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31 years Salvador - (BRA)
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Últimas opiniões enviadas

  • Tiago C

    Uma moça é traída pelo participante do BBB 24, expõe sua dor, e se torna famosa. Um ano antes, um motorista de uber atropela Kayke Brito e se torna famoso e até fala sobre se candidatar a deputado federal. É essa a lógica de relação do sujeito com o mundo que o filme retrata de forma cômica, irônica, ácida.

    O título original, em tradução do norueguês, é "garota doente", syk (doente) pyke (garota). O título inglês e português respondem do quê a "garota" está "doente": de seu self. O self é um conceito que muda com o passar do tempo e das áreas que o estudam, entretanto há uma prevalência entre o que as definições tocam, sem divergir tanto: self é essa instância psíquica, que indica a experiência subjetiva que um sujeito tem de si mesmo. Essa experiência não se constrói apenas internamente, mas é transformada com na relação com o mundo.

    É disso que Signe está doente: de seu self. O que causa a doença, por outro lado, é mais complexo, e não acho que deva se voltar para uma lógica diagnóstica psiquiátrica, mas sim social. Não interessa aqui apontar que ela é narcisista, histérica, ou o que for. É isso o que menos importa aqui, pois penso que ela é antes uma caricatura social, um modelo social ironizado, do que uma personagem a ser diagnosticada. As relações do filme ilustram isso:

    Enquanto Thomas tem um self bem fundamentado em sua arte, reconhecido pelo público e pela mídia, ele pode se sustentar. Ele põe a cabeça no travesseiro à noite dizendo a si mesmo "sou um artista e sou reconhecido pelo Outro como tal". Tudo está em seus conformes, pois seu Eu está muito bem identificado a sua profissão. Todos os dias podemos encontrar pessoas assim, que identificam seu Eu ao que fazem profissionalmente. Lá para o fim do filme que vamos ver a queda dessa sustentação que ele inventava com a arte dele a partir de quando ele é preso, denunciando sua fraude. Signe, diante dele, é uma garçonete que trabalha numa cafeteria. Até então, não deveria ser uma relação que causasse crise, não fosse um imperativo social muito contemporâneo que adoenta não apenas o self de Signe, mas o self dos sujeitos na contemporaneidade: nossa sustentação diante de nós mesmos está cada vez mais alienada ao que os outros acham de nós, de modo que nos vemos incapazes de uma dialética, um furo na consistência tão rígida do poder do olhar do outro sobre nós.

    O cômico do filme é o caminho pelo qual Signe busca o reconhecimento: é através do que uma vez funciona para ser reconhecida, que é estar às voltas com alguma catástrofe que acometa a ela ou a outrem, de modo que ela possa fazer ser sobre ela. Lembra bastante a onda de exposição exacerbada que todos os dias vemos nas redes sociais, das pessoas que de anônimas, com seus sofrimentos expostos se tornam famosas. A pergunta que o filme levanta para mim não é aquela clássica e rasa "vale tudo pela fama?", mas sim uma série de outras perguntas mais complexas:

    Nas gerações anteriores haviam ideais a serem seguidos, que guiavam a vida de nossos avós. O sofrimento deles era por não estarem se encaminhando dentro dos ideais, que seja ter uma formação, um emprego, viver sua vida sexual e íntima restrita a sua intimidade, seja hetero, homo, ou o que for. O que há hoje é uma pulverização de ideais alcançáveis, ou então uma fragilidade muito grande nos caminhos possíveis a se alcançar ideais hoje em dia: se antes fazer um ensino superior era algo que poderia garantir algo, de hoje adiante isso está longe de ocorrer. Nosso sofrimento hoje não é o de estarmos fora dos ideais, porque nem mais sequer os ideais que serviam às gerações anteriores às nossas não nos sustentam mais. Se antes o sofrimento era o de não seguir os ideais, hoje o sofrimento é o de não ter ideal algum. Isso está no âmago da angústia tão contemporânea de sujeitos que seguem a vida e não encontram uma resposta ao se questionarem "Pra onde estou levando minha vida?". Brincamos com o fato de sermos a geração que não vai ter casa própria. O que se é então diante do outro, e em quais ideais se garantir? É possível criar ideais não conservadores para as gerações contemporâneas? E sobretudo: há esperança de que o mundo com sua lógica econômica e social esteja caminhando para a existência de ideais possíveis de sustentação?

    Talvez essas questões sejam respondidas pelas gerações futuras, não a nossa. Enquanto isso, para alguns de nós, o que resta é sonhar em viralizar na internet e pagar as contas com patrocínio de marcas.

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  • Tiago C

    Uma aula sobre a inveja e o ressentimento.

    Salieri é típico personagem invejoso e ressentido, e as duas características nele explicam a diferença lógica entre um sentimento e o outro: na inveja, o sujeito invejoso quer tomar a qualidade que é do outro para si. Para tal, não é construindo em si a qualidade que ele enxerga no outro que o invejoso opera: é antes o destruindo. O invejoso portanto precisa manter perto de si seu rival (Mozart) que detêm seu objeto de desejo (o talento). Em sua fantasia, ele atua como se após a derrota de seu rival, ele terá finalmente livre o objeto de seu desejo para si. A grande decepção se dá ao descobrir que não é assim que a coisa funciona. Mesmo depois de morto, as composições de Mozart são mais conhecidas pelas pessoas do as dele, o que denuncia aquilo que o invejoso não enxerga, a saber, que sua disputa existe apenas na sua cabeça. Nem sempre os arranjos fantasiosos da fantasia conseguem ser bem amarrados. Outro ponto que o filme ilustra muito bem: o invejoso é o maior admirador de seu rival.

    No ressentimento, diferente da inveja, não há um revide. O sujeito ressentido não revida o golpe que supõe ter sofrido. O ressentido é aquele que supõe que o Outro tomou dele o que lhe era de direito e deu a outro. Enquanto na inveja, o invejoso identifica o objeto de seu desejo pertencente a outro e o quer para si, no ressentimento, o ressentido identifica que o objeto de desejo que lhe era de direito foi dado a outro. Isso se ilustra na cena onde Salieri, ainda criança, décadas antes de conhecer Mozart, pede a Deus que ele seja talentoso e reconhecido. Sua revolta, no ressentimento, se volta toda em intermináveis queixas. No filme, isso se realiza com Salieri identificando em Deus o Outro que deu a Mozart o que era de direito a Salieri, ou seja, o talento. Como se ele se queiasse a Deus: "Eu pedi primeiro, era a mim que você deveria ter dado o talento". A partir de então ele vai se queixar com Deus, interminavelmente. Se vê sendo feito de chacota por Deus. Mas em momento nenhum é capaz de revidar o dano que sofreu ao fantasiar que Deus deu a Mozart o talento que seria de direito dele. As queixas do sujeito ressentido sempre giram através da mesma lógica: ele alguém que se imagina vítima de uma injustiça. "Eu sou mais merecedor, sou mais educado, sou moral, mais culto, me sacrifiquei mais, tive menos privilégios do que ele, que é um obsceno, um bêbado, um imoral enfim". Para o ressentido, seu desejo foi tomado, anulado por um outro, e assim ele sofre por não ser capaz de assumir o seu próprio desejo, pondo no lugar uma infinita queixa contra aquele que tem o objeto que seria seu de direito.

    São ambas duas posições na vida muito paralisantes, que angustiam, mas servem de gozo: há um prazer no ressentido quando se ressente e há um prazer no invejoso quando ele trama os planos de sua inveja, mas é um prazer no sofrimento, e portanto o faz ficar fechado em si mesmo, incapaz de articular-se no mundo através do desejo. Para abrir mão de tal sofrimento, só com muita análise, mas esta só foi inventada mais de um século depois!

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  • Tiago C

    Há quem olhe para a tela do celular. Há quem olhe para a copa das árvores.

    Hoje, diante do espaço de tempo que se abre no intervalo entre uma atividade, ou mesmo no meio de uma atividade que começa a se mostrar entediante, olhamos para a tela de um celular. Olhe ao redor quando estiver fora de casa, veja isso nas pessoas: cada uma com seu celular enquanto esperam o metrô, enquanto caminham, enquanto estão diante de outras pessoas, num encontro. Hirayama, protagonista de Dias Perfeitos, diante do espaço de tempo que se abre, ele olha para a copa das árvores.

    Geralmente, filmes que tratam de personagens solitários o fazem por um viés dramático, como sujeitos que por formação reativa, consequência de algum acontecimento traumático, decidiram se isolar do mundo. Dias Perfeitos trata da beleza que há na solidão, quando ela, embora esteja fechada em si, põe sobre o mundo um olhar atento.

    Nos faz pensar: é Hirayama o solitário ali, olhando para a copa das árvores, atento ao que acontece ao redor, escutando a quem se dirige a ele, ou são os outros, hiper conectados, incapazes de se relacionar? Talvez seja ele o menos solitário entre todos. Talvez ele viva uma outra qualidade de solidão.

    Outra coisa que esse filme transmite: a cada sujeito cabe a sua forma de solidão, assim como a cada um cabe a própria medida da felicidade. Minha solidão não é silenciosa. Nela eu falo sozinho, com meu cachorro, canto música. Hirayama não fala, é silencioso e gosta do silêncio. A não ser quando ouve música. Cada um tem a sua própria forma de ser sozinho.

    A cena do mendigo que abraça as árvores e dança nas ruas: ninguém ali olha para ele. É Hirayama quem o enxerga, tal qual enxerga a copa das árvores, faz do silêncio delas uma amiga. Isso me lembrou Manoel de Barros. Sua sobrinha talvez não se conecte com sua mãe como o faz com ele, que sem palavras, produz uma troca com o outro.

    Claro que há ali também uma recusa da convivência com os outros. Mas não é uma recusa autista, recusado Outro, fechada em si. Como uma coisa que é, ele observa sem intervir os outros sendo como observa as árvores que também são. Como as folhas que se movem com o vento, ele observa sem interagir a vida dos outros que se movem com a vida. Quando é convocado a intervir, ele ensina algo muito emocionante: brincar com as sombras. Só mesmo alguém que se relaciona com a própria solidão é capaz de brincar com as próprias sombras.

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  • Jonathan
    Jonathan

    Por nada...eu vi ontem e adorei!

  • Jonathan
    Jonathan
  • Filmow
    Filmow

    O Oscar 2017 está logo aí e teremos o nosso tradicional BOLÃO DO OSCAR FILMOW!

    Serão 3 vencedores no Bolão com prêmios da loja Chico Rei para os três participantes que mais acertarem nas categorias da premiação. (O 1º lugar vai ganhar um kit da Chico Rei com 01 camiseta + 01 caneca + 01 almofada; o 2º lugar 01 camiseta da Chico Rei; e o 3º lugar 01 almofada da Chico Rei.)

    Vem participar da brincadeira com a gente, acesse https://filmow.com/bolao-do-oscar/ para votar.
    Boa sorte! :)

    * Lembrando que faremos uma transmissão ao vivo via Facebook e Youtube da Casa Filmow na noite da cerimônia, dia 26 de fevereiro. Confirme presença no evento https://www.facebook.com/events/250416102068445/

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