Um pseudo-documentário de quase cinco décadas (!) que continua extremamente [e dolorosamente] pertinente para uma releitura na atualidade.
A visão de Watkins sobre o microcosmo social que ele transpassa em Punishment Park é profundamente acentuada e, por um ótimo trabalho de condução, nunca maniqueísta. Porém, seria fácil para ele mergulhar em uma militância de baixo nível e inconsistente, como muitos cineastas eram capazes de fazer em sua época. Aqui, pelo contrário, apesar de seu visível compromisso do lado do acusado, eles nunca são apresentados como cavaleiros morais, mas ao contrário, cheios de contradições e tiques irritantes. Isso ele obtém pela escolha intencional de não buscar a atuação crua do ator ou a romantização do sujeito ('herói') e comportamentos. O que o interessa, acima de tudo, é a atmosfera criada durante as filmagens e o que ela pode nos ensinar sobre as tensões sociais, as relações de poder que interiorizam uma sociedade.
Com sua encenação constantemente tentando distorcer as fronteiras pré-estabelecidas entre ficção e documentário, Watkins procura minar a posição passiva do espectador do cinema. Ele nos leva a questionar a natureza ontológica da imagem não para engoli-la facilmente, mas para observá-la com um olhar crítico, para entender melhor a ideologia que a sustenta.
Ken Loach retorna, após 'I, Daniel Blake', com o mesmo formato melodramático do antecessor e com sua principal fórmula de retratação de atrito entre uma classe proletária e o sistema capitalista - mais especificamente de um neoliberalismo "democrático" anglo-saxão.
O background da família do protagonista é construído tendo como momento chave o colapso financeiro que se iniciou em 2007, em que explodiu a crise das hipotecas subprime. O banco Northern Rock é o primeiro a afundar e milhares de pessoas, incluindo a família, são prejudicadas profundamente.
Na trama, que se passa dez anos após o colapso, temos Ricky e Abbie, o casal que sustenta a família. Ricky é um ex-trabalhador da construção civil que passa a trabalhar em uma firma de entregas. Em vez de se tornar um funcionário, ele é "franqueado" sem benefícios e deve aderir a metas rígidas ou enfrentar penalidades severas. Enquanto isso, Abbie enfrenta sua própria injustiça: como trabalhadora em contrato de zero horas, paga pelo tempo que passa com seus pacientes, mas não pelas longas jornadas de ida e volta às consultas. Acrescente um filho rebelde e o resultado é uma família que mal consegue suportar-se. Temos nesse núcleo os maiores elementos voltados ao melodrama, onde as relações macro influenciam as micro-familiares.
Loach não pega leve na exposição de um sistema aparelhado para o benefício daqueles que estão no topo da cadeia alimentar. Apertando gradualmente os parafusos de Ricky e Abbie, esta é uma imagem instantânea das expectativas insustentáveis colocadas na classe trabalhadora contemporânea.
Caramba, que baque! Não poderia começar a falar sobre esta obra sem citar o sentimento de familiaridade que já comecei a sentir logo nos seus primeiros minutos, cresci em uma cidade no interior de MG, à algumas centenas de quilômetros de Cataguases, onde o filme se passa. Quando comecei a reconhecer as falas e os costumes, já sabia que o diretor foi crescido no interior, assim como o escritor do livro, Luiz Ruffato (que é da própria Cataguases), só alguém daqui poderia expressar tão bem as pessoas daqui, desde uma simples fala como um "Vai lá na rua que o sinal é melhor" ou até uma chacota ligada à um machismo extremamente entranhado. A caraterização é impecável, sem nenhuma exceção.
O filme é um aprendizado de audiovisual, desde a fotografia impecável de Walter Carvalho até a mixagem e edição de som. Tecnicamente o filme não deixa nada à desejar, não é um filme para qualquer um, é preciso assisti-lo com ambição mas não somente ao roteiro, ele funciona melhor como um todo. O roteiro tem como personagens protagonistas dois antigos amigos que se reencontram ao acaso, tendo como ponto de tensão uma tragédia no passado. Os dois passam a véspera de natal por altos e baixos (ou melhor: baixos e baixos?), relembrando os tempos de amizade e se reconhecendo quanto à vida adulta. É perceptível a oscilação que a nostalgia causa, entre felicidade e conflito. Como principais coadjuvantes temos a mãe de Gildo, Dona Marta, e a mulher de Luzimar, Toninha. A atuação das mulheres é excepcional no filme, Dira Paes e Cássia Kiss dão simplesmente uma aula de atuação. A tragédia durante o filme também traz uma enorme carga pesada e as situações e personagens são coisas tão reais/próximas que chega a ser triste e doloroso.
Por fim, acho interessantíssimo essa ligação dos principais personagens: conectados no passado, separados após uma tragédia e acabam distantes seguindo diferentes rumos na vida. Um vivendo em SP e o outro ainda na mesma cidade em que os dois cresceram. A questão de quem fez a melhor escolha e a dor imposta com isto.
eu queria passar um tempinho na cabeça do Yorgos só pra ver de perto o que tá acontecendo lá dentro, contanto que ele garanta arcar com o tratamento psicológico depois
"Escutai, gente normal! Vemos a verdade que vós já não vedes. A verdade é que a essência do homem é o amor e a fé, a coragem, o carinho, a generosidade e o sacrifício. O resto é obstáculo criado pelo progresso de sua ignorância cega."
Palavras de um condenado por agir ilogicamente, antes de ser fuzilado pelo estado "anti-emocional".
É como se o Musa fosse a personificação do vazio que se distancia de certa forma dos demais espaços ocupados. Acho que a indiferença/apatia nunca foi tão bem retratada antes no cinema como dessa forma.
O cinema turco saudando Camus da melhor maneira possível.
Apenas o melhor da trilogia! Chega a ser tão complexo linguisticamente quanto o antecessor. Roteiro espetacular e Al Pacino juntamente com o DeNiro dando um show de interpretação.
Parque da Punição
4.3 18Um pseudo-documentário de quase cinco décadas (!) que continua extremamente [e dolorosamente] pertinente para uma releitura na atualidade.
A visão de Watkins sobre o microcosmo social que ele transpassa em Punishment Park é profundamente acentuada e, por um ótimo trabalho de condução, nunca maniqueísta. Porém, seria fácil para ele mergulhar em uma militância de baixo nível e inconsistente, como muitos cineastas eram capazes de fazer em sua época. Aqui, pelo contrário, apesar de seu visível compromisso do lado do acusado, eles nunca são apresentados como cavaleiros morais, mas ao contrário, cheios de contradições e tiques irritantes. Isso ele obtém pela escolha intencional de não buscar a atuação crua do ator ou a romantização do sujeito ('herói') e comportamentos. O que o interessa, acima de tudo, é a atmosfera criada durante as filmagens e o que ela pode nos ensinar sobre as tensões sociais, as relações de poder que interiorizam uma sociedade.
Com sua encenação constantemente tentando distorcer as fronteiras pré-estabelecidas entre ficção e documentário, Watkins procura minar a posição passiva do espectador do cinema. Ele nos leva a questionar a natureza ontológica da imagem não para engoli-la facilmente, mas para observá-la com um olhar crítico, para entender melhor a ideologia que a sustenta.
Você Não Estava Aqui
4.1 242 Assista AgoraKen Loach retorna, após 'I, Daniel Blake', com o mesmo formato melodramático do antecessor e com sua principal fórmula de retratação de atrito entre uma classe proletária e o sistema capitalista - mais especificamente de um neoliberalismo "democrático" anglo-saxão.
O background da família do protagonista é construído tendo como momento chave o colapso financeiro que se iniciou em 2007, em que explodiu a crise das hipotecas subprime. O banco Northern Rock é o primeiro a afundar e milhares de pessoas, incluindo a família, são prejudicadas profundamente.
Na trama, que se passa dez anos após o colapso, temos Ricky e Abbie, o casal que sustenta a família. Ricky é um ex-trabalhador da construção civil que passa a trabalhar em uma firma de entregas. Em vez de se tornar um funcionário, ele é "franqueado" sem benefícios e deve aderir a metas rígidas ou enfrentar penalidades severas. Enquanto isso, Abbie enfrenta sua própria injustiça: como trabalhadora em contrato de zero horas, paga pelo tempo que passa com seus pacientes, mas não pelas longas jornadas de ida e volta às consultas. Acrescente um filho rebelde e o resultado é uma família que mal consegue suportar-se. Temos nesse núcleo os maiores elementos voltados ao melodrama, onde as relações macro influenciam as micro-familiares.
Loach não pega leve na exposição de um sistema aparelhado para o benefício daqueles que estão no topo da cadeia alimentar. Apertando gradualmente os parafusos de Ricky e Abbie, esta é uma imagem instantânea das expectativas insustentáveis colocadas na classe trabalhadora contemporânea.
Sala Verde
3.3 546 Assista Agorana moral?
nazi punk fuck off
Elle
3.8 886nunca vi tanta gente ruim reunida em 130 minutos
Ruas de Fogo
3.6 238é tão ruim que é bom
Redemoinho
3.5 71Caramba, que baque! Não poderia começar a falar sobre esta obra sem citar o sentimento de familiaridade que já comecei a sentir logo nos seus primeiros minutos, cresci em uma cidade no interior de MG, à algumas centenas de quilômetros de Cataguases, onde o filme se passa. Quando comecei a reconhecer as falas e os costumes, já sabia que o diretor foi crescido no interior, assim como o escritor do livro, Luiz Ruffato (que é da própria Cataguases), só alguém daqui poderia expressar tão bem as pessoas daqui, desde uma simples fala como um "Vai lá na rua que o sinal é melhor" ou até uma chacota ligada à um machismo extremamente entranhado. A caraterização é impecável, sem nenhuma exceção.
O filme é um aprendizado de audiovisual, desde a fotografia impecável de Walter Carvalho até a mixagem e edição de som. Tecnicamente o filme não deixa nada à desejar, não é um filme para qualquer um, é preciso assisti-lo com ambição mas não somente ao roteiro, ele funciona melhor como um todo. O roteiro tem como personagens protagonistas dois antigos amigos que se reencontram ao acaso, tendo como ponto de tensão uma tragédia no passado. Os dois passam a véspera de natal por altos e baixos (ou melhor: baixos e baixos?), relembrando os tempos de amizade e se reconhecendo quanto à vida adulta. É perceptível a oscilação que a nostalgia causa, entre felicidade e conflito. Como principais coadjuvantes temos a mãe de Gildo, Dona Marta, e a mulher de Luzimar, Toninha. A atuação das mulheres é excepcional no filme, Dira Paes e Cássia Kiss dão simplesmente uma aula de atuação. A tragédia durante o filme também traz uma enorme carga pesada e as situações e personagens são coisas tão reais/próximas que chega a ser triste e doloroso.
Por fim, acho interessantíssimo essa ligação dos principais personagens: conectados no passado, separados após uma tragédia e acabam distantes seguindo diferentes rumos na vida. Um vivendo em SP e o outro ainda na mesma cidade em que os dois cresceram. A questão de quem fez a melhor escolha e a dor imposta com isto.
Paris, Texas
4.3 696 Assista Agoraque mané França a parada é Texas
Em Ritmo de Fuga
4.0 1,9K Assista Agoravelozes e furiosos feito por um cineasta
O Sacrifício do Cervo Sagrado
3.7 1,2K Assista Agoraeu queria passar um tempinho na cabeça do Yorgos só pra ver de perto o que tá acontecendo lá dentro, contanto que ele garanta arcar com o tratamento psicológico depois
Instrument
4.7 6alguém sabe onde eu encontro o torrent?
Alphaville
3.9 177 Assista Agora"Escutai, gente normal! Vemos a verdade que vós já não vedes. A verdade é que a essência do homem é o amor e a fé, a coragem, o carinho, a generosidade e o sacrifício. O resto é obstáculo criado pelo progresso de sua ignorância cega."
Palavras de um condenado por agir ilogicamente, antes de ser fuzilado pelo estado "anti-emocional".
QUE FILME
Destino
3.8 11É como se o Musa fosse a personificação do vazio que se distancia de certa forma dos demais espaços ocupados. Acho que a indiferença/apatia nunca foi tão bem retratada antes no cinema como dessa forma.
O cinema turco saudando Camus da melhor maneira possível.
Pesado e reflexivo.
Oldboy: Dias de Vingança
2.8 828 Assista Agorakkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Má Educação
4.2 1,1K Assista AgoraNão tem como esperar pouco de um drama com uma parceria entre Almodóvar e Gael García, né? Filme espetacular.
As Invasões Bárbaras
4.0 203Que obra bonita!
Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio
3.8 1,4K Assista Agoraobrigado deus pelo trash nosso de cada dia
John Morre no Final
3.2 191filmão, uma comédia psicológica das melhores... pretendo assistir pela segunda vez, só que chapado.
Marighella
4.1 112Revolução no Brasil tem um nome!
Mad Max: Estrada da Fúria
4.2 4,7K Assista Agorasobre o filme: não sei nem o que dizer, apenas sentir
O Irlandês
4.0 1,5K Assista AgoraAl Pacino, De Niro e Joe Pesci num filme sobre máfia dirigido por Martin Scorsese... se esse projeto realmente sair do papel vai ser uma obra-prima!!
Bastardos Inglórios
4.4 4,9K Assista AgoraSem dúvida um dos melhores filmes do Tarantino, meu filme favorito do diretor... uma obra prima do cinema, apenas.
O Poderoso Chefão: Parte II
4.6 1,2K Assista AgoraApenas o melhor da trilogia! Chega a ser tão complexo linguisticamente quanto o antecessor. Roteiro espetacular e Al Pacino juntamente com o DeNiro dando um show de interpretação.
O Lobo de Wall Street
4.1 3,4K Assista AgoraFilme sensacional, mais uma vez Scorsese não decepciona, ótima atuação do DiCaprio e ótima escolha de elenco!