SÃO FILMES COMO PATERSON que me fazem amar o CINEMA INDIE.
A beleza, a simplicidade, a humanidade que este filme envolve... é um ENCANTO. E é incrível como o JIM JARMUSCH, um cineasta a investigar, com certeza, consegue fazer tanto com tão pouco... um enredo SINGELO que abre portas para uma experiência IMENSAMENTE ALICIANTE - acompanhamos uma semana de um condutor de autocarro que escreve poesia. É isto. E o resultado é um DELEITE CINEMATOGRÁFICO.
PATERSON é um prazer em muitos sentidos:
A performance do Adam Driver é PERFEITA.
A Golshifteh Farahani é FANTÁSTICA.
O cão é ADORÁVEL EM EXCESSO.
A construção de cada personagem é FASCINANTE.
A dita poesia é FORMIDÁVEL.
A rotina, o humor, as conversas no autocarro, o bar, a decoração da casa a preto e branco, a ideia dos(as) gémeos(as), o Lou Costello, a fotografia, enfim...
Este filme simplesmente reuniu TODO O POTENCIAL DA GALÁXIA. A LYNNE RAMSAY é uma cineasta abençoada pelos DEUSES DA SÉTIMA ARTE e o JOAQUIN PHOENIX é um TITÃ na arte de atuar... estes dois artistas brilhantes ofereceram ao mundo um THRILLER HIPNOTIZANTE.
Esta assombrosa obra é muito mais que uma história de crime... é um complexo estudo sobre uma mente atormentada... uma VIAGEM ATERRORIZANTE repleta de momentos surpreendentes...
O que é REALIDADE? O que é SONHO?
Distorção.
A banda sonora... JONNY GREENWOOD, um criador egrégio... PURA ELETRICIDADE MUSICAL.
Este filme, o TAXI DRIVER e o DRIVE formam uma trilogia imperdível sobre três homens com passados negros... mas que estão condenados a um presente violento.
O PAUL THOMAS ANDERSON é um DEUS DO CINEMA. Ele é simplesmente BRUTALMENTE VERSÁTIL. A cada novo filme, surge diante de nós uma aventura completamente diferente... uma jornada cinematográfica única... nada se repete.
PHANTOM THREAD é sobre roupa, tecido, linhas, o ATO DE COSER. Este filme foi COSIDO... meticulosamente cosido... elaborado com um cuidado extremo... tudo é perfeito, preciso. Cada som, cada expressão, cada palavra proferida pelos personagens... tudo tem um significado profundo - e, mais uma vez, o Oscar vai ser negado a um verdadeiro mestre... tudo isto é um autêntico ESPLENDOR ARTÍSTICO.
O DANIEL DAY-LEWIS, o nosso Rei, ofereceu-nos mais um desempenho emblemático, imortal; com a sua incrível habilidade, ele conseguiu interpretar um sujeito arrogante, autoritário, perfecionista e chato com pura ELETRICIDADE.
E a VICKY KRIEPS brilha como uma jovem que, à primeira vista, parece ser ingénua... mas a máscara cai... e podem crer que ela é observadora, forte e inteligente.
Enfim... não sei o que dizer mais... que filme... um CLÁSSICO.
AH, one more thing: JONNY GREENWOOD, Deus abençoe este homem.
Não é propriamente uma lufada de ar fresco dentro do cinema queer, mas é definitivamente um bom filme sobre antagonismos, guerras. A tensão entre os dois personagens principais é incrivelmente envolvente e palpável. É o melhor aspeto da obra, seguido do excelente desempenho da Sandrine Kiberlain.
Previsível e sem surpresas. Em compensação, profundo e humano.
EM 2017, o RICHARD LINKLATER lançou um filme que ninguém viu.
Uma obra que, infelizmente, está a ser esquecida não só pela AWARD SEASON como também - e mais grave que tudo - pela maioria dos filmgoers.
Porventura, decidi distanciar-me por um breve instante dos "callmebyyournames" e dos "threebillboards" do momento para visualizar Last Flag Flying.
Minha gente...
Este filme é MUITO BOM. Fiquei colado ao ecrã.
Fãs dos "cozinhados" linklaterianos têm aqui uma refeição DELICIOSA. A história é simplíssima, sem grandes surpresas.
O que está aqui em jogo: bons diálogos e bons personagens.
Três veteranos do Vietname, um conflito triangular: temos o homem a lidar com um forte sentimento de perda (Steve Carell, fantástico), o devoto a Deus (Laurence Fishburne, fabuloso) e o amigo da bebida (Bryan Cranston rouba a cena). E eles falam, falam e falam...
É este... é este o filme do ano. Pronto. O MELHOR FILME DE 2017. Está decidido.
Bom, ainda não vi tudo do ano passado... provavelmente ainda posso mudar de opinião.
Mas será muito difícil.
A melhor comédia do ano? Isso é (quase) garantido.
O melhor desempenho do ano? Dos que vi até agora, certamente. (Veremos se o Daniel Day-Lewis muda isso.)
Melhor argumento? Ui, não sei... mas os diálogos deste filme são fantásticos... está repleto de deixas hilariantes!
A questão aqui é a seguinte: o James Franco é um génio. Ele é um "faz-tudo" magnífico. O tipo é um crânio. E ele, mais uma vez, deixou-me sem palavras. Ele viveu o Tommy Wiseau... assim como o Jim Carrey viveu o Andy Kaufman no Man on the Moon (1999)... e não, não é exagero comparar estas duas interpretações.
E palmas para o Dave Franco também... que performance!
THE DISASTER ARTIST é um grande filme sobre filmes... Além do mais, é puro entretenimento... é engraçado, humano, profundo, dramático... é um retrato brilhante sobre um artista único e a sua obra-prima... o processo de criar é doloroso... e esta metragem explora isso de uma maneira soberba...
EU AMEI ESTE FILME. Só me desiludiu verdadeiramente com uma coisa: é demasiado curto.
Afinal de contas, quando sentimos que a experiência soube a pouco... é sinal que vimos algo especial, grandioso.
A MARGOT ROBBIE está uma BOMBA... que performance NUCLEAR... ela é este filme! Se ela não for nomeada para os ÓSCARES, o UNIVERSO e as suas ESTRELAS deixarão de fazer sentido... os morangos passarão a ser azuis e os elefantes começarão a miar...
Tudo isto porque o CRAIG GILLESPIE é um exímio realizador de atores... estamos a falar do sujeito que fez o LARS AND THE REAL GIRL...
I, TONYA não chega ao nível dessa maravilhosa obra... de qualquer maneira, esta fita não deve ser perdida... Biografias podem ser dolorosamente aborrecidas... felizmente, este filme foi abençoado pela mesma ULTRA-ENERGIA de metragens como The Wolf of Wall Street, I Love You Phillip Morris e Bernie... com isto quero dizer que esta película é EXPLOSIVA... a montagem está repleta de momentos inspiradores, a quarta parede é constantemente quebrada, o trabalho de câmera é louco...
Acabei de o ver... o CORAÇÃO é uma coisa tão frágil, não é? O AMOR é uma forma de expressão universal... a admiração é algo tão poderoso...
Um AMOR DE VERÃO pode marcar para toda a VIDA. Este é um filme maravilhoso sobre a descoberta da sexualidade... sobre a procura da nossa IDENTIDADE através da identidade de OUTRA PESSOA... ao fim e ao cabo, quando se ama uma pessoa, "construímos" uma parte dessa pessoa... e essa pessoa "constrói" uma parte de nós...
CALL ME BY YOUR NAME é, em suma, um hino à pureza do AMOR... é um filme INCRIVELMENTE humano, verdadeiro...
Não importa quem tu és para os outros... o coração, o corpo é teu...
SÊ TU PRÓPRIO.
Feliz por saber que este filme está a receber o reconhecimento que merece.
TIMOTHÉE CHALAMET e ARMIE HAMMER estão em PERFEITA sintonia... desempenhos colossais...
Impossível processar esta hora e vinte de uma só vez. Este filme é um marco retumbante dentro do panorama das animações japonesas. Satoshi Kon realizou com brilhantismo um retrato assustador sobre a perda de identidade e a obsessão. Por vezes, a banda sonora parece cantar aos espíritos.
Darren Aronofsky bebeu muito daqui. Plágio? A meu ver, não. Uma forte influência? Certamente.
A personagem da Jennifer Lawrence representa a audiência, o senso comum...
NINGUÉM estava à espera disto... ninguém estava preparado.
Hoje em dia é muito difícil chocar audiências. Afinal de contas, já não estamos nos anos 1970; nessa altura, escandalizar o povinho era uma tarefa muito mais simples... Stanley Kubrick (A Clockwork Orange) e William Friedkin (The Exorcist) que o digam... Atualmente, já se viu de tudo e mais alguma coisa.
No entanto, não são todos que conseguem ser génios como DARREN ARONOFSKY, um cineasta incapaz de deixar as nossas pobre almas tranquilas... um cineasta que é um verdadeiro mestre na construção do suspense das suas histórias e na elaboração de atmosferas caóticas.
A verdade é que qualquer um consegue fazer uma fitinha de terror tendo como set uma mansão sinistra... mas será que são todos que conseguem perturbar? Com mother!, Aronofsky não só cria uma experiência brutalmente inquietante e extremamente claustrofóbica assim como apresenta um filme que, além de elevar o conceito de INVASÃO DE PRIVACIDADE à enésima potência, trata da ideia de que um artista é um deus sobre a sua obra e sobre aqueles que o admiram... a ideia da CRIAÇÃO está toda aqui... o ser humano não consegue ficar quieto num só espaço... somos a espécie do caos... tomamos posse da natureza e destruímo-la... o mundo é o PARAÍSO e nós somos o INFERNO.
Enfim, temos aqui o filme mais explosivo e desconcertante do Aronofsky. É possivelmente, também, o filme norte-americano mais controverso e mind-blowing do ano.
Grandes filmes de terror não são aqueles que só assustam e provocam no momento. Grandes filmes de terror mexem com a cabeça da audiência através da sua ambiguidade e complexidade, sendo sujeitos a várias análises sob diversos pontos de vista ao longo dos anos.
mother! é um desses casos. mother! é uma obra-prima contemporânea.
Ei-lo... o documentário do ano, a meu ver. E afirmo isto, porque já tenho a certeza absoluta de que nada será capaz de superar esta experiência.
É quase uma questão pessoal, para mim... A performance do Jim Carrey como Andy Kaufman no magnífico filme Man on the Moon (1999) mudou-me. Foi demasiado marcante e ela está constantemente presente na minha cabeça desde que visualizei essa obra-prima (que, por sinal, é pouco reconhecida. E dou uma intensa salva de palmas à Netflix por ter a coragem de dedicar um documentário a esse belo pedaço de cinema puro!). Honestamente, acho que essa representação é uma das melhores da HISTÓRIA DO CINEMA. Ponto final.
Durante toda a produção de Man on the Moon, Jim Carrey simplesmente não estava no Planeta Terra. Jim Carrey foi Andy Kaufman (e Tony Clifton); física e psicologicamente. A barreira entre realidade e cinema não existia para ele.
Jim & Andy mostra imagens de arquivo filmadas na rodagem de Man on the Moon. Descobrimos que, lá, surgiram dois filmes: antes do “Ação!” houve um e depois desse grito houve outro... de certa maneira, eram iguais... e, ao mesmo tempo, não o eram.
Acredito que, para quem ambiciona ser ator, este documentário seja uma imensa FONTE DE INSPIRAÇÃO (se o filme já o era, imaginem este registo...). A performance do Jim Carrey como Andy Kaufman é uma belíssima aula de como reencarnar uma pessoa real.
No entanto, será mesmo uma "performance"? Não será, de facto, uma "reencarnação"?
Nem sei... na verdade, antes dizia que "o Jim Carrey viveu o Andy Kaufman" como um reforço enaltecedor da minha admiração pelo trabalho do ator na fita em questão.
Agora, depois de ver este documentário, acho que isso passou a ser um facto.
Acabei de chegar a casa. Fui a uma mostra de cinema italiano ver este Suspiria. Têm consciência do que é ver este filme no grande ecrã? Bom, talvez alguns de vocês. Mas posso dizer que tive sorte ao esperar pelo momento certo para ver esta popular obra de Dario Argento. Arrastar a coisa acabou por ser algo positivo. Pois é incontestável que, em termos estéticos, esta fita é soberba; a fotografia e a decoração é de ficar de queixo caído; as cores vibrantes, especialmente o vermelho, parecem, além de alertar ao perigo e à violência, consumir a audiência. Agora compreendo o porquê dele ter sido tão mencionado aquando o lançado do The Neon Demon.
Suspiria vê na figura da sua protagonista um símbolo de fragilidade e do desconhecimento que partilha com o própria espectador, e no balé uma forma de expressão artística inocente, pura e bela. Mas Argento quebra esse espírito e um sangrento bailado das trevas dá lugar. Esse intenso florescer define a essência da obra; há cenas perturbadoras e fortemente aterrorizantes.
Porém, esta é uma longa que está longe de ser perfeita. Os diálogos são um problema. Expositivos da forma mais artificial possível; bastante fracos por natureza, preguiçosos. E, à exceção da Jessica Harper como a personagem principal, as interpretações são tão rascas que chegam a ser risíveis. Além disso, o desenvolvimento do mistério torna-se maçante e, no final de contas, pouco relevante. Aliás, os caminhos mais fáceis são escolhidos para o desenlace da história.
Apesar de tudo, Suspiria foi uma formidável experiência e um valente acicate para investigar o cinema de Argento. Extremamente influente, clássico nalgumas cenas e visualmente marcante.
O melhor filme que eu vi do Gus Van Sant. Recordou-me o recente Moonlight, na medida que é um retrato magnético feito predominantemente de silêncios. A estética é poderosa e livre; a câmera está da maneira que achar melhor; filma o que quer e o que não quer, por quanto tempo lhe apetecer, do modo que quer. O argumento fascina-me, sobretudo na maneira como está estruturado; faz-me pensar na magia do cinema e como a exposição muda a nossa percepção; cenas repetem-se, mas sentimos coisas diferentes cada vez que as visualizamos. O Gabe Nevins é formidável; pena não termos muitos mais filmes com ele.
Sobre a essência de Paranoid Park ainda sinto-me um pouco confuso. Já sei que esta obra ficará na minha cabeça durante dias. A rever no futuro.
JAMES MANGOLD, um cineasta que nunca me havia apresentado um grande filme, transcende expectativas e faz par com Christopher Nolan como os verdadeiros espíritos capazes de quebrar barreiras e olhar para novos horizontes para um género que por vezes só se limita a contar a sua história.
THE DARK KNIGHT não é só um filme de super-heróis. THE DARK KNIGHT é o HEAT do século XXI, um policial brilhante e primoroso, um estudo de uma mente que nutre em si a destrutiva e aterrorizante ideia do mal absoluto. É o grande título da DC.
LOGAN foi abençoado por esse mesmo poder; ele está anos-luz de distância de ser apenas um blockbuster sobre mutantes. LOGAN é um drama existencialista de um homem perdido, gasto, velho, seco, num constante confronto com o aflorar dos seus sentimentos; é também um valente filme de ação artístico e marcante. É o grande título da Marvel. Só pode ser.
Já que a Academia diz estar a dirigir-se para uma apreciação mais jovem e mente aberta, então devia de se lembrar na próxima edição de LOGAN e mudar ainda mais os paradigmas e as considerações sobre os grandes sucessos de bilheteira. Não só palmear, portanto, as categorias técnicas, mas também as principais; Melhor Filme, Melhor Realização, Melhor Ator Principal (Hugh Jackman arrepia com a sua transformação física e até psicológica).
Sem exageros. Porque, sim, LOGAN é, certamente, uma das MAIORES ELEVAÇÕES CINEMATOGRÁFICAS DESTE ANO.
Grande comédia criminal... passou a ser uma das minhas favoritas dentro do género. É uma obra que reúne malta genial e o resultado é hilariante do princípio ao fim... Não há momentos mornos aqui... é tudo requintado, um verdadeiro provocador de risos sempre operacional. O elenco está perfeito; constroem personagens memoráveis, excêntricos, tão bons que, no final do filme, percebemos que até soube a pouco... John Cleese, Jamie Lee Curtis, Kevin Kline, Michael Palin... todos estão em perfeita sintonia, no seu melhor... e o argumento do John Cleese é "top-notch".
Adoro este filme. Daqueles que vou rever imensas vezes ao longo da vida, com certeza.
ALGUNS CINEASTAS SIMPLESMENTE ENTRAM EM MODO TARKOVSKY.
Bom, no caso de James Cameron, ele não se expressa livremente através do contacto existente entre o espírito humano e a pureza da natureza como o realizador russo fazia, mas sim através da AÇÃO, e é através dela que Cameron consegue reconhecer a sua identidade como real artista, numa relação tão genuína entre pintor e tela branca...
JAMES CAMERON é um poeta da explosão, e em TRUE LIES ele está no ápice da sua inspiração e glória. Uma obra que não reconhece, e não faz questão de reconhecer, os seus limites... Tudo é possível, como uma overdose bombástica... E o mágico de tudo é que ela nunca se leva realmente a sério, abraçando, por isso, o seu principal objetivo com uma força imensa... ENTRETER O PESSOAL À BRAVA!
A escala que este filme atinge é absurda... e quando pensamos que o espetáculo terminou... a orquestra retorna mais intensa, barulhenta e violenta.
RESULTADO: um dos filmes mais poéticos que vi nos últimos tempos...
Será Singin’ in the Rain mais um típico musical romântico dos anos 1950 no meio de tantos?
NÃO. Acho que não.
Acho que, na verdade, temos aqui um dos filmes mais EXPLOSIVOS de todos os tempos... Um espetáculo de sensações, emoções fortes, cores vibrantes, uma obra-prima que GRITA...
Quero dizer, os musicais sempre são assim, GRITANTES. Mas este vai além disso... este BRADA! E brada tanto, que fica rouco; no sentido que é um musical que olha para o Cinema como algo sem limites, sem barreiras, no qual tudo é possível; criar sonhos, viver sonhos... Por exemplo, tem uma cena neste filme em que o protagonista interpretado pelo Gene Kelly imagina uma sequência cinematográfica perfeita para o seu filme (dentro deste filme)... Depois do personagem parar com os devaneios, o seu produtor diz-lhe algo deste género "Sim, sim, tudo isso é muito bonito, mas quero ver isso tudo é na prática!" E é nesta resposta inserida na metalinguagem do filme que, de facto, percebemos que, SIM, no Cinema tudo é possível... porque o filme dentro do filme dentro do filme dentro do filme dentro do filme dentro do filme dentro do filme dentro do filme conseguiu realizar aquilo que nasceu na cabeça de um artista de Hollywood a sonhar.
Termos simples: Singin’ in the Rain é Hollywood a interpretar... Hollywood, e, portanto, é Cinema a querer fazer Cinema. O resultado é um clássico pertencente ao rei do género Musical.
Primor cinematográfico. Escolham qualquer aspeto que faz de um filme um filme. Realização? Argumento? Elenco? Montagem? Fotografia? Música? Design de produção? Guarda-roupa? Simplesmente escolham. Qualquer um.
Depois, vejam The Handmaiden e foquem-se principalmente no aspeto que selecionaram.
Sabem o que provavelmente concluirão? Concluirão que, independentemente daquilo que procuraram analisar com mais cuidado, o filme é uma obra-prima nesse aspeto.
Sim, The Handmaiden é um desses filmes. E além de aparência, tem também uma natureza muito profunda. Personagens que, ao desnudarem supostamente as suas verdadeiras personalidades, revelam possuir mais máscaras. Máscaras dentro de máscaras dentro de máscaras. Um filme que abraça a estrutura narrativa não-linear de modo a reforçar a sua complexidade. Cenas repetem-se. Mas quando se repetem, o sentimento da audiência é sempre diferente comparado à primeira visualização. Mágico.
Eis um filme-mosaico singular, isto porque além de se agarrar às típicas e famosas ideias do género, de representar "a-vida-tal-como-ela-é" (vertente naturalista/realista que tanto caracterizou o cinema do Altman, apesar da presença daquele toque comicamente irónico próprio dele) e do "Brasil-acontecendo", este também é um filme que não resiste à invasão de um espírito lynchiano, de modo a reforçar o seu comentário através de inesperados(as) simbolismos/metáforas (como a cena do banho de sangue ou da ida ao cinema que já não é cinema, mas que é cinema). E isto tudo são aspetos que se tornam por vezes louváveis graças à excelente realização. O trabalho de câmera evidencia um cuidado absoluto.
O argumento é certamente algo a destacar também: o curioso do cineasta Kleber Mendonça Filho (pelo menos, nesta sua obra) é que ele não se apega aos convencionalismos quanto à criação de um guião "bem arranjadinho", fechadinho, narrativamente correto, já que aqui ele define vários personagens e consequentes subtramas, para depois deixar tudo em aberto, propositalmente inconcluso (basta ver a cena da reunião de condomínio).
(Máxima atenção também ao som: ter visto esta metragem no cinema teria sido incrível nesse aspeto.)
Mas acho difícil colocar este filme na minha lista de favoritos. Houve momentos que a única coisa que conseguia sentir era um simples vazio e, no final, percebi que, a obra como um todo, pouco impacto teve em mim. Honestamente, não me vejo a revisitá-la algum dia.
DAVID CRONENBERG é um verdadeiro auteur e VIDEODROME é uma das suas obras-primas. Imagens chocantes e ultra-violentas bombardeiam o ecrã como explosivas designações da mente negativamente reeducada do protagonista...
UM ASSALTO AOS MIOLOS - uma previsão dos tempos atuais, o sensacionalismo, a violência no vídeo, no ecrã...
Uma experiência venenosa... UM FILME TÓXICO!
O que é o VIDEODROME? Os GRITOS constantemente televisionados? Uma das formais mais brutais de lavagem cerebral? A alucinação indireta dos media?
O personagem principal vive o seu próprio VIDEODROME... David Cronenberg faz questão que vivamos o nosso próprio VIDEODROME sobre o disfarce do filme... VIDEODROME.
Segunda visualização. A experiência ainda foi mais aterrorizante.
O brado dos homens, o grande desespero, o fogo dos atiradores, explosões, a bárbara divisão, intensas saudades de casa, vida, num piscar de olhos, a morte, um horrível campo de batalha, corpos, meios-corpos, sangue na terra, terra no sangue, faces queimadas, cabeças decapitadas, vísceras expostas, a violência é pura e simplesmente inevitável, primeiro, vem o medo, depois, a mente fica em caos, a autêntica desordem. Como pode alguém sobreviver a isto sem carregar uma arma consigo?
Bem, parece que Desmond Doss (Garfield), durante a Segunda Guerra Mundial, fez exatamente isso. Rapaz agarrado às suas crenças, Doss disse que não, não vou pra guerra matar, vou salvar vidas, recuso-me, arrisco-me ir pro campo de batalha, mas pra reduzir o número de mortos, não pra aumentá-lo.
Ladies and gentlemen, esta é a incrível história verídica da obra mais recente do Mel Gibson. O resultado é um dos melhores filmes de guerra dos últimos anos - um relato brutal sobre a forte coragem de um verdadeiro herói.
Robin Williams era para toda a família; tinha sempre uma presença especial, praticamente mágica. Em Jumanji não foi diferente - sempre genial na sua performance física, sempre bastante expressivo. E era um ator que sempre conseguia dar uma humanidade aos personagens que interpretava, uma certa substância, profundidade - aqui "vive" uma criança-homem que segue a Lei da Selva, perdido no tempo, no mundo novo, nostálgico, carregando uma certa infelicidade sentida devido à distância, às marcas negras da infância, de uma educação irritantemente aristocrática, baseada na voz rígida paternal, a do "enfrenta! enfrenta, sozinho, porque a vida é assim!".
Assim era Robin Williams, personalidade que agrupou memórias na mente de tantas crianças; tornava dalguma forma ainda mais fascinantes os filmes no qual entrava - ficavam mais completos e vivos. Jumanji é um desses casos; só encontra a sua verdadeira "força" quando Williams surge; tudo fica mais divertido, toda a macacada, toda a aventura é mais selvagem, toda a ação é mais excitante, todo o terror é mais sentido - imensos morcegos saem de uma lareira, animais desembestados (elefantes, rinocerontes, zebras) invadem a cidade como um tremor de terra, macacos conduzem motas da polícia, um explorador destrutivo persegue os heróis.
É uma bandeja recheada de diversão, nada mais, nada menos. Foi o que Joe Johnston quis fazer aqui: um conjunto de acontecimentos aleatórios para animar toda a família.
Funciona, claro. É um filme da infância.
Já se quiserem ver o real valor artísitico deste cineasta, vejam o excelente (e subestimado) October Sky. Essa é uma obra que toca todas as gerações.
O poder transformador dos telemóveis nas nossas vidas. Sim, parece que afinal essas caixinhas pretas (ou brancas, ou cinzentas, ou seja lá que cor quiserem) podem destruir vidas; nem que seja por causa de um pequeníssimo SMS, com poucas palavras.
A mensagem provocativa de Paolo Genovese é óbvia: somos frágeis, facilmente atraídos, agarrados a esta eficácia, rapidez, a este vasto leque de novas experiências, consumidos, corrompidos.
Tudo muito fácil, acessível; mas responde com a mesma moeda - muito fácil de acabar com tudo também.
Os segredos mais podres, a intimidade exposta.
Não é difícil de imaginar que se todo o planeta decidisse jogar esta "brincadeira", o Mundo estaria em guerra.
Paterson
3.9 353 Assista AgoraSÃO FILMES COMO PATERSON que me fazem amar o CINEMA INDIE.
A beleza, a simplicidade, a humanidade que este filme envolve... é um ENCANTO. E é incrível como o JIM JARMUSCH, um cineasta a investigar, com certeza, consegue fazer tanto com tão pouco... um enredo SINGELO que abre portas para uma experiência IMENSAMENTE ALICIANTE - acompanhamos uma semana de um condutor de autocarro que escreve poesia. É isto. E o resultado é um DELEITE CINEMATOGRÁFICO.
PATERSON é um prazer em muitos sentidos:
A performance do Adam Driver é PERFEITA.
A Golshifteh Farahani é FANTÁSTICA.
O cão é ADORÁVEL EM EXCESSO.
A construção de cada personagem é FASCINANTE.
A dita poesia é FORMIDÁVEL.
A rotina, o humor, as conversas no autocarro, o bar, a decoração da casa a preto e branco, a ideia dos(as) gémeos(as), o Lou Costello, a fotografia, enfim...
ESTOU NA GALÁXIA.
Você Nunca Esteve Realmente Aqui
3.6 521 Assista AgoraCINEMA GLORIOSO.
Este filme simplesmente reuniu TODO O POTENCIAL DA GALÁXIA. A LYNNE RAMSAY é uma cineasta abençoada pelos DEUSES DA SÉTIMA ARTE e o JOAQUIN PHOENIX é um TITÃ na arte de atuar... estes dois artistas brilhantes ofereceram ao mundo um THRILLER HIPNOTIZANTE.
Esta assombrosa obra é muito mais que uma história de crime... é um complexo estudo sobre uma mente atormentada... uma VIAGEM ATERRORIZANTE repleta de momentos surpreendentes...
O que é REALIDADE? O que é SONHO?
Distorção.
A banda sonora... JONNY GREENWOOD, um criador egrégio... PURA ELETRICIDADE MUSICAL.
Este filme, o TAXI DRIVER e o DRIVE formam uma trilogia imperdível sobre três homens com passados negros... mas que estão condenados a um presente violento.
Trama Fantasma
3.7 804 Assista AgoraSUBLIME.
Que posso eu dizer depois disto?
O PAUL THOMAS ANDERSON é um DEUS DO CINEMA. Ele é simplesmente BRUTALMENTE VERSÁTIL. A cada novo filme, surge diante de nós uma aventura completamente diferente... uma jornada cinematográfica única... nada se repete.
PHANTOM THREAD é sobre roupa, tecido, linhas, o ATO DE COSER. Este filme foi COSIDO... meticulosamente cosido... elaborado com um cuidado extremo... tudo é perfeito, preciso. Cada som, cada expressão, cada palavra proferida pelos personagens... tudo tem um significado profundo - e, mais uma vez, o Oscar vai ser negado a um verdadeiro mestre... tudo isto é um autêntico ESPLENDOR ARTÍSTICO.
O DANIEL DAY-LEWIS, o nosso Rei, ofereceu-nos mais um desempenho emblemático, imortal; com a sua incrível habilidade, ele conseguiu interpretar um sujeito arrogante, autoritário, perfecionista e chato com pura ELETRICIDADE.
E a VICKY KRIEPS brilha como uma jovem que, à primeira vista, parece ser ingénua... mas a máscara cai... e podem crer que ela é observadora, forte e inteligente.
Enfim... não sei o que dizer mais... que filme... um CLÁSSICO.
AH, one more thing: JONNY GREENWOOD, Deus abençoe este homem.
Quando Se Tem 17 Anos
3.8 72Não é propriamente uma lufada de ar fresco dentro do cinema queer, mas é definitivamente um bom filme sobre antagonismos, guerras. A tensão entre os dois personagens principais é incrivelmente envolvente e palpável. É o melhor aspeto da obra, seguido do excelente desempenho da Sandrine Kiberlain.
Previsível e sem surpresas. Em compensação, profundo e humano.
A Melhor Escolha
3.4 101 Assista AgoraEM 2017, o RICHARD LINKLATER lançou um filme que ninguém viu.
Uma obra que, infelizmente, está a ser esquecida não só pela AWARD SEASON como também - e mais grave que tudo - pela maioria dos filmgoers.
Porventura, decidi distanciar-me por um breve instante dos "callmebyyournames" e dos "threebillboards" do momento para visualizar Last Flag Flying.
Minha gente...
Este filme é MUITO BOM. Fiquei colado ao ecrã.
Fãs dos "cozinhados" linklaterianos têm aqui uma refeição DELICIOSA. A história é simplíssima, sem grandes surpresas.
O que está aqui em jogo: bons diálogos e bons personagens.
Três veteranos do Vietname, um conflito triangular: temos o homem a lidar com um forte sentimento de perda (Steve Carell, fantástico), o devoto a Deus (Laurence Fishburne, fabuloso) e o amigo da bebida (Bryan Cranston rouba a cena). E eles falam, falam e falam...
E o resultado? Puro cinema.
A Forma da Água
3.9 2,7KA água é essencial,
o amor é eterno.
Artista do Desastre
3.8 554 Assista AgoraE... pronto.
Que facilidade, James Franco.
Que rapidez.
Tão simples.
Assim... de um momento para o outro.
Velocidade de uma bala.
É este... é este o filme do ano. Pronto. O MELHOR FILME DE 2017. Está decidido.
Bom, ainda não vi tudo do ano passado... provavelmente ainda posso mudar de opinião.
Mas será muito difícil.
A melhor comédia do ano? Isso é (quase) garantido.
O melhor desempenho do ano? Dos que vi até agora, certamente. (Veremos se o Daniel Day-Lewis muda isso.)
Melhor argumento? Ui, não sei... mas os diálogos deste filme são fantásticos... está repleto de deixas hilariantes!
A questão aqui é a seguinte: o James Franco é um génio. Ele é um "faz-tudo" magnífico. O tipo é um crânio. E ele, mais uma vez, deixou-me sem palavras. Ele viveu o Tommy Wiseau... assim como o Jim Carrey viveu o Andy Kaufman no Man on the Moon (1999)... e não, não é exagero comparar estas duas interpretações.
E palmas para o Dave Franco também... que performance!
THE DISASTER ARTIST é um grande filme sobre filmes... Além do mais, é puro entretenimento... é engraçado, humano, profundo, dramático... é um retrato brilhante sobre um artista único e a sua obra-prima... o processo de criar é doloroso... e esta metragem explora isso de uma maneira soberba...
EU AMEI ESTE FILME. Só me desiludiu verdadeiramente com uma coisa: é demasiado curto.
Afinal de contas, quando sentimos que a experiência soube a pouco... é sinal que vimos algo especial, grandioso.
Eu, Tonya
4.1 1,4K Assista AgoraGRANDE!
A MARGOT ROBBIE está uma BOMBA... que performance NUCLEAR... ela é este filme! Se ela não for nomeada para os ÓSCARES, o UNIVERSO e as suas ESTRELAS deixarão de fazer sentido... os morangos passarão a ser azuis e os elefantes começarão a miar...
Tudo isto porque o CRAIG GILLESPIE é um exímio realizador de atores... estamos a falar do sujeito que fez o LARS AND THE REAL GIRL...
I, TONYA não chega ao nível dessa maravilhosa obra... de qualquer maneira, esta fita não deve ser perdida... Biografias podem ser dolorosamente aborrecidas... felizmente, este filme foi abençoado pela mesma ULTRA-ENERGIA de metragens como The Wolf of Wall Street, I Love You Phillip Morris e Bernie... com isto quero dizer que esta película é EXPLOSIVA... a montagem está repleta de momentos inspiradores, a quarta parede é constantemente quebrada, o trabalho de câmera é louco...
LEIA-SE: o filme JAMAIS fica chato.
Me Chame Pelo Seu Nome
4.1 2,6K Assista AgoraBELÍSSIMO.
Acabei de o ver... o CORAÇÃO é uma coisa tão frágil, não é? O AMOR é uma forma de expressão universal... a admiração é algo tão poderoso...
Um AMOR DE VERÃO pode marcar para toda a VIDA. Este é um filme maravilhoso sobre a descoberta da sexualidade... sobre a procura da nossa IDENTIDADE através da identidade de OUTRA PESSOA... ao fim e ao cabo, quando se ama uma pessoa, "construímos" uma parte dessa pessoa... e essa pessoa "constrói" uma parte de nós...
CALL ME BY YOUR NAME é, em suma, um hino à pureza do AMOR... é um filme INCRIVELMENTE humano, verdadeiro...
Não importa quem tu és para os outros... o coração, o corpo é teu...
SÊ TU PRÓPRIO.
Feliz por saber que este filme está a receber o reconhecimento que merece.
TIMOTHÉE CHALAMET e ARMIE HAMMER estão em PERFEITA sintonia... desempenhos colossais...
Perfect Blue
4.3 815Impossível processar esta hora e vinte de uma só vez. Este filme é um marco retumbante dentro do panorama das animações japonesas. Satoshi Kon realizou com brilhantismo um retrato assustador sobre a perda de identidade e a obsessão. Por vezes, a banda sonora parece cantar aos espíritos.
Darren Aronofsky bebeu muito daqui. Plágio? A meu ver, não. Uma forte influência? Certamente.
Indispensável para os fãs do género.
Mãe!
4.0 3,9K Assista AgoraA personagem da Jennifer Lawrence representa a audiência, o senso comum...
NINGUÉM estava à espera disto... ninguém estava preparado.
Hoje em dia é muito difícil chocar audiências. Afinal de contas, já não estamos nos anos 1970; nessa altura, escandalizar o povinho era uma tarefa muito mais simples... Stanley Kubrick (A Clockwork Orange) e William Friedkin (The Exorcist) que o digam... Atualmente, já se viu de tudo e mais alguma coisa.
No entanto, não são todos que conseguem ser génios como DARREN ARONOFSKY, um cineasta incapaz de deixar as nossas pobre almas tranquilas... um cineasta que é um verdadeiro mestre na construção do suspense das suas histórias e na elaboração de atmosferas caóticas.
A verdade é que qualquer um consegue fazer uma fitinha de terror tendo como set uma mansão sinistra... mas será que são todos que conseguem perturbar? Com mother!, Aronofsky não só cria uma experiência brutalmente inquietante e extremamente claustrofóbica assim como apresenta um filme que, além de elevar o conceito de INVASÃO DE PRIVACIDADE à enésima potência, trata da ideia de que um artista é um deus sobre a sua obra e sobre aqueles que o admiram... a ideia da CRIAÇÃO está toda aqui... o ser humano não consegue ficar quieto num só espaço... somos a espécie do caos... tomamos posse da natureza e destruímo-la... o mundo é o PARAÍSO e nós somos o INFERNO.
Enfim, temos aqui o filme mais explosivo e desconcertante do Aronofsky. É possivelmente, também, o filme norte-americano mais controverso e mind-blowing do ano.
Grandes filmes de terror não são aqueles que só assustam e provocam no momento. Grandes filmes de terror mexem com a cabeça da audiência através da sua ambiguidade e complexidade, sendo sujeitos a várias análises sob diversos pontos de vista ao longo dos anos.
mother! é um desses casos. mother! é uma obra-prima contemporânea.
Aronofsky sufoca. Não conseguimos respirar.
PS: a melhor performance da Jennifer Lawrence?
Jim & Andy: The Great Beyond
4.2 162 Assista AgoraEi-lo... o documentário do ano, a meu ver. E afirmo isto, porque já tenho a certeza absoluta de que nada será capaz de superar esta experiência.
É quase uma questão pessoal, para mim... A performance do Jim Carrey como Andy Kaufman no magnífico filme Man on the Moon (1999) mudou-me. Foi demasiado marcante e ela está constantemente presente na minha cabeça desde que visualizei essa obra-prima (que, por sinal, é pouco reconhecida. E dou uma intensa salva de palmas à Netflix por ter a coragem de dedicar um documentário a esse belo pedaço de cinema puro!). Honestamente, acho que essa representação é uma das melhores da HISTÓRIA DO CINEMA. Ponto final.
Durante toda a produção de Man on the Moon, Jim Carrey simplesmente não estava no Planeta Terra. Jim Carrey foi Andy Kaufman (e Tony Clifton); física e psicologicamente. A barreira entre realidade e cinema não existia para ele.
Jim & Andy mostra imagens de arquivo filmadas na rodagem de Man on the Moon. Descobrimos que, lá, surgiram dois filmes: antes do “Ação!” houve um e depois desse grito houve outro... de certa maneira, eram iguais... e, ao mesmo tempo, não o eram.
Acredito que, para quem ambiciona ser ator, este documentário seja uma imensa FONTE DE INSPIRAÇÃO (se o filme já o era, imaginem este registo...). A performance do Jim Carrey como Andy Kaufman é uma belíssima aula de como reencarnar uma pessoa real.
No entanto, será mesmo uma "performance"? Não será, de facto, uma "reencarnação"?
Nem sei... na verdade, antes dizia que "o Jim Carrey viveu o Andy Kaufman" como um reforço enaltecedor da minha admiração pelo trabalho do ator na fita em questão.
Agora, depois de ver este documentário, acho que isso passou a ser um facto.
Suspiria
3.8 981 Assista AgoraAcabei de chegar a casa. Fui a uma mostra de cinema italiano ver este Suspiria. Têm consciência do que é ver este filme no grande ecrã? Bom, talvez alguns de vocês. Mas posso dizer que tive sorte ao esperar pelo momento certo para ver esta popular obra de Dario Argento. Arrastar a coisa acabou por ser algo positivo. Pois é incontestável que, em termos estéticos, esta fita é soberba; a fotografia e a decoração é de ficar de queixo caído; as cores vibrantes, especialmente o vermelho, parecem, além de alertar ao perigo e à violência, consumir a audiência. Agora compreendo o porquê dele ter sido tão mencionado aquando o lançado do The Neon Demon.
Suspiria vê na figura da sua protagonista um símbolo de fragilidade e do desconhecimento que partilha com o própria espectador, e no balé uma forma de expressão artística inocente, pura e bela. Mas Argento quebra esse espírito e um sangrento bailado das trevas dá lugar. Esse intenso florescer define a essência da obra; há cenas perturbadoras e fortemente aterrorizantes.
Porém, esta é uma longa que está longe de ser perfeita. Os diálogos são um problema. Expositivos da forma mais artificial possível; bastante fracos por natureza, preguiçosos. E, à exceção da Jessica Harper como a personagem principal, as interpretações são tão rascas que chegam a ser risíveis. Além disso, o desenvolvimento do mistério torna-se maçante e, no final de contas, pouco relevante. Aliás, os caminhos mais fáceis são escolhidos para o desenlace da história.
Apesar de tudo, Suspiria foi uma formidável experiência e um valente acicate para investigar o cinema de Argento. Extremamente influente, clássico nalgumas cenas e visualmente marcante.
Paranoid Park
3.6 324"Anything about the war?"
O melhor filme que eu vi do Gus Van Sant. Recordou-me o recente Moonlight, na medida que é um retrato magnético feito predominantemente de silêncios. A estética é poderosa e livre; a câmera está da maneira que achar melhor; filma o que quer e o que não quer, por quanto tempo lhe apetecer, do modo que quer. O argumento fascina-me, sobretudo na maneira como está estruturado; faz-me pensar na magia do cinema e como a exposição muda a nossa percepção; cenas repetem-se, mas sentimos coisas diferentes cada vez que as visualizamos. O Gabe Nevins é formidável; pena não termos muitos mais filmes com ele.
Sobre a essência de Paranoid Park ainda sinto-me um pouco confuso. Já sei que esta obra ficará na minha cabeça durante dias. A rever no futuro.
Logan
4.3 2,6K Assista AgoraLOGAN é, a meu ver, uma obra-prima.
JAMES MANGOLD, um cineasta que nunca me havia apresentado um grande filme, transcende expectativas e faz par com Christopher Nolan como os verdadeiros espíritos capazes de quebrar barreiras e olhar para novos horizontes para um género que por vezes só se limita a contar a sua história.
THE DARK KNIGHT não é só um filme de super-heróis. THE DARK KNIGHT é o HEAT do século XXI, um policial brilhante e primoroso, um estudo de uma mente que nutre em si a destrutiva e aterrorizante ideia do mal absoluto. É o grande título da DC.
LOGAN foi abençoado por esse mesmo poder; ele está anos-luz de distância de ser apenas um blockbuster sobre mutantes. LOGAN é um drama existencialista de um homem perdido, gasto, velho, seco, num constante confronto com o aflorar dos seus sentimentos; é também um valente filme de ação artístico e marcante. É o grande título da Marvel. Só pode ser.
Já que a Academia diz estar a dirigir-se para uma apreciação mais jovem e mente aberta, então devia de se lembrar na próxima edição de LOGAN e mudar ainda mais os paradigmas e as considerações sobre os grandes sucessos de bilheteira. Não só palmear, portanto, as categorias técnicas, mas também as principais; Melhor Filme, Melhor Realização, Melhor Ator Principal (Hugh Jackman arrepia com a sua transformação física e até psicológica).
Sem exageros. Porque, sim, LOGAN é, certamente, uma das MAIORES ELEVAÇÕES CINEMATOGRÁFICAS DESTE ANO.
Um Peixe Chamado Wanda
3.5 169 Assista AgoraGrande comédia criminal... passou a ser uma das minhas favoritas dentro do género. É uma obra que reúne malta genial e o resultado é hilariante do princípio ao fim... Não há momentos mornos aqui... é tudo requintado, um verdadeiro provocador de risos sempre operacional. O elenco está perfeito; constroem personagens memoráveis, excêntricos, tão bons que, no final do filme, percebemos que até soube a pouco... John Cleese, Jamie Lee Curtis, Kevin Kline, Michael Palin... todos estão em perfeita sintonia, no seu melhor... e o argumento do John Cleese é "top-notch".
Adoro este filme. Daqueles que vou rever imensas vezes ao longo da vida, com certeza.
True Lies
3.5 437ALGUNS CINEASTAS SIMPLESMENTE ENTRAM EM MODO TARKOVSKY.
Bom, no caso de James Cameron, ele não se expressa livremente através do contacto existente entre o espírito humano e a pureza da natureza como o realizador russo fazia, mas sim através da AÇÃO, e é através dela que Cameron consegue reconhecer a sua identidade como real artista, numa relação tão genuína entre pintor e tela branca...
JAMES CAMERON é um poeta da explosão, e em TRUE LIES ele está no ápice da sua inspiração e glória. Uma obra que não reconhece, e não faz questão de reconhecer, os seus limites... Tudo é possível, como uma overdose bombástica... E o mágico de tudo é que ela nunca se leva realmente a sério, abraçando, por isso, o seu principal objetivo com uma força imensa... ENTRETER O PESSOAL À BRAVA!
A escala que este filme atinge é absurda... e quando pensamos que o espetáculo terminou... a orquestra retorna mais intensa, barulhenta e violenta.
RESULTADO: um dos filmes mais poéticos que vi nos últimos tempos...
Cantando na Chuva
4.4 1,1K Assista AgoraSerá Singin’ in the Rain mais um típico musical romântico dos anos 1950 no meio de tantos?
NÃO. Acho que não.
Acho que, na verdade, temos aqui um dos filmes mais EXPLOSIVOS de todos os tempos... Um espetáculo de sensações, emoções fortes, cores vibrantes, uma obra-prima que GRITA...
Quero dizer, os musicais sempre são assim, GRITANTES. Mas este vai além disso... este BRADA! E brada tanto, que fica rouco; no sentido que é um musical que olha para o Cinema como algo sem limites, sem barreiras, no qual tudo é possível; criar sonhos, viver sonhos... Por exemplo, tem uma cena neste filme em que o protagonista interpretado pelo Gene Kelly imagina uma sequência cinematográfica perfeita para o seu filme (dentro deste filme)... Depois do personagem parar com os devaneios, o seu produtor diz-lhe algo deste género "Sim, sim, tudo isso é muito bonito, mas quero ver isso tudo é na prática!" E é nesta resposta inserida na metalinguagem do filme que, de facto, percebemos que, SIM, no Cinema tudo é possível... porque o filme dentro do filme dentro do filme dentro do filme dentro do filme dentro do filme dentro do filme dentro do filme conseguiu realizar aquilo que nasceu na cabeça de um artista de Hollywood a sonhar.
Termos simples: Singin’ in the Rain é Hollywood a interpretar... Hollywood, e, portanto, é Cinema a querer fazer Cinema. O resultado é um clássico pertencente ao rei do género Musical.
PS: Aquele final é ÉPICO!
A Criada
4.4 1,3K Assista AgoraPrimor cinematográfico. Escolham qualquer aspeto que faz de um filme um filme. Realização? Argumento? Elenco? Montagem? Fotografia? Música? Design de produção? Guarda-roupa? Simplesmente escolham. Qualquer um.
Depois, vejam The Handmaiden e foquem-se principalmente no aspeto que selecionaram.
Sabem o que provavelmente concluirão? Concluirão que, independentemente daquilo que procuraram analisar com mais cuidado, o filme é uma obra-prima nesse aspeto.
Sim, The Handmaiden é um desses filmes. E além de aparência, tem também uma natureza muito profunda. Personagens que, ao desnudarem supostamente as suas verdadeiras personalidades, revelam possuir mais máscaras. Máscaras dentro de máscaras dentro de máscaras. Um filme que abraça a estrutura narrativa não-linear de modo a reforçar a sua complexidade. Cenas repetem-se. Mas quando se repetem, o sentimento da audiência é sempre diferente comparado à primeira visualização. Mágico.
O Som ao Redor
3.8 1,1K Assista AgoraEis um filme-mosaico singular, isto porque além de se agarrar às típicas e famosas ideias do género, de representar "a-vida-tal-como-ela-é" (vertente naturalista/realista que tanto caracterizou o cinema do Altman, apesar da presença daquele toque comicamente irónico próprio dele) e do "Brasil-acontecendo", este também é um filme que não resiste à invasão de um espírito lynchiano, de modo a reforçar o seu comentário através de inesperados(as) simbolismos/metáforas (como a cena do banho de sangue ou da ida ao cinema que já não é cinema, mas que é cinema). E isto tudo são aspetos que se tornam por vezes louváveis graças à excelente realização. O trabalho de câmera evidencia um cuidado absoluto.
O argumento é certamente algo a destacar também: o curioso do cineasta Kleber Mendonça Filho (pelo menos, nesta sua obra) é que ele não se apega aos convencionalismos quanto à criação de um guião "bem arranjadinho", fechadinho, narrativamente correto, já que aqui ele define vários personagens e consequentes subtramas, para depois deixar tudo em aberto, propositalmente inconcluso (basta ver a cena da reunião de condomínio).
(Máxima atenção também ao som: ter visto esta metragem no cinema teria sido incrível nesse aspeto.)
Mas acho difícil colocar este filme na minha lista de favoritos. Houve momentos que a única coisa que conseguia sentir era um simples vazio e, no final, percebi que, a obra como um todo, pouco impacto teve em mim. Honestamente, não me vejo a revisitá-la algum dia.
Videodrome: A Síndrome do Vídeo
3.7 546 Assista AgoraDAVID CRONENBERG é um verdadeiro auteur e VIDEODROME é uma das suas obras-primas. Imagens chocantes e ultra-violentas bombardeiam o ecrã como explosivas designações da mente negativamente reeducada do protagonista...
UM ASSALTO AOS MIOLOS - uma previsão dos tempos atuais, o sensacionalismo, a violência no vídeo, no ecrã...
Uma experiência venenosa... UM FILME TÓXICO!
O que é o VIDEODROME?
Os GRITOS constantemente televisionados?
Uma das formais mais brutais de lavagem cerebral?
A alucinação indireta dos media?
O personagem principal vive o seu próprio VIDEODROME...
David Cronenberg faz questão que vivamos o nosso próprio VIDEODROME sobre o disfarce do filme... VIDEODROME.
Até o Último Homem
4.2 2,0K Assista AgoraSegunda visualização. A experiência ainda foi mais aterrorizante.
O brado dos homens, o grande desespero, o fogo dos atiradores, explosões, a bárbara divisão, intensas saudades de casa, vida, num piscar de olhos, a morte, um horrível campo de batalha, corpos, meios-corpos, sangue na terra, terra no sangue, faces queimadas, cabeças decapitadas, vísceras expostas, a violência é pura e simplesmente inevitável, primeiro, vem o medo, depois, a mente fica em caos, a autêntica desordem. Como pode alguém sobreviver a isto sem carregar uma arma consigo?
Bem, parece que Desmond Doss (Garfield), durante a Segunda Guerra Mundial, fez exatamente isso. Rapaz agarrado às suas crenças, Doss disse que não, não vou pra guerra matar, vou salvar vidas, recuso-me, arrisco-me ir pro campo de batalha, mas pra reduzir o número de mortos, não pra aumentá-lo.
Ladies and gentlemen, esta é a incrível história verídica da obra mais recente do Mel Gibson. O resultado é um dos melhores filmes de guerra dos últimos anos - um relato brutal sobre a forte coragem de um verdadeiro herói.
Jumanji
3.7 1,5K Assista AgoraRobin Williams era para toda a família; tinha sempre uma presença especial, praticamente mágica. Em Jumanji não foi diferente - sempre genial na sua performance física, sempre bastante expressivo. E era um ator que sempre conseguia dar uma humanidade aos personagens que interpretava, uma certa substância, profundidade - aqui "vive" uma criança-homem que segue a Lei da Selva, perdido no tempo, no mundo novo, nostálgico, carregando uma certa infelicidade sentida devido à distância, às marcas negras da infância, de uma educação irritantemente aristocrática, baseada na voz rígida paternal, a do "enfrenta! enfrenta, sozinho, porque a vida é assim!".
Assim era Robin Williams, personalidade que agrupou memórias na mente de tantas crianças; tornava dalguma forma ainda mais fascinantes os filmes no qual entrava - ficavam mais completos e vivos. Jumanji é um desses casos; só encontra a sua verdadeira "força" quando Williams surge; tudo fica mais divertido, toda a macacada, toda a aventura é mais selvagem, toda a ação é mais excitante, todo o terror é mais sentido - imensos morcegos saem de uma lareira, animais desembestados (elefantes, rinocerontes, zebras) invadem a cidade como um tremor de terra, macacos conduzem motas da polícia, um explorador destrutivo persegue os heróis.
É uma bandeja recheada de diversão, nada mais, nada menos. Foi o que Joe Johnston quis fazer aqui: um conjunto de acontecimentos aleatórios para animar toda a família.
Funciona, claro. É um filme da infância.
Já se quiserem ver o real valor artísitico deste cineasta, vejam o excelente (e subestimado) October Sky. Essa é uma obra que toca todas as gerações.
Perfeitos Desconhecidos
4.2 99 Assista AgoraO poder transformador dos telemóveis nas nossas vidas. Sim, parece que afinal essas caixinhas pretas (ou brancas, ou cinzentas, ou seja lá que cor quiserem) podem destruir vidas; nem que seja por causa de um pequeníssimo SMS, com poucas palavras.
A mensagem provocativa de Paolo Genovese é óbvia: somos frágeis, facilmente atraídos, agarrados a esta eficácia, rapidez, a este vasto leque de novas experiências, consumidos, corrompidos.
Tudo muito fácil, acessível; mas responde com a mesma moeda - muito fácil de acabar com tudo também.
Os segredos mais podres, a intimidade exposta.
Não é difícil de imaginar que se todo o planeta decidisse jogar esta "brincadeira", o Mundo estaria em guerra.
Assustador, não é?