"O que que custa experimentar? Esse sempre foi o seu maior problema, minha filha, você tem medo de experimentar. Sempre foi assim. Só foi comer alface aos vinte e dois anos e adorou. Você usou franja até os vinte e cinco anos, filha. Vai, escreve! Se der errado você larga esse julio32 e pega o gauchoaceso na outra página."
Esse diálogo entre a apaixonante Dona Picucha e sua filha resume bem o espírito da senhorinha que de senhora tem nada. Ela quer saber de ser independente, de se aventurar, de dar uma chance ao acaso, de viver. Talvez a velhice traga isso para algumas pessoas: urgência. Creio eu que Dona Picucha tenha sido assim por toda a sua vida, mas de qualquer forma, podemos tomar para nós o seu exemplo: viva o agora, sem medo. Afinal, o que custa experimentar? O filme, que afinal é um telefilme, possui enredo bem leve e descompromissado, com um roteiro totalmente divertido ao apresentar as trapalhadas e aventuras de Dona Picucha, e Fernanda Montenegro com sua atuação hipnotizante, nos prende do começo ao fim na história de sua carismática personagem. Merecido o prêmio recebido pela veterana atriz no Emmy Awards, a mais talentosa de seu ramo em nosso país. Gostaria de vê-la mais em experiências cinematográficas que possuem uma abrangência de atuação maior, apesar de ela sempre ter brilhado nas telenovelas nacionais, as mesmas não trazem tanto reconhecimento internacional.
"Doce de Mãe" é também um retrato dos mais comuns nas famílias modernas: ao chegar na terceira idade, os pais se tornam um problema a lidar, e não mais um membro ativo da família. Dona Picucha vem mostrar que ela pode ser sim um membro ativo em maio aos seus queridos filhos. Ela ensina uma das filhas a paquerar na internet, aprende a pesquisar termos no Google, assiste o jogo de futebol com um dos filhos e dá pitacos técnicos, e até mesmo arrasta o filho homossexual para um pagode com o seu genro, onde bebe caipirinha e samba (em uma das cenas mais hilárias). Foi preciso a distância de Zaida uma amiga e companheira para Dona Picucha, e "babá" para na visão dos filhos, para todos pudessem novamente notar a presença um dos outros, mas não como meros personagens sentados em volta de uma mesa para comer panquecas, e sim, como mãe e filhos, com seus dilemas particulares, e com todas as suas diferenças sendo digeridas juntamente com as deliciosas panquecas flambadas.
"O senhor não sabe a idade nem a data de nascimento da sua mãe, a roupa que ela tava usando, o senhor não sabe o nome da empregada. O senhor não via a sua mãe há mais de uma semana, isso sabendo que ela não tinha nenhuma amiga. Eu acho que quem desapareceu foi o senhor, e não ela", diz a certo ponto, uma das personagens para um dos filhos de Dona Picucha. Talvez essa seja uma brecha para que cada um de nós possamos avaliar se não estamos sumindo também da vida de nossos amados.
Aplausos para essa despretensiosa obra da Rede Globo que de vez em quando acerta no que faz.
Todo material cultural tem como base para sua criação o repertório de quem a produz. Vejo uma crítica generalizada quanto ao funk devido à sua temática geral. Ora, se o funk é da periferia, produzida por pessoas que na maioria dos casos não têm estudo ou acesso à cultura, de que mais eles iriam falar? E mesmo os que possuem a chamada "bagagem cultural de elite", supondo que eles criassem "funks burgueses", como eles seriam inseridos no contexto da periferia? O funk é criado na periferia, para a periferia. Não estou dizendo que na periferia só exista sexo e violência como é retratado na maioria das letras dos funks, porém a produção artística não possui roteiro e nem explicação tão evidentes, ela acontece, se manifesta socialmente.
Podemos observar, por exemplo, que a maioria dos funks criados por mulheres, como "Gaiola das Popozudas" e "Deise Tigrona", são além de tudo, uma manifestação de liberdade e feminismo. Há quem torça o nariz e diga que suas letras assumem um tom promíscuo, e não feminista. Eu afirmo que o funk dessas mulheres é sim feminista. Ele dá o direito de resposta à essas mulheres, que como no caso explicitado por Deise no documentário, querem rebater letras machistas de outros funkeiros. São letras de mulheres insatisfeitas com a forma como são tratadas e inseridas na sociedade. Um grito por liberdade: somos donas do nosso corpo, e se for para ele ser tratado como objeto, que seja para a nossa satisfação, o nosso prazer, e não o de outro. Não podemos como disse mais acima, esperar manifestações tão engajadas de pessoas que não possuem um repertório criativo e de linguagem tão elaborado; se expressam da forma que podem, e isso não diminui sua expressão.
Afora tudo o que já foi mencionado, o funk sofre tanto preconceito também por vivermos em uma sociedade hipócrita e basicamente infectada pelos valores cristãos, onde o prazer sexual é visto sob uma redoma de pecado e culpa. Por que não podemos nos manifestar sobre sexo, assunto que permeia nossa vida? Por que não podem manifestar seu ponto de vista quanto a realidade diária da periferia, onde a violência está inserida? Por que marginalizar um movimento cultural tão legítimo como o funk, que surge como tantos outros movimentos que foram um dia marginalizados e posteriormente tratados como arte? O funk encontrou espaço no cenário internacional exatamente por não estar envolto em todos esses aspectos preconceituosos criados por nós mesmos brasileiros, pelo ouvinte. Nós marginalizamos nossa própria cultura, nós mesmos oprimimos a expressão de um grupo de pessoas nem melhores nem piores, criando formas de se expressarem, de traçarem um futuro diferente do esperado para pessoas tão sem oportunidades.
O funk seduziu o mundo todo por mudar seu público ouvinte, público este dotado de uma visão não envolta em barreiras preconceituosas. Apreciam o seu ritmo, seus instrumentos, o seu som. Como muitos entrevistados dizem no documentário, o funk é pra cima, contagiante, animado. "Diplo" (que é um dos diretores desse documentário) apresentou o funk ao mundo através da produção de seu hit "Bucky Done Gun" (música que contém samples de "Injeção", cantada por "Deise Tigrona"), em parceria com a rapper "M.I.A.". Alguns chamam isso de apropriação, eu chamo de vitrinismo. Quando algo estoura internacionalmente é que o povo brasileiro tira alguns segundos para pensar, "Será que é bom mesmo?".
Precisamos nos desvencilhar desse papo de cultura de elite, das pré-definições do que é arte ou não; não aceitar que somente a bossa nova, garota de Ipanema e o Cristo Redentor representam o Brasil e sua cultura. Tem muito mais o que ser visto nesse imenso Brasil.
"É som de preto, de favelado, mas quando toca ninguém fica parado."
É interessante perceber como ao desenrolar do filme a nossa percepção sobre as personagens muda completamente de forma sutil. Partimos da premissa de que as motivações de April sejam todas relacionadas ao marido, que estaria preso em uma vida indesejada. Mas ao longo do filme, percebemos que a história não se trata do descontentamento de Frank, e sim do descontentamento de April, que transferiu toda a sua angústia e insatisfação para as mãos do marido. À fim de enganar a si própria, April converte sua realidade de forma a motivar Frank a mudar sua condição, proporcionado assim, talvez, o tipo de vida que ela gostaria de viver. Porém, seu marido se assentou e está satisfeito com sua vida, mesmo ela não sendo o que ele imaginou no passado, quando conheceu sua futura esposa. April toma consciência plena disso mais adiante, como podemos verificar em seu monólogo com Shep no Vito's, onde ela admite que com o passar dos anos seu marido soube se ajustar, enquanto ela na pressão do casamento e todas as obrigações que isso implicava na época, incluindo seus filhos, havia perdido o senso de liberdade e propósito imaginados na sua juventude. O diretor conduz a história competentemente, transformando os fatos de forma gradual, não deixando-nos perder o foco mesmo com um roteiro lento e até monótono em alguns momentos. O roteiro possui diálogos poderosos que só contribuem para a narrativa, que mesmo não sendo tão ágil, se apoia nas atuações de DiCaprio e Winslet, que possuem química na pele do casal, e entregaram atuações grandiosas, sabendo dosar o nível de tensão e emoção. Uma personagem curiosa é John Givings, que funciona como a personificação de um terceiro eu, que vem para dizer o que realmente se passa pela cabeça dos dois, trazer à tona algumas verdades que quebram o senso sonhador que paira no ar. A fotografia em tons frios só vem reforçar a realidade psicológica das personagens. Sam Mendes entrega um filme inteligente e muito subestimado, que nos mostra que escolher vai muito além do nosso querer. Nessa jornada de auto satisfação, deparamos com inúmeras amarras e contratempos que no fim das contas, pode nos custar a felicidade.
Aprendi que ação é personagem, personagem é história. Partindo então deste paradigma, fico incrédulo ao ver tantas pessoas massacrando o filme devido a sua "falta de profundidade". Ora, se o ponto é exatamente esse! Os personagens refletem a história, e a história reflete seus personagens, que são fúteis, vazios, sem propósito, carentes. E esse é um dos êxitos de Sofia: encontrar um equilíbrio entre o bem humorado / caricato, e o real / documental. Até mesmo a trilha sonora demonstra ao longo do filme a transformação dos acontecimentos, que no começo da exibição é vibrante e no entanto vai se tornando cena à cena cada vez mais apático. Me parece que nossos personagens agiram de tal forma por total falta de propósito, para se entreter, ostentar, se espelhar no tal modo de vida sonhado de suas "vítimas"; e ao se habituarem à nova rotina, tudo se torna banal e sem graça. Além do mais, o filme trata de forma muito divertida o mundo surreal dos famosos, desde o momento em que um dos "delinquentes" encontra uma das "vítimas" na prisão, até momentos na performance escrachada de Emma Watson que nos entrega o máximo da futilidade dos aspirantes à fama personificados em uma jovem. O filme é também um deleite pop, construído musicalmente de forma impecável, com cada música se encaixando verdadeiramente na história. "The Bling Ring" não é uma obra-prima do cinema, mas com certeza é um retrato um tanto caricato, porém fundamentado, de uma nova geração, que se inspira no modelo capitalista exibido pelas celebridades de holofotes, que vendem o sonho surreal de suas vidas regadas a grandes marcas, dinheiro, festas, bebedeira e drogas. Se você achou o filme fútil demais, repense se Sofia não cumpriu seu papel, e seja mais complacente com esse filme divertidíssimo, que partiu de uma premissa simplória e que mesmo assim entretém.
"As memórias vão com o tempo. Se desfazem. Mas algumas não encontram consolo, só algum alívio nas pequenas brechas da poesia. Você é a minha memória inconsolável, feita de pedra e de sombra. E é dela que tudo nasce, e dança."
Não sou de deixar me levar por opiniões alheias, mas sempre fico de olho nos termômetros que costumam refletir a minha opinião geral, como o Filmow e o Rotten Tomatoes. E desde que começaram a sair resenhas sobre “Los Amantes Pasajeros”, confesso que fiquei preocupado. Sim, pois quando se trata de um filme de Pedro Almodóvar, não esperamos algo menos que soberbo. Ao que via, tudo indicava que o filme se tratava de um trabalho mediano. Não me abalei, e fui conferir com meus próprios olhos.
De cara, percebemos que estamos prestes a ver um filme peculiar. Com um tema tipicamente espanhol e a inserção dos logos já conhecidos pelos espectadores do diretor, como o da produtora fundada por ele próprio, a “El Deseo”, podemos então dar o veredito: é Almodóvar que veremos a seguir! Temos uma passagem relâmpago de Penélope Cruz e Antônio Banderas, logo na entrada do filme, que mau perdura para matarmos a saudade da parceria entre os atores e o diretor. Enfim entramos na trema central do filme, que é sim, muito simpática. Mas Almodóvar, por quê? Sempre estudei que ação é personagem, personagem é história, e essa história sempre ruma de uma premissa para um objetivo. Mas como criar ação quando não se tem motivação? Qual o fundamento dessa história? Seria uma auto-homenagem? Apenas uma revisitação às suas gloriosas comédias oitentistas? Temos uma história que infelizmente não se sustenta, e personagens que se debatem para dar forma ao insólito roteiro.
A maior marca do diretor sempre foi a sua singular fotografia, inspiradora de muitos outros artistas, e nesse quesito, não há dúvida, estamos assistindo a um autêntico filme de Pedro Almodóvar.
Mas quanto narrativa, sinceramente, eu fiquei seriamente desapontado. Um dos maiores erros do roteiro é desviar a história do núcleo principal vivendo a história no avião para interliga-lo ao que se passa em terra firme, numa desesperada tentativa de não saturar o espectador da história nos ares, e de tentar inserir drama à história.
Quanto a tão falada falta de conservadorismo, só devo destacá-la como positiva. A sociedade ainda trata como o tabu dos tabus a questão da sexualidade. Então, Almodóvar vem e esfrega o sexo nu e cru na nossa cara, e diz: ACEITA! O sexo permeia as mesas de bares, as rodas de sofá, salas de aula, transporte público, enfim, a nossa sociedade. E mesmo assim, tentam vendê-lo como assunto impronunciável e digno de silêncio. Mas afora isso, em filmes anteriores, sexo, drogas, homossexualidade, enfim, o liberalismo pregado pelo diretor, tiveram um sentido mais transgressor para a sua carreira, e também tiveram maior valor social. Neste, os temas se tornam apenas alegorias que enfeitam a narrativa suspensa em um vazio existencial.
Quanto as atuações, não há do que reclamar, com exceção de alguns personagens inventados para “encher avião”, como o matador de aluguel, o Sr. Más, e Ricardo Galán com todo o seu enredo.
A insistente atitude de o diretor tentar instaurar o ar de suspense cômico no filme, principalmente por meio da trilha sonora, só contribuiu para a sensação de desordem narrativa.
Ao final do filme, temos a impressão de ter assistido uma sequência aleatória.
Alguns críticos mais atenuantes tentam vender a ideia de que o filme seja “uma experiência sem compromisso”, que devíamos “não levar a sério e assistir o filme sem cobranças”. Mas eu digo: essa foi a atitude que eu tomei, e saí da sala de cinema mais satisfeito que insatisfeito, apesar de tantos defeitos apontados aqui por mim. Mas não vou mascarar meu desapontamento apenas por eu ser um defensor ferrenho e fã incondicional do diretor. Por mim, teria novos filmes de Pedro Almodóvar todos os dias. Mas por mim, haveria muito mais “Mujeres Al Borde De Un Ataque De Nervios” que “Los Amantes Pasajeros”.
Muito ouvi falar sobre "2 Coelhos" e devo dizer que ao terminar de assisti-lo, fiquei bastante desapontado. "2 Coelhos" é um filme bastante wannabe, claramente inspirado em filmes dirigidos pelo cineasta Guy Ritchie, com uma pitada de "Fight Club" ao estilo esquizofrênico de Fincher, mas tudo isso num patamar bem inferior. A premissa do filme não é original ou fundamentada, sentimos a história surgir de uma forma muito forçada. Vemos criminalidade, favela, bandidos, mas não da forma verossímil e bem construída como em "Cidade de Deus" do talentoso Fernando Meirelles. O filme é de uma modelagem estrangeira, forçado a entrar num envolto brasileiro, com direito a favela e muito palavrão, mas que não convence na sua insistência em pisar no campo da ficção. Talvez tenha sido ousadia demais do iniciante Poyart em dirigir um filme desta forma, mas essa ousadia com certeza lhe foi útil, já que ele ganhou visibilidade e agora dirige uma produção internacional com renomados atores hollywoodianos. Não digo que o cineasta não tenha talento, até porque normalmente os primeiros trabalhos de iniciantes sejam carregados de referências e estilismos de outros. Mas ainda é cedo para dizer se o cineasta possui talento real ou não. Isso o tempo vai dizer. Sobre o quesito atuação, me incomodou a forma afetada como a maioria dos atores abordaram seus personagens, mas isso também advém da fraca concepção estereotipada criada pelo roteirista e diretor. A fotografia e a cinematografia também não me agradou por remeter demasiadamente aos filmes produzidos pela MTV, uma atmosfera esquisita e artificial no sentido ruim da palavra, salvo algumas exceções como a cena que aqui vou chamar "Julia gosta do mar", executada de forma menos presunçosa. Ao final do filme temos uma salada de abordagens estéticas, uma história que não se sustenta por completo, personagens descartáveis, trilha sonora e cinematografia alheias, e o filme, sim, decepciona.
"That's us before... It was rainy and they went for a drive. What happened to yours? I hear you cry at night... Do you dream about them? I know that's why you wreck things and push me... Our family's little now and we don't have many toys , but if you want, you could be part of it. You could be our baby and we'd raise you to be good. Ohana means family, and family means no one gets left behind, but if you wanna leave, you can. I'll remember you, though. I remember everyone who leaves."
"Extremely Loud and Incredebly Close" é um filme de extrema sensibilidade, desenvolvido com paciência, e carregado com muita competência por um ator mirim que fez um trabalho espetacular, e realmente não entendo, como Thomas Horn não recebeu uma indicação ao Oscar. Aliás, o filme é bastante subestimado, apesar de sua indicação por melhor filme no "Academy Awards". Apenas duas atuações de crianças, que me recordo, me causaram tanta comoção; uma delas foi a de Saoirse Ronam em "Atonement", e a outra foi a de Thomas Horn. No filme, somos apresentados à relação entre pai e filho de forma muito convincente, que mesmo durando pouco em projeção, nos faz ter plena consciência da relação entre os dois, o que funciona muito bem para que possamos em seguida compartilhar da dor e simpatizar pela busca de Oskar por uma resposta de tudo o que se passa em sua vida. É incrível vermos a relação construída por Thomas em relação ao seu filho, sua dedicação em torná-lo uma criança ativa e envolvida. O filme passa por muitos momentos adoráveis, como a relação que Oscar cria com "o inquilino", e claro, as pessoas que ele conhece em sua jornada. Impossível não se emocionar com a cena das cartas e a cena do acerto de contas entre mãe e filho. Trilha sonora marcante, história envolvente e inspiradora, elenco afiado, principalmente por Sandra Bullock, que mesmo sumindo em boa parte da projeção, quando aparece, faz seu personagem valer suas linhas. Tudo o que penso agora é que demorei demais para ver o filme, e que certamente lerei o livro em breve.
O ponto alto de "A Separação" é demonstrar como a justiça se baseia em fatos de forma errônea, já que fatos não são necessariamente verdadeiros ou falsos, certos ou errados; os pontos de vistas são diferentes, distorcidos de acordo com a conveniência do observador, e por isso o conceito de justiça é tão abstrato, torpe e incorreto. É interessante ver o oriente médio retratado de forma menos arcáica e esteriotipada, mostrando que lá não existe somente mulheres submissas, guerras, entre outros elementos do imaginário clichê ocidental; o próprio filme já combate essa visão, o Irã produz sim! Gostei bastante do final do filme, que ilustra bem a visão utilizada pelo diretor de que no fim das contas, nós nunca conheceremos a verdade plena, o desfecho real, o não encenado das situações conflituosas criadas pelos seres em sociedade. Histórias são polidimensionais e nossa visão é infelizmente unidimensional.
O que mais me impressiona em "C.R.A.Z.Y." é como as personagens são cativantes, únicas e palpáveis. A estória é envolvente, a trilha cai feito luva, os atores estão afiados, o roteiro é interessante e a montagem deixa a história sempre em movimento. Uma belíssima realização e um dos poucos filmes realmente consideráveis dentro da temática homossexual e que retrata a família na sua forma mais verossímel possível.
Não li os livros, mas o que posso afirmar é que o longa possui um roteiro falho, sem plot points realmente interessantes, sem elementos surpresa, sem um pico de ação dramática, o que deixa o filme monótono e desinteressante; falta de desenvolvimento dos personagens secundários, o que atrapalha a empatia com o espectador. Problemas que me deixaram com uma sensação de "poderia ser muito melhor", ao chegar no final dos 142 minutos de projeção. A estória, de tão bárbara do ponto de vista social, se torna inverossímel e sem propósito. Não sei se o livro possuía desenvolvimento superior. Se sim, os roteiristas e o diretor pecaram nesse ponto ao produzirem o longa. Se não, os roteiristas e o diretor deveriam ter adaptado o livro de forma mais eficaz. Vamos ver se as continuações me agradam mais.
O amor... Que dor incomensurável quando não correspondido, que alegria e inspiração quando retribuído. Nos deixa sem raciocínio nem lógica, sem dignidade, sem escrúpulos, desnorteados, destruídos. Quem não amou, não viveu. Quem amou, chorou. E Petra, sim, chorou. E que lágrimas amargas! Não teria melhor título para esta obra. O filme tem um desenvolvimento que não considero tão bem pontuado, um pouco entrecortado, mas a atuação de Margit Carstensen nos deu a dimensão do que é sofrer por amor.
O nome desse filme vende uma identidade falsa de sua real estória. Escândalo? Talvez, depende dos olhos de quem vê, da moral de quem observa. "Notes on a Scandal" é claramente um filme que retrata a solidão em seus vários âmbitos. Solidão plena, como a personagem Bárbara relata em um de seus monólogos; e solidão parcial, como a de Sheba, uma professora de artes que possui marido, filhos, uma vida conjugal e profissional para administrar com todas as atividades exigidas de ambas, porém, mesmo assim, se sente imersa num vazio de funcionalidade, insatisfeita com sua vida. Como pode o ser humano ser tão carente, tão solitário, tão dependente? A que ponto chegaríamos para nos sentirmos amados, úteis, felizes, plenos? Richard Eyre e seus roteiristas entregam um filme de diálogos viscerais (principalmente por parte da personagem Bárbara), criando personagens tão bem construídas, que se tornam em certos momentos, paupáveis. Cate e Judi são muito bem dirigidas, não que fosse necessário muito esforço para retirar atuações soberbas de ambas. A trilha sonora mereceu sua indicação ao Oscar, por dar o tom dramático de que o filme precisa, muito funcional. "Notes on a Scandal" se tornou um dos meus favoritos por não ser conduzido na direção da polêmica e sensacionalismo; é um filme sobre personagens, sobre o ser humano e suas relações. A forma como agem é apenas o pano de fundo para mostrar o íntimo dessas personagens, e não cabe ao espectador julgar o certo ou errado.
Quem espera uma abordagem piegas e hollywoodiana de amor em "Amour", um filme com músicas românticas com os mais variados instrumentos musicais, câmera lenta, cabelos esvoaçantes e mãos dadas numa praia em noite de luar, pode dar meia volta. O filme do austríaco Michael Haneke retrata o amor da forma mais real, claustrofóbica, angustiante, devastadora e cruel possível. Filme conduzido de forma magistral pelo diretor, nos colocando aos poucos e depois imersamente na realidade dos dois personagens principais, que vemos de tal forma quando o filme se inicia, e de forma irreconhecível quando o mesmo se encerra. Há quem diga que "Amour" não retrata o amor por ser demasiado bruto. Mais bruto que a realidade? Ora, se cinema serve para criar o não criável, para criar os mais ilusórios sonhos, por que não também para exibir o mais verídico retrato de um dos períodos mais dolorosos e temidos da vida humana? A vida é um fardo acumulativo que ao invés de se tornar leve com o passar dos anos, se torna pesado a ponto de ser insuportável. Georges tinha consciência disso e decidiu que o fardo de sua esposa era pesado demais. Que forma mais autêntica de amar do que tomar para si as dores do outro? Fazer o infazível em prol do seu amor? Pegar para si o fardo do outro quando suas costas estão arqueadas pelo peso de seu próprio fardo? Isso é sim amor! Aliás, a visão romântico-clichê criada em grande parte pelo próprio cinema, é a grande responsável pelo descontentamento humano com suas relações amorosas. Estamos sempre em busca de uma visão totalmente utópica do amor. E que forma de representar a humilhação que é perder a sua autonomia, seu direito de ir e vir, de viver a mercê da boa vontade de outros. Isso só me faz desejar que no futuro eu tenha um Georges ao meu lado. Emmanuelle Riva tem o meu Oscar em suas mãos, e tenho certeza que o de muitas outras pessoas. Interpretação soberba de uma atriz que deve ter se espelhado na personagem, já que a velhice para ela é um estado real, fato que acredito ter facilitado sua interpretação. "Amour" é o mais fiel retrato da velhice e de uma das mais autênticas formas de amar. Para mim, uma pessoa ainda jovem, fica o eco de toda a angústia do que está por vir.
"A Viagem de Chihiro" é um daqueles poucos filmes que preenchem o coração de inúmeros sentimentos. Filme de encher os olhos. Como é estranho chegar ao final, com Chihiro dando as costas para essa aventura, para tantas pessoas que foram conhecidas, onde até mesmo "inimigos" deixaram de ser inimigos. Ser grato pelos que deram um ombro amigo, apoio, como também para com os que da forma mais difícil e dolorosa ensinam e agregam. "Não olhe pra trás". Alguém conseguiu não aplicar esse momento e essa frase em algum acontecimento de nossas vidas, ter de seguir em frente sem olhar para o que ficou para trás? "A Viagem de Chihiro" é poesia, é vida em forma de animação, valores e mensagens grandiosas escondidas sob os mais simples objetos, analogias e acontecimentos. Gostaria muito de ver inúmeros filmes em "animação pra gente grande" como os de Miyazaki em circulação. Mas se houvessem tantos, estes talvez não seriam tão especiais. Miyazaki é mestre em criar universos maravilhosos e histórias tocantes que ao se encerrarem, nos deixam com um aperto no coração, como o de quem deixa para trás algo muito valioso.
Não tem como opinar sobre "Anna Karenina" do sensacional Joe Wright sem mencionar os quesitos técnicos. Fazer coisas boas com grandes recursos é um tanto quanto mais fácil, agora usar poucos recursos e mesmo assim fazer algo render positivamente, isso é admirável. A forma como Joe aproveitou os cenários teatrais para construir o todo o visual do filme é maravilhosa. A direção de arte fez um trabalho estupendo, e Dário Marianelli mais uma vez entrega uma trilha sonora muito bem arquitetada. "Anna Karenina" funciona partindo de seu objetivo; as metáforas visuais e cenas criadas puderam nos passar a realidade da sociedade mais antiquada, quão repressora ela pode ser. Anna é uma grande mulher por tomar as rédeas de sua vida. A história flui, porém acaba ficando atrás das outras grandes obras do diretor, o que não diminui em nada o mérito deste. Quando vejo um filme do Joe, fico sempre no aguardo do próximo.
"De Rouille et D'os", é um filme completamente sensorial. Quem não ficou inquieto com duas cenas em particular: Stéphanie no mar e Alain tentando resgatar o Sam? Eu queria entrar na tela. Eu literalmente me mexia na cama, esticava a mão, jogava as mãos no rosto. Como eu torci pelo garoto, como se eu realmente o conhecesse. Esse é um feito incrível do cinema, te transportar para dentro da tela. Mas não somente nessas duas cenas eu pude me sentir imerso nessa história. Como não se emocionar com a cena de Stéphanie retornando ao ginásio das baleias e também ensaiando os truques do show em sua varanda? Vejo algumas pessoas criticando a inserção de "Firework" nessa cena, mas gente, essa era a música que tocava no ginásio. Faz parte da recordação. E na cena do ginásio, esse tipo de música é mais do que plausível. Ou queriam que na montagem colocassem Piaf pra tocar na apresentação de baleias? Quem sabe Mozart? John Willians? Enfim... Marion Cottilard dessa vez merece sua indicação pois sua atuação era gesto a gesto, olhares, tênues expressões. Você sentia a vergonha em seu rosto, o medo, receio, insegurança, felicidade. E transmitir isso sem um personagem caricato e escandaloso como o de Piaf é realmente um trabalho primoroso. Uma poderosa atuação, mas que de tão sutíl, não terá força para levar a estatueta de melhor atriz no Globo de Ouro, e a possível indicação ao Oscar. Matthias Schoenaerts encara o papel de corpo e alma, e boa parte do seu êxito vem do roteiro e direção do filme, que não perdeu tempo com firulas, desenvolvendo a estória num ritmo equilibrado. Jacques Audiard e seus roteiristas tornaram o filme bastante verossímil. Essa estória acontece como a vida, com seus encontros e desencontros, seu amargor, seus momentos de alegria, tristeza. A cena final apesar de piegas, não poderia resumir melhor essa estrada de autoconhecimento dos personagens, que acabamos por nos identificar, ou então ao menos nos colocar em seus lugares. Afinal, quem disse que a vida não é um tanto quanto piegas, amarga, triste, prazerosa? Como é bom encerrar um filme e ver que seu título resume tamanha história em tão poucas palavras.
"Abril Despedaçado" é contado sob circunstâncias e num cenário tão exótico que essa realidade típica de uma região específica do Brasil soa surreal para quem não esteja acostumado com ela. Salles nos apresenta de forma inteligentíssima através da história de Tonho como o meio em que vivemos, a sociedade, a família, e tantos outros fatores externos interferem na nossa liberdade de escolha, no nosso direito de ir e vir. Vemos a história de uma família, de seres humanos tão devastados e secos quanto a própria terra infértil de onde eles tiravam o seu escasso sustento. Cada um da sua maneira tentava buscar um jeito de seguir em frente, de buscar a felicidade, dignidade. Um círculo vicioso de autodestruição que Tonho tentou quebrar, porém, impedido pelo antiquado e autoritário pai e suas tradições. O elenco todo trabalha em grande sintonia, nos colocando no clima da história, mas com certeza, destaque ao "Menino" e a sua inocência de criança, que nos faz perceber como sempre complicamos as coisas ao invés de simplificá-las. A fotografia é magnífica, uma prova de que é possível tirar belas cenas dos lugares mais inesperados. Salles dirigiu cenas memoráveis nesse filme, como a da corda; e as do balanço, que representou toda a liberdade desejada pelos dois filhos. Engraçado como até o balanço representa bem a situação dos irmãos: ele proporcionava uma liberdade aprisionada, eles não voavam realmente, eram pássaros na gaiola vislumbrando um breve voo na sua prisão. A mensagem que fica no fim das contas é que todos temos a chance de mudar o nosso destino, é difícil, exige lutas e sacrifícios, mas só basta querer.
Como sempre o mercantilismo que faz os produtores brasileiros mudarem o nome do filme para algum título mais piegas para atingir o público facilmente, aqui estraga todo o significado original do título de uma forma deprimente. "Soldier's Girl" é uma história trágica sem deixar de ser cativante pela sensibilidade com a qual foi construída a relação de Calpernia com Barry, que mesmo não tendo um grande orçamento, comprova que uma boa ideia na mão de gente competente rende bem mais que dinheiro desperdiçado em blockbusters. Esse é um grande problema da indústria cinematográfica hoje em dia. O financiamento e patrocínio acaba na mão de pessoas com mais influência e fama no meio e assim muitas boas ideias e profissionais acabam não saindo do undeground, ainda mais para temáticas LGBT. Há dois pontos que devo destacar no filme, primeiramente o ritmo/roteiro. Todos os acontecimentos foram muito bem pensados, tudo muito bem amarrado, deu tempo de desenvolver a trama do protagonista com os militares, e deu tempo de desenvolver a trama dos protagonistas e sua história romântica. Foi convincente, nós realmente acompanhamos a história de amor deles. Outro ponto que devo destacar é a maravilhosa interpretação do Lee Pace como Calpernia. Jurava que era uma transsexual real no papel! E não me conformo por ele não ter levado o prêmio no Globo de Ouro de melhor ator. O filme é super válido por expor a ignorância que ainda envolve as questões da orientação sexual e principalmente a identidade de gênero.
[Spoiler abaixo]
Uma pessoa perdeu a vida, duas pessoas perderam a chance de viverem uma vida feliz e plena simplesmente porque o ser humano não tem a capacidade de conviver com as diferenças, diferenças essas que em nada interfere na vida dos demais.
Sempre que assisto a segunda parte, vejo a magnitude do desfecho da série. Talvez ainda não tenhamos a noção da contribuição que a série Harry Potter deu ao cinema, e a toda uma geração, a nova geração, a geração que não teve Star Wars, a geração que teve Harry Potter. Foi um marco na história da ficção, do cinema, da literatura. Um impulso aos jovens criarem gosto pela leitura, uma coisa quase abandonada nos dias de hoje. Impossível não se emocionar com as lembranças de Snape, não se arrepiar com a brilhante atuação de Ralph Fiennes como Voldemort, a evolução do Daniel na pele do Harry, a mão forte de Dumbledore que conduziu toda a história, a amizade de Rony e Hermione, sentir o coração apertar ao ver a escola toda destruída... Davi Yates foi a melhor coisa que aconteceu a série, a elevou realmente ao status de blockbuster. Eu me orgulho muito de poder ter acompanhado em tempo real a série Harry Potter. Eu participei desse marco.
Se tem um ponto positivo nesse filme é a eficiência dos acontecimentos. Como por exemplo, no começo, entre o Chalé das Conchas e o Banco Gringotes. É um alívio ver que não tem enrolação. Nada de preparar poção polissuco, nada de perder tempo subindo escadas, nada de explicações desnecessárias: os acontecimentos estão alí nus e crus para serem vistos. Mas isso também atrapalha em alguns momentos que deveriam ser grandiosos. A “grande batalha” por exemplo, parece durar apenas alguns instantes. Tudo bem que enquando Harry procura o Diadema e Ron e Hermione vão a Câmara Secreta, tudo continua acontecendo dentro e fora do castelo, mas a sensação de “já passou?” ficou no ar. Talvez eu tenha essa impressão pelo fato de ter sido a primeira vez que assisti ao filme, pode ser que em uma nova exibição eu consiga digerir melhor tudo o que se passa. Os efeitos visuais estão de matar. Não tem como botar defeito. Nem tente, você não vai conseguir. As filmagens aéreas são de tirar o fôlego, os giros na hora da batalha, feitiços, gigantes, é tudo muito surreal. Ver Hogwarts, o campo de Quadribol, e tantos outros locais aos quais nos afeiçoamos por dez anos, em plena destruição é de uma tristeza descomunal. Ver os mortos todos deitados no chão do que antes era o caloroso Salão Principal é de uma frieza esmagadora. A fotografia é perfeita. Perfeita.
Quando Voldemort dá o aviso de que irá atacar a escola fazendo sua voz ecoar nos ouvidos de todos em Hogwarts, é muito macabro. Chega a dar um arrepio. E nessa hora eu ví a fotografia sendo eficiente, obviamente, não só aí. Quando ele começa a falar tudo se torna azul-esverdeado, dando exatamente o ar de frieza que a cena pede, perdendo os tons quentes de segundos atrás. Yates peca em coisas muito simples mas que em mim causou um efeito muito negativo. Não sei se é somente ele o responsável por isso, mas o efeito usado para a morte do Voldemort é simplesmente grotesco. Não que seja mal feito, mas é descabível. Já o efeito na morte da Bellatriz é engolível. Nesse quesito, Yates, você errou, e feio. Sem contar que quiseram simplificar o momento da morte do vilão, colocando como se Voldemort tivesse morrido por terem destruído a última Horcrux, a cobra Nagini. Ou seja, não houve o embate onde Harry derrota Voldemort com o ricocheteio do feitiço, ele simplesmente morre.
Outro grave erro do Yates, mas que não foi um erro exatamente, porque foi uma coisa premeditada por ele, é querer deixar o filme menos dramático. As mortes de personagens tão importantes passam batidos. Tá, não passam batidos, mas passei quatro anos desde a leitura do livro imaginando que essas seriam as cenas de choro mais soluçantes da série Harry Potter, e no máximo foi tocante. Dá tempo de absorver a morte dos personagens, mas não dá tempo de chorar por eles.
Mais uma coisa, não sei se culpa do diretor ou roteirista, ou dos dois: quando Harry vai para a morte, ele encontra Ron e Hermione na escadaria da escola, coisa que não ocorre no livro. Rony e Hermione veem o amigo, o amigo não, o amigo de toda a vida, o melhor amigo indo morrer e apenas o abraçam ao estilo “boa viagem”. Como assim? A cena é emocionante, graças a interpretação de Emma Watson, foi a hora que não consegui segurar o choro, mas é o tipo de coisa que a gente engole.
Aliás, entrando no quesito interpretação, que melhora o Daniel Radcliffe teve. Ele ainda passa longe do destaque que é Emma, mas está muito convincente e seguro nesse filme, como disse, mais ou menos assim, Isabela Boscov da Veja, “até que enfim ele entendeu que quem deveria ter levado a série é ele, e não os coadjuvantes”.E outra coisa que me irrita no Yates/Kloves, é esse monte de momentos de alívio cômico. Fora duas tiradas boas, o resto é totalmente dispensável. Os veteranos, mesmo que em pequenas cenas intercaladas durante o filme, dão o brilho épico que o filme têm. Maggie Smith simplesmente nos deixa eufóricos ao organizar a proteção do castelo junto aos outros professores de Hogwarts.
Aliás, o que a Sra. Weasley fazia alí sendo que nem professora era? Por quê ocultaram a Professora Sprout? Bom, eu sei o porque. A Sra. Weasley é mais popular e “próxima” ao público e então resolveram colocar ela na linha de frente. Achei desnecessário.
A trilha sonora é magnífica. Confesso que em muitos momentos ela some junto ao filme, mas em momentos chave ela marca, e muito perfeitamente. Momentos altos da trilha do Alexandre Desplat são as faixas compostas para o Banco Gringotes, a organização da Batalha, a destruição de Hogwarts e as memórias do Snape. Achei curioso as faixas do final do filme não terem me chamado a atenção. Voltando ao quesito atuação, Alan Rickman rouba a cena. Todos os momentos de Snape são pedaços de obra-prima. Nas cenas das memórias, o pessoal da edição e o diretor merecem muitas palmas.
Michael Gambon retorna em seus poucos e brilhantes momentos com o melhor Dumbledore que a série poderia ter, reforçando mais ainda o meu amor por esse ator nesse papel.Personagem que eu nunca gostei, mas que aceito a vontade da escritora de da-lo algum mérito, é Neville Longbottom. Matthew Lewis o interpreta com competência, mas não tenho afinidade com o personagem.
Que coisa ridícula foi o roteirista querendo transformar o momento dele heróico além da conta. Acho válido um discurso dos “bons moços”, mas chegou a ficar vergonhoso, muito exagerado. “Harry morreu mas está nos nossos corações”, não, não deu. Sem contar que Voldemort teria dado um Avada Kedavra naquele menino assim que ele abrisse a boca.
O epílogo. Muito bem filmado e dirigido. Nostalgia a flor da pele. Uma sensação de “o ciclo continua”.
Mas a maquiagem… Aquilo é o que vocês apresentam como sendo 19 anos depois? Não, obrigado. Prefiro a cena logo após a batalha, o trio de mãos dadas na ponte, que é uma das mais lindas de toda a série.
Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte 2 sem dúvidas é um épico, pena que quase-perfeito, ao invés de perfeito. Talvez por eu ser fã e ter depositado uma expectativa muito enorme em cima do último capítulo, a película não tenha tido o alcance proposto pela produção em mim. Não estou dizendo que o filme é ruim nem mediano, é de longe o melhor da série, mas era o último, e queria ter saído do cinema gritando “Foi perfeito!”, mas não foi. Pelo menos, chegou muito próximo disso. Uma saga tão completa, bem feita, bem amarrada, e tão amada por tantos milhões de fãs ao redor do mundo, encerra aqui a sua história, e deixa um legado eterno de literatura, e também seu marco no cinema.
Azul é a Cor Mais Quente
3.7 4,3K Assista AgoraUma das poucas vezes em que curti o título em PT-BR mais do que o original.
Doce de Mãe
4.0 351"O que que custa experimentar? Esse sempre foi o seu maior problema, minha filha, você tem medo de experimentar. Sempre foi assim. Só foi comer alface aos vinte e dois anos e adorou. Você usou franja até os vinte e cinco anos, filha. Vai, escreve! Se der errado você larga esse julio32 e pega o gauchoaceso na outra página."
Esse diálogo entre a apaixonante Dona Picucha e sua filha resume bem o espírito da senhorinha que de senhora tem nada. Ela quer saber de ser independente, de se aventurar, de dar uma chance ao acaso, de viver. Talvez a velhice traga isso para algumas pessoas: urgência. Creio eu que Dona Picucha tenha sido assim por toda a sua vida, mas de qualquer forma, podemos tomar para nós o seu exemplo: viva o agora, sem medo. Afinal, o que custa experimentar? O filme, que afinal é um telefilme, possui enredo bem leve e descompromissado, com um roteiro totalmente divertido ao apresentar as trapalhadas e aventuras de Dona Picucha, e Fernanda Montenegro com sua atuação hipnotizante, nos prende do começo ao fim na história de sua carismática personagem. Merecido o prêmio recebido pela veterana atriz no Emmy Awards, a mais talentosa de seu ramo em nosso país. Gostaria de vê-la mais em experiências cinematográficas que possuem uma abrangência de atuação maior, apesar de ela sempre ter brilhado nas telenovelas nacionais, as mesmas não trazem tanto reconhecimento internacional.
"Doce de Mãe" é também um retrato dos mais comuns nas famílias modernas: ao chegar na terceira idade, os pais se tornam um problema a lidar, e não mais um membro ativo da família. Dona Picucha vem mostrar que ela pode ser sim um membro ativo em maio aos seus queridos filhos. Ela ensina uma das filhas a paquerar na internet, aprende a pesquisar termos no Google, assiste o jogo de futebol com um dos filhos e dá pitacos técnicos, e até mesmo arrasta o filho homossexual para um pagode com o seu genro, onde bebe caipirinha e samba (em uma das cenas mais hilárias). Foi preciso a distância de Zaida uma amiga e companheira para Dona Picucha, e "babá" para na visão dos filhos, para todos pudessem novamente notar a presença um dos outros, mas não como meros personagens sentados em volta de uma mesa para comer panquecas, e sim, como mãe e filhos, com seus dilemas particulares, e com todas as suas diferenças sendo digeridas juntamente com as deliciosas panquecas flambadas.
"O senhor não sabe a idade nem a data de nascimento da sua mãe, a roupa que ela tava usando, o senhor não sabe o nome da empregada. O senhor não via a sua mãe há mais de uma semana, isso sabendo que ela não tinha nenhuma amiga. Eu acho que quem desapareceu foi o senhor, e não ela", diz a certo ponto, uma das personagens para um dos filhos de Dona Picucha. Talvez essa seja uma brecha para que cada um de nós possamos avaliar se não estamos sumindo também da vida de nossos amados.
Aplausos para essa despretensiosa obra da Rede Globo que de vez em quando acerta no que faz.
Favela Bolada
3.6 16Todo material cultural tem como base para sua criação o repertório de quem a produz. Vejo uma crítica generalizada quanto ao funk devido à sua temática geral. Ora, se o funk é da periferia, produzida por pessoas que na maioria dos casos não têm estudo ou acesso à cultura, de que mais eles iriam falar? E mesmo os que possuem a chamada "bagagem cultural de elite", supondo que eles criassem "funks burgueses", como eles seriam inseridos no contexto da periferia? O funk é criado na periferia, para a periferia. Não estou dizendo que na periferia só exista sexo e violência como é retratado na maioria das letras dos funks, porém a produção artística não possui roteiro e nem explicação tão evidentes, ela acontece, se manifesta socialmente.
Podemos observar, por exemplo, que a maioria dos funks criados por mulheres, como "Gaiola das Popozudas" e "Deise Tigrona", são além de tudo, uma manifestação de liberdade e feminismo. Há quem torça o nariz e diga que suas letras assumem um tom promíscuo, e não feminista. Eu afirmo que o funk dessas mulheres é sim feminista. Ele dá o direito de resposta à essas mulheres, que como no caso explicitado por Deise no documentário, querem rebater letras machistas de outros funkeiros. São letras de mulheres insatisfeitas com a forma como são tratadas e inseridas na sociedade. Um grito por liberdade: somos donas do nosso corpo, e se for para ele ser tratado como objeto, que seja para a nossa satisfação, o nosso prazer, e não o de outro. Não podemos como disse mais acima, esperar manifestações tão engajadas de pessoas que não possuem um repertório criativo e de linguagem tão elaborado; se expressam da forma que podem, e isso não diminui sua expressão.
Afora tudo o que já foi mencionado, o funk sofre tanto preconceito também por vivermos em uma sociedade hipócrita e basicamente infectada pelos valores cristãos, onde o prazer sexual é visto sob uma redoma de pecado e culpa. Por que não podemos nos manifestar sobre sexo, assunto que permeia nossa vida? Por que não podem manifestar seu ponto de vista quanto a realidade diária da periferia, onde a violência está inserida? Por que marginalizar um movimento cultural tão legítimo como o funk, que surge como tantos outros movimentos que foram um dia marginalizados e posteriormente tratados como arte? O funk encontrou espaço no cenário internacional exatamente por não estar envolto em todos esses aspectos preconceituosos criados por nós mesmos brasileiros, pelo ouvinte. Nós marginalizamos nossa própria cultura, nós mesmos oprimimos a expressão de um grupo de pessoas nem melhores nem piores, criando formas de se expressarem, de traçarem um futuro diferente do esperado para pessoas tão sem oportunidades.
O funk seduziu o mundo todo por mudar seu público ouvinte, público este dotado de uma visão não envolta em barreiras preconceituosas. Apreciam o seu ritmo, seus instrumentos, o seu som. Como muitos entrevistados dizem no documentário, o funk é pra cima, contagiante, animado. "Diplo" (que é um dos diretores desse documentário) apresentou o funk ao mundo através da produção de seu hit "Bucky Done Gun" (música que contém samples de "Injeção", cantada por "Deise Tigrona"), em parceria com a rapper "M.I.A.". Alguns chamam isso de apropriação, eu chamo de vitrinismo. Quando algo estoura internacionalmente é que o povo brasileiro tira alguns segundos para pensar, "Será que é bom mesmo?".
Precisamos nos desvencilhar desse papo de cultura de elite, das pré-definições do que é arte ou não; não aceitar que somente a bossa nova, garota de Ipanema e o Cristo Redentor representam o Brasil e sua cultura. Tem muito mais o que ser visto nesse imenso Brasil.
"É som de preto, de favelado, mas quando toca ninguém fica parado."
Foi Apenas um Sonho
3.6 1,3K Assista AgoraÉ interessante perceber como ao desenrolar do filme a nossa percepção sobre as personagens muda completamente de forma sutil. Partimos da premissa de que as motivações de April sejam todas relacionadas ao marido, que estaria preso em uma vida indesejada. Mas ao longo do filme, percebemos que a história não se trata do descontentamento de Frank, e sim do descontentamento de April, que transferiu toda a sua angústia e insatisfação para as mãos do marido. À fim de enganar a si própria, April converte sua realidade de forma a motivar Frank a mudar sua condição, proporcionado assim, talvez, o tipo de vida que ela gostaria de viver. Porém, seu marido se assentou e está satisfeito com sua vida, mesmo ela não sendo o que ele imaginou no passado, quando conheceu sua futura esposa. April toma consciência plena disso mais adiante, como podemos verificar em seu monólogo com Shep no Vito's, onde ela admite que com o passar dos anos seu marido soube se ajustar, enquanto ela na pressão do casamento e todas as obrigações que isso implicava na época, incluindo seus filhos, havia perdido o senso de liberdade e propósito imaginados na sua juventude. O diretor conduz a história competentemente, transformando os fatos de forma gradual, não deixando-nos perder o foco mesmo com um roteiro lento e até monótono em alguns momentos. O roteiro possui diálogos poderosos que só contribuem para a narrativa, que mesmo não sendo tão ágil, se apoia nas atuações de DiCaprio e Winslet, que possuem química na pele do casal, e entregaram atuações grandiosas, sabendo dosar o nível de tensão e emoção. Uma personagem curiosa é John Givings, que funciona como a personificação de um terceiro eu, que vem para dizer o que realmente se passa pela cabeça dos dois, trazer à tona algumas verdades que quebram o senso sonhador que paira no ar. A fotografia em tons frios só vem reforçar a realidade psicológica das personagens. Sam Mendes entrega um filme inteligente e muito subestimado, que nos mostra que escolher vai muito além do nosso querer. Nessa jornada de auto satisfação, deparamos com inúmeras amarras e contratempos que no fim das contas, pode nos custar a felicidade.
Bling Ring - A Gangue de Hollywood
3.0 1,7K Assista AgoraAprendi que ação é personagem, personagem é história. Partindo então deste paradigma, fico incrédulo ao ver tantas pessoas massacrando o filme devido a sua "falta de profundidade". Ora, se o ponto é exatamente esse! Os personagens refletem a história, e a história reflete seus personagens, que são fúteis, vazios, sem propósito, carentes. E esse é um dos êxitos de Sofia: encontrar um equilíbrio entre o bem humorado / caricato, e o real / documental. Até mesmo a trilha sonora demonstra ao longo do filme a transformação dos acontecimentos, que no começo da exibição é vibrante e no entanto vai se tornando cena à cena cada vez mais apático. Me parece que nossos personagens agiram de tal forma por total falta de propósito, para se entreter, ostentar, se espelhar no tal modo de vida sonhado de suas "vítimas"; e ao se habituarem à nova rotina, tudo se torna banal e sem graça. Além do mais, o filme trata de forma muito divertida o mundo surreal dos famosos, desde o momento em que um dos "delinquentes" encontra uma das "vítimas" na prisão, até momentos na performance escrachada de Emma Watson que nos entrega o máximo da futilidade dos aspirantes à fama personificados em uma jovem. O filme é também um deleite pop, construído musicalmente de forma impecável, com cada música se encaixando verdadeiramente na história. "The Bling Ring" não é uma obra-prima do cinema, mas com certeza é um retrato um tanto caricato, porém fundamentado, de uma nova geração, que se inspira no modelo capitalista exibido pelas celebridades de holofotes, que vendem o sonho surreal de suas vidas regadas a grandes marcas, dinheiro, festas, bebedeira e drogas. Se você achou o filme fútil demais, repense se Sofia não cumpriu seu papel, e seja mais complacente com esse filme divertidíssimo, que partiu de uma premissa simplória e que mesmo assim entretém.
Elena
4.2 1,3K Assista Agora"As memórias vão com o tempo. Se desfazem. Mas algumas não encontram consolo, só algum alívio nas pequenas brechas da poesia. Você é a minha memória inconsolável, feita de pedra e de sombra. E é dela que tudo nasce, e dança."
Os Amantes Passageiros
3.1 648 Assista AgoraNão sou de deixar me levar por opiniões alheias, mas sempre fico de olho nos termômetros que costumam refletir a minha opinião geral, como o Filmow e o Rotten Tomatoes. E desde que começaram a sair resenhas sobre “Los Amantes Pasajeros”, confesso que fiquei preocupado. Sim, pois quando se trata de um filme de Pedro Almodóvar, não esperamos algo menos que soberbo. Ao que via, tudo indicava que o filme se tratava de um trabalho mediano. Não me abalei, e fui conferir com meus próprios olhos.
De cara, percebemos que estamos prestes a ver um filme peculiar. Com um tema tipicamente espanhol e a inserção dos logos já conhecidos pelos espectadores do diretor, como o da produtora fundada por ele próprio, a “El Deseo”, podemos então dar o veredito: é Almodóvar que veremos a seguir! Temos uma passagem relâmpago de Penélope Cruz e Antônio Banderas, logo na entrada do filme, que mau perdura para matarmos a saudade da parceria entre os atores e o diretor. Enfim entramos na trema central do filme, que é sim, muito simpática. Mas Almodóvar, por quê? Sempre estudei que ação é personagem, personagem é história, e essa história sempre ruma de uma premissa para um objetivo. Mas como criar ação quando não se tem motivação? Qual o fundamento dessa história? Seria uma auto-homenagem? Apenas uma revisitação às suas gloriosas comédias oitentistas? Temos uma história que infelizmente não se sustenta, e personagens que se debatem para dar forma ao insólito roteiro.
A maior marca do diretor sempre foi a sua singular fotografia, inspiradora de muitos outros artistas, e nesse quesito, não há dúvida, estamos assistindo a um autêntico filme de Pedro Almodóvar.
Mas quanto narrativa, sinceramente, eu fiquei seriamente desapontado. Um dos maiores erros do roteiro é desviar a história do núcleo principal vivendo a história no avião para interliga-lo ao que se passa em terra firme, numa desesperada tentativa de não saturar o espectador da história nos ares, e de tentar inserir drama à história.
Quanto a tão falada falta de conservadorismo, só devo destacá-la como positiva. A sociedade ainda trata como o tabu dos tabus a questão da sexualidade. Então, Almodóvar vem e esfrega o sexo nu e cru na nossa cara, e diz: ACEITA! O sexo permeia as mesas de bares, as rodas de sofá, salas de aula, transporte público, enfim, a nossa sociedade. E mesmo assim, tentam vendê-lo como assunto impronunciável e digno de silêncio. Mas afora isso, em filmes anteriores, sexo, drogas, homossexualidade, enfim, o liberalismo pregado pelo diretor, tiveram um sentido mais transgressor para a sua carreira, e também tiveram maior valor social. Neste, os temas se tornam apenas alegorias que enfeitam a narrativa suspensa em um vazio existencial.
Quanto as atuações, não há do que reclamar, com exceção de alguns personagens inventados para “encher avião”, como o matador de aluguel, o Sr. Más, e Ricardo Galán com todo o seu enredo.
A insistente atitude de o diretor tentar instaurar o ar de suspense cômico no filme, principalmente por meio da trilha sonora, só contribuiu para a sensação de desordem narrativa.
Ao final do filme, temos a impressão de ter assistido uma sequência aleatória.
Alguns críticos mais atenuantes tentam vender a ideia de que o filme seja “uma experiência sem compromisso”, que devíamos “não levar a sério e assistir o filme sem cobranças”. Mas eu digo: essa foi a atitude que eu tomei, e saí da sala de cinema mais satisfeito que insatisfeito, apesar de tantos defeitos apontados aqui por mim. Mas não vou mascarar meu desapontamento apenas por eu ser um defensor ferrenho e fã incondicional do diretor. Por mim, teria novos filmes de Pedro Almodóvar todos os dias. Mas por mim, haveria muito mais “Mujeres Al Borde De Un Ataque De Nervios” que “Los Amantes Pasajeros”.
2 Coelhos
4.0 2,7K Assista AgoraMuito ouvi falar sobre "2 Coelhos" e devo dizer que ao terminar de assisti-lo, fiquei bastante desapontado. "2 Coelhos" é um filme bastante wannabe, claramente inspirado em filmes dirigidos pelo cineasta Guy Ritchie, com uma pitada de "Fight Club" ao estilo esquizofrênico de Fincher, mas tudo isso num patamar bem inferior. A premissa do filme não é original ou fundamentada, sentimos a história surgir de uma forma muito forçada. Vemos criminalidade, favela, bandidos, mas não da forma verossímil e bem construída como em "Cidade de Deus" do talentoso Fernando Meirelles. O filme é de uma modelagem estrangeira, forçado a entrar num envolto brasileiro, com direito a favela e muito palavrão, mas que não convence na sua insistência em pisar no campo da ficção. Talvez tenha sido ousadia demais do iniciante Poyart em dirigir um filme desta forma, mas essa ousadia com certeza lhe foi útil, já que ele ganhou visibilidade e agora dirige uma produção internacional com renomados atores hollywoodianos. Não digo que o cineasta não tenha talento, até porque normalmente os primeiros trabalhos de iniciantes sejam carregados de referências e estilismos de outros. Mas ainda é cedo para dizer se o cineasta possui talento real ou não. Isso o tempo vai dizer. Sobre o quesito atuação, me incomodou a forma afetada como a maioria dos atores abordaram seus personagens, mas isso também advém da fraca concepção estereotipada criada pelo roteirista e diretor. A fotografia e a cinematografia também não me agradou por remeter demasiadamente aos filmes produzidos pela MTV, uma atmosfera esquisita e artificial no sentido ruim da palavra, salvo algumas exceções como a cena que aqui vou chamar "Julia gosta do mar", executada de forma menos presunçosa. Ao final do filme temos uma salada de abordagens estéticas, uma história que não se sustenta por completo, personagens descartáveis, trilha sonora e cinematografia alheias, e o filme, sim, decepciona.
Lilo & Stitch
3.9 591 Assista Agora"That's us before... It was rainy and they went for a drive. What happened to yours? I hear you cry at night... Do you dream about them? I know that's why you wreck things and push me... Our family's little now and we don't have many toys , but if you want, you could be part of it. You could be our baby and we'd raise you to be good. Ohana means family, and family means no one gets left behind, but if you wanna leave, you can. I'll remember you, though. I remember everyone who leaves."
Tão Forte e Tão Perto
4.0 2,0K Assista Agora"Extremely Loud and Incredebly Close" é um filme de extrema sensibilidade, desenvolvido com paciência, e carregado com muita competência por um ator mirim que fez um trabalho espetacular, e realmente não entendo, como Thomas Horn não recebeu uma indicação ao Oscar. Aliás, o filme é bastante subestimado, apesar de sua indicação por melhor filme no "Academy Awards". Apenas duas atuações de crianças, que me recordo, me causaram tanta comoção; uma delas foi a de Saoirse Ronam em "Atonement", e a outra foi a de Thomas Horn. No filme, somos apresentados à relação entre pai e filho de forma muito convincente, que mesmo durando pouco em projeção, nos faz ter plena consciência da relação entre os dois, o que funciona muito bem para que possamos em seguida compartilhar da dor e simpatizar pela busca de Oskar por uma resposta de tudo o que se passa em sua vida. É incrível vermos a relação construída por Thomas em relação ao seu filho, sua dedicação em torná-lo uma criança ativa e envolvida. O filme passa por muitos momentos adoráveis, como a relação que Oscar cria com "o inquilino", e claro, as pessoas que ele conhece em sua jornada. Impossível não se emocionar com a cena das cartas e a cena do acerto de contas entre mãe e filho. Trilha sonora marcante, história envolvente e inspiradora, elenco afiado, principalmente por Sandra Bullock, que mesmo sumindo em boa parte da projeção, quando aparece, faz seu personagem valer suas linhas. Tudo o que penso agora é que demorei demais para ver o filme, e que certamente lerei o livro em breve.
A Separação
4.2 726 Assista AgoraO ponto alto de "A Separação" é demonstrar como a justiça se baseia em fatos de forma errônea, já que fatos não são necessariamente verdadeiros ou falsos, certos ou errados; os pontos de vistas são diferentes, distorcidos de acordo com a conveniência do observador, e por isso o conceito de justiça é tão abstrato, torpe e incorreto. É interessante ver o oriente médio retratado de forma menos arcáica e esteriotipada, mostrando que lá não existe somente mulheres submissas, guerras, entre outros elementos do imaginário clichê ocidental; o próprio filme já combate essa visão, o Irã produz sim! Gostei bastante do final do filme, que ilustra bem a visão utilizada pelo diretor de que no fim das contas, nós nunca conheceremos a verdade plena, o desfecho real, o não encenado das situações conflituosas criadas pelos seres em sociedade. Histórias são polidimensionais e nossa visão é infelizmente unidimensional.
C.R.A.Z.Y. - Loucos de Amor
4.2 712O que mais me impressiona em "C.R.A.Z.Y." é como as personagens são cativantes, únicas e palpáveis. A estória é envolvente, a trilha cai feito luva, os atores estão afiados, o roteiro é interessante e a montagem deixa a história sempre em movimento. Uma belíssima realização e um dos poucos filmes realmente consideráveis dentro da temática homossexual e que retrata a família na sua forma mais verossímel possível.
Jogos Vorazes
3.8 5,0K Assista AgoraNão li os livros, mas o que posso afirmar é que o longa possui um roteiro falho, sem plot points realmente interessantes, sem elementos surpresa, sem um pico de ação dramática, o que deixa o filme monótono e desinteressante; falta de desenvolvimento dos personagens secundários, o que atrapalha a empatia com o espectador. Problemas que me deixaram com uma sensação de "poderia ser muito melhor", ao chegar no final dos 142 minutos de projeção. A estória, de tão bárbara do ponto de vista social, se torna inverossímel e sem propósito. Não sei se o livro possuía desenvolvimento superior. Se sim, os roteiristas e o diretor pecaram nesse ponto ao produzirem o longa. Se não, os roteiristas e o diretor deveriam ter adaptado o livro de forma mais eficaz. Vamos ver se as continuações me agradam mais.
As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant
4.2 103O amor... Que dor incomensurável quando não correspondido, que alegria e inspiração quando retribuído. Nos deixa sem raciocínio nem lógica, sem dignidade, sem escrúpulos, desnorteados, destruídos. Quem não amou, não viveu. Quem amou, chorou. E Petra, sim, chorou. E que lágrimas amargas! Não teria melhor título para esta obra. O filme tem um desenvolvimento que não considero tão bem pontuado, um pouco entrecortado, mas a atuação de Margit Carstensen nos deu a dimensão do que é sofrer por amor.
Notas Sobre um Escândalo
4.0 538 Assista AgoraO nome desse filme vende uma identidade falsa de sua real estória. Escândalo? Talvez, depende dos olhos de quem vê, da moral de quem observa. "Notes on a Scandal" é claramente um filme que retrata a solidão em seus vários âmbitos. Solidão plena, como a personagem Bárbara relata em um de seus monólogos; e solidão parcial, como a de Sheba, uma professora de artes que possui marido, filhos, uma vida conjugal e profissional para administrar com todas as atividades exigidas de ambas, porém, mesmo assim, se sente imersa num vazio de funcionalidade, insatisfeita com sua vida. Como pode o ser humano ser tão carente, tão solitário, tão dependente? A que ponto chegaríamos para nos sentirmos amados, úteis, felizes, plenos? Richard Eyre e seus roteiristas entregam um filme de diálogos viscerais (principalmente por parte da personagem Bárbara), criando personagens tão bem construídas, que se tornam em certos momentos, paupáveis. Cate e Judi são muito bem dirigidas, não que fosse necessário muito esforço para retirar atuações soberbas de ambas. A trilha sonora mereceu sua indicação ao Oscar, por dar o tom dramático de que o filme precisa, muito funcional. "Notes on a Scandal" se tornou um dos meus favoritos por não ser conduzido na direção da polêmica e sensacionalismo; é um filme sobre personagens, sobre o ser humano e suas relações. A forma como agem é apenas o pano de fundo para mostrar o íntimo dessas personagens, e não cabe ao espectador julgar o certo ou errado.
Amor
4.2 2,2K Assista AgoraQuem espera uma abordagem piegas e hollywoodiana de amor em "Amour", um filme com músicas românticas com os mais variados instrumentos musicais, câmera lenta, cabelos esvoaçantes e mãos dadas numa praia em noite de luar, pode dar meia volta. O filme do austríaco Michael Haneke retrata o amor da forma mais real, claustrofóbica, angustiante, devastadora e cruel possível. Filme conduzido de forma magistral pelo diretor, nos colocando aos poucos e depois imersamente na realidade dos dois personagens principais, que vemos de tal forma quando o filme se inicia, e de forma irreconhecível quando o mesmo se encerra. Há quem diga que "Amour" não retrata o amor por ser demasiado bruto. Mais bruto que a realidade? Ora, se cinema serve para criar o não criável, para criar os mais ilusórios sonhos, por que não também para exibir o mais verídico retrato de um dos períodos mais dolorosos e temidos da vida humana? A vida é um fardo acumulativo que ao invés de se tornar leve com o passar dos anos, se torna pesado a ponto de ser insuportável. Georges tinha consciência disso e decidiu que o fardo de sua esposa era pesado demais. Que forma mais autêntica de amar do que tomar para si as dores do outro? Fazer o infazível em prol do seu amor? Pegar para si o fardo do outro quando suas costas estão arqueadas pelo peso de seu próprio fardo? Isso é sim amor! Aliás, a visão romântico-clichê criada em grande parte pelo próprio cinema, é a grande responsável pelo descontentamento humano com suas relações amorosas. Estamos sempre em busca de uma visão totalmente utópica do amor. E que forma de representar a humilhação que é perder a sua autonomia, seu direito de ir e vir, de viver a mercê da boa vontade de outros. Isso só me faz desejar que no futuro eu tenha um Georges ao meu lado. Emmanuelle Riva tem o meu Oscar em suas mãos, e tenho certeza que o de muitas outras pessoas. Interpretação soberba de uma atriz que deve ter se espelhado na personagem, já que a velhice para ela é um estado real, fato que acredito ter facilitado sua interpretação. "Amour" é o mais fiel retrato da velhice e de uma das mais autênticas formas de amar. Para mim, uma pessoa ainda jovem, fica o eco de toda a angústia do que está por vir.
A Viagem de Chihiro
4.5 2,3K Assista Agora"A Viagem de Chihiro" é um daqueles poucos filmes que preenchem o coração de inúmeros sentimentos. Filme de encher os olhos. Como é estranho chegar ao final, com Chihiro dando as costas para essa aventura, para tantas pessoas que foram conhecidas, onde até mesmo "inimigos" deixaram de ser inimigos. Ser grato pelos que deram um ombro amigo, apoio, como também para com os que da forma mais difícil e dolorosa ensinam e agregam. "Não olhe pra trás". Alguém conseguiu não aplicar esse momento e essa frase em algum acontecimento de nossas vidas, ter de seguir em frente sem olhar para o que ficou para trás? "A Viagem de Chihiro" é poesia, é vida em forma de animação, valores e mensagens grandiosas escondidas sob os mais simples objetos, analogias e acontecimentos. Gostaria muito de ver inúmeros filmes em "animação pra gente grande" como os de Miyazaki em circulação. Mas se houvessem tantos, estes talvez não seriam tão especiais. Miyazaki é mestre em criar universos maravilhosos e histórias tocantes que ao se encerrarem, nos deixam com um aperto no coração, como o de quem deixa para trás algo muito valioso.
Anna Karenina
3.7 1,2K Assista AgoraNão tem como opinar sobre "Anna Karenina" do sensacional Joe Wright sem mencionar os quesitos técnicos. Fazer coisas boas com grandes recursos é um tanto quanto mais fácil, agora usar poucos recursos e mesmo assim fazer algo render positivamente, isso é admirável. A forma como Joe aproveitou os cenários teatrais para construir o todo o visual do filme é maravilhosa. A direção de arte fez um trabalho estupendo, e Dário Marianelli mais uma vez entrega uma trilha sonora muito bem arquitetada. "Anna Karenina" funciona partindo de seu objetivo; as metáforas visuais e cenas criadas puderam nos passar a realidade da sociedade mais antiquada, quão repressora ela pode ser. Anna é uma grande mulher por tomar as rédeas de sua vida. A história flui, porém acaba ficando atrás das outras grandes obras do diretor, o que não diminui em nada o mérito deste. Quando vejo um filme do Joe, fico sempre no aguardo do próximo.
Ferrugem e Osso
3.9 821 Assista Agora"De Rouille et D'os", é um filme completamente sensorial. Quem não ficou inquieto com duas cenas em particular: Stéphanie no mar e Alain tentando resgatar o Sam? Eu queria entrar na tela. Eu literalmente me mexia na cama, esticava a mão, jogava as mãos no rosto. Como eu torci pelo garoto, como se eu realmente o conhecesse. Esse é um feito incrível do cinema, te transportar para dentro da tela. Mas não somente nessas duas cenas eu pude me sentir imerso nessa história. Como não se emocionar com a cena de Stéphanie retornando ao ginásio das baleias e também ensaiando os truques do show em sua varanda? Vejo algumas pessoas criticando a inserção de "Firework" nessa cena, mas gente, essa era a música que tocava no ginásio. Faz parte da recordação. E na cena do ginásio, esse tipo de música é mais do que plausível. Ou queriam que na montagem colocassem Piaf pra tocar na apresentação de baleias? Quem sabe Mozart? John Willians? Enfim... Marion Cottilard dessa vez merece sua indicação pois sua atuação era gesto a gesto, olhares, tênues expressões. Você sentia a vergonha em seu rosto, o medo, receio, insegurança, felicidade. E transmitir isso sem um personagem caricato e escandaloso como o de Piaf é realmente um trabalho primoroso. Uma poderosa atuação, mas que de tão sutíl, não terá força para levar a estatueta de melhor atriz no Globo de Ouro, e a possível indicação ao Oscar. Matthias Schoenaerts encara o papel de corpo e alma, e boa parte do seu êxito vem do roteiro e direção do filme, que não perdeu tempo com firulas, desenvolvendo a estória num ritmo equilibrado. Jacques Audiard e seus roteiristas tornaram o filme bastante verossímil. Essa estória acontece como a vida, com seus encontros e desencontros, seu amargor, seus momentos de alegria, tristeza. A cena final apesar de piegas, não poderia resumir melhor essa estrada de autoconhecimento dos personagens, que acabamos por nos identificar, ou então ao menos nos colocar em seus lugares. Afinal, quem disse que a vida não é um tanto quanto piegas, amarga, triste, prazerosa? Como é bom encerrar um filme e ver que seu título resume tamanha história em tão poucas palavras.
Abril Despedaçado
4.2 673"Abril Despedaçado" é contado sob circunstâncias e num cenário tão exótico que essa realidade típica de uma região específica do Brasil soa surreal para quem não esteja acostumado com ela. Salles nos apresenta de forma inteligentíssima através da história de Tonho como o meio em que vivemos, a sociedade, a família, e tantos outros fatores externos interferem na nossa liberdade de escolha, no nosso direito de ir e vir. Vemos a história de uma família, de seres humanos tão devastados e secos quanto a própria terra infértil de onde eles tiravam o seu escasso sustento. Cada um da sua maneira tentava buscar um jeito de seguir em frente, de buscar a felicidade, dignidade. Um círculo vicioso de autodestruição que Tonho tentou quebrar, porém, impedido pelo antiquado e autoritário pai e suas tradições. O elenco todo trabalha em grande sintonia, nos colocando no clima da história, mas com certeza, destaque ao "Menino" e a sua inocência de criança, que nos faz perceber como sempre complicamos as coisas ao invés de simplificá-las. A fotografia é magnífica, uma prova de que é possível tirar belas cenas dos lugares mais inesperados. Salles dirigiu cenas memoráveis nesse filme, como a da corda; e as do balanço, que representou toda a liberdade desejada pelos dois filhos. Engraçado como até o balanço representa bem a situação dos irmãos: ele proporcionava uma liberdade aprisionada, eles não voavam realmente, eram pássaros na gaiola vislumbrando um breve voo na sua prisão. A mensagem que fica no fim das contas é que todos temos a chance de mudar o nosso destino, é difícil, exige lutas e sacrifícios, mas só basta querer.
A Garota do Soldado
4.2 94[Spoiler no último parágrafo]
Como sempre o mercantilismo que faz os produtores brasileiros mudarem o nome do filme para algum título mais piegas para atingir o público facilmente, aqui estraga todo o significado original do título de uma forma deprimente. "Soldier's Girl" é uma história trágica sem deixar de ser cativante pela sensibilidade com a qual foi construída a relação de Calpernia com Barry, que mesmo não tendo um grande orçamento, comprova que uma boa ideia na mão de gente competente rende bem mais que dinheiro desperdiçado em blockbusters. Esse é um grande problema da indústria cinematográfica hoje em dia. O financiamento e patrocínio acaba na mão de pessoas com mais influência e fama no meio e assim muitas boas ideias e profissionais acabam não saindo do undeground, ainda mais para temáticas LGBT. Há dois pontos que devo destacar no filme, primeiramente o ritmo/roteiro. Todos os acontecimentos foram muito bem pensados, tudo muito bem amarrado, deu tempo de desenvolver a trama do protagonista com os militares, e deu tempo de desenvolver a trama dos protagonistas e sua história romântica. Foi convincente, nós realmente acompanhamos a história de amor deles. Outro ponto que devo destacar é a maravilhosa interpretação do Lee Pace como Calpernia. Jurava que era uma transsexual real no papel! E não me conformo por ele não ter levado o prêmio no Globo de Ouro de melhor ator. O filme é super válido por expor a ignorância que ainda envolve as questões da orientação sexual e principalmente a identidade de gênero.
[Spoiler abaixo]
Uma pessoa perdeu a vida, duas pessoas perderam a chance de viverem uma vida feliz e plena simplesmente porque o ser humano não tem a capacidade de conviver com as diferenças, diferenças essas que em nada interfere na vida dos demais.
Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2
4.3 5,2K Assista AgoraSempre que assisto a segunda parte, vejo a magnitude do desfecho da série. Talvez ainda não tenhamos a noção da contribuição que a série Harry Potter deu ao cinema, e a toda uma geração, a nova geração, a geração que não teve Star Wars, a geração que teve Harry Potter. Foi um marco na história da ficção, do cinema, da literatura. Um impulso aos jovens criarem gosto pela leitura, uma coisa quase abandonada nos dias de hoje. Impossível não se emocionar com as lembranças de Snape, não se arrepiar com a brilhante atuação de Ralph Fiennes como Voldemort, a evolução do Daniel na pele do Harry, a mão forte de Dumbledore que conduziu toda a história, a amizade de Rony e Hermione, sentir o coração apertar ao ver a escola toda destruída... Davi Yates foi a melhor coisa que aconteceu a série, a elevou realmente ao status de blockbuster. Eu me orgulho muito de poder ter acompanhado em tempo real a série Harry Potter. Eu participei desse marco.
Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2
4.3 5,2K Assista AgoraSe tem um ponto positivo nesse filme é a eficiência dos acontecimentos. Como por exemplo, no começo, entre o Chalé das Conchas e o Banco Gringotes. É um alívio ver que não tem enrolação. Nada de preparar poção polissuco, nada de perder tempo subindo escadas, nada de explicações desnecessárias: os acontecimentos estão alí nus e crus para serem vistos. Mas isso também atrapalha em alguns momentos que deveriam ser grandiosos. A “grande batalha” por exemplo, parece durar apenas alguns instantes. Tudo bem que enquando Harry procura o Diadema e Ron e Hermione vão a Câmara Secreta, tudo continua acontecendo dentro e fora do castelo, mas a sensação de “já passou?” ficou no ar. Talvez eu tenha essa impressão pelo fato de ter sido a primeira vez que assisti ao filme, pode ser que em uma nova exibição eu consiga digerir melhor tudo o que se passa. Os efeitos visuais estão de matar. Não tem como botar defeito. Nem tente, você não vai conseguir. As filmagens aéreas são de tirar o fôlego, os giros na hora da batalha, feitiços, gigantes, é tudo muito surreal. Ver Hogwarts, o campo de Quadribol, e tantos outros locais aos quais nos afeiçoamos por dez anos, em plena destruição é de uma tristeza descomunal. Ver os mortos todos deitados no chão do que antes era o caloroso Salão Principal é de uma frieza esmagadora. A fotografia é perfeita. Perfeita.
Quando Voldemort dá o aviso de que irá atacar a escola fazendo sua voz ecoar nos ouvidos de todos em Hogwarts, é muito macabro. Chega a dar um arrepio. E nessa hora eu ví a fotografia sendo eficiente, obviamente, não só aí. Quando ele começa a falar tudo se torna azul-esverdeado, dando exatamente o ar de frieza que a cena pede, perdendo os tons quentes de segundos atrás. Yates peca em coisas muito simples mas que em mim causou um efeito muito negativo. Não sei se é somente ele o responsável por isso, mas o efeito usado para a morte do Voldemort é simplesmente grotesco. Não que seja mal feito, mas é descabível. Já o efeito na morte da Bellatriz é engolível. Nesse quesito, Yates, você errou, e feio. Sem contar que quiseram simplificar o momento da morte do vilão, colocando como se Voldemort tivesse morrido por terem destruído a última Horcrux, a cobra Nagini. Ou seja, não houve o embate onde Harry derrota Voldemort com o ricocheteio do feitiço, ele simplesmente morre.
Mais uma coisa, não sei se culpa do diretor ou roteirista, ou dos dois: quando Harry vai para a morte, ele encontra Ron e Hermione na escadaria da escola, coisa que não ocorre no livro. Rony e Hermione veem o amigo, o amigo não, o amigo de toda a vida, o melhor amigo indo morrer e apenas o abraçam ao estilo “boa viagem”. Como assim? A cena é emocionante, graças a interpretação de Emma Watson, foi a hora que não consegui segurar o choro, mas é o tipo de coisa que a gente engole.
Aliás, o que a Sra. Weasley fazia alí sendo que nem professora era? Por quê ocultaram a Professora Sprout? Bom, eu sei o porque. A Sra. Weasley é mais popular e “próxima” ao público e então resolveram colocar ela na linha de frente. Achei desnecessário.
É incrivel a construção e entrelace das cenas, trazendo o momento-chave que é Snape encontrando Lilían morta, como o clímax maior.
, assim como a cena em que ele mata os duendes no Gringotes,
Destaque para a surra que ele dá no Potter.
Que coisa ridícula foi o roteirista querendo transformar o momento dele heróico além da conta. Acho válido um discurso dos “bons moços”, mas chegou a ficar vergonhoso, muito exagerado. “Harry morreu mas está nos nossos corações”, não, não deu. Sem contar que Voldemort teria dado um Avada Kedavra naquele menino assim que ele abrisse a boca.
Mas a maquiagem… Aquilo é o que vocês apresentam como sendo 19 anos depois? Não, obrigado. Prefiro a cena logo após a batalha, o trio de mãos dadas na ponte, que é uma das mais lindas de toda a série.
Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte 2 sem dúvidas é um épico, pena que quase-perfeito, ao invés de perfeito. Talvez por eu ser fã e ter depositado uma expectativa muito enorme em cima do último capítulo, a película não tenha tido o alcance proposto pela produção em mim. Não estou dizendo que o filme é ruim nem mediano, é de longe o melhor da série, mas era o último, e queria ter saído do cinema gritando “Foi perfeito!”, mas não foi. Pelo menos, chegou muito próximo disso. Uma saga tão completa, bem feita, bem amarrada, e tão amada por tantos milhões de fãs ao redor do mundo, encerra aqui a sua história, e deixa um legado eterno de literatura, e também seu marco no cinema.