É um filme sobre cair e se levantar, sobre servir e esperar; sobre processo e paciência, sobre dedicação e conquista. Isso está tanto na vivência particular de Maria Braun quanto na experiência coletiva da jovem República Federal da Alemanha (“BRD”, cujas iniciais dão nome à trilogia da qual “Maria Braun” é a primeira), formada após o fim da Segunda Guerra Mundial. E é claro, vivência e experiência que se entrelaçam. Entrelace convergente no começo do arco narrativo, mas divergente no ponto final.
Primeiro, o casamento com Hermann que começa -- literalmente -- acidentado e cujo futuro se mostra absolutamente incerto nos anos que lhe seguem. Tal qual o futuro de uma derrotada e ocupada Alemanha. Em seguida, a perda de contato com o esposo e as dificuldades econômicas da família, que coincidem com a desolação de uma Alemanha destruída. A grande retomada de Maria Braun ocorre após o reencontro com Hermann e a determinação afiada de bem viver com ele no futuro, mesmo que para isso ela tenha de estar sob -- ou sobre, sagazmente -- o comando de Karl Oswald e suas indústrias. Converge com o milagre econômico alemão iniciado em 1948 e que alcançou os anos 1950. Maria Braun e Alemanha: ambas ricas e fortes -- ainda que tenham que apaziguar os ânimos dos sindicatos e patrões. Porém, ao fim, a divergência entre a vivência particular de Maria e a experiência pública da “BRD” aparece. Após a queda, a espera, a reconstrução e as conquistas econômicas, faltava a realização existencial, tanto para Maria Braun quanto para a Alemanha. O filme termina com a Fortuna, volúvel, fundindo o poder com a miséria, abatendo os Brauns -- bem no dia em que ocorre a refundação simbólica da nação alemã, no Milagre de Berna.
Para além do entrelace entre o particular e o público, “O Casamento de Maria Braun” é um fime sobre dinheiro, que é poder, que corrompe. Corrompe o ser humano, que se perde, que muda, que perde empatia e sensibilidade. E é sobre sobre sorte. Apesar de a paciência ser virtude, não pode o ser humano deixar de tentar viver e de aproveitar o momento, apenas esperando um futuro envolvido numa ideia fixa, que poderá nunca ocorrer.
O que vemos em Hiroshima? "Pode-se zombar… mas o que mais pode fazer um turista… senão chorar?" "Assim como essa ilusão existe no amor… a ilusão de poder nunca esquecer… eu tive, diante de Hiroshima… a ilusão de jamais esquecer, como no amor."
Vemos em Hiroshima Mon Amour um filme marcante em muitas dimensões. Marcante porque aborda a memória coletiva de Hiroshima, em Hiroshima. Marcante poque liga profundamente essa experiência coletiva à memória individual de seus protagonistas, mostrando e ressignificando suas identidades. E marcante para o próprio cinema, na forma de retratar a história pela arte: Hiroshima Mon Amour é, ele próprio, origem e matéria de nossa memória expandida sobre a condição humana dos anos 1940-1950. "Por que negar a evidente necessidade da memória?"
É uma versão de A Memória, a História, o Esquecimento em forma de filme.
Um afiado ode aos anos 60…um épico Era uma vez em…Nova York!
7 temporadas douradas sobre mudança, recomeço, solidão, autoconhecimento e reconhecimento social. Sobre coragem, cautela, aprendizado. Sobre o trabalho se tornar um lugar de fuga, um refúgio que o ser humano pode montar para se distanciar de si mesmo, de sua essência, de sua família, de sua realidade. Sobre a percepção de que existe mais, muito mais do que este trabalho.
E Peggy e Don descobrem isso a duras penas. Pois quando o trabalho não corresponde mais às expectativas da vida, quando não preenche os pesados vazios da existência, a crise e a dor vêm.
No caso específico de Don, a cena com o homem que fala da metáfora da geladeira é, talvez, a catarse da superação do vazio e da bagunça do anti-herói. Don Draper talvez tenha visto Dick Whitman naquele pobre homem que revelou sua aparente insignificância perante o mundo. Talvez tenha visto nele uma antítese de Don, afinal o que mais Don teve em 10 anos foi a atenção do mundo. E talvez Don tenha visto no pobre homem o próprio Don, na parte sobre não se conseguir conectar com as outras pessoas e não conseguir entender o amor. Talvez, uma superação que ocorre no momento em que Don entra em contato real com os outros: o abraço e a cena final simbolizam isso, o sentimento de empatia, praticamente ausente desde que Dick havia virado Don.
Dick que vira Don. É inevitável não lembrar outra metamorfose na TV: a de Walter White em Heisenberg. Até pelo próprio caminho final que os protagonistas percorrem. Walter White sai do Oeste e foge pro Leste e, numa epifania, volta para o Oeste. Don segue a mesma direção, mas em sentido contrário. Sai do Leste, tenta refúgio no Oeste, e, em outra epifania, retorna ao Leste. Talvez haja mais coisas entre Dick Whitman e Walter White do que possamos ver num primeiro momento. Talvez Walt Whitman seja a união dos dois? Não lembramos "When I Heard the Learn'd Astronomer" - poema declamado em Br Ba:
“Quando, sentado, ouvia o astrônomo muito aplaudido, na sala de conferências, Senti-me logo inexplicavelmente cansado e enfermo, Até que me levantei e saí, parecendo sem rumo No ar úmido e místico da noite, e repetidas vezes Olhei em perfeito silêncio para as estrelas.”
- quando Don, no episódio 12, cansado de ouvir as análises entediantes do diretor da McCann, olha para o céu e resolve partir para a sua jornada de queda e recomeço no Oeste?
São Paulo, SA é um dos filmes definitivos do Brasil. É fonte e objeto da história. Representa a ascensão técnica de uma sociedade do cansaço que, não obstante, parecia -- e parece -- imparável. Ascensão acompanhada de uma crescente angústia humana, uma crise de identidade advinda do próprio cerne dessa engrenagem urbana.
É um daqueles filmes que apresentam uma dupla dimensão interligada: uma dimensão íntima e uma dimensão histórica. A experiência coletiva da expansão socioeconômica e da rapidez das relações impõe-se sobre as individualidades que alimentam a máquina social. O concreto de São Paulo sustenta-se sobre fantasmas ambulantes, em crises de identidade nesse fluxo de constantes mudanças. Nesse cenário, o colapso mental e social do indivíduo de classe média, do pequeno burguês, não é uma anomalia social, mas sim uma consequência esperada e previsível.
Entre seus pares da época, São Paulo, SA nada tem a dever. É de uma qualidade da mesma grandeza dos clássicos das escolas francesas (Cléo de 5 à 7 e Trinta Anos Esta Noite, por exemplo) ou italianas (8½, A Doce Vida), com a vantagem de ter uma abordagem inevitável do nosso universo latino-americano.
Por fim, a dificuldade que Carlos tem em estabelecer um sentido claro no caminho de sua vida lembra Don Drapper de Mad Men, o clássico contemporâneo ambientado nos anos 1960.
Impossível para mim não relacionar Mitsuha com Sophie (a heroína de Hayao Miyazaki), que também se encontra com uma versão mais jovem do seu amor. Quando Mitsuha entrega o fio vermelho a Taki, sinto uma versão ainda mais poética do "me encontre no futuro" de Sophie para Howl. E a ida de Taki a Itomori para encontrar Mitsuha é algo ainda mais encantador que aquele encontro de Howl com Sophie. De "eu estava procurando você por toda parte" para "Onde você estiver nesse mundo, voltarei a encontrá-la, aconteça o que acontecer" e "Alguém importante. Alguém que eu não quero esquecer, não devo esquecer".
"Escute, jovem: animações não são um meio de ganhar dinheiro. Animações são lindos sonhos. Hayao Miyazaki dá forma aos sonhos."
Nesses 70 anos de Pearl Harbor, escolhi ver Vidas ao Vento. Apesar das contradições inevitáveis que envolvem o protagonista, jamais duvidei que a mensagem antibélica do Diretor estaria presente.
Os 10 anos de pura inspiração de Jiro proporcionaram a ele o ápice de seu talento. Mas a que custo? Ao custo da fome e da guerra. Ao custo da perda de momentos com a sua mais querida Naoko.
Esse é o sentimento de Jiro. Esse foi o meu sentimento ao final.
As lições que Hayao Miyazaki nos passa são intermináveis. "Eu gostaria de fazer um filme para dizer às crianças que é bom estar vivo", disse uma vez. Ele faz isso A CADA FILME, pra crianças e adultos: "O vento se ergue, devemos tentar viver."
"Você precisa viver", seja você a Princesa Kaguya ou o Jiro, antes que sua vida se vá pelos ventos...
"Eu me lembrava de que o mundo real era vasto, e que uma quantidade enorme de esperanças e medos, de sensações e emoções, estavam à espera daqueles que ousassem sair por ele afora, buscando, em meio a seus perigos, o verdadeiro conhecimento do que é a vida." -- Charlotte Brontë/Jane Eyre
E Jenny sente-se assim...
Porém, “até na torrente, na tempestade e eu diria mesmo no torvelinho da paixão, convém forjar e exprimir uma sobriedade que traga equilíbrio.” -- Shakespeare/Hamlet
“Uma vez escutei a seguinte frase: A felicidade é ter saúde e má memória. Eu gostaria de tê-la inventado, porque ela tem toda a razão” - Audrey Hepburn.
Será? A memória pode enfraquecer, podemos esquecer as coisas... mas o brilho dos momentos não se apaga. E esse brilho ajuda a nos formar como pessoas e ilumina os caminhos que tomamos na vida, conscientemente ou não.
E o que acontece nessa temporada?! A ruptura entre eles!... (algo que podíamos esperar, pelo constante comportamento negligente do Don para com sua brilhante redatora). E, do jeito como foi construído, isso não só ficou verossímil como também bastante instigante, como o são todos os clímax de Mad Men. Aquela cena final do ep. 11 dialoga muito bem com o ep. 13 da 3a temporada, quando Don insiste que Peggy vá trabalhar com ele na nova agência. A atuação de Jon Hamm é fantástica: sentimos a sensação de derrota quando Don percebe que a saída de Peggy é irreversível.
Marcello, submerso na futilidade de seu cotidiano, não consegue definir um sentido para sua vida. Ele é alimentado por um ciclo de práticas vazias da alta sociedade, e ele mesmo, enquanto jornalista, retroalimenta esse meio com notícias tolas, mostrando o dia a dia da elite. Elite apresentada como é: orgulhosa, preconceituosa, afetada, que pensa que seus problemas mesquinhos são relevantes para o mundo, que acredita que suas opiniões contribuem para o nosso belo quadro social. E tudo isso com um fino toque irônico e satírico.
Filme tedioso? Não acho, pois conseguir bem retratar o TÉDIO da vida é de uma sutileza incrível. Nossa “doce” vida realmente pode ser assim. É a arte imitando a vida e a vida imitando a arte, afinal. Para mim, esse é o grande mérito do filme. Mostrar uma sucessão de eventos de alguém que se deixa levar pela existência, talvez como preenchimento de seu vazio.
Quando eu estiver num meio escabroso, tolo, fútil, rodeado de pessoas que louvam a mediocridade, com certeza lembrarei desse filme. Espero não estar, mas às vezes não sabemos aonde nossa doce vida nos leva. Frequentar tais meios é estar sem consciência.
Pela Sala obterás a glória do mundo. E se afastarão de ti todas as trevas. Nisso consiste o poder poderoso de todo poder: Vencerás todas as coisas sutis e penetrarás em tudo o que é sólido.
Com Stalker, Tarkovsky aperfeiçoa uma hermenêutica de mim mesmo e do mundo. Sim, do mundo. “To stalk” = marchar titubeando, andar característico de quem invade um território desconhecido. A vastidão desse mundo e das pessoas é um território desconhecido, para cuja interpretação também avanço aos passos cautelosos.
A ligação (ou dependência) de Stalker com a Zona não é a mesma da de Thoreau com os bosques - nos quais ele fora para viver livre como quisesse e sugar todo o tutano da vida. Em Tarkovsky, essa relação é diferente. Não é possível permanecer na Zona, assim como não é possível tomar posse da verdade. Assim como não é possível ser livre para querer o que se quer. O roteiro de Stalker reflete sutilmente um escárnio para com um mundo cínico e em crise.
A cada pingo d’água, vem-me uma sensação introspectiva da banalidade e de nossa pequenez num mundo entristecido e abandonado, para muito além dos limites da Zona. Um mundo complexo, para cuja exploração não é prudente que o Escritor ou o Professor vá direito, nem é recomendável voltar pelo mesmo caminho, pois a realidade está mudada, diferente do passado. Daí a necessária flexibilidade: “A dureza e a força são atributos da morte; a flexibilidade e a fraqueza são a frescura do ser”. A Zona parece entoar, tal qual a antiga Esfinge: “decifra-me ou te devoro”. Mas, no mundo de Stalker, há recomeço para os que saem da Zona?
Em Pulp Fiction, há uma passagem marcante: “É assim que sabe que encontrou alguém especial. Quando pode calar a boca um minuto e sentir-se à vontade em silêncio.” Após Solaris e Stalker e seus silêncios, acredito ter encontrado um diretor especial...
A metáfora de Adão e Eva originando a dor e o desejo que existem no mundo (ou nos mundos) foi a cereja do bolo. Como o mundo foi criado!
“O homem é uma criatura estranha. Todas as suas ações são motivadas pelo desejo, seu caráter é forjado pela dor. A dor é seu navio, o desejo é a sua bússola”. Ora, o ser humano é livre para fazer o que quer, mas não para querer o que quer!
Por isso o Paraíso na verdade é a escuridão eterna, daí temos o niilismo de Adam contra a luz (“Que haja luz”), contra a origem do sofrimento daqueles 2 mundos presos em um nó: sem desejo, sem dor.
Daí o “Brain Damage” (“you look the door, there is someone in my head, but it’s not me”... que cena aquela da porta e do porão) e o “Eclipse” (“matter of fact, it’s all dark”) que a série nos passa. Daí o título da série: Dark! A história se fecha.
Se nos filmes a gente fala de 2001, Solaris e Matrix como clássicos, nas séries coloco Dark nessa categoria.
Falaram “falta conteúdo. Sinto que Dark não me passou quase nada”, “série caótica, confusa pra c*, extensa por demais e com encheções de linguiça” etc etc... Mas se mesmo Kubrick e Tarkovsky apanham dos sábios cinéfilos do Filmow, Dark sofrer essas críticas já era esperado.
O conteúdo da série: altas reflexões sobre física, filosofia, religião, fatalismo, destino, autodeterminação, bem e mal, e é claro, tempo: o deus universal do nosso cosmos. Logo, não é uma série fácil, você não pode ter preguiça pra assistir, se não vai falar que há “encheção de linguiça”.
Maravilhoso o tom abstrato da série, próprio das tradições alemãs ❤. Pontos principais muito bem enredados e encaixados. Incrível como as 3 temporadas precisam ser vistas como um bloco só e como elas se complementam.
Teatro dos sonhos. Idealismo em notas musicais. Estética deslumbrante. Tudo o que podia ser, e não foi. Tudo o que não teria sido, mas que foi. Linda homenagem aos clássicos musicais. Refinado e profundo.
Minha sensação depois dessas duas horas? Deixo pro Milton falar:
"Lembrar de coisas que ninguém viu O mundo lá sempre a rodar Em cima dele tudo vale Quem sabe isso quer dizer amor, estrada de fazer o sonho acontecer"
O que faz de um filme um clássico? Dentre tantos fatores, conseguir ser atual mesmo depois de décadas.... cooptação do interesse público pelo privado, fake news, destruição da imagem de adversários, influência e distorção da mídia, empresários Odebrechts, Véios da Havan......são tudo coisas que existem no cenário político dos dias de hoje.
Típica da assinatura de Capra: heróis com grande resiliência moral e idealistas. Cenas com falas marcantes. Ainda que o final possa ser por demais otimista, entender que “Não há país que faça com que essas regras [Constituição] funcionem sem homens que tenham aprendido o que são os direitos humanos” me parece algo que não pode ser esquecido, sobretudo nos difíceis dias de hoje. Que tenham aprendido E que respeitem os direitos humanos.
Adorei as referências a Dom Quixote, lembra bastante mesmo!
Um dos pontos altos da temporada com certeza foi o episódio do aniversário da Peggy, a briga dela com o Don e a dor que ele sofre com a morte de Anna Draper, a única pessoa que realmente o conhecia. Depois disso, Don tenta organizar mais sua vida e seus objetivos, e escrever o diário foi uma ótima oportunidade para ele melhor conhecer a si mesmo. E nós também acabamos entendendo melhor esse homem ambíguo das 3 temporadas anteriores. O relacionamento de Don com Megan não foi muito desenvolvido, mas às vezes as coisas realmente são súbitas. Cabe ao público entender as sutilezas, como quase tudo em Mad Men.
E Faye Miller é incrível!! Ah, a Betty, ainda não desisti dela. Temos mais 3 temporadas pra ela deixar de ser fútil e arrogante, e evoluir um pouco.
O trabalho da vida de uma das mais talentosas de sua geração
A prisão de um turbilhão que precisa se soltar. Mas que não sai. A inércia, o ser acorrentado pela mãe invasiva. Introspecção, paralisia, técnica. O introvertido, o contido, o cauteloso, o previsível, o bondoso, o analítico. Medo, o melancólico hamletiano. O extremo do cisne branco, em lentes apáticas.
O outro extremo, cisne negro. Espontâneo, expansivo, sentimental, perceptivo, assertivo, atrevido. Dança no calor do sensitivo, baila muito bem pela fortuna. O reativo, o sanguíneo, o bravo quixotesco.
Todos somos cisnes. Qual seja nossa cor, olhamos para a outra cor, nos estranhamos com ela. O objetivo? Controlar a explosão. Dar tempero ao mecânico. A lição? O equilíbrio entre opostos.
Pra quem conheceu Montoya e Arlequina na série animada do Batman e pra quem conheceu Caçadora e Canário nos desenhos da Liga esse filme é a realização de um desejo de infância, numa época em que não imaginava que a DC teria a coragem e a disposição de fazer um filme tendo essas supermulheres como protagonistas sem os heróis masculinos clássicos na trama.
Então esse filme veio, mostrando todas as potencialidades de todas essas personagens fascinantes, que já nos desenhos e HQs nos encantam. Um filme até que simples, sem muitas pretensões (a escolha de roteiro não é nada muito novo, pois acaba unindo ao final as personagens para que solucionem um problema em comum) mas que acerta a que se propõe. Encaixa muito bem o espírito de Canário, a sede de justiça de Montoya, a trágica história da Caçadora e como isso impacta em sua personalidade e, é claro, a Arlequina, a mais fascinante anti-heroína dos quadrinhos, na sua busca emancipatória extremamente colorida, inspiradora (sim!) e que enche os olhos. Tudo isso contado pelos olhos não lineares de Harley, o que dá um toque especial.
Obrigado a todas, e sobretudo a Margot Robbie, que parece ter nascido pra personagem, e por ter se esforçado tanto em toda a produção (inclusive na produção executiva da excelente trilha sonora). Um dos melhores filmes da DC (e bem melhores que alguns enlatados do MCU). Flop na bilheteria? Às vezes estar à frente de seu tempo tem seus custos.
Um coração forte e valente. Um espírito amigo. Anne é o afago na nossa alma. Um carinho quente e afetuoso direto no coração. Expressão do idealismo e do otimismo em sua forma mais poética. Aurora do sensível. Turbilhão da emoção pura, espontânea, em vibrante e constante transformação. Sonhadora que nos traz sempre uma magia emocionante.
Ela nos faz crianças novamente, voltamos a ter os medos e ânsias da juventude. Todos que amam Anne já estiveram em seu lugar, seja quando crianças, seja quando adultos. Cada momento feliz, uma esquentada no nosso coração. Para cada aflição, um aperto,
Da menina que ficava sozinha por ser tão expressiva, da menina que sofria censura e humilhação, para a brilhante mulher amada por tantas pessoas, confirmando Jane Eyre: "Se todo o mundo odiasse você e a considerasse perversa, mas se sua consciência a aprovasse e a absolvesse da culpa, você não estaria sem amigos..."
Todo episódio é um abraço. Todo choro seu é o nosso, toda alegria sua é nossa. Suas imaginações enfeitiçam qualquer um, qualquer uma. "Anne" tem só 4 letras, assim como "amor": afinal, você nem sempre precisa expressar grandes ideias com grandes palavras...
Anne tem os sentimentos à flor da pele. Não sou nada perto dela. Fui criado para reprimir tudo. Mas ela possui uma gama extraordinária de emoções. A vida tem tantas cores quando vista por meio de seus olhos. Colorirá meu mundo para sempre. ;)
"Não é o que o mundo tem para você, mas o que você traz ao mundo."
"É tão metafórico"... A referência cômica que é feita à Coreia do Norte numa cena do filme faz a gente pensar: embora a Coreia do Sul tenha proporcionado mais liberdade, bem-estar e democracia à sua população do que seus irmãos do Norte, o país possui ainda muitas injustiças gritantes.
É impossível não entender, em menor ou maior grau, as motivações das famílias "parasitas" (incluindo aí a governanta e seu esposo). O sistema, imperfeito como é, por vezes acaba não apenas ignorando a dignidade dessas pessoas, como também pressiona demais pra que elas obedeçam ao que o capitalismo lhes impõe - mas sem lhes oferecer as oportunidades de vida suficientes para tanto -, deixando os mais desfavorecidos em situações desesperadoras.
A cena em que Kim Ki-woo olha para as famílias ricas no jardim, estas deliciando o momento e ignorando todo o sofrimento de inúmeras outras famílias em situações precárias de vida, retrata magistralmente como a desigualdade, seja grande ou pequena, muitas vezes não é sentida pelo topo privilegiado da sociedade.
O Casamento de Maria Braun
4.1 58É um filme sobre cair e se levantar, sobre servir e esperar; sobre processo e paciência, sobre dedicação e conquista. Isso está tanto na vivência particular de Maria Braun quanto na experiência coletiva da jovem República Federal da Alemanha (“BRD”, cujas iniciais dão nome à trilogia da qual “Maria Braun” é a primeira), formada após o fim da Segunda Guerra Mundial.
E é claro, vivência e experiência que se entrelaçam. Entrelace convergente no começo do arco narrativo, mas divergente no ponto final.
Primeiro, o casamento com Hermann que começa -- literalmente -- acidentado e cujo futuro se mostra absolutamente incerto nos anos que lhe seguem. Tal qual o futuro de uma derrotada e ocupada Alemanha.
Em seguida, a perda de contato com o esposo e as dificuldades econômicas da família, que coincidem com a desolação de uma Alemanha destruída.
A grande retomada de Maria Braun ocorre após o reencontro com Hermann e a determinação afiada de bem viver com ele no futuro, mesmo que para isso ela tenha de estar sob -- ou sobre, sagazmente -- o comando de Karl Oswald e suas indústrias. Converge com o milagre econômico alemão iniciado em 1948 e que alcançou os anos 1950. Maria Braun e Alemanha: ambas ricas e fortes -- ainda que tenham que apaziguar os ânimos dos sindicatos e patrões.
Porém, ao fim, a divergência entre a vivência particular de Maria e a experiência pública da “BRD” aparece. Após a queda, a espera, a reconstrução e as conquistas econômicas, faltava a realização existencial, tanto para Maria Braun quanto para a Alemanha. O filme termina com a Fortuna, volúvel, fundindo o poder com a miséria, abatendo os Brauns -- bem no dia em que ocorre a refundação simbólica da nação alemã, no Milagre de Berna.
Para além do entrelace entre o particular e o público, “O Casamento de Maria Braun” é um fime sobre dinheiro, que é poder, que corrompe. Corrompe o ser humano, que se perde, que muda, que perde empatia e sensibilidade. E é sobre sobre sorte. Apesar de a paciência ser virtude, não pode o ser humano deixar de tentar viver e de aproveitar o momento, apenas esperando um futuro envolvido numa ideia fixa, que poderá nunca ocorrer.
As Duas Faces Da Felicidade
4.0 120 Assista AgoraNuma situação de deslealdade, a falta de remorso e de empatia pode arrasar os espíritos mais ternos. Com que talento Agnès explora a temática.
Hiroshima, Meu Amor
4.2 315 Assista AgoraO que vemos em Hiroshima?
"Pode-se zombar… mas o que mais pode fazer um turista… senão chorar?"
"Assim como essa ilusão existe no amor… a ilusão de poder nunca esquecer… eu tive, diante de Hiroshima… a ilusão de jamais esquecer, como no amor."
Vemos em Hiroshima Mon Amour um filme marcante em muitas dimensões.
Marcante porque aborda a memória coletiva de Hiroshima, em Hiroshima. Marcante poque liga profundamente essa experiência coletiva à memória individual de seus protagonistas, mostrando e ressignificando suas identidades. E marcante para o próprio cinema, na forma de retratar a história pela arte: Hiroshima Mon Amour é, ele próprio, origem e matéria de nossa memória expandida sobre a condição humana dos anos 1940-1950. "Por que negar a evidente necessidade da memória?"
É uma versão de A Memória, a História, o Esquecimento em forma de filme.
Mad Men (7ª Temporada)
4.6 387 Assista AgoraUm afiado ode aos anos 60…um épico Era uma vez em…Nova York!
7 temporadas douradas sobre mudança, recomeço, solidão, autoconhecimento e reconhecimento social.
Sobre coragem, cautela, aprendizado.
Sobre o trabalho se tornar um lugar de fuga, um refúgio que o ser humano pode montar para se distanciar de si mesmo, de sua essência, de sua família, de sua realidade.
Sobre a percepção de que existe mais, muito mais do que este trabalho.
E Peggy e Don descobrem isso a duras penas. Pois quando o trabalho não corresponde mais às expectativas da vida, quando não preenche os pesados vazios da existência, a crise e a dor vêm.
No caso específico de Don, a cena com o homem que fala da metáfora da geladeira é, talvez, a catarse da superação do vazio e da bagunça do anti-herói. Don Draper talvez tenha visto Dick Whitman naquele pobre homem que revelou sua aparente insignificância perante o mundo. Talvez tenha visto nele uma antítese de Don, afinal o que mais Don teve em 10 anos foi a atenção do mundo. E talvez Don tenha visto no pobre homem o próprio Don, na parte sobre não se conseguir conectar com as outras pessoas e não conseguir entender o amor.
Talvez, uma superação que ocorre no momento em que Don entra em contato real com os outros: o abraço e a cena final simbolizam isso, o sentimento de empatia, praticamente ausente desde que Dick havia virado Don.
Dick que vira Don. É inevitável não lembrar outra metamorfose na TV: a de Walter White em Heisenberg. Até pelo próprio caminho final que os protagonistas percorrem. Walter White sai do Oeste e foge pro Leste e, numa epifania, volta para o Oeste. Don segue a mesma direção, mas em sentido contrário. Sai do Leste, tenta refúgio no Oeste, e, em outra epifania, retorna ao Leste. Talvez haja mais coisas entre Dick Whitman e Walter White do que possamos ver num primeiro momento. Talvez Walt Whitman seja a união dos dois? Não lembramos "When I Heard the Learn'd Astronomer" - poema declamado em Br Ba:
“Quando, sentado, ouvia o astrônomo muito aplaudido, na sala de conferências,
Senti-me logo inexplicavelmente cansado e enfermo,
Até que me levantei e saí, parecendo sem rumo
No ar úmido e místico da noite, e repetidas vezes
Olhei em perfeito silêncio para as estrelas.”
- quando Don, no episódio 12, cansado de ouvir as análises entediantes do diretor da McCann, olha para o céu e resolve partir para a sua jornada de queda e recomeço no Oeste?
São Paulo Sociedade Anônima
4.2 172São Paulo, SA é um dos filmes definitivos do Brasil. É fonte e objeto da história. Representa a ascensão técnica de uma sociedade do cansaço que, não obstante, parecia -- e parece -- imparável. Ascensão acompanhada de uma crescente angústia humana, uma crise de identidade advinda do próprio cerne dessa engrenagem urbana.
É um daqueles filmes que apresentam uma dupla dimensão interligada: uma dimensão íntima e uma dimensão histórica. A experiência coletiva da expansão socioeconômica e da rapidez das relações impõe-se sobre as individualidades que alimentam a máquina social. O concreto de São Paulo sustenta-se sobre fantasmas ambulantes, em crises de identidade nesse fluxo de constantes mudanças. Nesse cenário, o colapso mental e social do indivíduo de classe média, do pequeno burguês, não é uma anomalia social, mas sim uma consequência esperada e previsível.
Entre seus pares da época, São Paulo, SA nada tem a dever. É de uma qualidade da mesma grandeza dos clássicos das escolas francesas (Cléo de 5 à 7 e Trinta Anos Esta Noite, por exemplo) ou italianas (8½, A Doce Vida), com a vantagem de ter uma abordagem inevitável do nosso universo latino-americano.
Por fim, a dificuldade que Carlos tem em estabelecer um sentido claro no caminho de sua vida lembra Don Drapper de Mad Men, o clássico contemporâneo ambientado nos anos 1960.
E é curioso como ambos buscam sumir da metrópole, mas acabam inevitavelmente a ela retornando.
Seu Nome
4.5 1,4K Assista AgoraAh, Akai Ito, e a memória que nunca se apaga por completo dentro de você: luz que ilumina o coração e faz brilhar a mente.
Animação terna, belíssima, profunda. Um verdadeiro presente. Quem assiste, jamais se esquece de Mitsuha e Taki...
Impossível para mim não relacionar Mitsuha com Sophie (a heroína de Hayao Miyazaki), que também se encontra com uma versão mais jovem do seu amor. Quando Mitsuha entrega o fio vermelho a Taki, sinto uma versão ainda mais poética do "me encontre no futuro" de Sophie para Howl. E a ida de Taki a Itomori para encontrar Mitsuha é algo ainda mais encantador que aquele encontro de Howl com Sophie. De "eu estava procurando você por toda parte" para "Onde você estiver nesse mundo, voltarei a encontrá-la, aconteça o que acontecer" e "Alguém importante. Alguém que eu não quero esquecer, não devo esquecer".
É a animação japonesa em sua mais alta qualidade.
Vidas ao Vento
4.1 603 Assista Agora"Escute, jovem: animações não são um meio de ganhar dinheiro. Animações são lindos sonhos. Hayao Miyazaki dá forma aos sonhos."
Nesses 70 anos de Pearl Harbor, escolhi ver Vidas ao Vento. Apesar das contradições inevitáveis que envolvem o protagonista, jamais duvidei que a mensagem antibélica do Diretor estaria presente.
Os 10 anos de pura inspiração de Jiro proporcionaram a ele o ápice de seu talento. Mas a que custo? Ao custo da fome e da guerra. Ao custo da perda de momentos com a sua mais querida Naoko.
"Sim, estava em farrapos no final."
Esse é o sentimento de Jiro. Esse foi o meu sentimento ao final.
As lições que Hayao Miyazaki nos passa são intermináveis. "Eu gostaria de fazer um filme para dizer às crianças que é bom estar vivo", disse uma vez. Ele faz isso A CADA FILME, pra crianças e adultos: "O vento se ergue, devemos tentar viver."
"Você precisa viver", seja você a Princesa Kaguya ou o Jiro, antes que sua vida se vá pelos ventos...
como foram as vidas de Kaguya ou Naoko....
A Vida é Bela
4.5 2,7K Assista AgoraO mundo tem tantas cores e brilhos aos olhos de Guido...essa história é a prova de que, sim, a imaginação salva vidas.
Educação
3.8 1,2K Assista Agora"Eu me lembrava de que o mundo real era vasto, e que uma quantidade enorme de esperanças e medos, de sensações e emoções, estavam à espera daqueles que ousassem sair por ele afora, buscando, em meio a seus perigos, o verdadeiro conhecimento do que é a vida." -- Charlotte Brontë/Jane Eyre
E Jenny sente-se assim...
Porém, “até na torrente, na tempestade e eu diria mesmo no torvelinho da paixão, convém forjar e exprimir uma sobriedade que traga equilíbrio.” -- Shakespeare/Hamlet
Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças
4.3 4,7K Assista Agora“Uma vez escutei a seguinte frase: A felicidade é ter saúde e má memória. Eu gostaria de tê-la inventado, porque ela tem toda a razão” - Audrey Hepburn.
Será? A memória pode enfraquecer, podemos esquecer as coisas... mas o brilho dos momentos não se apaga. E esse brilho ajuda a nos formar como pessoas e ilumina os caminhos que tomamos na vida, conscientemente ou não.
Mad Men (5ª Temporada)
4.6 206 Assista AgoraCusta acreditar como uma série pode retratar tão bem assim o cotidiano de trabalho, as dificuldades e os desafios das pessoas
Na temporada anterior, falei como havia sido interessante vermos finalmente um maior contato da Peggy com Don...
E o que acontece nessa temporada?! A ruptura entre eles!... (algo que podíamos esperar, pelo constante comportamento negligente do Don para com sua brilhante redatora). E, do jeito como foi construído, isso não só ficou verossímil como também bastante instigante, como o são todos os clímax de Mad Men. Aquela cena final do ep. 11 dialoga muito bem com o ep. 13 da 3a temporada, quando Don insiste que Peggy vá trabalhar com ele na nova agência. A atuação de Jon Hamm é fantástica: sentimos a sensação de derrota quando Don percebe que a saída de Peggy é irreversível.
E, tal qual Don faria, Peggy recomeçou....
You Only Live Twice, afinal....
(a cena final da temporada podia ser muito bem um clip da canção da Nancy Sinatra)
A Doce Vida
4.2 316 Assista AgoraMarcello e seu ouro de tolo
Marcello, submerso na futilidade de seu cotidiano, não consegue definir um sentido para sua vida. Ele é alimentado por um ciclo de práticas vazias da alta sociedade, e ele mesmo, enquanto jornalista, retroalimenta esse meio com notícias tolas, mostrando o dia a dia da elite. Elite apresentada como é: orgulhosa, preconceituosa, afetada, que pensa que seus problemas mesquinhos são relevantes para o mundo, que acredita que suas opiniões contribuem para o nosso belo quadro social. E tudo isso com um fino toque irônico e satírico.
Filme tedioso? Não acho, pois conseguir bem retratar o TÉDIO da vida é de uma sutileza incrível. Nossa “doce” vida realmente pode ser assim. É a arte imitando a vida e a vida imitando a arte, afinal. Para mim, esse é o grande mérito do filme. Mostrar uma sucessão de eventos de alguém que se deixa levar pela existência, talvez como preenchimento de seu vazio.
Quando eu estiver num meio escabroso, tolo, fútil, rodeado de pessoas que louvam a mediocridade, com certeza lembrarei desse filme. Espero não estar, mas às vezes não sabemos aonde nossa doce vida nos leva. Frequentar tais meios é estar sem consciência.
Stalker
4.3 503 Assista AgoraPela Sala obterás a glória do mundo.
E se afastarão de ti todas as trevas.
Nisso consiste o poder poderoso de todo poder: Vencerás todas as coisas sutis e penetrarás em tudo o que é sólido.
Com Stalker, Tarkovsky aperfeiçoa uma hermenêutica de mim mesmo e do mundo. Sim, do mundo. “To stalk” = marchar titubeando, andar característico de quem invade um território desconhecido. A vastidão desse mundo e das pessoas é um território desconhecido, para cuja interpretação também avanço aos passos cautelosos.
A ligação (ou dependência) de Stalker com a Zona não é a mesma da de Thoreau com os bosques - nos quais ele fora para viver livre como quisesse e sugar todo o tutano da vida. Em Tarkovsky, essa relação é diferente. Não é possível permanecer na Zona, assim como não é possível tomar posse da verdade. Assim como não é possível ser livre para querer o que se quer. O roteiro de Stalker reflete sutilmente um escárnio para com um mundo cínico e em crise.
A cada pingo d’água, vem-me uma sensação introspectiva da banalidade e de nossa pequenez num mundo entristecido e abandonado, para muito além dos limites da Zona. Um mundo complexo, para cuja exploração não é prudente que o Escritor ou o Professor vá direito, nem é recomendável voltar pelo mesmo caminho, pois a realidade está mudada, diferente do passado. Daí a necessária flexibilidade: “A dureza e a força são atributos da morte; a flexibilidade e a fraqueza são a frescura do ser”. A Zona parece entoar, tal qual a antiga Esfinge: “decifra-me ou te devoro”. Mas, no mundo de Stalker, há recomeço para os que saem da Zona?
Em Pulp Fiction, há uma passagem marcante: “É assim que sabe que encontrou alguém especial. Quando pode calar a boca um minuto e sentir-se à vontade em silêncio.” Após Solaris e Stalker e seus silêncios, acredito ter encontrado um diretor especial...
Dark (3ª Temporada)
4.3 1,3KEu não podia pedir algo melhor pra uma série do gênero.
A metáfora de Adão e Eva originando a dor e o desejo que existem no mundo (ou nos mundos) foi a cereja do bolo. Como o mundo foi criado!
“O homem é uma criatura estranha. Todas as suas ações são motivadas pelo desejo, seu caráter é forjado pela dor. A dor é seu navio, o desejo é a sua bússola”. Ora, o ser humano é livre para fazer o que quer, mas não para querer o que quer!
Por isso o Paraíso na verdade é a escuridão eterna, daí temos o niilismo de Adam contra a luz (“Que haja luz”), contra a origem do sofrimento daqueles 2 mundos presos em um nó: sem desejo, sem dor.
Daí o “Brain Damage” (“you look the door, there is someone in my head, but it’s not me”... que cena aquela da porta e do porão) e o “Eclipse” (“matter of fact, it’s all dark”) que a série nos passa. Daí o título da série: Dark! A história se fecha.
Vou sentir saudades de “um mundo sem Winden”….
Dark (3ª Temporada)
4.3 1,3KSe nos filmes a gente fala de 2001, Solaris e Matrix como clássicos, nas séries coloco Dark nessa categoria.
Falaram “falta conteúdo. Sinto que Dark não me passou quase nada”, “série caótica, confusa pra c*, extensa por demais e com encheções de linguiça” etc etc...
Mas se mesmo Kubrick e Tarkovsky apanham dos sábios cinéfilos do Filmow, Dark sofrer essas críticas já era esperado.
O conteúdo da série: altas reflexões sobre física, filosofia, religião, fatalismo, destino, autodeterminação, bem e mal, e é claro, tempo: o deus universal do nosso cosmos. Logo, não é uma série fácil, você não pode ter preguiça pra assistir, se não vai falar que há “encheção de linguiça”.
Maravilhoso o tom abstrato da série, próprio das tradições alemãs ❤. Pontos principais muito bem enredados e encaixados. Incrível como as 3 temporadas precisam ser vistas como um bloco só e como elas se complementam.
La La Land: Cantando Estações
4.1 3,6K Assista AgoraTeatro dos sonhos. Idealismo em notas musicais. Estética deslumbrante. Tudo o que podia ser, e não foi. Tudo o que não teria sido, mas que foi. Linda homenagem aos clássicos musicais. Refinado e profundo.
Minha sensação depois dessas duas horas? Deixo pro Milton falar:
"Lembrar de coisas que ninguém viu
O mundo lá sempre a rodar
Em cima dele tudo vale
Quem sabe isso quer dizer amor,
estrada de fazer o sonho acontecer"
A Mulher Faz o Homem
4.3 172 Assista AgoraJames Stewart e Capra em outra grande parceria!
O que faz de um filme um clássico? Dentre tantos fatores, conseguir ser atual mesmo depois de décadas.... cooptação do interesse público pelo privado, fake news, destruição da imagem de adversários, influência e distorção da mídia, empresários Odebrechts, Véios da Havan......são tudo coisas que existem no cenário político dos dias de hoje.
Típica da assinatura de Capra: heróis com grande resiliência moral e idealistas. Cenas com falas marcantes. Ainda que o final possa ser por demais otimista, entender que “Não há país que faça com que essas regras [Constituição] funcionem sem homens que tenham aprendido o que são os direitos humanos” me parece algo que não pode ser esquecido, sobretudo nos difíceis dias de hoje. Que tenham aprendido E que respeitem os direitos humanos.
Adorei as referências a Dom Quixote, lembra bastante mesmo!
Mad Men (4ª Temporada)
4.6 173 Assista AgoraNessa temporada, vemos finalmente um maior contato profissional e pessoal da Peggy redatora com o Don. Essa dupla é ótima.
Um dos pontos altos da temporada com certeza foi o episódio do aniversário da Peggy, a briga dela com o Don e a dor que ele sofre com a morte de Anna Draper, a única pessoa que realmente o conhecia.
Depois disso, Don tenta organizar mais sua vida e seus objetivos, e escrever o diário foi uma ótima oportunidade para ele melhor conhecer a si mesmo. E nós também acabamos entendendo melhor esse homem ambíguo das 3 temporadas anteriores.
O relacionamento de Don com Megan não foi muito desenvolvido, mas às vezes as coisas realmente são súbitas. Cabe ao público entender as sutilezas, como quase tudo em Mad Men.
E Faye Miller é incrível!!
Ah, a Betty, ainda não desisti dela. Temos mais 3 temporadas pra ela deixar de ser fútil e arrogante, e evoluir um pouco.
Cisne Negro
4.2 7,9K Assista AgoraO trabalho da vida de uma das mais talentosas de sua geração
A prisão de um turbilhão que precisa se soltar. Mas que não sai. A inércia, o ser acorrentado pela mãe invasiva. Introspecção, paralisia, técnica. O introvertido, o contido, o cauteloso, o previsível, o bondoso, o analítico. Medo, o melancólico hamletiano. O extremo do cisne branco, em lentes apáticas.
O outro extremo, cisne negro. Espontâneo, expansivo, sentimental, perceptivo, assertivo, atrevido. Dança no calor do sensitivo, baila muito bem pela fortuna. O reativo, o sanguíneo, o bravo quixotesco.
Todos somos cisnes. Qual seja nossa cor, olhamos para a outra cor, nos estranhamos com ela. O objetivo? Controlar a explosão. Dar tempero ao mecânico. A lição? O equilíbrio entre opostos.
E Natalie Portman? Perfeita.
Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa
3.4 1,4KPra quem conheceu Montoya e Arlequina na série animada do Batman e pra quem conheceu Caçadora e Canário nos desenhos da Liga esse filme é a realização de um desejo de infância, numa época em que não imaginava que a DC teria a coragem e a disposição de fazer um filme tendo essas supermulheres como protagonistas sem os heróis masculinos clássicos na trama.
Então esse filme veio, mostrando todas as potencialidades de todas essas personagens fascinantes, que já nos desenhos e HQs nos encantam. Um filme até que simples, sem muitas pretensões (a escolha de roteiro não é nada muito novo, pois acaba unindo ao final as personagens para que solucionem um problema em comum) mas que acerta a que se propõe. Encaixa muito bem o espírito de Canário, a sede de justiça de Montoya, a trágica história da Caçadora e como isso impacta em sua personalidade e, é claro, a Arlequina, a mais fascinante anti-heroína dos quadrinhos, na sua busca emancipatória extremamente colorida, inspiradora (sim!) e que enche os olhos. Tudo isso contado pelos olhos não lineares de Harley, o que dá um toque especial.
Obrigado a todas, e sobretudo a Margot Robbie, que parece ter nascido pra personagem, e por ter se esforçado tanto em toda a produção (inclusive na produção executiva da excelente trilha sonora). Um dos melhores filmes da DC (e bem melhores que alguns enlatados do MCU). Flop na bilheteria? Às vezes estar à frente de seu tempo tem seus custos.
Anne com um E (3ª Temporada)
4.6 571 Assista AgoraQuem é Anne com um "E"?
Um coração forte e valente. Um espírito amigo. Anne é o afago na nossa alma. Um carinho quente e afetuoso direto no coração. Expressão do idealismo e do otimismo em sua forma mais poética. Aurora do sensível. Turbilhão da emoção pura, espontânea, em vibrante e constante transformação. Sonhadora que nos traz sempre uma magia emocionante.
Ela nos faz crianças novamente, voltamos a ter os medos e ânsias da juventude. Todos que amam Anne já estiveram em seu lugar, seja quando crianças, seja quando adultos. Cada momento feliz, uma esquentada no nosso coração. Para cada aflição, um aperto,
Da menina que ficava sozinha por ser tão expressiva, da menina que sofria censura e humilhação, para a brilhante mulher amada por tantas pessoas, confirmando Jane Eyre: "Se todo o mundo odiasse você e a considerasse perversa, mas se sua consciência a aprovasse e a absolvesse da culpa, você não estaria sem amigos..."
Todo episódio é um abraço. Todo choro seu é o nosso, toda alegria sua é nossa. Suas imaginações enfeitiçam qualquer um, qualquer uma. "Anne" tem só 4 letras, assim como "amor": afinal, você nem sempre precisa expressar grandes ideias com grandes palavras...
Anne com um E (1ª Temporada)
4.6 759 Assista AgoraNo fim (e em todos os episódios) estamos encharcados pela genialidade, a veemência, a indignação de Anne Shirley-Cuthbert
Anne com um E (2ª Temporada)
4.6 443 Assista AgoraAnne tem os sentimentos à flor da pele. Não sou nada perto dela. Fui criado para reprimir tudo. Mas ela possui uma gama extraordinária de emoções. A vida tem tantas cores quando vista por meio de seus olhos. Colorirá meu mundo para sempre. ;)
"Não é o que o mundo tem para você, mas o que você traz ao mundo."
Parasita
4.5 3,6K Assista Agora"É tão metafórico"... A referência cômica que é feita à Coreia do Norte numa cena do filme faz a gente pensar: embora a Coreia do Sul tenha proporcionado mais liberdade, bem-estar e democracia à sua população do que seus irmãos do Norte, o país possui ainda muitas injustiças gritantes.
É impossível não entender, em menor ou maior grau, as motivações das famílias "parasitas" (incluindo aí a governanta e seu esposo). O sistema, imperfeito como é, por vezes acaba não apenas ignorando a dignidade dessas pessoas, como também pressiona demais pra que elas obedeçam ao que o capitalismo lhes impõe - mas sem lhes oferecer as oportunidades de vida suficientes para tanto -, deixando os mais desfavorecidos em situações desesperadoras.
A cena em que Kim Ki-woo olha para as famílias ricas no jardim, estas deliciando o momento e ignorando todo o sofrimento de inúmeras outras famílias em situações precárias de vida, retrata magistralmente como a desigualdade, seja grande ou pequena, muitas vezes não é sentida pelo topo privilegiado da sociedade.