Gosto do charme do George Clooney. O tipo tem piada, estilo. Mas em "Intolerable Cruelty" essa sua "elegância" é testada até aos limites por uma mulher fatal, trapaceira e que fará de tudo para o tramar.
"Intolerable Cruelty" não é uma má comédia romântica. Quero dizer, é divertida. No entanto, sendo realizada pelos irmãos Coen, espera-se sempre muito mais. Ao contrário dos seus outros filmes, esta é uma mirabolante e incoerente história de amor, traição e crime, que não se organiza da melhor forma e mistura demasiados elementos sem saber onde quer chegar exatamente.
Na verdade, o guião foi escrito a 5 mãos. Caso geral: isso não é bom sinal.
Será essa uma justificação sólida para o insucesso deste filme? Não sei. Mesmo assim, "Intolerable Cruelty" não deixa de ser engraçado, simpático e até intrigante.
No seu lançamento, "The Shining" desenvolveu uma sensação de controvérsia, que atingiu tanto as diferentes audiências como a crítica especializada. Esta última permaneceu duvidosa, sem saber o que dizer do filme. Numa primeira visão, muitos não gostaram, porém, inevitavelmente, aquilo que presenciaram na sala escura, nunca mais saiu das suas cabeças. Porque creio que seja impossível ficar indiferente após ver "The Shining". Mesmo pensando que não gostamos da experiência, ela ficará nas nossas mentes dias e dias até, quem sabe, admitirmos que a adoramos.
Falo por experiência própria. Na primeira vez que visualizei "The Shining", perguntei a mim mesmo se havia gostado dele ou não. Depois de um tempo de reflexão, um bocado desprendido da minha afirmação, acabei por dizer: "é apenas um filme de terror ambíguo". Estava completamente enganado. O filme morou no meu pensamento até me obrigar a dizer da boca para fora: "É uma obra-prima absoluta!"
Hoje em dia, rever "The Shining" faz-me perceber de que a sua magia está mesmo nesse facto. Porque ele é uma fita que marca uma nova era do cinema de Terror. E para isso, barreiras tiveram de ser destruídas, e um novo horizonte criou-se com maiores possibilidades para o género.
E para este marco único ocorrer com sucesso, o projecto tinha de estar nas mãos de um mestre do seu ofício. O lendário Stanley Kubrick realiza uma experiência psicologicamente perturbadora, numa fita sobre a loucura e o isolamento. Filmado com perfeição, travellings e planos-sequência percorrem o sinistro através de corredores misteriosos. O cenário labiríntico, junto com o jogo das cores e da geometria que Kubrick recorre para distrair o espectador, provoca uma sensação absolutamente terrificante.
Jack Nicholson propaga todo o desarranjo mental de Jack Torrance, assumindo o papel com brilhantismo.
Cenas inesquecíveis, uma realização magistral e uma atmosfera psicologicamente pesada, fazem de "The Shining" um dos filmes de Terror mais marcantes de sempre.
O cineasta de culto Nicolas Winding Refn assinou aqui o seu filme mais metafísico, espiritual e aberto. Com um trabalho de realização apaixonante, "Valhalla Rising" é um desafio obscuro e penetrante, reforçado pela sua atmosfera e visuais arrebatadores.
Tal como na obra de Tarkovsky, o poder da natureza interage e reage com a alma dos homens. As forças que obram no planeta Terra formam todo um clima intenso.
No caso de "Valhalla Rising", a misteriosa ilha das trevas desenvolve o ambiente sombrio e habitual do estilo autoral de Refn. E isto acompanhado com um silêncio arrepiante, em especial por parte da interpretação forte e sobrenatural do Mads Mikkelsen (que não profere nenhuma palavra durante todo o filme).
"Valhalla Rising" é mais uma obra de arte incompreendida de Winding Refn.
A segunda parceria de Jason Reitman com a guionista Diablo Cody apresenta a fábula de uma mulher perdida no rumo da vida, que nunca se esqueceu do seu verdadeiro amor, em decadência profissional e que se mostra ser incapaz de sair do seu "eu" jovem.
O filho do Ivan Reitman sempre foi um realizador de actores muito bom, e nesta comédia dramática de 2011 ele também não falhou quanto nisso. O desempenho da talentosa Charlize Theron é profundamente convincente, sendo que ela encarna a alma da personagem de uma forma surpreendente.
E não há intérprete que falhe na sua performance aqui. E esse facto é a grande marca de Jason Reitman (ex: ano passado, em "Men, Women & Children", provou que Adam Sandler é capaz de fazer um trabalho de qualidade; [se bem que isso já tinha sido provado na obra-prima "Punch-Drunk Love", do mestre Paul Thomas Anderson]).
"Young Adult" é uma comédia com momentos inteligentes, boas personagens e que aborda um tema sério tal como todos os filmes do seu realizador.
É sempre curioso ver a primeira longa-metragem de um realizador. O talento, a perspicácia profissional, a maneira escolhida para contar a história e as suas distinções como artista são grande parte evidenciadas verdadeiramente na sua obra inicial. E, meu, este tal John Maclean é um sacana dos bons.
Inteligente e equilibrado, "Slow West" é um western contemporâneo notável com uma realização hábil e uma composição visual extremamente relevante, com bonitos contrastes de cor. A violência faz parte do clima do filme: ambientação inesperadamente agressiva, mas nunca pesada. A cinematografia é quase surrealista.
Um estudo de personagens ótimo, favorecido pelas excelentes performances dos actores, salientando o protagonismo de Kodi Smit-McPhee e o desempenho do aclamado Michael Fassbender. Vale a pena dizer que a amizade de ambos é muito bem construída.
"Slow West" é claramente uma boa fita do princípio ao fim, fotografada com beleza, bem realizada e escrita e com desempenhos gerais formidáveis. Um filme que veio aclamar um novo autor cinematográfico, que valerá a pena estar atento - John Maclean.
Que prazer foi ver "O Brother, Where Art Thou?"! Que comédia bri-lhan-te!
Recheado de referências à epopeia clássica "Odisseia", de Homero, "O Brother, Where Art Thou?" é a aventura de três fugitivos em busca de um tesouro. No percurso, muitos disparates e reviravoltas espantosas ocorrem e personagens excêntricos aparecem. Um conto mirabolante e sensacional!
Fotografado com perfeição pelo genial Roger Deakins, "O Brother, Where Art Thou?" apresenta um dos trabalhos de fotografia mais belos da história do cinema. Cada imagem que a câmera capta é arte pura. Como se não bastasse ter um enredo extraordinário, a fita ainda tinha de ser "pintada" com brilhantismo.
Tudo se conjuga de uma forma certeira, contando ainda com performances cómicas excepcionais por parte de Clooney, Turturro e Blake Nelson bem como um trabalho de realização admirável.
Se há coisa que os irmãos Coen sabem fazer como mestres é criar filmes que se equilibram perfeitamente com a comédia e a drama. Eles conhecem a magia que faz com que os seus visualizadores entram na trama com sobriedade, mas que igualmente dá lugar a uma ironia que fará sorrisos se expressarem.
Na maioria das vezes, tal processo cómico é recorrido com tanta inteligência que faz refletir sobre a principal essência da obra, criticando o meio social de forma curiosa. Ao fim e ao cabo, o recurso humorístico utilizado por estes dois cineastas contemporâneos não é apenas acessório mas também é ele que os marca como artistas únicos. E vamos admitir que é sempre uma delícia conhecer as histórias que eles têm para nos contar.
"A Serious Man" é um bom exemplo dessa harmonia de géneros. Trata-se de um retrato sobre um homem e a sua vida que parece estar a desabar-se. Nalguns momentos das nossas vidas, essa sensação acontece e, para o nosso conforto, começamos a procurar um significado apaziguador perante a situação, muitas vezes através das nossas crenças.
E "A Serious Man" é exatamente sobre isso. Sobre um homem comum, sério (interpretado excelentemente pelo Michael Stuhlbarg), que seguia estritamente as regras como "bom cidadão". No entanto, problemas começam a surgir de forma violenta na sua vida.
E com isto, a que conclusão chegamos? Não há humano no mundo que não tenha problemas, por mais certo que ele seja. E temos de ficar conformados com isso. E quando um problema acaba, vem outro. É sempre assim. Ninguém está livre. Aliás, o final diz-nos isso perfeitamente.
Mal recebido no Festival de Cannes, tendo recebido uma apreciação crítica geral bastante negativa, o que levou à Warner Bros. tirar o filme do grande circuito comercial, posso afirmar que a película de estreia de Ryan Gosling como cineasta é uma obra mal compreendida.
Posso estar equivocado, mas creio que, com o passar dos anos, "Lost River" pode vir a tornar-se um filme de culto e uma pequeno grupo de fãs analisará muito bem o que Gosling quis aqui dizer. Porque, não, isto não se trata de uma fita apenas visual. Ná.
Cenário gótico junta-se ao bizarro e ao surrealismo cinematográfico + pitadas de erotismo e violência. Uma fábula de fantasia, num lugar devastador em que os seus personagens são estrangeiros da sua própria localidade. Todos eles com conflitos para resolver.
A câmera com enquadramentos subtis reforça o mistério desta experiência perturbadora.
Apesar do fracasso que teve com a crítica, seria bom ver mais vezes o nome de Ryan Gosling nos créditos "Written and directed by".
E "Lost River" é mais uma prova que David Lynch está a influenciar.
"Coherence" é um inteligente e complexo thriller de ficção-científica com um argumento muitíssimo bem escrito, uma realização ágil e um trabalho de actores bastante convincente.
Filmado inteiramente de câmera na mão num só espaço, este filme aplaudido em alguns festivais prenderá completamente o espectador durante uma boa hora e meia. E é desses filmes que eu gosto - o que está ao nosso redor deixa simplesmente de existir durante um determinado tempo.
E "Coherence" é entretenimento muito bem conseguido. Pairam questões sobre a nossa cabeça após a sua visualização. É definitivamente um ótimo filme.
"Fargo" é uma autêntica aula cinematográfica de como contar uma história. A trajetória por caminhos frios e incertos toma conta do visualizador de uma forma mágica e provocadora.
É com certeza, também, uma das obras mais perfeitas dos anos 90, já que "Fargo" é magistral em todos os aspectos.
A realização dos espetaculares irmãos Coen é mais do que eficaz. É brilhante. O guião é fenomenal. Muito provavelmente, "Fargo" é o melhor argumento que os dois cineastas já escreveram. Os diálogos são pura e simplesmente geniais.
Mas não acaba por aí. A edição coerente ajuda espetacularmente e a cinematografia capta imagens magníficas. Aliás, o recurso da neve é utilizado com inteligência e cria um clima bastante ameaçador. Sangue no branco...
Pitadas de humor negro e desempenhos fantásticos, nomeadamente de William H. Macy, Frances McDormand e Steve Buscemi, juntam-se neste festival do cinema policial
Autêntico estilo de vida de Hollywood são carros potentes, grandes mansões modernas, um estatuto social elevadíssimo e andar na moda com roupas de marcas caríssimas. Nesse clima de ostentação, muitos sonham e querem, e outros, já inseridos nesse modo de vida, ultrapassam os limites, pensando que podem fazer tudo o que quiserem.
Da autoria da mesma cineasta que nos trouxe a obra-prima "Lost in Translation", este filme baseado em factos verídicos pinta um ótimo quadro dessa geração interligada e alucinada pela vida das celebridades. A atmosfera aqui pretendida convence perfeitamente o telespectador e abre portas para entramos na onda do filme. "The Bling Ring" é a loucura do sonho americano na perspectiva de adolescentes mimados pela riqueza.
A Sofia Coppola aqui diferiu o andamento habitual das suas obras. O decorrer lento e contemplativo é substituído por um clima desvairado com muita música.
Algumas cenas tornam-se repetitivas (os assaltos), mas "The Bling Ring" não deixa de ser uma das melhores obras na filmografia de Sofia Coppola. O guião é bom e a realização ágil e experiente.
E muitos podem achar que "The Bling Ring" só se limita a mostrar "adolescentes mimados a fazer coisas de mimados". Porém, se nos aprofundarmos um pouco mais na sua essência, não será o filme uma crítica a isso mesmo?
Creio que a indústria cinematográfica não seja um negócio fácil para uma pessoa que opere nela equilibrar a sua vida profissional com a sua vida pessoal. No decorrer do processo de filmagens de um filme, toda a equipa envolvida tem de muitas vezes viajar para vários sítios, deixando família e casa para trás.
"Somewhere" é um bom retrato disso mesmo. E, claro, foi realizado e escrito por alguém que, de facto, imagino que viveu essa sensação de distância em termos parentais. Se notarmos bem, "Somewhere" pode ser a mensagem consciente da filha do grande cineasta Francis Ford Coppola. Começamos a questionar se, porventura, a personagem interpretada pela Elle Fanning faz referência a alguns momentos da infância de Sofia Coppola.
O desfecho acaba por ser bastante esclarecedor e otimista, mas não deixa de ser melancólico em toda a sua essência. Não há fama nem quaisquer luxos que consiga substituir o amor e a liberdade de se ser feliz.
Todavia, devido ao seu clima e decorrer, "Somewhere" é uma experiência cinematográfica por vezes vazia e tediosa. Provavelmente, tal progredir possa ser uma metáfora ao vazio sentido pelo protagonista, mas mesmo assim não é algo apreciável de todo para o espectador. A audiência começa a procurar intensidade no meio do vácuo.
Visualizem o filme de mente aberta e com paciência. Dessa forma, serão capazes de gostar da experiência.
Vencedor do prémio "Grand Prize of the Jury" no Festival de Cannes de 2005, "Broken Flowers" é uma comédia dramática sobre a procura esperançosa de um homem por um novo significado para continuar a viver. Também é um filme que trata da mudança que ocorre no progresso vital de cada ser.
Realizado e escrito com inteligência por Jim Jarmusch, "Broken Flowers" até apresenta um plano de enredo simples: um recém-solteiro recebe uma carta não assinada indicando que ele tem um filho de 19 anos. Ele inicia uma busca, batendo à porta de algumas mulheres com quem já teve um caso. Pronto. Temos aqui a premissa do nosso filme.
No entanto, Jarmusch abre horizontes e mostra muito mais do que isso. Um dos principais pontos que faz de "Broken Flowers" um filme mais profundo do que aparenta são as personagens que o protagonista dá de caras no decorrer da trama. Algumas são absurdamente engraçadas (fazendo referências sensacionais essencialmente a personagens da literatura), outras são complexas e até obscuras. Existe aqui um estudo e uma construção de personagens simplesmente fantástica.
E isto tudo com uma orientação de atores espetacular. O desempenho do Bill Murray é muitíssimo bom. O Murray não precisa de fazer qualquer expressão facial para percebermos o que o seu olhar cansado quer transmitir nos seus personagens (adoro-o!).
"Broken Flowers" é um filme reflexivo, muito bem realizado e escrito, com personagens impecáveis e memoráveis, uma banda sonora excelente e um desfecho brilhante.
"Half Nelson" é o primeiro trabalho que chegou às salas de cinema dos jovens parceiros Ryan Fleck e Anna Boden, que anos depois realizariam o totalmente inspirador "It's Kind of a Funny Story". Elogiados pela crítica, os dois cineastas lançarão este ano para os cinemas "Mississippi Grind", filme já reconhecido positivamente em alguns festivais. Será estrelado por Ryan Reynolds, Sienna Millers e Ben Mendelsohn.
Na minha opinião, eu acho que temos aqui dois bons cineastas contemporâneos. Para além de fazerem filmes autorais, eles produzem obras que têm sempre algo importante, apesar de escondido, para dizer, e acabam sempre por transmitir uma certa esperança e positividade no desfecho.
Agora, o que dizer sobre "Half Nelson"? Ryan Gosling recebe um devido conhecimento por procurar protagonizar em produções independentes, e em "Half Nelson" ele fez um desempenho tão bom que adquiriu uma nomeação para o Oscar. Ele incorpora o personagem de uma forma espetacularmente convincente. Com certeza, é um ator com um portefólio deveras curioso.
A história de "Half Nelson" gira em torno de dois personagens: o seu protagonista, um professor de história e treinador numa escola pública pobre de Brooklyn, e Drey, uma menina de 13 anos que descobre que o mesmo professor tem problemas com drogas. A química entre ambos é plenamente credível. As conversas que eles têm no decorrer da fita dão lugar a momentos bons e inteligentes.
Concluo dizendo que recomendo a visualização de "Half Nelson". Um bom filme do cinema independente norte-americano.
Descrever "A Clockwork Orange" seria enunciar que é um filme que sustenta uma previsão dos tempos vividos actualmente, uma forte crítica à burocracia política e social e uma visão comportamentalista sobre a animalesca natureza humana.
Baseando-se na perspectiva da obra literária de Anthony Burgess, Stanley Kubrick requer à subtileza a fim de colocar em prática um espelho que reflicta o nosso presente. Provavelmente, fora esse o motivo pelo qual o filme não recebeu as melhores críticas na altura do seu lançamento. Próprio público não compreendeu aquilo que estava a ser transmitido. Mas tudo fazia parte do plano extraordinário de Kubrick.
O facto é que a violência está aí a vaguear a cada local e momento que nos fixamos. Noticia-se incessantemente um novo acto agressivo, e acaba por tornar-se algo habitual nas nossas vidas.
Porém, donde provém o fruto humano para provocar tais brutalidades? As ciências psicopatológicas estão aí para procurar definir a origem do bem e do mal. Mas será que realmente podemos definir o que está certo ou errado, o bem ou o mal? Supostamente podemos chegar a um consenso proveniente do nosso senso comum. Contudo, temos o direito de diferir as escolhas e os caminhos que as pessoas tomam? Será correcto mudar o que está errado para alguém? Isso não é ser errado também?
Este é um dos temas principais tratados nesta longa-metragem de '71, e logo faz desenvolver algumas críticas à manipulação gananciosa e corrupta do governo e à sociedade contemporânea.
Transforma-se em algo absurdo e engraçado o que o filme trata. Acaba por fazer rir da nossa própria tristeza. A tentativa de acabar com o mal faz provocar mais mal. Um paradoxo sem finalidade.
A prestação do Malcolm McDowell é brilhante. Faz uma caracterização perfeita da juventude marginal actual, dependentes da droga para trazer satisfação pessoal. Leite vitaminado para ultra-violência. E com essa designação o actor entrega-nos um dos personagens mais emblemáticos do cinema. Alex DeLarge acaba por ser o fruto (laranja) mecanizado que será controlado para os ensaios da manipulação mental.
O filme expõe devidamente a dominação que a política exerce manhosamente sobre o povo, e evidencia que eles são capazes de tudo para atribuir uma credibilidade sobre as nossas cabeças. Têm o poder de controlar tudo. Verdade besta.
Alex encontra-se em mãos sujas e corruptas. O padre pode responder com inteligência argumentando acerca dos direitos humanos, mas o poder de argumentação da política jamais será vencido. O pior é que convence a maioria. A mão do ministro sai rapidamente do ombro de Alex, todavia a do padre estará sempre lá.
Ainda mais, a película enfatiza um perfeito retrato futurista de uma sociedade operária que se preocupa mais com as despesas da casa e as dívidas a serem pagas em vez de querer saber por onde andam os filhos.
Incrivelmente, "A Clockwork Orange" não é somente um filme que aborda alguns questionamentos/reflexões curiosos. "A Clockwork Orange" é cinema vivo e puro, do melhor que já se fez.
Recheado de cenas impressionantes, cores vivas e significados subentendidos. Uma verdadeira obra-prima artística de culto, repleto de electricidade e exuberância estilosa.
Uma obra cinematográfica impagável, que só podia ser da autoria de um realizador mais que genial.
"A Clockwork Orange" é o meu filme preferido, e receio que nenhum outro seja capaz de removê-lo dessa posição.
"Tonari no Totoro" é daqueles filmes que liberta o nosso espírito de criança, deixa-nos sorridentes após o seu término e comove a nossa alma em momentos perfeitos. Um pequeno grande conto emocionante, que encantará o nosso senso humano.
Bonito nos seus cenários, numa animação graciosa e colorida, com um ambiente tão livre que até chegamos a sentir a natureza fresca. Personagens que cria uma afeição profunda com o seu espectador. Uns nem falam, outros são engraçados, outros são carismáticos e libertos na ambientação. Uma obra belíssima sobre a liberdade humana que interage com a natureza.
E não há muito a dizer, porque este filme é tão simples e encantador, que não custa muito tratar dos seus temas. Quando somos crianças, muitas vezes tememos a aparição de criaturas sobrenaturais, muitas vezes imaginadas por nós mesmos. Mas aqui isso tudo é tratado de uma forma tão feliz e cuidada, que acontece o oposto. A criança cria amizade com criaturas sobrenaturais!
Belíssimo filme sobre a infância e a relação entre pais e filhos. Simples, emocionante e harmonioso.
O cineasta dinamarquês Nicolas Winding Refn chamou à atenção uma grande audiência distribuída mundialmente após o lançamento do seu vibrante "Drive", em 2011. Dois anos depois, ficou-se a saber que Refn iria trazer para as salas uma nova obra cinematográfica, igualmente protagonizada pelo astro Ryan Gosling. Expectativas altas foram criadas em volta do filme, mas, o que os fãs não estavam à espera, era que "Only God Forgives" era outra onda. Onda essa que pretende evidenciar a marca autoral do estilo de Refn.
Pelo menos quanto a mim, considero esta obra de Refn diferente em comparação a "Drive". A maior semelhança que podemos identificar é o personagem que Gosling aqui interpreta, onde a versatilidade não aclama muito. Tanto Julian como Driver são de poucas palavras, enigmáticos e carregados com pensamentos obscuros. Gosling não interpreta tão genialmente como o seu trabalho anterior com o realizador, porém, essa foi a maior parecença que consegui encontrar entre ambas as fitas.
A verdade é que, não podemos dizer que "Only God Forgives" teve as melhores críticas. Nem o próprio Rotten Tomatoes, avaliado sob a consideração de vários críticos de cinema, conseguiu alcançar boa pontuação. Levou 40%, com um "Average Rating" de 5,1/10, o que acabou por me surpreender um bocado.
Sob minha visão, "Only God Forgives" é um valente filme sobre os pecados imperdoáveis que o homem comete e o modo brutal como tem de acartar as suas consequências. A vingança gera mais vingança. Um paradoxo.
Na realidade, "Only God Forgives" até tem uma história simples, no entanto, o visual que ele nos entrega, torna tudo mais complexo, seja através de metáforas ou da utilização de recursos visuais para contar o enredo com poucas palavras e com mais ação. E essa conjugação e aproveitamento de todos os aspectos técnicos com a realização é que torna este filme precioso. A simplicidade da sua trama abrange-se com a belíssima cinematografia, enriquecendo o seu valor artístico.
Por isso mesmo, não podia deixar de recomendar "Only God Forgives", que ainda traz uma prestação coadjuvante doentia por parte de Kristin Scott Thomas.
No início dos anos 80, até por volta do final dos anos 90, começaram a surgir uma diversidade de obras cinematográficas na indústria norte-americana que chamavam as famílias até às salas de cinema. Pais e filhos juntos para irem ver filmes que se tornariam grandes clássicos do cinema. Steven Spielberg, John Hughes, Chris Columbus, Robert Zemeckis e Harold Ramis são grandes exemplos de artistas que realizariam grandes filmes que ficariam marcaram a infância e juventude de muitas pessoas.
"Groundhog Day", de Ramis, é um ótimo modelo desse subgénero do cinema. Porque simplesmente é uma fita divertidíssima e com uma mensagem positiva muito inspiradora. E além do mais, é um filme delicioso que jamais deixa a audiência aborrecida. Aliás, pelo contrário, ficamos a desejar que o filme trouxesse ainda mais cenas.
Esta película deliciosa traz algumas questões existenciais, mas de uma forma divertidamente cuidadosa, nunca quebrando o clima familiar e agradável. E isso devido ao argumento fantástico, e à soberba realização de Ramis, porque até aposto que "Groundhog Day" não foi um filme fácil de ser realizado. Ramis teve de ficar atento a todos os detalhes, porque, afinal de contas, como a tagline diz: "He's having the day of his life...over and over again."
Por final, não podia deixar de referir o excelente protagonismo de Bill Murray. Ele é puramente sensacional, e o resto do elenco também está muito bem.
É desnecessário dizer que "Groundhog Day" é um clássico familiar obrigatório. Aposto que sairão da sessão com um sorriso na cara
David Lynch utiliza a arte do cinema como um dos seus meios de expressão e usa-a como uma maneira de enviar ao mundo quebra-cabeças. Lynch é criticado por alguns e estes admitem que ele é apenas um mero artista alucinado que produz obras sem sentido algum. Outros consideram-no um autêntico génio das suas artes e aventuram-se nos seus enigmas complexos. Fazem várias teorias, tentam responder a questões que até são incertas e analisam os seus filmes vezes sem conta. Será possível chegar a um consenso?
"Mulholland Drive" é, provavelmente, o seu enigma mais famoso. Na data do seu lançamento, diversos espectadores, inconformados ou confusos, saíam das salas de cinema, e os que ficavam até ao final, saíam da sessão sem reação, até assustados. A verdade é que, até aos dias de hoje, aqueles que assistem pela primeira vez "Mulholland Drive", sentirão o seu cérebro totalmente assaltado e não vão parar de proferir "What the f*ck!?" no decorrer da sua visualização.
E isto porquê? Porque ninguém compreende "Mulholland" na sua primeira visualização, e muito provavelmente, nem na sua segunda, nem na sua terceira, etc. E será que ele pode ser totalmente compreendido? Ou então: o que acontece quando o mistério é completamente desvendado? Existe, de facto, uma explicação própria para tudo o que se passou neste filme? A sua não-revelação não é a sua própria magia?
O que sei é que "Mulholland Drive" é uma fita genial. Temos diante de nós uma obra cinematográfica surreal, omnipresente, onírica, perturbadora e extremamente complexa e invasiva, navegando nos sonhos de uma mente atordoada devido ao insucesso no percurso da vida e pela decepção amorosa. E o mestre Lynch consegue criar estas imagens e atmosfera, através da sua realização magnífica.
"Mulholland Drive" é uma obra de arte arrebatadora do cinema independente.
Cá está uma produção alemã corajosa, sem medos no que quer tratar e transmitir ao espectador. Se ele é considerado controverso ou não, isso depende de como a ideologia de cada um reagirá à situação.
Mas quanto a mim, "Kreuzweg" é fria e tristemente satírico. Tendo como temas principais os ensinamentos radicais cristãos e o fanatismo religioso, este filme torna-se crítico no que quer expor. A dúvida que permanece até o seu desfecho é se, de facto, o sacrifício consegue gerar milagre em prol de outra pessoa. A interpretação individual compromete a opção entre a coincidência ou a intervenção divina. E é nesta dualidade que "Kreuzweg" gera reflexão.
Sob minha visão, este filme é uma das grandes obras-primas do ano passado . Não o posso considerar como tal, exclusivamente pela sua crítica de como os já referidos ensinamentos radicais podem reagir aos jovens da sociedade contemporânea (através também da educação de casa), como assim o considero pela sua técnica inventiva.
"Kreuzweg" é composto por catorze cenas, intituladas pelas 14 estações de Jesus Cristo (Via Crucis), todas elas filmadas com planos longos, com a câmera estática, movendo-se, no entanto, apenas nos momentos obrigatórios, e com enquadramentos perfeitos. tudo isto conjugado com a realização impecável de Dietrich Brüggemann e um trabalho de elenco fenomenal. Estamos à mercê dos actores e dos diálogos fantásticos.
Resultado? Uma composição visual executada com brilhantismo.
Sexta, noite calma, quente, sem nada concretamente para fazer durante o resto do dia, bateu-me a vontade de querer assistir a uma comédia romântica. Sei lá, uma qualquer com a Meg Ryan jovem ou qualquer fita com a palavra "love" escrita no título.
Até que encontrei, na simples e despercebida prateleira de DVD's dos meus pais, uma cópia de "Keeping the Faith". Disse para mim mesmo (sem ler qualquer sinopse): "Hmmm, Edward Norton...". Decidido, coloquei o filme no DVD e fui vê-lo.
"Keeping the Faith" é uma obra simpática, simples na sua maneira de ser, e funcional na mensagem que pretende transmitir. Para além de estar no papel principal, o Edward Norton é o realizador do projecto. A sua realização é segura, otimista e um tanto convencida, mas é completamente adequada e funcional.
O autor do argumento é o Stuart Blumberg (que 11 anos depois seria nomeado para os Óscares pela obra "The Kids Are All Right"). "Keeping the Faith" é um filme sustentado pelos seus diálogos, seguindo essencialmente o género estrutural do aqui influente Woody Allen. Por esse motivo, a longa exige obrigatoriamente bons diálogos para funcionar. Admitindo com sinceridade, não posso acusar que temos aqui mau falatório, ficando superior à qualidade de razoável, porém não são diálogos tão ricos e inteligentes como faz, por exemplo, um Linklater. Não são diálogos que te fazem ficar preso ao ecrã, e isso é muito grave neste tipo de filmes. "Keeping the Faith" merecia ainda mais riqueza/qualidade nas suas falas.
E com isso, possivelmente, o telespectador, a uma determinada altura da sua visualização, pode começar a sentir uma leve sensação de tédio, o que é muito mau. De modo geral, este tipo de obras não necessita de grandes aspectos técnicos e visuais. Tomamos o exemplo da cinematografia. Na verdade, estes filmes não precisam de uma boa fotografia para ser apreciado, porque o espectador está vidrado com os diálogos, e o tratamento visual cinematográfico torna-se quase impercetível. Basta uma câmera a filmar o ator a dizer os belos diálogos. Mas isso não acontece em "Keeping the Faith". Os diálogos tornam-se um bocado cansativos, e o visualizador começa a procurar por outros aspectos. Mas nada aqui ajuda! A fotografia é simples, sem nada que chame a atenção, tal como a sua edição.
O Edward Norton está com uma boa performance, e é o personagem dele que o telespectador terá mais afeição no decorrer das duas horas. O Ben Stiller está engraçado e a Jenna Elfman também. E os três personagens têm uma química impressionante (o que é a melhor coisa do filme). O trio funciona plenamente. Eles têm uma amizade genuína, e isso entrega um bom peso de qualidade à obra.
O Milos Forman está no filme, trabalhando como ator (estamos a falar de um dos homens mais inteligentes e com mais acerto e perfeição na arte da realização), e o Eli Wallach também está aqui presente. No entanto, por infelicidade, estes dois grandes nomes da história do cinema, acabam por não acrescentar nada de especial à história, já que tudo gira em torno dos três personagens principais.
"Keeping the Faith" é uma ótima lição sobre a união e o respeito das várias religiões num contexto social. Tem bom trabalho de actores, uma realização hábil e adequada, traz momentos divertidos (alguns um pouco exagerados) e personagens principais muito bons, todavia é demasiado longo e pode provocar um pouco de aborrecimento, e a forma que ele prossegue sem chamar muita atenção, não torna "Keeping the Faith" uma obra memorável.
Hoje tinha em mãos três filmes à minha disposição e não sabia ao certo qual deles escolher, dado que só tinha tempo para visualizar um. Eram obras que queria ver imenso e a seleção estava difícil. No lado esquerdo da minha secretária de vidro negro, tinha "Gone Baby Gone" (2007, Ben Affleck), no meio "Groundhog Day" (1993, Harold Ramis) e do lado direito "Drive" (2011, Nicolas Winding Refn). Indeciso, cerrei os olhos, baralhei as três capas e apontei para uma qualquer. O vencedor, como já está evidenciado, foi "Drive".
O facto que desconhecia era que tinha diante de mim uma autêntica obra-prima estilosa do cinema contemporâneo. Não é a primeira vez que Refn me deixa em estado de choque e impressionado com a sua qualidade e capacidade em formar filmes extraordinários. Já o tinha feito com o "laranja mecânico" brutalmente violento e eletrizante "Bronson" (2008), que conta a história verídica de Michael Peterson (interpretado com sede animal pelo fabuloso Tom Hardy). Também já tinha deixado alguns indícios de qualidade e inteligência no seu raro "Fear X".
E agora, com o furiosamente silencioso "Drive", Winding Refn volta a fazê-lo. Não é só por ser uma obra que conta uma fábula moderna magnífica sobre a afeição, ou por ser um filme extremamente bem realizado (tanto como carácter, como no clima; além disso, vencedor do prémio "Best Director" no festival de Cannes de 2011; entre outros prémios), como também é um filme que apresenta uma das personagens mais enigmáticas (porque não?) da história do cinema.
Ryan Gosling, tenho de falar deste gajo. Eu percebo e vejo que não há palavras no dicionário para descrever a performance deste sacana nesta fita. "Genial"? "Soberbo"? Acreditem, acho que são adjectivos fracos para descrever o trabalho deste actor em "Drive". O seu olhar, os seus actos, tão silencioso, retraído e ameaçador. Gosling dá uma profundidade incrível ao seu personagem.
"Drive" é fantástico, artístico, violento, visualmente estiloso, primoroso no modo de contar a trama, com um elenco excepcional e cenas brilhantes e eternamente memoráveis.
Uma das grandes obras de arte da nossa década actual. Obrigatório.
"Signs", realizado pelo feitceiro M. Night Shyamalan, conta uma história sobre o poder da fé/crença nas pessoas, e como estes dois aspectos podem mudar a maneira de encarar a vida e o modo de interpretar o mundo, na prespectiva de uma determinada pessoa. Simplificando, é um filme sobre a importância da fé na vida humana.
E tenho de admitir que achei "Signs" um belíssimo filme. A começar pela realização. Eu sempre apreciei o modo delicado de Shyamalan conduzir a trama. Ele tem uma capacidade incrível de manter o poder do mistério com o telespectador, e faz com que ficamos colados ao ecrã! Ele é muito subtil na maneira de apresentar as coisas, evidenciando apenas pequenos detalhes, e com isso, aumenta o suspense e o clima do filme.
Mais ainda, não podia deixar de referir as opções do realizador quando o assunto é o modo de utilizar a câmera. "Signs" é filmado com mestria. Shyamalan sempre brincou com a câmera, e os ângulos complexos que ele seleciona para gravar a fita, só intensifica a atmosfera do filme. Isso é genial!!!
Quanto às interpretações: Mel Gibson faz um trabalho profundo muito bom (ele consegue convencer plenamente como um pai viúvo tramado pelas suas próprias crenças); Joaquin Phoenix, para quê gastar mais latim com este actor?; Rory Culkin, enfim, interpreta a típica criança Spielberg, super interessada nas ciências; e a Abigail Breslin, com os seus pequenos seis aninhos, está muito, mas muito, engraçada neste filme. Ela entrega um leve senso cômico ao filme muito bem adicionado. E como? Através da intuição dos seus diálogos! A sério, é uma personagem muito engraçada, eu dei algumas gargalhadas!
Recomendo. É um filme que divide opiniões. Têm de o visualizar para ver em quais dos lados ficam. Porque... cada um tem essa opção, não é? - "People break down into two groups. When they experience something lucky, group number one sees it as more than luck, more than coincidence. They see it as a sign, evidence, that there is someone up there, watching out for them. Group number two sees it as just pure luck. Just a happy turn of chance. I'm sure the people in group number two are looking at those fourteen lights in a very suspicious way. For them, the situation is a fifty-fifty. Could be bad, could be good. But deep down, they feel that whatever happens, they're on their own. And that fills them with fear. Yeah, there are those people. But there's a whole lot of people in group number one. When they see those fourteen lights, they're looking at a miracle. And deep down, they feel that whatever's going to happen, there will be someone there to help them. And that fills them with hope. See what you have to ask yourself is what kind of person are you? Are you the kind that sees signs, that sees miracles? Or do you believe that people just get lucky? Or, look at the question this way: Is it possible that there are no coincidences?"
A maioria das pessoas que estão dispostas a ver "Entre Abelhas" assentam a ideia de que verão uma comédia polémica ao genuíno estilo do "Porta dos Fundos".
Sim, o realizador é o mesmo da famosa linha de vídeos, Fábio Porchat protagoniza e ainda temos no elenco nomes como Luís Lobianco, Letícia Lima e Marcos Veras. Mas não, este não se trata de um "Porta dos Fundos: O Filme" e muito menos de uma comédia (existe doses humorísticas, porém o filme, mesmo assim, não condiz com o género, na minha opinião).
Surpreendentemente, "Entre Abelhas" trata-se de um drama metafórico existencialista. Ian SBF e Porchat destroem o paradigma, e se já achávamos que os vídeos traziam uma certa inteligência, este filme veio comprovar que a equipa "Porta dos Fundos" é muito mais brilhante do que aparenta.
Tal como ocorreu com Jim Carrey em "Eternal Sunshine of the Spotless Mind" (2004, Michel Gondry), Fábio Porchat quebra o seu habitual humor físico, e apresenta uma admirável performance, merecedora de ótimos elogios.
SBF entrega um trabalho de realização hábil, simples, limpo, funcional, inteligente, correspondendo perfeitamente com o visual minimalista do filme.
Com um significado profundo, aberto até a interpretações subjectivas, "Entre Abelhas" impressionou-me absolutamente e revelou o talento notável do pessoal do "Porta dos Fundos" para criar obras relevantes e engenhosas.
O Amor Custa Caro
2.8 204 Assista AgoraGosto do charme do George Clooney. O tipo tem piada, estilo. Mas em "Intolerable Cruelty" essa sua "elegância" é testada até aos limites por uma mulher fatal, trapaceira e que fará de tudo para o tramar.
"Intolerable Cruelty" não é uma má comédia romântica. Quero dizer, é divertida. No entanto, sendo realizada pelos irmãos Coen, espera-se sempre muito mais. Ao contrário dos seus outros filmes, esta é uma mirabolante e incoerente história de amor, traição e crime, que não se organiza da melhor forma e mistura demasiados elementos sem saber onde quer chegar exatamente.
Na verdade, o guião foi escrito a 5 mãos. Caso geral: isso não é bom sinal.
Será essa uma justificação sólida para o insucesso deste filme? Não sei. Mesmo assim, "Intolerable Cruelty" não deixa de ser engraçado, simpático e até intrigante.
O Iluminado
4.3 4,0K Assista AgoraNo seu lançamento, "The Shining" desenvolveu uma sensação de controvérsia, que atingiu tanto as diferentes audiências como a crítica especializada. Esta última permaneceu duvidosa, sem saber o que dizer do filme. Numa primeira visão, muitos não gostaram, porém, inevitavelmente, aquilo que presenciaram na sala escura, nunca mais saiu das suas cabeças. Porque creio que seja impossível ficar indiferente após ver "The Shining". Mesmo pensando que não gostamos da experiência, ela ficará nas nossas mentes dias e dias até, quem sabe, admitirmos que a adoramos.
Falo por experiência própria. Na primeira vez que visualizei "The Shining", perguntei a mim mesmo se havia gostado dele ou não. Depois de um tempo de reflexão, um bocado desprendido da minha afirmação, acabei por dizer: "é apenas um filme de terror ambíguo". Estava completamente enganado. O filme morou no meu pensamento até me obrigar a dizer da boca para fora: "É uma obra-prima absoluta!"
Hoje em dia, rever "The Shining" faz-me perceber de que a sua magia está mesmo nesse facto. Porque ele é uma fita que marca uma nova era do cinema de Terror. E para isso, barreiras tiveram de ser destruídas, e um novo horizonte criou-se com maiores possibilidades para o género.
E para este marco único ocorrer com sucesso, o projecto tinha de estar nas mãos de um mestre do seu ofício. O lendário Stanley Kubrick realiza uma experiência psicologicamente perturbadora, numa fita sobre a loucura e o isolamento. Filmado com perfeição, travellings e planos-sequência percorrem o sinistro através de corredores misteriosos. O cenário labiríntico, junto com o jogo das cores e da geometria que Kubrick recorre para distrair o espectador, provoca uma sensação absolutamente terrificante.
Jack Nicholson propaga todo o desarranjo mental de Jack Torrance, assumindo o papel com brilhantismo.
Cenas inesquecíveis, uma realização magistral e uma atmosfera psicologicamente pesada, fazem de "The Shining" um dos filmes de Terror mais marcantes de sempre.
O Guerreiro Silencioso
3.1 277 Assista AgoraO cineasta de culto Nicolas Winding Refn assinou aqui o seu filme mais metafísico, espiritual e aberto. Com um trabalho de realização apaixonante, "Valhalla Rising" é um desafio obscuro e penetrante, reforçado pela sua atmosfera e visuais arrebatadores.
Tal como na obra de Tarkovsky, o poder da natureza interage e reage com a alma dos homens. As forças que obram no planeta Terra formam todo um clima intenso.
No caso de "Valhalla Rising", a misteriosa ilha das trevas desenvolve o ambiente sombrio e habitual do estilo autoral de Refn. E isto acompanhado com um silêncio arrepiante, em especial por parte da interpretação forte e sobrenatural do Mads Mikkelsen (que não profere nenhuma palavra durante todo o filme).
"Valhalla Rising" é mais uma obra de arte incompreendida de Winding Refn.
Jovens Adultos
3.0 874 Assista AgoraA segunda parceria de Jason Reitman com a guionista Diablo Cody apresenta a fábula de uma mulher perdida no rumo da vida, que nunca se esqueceu do seu verdadeiro amor, em decadência profissional e que se mostra ser incapaz de sair do seu "eu" jovem.
O filho do Ivan Reitman sempre foi um realizador de actores muito bom, e nesta comédia dramática de 2011 ele também não falhou quanto nisso. O desempenho da talentosa Charlize Theron é profundamente convincente, sendo que ela encarna a alma da personagem de uma forma surpreendente.
E não há intérprete que falhe na sua performance aqui. E esse facto é a grande marca de Jason Reitman (ex: ano passado, em "Men, Women & Children", provou que Adam Sandler é capaz de fazer um trabalho de qualidade; [se bem que isso já tinha sido provado na obra-prima "Punch-Drunk Love", do mestre Paul Thomas Anderson]).
"Young Adult" é uma comédia com momentos inteligentes, boas personagens e que aborda um tema sério tal como todos os filmes do seu realizador.
Oeste Sem Lei
3.5 197É sempre curioso ver a primeira longa-metragem de um realizador. O talento, a perspicácia profissional, a maneira escolhida para contar a história e as suas distinções como artista são grande parte evidenciadas verdadeiramente na sua obra inicial. E, meu, este tal John Maclean é um sacana dos bons.
Inteligente e equilibrado, "Slow West" é um western contemporâneo notável com uma realização hábil e uma composição visual extremamente relevante, com bonitos contrastes de cor. A violência faz parte do clima do filme: ambientação inesperadamente agressiva, mas nunca pesada. A cinematografia é quase surrealista.
Um estudo de personagens ótimo, favorecido pelas excelentes performances dos actores, salientando o protagonismo de Kodi Smit-McPhee e o desempenho do aclamado Michael Fassbender. Vale a pena dizer que a amizade de ambos é muito bem construída.
"Slow West" é claramente uma boa fita do princípio ao fim, fotografada com beleza, bem realizada e escrita e com desempenhos gerais formidáveis. Um filme que veio aclamar um novo autor cinematográfico, que valerá a pena estar atento - John Maclean.
E Aí, Meu Irmão, Cadê Você?
3.9 371 Assista AgoraQue prazer foi ver "O Brother, Where Art Thou?"! Que comédia bri-lhan-te!
Recheado de referências à epopeia clássica "Odisseia", de Homero, "O Brother, Where Art Thou?" é a aventura de três fugitivos em busca de um tesouro. No percurso, muitos disparates e reviravoltas espantosas ocorrem e personagens excêntricos aparecem. Um conto mirabolante e sensacional!
Fotografado com perfeição pelo genial Roger Deakins, "O Brother, Where Art Thou?" apresenta um dos trabalhos de fotografia mais belos da história do cinema. Cada imagem que a câmera capta é arte pura. Como se não bastasse ter um enredo extraordinário, a fita ainda tinha de ser "pintada" com brilhantismo.
Tudo se conjuga de uma forma certeira, contando ainda com performances cómicas excepcionais por parte de Clooney, Turturro e Blake Nelson bem como um trabalho de realização admirável.
Um Homem Sério
3.5 574 Assista AgoraSe há coisa que os irmãos Coen sabem fazer como mestres é criar filmes que se equilibram perfeitamente com a comédia e a drama. Eles conhecem a magia que faz com que os seus visualizadores entram na trama com sobriedade, mas que igualmente dá lugar a uma ironia que fará sorrisos se expressarem.
Na maioria das vezes, tal processo cómico é recorrido com tanta inteligência que faz refletir sobre a principal essência da obra, criticando o meio social de forma curiosa. Ao fim e ao cabo, o recurso humorístico utilizado por estes dois cineastas contemporâneos não é apenas acessório mas também é ele que os marca como artistas únicos. E vamos admitir que é sempre uma delícia conhecer as histórias que eles têm para nos contar.
"A Serious Man" é um bom exemplo dessa harmonia de géneros. Trata-se de um retrato sobre um homem e a sua vida que parece estar a desabar-se. Nalguns momentos das nossas vidas, essa sensação acontece e, para o nosso conforto, começamos a procurar um significado apaziguador perante a situação, muitas vezes através das nossas crenças.
E "A Serious Man" é exatamente sobre isso. Sobre um homem comum, sério (interpretado excelentemente pelo Michael Stuhlbarg), que seguia estritamente as regras como "bom cidadão". No entanto, problemas começam a surgir de forma violenta na sua vida.
E com isto, a que conclusão chegamos? Não há humano no mundo que não tenha problemas, por mais certo que ele seja. E temos de ficar conformados com isso. E quando um problema acaba, vem outro. É sempre assim. Ninguém está livre. Aliás, o final diz-nos isso perfeitamente.
Rio Perdido
3.0 199 Assista AgoraMal recebido no Festival de Cannes, tendo recebido uma apreciação crítica geral bastante negativa, o que levou à Warner Bros. tirar o filme do grande circuito comercial, posso afirmar que a película de estreia de Ryan Gosling como cineasta é uma obra mal compreendida.
Posso estar equivocado, mas creio que, com o passar dos anos, "Lost River" pode vir a tornar-se um filme de culto e uma pequeno grupo de fãs analisará muito bem o que Gosling quis aqui dizer. Porque, não, isto não se trata de uma fita apenas visual. Ná.
Cenário gótico junta-se ao bizarro e ao surrealismo cinematográfico + pitadas de erotismo e violência. Uma fábula de fantasia, num lugar devastador em que os seus personagens são estrangeiros da sua própria localidade. Todos eles com conflitos para resolver.
A câmera com enquadramentos subtis reforça o mistério desta experiência perturbadora.
Apesar do fracasso que teve com a crítica, seria bom ver mais vezes o nome de Ryan Gosling nos créditos "Written and directed by".
E "Lost River" é mais uma prova que David Lynch está a influenciar.
Coerência
4.0 1,3K Assista Agora"Coherence" é um inteligente e complexo thriller de ficção-científica com um argumento muitíssimo bem escrito, uma realização ágil e um trabalho de actores bastante convincente.
Filmado inteiramente de câmera na mão num só espaço, este filme aplaudido em alguns festivais prenderá completamente o espectador durante uma boa hora e meia. E é desses filmes que eu gosto - o que está ao nosso redor deixa simplesmente de existir durante um determinado tempo.
E "Coherence" é entretenimento muito bem conseguido. Pairam questões sobre a nossa cabeça após a sua visualização. É definitivamente um ótimo filme.
Fargo: Uma Comédia de Erros
3.9 920 Assista Agora"Fargo" é uma autêntica aula cinematográfica de como contar uma história. A trajetória por caminhos frios e incertos toma conta do visualizador de uma forma mágica e provocadora.
É com certeza, também, uma das obras mais perfeitas dos anos 90, já que "Fargo" é magistral em todos os aspectos.
A realização dos espetaculares irmãos Coen é mais do que eficaz. É brilhante. O guião é fenomenal. Muito provavelmente, "Fargo" é o melhor argumento que os dois cineastas já escreveram. Os diálogos são pura e simplesmente geniais.
Mas não acaba por aí. A edição coerente ajuda espetacularmente e a cinematografia capta imagens magníficas. Aliás, o recurso da neve é utilizado com inteligência e cria um clima bastante ameaçador. Sangue no branco...
Pitadas de humor negro e desempenhos fantásticos, nomeadamente de William H. Macy, Frances McDormand e Steve Buscemi, juntam-se neste festival do cinema policial
Um thriller genial.
Bling Ring - A Gangue de Hollywood
3.0 1,7K Assista AgoraAutêntico estilo de vida de Hollywood são carros potentes, grandes mansões modernas, um estatuto social elevadíssimo e andar na moda com roupas de marcas caríssimas. Nesse clima de ostentação, muitos sonham e querem, e outros, já inseridos nesse modo de vida, ultrapassam os limites, pensando que podem fazer tudo o que quiserem.
Da autoria da mesma cineasta que nos trouxe a obra-prima "Lost in Translation", este filme baseado em factos verídicos pinta um ótimo quadro dessa geração interligada e alucinada pela vida das celebridades. A atmosfera aqui pretendida convence perfeitamente o telespectador e abre portas para entramos na onda do filme. "The Bling Ring" é a loucura do sonho americano na perspectiva de adolescentes mimados pela riqueza.
A Sofia Coppola aqui diferiu o andamento habitual das suas obras. O decorrer lento e contemplativo é substituído por um clima desvairado com muita música.
Algumas cenas tornam-se repetitivas (os assaltos), mas "The Bling Ring" não deixa de ser uma das melhores obras na filmografia de Sofia Coppola. O guião é bom e a realização ágil e experiente.
E muitos podem achar que "The Bling Ring" só se limita a mostrar "adolescentes mimados a fazer coisas de mimados". Porém, se nos aprofundarmos um pouco mais na sua essência, não será o filme uma crítica a isso mesmo?
Um Lugar Qualquer
3.3 810 Assista AgoraCreio que a indústria cinematográfica não seja um negócio fácil para uma pessoa que opere nela equilibrar a sua vida profissional com a sua vida pessoal. No decorrer do processo de filmagens de um filme, toda a equipa envolvida tem de muitas vezes viajar para vários sítios, deixando família e casa para trás.
"Somewhere" é um bom retrato disso mesmo. E, claro, foi realizado e escrito por alguém que, de facto, imagino que viveu essa sensação de distância em termos parentais. Se notarmos bem, "Somewhere" pode ser a mensagem consciente da filha do grande cineasta Francis Ford Coppola. Começamos a questionar se, porventura, a personagem interpretada pela Elle Fanning faz referência a alguns momentos da infância de Sofia Coppola.
O desfecho acaba por ser bastante esclarecedor e otimista, mas não deixa de ser melancólico em toda a sua essência. Não há fama nem quaisquer luxos que consiga substituir o amor e a liberdade de se ser feliz.
Todavia, devido ao seu clima e decorrer, "Somewhere" é uma experiência cinematográfica por vezes vazia e tediosa. Provavelmente, tal progredir possa ser uma metáfora ao vazio sentido pelo protagonista, mas mesmo assim não é algo apreciável de todo para o espectador. A audiência começa a procurar intensidade no meio do vácuo.
Visualizem o filme de mente aberta e com paciência. Dessa forma, serão capazes de gostar da experiência.
Flores Partidas
3.6 201 Assista AgoraVencedor do prémio "Grand Prize of the Jury" no Festival de Cannes de 2005, "Broken Flowers" é uma comédia dramática sobre a procura esperançosa de um homem por um novo significado para continuar a viver. Também é um filme que trata da mudança que ocorre no progresso vital de cada ser.
Realizado e escrito com inteligência por Jim Jarmusch, "Broken Flowers" até apresenta um plano de enredo simples: um recém-solteiro recebe uma carta não assinada indicando que ele tem um filho de 19 anos. Ele inicia uma busca, batendo à porta de algumas mulheres com quem já teve um caso. Pronto. Temos aqui a premissa do nosso filme.
No entanto, Jarmusch abre horizontes e mostra muito mais do que isso. Um dos principais pontos que faz de "Broken Flowers" um filme mais profundo do que aparenta são as personagens que o protagonista dá de caras no decorrer da trama. Algumas são absurdamente engraçadas (fazendo referências sensacionais essencialmente a personagens da literatura), outras são complexas e até obscuras. Existe aqui um estudo e uma construção de personagens simplesmente fantástica.
E isto tudo com uma orientação de atores espetacular. O desempenho do Bill Murray é muitíssimo bom. O Murray não precisa de fazer qualquer expressão facial para percebermos o que o seu olhar cansado quer transmitir nos seus personagens (adoro-o!).
"Broken Flowers" é um filme reflexivo, muito bem realizado e escrito, com personagens impecáveis e memoráveis, uma banda sonora excelente e um desfecho brilhante.
Half Nelson: Encurralados
3.6 125"Half Nelson" é o primeiro trabalho que chegou às salas de cinema dos jovens parceiros Ryan Fleck e Anna Boden, que anos depois realizariam o totalmente inspirador "It's Kind of a Funny Story". Elogiados pela crítica, os dois cineastas lançarão este ano para os cinemas "Mississippi Grind", filme já reconhecido positivamente em alguns festivais. Será estrelado por Ryan Reynolds, Sienna Millers e Ben Mendelsohn.
Na minha opinião, eu acho que temos aqui dois bons cineastas contemporâneos. Para além de fazerem filmes autorais, eles produzem obras que têm sempre algo importante, apesar de escondido, para dizer, e acabam sempre por transmitir uma certa esperança e positividade no desfecho.
Agora, o que dizer sobre "Half Nelson"? Ryan Gosling recebe um devido conhecimento por procurar protagonizar em produções independentes, e em "Half Nelson" ele fez um desempenho tão bom que adquiriu uma nomeação para o Oscar. Ele incorpora o personagem de uma forma espetacularmente convincente. Com certeza, é um ator com um portefólio deveras curioso.
A história de "Half Nelson" gira em torno de dois personagens: o seu protagonista, um professor de história e treinador numa escola pública pobre de Brooklyn, e Drey, uma menina de 13 anos que descobre que o mesmo professor tem problemas com drogas. A química entre ambos é plenamente credível. As conversas que eles têm no decorrer da fita dão lugar a momentos bons e inteligentes.
Concluo dizendo que recomendo a visualização de "Half Nelson". Um bom filme do cinema independente norte-americano.
Laranja Mecânica
4.3 3,8K Assista AgoraDescrever "A Clockwork Orange" seria enunciar que é um filme que sustenta uma previsão dos tempos vividos actualmente, uma forte crítica à burocracia política e social e uma visão comportamentalista sobre a animalesca natureza humana.
Baseando-se na perspectiva da obra literária de Anthony Burgess, Stanley Kubrick requer à subtileza a fim de colocar em prática um espelho que reflicta o nosso presente. Provavelmente, fora esse o motivo pelo qual o filme não recebeu as melhores críticas na altura do seu lançamento. Próprio público não compreendeu aquilo que estava a ser transmitido. Mas tudo fazia parte do plano extraordinário de Kubrick.
O facto é que a violência está aí a vaguear a cada local e momento que nos fixamos. Noticia-se incessantemente um novo acto agressivo, e acaba por tornar-se algo habitual nas nossas vidas.
Porém, donde provém o fruto humano para provocar tais brutalidades? As ciências psicopatológicas estão aí para procurar definir a origem do bem e do mal. Mas será que realmente podemos definir o que está certo ou errado, o bem ou o mal? Supostamente podemos chegar a um consenso proveniente do nosso senso comum. Contudo, temos o direito de diferir as escolhas e os caminhos que as pessoas tomam? Será correcto mudar o que está errado para alguém? Isso não é ser errado também?
Este é um dos temas principais tratados nesta longa-metragem de '71, e logo faz desenvolver algumas críticas à manipulação gananciosa e corrupta do governo e à sociedade contemporânea.
Transforma-se em algo absurdo e engraçado o que o filme trata. Acaba por fazer rir da nossa própria tristeza. A tentativa de acabar com o mal faz provocar mais mal. Um paradoxo sem finalidade.
A prestação do Malcolm McDowell é brilhante. Faz uma caracterização perfeita da juventude marginal actual, dependentes da droga para trazer satisfação pessoal. Leite vitaminado para ultra-violência. E com essa designação o actor entrega-nos um dos personagens mais emblemáticos do cinema. Alex DeLarge acaba por ser o fruto (laranja) mecanizado que será controlado para os ensaios da manipulação mental.
O filme expõe devidamente a dominação que a política exerce manhosamente sobre o povo, e evidencia que eles são capazes de tudo para atribuir uma credibilidade sobre as nossas cabeças. Têm o poder de controlar tudo. Verdade besta.
Alex encontra-se em mãos sujas e corruptas. O padre pode responder com inteligência argumentando acerca dos direitos humanos, mas o poder de argumentação da política jamais será vencido. O pior é que convence a maioria. A mão do ministro sai rapidamente do ombro de Alex, todavia a do padre estará sempre lá.
Ainda mais, a película enfatiza um perfeito retrato futurista de uma sociedade operária que se preocupa mais com as despesas da casa e as dívidas a serem pagas em vez de querer saber por onde andam os filhos.
Incrivelmente, "A Clockwork Orange" não é somente um filme que aborda alguns questionamentos/reflexões curiosos. "A Clockwork Orange" é cinema vivo e puro, do melhor que já se fez.
Recheado de cenas impressionantes, cores vivas e significados subentendidos. Uma verdadeira obra-prima artística de culto, repleto de electricidade e exuberância estilosa.
Uma obra cinematográfica impagável, que só podia ser da autoria de um realizador mais que genial.
"A Clockwork Orange" é o meu filme preferido, e receio que nenhum outro seja capaz de removê-lo dessa posição.
Perfeito.
Meu Amigo Totoro
4.3 1,3K Assista Agora"Tonari no Totoro" é daqueles filmes que liberta o nosso espírito de criança, deixa-nos sorridentes após o seu término e comove a nossa alma em momentos perfeitos. Um pequeno grande conto emocionante, que encantará o nosso senso humano.
Bonito nos seus cenários, numa animação graciosa e colorida, com um ambiente tão livre que até chegamos a sentir a natureza fresca. Personagens que cria uma afeição profunda com o seu espectador. Uns nem falam, outros são engraçados, outros são carismáticos e libertos na ambientação. Uma obra belíssima sobre a liberdade humana que interage com a natureza.
E não há muito a dizer, porque este filme é tão simples e encantador, que não custa muito tratar dos seus temas. Quando somos crianças, muitas vezes tememos a aparição de criaturas sobrenaturais, muitas vezes imaginadas por nós mesmos. Mas aqui isso tudo é tratado de uma forma tão feliz e cuidada, que acontece o oposto. A criança cria amizade com criaturas sobrenaturais!
Belíssimo filme sobre a infância e a relação entre pais e filhos. Simples, emocionante e harmonioso.
Apenas Deus Perdoa
3.0 632 Assista AgoraO cineasta dinamarquês Nicolas Winding Refn chamou à atenção uma grande audiência distribuída mundialmente após o lançamento do seu vibrante "Drive", em 2011. Dois anos depois, ficou-se a saber que Refn iria trazer para as salas uma nova obra cinematográfica, igualmente protagonizada pelo astro Ryan Gosling. Expectativas altas foram criadas em volta do filme, mas, o que os fãs não estavam à espera, era que "Only God Forgives" era outra onda. Onda essa que pretende evidenciar a marca autoral do estilo de Refn.
Pelo menos quanto a mim, considero esta obra de Refn diferente em comparação a "Drive". A maior semelhança que podemos identificar é o personagem que Gosling aqui interpreta, onde a versatilidade não aclama muito. Tanto Julian como Driver são de poucas palavras, enigmáticos e carregados com pensamentos obscuros. Gosling não interpreta tão genialmente como o seu trabalho anterior com o realizador, porém, essa foi a maior parecença que consegui encontrar entre ambas as fitas.
A verdade é que, não podemos dizer que "Only God Forgives" teve as melhores críticas. Nem o próprio Rotten Tomatoes, avaliado sob a consideração de vários críticos de cinema, conseguiu alcançar boa pontuação. Levou 40%, com um "Average Rating" de 5,1/10, o que acabou por me surpreender um bocado.
Sob minha visão, "Only God Forgives" é um valente filme sobre os pecados imperdoáveis que o homem comete e o modo brutal como tem de acartar as suas consequências. A vingança gera mais vingança. Um paradoxo.
Na realidade, "Only God Forgives" até tem uma história simples, no entanto, o visual que ele nos entrega, torna tudo mais complexo, seja através de metáforas ou da utilização de recursos visuais para contar o enredo com poucas palavras e com mais ação. E essa conjugação e aproveitamento de todos os aspectos técnicos com a realização é que torna este filme precioso. A simplicidade da sua trama abrange-se com a belíssima cinematografia, enriquecendo o seu valor artístico.
Por isso mesmo, não podia deixar de recomendar "Only God Forgives", que ainda traz uma prestação coadjuvante doentia por parte de Kristin Scott Thomas.
Feitiço do Tempo
3.9 754 Assista AgoraNo início dos anos 80, até por volta do final dos anos 90, começaram a surgir uma diversidade de obras cinematográficas na indústria norte-americana que chamavam as famílias até às salas de cinema. Pais e filhos juntos para irem ver filmes que se tornariam grandes clássicos do cinema. Steven Spielberg, John Hughes, Chris Columbus, Robert Zemeckis e Harold Ramis são grandes exemplos de artistas que realizariam grandes filmes que ficariam marcaram a infância e juventude de muitas pessoas.
"Groundhog Day", de Ramis, é um ótimo modelo desse subgénero do cinema. Porque simplesmente é uma fita divertidíssima e com uma mensagem positiva muito inspiradora. E além do mais, é um filme delicioso que jamais deixa a audiência aborrecida. Aliás, pelo contrário, ficamos a desejar que o filme trouxesse ainda mais cenas.
Esta película deliciosa traz algumas questões existenciais, mas de uma forma divertidamente cuidadosa, nunca quebrando o clima familiar e agradável. E isso devido ao argumento fantástico, e à soberba realização de Ramis, porque até aposto que "Groundhog Day" não foi um filme fácil de ser realizado. Ramis teve de ficar atento a todos os detalhes, porque, afinal de contas, como a tagline diz: "He's having the day of his life...over and over again."
Por final, não podia deixar de referir o excelente protagonismo de Bill Murray. Ele é puramente sensacional, e o resto do elenco também está muito bem.
É desnecessário dizer que "Groundhog Day" é um clássico familiar obrigatório. Aposto que sairão da sessão com um sorriso na cara
Adorei!
Cidade dos Sonhos
4.2 1,7K Assista AgoraDavid Lynch utiliza a arte do cinema como um dos seus meios de expressão e usa-a como uma maneira de enviar ao mundo quebra-cabeças. Lynch é criticado por alguns e estes admitem que ele é apenas um mero artista alucinado que produz obras sem sentido algum. Outros consideram-no um autêntico génio das suas artes e aventuram-se nos seus enigmas complexos. Fazem várias teorias, tentam responder a questões que até são incertas e analisam os seus filmes vezes sem conta. Será possível chegar a um consenso?
"Mulholland Drive" é, provavelmente, o seu enigma mais famoso. Na data do seu lançamento, diversos espectadores, inconformados ou confusos, saíam das salas de cinema, e os que ficavam até ao final, saíam da sessão sem reação, até assustados. A verdade é que, até aos dias de hoje, aqueles que assistem pela primeira vez "Mulholland Drive", sentirão o seu cérebro totalmente assaltado e não vão parar de proferir "What the f*ck!?" no decorrer da sua visualização.
E isto porquê? Porque ninguém compreende "Mulholland" na sua primeira visualização, e muito provavelmente, nem na sua segunda, nem na sua terceira, etc. E será que ele pode ser totalmente compreendido? Ou então: o que acontece quando o mistério é completamente desvendado? Existe, de facto, uma explicação própria para tudo o que se passou neste filme? A sua não-revelação não é a sua própria magia?
O que sei é que "Mulholland Drive" é uma fita genial. Temos diante de nós uma obra cinematográfica surreal, omnipresente, onírica, perturbadora e extremamente complexa e invasiva, navegando nos sonhos de uma mente atordoada devido ao insucesso no percurso da vida e pela decepção amorosa. E o mestre Lynch consegue criar estas imagens e atmosfera, através da sua realização magnífica.
"Mulholland Drive" é uma obra de arte arrebatadora do cinema independente.
14 Estações de Maria
4.0 78Cá está uma produção alemã corajosa, sem medos no que quer tratar e transmitir ao espectador. Se ele é considerado controverso ou não, isso depende de como a ideologia de cada um reagirá à situação.
Mas quanto a mim, "Kreuzweg" é fria e tristemente satírico. Tendo como temas principais os ensinamentos radicais cristãos e o fanatismo religioso, este filme torna-se crítico no que quer expor. A dúvida que permanece até o seu desfecho é se, de facto, o sacrifício consegue gerar milagre em prol de outra pessoa. A interpretação individual compromete a opção entre a coincidência ou a intervenção divina. E é nesta dualidade que "Kreuzweg" gera reflexão.
Sob minha visão, este filme é uma das grandes obras-primas do ano passado . Não o posso considerar como tal, exclusivamente pela sua crítica de como os já referidos ensinamentos radicais podem reagir aos jovens da sociedade contemporânea (através também da educação de casa), como assim o considero pela sua técnica inventiva.
"Kreuzweg" é composto por catorze cenas, intituladas pelas 14 estações de Jesus Cristo (Via Crucis), todas elas filmadas com planos longos, com a câmera estática, movendo-se, no entanto, apenas nos momentos obrigatórios, e com enquadramentos perfeitos. tudo isto conjugado com a realização impecável de Dietrich Brüggemann e um trabalho de elenco fenomenal. Estamos à mercê dos actores e dos diálogos fantásticos.
Resultado? Uma composição visual executada com brilhantismo.
Tenha Fé
3.1 153Sexta, noite calma, quente, sem nada concretamente para fazer durante o resto do dia, bateu-me a vontade de querer assistir a uma comédia romântica. Sei lá, uma qualquer com a Meg Ryan jovem ou qualquer fita com a palavra "love" escrita no título.
Até que encontrei, na simples e despercebida prateleira de DVD's dos meus pais, uma cópia de "Keeping the Faith". Disse para mim mesmo (sem ler qualquer sinopse): "Hmmm, Edward Norton...". Decidido, coloquei o filme no DVD e fui vê-lo.
"Keeping the Faith" é uma obra simpática, simples na sua maneira de ser, e funcional na mensagem que pretende transmitir. Para além de estar no papel principal, o Edward Norton é o realizador do projecto. A sua realização é segura, otimista e um tanto convencida, mas é completamente adequada e funcional.
O autor do argumento é o Stuart Blumberg (que 11 anos depois seria nomeado para os Óscares pela obra "The Kids Are All Right"). "Keeping the Faith" é um filme sustentado pelos seus diálogos, seguindo essencialmente o género estrutural do aqui influente Woody Allen. Por esse motivo, a longa exige obrigatoriamente bons diálogos para funcionar. Admitindo com sinceridade, não posso acusar que temos aqui mau falatório, ficando superior à qualidade de razoável, porém não são diálogos tão ricos e inteligentes como faz, por exemplo, um Linklater. Não são diálogos que te fazem ficar preso ao ecrã, e isso é muito grave neste tipo de filmes. "Keeping the Faith" merecia ainda mais riqueza/qualidade nas suas falas.
E com isso, possivelmente, o telespectador, a uma determinada altura da sua visualização, pode começar a sentir uma leve sensação de tédio, o que é muito mau. De modo geral, este tipo de obras não necessita de grandes aspectos técnicos e visuais. Tomamos o exemplo da cinematografia. Na verdade, estes filmes não precisam de uma boa fotografia para ser apreciado, porque o espectador está vidrado com os diálogos, e o tratamento visual cinematográfico torna-se quase impercetível. Basta uma câmera a filmar o ator a dizer os belos diálogos. Mas isso não acontece em "Keeping the Faith". Os diálogos tornam-se um bocado cansativos, e o visualizador começa a procurar por outros aspectos. Mas nada aqui ajuda! A fotografia é simples, sem nada que chame a atenção, tal como a sua edição.
O Edward Norton está com uma boa performance, e é o personagem dele que o telespectador terá mais afeição no decorrer das duas horas. O Ben Stiller está engraçado e a Jenna Elfman também. E os três personagens têm uma química impressionante (o que é a melhor coisa do filme). O trio funciona plenamente. Eles têm uma amizade genuína, e isso entrega um bom peso de qualidade à obra.
O Milos Forman está no filme, trabalhando como ator (estamos a falar de um dos homens mais inteligentes e com mais acerto e perfeição na arte da realização), e o Eli Wallach também está aqui presente. No entanto, por infelicidade, estes dois grandes nomes da história do cinema, acabam por não acrescentar nada de especial à história, já que tudo gira em torno dos três personagens principais.
"Keeping the Faith" é uma ótima lição sobre a união e o respeito das várias religiões num contexto social. Tem bom trabalho de actores, uma realização hábil e adequada, traz momentos divertidos (alguns um pouco exagerados) e personagens principais muito bons, todavia é demasiado longo e pode provocar um pouco de aborrecimento, e a forma que ele prossegue sem chamar muita atenção, não torna "Keeping the Faith" uma obra memorável.
Drive
3.9 3,5K Assista AgoraHoje tinha em mãos três filmes à minha disposição e não sabia ao certo qual deles escolher, dado que só tinha tempo para visualizar um. Eram obras que queria ver imenso e a seleção estava difícil. No lado esquerdo da minha secretária de vidro negro, tinha "Gone Baby Gone" (2007, Ben Affleck), no meio "Groundhog Day" (1993, Harold Ramis) e do lado direito "Drive" (2011, Nicolas Winding Refn). Indeciso, cerrei os olhos, baralhei as três capas e apontei para uma qualquer. O vencedor, como já está evidenciado, foi "Drive".
O facto que desconhecia era que tinha diante de mim uma autêntica obra-prima estilosa do cinema contemporâneo. Não é a primeira vez que Refn me deixa em estado de choque e impressionado com a sua qualidade e capacidade em formar filmes extraordinários. Já o tinha feito com o "laranja mecânico" brutalmente violento e eletrizante "Bronson" (2008), que conta a história verídica de Michael Peterson (interpretado com sede animal pelo fabuloso Tom Hardy). Também já tinha deixado alguns indícios de qualidade e inteligência no seu raro "Fear X".
E agora, com o furiosamente silencioso "Drive", Winding Refn volta a fazê-lo. Não é só por ser uma obra que conta uma fábula moderna magnífica sobre a afeição, ou por ser um filme extremamente bem realizado (tanto como carácter, como no clima; além disso, vencedor do prémio "Best Director" no festival de Cannes de 2011; entre outros prémios), como também é um filme que apresenta uma das personagens mais enigmáticas (porque não?) da história do cinema.
Ryan Gosling, tenho de falar deste gajo. Eu percebo e vejo que não há palavras no dicionário para descrever a performance deste sacana nesta fita. "Genial"? "Soberbo"? Acreditem, acho que são adjectivos fracos para descrever o trabalho deste actor em "Drive". O seu olhar, os seus actos, tão silencioso, retraído e ameaçador. Gosling dá uma profundidade incrível ao seu personagem.
"Drive" é fantástico, artístico, violento, visualmente estiloso, primoroso no modo de contar a trama, com um elenco excepcional e cenas brilhantes e eternamente memoráveis.
Uma das grandes obras de arte da nossa década actual. Obrigatório.
Sinais
3.5 1,4K Assista Agora"Signs", realizado pelo feitceiro M. Night Shyamalan, conta uma história sobre o poder da fé/crença nas pessoas, e como estes dois aspectos podem mudar a maneira de encarar a vida e o modo de interpretar o mundo, na prespectiva de uma determinada pessoa. Simplificando, é um filme sobre a importância da fé na vida humana.
E tenho de admitir que achei "Signs" um belíssimo filme. A começar pela realização. Eu sempre apreciei o modo delicado de Shyamalan conduzir a trama. Ele tem uma capacidade incrível de manter o poder do mistério com o telespectador, e faz com que ficamos colados ao ecrã! Ele é muito subtil na maneira de apresentar as coisas, evidenciando apenas pequenos detalhes, e com isso, aumenta o suspense e o clima do filme.
Mais ainda, não podia deixar de referir as opções do realizador quando o assunto é o modo de utilizar a câmera. "Signs" é filmado com mestria. Shyamalan sempre brincou com a câmera, e os ângulos complexos que ele seleciona para gravar a fita, só intensifica a atmosfera do filme. Isso é genial!!!
Quanto às interpretações: Mel Gibson faz um trabalho profundo muito bom (ele consegue convencer plenamente como um pai viúvo tramado pelas suas próprias crenças); Joaquin Phoenix, para quê gastar mais latim com este actor?; Rory Culkin, enfim, interpreta a típica criança Spielberg, super interessada nas ciências; e a Abigail Breslin, com os seus pequenos seis aninhos, está muito, mas muito, engraçada neste filme. Ela entrega um leve senso cômico ao filme muito bem adicionado. E como? Através da intuição dos seus diálogos! A sério, é uma personagem muito engraçada, eu dei algumas gargalhadas!
Recomendo. É um filme que divide opiniões. Têm de o visualizar para ver em quais dos lados ficam. Porque... cada um tem essa opção, não é? - "People break down into two groups. When they experience something lucky, group number one sees it as more than luck, more than coincidence. They see it as a sign, evidence, that there is someone up there, watching out for them. Group number two sees it as just pure luck. Just a happy turn of chance. I'm sure the people in group number two are looking at those fourteen lights in a very suspicious way. For them, the situation is a fifty-fifty. Could be bad, could be good. But deep down, they feel that whatever happens, they're on their own. And that fills them with fear. Yeah, there are those people. But there's a whole lot of people in group number one. When they see those fourteen lights, they're looking at a miracle. And deep down, they feel that whatever's going to happen, there will be someone there to help them. And that fills them with hope. See what you have to ask yourself is what kind of person are you? Are you the kind that sees signs, that sees miracles? Or do you believe that people just get lucky? Or, look at the question this way: Is it possible that there are no coincidences?"
Entre Abelhas
3.4 830A maioria das pessoas que estão dispostas a ver "Entre Abelhas" assentam a ideia de que verão uma comédia polémica ao genuíno estilo do "Porta dos Fundos".
Sim, o realizador é o mesmo da famosa linha de vídeos, Fábio Porchat protagoniza e ainda temos no elenco nomes como Luís Lobianco, Letícia Lima e Marcos Veras. Mas não, este não se trata de um "Porta dos Fundos: O Filme" e muito menos de uma comédia (existe doses humorísticas, porém o filme, mesmo assim, não condiz com o género, na minha opinião).
Surpreendentemente, "Entre Abelhas" trata-se de um drama metafórico existencialista. Ian SBF e Porchat destroem o paradigma, e se já achávamos que os vídeos traziam uma certa inteligência, este filme veio comprovar que a equipa "Porta dos Fundos" é muito mais brilhante do que aparenta.
Tal como ocorreu com Jim Carrey em "Eternal Sunshine of the Spotless Mind" (2004, Michel Gondry), Fábio Porchat quebra o seu habitual humor físico, e apresenta uma admirável performance, merecedora de ótimos elogios.
SBF entrega um trabalho de realização hábil, simples, limpo, funcional, inteligente, correspondendo perfeitamente com o visual minimalista do filme.
Com um significado profundo, aberto até a interpretações subjectivas, "Entre Abelhas" impressionou-me absolutamente e revelou o talento notável do pessoal do "Porta dos Fundos" para criar obras relevantes e engenhosas.