Acho que o comentário mais pertinente que poderia deixar é como os personagens Tião e Otávio representam não só duas linhas de pensamento mas duas gerações de brasileiro. Otávio não é só o grevista que viveu a ditadura, ele é todo o passado republicano brasileiro que vendo os absurdos dos governos e empresários davam suas vidas se necessário por um pouco de liberdade real no país. Tião é justamente o contrário, criado na ditadura mas rapidamente acostumado com a má vontade e egocentrismo das gerações da redemocratização o personagem não consegue ver a um palmo de seu nariz e usa a desculpa de "zelar pela família" como escudo pela sua falta de fibra moral. Pai e filho, gerações diferentes e "Brasis" diferentes.
Esperava um pouco mais do filme quando assisti, achei que o ritmo cortava muito do desenvolvimento da trama o que atrapalhava um pouco na imersão. Até que li uma crítica que me deu um outro ponto de vista, a impressão que dá é de ser um esforço do cinema nacional de conseguir pegar seu excelente trabalho com drama que a cada dia é mais premiado e trazer para o meio geral do público. Um roteiro mais simples e mais palatável faz do filme um trabalho que pode igualmente figurar em eventos de cinema e na casa das pessoas. Ainda é meio vago mas acho que estamos conseguindo de pouco em pouco o equilíbrio entre "cinema de festival" e "cinema de público".
Talvez não estivesse tão animado para ver a segunda parte ou talvez eu só ache que o primeiro filme fecha bem demais para necessitar de uma continuação, mas fora isso é um ótimo filme que faz jus ao anterior. Não seria algo para se rever mas foi legal de assistir. Agora, vamos ver se o terceiro é tão ruim quanto dizem.
Sempre bom ver um filme da pátria mãe de minha família. Me emociona muito ver que assim como o Brasil os lusos também passaram pelo terror da ditadura mas felizmente ambas já passaram. O filme retrata com muito cuidado os acontecimentos entre a noite do dia 24 e a manhã do 25 de Abril, quando a revolução é instaurada e a abertura democrática se faz valer. Acho que o melhor exemplo que podemos tirar da história de Portugal é que mesmo nos piores momentos a paz pode voltar a reinar e sem se rebaixar aos algozes.
Bom, me pareceu uma ponte para a sequência. Mesmo assim o filme entrega bem o plot mas o que me parece é que as notas baixas vieram muito mais pelo desejo de algo como o primeiro e a questão do Deep do que o roteiro em si. Ele tem falhas sim, muitos personagens poderiam ser descartados e só estavam no filme para pegar as pessoas pela emoção. Mas gostei das possibilidades que abrem, ansioso para ver se o próximo é realmente no Brasil.
Não comentei na época que saiu mas comento agora. Uma boa leitura do universo de HP fora da escola, achei muito inteligente pegar um personagem mencionado na história original e usar ele como principal da trama. Empolgado para ver a relação do personagem com o mundo bruxo fora da Grã Bretanha.
Não espere uma trama envolvente porque não terá e nem mesmo um bom ritmo porque o filme se arrasta, mas ainda é uma tentativa interessante de contar a história de heróis que a anos são esquecidos no país. É interessante mas com certeza a Feb merecia muito mais.
Muito mais que uma reinterpretação de uma conhecida lenda, O Funeral das Rosas é um drama daqueles poucos que conseguimos encontrar onde genialidade e experimentalismo casam perfeitamente. Ambientado em um Japão sessentista, a obra nos leva ao interior da cultura e comunidade gay (mais propriamente trans e travesti) japonesa mostrando os pesares da luta pela sua liberdade em um momento de extensa influência norte americana no arquipélago. Infelizmente, as marcas culturais desta época se mantiveram inclusive seus maiores defeitos.
Um relato claro dos preconceitos inibidores da sociedade, Paradise Lost mostra como o argumento do medo e do desconhecido da combustível para decisões cruéis tomadas pela sociedade. Três crianças mortas, três presas, seis injustiçadas e nenhum culpado. Se tudo isso foi unicamente relacionado ao jeito de se vestir e que música se escuta, dá para entender o terror que se passa nas mentes de grupos minoritários.
Em uma mistura muito bem elaborada de de drama e documentário, Haxan nos apresenta as insanidades e verdadeiros crimes cometidos durante a idade média por conta das superstições sobre bruxas e seus pactos diabólicos. Pode-se dizer com toda certeza que há uma profunda crítica a visão torta medieval que se tinha com os menos possuídos e degredados sociais. Das idosas que por conta do envelhecimento eram vistas como feias e logicamente bruxas, das jovens que por sua beleza eram igualmente condenadas por "enfeitiçar" os desejos de jovens rapazes, o conhecimento ancestral de ervas que em muito ajudava os menos favorecidos mas que também caia nas mãos da inquisição, é um relato profundo do ataque aos despoçuidos. É impressionantemente bem trabalhado para sua época e os efeitos fluem com naturalidade, talvez uma das melhores representações de demônios que tenha visto.
Este filme está na minha lista faz um tempo, lembro que o primeiro contato com o personagem foi com a versão de 2000 e como toda criança viciada em ação policial eu revi mais vezes do que posso contar. O original em nada perde para sua sequência, no caso o quarto filme da saga. Apresentamos aqui o detetive John Shaft, símbolo amado do cinema de blaxploitation, que é envolvido de última hora no sequestro da filha de um poderiso chefão do crime. Embora a história seja um pouco lenta ela compensa com cenas boas de ação e um enredo bem escrito que consegue mostrar com clareza a esperteza do personagem além de todo o seu carisma. Claro, há de se entender que é um filme dos anos 70 então tem todos os trejeitos e vícios narrativos da época, mas tudo é perdoado com a belíssima construção do personagem. Muito bom, vou ver as sequencias.
Além de ser uma história bem fraca dentro do gênero found footage, o filme pesa a mão demais em tentar construir uma imagem de devassidão entre adolescentes além das cenas que deveriam ser as de "terror" são simplesmente explícitas, sem nenhum aprofundamento narrativo. Embora o diretor costume apontar que a obra nasceu para mostrar os perigos da internet só me parece que é uma forma muito baixa de ganhar dinheiro explorando o medo e as situações aterradoras da vida de pessoas.
A premissa é genuinamente interessante mas a execução é bem ruim. Gostei bastante da introdução e dava abertura para um frango aterrorizante mas infelizmente é simplesmente chato. Me parece ser uma tentativa de entrar na onda dos filmes de terror psicológico mas é fraco demais para se comparar A Bruxa ou Corra, sendo que nem gosto do segundo. Enfim, não vale a pena.
A realidade da esperiencia brasileira no estrangeiro como poucas vezes se mostra. O filme é um retrato fiel da situação que vivem muitos nacionais que, encantados pelos contos de boa vida e facilidade, se aventuram para Portugal com nada nas mãos nem segurança. O sonho de enriquecer e voltar ao seu país, a crença de que seria fácil por ser a mesma lingua, desencontros na comunidade estrangeira e traições entre conterrâneos, fica difícil de saber até onde estamos falando da esperiencia contemporânea brasileira ou de meus avós quando desembarcaram no Rio vindos de Portugal.
Qualquer obra que pense em mencionar Portugal automaticamente me cativa e me fera interesse, o que não quer dizer que serei menos crítico por isso. Trem Noturno para Lisboa começa bem, apresenta uma trama histórica que se bem construída pode levar a uma aventura interessante de se acompanhar, mas eu disse pode e não que conseguiu o feito. Embora a história das relações amorosas dos personagens em plena ditadura Salazarista chame atenção ela pouco se aprofunda e a trama da resistência é apenas um plano de fundo opaco que em nada acrescenta. Talvez tenha sido uma má execução no cinema, me parece mais um filme feito para a tv, quem sabe o filme é melhor. Mas admito que tenho sensações duvidosas quanto a escolha dos atores, chamam grandes nomes do cinema mas não dão espaço para se desenvolverem e ao mesmo tempo os poucos portugueses de fato são secos e sem personalidade.
A naturalidade do amor como ele costuma acontecer. Embora seja um romance não nos leva para os clichês do gênero, o filme na verdade consegue nos transportar para situações do dia a dia e para um relacionamento muito comum e natural, algo possível de acontecer. O roteiro acerta e muito em focar no diálogo dos personagens e nas descobertas de um para o outro no decorrer do tempo. É instintivo para qualquer um se familiarizar com as conversas e discussões, é como se voltássemos para nossas próprias vidas e relacionamentos que vivemos. A relação do casal é tão pura, tão doce como qualquer começo de relacionamento deveria ser.
Talvez um dos maiores problemas, ou mesmo o central problema, das discussões e validações políticas é a romantização de seus principais pensadores e de suas utopias. O que gosto de O Jovem Karl Marx é justamente a tentativa de humanizar tanto Marx quanto Engels, nada dessa visão épica de homens voltados inteiramente para seu trabalho, não, aqui nós vemos os resultados diretos em suas vidas e dos que estão a seu redor. Da dificuldade de Marx em se manter fiel a um ideal diante das adversidades da vida, da dor de Engels de se ver como mais um dos burgueses que tanto crítica, a dura pena cobrado de suas esposas para ficarem ao lado de ambos e a importância delas em suas vidas. O filme vai muito além de uma apresentação dramatizada da construção do pensamento comunista, ele é a quebra do imaginário em cima destes dois personagens, é a tentativa de mostrar que os dois gigantes eram no fim humanos.
Leve e reflexivo, a força da coragem é dos tipicos filmes de seção da tarde feitos para crianças repensarem seus atos e relações com as pessoas. É um filme leve, perfeito para um fim de tarde descompromissado.
Sensacional, admito que a princípio não achava que gostaria do filme mas fui pego nos primeiros minutos. Com influência da Nouvelle Vague a obra mostra uma cômica aventura de um rufião cafajeste que mobilizado pelo sua própria visão turva dos relacionamentos e das mulheres acaba se deparando com Maria Alice, uma mulher moderna com pensamento próprio que faz a vida de nosso personagem uma volta repentina de paradigmas. Para mim é difícil decidir o que gostei mais, da mudança de hábitos de Paulo e de sua visão de mundo ou as discussões sociais relacionadas as liberdades adquiridas pelas mulheres da classe média brasileira. Ainda não pude ver a série que usou este filme como base mas com certeza foi um desafio reproduzir o carisma da obra original.
Foi muito bom acompanhar o desenrolar da trama e da saga de mestre Ip. Lembro de desde o primeiro ficar fascinado com como o roteiro é bem construindo sem deixar o mérito apenas para as cenas de ação. Mas a realidade é que esse prazer só se manteve nos dois primeiros filmes, a partir do terceiro a impressão que ficou é que precisavam forçar uma história para manter o personagem vivo. Bem, o filme em si é legal, tem ótimas sequencias de ação e Scott Adkins entrega um bom vilão (mesmo que ache que não precisa estar ali, são tantas tramas em um só lugar que fica difícil de entender qual é o centro do problema). A discussão quanto ao racismo contra chineses começa bem mas fica vaga com o tempo já que precisa dividir espaço com outras questões. É um filme legal, tenta dar um ponto final pra história mas sendo sincero não precisava disso.
Um registro muito sensível dos horrores que se escondem no passado nacional e que ainda influenciam muito nosso presente. Menino 23 mostra a surreal realidade política e cultural do começo do século XX e como influência diretamente na vida de pessoas. O desgaste das elites no pós abolição dá espaço para entrada de pensamentos tortos como o nazi-fascismo e a criação de réplicas nacionais como o integralismo. No pior da manifestação da podridão humana há a história de 50 garotos, que encantados com promessas se separam com uma realidade terrível e que mais incrível que pareça ainda muito real.
Consigo entender perfeitamente o impacto que o tigre e o dragão causaram e o alvoroço que tem até hoje pela obra. Os mais descuidados podem chegar aqui na espectativa de verem um filme de ação, regado a cenas de luta com coleografias embasbacantes de Kung Fu. E na verdade estão certos nisso sim, mas o que o filme entrega vai muito além disso. Já começamos pelos cenários e figurinos, diferentemente do que se costuma ver em obras clássicas do gênero o filme procura dar um tom natural e mais próximo da realidade o que já o diferencia das levas de filmes mais coloridos influenciados pela opera de Pequim. Mas o que o cenário abre na verdade é a trama principal desde trabalho, diferente do que se espera a luta só está ali como contexto narrativo o foco na verdade é o universo que engloba os Jianghu os guerreiros lendários das novelas de wuxia. Entrando diretamente em confronto com o costume de narrativa heróica para esses personagens o filme mostra um lado que não temos muito contato, o peso da vida de homens e mulheres que se dedicam a espada em prol da justiça dentro do universo marcial. Isso por si só já seria mais do que suficiente para enquadra-lo no hall de melhores filmes do gênero mas a obra expande em seus diálogos conseguindo trazer a discussão para questões sociais apresentadas no longa. De um amor proibido não só pela classe mas por uma construção xenofóbica das etnias locais, a outro romance igualmente apagado nas areias do tempo e costumes locais que não permitem a relação por comodidade e decoro. Da romantização de classes a descoberta da realidade por trás de contos e histórias passadas de boca a boca. O tigre e o dragão está entre uma homenagem ao cinema wuxia e sua reinvenção, quebrando completamente com o quadro colorido e épico que se mantém mostrando um retrato muito mais opaco e comum das vidas desses personagens. Verdadeiramente um clássico entre os clássicos do Kung Fu.
Eles Não Usam Black-Tie
4.3 286Acho que o comentário mais pertinente que poderia deixar é como os personagens Tião e Otávio representam não só duas linhas de pensamento mas duas gerações de brasileiro. Otávio não é só o grevista que viveu a ditadura, ele é todo o passado republicano brasileiro que vendo os absurdos dos governos e empresários davam suas vidas se necessário por um pouco de liberdade real no país. Tião é justamente o contrário, criado na ditadura mas rapidamente acostumado com a má vontade e egocentrismo das gerações da redemocratização o personagem não consegue ver a um palmo de seu nariz e usa a desculpa de "zelar pela família" como escudo pela sua falta de fibra moral. Pai e filho, gerações diferentes e "Brasis" diferentes.
Visto em: 02/02/2021
A Busca
3.4 714 Assista AgoraEsperava um pouco mais do filme quando assisti, achei que o ritmo cortava muito do desenvolvimento da trama o que atrapalhava um pouco na imersão. Até que li uma crítica que me deu um outro ponto de vista, a impressão que dá é de ser um esforço do cinema nacional de conseguir pegar seu excelente trabalho com drama que a cada dia é mais premiado e trazer para o meio geral do público. Um roteiro mais simples e mais palatável faz do filme um trabalho que pode igualmente figurar em eventos de cinema e na casa das pessoas. Ainda é meio vago mas acho que estamos conseguindo de pouco em pouco o equilíbrio entre "cinema de festival" e "cinema de público".
Visto em: 02/02/2021
O Poderoso Chefão: Parte II
4.6 1,2K Assista AgoraTalvez não estivesse tão animado para ver a segunda parte ou talvez eu só ache que o primeiro filme fecha bem demais para necessitar de uma continuação, mas fora isso é um ótimo filme que faz jus ao anterior. Não seria algo para se rever mas foi legal de assistir. Agora, vamos ver se o terceiro é tão ruim quanto dizem.
Visto em: 01/02/2021
Capitães de Abril
3.7 13Sempre bom ver um filme da pátria mãe de minha família. Me emociona muito ver que assim como o Brasil os lusos também passaram pelo terror da ditadura mas felizmente ambas já passaram. O filme retrata com muito cuidado os acontecimentos entre a noite do dia 24 e a manhã do 25 de Abril, quando a revolução é instaurada e a abertura democrática se faz valer. Acho que o melhor exemplo que podemos tirar da história de Portugal é que mesmo nos piores momentos a paz pode voltar a reinar e sem se rebaixar aos algozes.
Visto em: 30/01/2020
Outono em Nova York
3.3 392 Assista AgoraÉ fraco, costumo dar boas notas pra filmes de romance mas dessa vez não deu. Arrastado, sem carisma, a história não entrega.
Visto em: 26/01/2021
Animais Fantásticos - Os Crimes de Grindelwald
3.5 1,1K Assista AgoraBom, me pareceu uma ponte para a sequência. Mesmo assim o filme entrega bem o plot mas o que me parece é que as notas baixas vieram muito mais pelo desejo de algo como o primeiro e a questão do Deep do que o roteiro em si. Ele tem falhas sim, muitos personagens poderiam ser descartados e só estavam no filme para pegar as pessoas pela emoção. Mas gostei das possibilidades que abrem, ansioso para ver se o próximo é realmente no Brasil.
Visto em: 25/01/2021
Animais Fantásticos e Onde Habitam
4.0 2,2K Assista AgoraNão comentei na época que saiu mas comento agora. Uma boa leitura do universo de HP fora da escola, achei muito inteligente pegar um personagem mencionado na história original e usar ele como principal da trama. Empolgado para ver a relação do personagem com o mundo bruxo fora da Grã Bretanha.
Visto em: algum momento de 2016
A Estrada 47
3.3 157 Assista AgoraNão espere uma trama envolvente porque não terá e nem mesmo um bom ritmo porque o filme se arrasta, mas ainda é uma tentativa interessante de contar a história de heróis que a anos são esquecidos no país. É interessante mas com certeza a Feb merecia muito mais.
Visto em: 21/01/2020
O Funeral das Rosas
4.3 69 Assista AgoraMuito mais que uma reinterpretação de uma conhecida lenda, O Funeral das Rosas é um drama daqueles poucos que conseguimos encontrar onde genialidade e experimentalismo casam perfeitamente. Ambientado em um Japão sessentista, a obra nos leva ao interior da cultura e comunidade gay (mais propriamente trans e travesti) japonesa mostrando os pesares da luta pela sua liberdade em um momento de extensa influência norte americana no arquipélago. Infelizmente, as marcas culturais desta época se mantiveram inclusive seus maiores defeitos.
Visto em: 16/01/2021
Deus e o Diabo em Cima da Muralha
4.2 6Ótimo documentário, um olhar mais amplo sobre a realidade do Carandiru.
Visto em: 2019
O Paraíso Perdido: Assassinatos de Crianças em Robin Hood Hill
4.3 44Um relato claro dos preconceitos inibidores da sociedade, Paradise Lost mostra como o argumento do medo e do desconhecido da combustível para decisões cruéis tomadas pela sociedade. Três crianças mortas, três presas, seis injustiçadas e nenhum culpado. Se tudo isso foi unicamente relacionado ao jeito de se vestir e que música se escuta, dá para entender o terror que se passa nas mentes de grupos minoritários.
Visto em: 15/01/2021
Haxan: A Feitiçaria Através dos Tempos
4.2 183 Assista AgoraEm uma mistura muito bem elaborada de de drama e documentário, Haxan nos apresenta as insanidades e verdadeiros crimes cometidos durante a idade média por conta das superstições sobre bruxas e seus pactos diabólicos. Pode-se dizer com toda certeza que há uma profunda crítica a visão torta medieval que se tinha com os menos possuídos e degredados sociais. Das idosas que por conta do envelhecimento eram vistas como feias e logicamente bruxas, das jovens que por sua beleza eram igualmente condenadas por "enfeitiçar" os desejos de jovens rapazes, o conhecimento ancestral de ervas que em muito ajudava os menos favorecidos mas que também caia nas mãos da inquisição, é um relato profundo do ataque aos despoçuidos. É impressionantemente bem trabalhado para sua época e os efeitos fluem com naturalidade, talvez uma das melhores representações de demônios que tenha visto.
Visto em: 14/01/2021
Shaft
3.6 55 Assista AgoraEste filme está na minha lista faz um tempo, lembro que o primeiro contato com o personagem foi com a versão de 2000 e como toda criança viciada em ação policial eu revi mais vezes do que posso contar. O original em nada perde para sua sequência, no caso o quarto filme da saga. Apresentamos aqui o detetive John Shaft, símbolo amado do cinema de blaxploitation, que é envolvido de última hora no sequestro da filha de um poderiso chefão do crime. Embora a história seja um pouco lenta ela compensa com cenas boas de ação e um enredo bem escrito que consegue mostrar com clareza a esperteza do personagem além de todo o seu carisma. Claro, há de se entender que é um filme dos anos 70 então tem todos os trejeitos e vícios narrativos da época, mas tudo é perdoado com a belíssima construção do personagem. Muito bom, vou ver as sequencias.
Visto em: 13/01/2021
Megan is Missing
2.7 303Além de ser uma história bem fraca dentro do gênero found footage, o filme pesa a mão demais em tentar construir uma imagem de devassidão entre adolescentes além das cenas que deveriam ser as de "terror" são simplesmente explícitas, sem nenhum aprofundamento narrativo. Embora o diretor costume apontar que a obra nasceu para mostrar os perigos da internet só me parece que é uma forma muito baixa de ganhar dinheiro explorando o medo e as situações aterradoras da vida de pessoas.
Visto em: 12/01/2021
Antrum: O Filme Mais Mortal Já Feito
2.8 60 Assista AgoraA premissa é genuinamente interessante mas a execução é bem ruim. Gostei bastante da introdução e dava abertura para um frango aterrorizante mas infelizmente é simplesmente chato. Me parece ser uma tentativa de entrar na onda dos filmes de terror psicológico mas é fraco demais para se comparar A Bruxa ou Corra, sendo que nem gosto do segundo. Enfim, não vale a pena.
Visto em: 12/01/2021
Estive em Lisboa e Lembrei de Você
3.1 22 Assista AgoraA realidade da esperiencia brasileira no estrangeiro como poucas vezes se mostra. O filme é um retrato fiel da situação que vivem muitos nacionais que, encantados pelos contos de boa vida e facilidade, se aventuram para Portugal com nada nas mãos nem segurança. O sonho de enriquecer e voltar ao seu país, a crença de que seria fácil por ser a mesma lingua, desencontros na comunidade estrangeira e traições entre conterrâneos, fica difícil de saber até onde estamos falando da esperiencia contemporânea brasileira ou de meus avós quando desembarcaram no Rio vindos de Portugal.
Visto em: 09/01/2021
Trem Noturno para Lisboa
3.7 258 Assista AgoraQualquer obra que pense em mencionar Portugal automaticamente me cativa e me fera interesse, o que não quer dizer que serei menos crítico por isso. Trem Noturno para Lisboa começa bem, apresenta uma trama histórica que se bem construída pode levar a uma aventura interessante de se acompanhar, mas eu disse pode e não que conseguiu o feito. Embora a história das relações amorosas dos personagens em plena ditadura Salazarista chame atenção ela pouco se aprofunda e a trama da resistência é apenas um plano de fundo opaco que em nada acrescenta. Talvez tenha sido uma má execução no cinema, me parece mais um filme feito para a tv, quem sabe o filme é melhor. Mas admito que tenho sensações duvidosas quanto a escolha dos atores, chamam grandes nomes do cinema mas não dão espaço para se desenvolverem e ao mesmo tempo os poucos portugueses de fato são secos e sem personalidade.
Visto em: 08/01/2021
Antes do Amanhecer
4.3 1,9K Assista AgoraA naturalidade do amor como ele costuma acontecer. Embora seja um romance não nos leva para os clichês do gênero, o filme na verdade consegue nos transportar para situações do dia a dia e para um relacionamento muito comum e natural, algo possível de acontecer. O roteiro acerta e muito em focar no diálogo dos personagens e nas descobertas de um para o outro no decorrer do tempo. É instintivo para qualquer um se familiarizar com as conversas e discussões, é como se voltássemos para nossas próprias vidas e relacionamentos que vivemos. A relação do casal é tão pura, tão doce como qualquer começo de relacionamento deveria ser.
Visto em: 08/01/2021
O Jovem Karl Marx
3.6 272 Assista AgoraTalvez um dos maiores problemas, ou mesmo o central problema, das discussões e validações políticas é a romantização de seus principais pensadores e de suas utopias. O que gosto de O Jovem Karl Marx é justamente a tentativa de humanizar tanto Marx quanto Engels, nada dessa visão épica de homens voltados inteiramente para seu trabalho, não, aqui nós vemos os resultados diretos em suas vidas e dos que estão a seu redor. Da dificuldade de Marx em se manter fiel a um ideal diante das adversidades da vida, da dor de Engels de se ver como mais um dos burgueses que tanto crítica, a dura pena cobrado de suas esposas para ficarem ao lado de ambos e a importância delas em suas vidas. O filme vai muito além de uma apresentação dramatizada da construção do pensamento comunista, ele é a quebra do imaginário em cima destes dois personagens, é a tentativa de mostrar que os dois gigantes eram no fim humanos.
Visto em: 07/01/2021
A Força da Coragem
3.3 17Leve e reflexivo, a força da coragem é dos tipicos filmes de seção da tarde feitos para crianças repensarem seus atos e relações com as pessoas. É um filme leve, perfeito para um fim de tarde descompromissado.
Visto em: 06/01/2021
Todas as Mulheres do Mundo
4.0 89Sensacional, admito que a princípio não achava que gostaria do filme mas fui pego nos primeiros minutos. Com influência da Nouvelle Vague a obra mostra uma cômica aventura de um rufião cafajeste que mobilizado pelo sua própria visão turva dos relacionamentos e das mulheres acaba se deparando com Maria Alice, uma mulher moderna com pensamento próprio que faz a vida de nosso personagem uma volta repentina de paradigmas. Para mim é difícil decidir o que gostei mais, da mudança de hábitos de Paulo e de sua visão de mundo ou as discussões sociais relacionadas as liberdades adquiridas pelas mulheres da classe média brasileira. Ainda não pude ver a série que usou este filme como base mas com certeza foi um desafio reproduzir o carisma da obra original.
Visto em: 06/01/2021
O Grande Mestre 4
3.8 105 Assista AgoraFoi muito bom acompanhar o desenrolar da trama e da saga de mestre Ip. Lembro de desde o primeiro ficar fascinado com como o roteiro é bem construindo sem deixar o mérito apenas para as cenas de ação. Mas a realidade é que esse prazer só se manteve nos dois primeiros filmes, a partir do terceiro a impressão que ficou é que precisavam forçar uma história para manter o personagem vivo. Bem, o filme em si é legal, tem ótimas sequencias de ação e Scott Adkins entrega um bom vilão (mesmo que ache que não precisa estar ali, são tantas tramas em um só lugar que fica difícil de entender qual é o centro do problema). A discussão quanto ao racismo contra chineses começa bem mas fica vaga com o tempo já que precisa dividir espaço com outras questões. É um filme legal, tenta dar um ponto final pra história mas sendo sincero não precisava disso.
Visto em: 05/01/2021
Menino 23: Infâncias Perdidas no Brasil
4.4 86Um registro muito sensível dos horrores que se escondem no passado nacional e que ainda influenciam muito nosso presente. Menino 23 mostra a surreal realidade política e cultural do começo do século XX e como influência diretamente na vida de pessoas. O desgaste das elites no pós abolição dá espaço para entrada de pensamentos tortos como o nazi-fascismo e a criação de réplicas nacionais como o integralismo. No pior da manifestação da podridão humana há a história de 50 garotos, que encantados com promessas se separam com uma realidade terrível e que mais incrível que pareça ainda muito real.
Visto em: 05/01/2021
O Tigre e o Dragão
3.6 455 Assista AgoraConsigo entender perfeitamente o impacto que o tigre e o dragão causaram e o alvoroço que tem até hoje pela obra. Os mais descuidados podem chegar aqui na espectativa de verem um filme de ação, regado a cenas de luta com coleografias embasbacantes de Kung Fu. E na verdade estão certos nisso sim, mas o que o filme entrega vai muito além disso. Já começamos pelos cenários e figurinos, diferentemente do que se costuma ver em obras clássicas do gênero o filme procura dar um tom natural e mais próximo da realidade o que já o diferencia das levas de filmes mais coloridos influenciados pela opera de Pequim. Mas o que o cenário abre na verdade é a trama principal desde trabalho, diferente do que se espera a luta só está ali como contexto narrativo o foco na verdade é o universo que engloba os Jianghu os guerreiros lendários das novelas de wuxia. Entrando diretamente em confronto com o costume de narrativa heróica para esses personagens o filme mostra um lado que não temos muito contato, o peso da vida de homens e mulheres que se dedicam a espada em prol da justiça dentro do universo marcial. Isso por si só já seria mais do que suficiente para enquadra-lo no hall de melhores filmes do gênero mas a obra expande em seus diálogos conseguindo trazer a discussão para questões sociais apresentadas no longa. De um amor proibido não só pela classe mas por uma construção xenofóbica das etnias locais, a outro romance igualmente apagado nas areias do tempo e costumes locais que não permitem a relação por comodidade e decoro. Da romantização de classes a descoberta da realidade por trás de contos e histórias passadas de boca a boca. O tigre e o dragão está entre uma homenagem ao cinema wuxia e sua reinvenção, quebrando completamente com o quadro colorido e épico que se mantém mostrando um retrato muito mais opaco e comum das vidas desses personagens. Verdadeiramente um clássico entre os clássicos do Kung Fu.
Visto em: 04/01/2021