza. Isso não quer dizer que sejam tratados de forma leviana, apenas que o filme não mistifica ainda mais algo que já é fonte de muito preconceito na vida real. Este trunfo do roteiro faz o longa flutuar em algum ponto entre o drama e a comédia, tornando-o mais atrativo para um público maior.
Naturalmente, "O Lado Bom da Vida" não faz do roteiro seu único ponto forte. Esse é o tipo de filme que foca mais na dinâmica entre os personagens do que na ação propriamente dita, e era necessário um elenco capaz de trabalhar com um texto delicado sem fazer caricaturas de seus papéis. Durante o primeiro ato já dá pra concluir que a missão foi cumprida. Bradley Cooper é um ator versátil capaz de fazer tanto boas comédias como "Se Beber Não Case!" (2009) quanto o subestimado thriller "Sem Limites" (2011) e aqui, no papel mais denso de sua carreira, se consagra de vez como um ator de alto nível. Interpretado por Cooper com naturalidade, Pat Solitano é um homem atormentado por sua própria mente, mas ao mesmo tempo conserva uma atitude positiva que o torna um personagem carismático e ambíguo. O mesmo pode ser dito de Jennifer Lawrence, que deixa de ser promessa para finalmente virar realidade. No papel da viúva Tiffany, Lawrence possui química com Cooper e compõe uma mulher transtornada que esconde sua vulnerabilidade por trás de uma personalidade forte, salientando no olhar toda a dor que sente dentro de si. Todo o elenco de apoio capitaneado por Robert De Niro (que dispensa comentários) faz um ótimo trabalho, mas nenhum chega perto de Lawrence. Uma performance de fato digna do Oscar que recebeu.
Tamanha qualidade do elenco evidencia a habilidade do cineasta David O' Russel em escrever e dirigir seus personagens, mas não são apenas estes dignos de nota. Masanobu Takayanagi ("Babel") é o responsável por uma cinematografia que torna o filme gostoso de ser assistido, sua câmera flutua pelos ambientes de forma interessante, favorecendo como um todo a dinâmica do longa. A edição também torna o filme fluente sem se tornar econômico demais, dando o tempo certo para fechar todas as tramas sem deixar pontas soltas.
Todo esse capricho técnico afasta do longa qualquer estereótipo barato."O Lado Bom da Vida" possui uma alma poucas vezes encontrada numa produção de Hollywood, e merece mesmo todo o destaque recebido. Seus temas delicados são tratados com naturalidade, e sem maniqueísmos. Pat e Tiffany são rotulados como "loucos" por aqueles à seu redor, mas no fim das contas todos possuem seus pequenos desequilibrios e defeitos, como o vício do pai de Pat em apostas e o policial que vigia a conduta de Pat como um "pilar moral" mas não hesita em tentar se aproveitar da viúva Tiffany. "Definir é limitar", ja dizia Oscar Wilde, e aqui a frase não poderia ser mais adequada. Assim como seus personagens, o filme não pode ser rotulado e vence os preconceitos de gêneros com todas as suas virtudes.
A Busca
3.4 714 Assista AgoraA Busca (2013) - Review
Road Movie é o gênero cinematográfico onde o personagem principal viaja de um lugar a outro, sendo moldado pelas experiências vividas durante a viagem, que típicamente alteram a perspectiva de sua vida cotidiana. Entre os representantes mais famosos do gênero estão os filmes "Thelma e Louise" (1991), "Pequena Miss Sunshine" (2006) e "Diários de Motocicleta" (2004), este último do brasileiro Walter Salles. Todos esses filmes tem em comum o fato de que o público é convidado a embarcar com os protagonistas numa jornada de autoconhecimento e reflexão que altera profundamente suas vidas. É isso que "A Busca" tenta realizar, mas com um roteiro raso e nas mãos de uma equipe inexperiente, acaba falhando em seu objetivo.
Theo (Wagner Moura) é um médico em plena crise conjugal com sua esposa Branca (Mariana Lima), que ameaça acabar de vez com seu casamento. No meio do tiroteio acaba sobrando uma bala perdida para seu filho Pedro (Brás Moreau Antunes), adolescente de 15 anos cansado de toda a situação, que decide fugir de casa após sofrer com a grosseria aparentemente gratuita de seu pai durante uma grave discussão. Desesperado e vendo sua vida desmoronar diante de si, não resta outra alternativa a Theo senão cair na estrada para ir em busca de seu filho e, inesperadamente, de si mesmo.
Descontando-se a pequena "licença poética" ao ignorar a existência de uma polícia ao qual os desesperados pais do garoto poderiam recorrer para encontrar seu filho (afinal de contas o filme precisa de história pra contar), a premissa de fato é interessante. Além de seu significado óbvio, a "busca" do título se refere principalmente à viagem de Theo por seu próprio interior, sendo a estrada um fio condutor de todas as experiências que entram em confronto com suas convicções já consolidadas, metáfora característica de filmes de estrada. Desde a primeira cena fica claro que Theo é um personagem complexo. As referências sutis à relação problemática com seu próprio pai dão a pista de que toda a frustração e ira do médico são na verdade uma projeção de seus traumas de infância na figura de seu filho. Paralelamente, o sumiço do garoto é o catalisador de uma possível reconciliação de seus pais, unidos diante da questão em comum.
Há portanto muitas questões a serem trabalhadas durante seus 90 minutos de duração, dando amplo espaço para o desenvolvimento do personagem. É justamente nisso que reside o charme dos road movies, afinal. Surpreendentemente, acontece o oposto. Nenhuma das questões apresentadas é aprofundada como deveria, pois o roteiro limita-se a mencioná-las sem se preocupar com seu desenvolvimento e conclusão. Wagner Moura é um ator competente, e aqui dá o sangue para extrair o máximo do texto que lhe é dado, com mais um trabalho digno de nota. Brilha muito principalmente em comparação com seus colegas de elenco, em sua maioria sofríveis. Mas o ator não faz milagre: Theo é um personagem problemático condenado a permanecer assim. Apenas se sabe que a relação com seu pai é a grande fonte de sua angústia pois o filme aponta isso constantemente, mas nunca sabemos o por quê. O assunto também é concluído nas coxas numa rápida cena com Lima Duarte, em participação pequena demais para o tamanho de seu talento e da carga dramática depositada em seu personagem. Do ponto de vista narrativo, se não há um ponto de partida e um destino certo a jornada também fica comprometida. Portanto na falta de uma conclusão satisfatória fica difícil avaliar a real progressão psicológica do personagem durante o filme.
Diante desses problemas, é possível dizer que "A Busca" é um reflexo da habilidade de seus criadores. Primeiro filme de Luciano Moura, diretor oriundo da publicidade e sem qualquer experiência prévia no cinema, o longa apresenta as qualidades e deficiências de seu capitão e roteirista. A opção por uma fotografia em planos fechados torna o filme claustrofóbico, e isso funciona muito bem principalmente no início, quando é possível compreender a vontade de Pedro em escapar daquele ambiente pesado e a angústia de Theo. Mas conforme o médico vai entregando seus medos para a estrada e libertando-se de um grande peso esse sentimento claustrofóbico perde razão de ser, porém sem que a tensão do filme diminua. Uma opção estética subjetiva de seu diretor e por isso não pode ser considerada um problema técnico propriamente dito, mas não deixa de ser algo incômodo.
Apesar disso, existem no filme algumas sequências maravilhosas, recheadas de significado e beleza estética, mas de pouca ou nenhuma serventia na trama. Fica evidenciada a origem publicitária do cineasta, hábil para compôr cenas individuais mas perdido ao pintar o quadro todo. Novamente temos o problema do roteiro. Apesar de seus personagens estarem aparentemente ao sabor dos ventos, mesmo o roteirista de um filme de estrada deve ter toda a progressão narrativa planejada, pois só assim o público compreenderá a mensagem em sua plenitude ao final. Não importam as experiências vividas pelos personagens durante a viagem, mas sim o impacto que estas causarão. Importa a comparação psicológica do personagem no ponto A e no ponto B. A aparente "aleatoriedade" dos acontecimentos somente pode ser sugerida, mas nunca levada à sério por aquele que escreve a trama sob pena de prejudicar a coesão do filme. Somado com o déficit do desenvolvimento das linhas narrativas, o roteiro capenga acaba por afundar de vez uma história promissora.
"A Busca" possui o grande mérito de tentar romper a inércia que aflige o cinema brasileiro, estagnado em comédias e filmes de favela. Nesse ponto, o drama ajuda a oxigenar o nosso cinema, mas não é o bastante. No fim das contas, é uma oportunidade perdida. Embora o diretor estreante seja promissor (pelo menos tecnicamente), fica claro que deu um passo bem maior que a perna. É verdade que seu filme não subestima o público e não tenta conduzi-lo pela mão, deixando coisas no ar para que as pessoas descubram sozinhas. Mas sem um roteiro que entregue o prometido desde o início, "A Busca" se torna um filme vazio que patina em torno das questões que quer abordar sem mergulhar em nenhuma. No fim das contas, é um filme com muitos pássaros voando e nenhum na mão.
O Lado Bom da Vida
3.7 4,7K Assista AgoraExcelente filme. Não é uma comédia romântica, mas sim um drama disfarçado como tal. Toda a temática da bipolaridade e dos transtornos mentais, chamados de "loucura", foi muito interessante. Igualmente instigante é o questionamento que o filme propõe, "o que seria a loucura senão a fuga da normalidade?". Pat e Tiffany eram rotulados como problemáticos, mas à sua volta as pessoas também apresentavam seus pequenos transtornos particulares, como o pai de Pat.
Sobre a Jennifer Lawrence, fui um dos que criticou seu Oscar mas agora concordo que seu trabalho foi digno do prêmio.
Enfim, ótimo filme e muito mais do que eu esperava que seria.
O Sétimo Selo
4.4 1,0KUm filme perfeito para pseudo-cults e "profundos conhecedores da Sétima Arte".
Autoral ao extremo, com simbolismos forçados e diálogos arrastados, embora bem elaborados. Tudo isso faz desse um filme extremamente pretensioso, pedante para pessoas pedantes. É o filme perfeito para o tipo de gente que faz questão de dizer "os filmes de Bergman sao uma alegoria do micro que se justificam no macro". Gente que deve fazer questão de escrever uma redação existencialista até para Transformers. Gente que é capaz de olhar um quadro pintado por um cavalo e ver mil significados profundos. Quanto mais o filme é autoral, sem nexo e desconhecido, mais essas pessoas amam. Se for europeu então, nossa, ganha um "bônus cult".
Lógico que cada um é cada um e os gostos devem ser respeitados. Por isso mesmo, não me venham impôr a lógica "perfeita" de que se a pessoa não gosta do filme a culpa é dela. A culpa é dessa produção lenta e pedante. Agora podem negativar à vontade.
Habemus Papam
3.6 194 Assista AgoraProfecia total.
Estrada para Perdição
3.9 400Assisti em casa sozinho e quase me levantei para aplaudir ao final do filme.
Um Dia de Fúria
3.9 894 Assista AgoraUm filme excelente, clássico. Seria ainda melhor se tivesse abraçado sua natureza politicamente incorreta e tivesse um final à altura. Mas os executivos de Hollywood precisaram de um final "certinho", fazer o que?
Ainda assim, é um filme muito bom no qual é impossível não simpatizar com o protagonista, anti-herói que dá voz à todos os nossos pensamentos e desejos diários, impulsos controlados apenas pela moral e convenções sociais. Enfim, é um filme que fala diretamente com o animal dentro de todos nós. Sensacional.
Hell Ride
3.0 60 Assista AgoraO longa tenta imitar os antigos grindhouses sobre motoqueiros mas falha completamente em capturar o principal: o sentimento de liberdade das estradas no meio-oeste americano. Isso por si só não faria um filme péssimo, mas todo o resto também fracassa: temos um roteiro confuso e inexistente, uma direção perdida e, por consequencia, atuações fraquíssimas. O que é uma pena, considerando o calibre de alguns integrantes do elenco como o David Carradine. Um desperdício de talento.
É uma clara tentativa de fazer um filme B, que resulta numa bagunça que mal pode ser considerada um longa-metragem. Pra resumir, o filme fracassa em fracassar.
Deve ser um dos piores filmes que ja assisti.
O Tigre e o Dragão
3.6 455 Assista AgoraUm filme muito bom no conjunto da obra, mas com uma jovem heroína principal bem fraca. A personagem é tão arrogante que acabei torcendo pra ela se dar mal. Ops, acho que esse não era o objetivo né Ang Lee? No entanto, a fotografia e as lutas são tão bem-feitas, com uma coreografia genial, que acabam compensando em grande parte. Mas poderia ser melhor.
Django Livre
4.4 5,8K Assista AgoraDjango Livre (2012) - Review
1858. Dr. King Schultz (Christoph Waltz), caçador de recompensas alemão, compra um escravo chamado Django (Jamie Foxx) para que este o ajude a encontrar 3 fugitivos da lei com um preço em suas cabeças. Ao descobrir que Django tem uma habilidade nata com armas e que pretende encontrar sua esposa, também escrava e vendida separadamente após uma tentativa de fuga mal-sucedida, Schultz propõe uma parceria que os levará das montanhas nevadas ao Mississippi para resgatar Broomhilda (Kerry Washington), esposa de Django. O problema é que Broomhilda pertence à Calvin Candie (Leonardo DiCaprio), fazendeiro inescrupuloso que não irá se interessar em vender uma simples escrava à preço barato. Django e King precisam então de um plano para salvar Hilda, e finalmente reunir o casal em sua liberdade.
Com essa premissa simples surge "Django Livre", filho mais novo de Quentin Tarantino e muito aguardado após o sucesso de "Bastardos Inglórios".
Pela temática e contexto histórico do filme, ambientado num cenário no qual um indivíduo oprimido se levanta contra a classe dominante e moralmente corrompida, é nítido que Tarantino volta ao tema de vingança abordado anteriormente em "Bastardos". No entanto, as semelhanças param por aí. "Django" é um filme mais refinado em muitos sentidos, mostrando uma clara evolução na habilidade de Tarantino como diretor e roteirista, sem abandonar a irreverência característica que o acompanha desde o início de sua carreira.
A primeira coisa que salta aos olhos é a plástica do filme. Desde o logotipo antigo da Columbia Pictures que surge logo nos primeiros segundos de projeção fica claro que este será um filme fiel às suas raízes de spaghetti western, gênero antigo de faroestes com produção italiana e dirigidos por cineastas como Sergio Leone, hoje consagrados no rol de lendas da sétima arte. As diversas referências à antigos filmes famosos do gênero denunciam a condição de cinéfilo de Tarantino, conhecido no meio cinematográfico por ter assistido à muitas centenas de filmes e ser um fã da própria arte. O próprio nome do longa é uma homenagem ao faroeste "Django" de 1966, no qual o personagem homônimo era interpretado por Franco Nero, que também faz uma pequena participação aqui numa breve porém interessante cena com Jamie Foxx. Até mesmo a trilha sonora mescla músicas exclusivas com temas de faroestes clássicos, compondo uma trilha incrível que poderia facilmente ser uma coletânea de grandes sucessos antigos e novos.
Porém não é só de referências que vive "Django Livre". O filme é sustentado por um roteiro muito original e extremamente bem-escrito, no qual sobram poucas arestas a serem aparadas. Apesar de ser um filme longo, com quase 3 horas de duração, não há qualquer gordura a ser cortada e o ritmo do filme flui sem enrolação, permitindo que a temática interessante e as situações criadas mantenham presa naturalmente a atenção do espectador, e fazendo com que o tempo passe sem perceber. Por isso é um filme que vale muito a pena ser assistido no cinema, o que explica o grande sucesso de bilheteria mesmo semanas após a estréia.
Só que de nada adiantaria um ótimo roteiro sem atuações convincentes para apoiá-lo, o que certamente não é um problema com o time de atores envolvidos. Comandado por um diretor que domina sua técnica, o elenco dá o melhor de si e certamente acredita no filme. Há total entrega dos atores, simplesmente não há um que destoe negativamente dos demais. Positivamente, no entanto, a história é outra. O trio principal composto por Jamie Foxx, Christoph Waltz e Leonardo DiCaprio possui um entrosamento raro de se ver, com os 3 atores entregando performances memoráveis e dignas de prêmios. DiCaprio, inclusive, talvez seja o que mais chame a atenção em tela, incorporando o sádico Calvin Candie de uma forma impressionante e por vezes assutadora. Chega ao extremo de cortar a mão em cena e continuar atuando como se nada tivesse acontecido, aproveitando para esfregar seu sangue na cara de uma (genuinamente) horrorizada Kerry Washington, no auge do sadismo e loucura de seu personagem.
Mas o filme gira em torno da parceira entre Django e dr. Schultz, e portanto o que brilha mesmo é a dinâmica entre os atores. Nesse ponto, destaca-se novamente o alemão Waltz, no domínio de seu talento para criar um personagem carismático, sábio, e cheio de maneirismos. Certamente é um trabalho digno de Oscar, que ficará marcado na memória dos que assistirem ao filme. A evolução dos personagens em si também é algo que chama a atenção. Ao passo que o dr. King já nos é apresentado como um homem guiado pela razão e não pelos sentimentos, Django é seu extremo oposto. Mas enquanto o escravo aprende com seu mentor a pensar com a cabeça antes de agir, King gradualmente é afetado pela barbárie da sociedade doente em sua volta. No final das contas fica claro que o alemão, vindo de uma sociedade mais desenvolvida, construiu a sua moral e personalidade baseado em elementos exteriores aos acontecimentos do filme, e como tal acaba por ser suscetível às constantes marteladas morais que recebe ao entrar em contato com a exploração de um ser humano pelo outro, algo inerente à escravidão.
Django, por outro lado, carrega consigo as marcas desses abusos, tanto em seu corpo quanto em sua alma. Sua persona é construída e cimentada por tal exploração, e é daí que vem o seu desejo tão grande por liberdade. Moldado por toda a violência sofrida, é menos propenso a se impressionar com os acontecimentos à sua volta, o que permite que entre no jogo escravocrata dos brancos ao seu redor apenas até resgatar Broomhilda, como último e supremo esforço em busca de sua liberdade. Aqui, no entanto, Tarantino faz uma observação de que é preciso tomar cuidado. Stephen, o escravo-secretário de Candie interpretado por Samuel L. Jackson, é o exemplo do que pode acontecer com quem sacrifica sua moral constantemente em troca de vantagens. Chegou à um ponto em que não é possível mais diferenciar-se dos que o escravizaram, tornando-se tão desprezível quanto eles. Ja avisava Nietzche que quando se olha durante muito tempo para o abismo, o abismo olha de volta para você. Stephen é o exemplo perfeito.
Porém Tarantino está muito longe de ser um moralista, e não é aqui que ele começa a se levar a sério. Aqui ainda há muita violência, comédia, diálogos e situações politicamente incorretas que sempre foram sua assinatura. "Django Livre" é um grande progresso para o diretor, que possui o controle criativo de seus longas e está visivelmente no topo de suas habilidades. Como tal, é um filme melhor que o excelente "Bastardos Inglórios", e certamente um dos melhores da carreira do cineasta. É recheado de referências que irão agradar aqueles apaixonados por cinema, e atuações incríveis por parte de todo o elenco. Costumo dizer que direção e atuação andam juntas. Ponto para Tarantino novamente. Mais um em sua cada vez mais brilhante trajetória.
Os Mercenários
3.2 1,9K Assista AgoraUm filme feito sob medida para a Tela Quente, e em breve para a Sessão da Tarde. Escrito e dirigido pelo próprio Stallone, "Os Mercenários" é um retrato das (parcas) habilidades de seu criador nesses quesitos. Portanto é de se imaginar que há algumas boas cenas de ação, principalmente as lutas. Isso ocorre mais pelo fato de serem antigas estrelas de filmes do gênero se enfrentando em cena do que pela técnica de Stallone atrás de uma câmera. E o roteiro, como esperado, sofre.
É divertido, mas acéfalo. E só.
Dezesseis Luas
2.6 1,4K Assista AgoraMelhor que Crepúsculo, é verdade, mas ainda assim é fraco. De acordo com quem leu o livro (não é o meu caso) a comparação com Crepúsculo não deveria nem existir, mas ja que a distribuidora o divulgou assim e o próprio filme se esforça em copiar muita coisa da saga de Stephanie Meyer, é inevitável colocá-los lado a lado.
Dezesseis Luas é fraco, é bobo, e esta sendo criticado até por quem leu os livros. Dá pra ver que há um certo fiapo de potencial, mas o filme joga fora todas as chances de ser minimamente bom. À começar pelo elenco sofrível e pelos "defeitos especiais" tão ruins que prejudicam completamente a verossimilhança da obra. Me fez rir em cenas que deveriam ser encaradas de outra forma.
Nota: 3/10
Hitchcock
3.7 1,1K Assista Agora"Hitchcock" (2012) - Review
Lembro bem da primeira vez que assisti "Psicose". Com 12 anos de idade, foi o filme que mais me atraiu na prateleira de uma locadora. Por todos os 109 minutos de duração a minha atenção esteve completamente presa no suspense do Hotel Overlook. Eram os anos 2000 e, numa época de franca ascensão da internet, tv à cabo e alta resolução, aquele filme em preto e branco vindo direto de 1960 deixou uma impressão tão forte que moldou para sempre meu gosto por cinema. Estava evidenciada a atemporalidade da obra genial de Hitchcock.
Ao longo dos anos, quanto mais eu pesquisava mais percebia que a história de Alfred Hitchcock por vezes se confunde com a do próprio cinema, tamanha a sua contribuição para a sétima arte. Em mais de 50 anos de carreira, o inglês revolucionou a cinematografia, introduzindo técnicas e conceitos copiados até os dias de hoje por gerações de cineastas após ele. Sua habilidade única para editar o material filmado e sua compreensão dos instintos mais básicos da mente humana rendeu à Sir Hitchcock uma carreira repleta de suspenses e thrillers psicológicos, sucessos tanto de público quanto de crítica.
Mas ele não fez tudo sozinho.
Uma personagem sempre foi esquecida nessa história, ofuscada pela trajetória brilhante e pela personalidade excêntrica do cineasta: sua esposa Alma. É esse o foco de "Hitchcock", filme de Sacha Gervasi baseado no livro " Alfred Hitchcock and the Making of Psycho" de Stephen Rebello, que vem para jogar uma luz na colaboração entre o casal, a verdadeira força motriz por trás de dezenas de clássicos do suspense incluindo a obra-prima do diretor inglês.
O filme retrata justamente os bastidores da idealização e produção de "Psicose", época conturbada tanto do ponto de vista profissional quando pessoal na vida do diretor. Para resumir a trama sem revelar muito, ninguém queria financiar e lançar o filme. O longa era baseado em livro homônimo que foi um completo fracasso de vendas, e ainda haviam cenas de nudez e assassinato com um tom muito maior do que o admitido pela forte censura moralista da época. Além disso, Hitchcock teve que enfrentar batalhas dentro de sua própria casa, em meio à uma crise conjugal com Alma. Mesmo assim, foi ela a verdadeira responsável por colocar a mão na massa e estimular o diretor quando ninguém mais acreditava em seu trabalho, nem mesmo os estúdios que ja haviam ganho tanto dinheiro com seus filmes.
Interpretada por Helen Mirren, carismática e linda como sempre, Alma por vezes assume papel de co-protagonista da trama, tamanha sua importância. Ao mesmo tempo que a relação conjugal com Hitchcock não fosse das mais convencionais devido ao gênio forte do diretor, sua parceria era inabalável. Além de cuidar da parte financeira do lar e dos projetos cinematográficos de Alfred, Alma também trabalhava como assistente de direção, roteirista e editora, inclusive assumindo a direção de "Psicose" por um breve período por ocasião de um colapso nervoso do diretor. A importância de Alma é tanta que por vezes o próprio Hitchcock funciona como seu "MacGuffin" dentro da narrativa, termo popularizado pelo próprio Hitch para designar truque de roteiro na forma de objeto ou pessoa pelo qual o protagonista está disposto a sacrificar tudo para perseguir, controlar, ou nesse caso, proteger. É apenas uma feliz coincidência que este seja seu nome, já que a esposa do lendário inglês é parte da alma de sua obra.
Aqui temos um dos grandes méritos de "Hitchcock". O diretor Sacha Gervasi faz justiça e traz à tona a verdadeira razão pela qual o cineasta inglês entrou para o panteão de lendas do cinema. É verdade que Alfred Hitchcock era um gênio, que chamava atenção tanto pela sua técnica quanto pela sua personalidade extravagante, mas grande parte de sua história se deve à sua esposa. Aqui, Alma finalmente ganha o destaque merecido, algo que o filme mostra sem diminuir em momento algum o mérito do diretor. Além disso, é fascinante ver a produção de "Psicose" e toda a dificuldade encontrada desde a elaboração de seu argumento até a sua distribuição nos cinemas. Nesse sentido, "Hitchcock" de Sacha Gervasi se assemelha em menor grau à "Hugo Cabret" de Scorsese, reverenciando a própria sétima arte.
Claro que é impossível falar isso tudo sem mencionar Anthony Hopkins, no papel da estrela do filme. Aliás, Hopkins só aparece mesmo nos primeiros 5 minutos de projeção, porque após isso sua simbiose com a figura de Hitchcock é tanta que simplesmente esquecemos que ali está um ator contemporâneo e não o próprio Hitch, de forma semelhante ao trabalho realizado por Daniel Day-Lewis em "Lincoln" (2012). Hopkins consegue emular perfeitamente os maneirismos e hábitos conhecidos do diretor, incluindo seus defeitos, e ao fazer isso humaniza uma figura icônica rodeada de uma aura mística. Parte disso se deve à maquiagem que o tornou quase idêntico à Hitchcock, assim como Scarlett Johansson e James Darcy se assemelham à Janet Leigh e Anthony Perkins, estrelas de "Psicose".
Tudo isso cria uma atmosfera verossímil e facilita a catarse do público em "Hitchcock". Aliado à um roteiro ágil e enxuto o filme é sempre dinâmico, afastando a característica maçante que muitas vezes assola cinebiografias. No entanto, em certas horas esse roteiro econômico demais acaba por trabalhar contra o próprio filme. Há partes na trama que são apresentadas e pouco desenvolvidas nos 90 minutos de duração do longa, como as visões de Hitchcock do assassino Ed Gein, que inspirou a história de "Psicose". Não fica claro o real propósito dessas alucinações, que no final das contas ficam perdidas no meio da história. O filme também não se preocupa em aprofundar os aspectos da personalidade do diretor, assumindo que o público já possui certo conhecimento prévio da figura de Hitch. Ainda assim, tudo isso é compensado quando "Hitchcock" foca nos aspectos da produção do clássico de 1960. E levanta uma questão: se até mesmo o "Mestre do Suspense" teve tanta dificuldade para filmar e lançar um longa que viria a se tornar um clássico, quantas boas idéias são abortadas pelos estúdios e quantas outras são esquartejadas ao nascer pela censura exagerada? São questões retóricas que o filme deixa suspensas no ar e provocam reflexão.
Para evitar decepções, antes de assistir "Hitchcock" é preciso ter uma coisa em mente: este não é um filme de Alfred Hitchcock, mas sim sobre um curto período de sua vida. Não há suspense algum, apenas um filme divertido sobre uma figura icônica. É puro entretenimento, e atinge seu objetivo mesmo com diversos problemas que o impedem de explorar todo o potencial disponível. Portanto é injusto ir ao cinema esperando um filme com todos os atributos que consagraram o Mestre do Suspense. Sacha Gervasi finalmente apresenta Alma para o mundo, e ao fazer isso nos permite compreender melhor o trabalho de Hitchcock como um todo, consagrando mais uma vez o famoso ditado "por trás de todo grande homem há uma grande mulher". Mas não é só disso que vive o filme. O foco na produção de "Psicose" torna o longa interessante tanto pela natureza do clássico em si quanto pela metalinguagem. Não é apenas o cinema contando parte da história de Hitchcock. É o cinema contanto a história do cinema.
Independence Day
3.4 808 Assista AgoraSem dúvidas um clássico!
Argo
3.9 2,5KAchei justo, mesmo com a visão "americana" demais.
Muita Calma Nessa Hora
3.0 1,4K Assista AgoraLixo.
Minha Super Ex-Namorada
2.2 670 Assista AgoraSocorro.
A Pantera Cor de Rosa 2
3.0 225 Assista Agoravale pelo Jean Reno dançando de colant, mas é ruim.
Mulher-Gato
2.0 1,1KSe eu pudesse dar uma nota menor pra esse filme, eu dava.
Ted
3.1 3,4K Assista AgoraÉ bom, faz rir, não é politicamente correto, mas vindo do Seth MacFarlane eu esperava muito mais também.