Em seu terceiro longa-metragem, o polonês Greg Zglinski tem inegável domínio de direção e, com o auxílio de seu corroteirista Jörg Kalt, acrescenta toques de humor bem-vindos ao texto. Há inclusive algumas rimas visuais muito boas, como a promessa de Anna em parar de fumar seguida da solada que dá no cigarro consumido minutos depois. Porém, por bolar algo tão dependente de uma resolução, “Animais” desaponta ao final, dando espaço a uma confusão oriunda de uma mente criativa e assim limitando as possibilidades de linhas de interpretação.
Fica evidente a escolha de Fatih Akin em carregar com tintas dramáticas a narrativa de "Em Pedaços" pelo modo como enfatiza a divisão em três atos de sua história com os capítulos "A Família", "Justiça" e "O Mar". Porém, soam injustas as críticas que recebeu desde a primeira exibição de seu filme, que trataram de equivocadamente afirmar essa organização do texto como um recurso de manipular o público à moda de um thriller americano típico.
Isso não procede porque Akin gerencia com franqueza os estágios do luto atravessado por Katja, em um misto de descrença e determinação, de desmotivação ao seguir com a vida quando nada parece se elucidar e de controle emocional quando a justiça se impõe, independente do modo como se efetiva. E só engrandece o seu filme o fato de confiá-lo inteiramente à Diane Kruger, vencedora incontestável do prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes 2017.
Ursula Meier já havia extraído grandes desempenhos de Isabelle Huppert em "Home" e de Léa Seydoux em "Minha Irmã". Desta vez, é a vez de Fanny Ardant brilhar, vista aqui um pouco longe do perfil glamouroso em que estamos habituados a prestigiar em seus trabalhos mais recentes. A sua Esther é os olhos do público, assumindo posturas coerentes dentro da encruzilhada em que é inserida a contragosto.
A grande virtude do texto segue intacta no filme. Trata-se da redescoberta de uma sexualidade perdida, abafada, que volta a aflorar e a trazer consequências específicas para uma mulher acima dos 40 anos com a família estabelecida. Afinal, como se reapresentar para a mãe, o marido e a filha Priscila (Bruna Carvalho) e ainda ser recepcionada por uma sociedade avessa aos relacionamentos homoafetivos?
Porém, excetuando esse aspecto preservado na adaptação da roteirista Jaqueline Vargas e das interpretações corretas das protagonistas, o realizador Jeremias Moreira Filho não justifica a existência de “Querida Mamãe” como cinema. Responsável tanto pela versão original quanto pelo remake de “O Menino da Porteira”, o veterano mais parece fazer um telefilme global, evidente pelo modo como preenche o plano ou mesmo pelo uso desesperado da trilha sonora de Marcos Levy, que se manifesta a cada cena sem qualquer sutileza como recurso para camuflar cenas dramáticas mal dirigidas.
São muitos Paulos para dar conta em um documentário e a dupla Gustavo Ribeiro (um craque da montagem) e Rodrigo de Oliveira (editor da Revista Cinética e grande estudioso do cinema) busca pela decisão que parece mais coerente em enaltecê-los: o de construir um documentário que resinificara trechos de um sem número de trabalhos como se todos fizessem parte de uma única vida. Quase como fez Eryk Rocha em "Cinema Novo" há dois anos.
O resultado soa mais como um exercício de experimentalismo digno de um novato, como se testasse as possibilidades do suporte que tem em mãos ao passo em que negligencia os fatores humanos de sua obra. Afinal, Manivel parece muito mais deslumbrado com o domínio na encenação para prolongar planos que mais se comportam como períodos isolados do que em extrair de seu elenco uma naturalidade que o distancie da impressão de ser um trio de fantoches com passos ditados por um roteiro que soa apenas como um mero detalhe para o projeto.
“A Noiva do Deserto” lembra demais o brasileiro “Pela Janela“, em que Magali Biff também se via sem chão ao perder o emprego com uma idade já avançada. E bem como a cineasta Caroline Leone, a dupla Cecilia Atán e Valeria Pivato tenta buscar na singeleza um peso dramático que inexiste. Resta assim apreciar por menos de 80 minutos a inestimável presença de Paulina García, que faz milagre com uma narrativa nada cinematográfica.
Está cada vez mais comum em nossa cinematografia a atração por enveredar por tal opção, tanto para conceber híbridos entre ficção e documentário quanto para buscar por uma verdade pretendida por um elenco não contaminado por técnicas de interpretação. Aqui, Gilmar, Igor e Mila arruínam “A Cidade do Futuro”, com desempenhos engessados que não mostram qualquer entrosamento com a câmera, com quem contracenam, com os espaços que circulam e, principalmente, com os corpos que tocam.
Com um pé no humor, Ignez ainda conduz uma trama simples que respira liberdade principalmente por seu encanto pelos pontos mais periféricos de São Paulo, livrando “A Moça do Calendário” da claustrofobia dos cenários e locações que costuma artificializar a nossa cinematografia. A isso, também se integra a bela fotografia de Tiago Pastoreli e a uma possibilidade de encontrar alguma perspectiva positiva mesmo diante dos fracassos em que Inácio tropeçará inúmeras vezes.
Até a sua primeira metade, “Praça Paris” é um drama impecável especialmente por centrar as suas atenções em Glória e, consequentemente, em como o sistema carcerário afeta a sua vida, indo desde as revistas constrangedoras até na brutalidade policial em arrancar dela informações sobre os crimes cometidos a mando de Jonas. Além do mais, Grace Passô é a expressividade em pessoa, com um olhar ora retraído, ora traiçoeiro que fascina.
Porém, o peso da mão de Lúcia Murat se faz sentir, como bem já havia acontecido algumas de suas últimas ficções, como “A Memória Que Me Contam”. Da cumplicidade, a relação entre Glória e Camila passa a ser determinada pela desconfiança. Um ponto de virada do roteiro arriscado, resultando em momentos involuntários de humor e em uma conclusão preguiçosa para uma história a princípio tão bem contada.
Mesmo o choque a princípio interessante causado entre duas mulheres vindas de realidades diferentes (Liz tem uma vida mais confortável ao passo que Rosa parece se sustentar a partir de trambiques) é inverossímil e aborrecido, especialmente pela clareza que fornece de que as coisas não estão rumando para um destino minimamente curioso. Surpreende, portanto, que tenha sido laureado com o prêmio de roteiro no panorama mundial do Festival de Sundance em 2016.
Mesmo com a inestimável presença do próprio Rogério Duarte compartilhando uma série de histórias, a produção se perde neste mar atualmente intenso de registros nacionais a cobrir o tropicalismo. Há também uma desorganização narrativa, fruto de depoimentos filmados em momentos diferentes com evidente desequilíbrio na qualidade de captação sonora.
A melhor escolha de Ben Lewin, ancorado pelo roteiro de Michael Golamco, está em conferir um tom afável a uma história densa. Por um lado, “Tudo Que Quero” jamais se furta de mostrar a realidade de um autista, como a maneira particular que se socializa e organiza a sua rotina com um rigor incomum. Por outro, o curso da breve aventura que Wendy desbrava tem desdobramentos quase fantasiosos, inclusive com a música do brasileiro Heitor Pereira exercendo grande influência para efetivar essa intenção, que resulta em um filme agradável para todos os públicos.
A partir da chegada de dois judeus ortodoxos, "1945" começa a se aprofundar na dinâmica privada dos personagens que orbitam nesse ambiente, deflagrando mentiras, traições e perversidades até então invisíveis. A condução é quase a mesma de "A Fita Branca", da adoção da fotografia em preto e branco de Elemér Ragályi (vencedor do Emmy pelo telefilme da HBO "Rasputin") até de uma frieza que impossibilita um mínimo de envolvimento emocional.
A intenção de Primot com o gerenciamento desses núcleos é a de quebrar os chavões justamente com a estranheza que provoca com a criação de contextos absurdos para só depois aceitar as reconciliações e tragédias que costumamos aguardar em histórias românticas. Estabelece como conexão a ficção dentro da realidade ou vice-versa e o despreparo de seus indivíduos para relacionamentos representado com a ausência de sentidos – Amanda Mirásci tem problemas auditivos, Eucir de Souza não tem paladar, Débora Falabella também dá aulas de libras e por aí vai.
Não há como não se sensibilizar com a radiografia que fazem de indivíduos aparentemente invisíveis, cada um com uma grande história de vida para compartilhar. E é definitivo para esse efeito a opção por uma visão de mundo detalhista de Cristiano sobre a via-crúcis que atravessa, manifestada a partir de uma narração em off que assegura a esse personagem uma prosa poética.
O senão está na encenação com pegada quase documental e na estranheza da transição forçada para a sua narrativa ganhar um teor mais humanizado, possível somente com a adoção de Sean (o notável Nahuel Pérez Biscayart, de “Grand Central“) como a figura central do filme. Uma escolha tardia e que alonga “120 Batimentos por Minuto” mais do que o necessário, mas que ainda assim não o impossibilita de sensibilizar a plateia a partir do foco em uma comunidade que só recentemente passou a ganhar visibilidade.
Lucrecia Martel é dona de uma mise-en-scène extremamente particular, por vezes fazendo um registro quase documental no resgate de uma América do Sul pautada pela relação entre dominantes e dominados. Por vezes isso culmina em uma narrativa vacilante em sua consistência ou mesmo na composição de um protagonista de carisma nem sempre identificável. Ainda assim, não deixa de traçar comentários como a organização de um contexto histórico reverbera na contemporaneidade em que vive.
Com um time de respeito em sua equipe, como César Charlone como o fotógrafo dos registros brasileiros e Karen Harley como uma das montadoras, Marina busca por uma poesia que soa mais redundante do que bela, indo da captação de trapos em um varal até o desenvolvimento de um terceiro ato que contém um sem número de promessas de conclusão. O maior equívoco, entretanto, foi trazer o finado ator britânico Tim Pigott-Smith como a voz da narração em off para substituir os relatos mais informais de seu pai Alfred.
Trata-se de um registro duro não somente pela claustrofobia característica do ambiente teatral alternativo, mas pelo tom respeitoso em que acompanha uma artista que insiste em fazer o que acredita, mesmo que o seu corpo frágil não corresponda mais aos comandos emitidos por uma mente sem o vigor de outrora, ainda que extremamente lúcido. Algo que Maria autoriza captar sem sustentar filtros, como se cada dia guerrilhasse em um campo de batalha.
Mesmo com esse tom quase experimental, a sensação que “Era o Hotel Cambridge” provoca ao final é que os seus derradeiros minutos soam mais fortes do que todos os esforços de Caffé em igualar a realidade do contexto. Há bons flagras, como aqueles em que os refugiados conversam com os seus familiares distantes por Skype ou quando a personagem interpretada pela ativista Carmen Silva condiciona pessoas brandando “entra para a casa de vocês!” durante uma invasão noturna. Mas nada igualmente catártico quanto as imagens autênticas de manifestações e de prédios apropriados com faixas de inúmeros movimentos pela moradia.
No processo de reerguer uma propriedade devastada pela guerra civil, vai se sentindo como uma verdadeira estrangeira nas interações com todos que a cercam, com muitos expressando o desejo de expurgá-la imediatamente, recepcionando-a com a pichação de "go home!", expressão usada para afugentar imigrantes. Pena que esse sentimento de deslocamento não consiga expressar a maior preocupação de Chouaib: o de cutucar um coletivo empenhado em deletar permanentemente às barbáries de um passado recente.
O principal atrativo dos games, em algum grau transportado na encarnação de Angelina Jolie, era justamente a motivação de Lara Croft em desvendar um mistério, às vezes de teor sobrenatural, o que incrementava a história com enigmas e perigos divertidíssimos. Neste "A Origem", sequer há esse senso de aventura e curiosidade, programando somente para o ato final uma imersão em um cenário repleto de armadilhas que são elucidadas com uma capacidade de raciocínio inverossímil em que o espectador lamentavelmente não é convidado a participar.
Animais
3.3 3Em seu terceiro longa-metragem, o polonês Greg Zglinski tem inegável domínio de direção e, com o auxílio de seu corroteirista Jörg Kalt, acrescenta toques de humor bem-vindos ao texto. Há inclusive algumas rimas visuais muito boas, como a promessa de Anna em parar de fumar seguida da solada que dá no cigarro consumido minutos depois. Porém, por bolar algo tão dependente de uma resolução, “Animais” desaponta ao final, dando espaço a uma confusão oriunda de uma mente criativa e assim limitando as possibilidades de linhas de interpretação.
+ www.goo.gl/9Hnoi7
Em Pedaços
3.9 236 Assista AgoraFica evidente a escolha de Fatih Akin em carregar com tintas dramáticas a narrativa de "Em Pedaços" pelo modo como enfatiza a divisão em três atos de sua história com os capítulos "A Família", "Justiça" e "O Mar". Porém, soam injustas as críticas que recebeu desde a primeira exibição de seu filme, que trataram de equivocadamente afirmar essa organização do texto como um recurso de manipular o público à moda de um thriller americano típico.
Isso não procede porque Akin gerencia com franqueza os estágios do luto atravessado por Katja, em um misto de descrença e determinação, de desmotivação ao seguir com a vida quando nada parece se elucidar e de controle emocional quando a justiça se impõe, independente do modo como se efetiva. E só engrandece o seu filme o fato de confiá-lo inteiramente à Diane Kruger, vencedora incontestável do prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes 2017.
+ www.goo.gl/Jo9zsF
Shock Waves - Diary of My Mind
3.7 2Ursula Meier já havia extraído grandes desempenhos de Isabelle Huppert em "Home" e de Léa Seydoux em "Minha Irmã". Desta vez, é a vez de Fanny Ardant brilhar, vista aqui um pouco longe do perfil glamouroso em que estamos habituados a prestigiar em seus trabalhos mais recentes. A sua Esther é os olhos do público, assumindo posturas coerentes dentro da encruzilhada em que é inserida a contragosto.
+ www.goo.gl/t7DLY5
Querida Mamãe
2.8 43A grande virtude do texto segue intacta no filme. Trata-se da redescoberta de uma sexualidade perdida, abafada, que volta a aflorar e a trazer consequências específicas para uma mulher acima dos 40 anos com a família estabelecida. Afinal, como se reapresentar para a mãe, o marido e a filha Priscila (Bruna Carvalho) e ainda ser recepcionada por uma sociedade avessa aos relacionamentos homoafetivos?
Porém, excetuando esse aspecto preservado na adaptação da roteirista Jaqueline Vargas e das interpretações corretas das protagonistas, o realizador Jeremias Moreira Filho não justifica a existência de “Querida Mamãe” como cinema. Responsável tanto pela versão original quanto pelo remake de “O Menino da Porteira”, o veterano mais parece fazer um telefilme global, evidente pelo modo como preenche o plano ou mesmo pelo uso desesperado da trilha sonora de Marcos Levy, que se manifesta a cada cena sem qualquer sutileza como recurso para camuflar cenas dramáticas mal dirigidas.
+ www.goo.gl/6BYh3v
Todos os Paulos do Mundo
3.9 11São muitos Paulos para dar conta em um documentário e a dupla Gustavo Ribeiro (um craque da montagem) e Rodrigo de Oliveira (editor da Revista Cinética e grande estudioso do cinema) busca pela decisão que parece mais coerente em enaltecê-los: o de construir um documentário que resinificara trechos de um sem número de trabalhos como se todos fizessem parte de uma única vida. Quase como fez Eryk Rocha em "Cinema Novo" há dois anos.
+ www.goo.gl/LKbtWr
O Parque
2.7 7 Assista AgoraO resultado soa mais como um exercício de experimentalismo digno de um novato, como se testasse as possibilidades do suporte que tem em mãos ao passo em que negligencia os fatores humanos de sua obra. Afinal, Manivel parece muito mais deslumbrado com o domínio na encenação para prolongar planos que mais se comportam como períodos isolados do que em extrair de seu elenco uma naturalidade que o distancie da impressão de ser um trio de fantoches com passos ditados por um roteiro que soa apenas como um mero detalhe para o projeto.
+ www.goo.gl/jUedjo
A Noiva do Deserto
3.6 12 Assista Agora“A Noiva do Deserto” lembra demais o brasileiro “Pela Janela“, em que Magali Biff também se via sem chão ao perder o emprego com uma idade já avançada. E bem como a cineasta Caroline Leone, a dupla Cecilia Atán e Valeria Pivato tenta buscar na singeleza um peso dramático que inexiste. Resta assim apreciar por menos de 80 minutos a inestimável presença de Paulina García, que faz milagre com uma narrativa nada cinematográfica.
+ www.goo.gl/jNBofo
A Cidade do Futuro
3.0 54Está cada vez mais comum em nossa cinematografia a atração por enveredar por tal opção, tanto para conceber híbridos entre ficção e documentário quanto para buscar por uma verdade pretendida por um elenco não contaminado por técnicas de interpretação. Aqui, Gilmar, Igor e Mila arruínam “A Cidade do Futuro”, com desempenhos engessados que não mostram qualquer entrosamento com a câmera, com quem contracenam, com os espaços que circulam e, principalmente, com os corpos que tocam.
+ www.goo.gl/xPo2xt
A Moça do Calendário
2.8 23Com um pé no humor, Ignez ainda conduz uma trama simples que respira liberdade principalmente por seu encanto pelos pontos mais periféricos de São Paulo, livrando “A Moça do Calendário” da claustrofobia dos cenários e locações que costuma artificializar a nossa cinematografia. A isso, também se integra a bela fotografia de Tiago Pastoreli e a uma possibilidade de encontrar alguma perspectiva positiva mesmo diante dos fracassos em que Inácio tropeçará inúmeras vezes.
+ www.goo.gl/ZYpPkC
Praça Paris
3.7 67 Assista AgoraAté a sua primeira metade, “Praça Paris” é um drama impecável especialmente por centrar as suas atenções em Glória e, consequentemente, em como o sistema carcerário afeta a sua vida, indo desde as revistas constrangedoras até na brutalidade policial em arrancar dela informações sobre os crimes cometidos a mando de Jonas. Além do mais, Grace Passô é a expressividade em pessoa, com um olhar ora retraído, ora traiçoeiro que fascina.
Porém, o peso da mão de Lúcia Murat se faz sentir, como bem já havia acontecido algumas de suas últimas ficções, como “A Memória Que Me Contam”. Da cumplicidade, a relação entre Glória e Camila passa a ser determinada pela desconfiança. Um ponto de virada do roteiro arriscado, resultando em momentos involuntários de humor e em uma conclusão preguiçosa para uma história a princípio tão bem contada.
+ www.goo.gl/E5Buv5
Minha Amiga do Parque
3.2 9Mesmo o choque a princípio interessante causado entre duas mulheres vindas de realidades diferentes (Liz tem uma vida mais confortável ao passo que Rosa parece se sustentar a partir de trambiques) é inverossímil e aborrecido, especialmente pela clareza que fornece de que as coisas não estão rumando para um destino minimamente curioso. Surpreende, portanto, que tenha sido laureado com o prêmio de roteiro no panorama mundial do Festival de Sundance em 2016.
+ www.goo.gl/5bsLtm
Rogério Duarte, o Tropikaoslista
3.7 7Mesmo com a inestimável presença do próprio Rogério Duarte compartilhando uma série de histórias, a produção se perde neste mar atualmente intenso de registros nacionais a cobrir o tropicalismo. Há também uma desorganização narrativa, fruto de depoimentos filmados em momentos diferentes com evidente desequilíbrio na qualidade de captação sonora.
+ www.goo.gl/eTgWg5
Tudo Que Quero
3.6 88 Assista AgoraA melhor escolha de Ben Lewin, ancorado pelo roteiro de Michael Golamco, está em conferir um tom afável a uma história densa. Por um lado, “Tudo Que Quero” jamais se furta de mostrar a realidade de um autista, como a maneira particular que se socializa e organiza a sua rotina com um rigor incomum. Por outro, o curso da breve aventura que Wendy desbrava tem desdobramentos quase fantasiosos, inclusive com a música do brasileiro Heitor Pereira exercendo grande influência para efetivar essa intenção, que resulta em um filme agradável para todos os públicos.
+ www.goo.gl/gCZfft
1945
3.6 28 Assista AgoraA partir da chegada de dois judeus ortodoxos, "1945" começa a se aprofundar na dinâmica privada dos personagens que orbitam nesse ambiente, deflagrando mentiras, traições e perversidades até então invisíveis. A condução é quase a mesma de "A Fita Branca", da adoção da fotografia em preto e branco de Elemér Ragályi (vencedor do Emmy pelo telefilme da HBO "Rasputin") até de uma frieza que impossibilita um mínimo de envolvimento emocional.
+ www.goo.gl/MPAxQ3
Todo Clichê do Amor
2.7 17A intenção de Primot com o gerenciamento desses núcleos é a de quebrar os chavões justamente com a estranheza que provoca com a criação de contextos absurdos para só depois aceitar as reconciliações e tragédias que costumamos aguardar em histórias românticas. Estabelece como conexão a ficção dentro da realidade ou vice-versa e o despreparo de seus indivíduos para relacionamentos representado com a ausência de sentidos – Amanda Mirásci tem problemas auditivos, Eucir de Souza não tem paladar, Débora Falabella também dá aulas de libras e por aí vai.
+ www.goo.gl/Gf5xUd
Arábia
4.2 168 Assista AgoraNão há como não se sensibilizar com a radiografia que fazem de indivíduos aparentemente invisíveis, cada um com uma grande história de vida para compartilhar. E é definitivo para esse efeito a opção por uma visão de mundo detalhista de Cristiano sobre a via-crúcis que atravessa, manifestada a partir de uma narração em off que assegura a esse personagem uma prosa poética.
+ www.goo.gl/n7Nhk1
120 Batimentos por Minuto
4.0 190 Assista AgoraO senão está na encenação com pegada quase documental e na estranheza da transição forçada para a sua narrativa ganhar um teor mais humanizado, possível somente com a adoção de Sean (o notável Nahuel Pérez Biscayart, de “Grand Central“) como a figura central do filme. Uma escolha tardia e que alonga “120 Batimentos por Minuto” mais do que o necessário, mas que ainda assim não o impossibilita de sensibilizar a plateia a partir do foco em uma comunidade que só recentemente passou a ganhar visibilidade.
+ www.goo.gl/oJaEP2
Zama
3.4 51Lucrecia Martel é dona de uma mise-en-scène extremamente particular, por vezes fazendo um registro quase documental no resgate de uma América do Sul pautada pela relação entre dominantes e dominados. Por vezes isso culmina em uma narrativa vacilante em sua consistência ou mesmo na composição de um protagonista de carisma nem sempre identificável. Ainda assim, não deixa de traçar comentários como a organização de um contexto histórico reverbera na contemporaneidade em que vive.
+ www.goo.gl/GAzRbw
Árvores Vermelhas
3.4 5Com um time de respeito em sua equipe, como César Charlone como o fotógrafo dos registros brasileiros e Karen Harley como uma das montadoras, Marina busca por uma poesia que soa mais redundante do que bela, indo da captação de trapos em um varal até o desenvolvimento de um terceiro ato que contém um sem número de promessas de conclusão. O maior equívoco, entretanto, foi trazer o finado ator britânico Tim Pigott-Smith como a voz da narração em off para substituir os relatos mais informais de seu pai Alfred.
+ www.goo.gl/SJo8nM
Górgona
3.2 4Trata-se de um registro duro não somente pela claustrofobia característica do ambiente teatral alternativo, mas pelo tom respeitoso em que acompanha uma artista que insiste em fazer o que acredita, mesmo que o seu corpo frágil não corresponda mais aos comandos emitidos por uma mente sem o vigor de outrora, ainda que extremamente lúcido. Algo que Maria autoriza captar sem sustentar filtros, como se cada dia guerrilhasse em um campo de batalha.
+ www.goo.gl/XhRB4L
A Maldição da Casa Winchester
2.6 460 Assista AgoraMeu comentário em vídeo sobre o filme em www.youtu.be/M1Bv4RVEugU
Era o Hotel Cambridge
4.2 99Mesmo com esse tom quase experimental, a sensação que “Era o Hotel Cambridge” provoca ao final é que os seus derradeiros minutos soam mais fortes do que todos os esforços de Caffé em igualar a realidade do contexto. Há bons flagras, como aqueles em que os refugiados conversam com os seus familiares distantes por Skype ou quando a personagem interpretada pela ativista Carmen Silva condiciona pessoas brandando “entra para a casa de vocês!” durante uma invasão noturna. Mas nada igualmente catártico quanto as imagens autênticas de manifestações e de prédios apropriados com faixas de inúmeros movimentos pela moradia.
+ www.goo.gl/cDtaEa
De Volta
3.4 3 Assista AgoraNo processo de reerguer uma propriedade devastada pela guerra civil, vai se sentindo como uma verdadeira estrangeira nas interações com todos que a cercam, com muitos expressando o desejo de expurgá-la imediatamente, recepcionando-a com a pichação de "go home!", expressão usada para afugentar imigrantes. Pena que esse sentimento de deslocamento não consiga expressar a maior preocupação de Chouaib: o de cutucar um coletivo empenhado em deletar permanentemente às barbáries de um passado recente.
+ www.goo.gl/MZWDdL
Tomb Raider: A Origem
3.2 943 Assista AgoraO principal atrativo dos games, em algum grau transportado na encarnação de Angelina Jolie, era justamente a motivação de Lara Croft em desvendar um mistério, às vezes de teor sobrenatural, o que incrementava a história com enigmas e perigos divertidíssimos. Neste "A Origem", sequer há esse senso de aventura e curiosidade, programando somente para o ato final uma imersão em um cenário repleto de armadilhas que são elucidadas com uma capacidade de raciocínio inverossímil em que o espectador lamentavelmente não é convidado a participar.
+ www.goo.gl/ipt7No