Estavam ansioso por esse filme não só porque sou um fã da temática zumbi, mas porque sou fã de J. J. Abrams. A ideia do filme é interessante, mas acho que foi conduzida de maneira meio meh. Talvez eu esteja ficando velho demais para gostar desses filmes que tem uma trama meh só pra no final das contas dar em tiro, porrada e bomba.
A ideia dos nazistas pensando em algo como "soldados que vivem mil anos para um Reich de mil anos" é boa. Se fosse um livro talvez tivesse mais detalhes, uma trama mais complexa. Mas ficou tão simples que me incomodou.
Agora, esse lance do alcatrão foi completamente descabido. O que diabos tem em alcatrão refinado que traz a imortalidade?! Que porra é essa? O Derby tava patrocinando esse filme, por acaso? Não vi lógica nisso e não teve explicação nenhuma! Claro, se fosse um filme de terror, ok. Mas a mistura de gêneros foi muito conveniente. É um filme de ficção científica também, mas que não explica nada, só dá explicações toscas de soldado para soldado.
Cara, filme visualmente muito bom, muito bem feito. Mas queria saber por que está concorrendo ao oscar de melhor filme, e por que alguns críticos estão falando que é o melhor filme desde não sei quando.
A história não tem nada demais. Sério. É mais um daqueles filmes pretensamente cult que retratam preguiça de construir uma história com início, meio e fim, ou é simplesmente para um público mais técnico que já não liga para esse tipo de coisa.
Apesar de comentários decepcionados, tive uma boa experiência com Vidro. Não sabia muito o que esperar, mas apreciei o desfecho. A ideia foi finalizar a história mas ao mesmo tempo deixando aquele cheiro de que tem mais coisas nesse universo do que foi mostrado. E o diretor conseguiu fazer isso sem copiar a onda de filmes de super-heróis carnavalescos tecnológicos.
Mas, vamos aos comentários sobre o final do filme:
Aquele final mostrando que existe uma organização milenar responsável por manter o equilíbrio eliminando humanos extraordinários em vez de protegê-los -- como mandaria o clichê -- foi genial. E se pensarmos bem, eliminar esses seres faz tanto sentido quanto protegê-los, se formos pensar numa lógica cega de equilíbrio. Isso porque assim que surge um ser extraordinário por aí, outros seres começam a se mostrar. Isso pode gerar um desequilíbrio brutal na balança de poder no planeta. Imagine um governo que consiga cpitalizar vários super poderosos em seu favor? A única forma de fazer frente seria os outros países fazerem a mesma coisa. Seria como uma nova corrida armamentista, mas com habilidades humanas em vez de bombas atômicas. Nesse sentido, eliminar esses seres seria mais seguro do que abrir a caixa de pandora pra só depois ativar os esforços necessários pra fazer frente a esse poder. Analogamente, seria mais fácil nunca ninguém ter desenvolvidos bombas atômicas -- mas uma vez que um país possui, os outros também vão correr atrás, não tem como impedir (na verdade, isso é bom, porque um único país detendo tanto poder forçaria o surgimento de um singleton, ou seja, um governo global superpoderoso na base da força bélica, o que não agrada a quase ninguém).
Queria entender como não tem mais gente comentando sobre esse documentário! Fiquei simplesmente estarrecido com a profundidade do documentário, o que em grande parte é propiciada pela capacidade do Szukalsky de elaborar suas próprias reflexões.
Não entendo de arte a ponto de corroborar o que um dos entrevistados diz, que Szukalsky é um Michelangelo do século XX, mas certamente o artista tem envergadura para abalar o mundo da arte. Nota-se uma força descomunal em seu trabalho --
Não é a bosta fedida que muitos estão falando, mas também não é a obra prima que os admiradores divulgam nas redes sociais. Não sei se é pela propaganda bem sucedida da Netflix ou por causa do carisma da Sandra Bullock, mas esse filme está sendo muito superestimado. Chega a dar agonia.
A história não chega a ser uma narrativa espetacular e nem chega a ser uma história hiper assustadora. É tudo bem mediano. Sem contar que não vi nada ali que classifique o filme como ficção científica.
Esse filme começou com uma boa ideia: estamos exaurindo os recursos da Terra, vamos colonizar um planeta (ou uma Lua) que tenha condições propícias para a vida. Premissa não muito original, mas ok.
E aí tem toda aquela parte de treinamento e aprimoramento dos soldados que vão ser os "humanos piloto" em Titã, a lua que tem se encaixa no que a vida terráquea precisa para existir.
O primeiro problema do filme já começa na versão brasileira. Traduzaram enhancement, como evolução, quando o mais correto seria aprimoramento. Não sei até que ponto os próprios roteiristas não confundiram (em inglês mesmo) uma coisa com a outra, mas o fato é que tem umas referências sutis sobre aprimoramento ter algo de análogo com evolução no sentido de adaptação (fitness mesmo). Mano, não tem nada a ver uma coisa com a outra, tirem de suas cabeças de uma vez por todas essa coisa de que o ser humano é mais evoluído, ou que a evolução conduz os seres vivos a algo melhor. Que lamarckismo insistente!
Enfim, o filme é um "rame-rame" tedioso sobre os cientistas estarem secretamente transformando os soldados em criaturas bizarras, quimeras que surgem da mistura com DNA de outros animais.
Apenas um homem é mandado para colonizar Titã. Cara, o que um ser humano vai fazer sozinho lá? Fica usando suas asas híbridas pra ficar voando de topo em topo de vulcão (é o que de fato ele parece fazer lá)?
Pantera Negra é um personagem original. É um transporte da ideia de um El Dourado na América do Sul para um na África. Mas mais do que isso, os quadrinhos acrescentam ao mito da nação escondida um baita avanço tecnológico que dá um ar alienígena a tudo ali. E há um imenso charme na mistura do tecnológico com o tradicional da cultura africana.
Isso é um mérito do conceito do personagem e do universo Pantera Negra. E o filme se saiu muito bem em mostrar isso, para um filme de herói.
Mas uma coisa que me incomodou de leve foi o fundo verde explícito. Mas ok.
O outro ponto foi o vilão. Os filmes de herói parecem estar passando por uma crise na elaboração de vilões. A gente entende a motivação do vilão do filme, mas fica difícil comprar a ideia porque ele aparece rápido demais, então se torna bidimensional demais. O cara do nada aparece, do nada sabe tudo de Wakanda, do nada vira o mestre-da-porra-toda, e do nada deixa de ser.
Como sempre, os filmes do universo Cloverfield estão sempre ligados de alguma forma ao drama pessoal dos personagens, mas fazendo referência ao plano de fundo comum a toda a saga.
Os dois primeiros filmes deixavam claro que a saga tinha a ver com eventos extraordinários. O primeiro era sobre kaijus atacando a cidade. Ninguém sabia de onde vinham. Falaram que vinham do oceano (como um treco gigante daqueles estaria andando pela Terra sem ninguém ver?). Chegaram até a cogitar umas teorias baseadas em supostas pistas secretas, sobre empresas criando um refrigerante baseado num ingrediente secreto que na verdade eram aqueles carrapatos que quando mordem causam um quadro de contaminação que explode a cabeça do doente.
O segundo parecia ser sobre uma invasão alienígena.
Qual a conexão? São contos com uma temática em comum ou são acontecimentos que se passam cronologicamente e num mesmo universo?
O terceiro filme parece desfazer esses nós de expectativa.
O acelerador de partículas bagunçou as fronteiras entre universos paralelos e dimensões, fazendo coisas que existem em um universo se confundir com outro.
Talvez a Terra tenha virado uma bagunça generalizada, com criaturas gigantes cainhando, seres se outras dimensões aparecendo, até mesmo guerras que não pertencem a esse universo surgindo por aqui. Talvez haja até um universo em que estamos prestes a sofrer um ataque alienígena, de forma que isso passe a acontecer em um que não estava destinado a tal catástrofe. Enfim, caos, cenário perfeito para vários contos baseados no universo Cloverfield.
Bom, de qualquer forma, o segundo filme continua sendo meu preferido.
Que documentário foda! Refleti sobre várias coisas!
Inicialmente pensei que AlphaGo era apenas um software que emula a capacidade humana de realizar cálculos. Mas talvez ele emule o que nos torna humanos de uma maneira mais profunda do que pensamos.
Jogos como Go e xadrez tem como base matemática. Seus jogadores são mestres, artistas, mas ainda assim sua base essencialmente é o cálculo. Computadores são melhores que humanos em cálculos. Calculam mais rápido, o que significa que chegam a cenários complexos mais rápido do que humanos. Logo, a vantagem em jogos analíticos é clara.
Mas então surge algo inesperado, que são as jogadas imprevisíveis. Não, o Alpha-Go não atingiu um nível de processamento consciente. Acontece que talvez nós humanos é que superestimemos nossas habilidades como fruto de algo mais do que uma simples questão de processamento de informação. A chamada criatividade, difícil de ser definida, difícil de ser programada, pode ser apenas o nome que damos a um nível de processamento tão eficiente que os cálculos começam a ser imprevisíveis. Jogadas inovadoras podem ser fruto desse cenário de complexidade, não de um atributo qualitativamente humano.
Tanto chiaram com os roteiros de Homem de Aço e BvS que Liga da Justiça vem com um roteiro totalmente descaralhado e superficial, e ainda entrega um vilão que só funcionaria bem como inimigo do Megazord em Power Rangers.
Só dei duas estrelas pra esse filme porque o Flash estava muito bom -- o que na verdade é ruim, porque a DC vinha construindo roteiros obscuros e no filme que seria o ápice da jornada, mudam o tom para se apoiar em comédia; e porque achei muito bem feito o retorno do Superman.
Os filmes anteriores do Snyder ficaram prejudicados porque o roteiro tinha muito desenvolvimento e densidade, mas a produção quis editar tudo em cima da hora e o resultado foi transformar os filmes em trailers gigantes.
Com Liga da Justiça foi o inverso. O roteiro já estava muito fraco, então a rapidez só afundou um navio destinado ao naufrágio.
Acho que quem não gostou desse filme tava esperando uma ficção científica no estilo Cosmos. A ficção científica é só pano de fundo para uma história extremamente sensível sobre culpa.
De cara já sabia que ia ser um filme do tipo "te ofereço X e Y, mas no final vc escolhe em que acreditar". A história é realmente cativante, para um filme curto. Só achei realmente que ficaram pontas soltas demais, até para um filme cujo propósito já é deixar um mega cacho de pontas soltas na mão do espectador.
Talvez merecesse mais tempo. K-Pax é um exemplo de ótimo filme desse mesmo gênero e que conseguiu contar a história de maneira mais completa.
Brit Marling (que tem 35 anos e parece ter 20 e poucos!), além de atriz e uma das protagonistas, parece ter sido roteirista deste longa, e não coincidentemente foi também a da série The OA. É incrível como o roteiro se parece, e como até algumas cenas (planos, sequências, não sei o nome técnico) parecem ter sido copiadas e coladas -- o que não é ruim, pois achei as duas histórias bem aproveitáveis, apesar de ambas acabarem de forma meio incompleta.
A maioria acredita que a agressividade, a violência, a imoralidade de forma geral, são monopólios de certos indivíduos especialmente maus. A verdade é que Milgram mostrou experimentalmente que as reflexões de Hannah Arendt sobre a banalidade do mal estavam corretas.
Estatisticamente, qualquer um, diante das condições adequadas, pode se engajar em comportamentos até então desconhecidos para o próprio indivíduo.
No filme também são mostradas outras facetas associadas ao trabalho na psicologia social. Isso é especialmente interessante para o público leigo, tendo em vista que a maioria parece pensar que "psicólogo" é sinônimo de clínica, do cara que fica no consultório sentado escutando o paciente.
Artisticamente esse filme é bem interessante. É uma mistura de teatro com filme. Muito bom gosto.
É um dos filmes que leva mais a sério o dilema sobre se um upload da mente seria uma mera cópia da mente, ou se o sujeito seria literalmente transportado para a estrutura cibernética.
No final, acho que eles dão apoio à ideia de que é feita uma cópia, mas essa cópia ainda assim é Will, já que o Will original morre em seu corpo biológico, restando apenas a cópia artificial.
Talvez o filme tenha se desviado um pouco dos temas mais filosóficos quando começa o tiro, porrada e bomba. Mas mesmo assim achei um filmão daqueles que te faz pensar a noite.
Por que o pôster do filme, com os dois revólveres virados pra baixo e espelhados, parece um sistema reprodutor feminino? rs
De qualquer forma, achei o filme magnífico. Brad Pitt consegue passar o carisma que diziam que o fora-da-lei tinha, além de seus trejeitos que ao mesmo tempo inspiravam medo. Jesse James lembra um pouco um felino. É charmoso e em certa medida imprevisível, e potencialmente letal.
É legal fazer a inversão mocinho/bandido. Jesse James é um bandido frio e calculista, mas vendo isoladamente esse episódio de sua vida, é possível desenvolver certa empatia pela personagem. James acaba sendo traído por alguém que queria ser como ele, que o admirava. Da mesma forma, o filme faz transparecer a ansiedade dos outros personagens ao tentar prever as atitudes sinistras do bandido.
É um filme para se refletir para além de chegar a um culpado, alguém bom ou alguém ruim. São só pessoas sofrendo as consequências de seus erros, de suas vidas mal construídas.
Talvez o único erro do filme, o que não chega a prejudicar muito, seja não ter desenvolvido tão bem assim o desenvolvimento da confiança de Jesse James por Robert Ford. Eu mesmo fiquei em dúvida até que ponto aquilo foi tão profundo a ponto de no final esse artifício ser invocado para pensar na virada do roteiro.
A história traduz muito bem o sofrimento interior de Rodrigues, como pessoa que está numa cultura totalmente diferente e hostil, e que vê tudo aquilo que faz parte de sua vida ser massacrado. E existe ainda o conflito religioso. Rodrigo se confronta com um mundo que parece não se encaixar na sua visão cristã já naturalizada. Claro, tudo isso é agravado por torturas bem explicitamente físicas e psicológicas.
Um dos pontos focais do filme é o charco que na verdade todas as regiões são. Religiões estrangeiras chegam num solo que não o nativo e já se modificam substancialmente. Isso foi uma constante na história tanto do budismo quanto do cristianismo.
O cristianismo nasceu no Oriente Médio, mas toda a sua forma conhecida hoje foi o resultado de sua absorção pelo charco helênico dos territórios gregos -- que foi onde surgiram muito tardiamente toda a narrativa escrita dessa religião (cartas e evangelhos). Existem colorações muito diferente no cristianismo do leste europeu, no cristianismo egípcio e por aí vai -- claro que hoje são diferenças mais atenuadas do que nos primeiros séculos da era cristã. O próprio Natal é resultado da mistura com o charco romano.
O budismo, iniciado na Índia, em território hindu, absorveu elementos de diversos charcos posteriores, como o da China, Japão e Tibete.
Um dos méritos de Endo, autor do livro, e do filme também, é mostrar de maneira muito pessoal, centrada numa pessoa só, esse drama que é um fato histórico do desenvolvimento das ideias.
O filme realmente tem um clima muito bom, como há anos não sentia vendo um filme de terror/suspense. Mas infelizmente esse sentimento vai se perdendo pouco a pouco depois que as primeiras pistas do mistério começam a ser oferecidas. Sei lá, fiquei com a impressão de que faltou algo. Foi um filme estranho, mas não tanto no sentido positivo. De qualquer forma foi um dos melhores do gênero que vi nos últimos anos.
A história tinha potencial. Uma nave destinada a colonizar outros mundos, uma espécie de incubadora com as futuras gerações humanas. Tudo dá errado quando uma pane no sistema faz uma das cápsulas de hibernação falhar e uma pessoa acorda.
Teria tudo pra ser um drama no estilo de Moon, que é um filme muito mais inteligente. Passengers parece ter ficado indeciso entre ser um filme de drama com um roteiro mais original, e ser um filme para toda a família.
Acho que foi o filme mais regular da DC até agora.
Viemos de um Homem de Aço e de um BvS tentando uma profundidade de roteiro que acabou sendo obscurecida pelas edições pós-produção, que tiraram todo o ritmo dos filmes.
Mulher-Maravilha é regular porque oferece um roteiro previsível, tradicional, sem grandes reflexões, mas com uma história com mais ritmo que as anteriores. E, claro, o carisma incontestável da atriz.
Queria muito que esse filme fosse baseado num livro, só pra eu poder ter essa mesma experiência maravilhosa por outra mídia.
Independente de concordar com as ações do pai, o filme mostra um vislumbre de como seria a vida em outro sistema. Imagine ter uma educação diferente, viver num lugar diferente, aprendendo coisas diferentes. Um contato mais íntimo com a natureza, para além da realidade simulada que as cidades criam. Crescer e almejar outras coisas que não seja ficar rico e desfrutar dos prazeres passageiros que essa realidade simulada oferece até a hora de nossa morte -- que será sempre certeira, estejamos numa realidade simulada ou...real.
Esse filme mostra de modo primoroso como somos os construtores e mantenedores -- como uma tríade hindu, responsável pela criação, manutenção e destruição cíclicas do mundo -- do próprio sistema que está ajudando a nos destruir. Como estimulamos o entretenimento inebriante, o consumo desnecessário, como alimento da economia, que por sua vez traz muito perigo (guerras e etc) mas também soluções para esses perigos, que por sua vez criam mais problemas a serem solucionados.
É como num infinito jogo de bonecas russas.
Não existem garantias de que adotar o estilo de vida do Capitão seja a solução, mas essa história talvez seja só um banho de água fria que nos faz acordar para uma visão mais panorâmica de todo o que somos, de tudo o que herdamos e mantemos como sociedade.
Adorei as atuações. Quase não reconheci de primeira os atores mais famosos que interpretam os pacientes psiquiátricos, de tão bem eles se travestiram de loucos.
O mérito do filme é demonstrar através da história da Nise da Silveira, o propósito maior do tratamento psicológico/psiquiátrico que é a ressocialização das pessoas. Independente da gravidade e das possibilidades reais de recuperação, a ressocialização deve ser o horizonte a ser buscado.
Mas isso só é possível, primeiro, aplicando técnicas testadas cientificamente, para que os pacientes (ou clientes) não sejam iludidos quanto às suas possibilidades de melhora clínica. Fazer uso de um serviço que não se preta a testes de validade é abrir as portas para algo que pode estar prejudicando mais do que ajudando.
Em um desses sentidos, o da ressocialização, a intervenção da Nise e de outros psiquiatras na época foi fundamental. O tratamento -- psicoterapêutico, farmacológico ou outro -- tem que vir aliado a um ambiente ecológico, que permite ao indivíduo se expressar. Ele não pode ser tratado como uma peça danificada numa oficina esperando por reparos. A analogia perfeita é a diferença entre operários em fábricas insalubres do século XIX e início do XX e os atuais profissionais de empresas como Google, que podem se expressar ao mesmo tempo em que trabalham.
Eu conheço toda essa reflexão antes mesmo de assistir ao filme. Entretanto, acho que nem todo expectador teve condições de extrair todo esse material. Para mim, o filme teve alguns pecados. E é engraçado como esses deslizes podem não ser nem mesmo deslizes, mas um retrato de como pensa a intelligentsia brasileira (talvez latino-americana em geral).
O maniqueísmo do filme, pelo menos principalmente nos minutos iniciais, é descarado.
De um lado, os psiquiatras, todos de branco, óculos, olhar e fala distanciados. Manipulam e demonstram tratamentos bizarros (na época a eletroconvulsoterapia realmente era feita sem o preparo adequado dos pacientes) como se os pacientes fossem ratos -- o que ainda assim não justifica certas atitudes com os pobres ratos.
De outro lado, Nise da Silveira. Olhar terno, compassivo. Quase uma monja budista inserida num ambiente mundano cheio de aspereza e distância, oferecendo o Dharma.
É possível observar -- e e aí já não sei se são minhas experiências prévias falando pela minha percepção -- durante todo o filme um ar de "tudo que esses 'loucos' necessitam é mais compaixão e um modo para expressarem a si mesmos numa sociedade que os calou perante suas peculiaridades; pintar quadros é um excelente tratamento para transtornos graves como esquizofrenia".
Isso é não contar a história toda, e é ainda fazer malabarismo para deformar o pouco que se conta.
Operação Overlord
3.3 502 Assista AgoraEstavam ansioso por esse filme não só porque sou um fã da temática zumbi, mas porque sou fã de J. J. Abrams. A ideia do filme é interessante, mas acho que foi conduzida de maneira meio meh. Talvez eu esteja ficando velho demais para gostar desses filmes que tem uma trama meh só pra no final das contas dar em tiro, porrada e bomba.
A ideia dos nazistas pensando em algo como "soldados que vivem mil anos para um Reich de mil anos" é boa. Se fosse um livro talvez tivesse mais detalhes, uma trama mais complexa. Mas ficou tão simples que me incomodou.
Agora, esse lance do alcatrão foi completamente descabido. O que diabos tem em alcatrão refinado que traz a imortalidade?! Que porra é essa? O Derby tava patrocinando esse filme, por acaso? Não vi lógica nisso e não teve explicação nenhuma! Claro, se fosse um filme de terror, ok. Mas a mistura de gêneros foi muito conveniente. É um filme de ficção científica também, mas que não explica nada, só dá explicações toscas de soldado para soldado.
Roma
4.1 1,4K Assista AgoraCara, filme visualmente muito bom, muito bem feito. Mas queria saber por que está concorrendo ao oscar de melhor filme, e por que alguns críticos estão falando que é o melhor filme desde não sei quando.
A história não tem nada demais. Sério. É mais um daqueles filmes pretensamente cult que retratam preguiça de construir uma história com início, meio e fim, ou é simplesmente para um público mais técnico que já não liga para esse tipo de coisa.
Vidro
3.5 1,3K Assista AgoraApesar de comentários decepcionados, tive uma boa experiência com Vidro. Não sabia muito o que esperar, mas apreciei o desfecho. A ideia foi finalizar a história mas ao mesmo tempo deixando aquele cheiro de que tem mais coisas nesse universo do que foi mostrado. E o diretor conseguiu fazer isso sem copiar a onda de filmes de super-heróis carnavalescos tecnológicos.
Mas, vamos aos comentários sobre o final do filme:
Aquele final mostrando que existe uma organização milenar responsável por manter o equilíbrio eliminando humanos extraordinários em vez de protegê-los -- como mandaria o clichê -- foi genial. E se pensarmos bem, eliminar esses seres faz tanto sentido quanto protegê-los, se formos pensar numa lógica cega de equilíbrio. Isso porque assim que surge um ser extraordinário por aí, outros seres começam a se mostrar. Isso pode gerar um desequilíbrio brutal na balança de poder no planeta. Imagine um governo que consiga cpitalizar vários super poderosos em seu favor? A única forma de fazer frente seria os outros países fazerem a mesma coisa. Seria como uma nova corrida armamentista, mas com habilidades humanas em vez de bombas atômicas. Nesse sentido, eliminar esses seres seria mais seguro do que abrir a caixa de pandora pra só depois ativar os esforços necessários pra fazer frente a esse poder. Analogamente, seria mais fácil nunca ninguém ter desenvolvidos bombas atômicas -- mas uma vez que um país possui, os outros também vão correr atrás, não tem como impedir (na verdade, isso é bom, porque um único país detendo tanto poder forçaria o surgimento de um singleton, ou seja, um governo global superpoderoso na base da força bélica, o que não agrada a quase ninguém).
A Vida e a Arte de Stanislaw Szukalski
4.3 21 Assista AgoraQueria entender como não tem mais gente comentando sobre esse documentário! Fiquei simplesmente estarrecido com a profundidade do documentário, o que em grande parte é propiciada pela capacidade do Szukalsky de elaborar suas próprias reflexões.
Não entendo de arte a ponto de corroborar o que um dos entrevistados diz, que Szukalsky é um Michelangelo do século XX, mas certamente o artista tem envergadura para abalar o mundo da arte. Nota-se uma força descomunal em seu trabalho --
e isso tem tudo a ver com o pano de fundo nacionalista e que chegou a namorar com parte dos ideais do nazi-fascismo alemão.
Talvez todo artista seja um tanto dominado por seus demônios internos, e Szukalsky não foi exceção.
Caixa de Pássaros
3.4 2,3K Assista AgoraNão é a bosta fedida que muitos estão falando, mas também não é a obra prima que os admiradores divulgam nas redes sociais. Não sei se é pela propaganda bem sucedida da Netflix ou por causa do carisma da Sandra Bullock, mas esse filme está sendo muito superestimado. Chega a dar agonia.
A história não chega a ser uma narrativa espetacular e nem chega a ser uma história hiper assustadora. É tudo bem mediano. Sem contar que não vi nada ali que classifique o filme como ficção científica.
Titã
2.3 268 Assista AgoraEsse filme começou com uma boa ideia: estamos exaurindo os recursos da Terra, vamos colonizar um planeta (ou uma Lua) que tenha condições propícias para a vida. Premissa não muito original, mas ok.
E aí tem toda aquela parte de treinamento e aprimoramento dos soldados que vão ser os "humanos piloto" em Titã, a lua que tem se encaixa no que a vida terráquea precisa para existir.
O primeiro problema do filme já começa na versão brasileira. Traduzaram enhancement, como evolução, quando o mais correto seria aprimoramento. Não sei até que ponto os próprios roteiristas não confundiram (em inglês mesmo) uma coisa com a outra, mas o fato é que tem umas referências sutis sobre aprimoramento ter algo de análogo com evolução no sentido de adaptação (fitness mesmo). Mano, não tem nada a ver uma coisa com a outra, tirem de suas cabeças de uma vez por todas essa coisa de que o ser humano é mais evoluído, ou que a evolução conduz os seres vivos a algo melhor. Que lamarckismo insistente!
Enfim, o filme é um "rame-rame" tedioso sobre os cientistas estarem secretamente transformando os soldados em criaturas bizarras, quimeras que surgem da mistura com DNA de outros animais.
E eis que chegamos ao final trágico:
Apenas um homem é mandado para colonizar Titã. Cara, o que um ser humano vai fazer sozinho lá? Fica usando suas asas híbridas pra ficar voando de topo em topo de vulcão (é o que de fato ele parece fazer lá)?
Pantera Negra
4.2 2,3K Assista AgoraPantera Negra é um personagem original. É um transporte da ideia de um El Dourado na América do Sul para um na África. Mas mais do que isso, os quadrinhos acrescentam ao mito da nação escondida um baita avanço tecnológico que dá um ar alienígena a tudo ali. E há um imenso charme na mistura do tecnológico com o tradicional da cultura africana.
Isso é um mérito do conceito do personagem e do universo Pantera Negra. E o filme se saiu muito bem em mostrar isso, para um filme de herói.
Mas uma coisa que me incomodou de leve foi o fundo verde explícito. Mas ok.
O outro ponto foi o vilão. Os filmes de herói parecem estar passando por uma crise na elaboração de vilões. A gente entende a motivação do vilão do filme, mas fica difícil comprar a ideia porque ele aparece rápido demais, então se torna bidimensional demais. O cara do nada aparece, do nada sabe tudo de Wakanda, do nada vira o mestre-da-porra-toda, e do nada deixa de ser.
O Paradoxo Cloverfield
2.7 780 Assista AgoraComo sempre, os filmes do universo Cloverfield estão sempre ligados de alguma forma ao drama pessoal dos personagens, mas fazendo referência ao plano de fundo comum a toda a saga.
Os dois primeiros filmes deixavam claro que a saga tinha a ver com eventos extraordinários. O primeiro era sobre kaijus atacando a cidade. Ninguém sabia de onde vinham. Falaram que vinham do oceano (como um treco gigante daqueles estaria andando pela Terra sem ninguém ver?). Chegaram até a cogitar umas teorias baseadas em supostas pistas secretas, sobre empresas criando um refrigerante baseado num ingrediente secreto que na verdade eram aqueles carrapatos que quando mordem causam um quadro de contaminação que explode a cabeça do doente.
O segundo parecia ser sobre uma invasão alienígena.
Qual a conexão? São contos com uma temática em comum ou são acontecimentos que se passam cronologicamente e num mesmo universo?
O terceiro filme parece desfazer esses nós de expectativa.
O acelerador de partículas bagunçou as fronteiras entre universos paralelos e dimensões, fazendo coisas que existem em um universo se confundir com outro.
Talvez a Terra tenha virado uma bagunça generalizada, com criaturas gigantes cainhando, seres se outras dimensões aparecendo, até mesmo guerras que não pertencem a esse universo surgindo por aqui. Talvez haja até um universo em que estamos prestes a sofrer um ataque alienígena, de forma que isso passe a acontecer em um que não estava destinado a tal catástrofe. Enfim, caos, cenário perfeito para vários contos baseados no universo Cloverfield.
Bom, de qualquer forma, o segundo filme continua sendo meu preferido.
AlphaGo
4.2 15Que documentário foda! Refleti sobre várias coisas!
Inicialmente pensei que AlphaGo era apenas um software que emula a capacidade humana de realizar cálculos. Mas talvez ele emule o que nos torna humanos de uma maneira mais profunda do que pensamos.
Jogos como Go e xadrez tem como base matemática. Seus jogadores são mestres, artistas, mas ainda assim sua base essencialmente é o cálculo. Computadores são melhores que humanos em cálculos. Calculam mais rápido, o que significa que chegam a cenários complexos mais rápido do que humanos. Logo, a vantagem em jogos analíticos é clara.
Mas então surge algo inesperado, que são as jogadas imprevisíveis. Não, o Alpha-Go não atingiu um nível de processamento consciente. Acontece que talvez nós humanos é que superestimemos nossas habilidades como fruto de algo mais do que uma simples questão de processamento de informação. A chamada criatividade, difícil de ser definida, difícil de ser programada, pode ser apenas o nome que damos a um nível de processamento tão eficiente que os cálculos começam a ser imprevisíveis. Jogadas inovadoras podem ser fruto desse cenário de complexidade, não de um atributo qualitativamente humano.
Boneco de Neve
2.4 462 Assista AgoraNão li o livro mas queria muito ter lido. Que filme mal feito da porra. Achei um desperdício, pois a história me interessou muito.
Liga da Justiça
3.3 2,5K Assista AgoraTanto chiaram com os roteiros de Homem de Aço e BvS que Liga da Justiça vem com um roteiro totalmente descaralhado e superficial, e ainda entrega um vilão que só funcionaria bem como inimigo do Megazord em Power Rangers.
Só dei duas estrelas pra esse filme porque o Flash estava muito bom -- o que na verdade é ruim, porque a DC vinha construindo roteiros obscuros e no filme que seria o ápice da jornada, mudam o tom para se apoiar em comédia; e porque achei muito bem feito o retorno do Superman.
Os filmes anteriores do Snyder ficaram prejudicados porque o roteiro tinha muito desenvolvimento e densidade, mas a produção quis editar tudo em cima da hora e o resultado foi transformar os filmes em trailers gigantes.
Com Liga da Justiça foi o inverso. O roteiro já estava muito fraco, então a rapidez só afundou um navio destinado ao naufrágio.
A Outra História Americana
4.4 2,2K Assista AgoraNão poderia ter visto esse filme pela primeira vez em momento historicamente mais oportuno.
A Outra Terra
3.7 874 Assista AgoraAcho que quem não gostou desse filme tava esperando uma ficção científica no estilo Cosmos. A ficção científica é só pano de fundo para uma história extremamente sensível sobre culpa.
A Seita Misteriosa
3.4 205De cara já sabia que ia ser um filme do tipo "te ofereço X e Y, mas no final vc escolhe em que acreditar". A história é realmente cativante, para um filme curto. Só achei realmente que ficaram pontas soltas demais, até para um filme cujo propósito já é deixar um mega cacho de pontas soltas na mão do espectador.
Talvez merecesse mais tempo. K-Pax é um exemplo de ótimo filme desse mesmo gênero e que conseguiu contar a história de maneira mais completa.
Brit Marling (que tem 35 anos e parece ter 20 e poucos!), além de atriz e uma das protagonistas, parece ter sido roteirista deste longa, e não coincidentemente foi também a da série The OA. É incrível como o roteiro se parece, e como até algumas cenas (planos, sequências, não sei o nome técnico) parecem ter sido copiadas e coladas -- o que não é ruim, pois achei as duas histórias bem aproveitáveis, apesar de ambas acabarem de forma meio incompleta.
O Experimento de Milgram
3.5 169 Assista AgoraA maioria acredita que a agressividade, a violência, a imoralidade de forma geral, são monopólios de certos indivíduos especialmente maus. A verdade é que Milgram mostrou experimentalmente que as reflexões de Hannah Arendt sobre a banalidade do mal estavam corretas.
Estatisticamente, qualquer um, diante das condições adequadas, pode se engajar em comportamentos até então desconhecidos para o próprio indivíduo.
No filme também são mostradas outras facetas associadas ao trabalho na psicologia social. Isso é especialmente interessante para o público leigo, tendo em vista que a maioria parece pensar que "psicólogo" é sinônimo de clínica, do cara que fica no consultório sentado escutando o paciente.
Artisticamente esse filme é bem interessante. É uma mistura de teatro com filme. Muito bom gosto.
Transcendence: A Revolução
3.2 1,1K Assista AgoraÉ um dos filmes que leva mais a sério o dilema sobre se um upload da mente seria uma mera cópia da mente, ou se o sujeito seria literalmente transportado para a estrutura cibernética.
No final, acho que eles dão apoio à ideia de que é feita uma cópia, mas essa cópia ainda assim é Will, já que o Will original morre em seu corpo biológico, restando apenas a cópia artificial.
Talvez o filme tenha se desviado um pouco dos temas mais filosóficos quando começa o tiro, porrada e bomba. Mas mesmo assim achei um filmão daqueles que te faz pensar a noite.
O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford
3.6 479 Assista AgoraPor que o pôster do filme, com os dois revólveres virados pra baixo e espelhados, parece um sistema reprodutor feminino? rs
De qualquer forma, achei o filme magnífico. Brad Pitt consegue passar o carisma que diziam que o fora-da-lei tinha, além de seus trejeitos que ao mesmo tempo inspiravam medo. Jesse James lembra um pouco um felino. É charmoso e em certa medida imprevisível, e potencialmente letal.
É legal fazer a inversão mocinho/bandido. Jesse James é um bandido frio e calculista, mas vendo isoladamente esse episódio de sua vida, é possível desenvolver certa empatia pela personagem. James acaba sendo traído por alguém que queria ser como ele, que o admirava. Da mesma forma, o filme faz transparecer a ansiedade dos outros personagens ao tentar prever as atitudes sinistras do bandido.
É um filme para se refletir para além de chegar a um culpado, alguém bom ou alguém ruim. São só pessoas sofrendo as consequências de seus erros, de suas vidas mal construídas.
Talvez o único erro do filme, o que não chega a prejudicar muito, seja não ter desenvolvido tão bem assim o desenvolvimento da confiança de Jesse James por Robert Ford. Eu mesmo fiquei em dúvida até que ponto aquilo foi tão profundo a ponto de no final esse artifício ser invocado para pensar na virada do roteiro.
Silêncio
3.8 576O filme é tão maravilhoso quanto o livro.
A história traduz muito bem o sofrimento interior de Rodrigues, como pessoa que está numa cultura totalmente diferente e hostil, e que vê tudo aquilo que faz parte de sua vida ser massacrado. E existe ainda o conflito religioso. Rodrigo se confronta com um mundo que parece não se encaixar na sua visão cristã já naturalizada. Claro, tudo isso é agravado por torturas bem explicitamente físicas e psicológicas.
Um dos pontos focais do filme é o charco que na verdade todas as regiões são. Religiões estrangeiras chegam num solo que não o nativo e já se modificam substancialmente. Isso foi uma constante na história tanto do budismo quanto do cristianismo.
O cristianismo nasceu no Oriente Médio, mas toda a sua forma conhecida hoje foi o resultado de sua absorção pelo charco helênico dos territórios gregos -- que foi onde surgiram muito tardiamente toda a narrativa escrita dessa religião (cartas e evangelhos). Existem colorações muito diferente no cristianismo do leste europeu, no cristianismo egípcio e por aí vai -- claro que hoje são diferenças mais atenuadas do que nos primeiros séculos da era cristã. O próprio Natal é resultado da mistura com o charco romano.
O budismo, iniciado na Índia, em território hindu, absorveu elementos de diversos charcos posteriores, como o da China, Japão e Tibete.
Um dos méritos de Endo, autor do livro, e do filme também, é mostrar de maneira muito pessoal, centrada numa pessoa só, esse drama que é um fato histórico do desenvolvimento das ideias.
Corra!
4.2 3,6K Assista AgoraO sobrenome Armitage foi uma referência a Neuromancer?! Achei que sim e fiquei criando várias teorias escabrosas pra justificar meu achismo. rs
Corra!
4.2 3,6K Assista AgoraO filme realmente tem um clima muito bom, como há anos não sentia vendo um filme de terror/suspense. Mas infelizmente esse sentimento vai se perdendo pouco a pouco depois que as primeiras pistas do mistério começam a ser oferecidas. Sei lá, fiquei com a impressão de que faltou algo. Foi um filme estranho, mas não tanto no sentido positivo. De qualquer forma foi um dos melhores do gênero que vi nos últimos anos.
Passageiros
3.3 1,5K Assista AgoraA história tinha potencial. Uma nave destinada a colonizar outros mundos, uma espécie de incubadora com as futuras gerações humanas. Tudo dá errado quando uma pane no sistema faz uma das cápsulas de hibernação falhar e uma pessoa acorda.
Teria tudo pra ser um drama no estilo de Moon, que é um filme muito mais inteligente. Passengers parece ter ficado indeciso entre ser um filme de drama com um roteiro mais original, e ser um filme para toda a família.
Virou um Frankenstein muito do sem sal.
Mulher-Maravilha
4.1 2,9K Assista AgoraAcho que foi o filme mais regular da DC até agora.
Viemos de um Homem de Aço e de um BvS tentando uma profundidade de roteiro que acabou sendo obscurecida pelas edições pós-produção, que tiraram todo o ritmo dos filmes.
Mulher-Maravilha é regular porque oferece um roteiro previsível, tradicional, sem grandes reflexões, mas com uma história com mais ritmo que as anteriores. E, claro, o carisma incontestável da atriz.
Capitão Fantástico
4.4 2,7K Assista AgoraQueria muito que esse filme fosse baseado num livro, só pra eu poder ter essa mesma experiência maravilhosa por outra mídia.
Independente de concordar com as ações do pai, o filme mostra um vislumbre de como seria a vida em outro sistema. Imagine ter uma educação diferente, viver num lugar diferente, aprendendo coisas diferentes. Um contato mais íntimo com a natureza, para além da realidade simulada que as cidades criam. Crescer e almejar outras coisas que não seja ficar rico e desfrutar dos prazeres passageiros que essa realidade simulada oferece até a hora de nossa morte -- que será sempre certeira, estejamos numa realidade simulada ou...real.
Esse filme mostra de modo primoroso como somos os construtores e mantenedores -- como uma tríade hindu, responsável pela criação, manutenção e destruição cíclicas do mundo -- do próprio sistema que está ajudando a nos destruir. Como estimulamos o entretenimento inebriante, o consumo desnecessário, como alimento da economia, que por sua vez traz muito perigo (guerras e etc) mas também soluções para esses perigos, que por sua vez criam mais problemas a serem solucionados.
É como num infinito jogo de bonecas russas.
Não existem garantias de que adotar o estilo de vida do Capitão seja a solução, mas essa história talvez seja só um banho de água fria que nos faz acordar para uma visão mais panorâmica de todo o que somos, de tudo o que herdamos e mantemos como sociedade.
Nise: O Coração da Loucura
4.3 656 Assista AgoraAdorei as atuações. Quase não reconheci de primeira os atores mais famosos que interpretam os pacientes psiquiátricos, de tão bem eles se travestiram de loucos.
O mérito do filme é demonstrar através da história da Nise da Silveira, o propósito maior do tratamento psicológico/psiquiátrico que é a ressocialização das pessoas. Independente da gravidade e das possibilidades reais de recuperação, a ressocialização deve ser o horizonte a ser buscado.
Mas isso só é possível, primeiro, aplicando técnicas testadas cientificamente, para que os pacientes (ou clientes) não sejam iludidos quanto às suas possibilidades de melhora clínica. Fazer uso de um serviço que não se preta a testes de validade é abrir as portas para algo que pode estar prejudicando mais do que ajudando.
Em um desses sentidos, o da ressocialização, a intervenção da Nise e de outros psiquiatras na época foi fundamental. O tratamento -- psicoterapêutico, farmacológico ou outro -- tem que vir aliado a um ambiente ecológico, que permite ao indivíduo se expressar. Ele não pode ser tratado como uma peça danificada numa oficina esperando por reparos. A analogia perfeita é a diferença entre operários em fábricas insalubres do século XIX e início do XX e os atuais profissionais de empresas como Google, que podem se expressar ao mesmo tempo em que trabalham.
Eu conheço toda essa reflexão antes mesmo de assistir ao filme. Entretanto, acho que nem todo expectador teve condições de extrair todo esse material. Para mim, o filme teve alguns pecados. E é engraçado como esses deslizes podem não ser nem mesmo deslizes, mas um retrato de como pensa a intelligentsia brasileira (talvez latino-americana em geral).
O maniqueísmo do filme, pelo menos principalmente nos minutos iniciais, é descarado.
De um lado, os psiquiatras, todos de branco, óculos, olhar e fala distanciados. Manipulam e demonstram tratamentos bizarros (na época a eletroconvulsoterapia realmente era feita sem o preparo adequado dos pacientes) como se os pacientes fossem ratos -- o que ainda assim não justifica certas atitudes com os pobres ratos.
De outro lado, Nise da Silveira. Olhar terno, compassivo. Quase uma monja budista inserida num ambiente mundano cheio de aspereza e distância, oferecendo o Dharma.
É possível observar -- e e aí já não sei se são minhas experiências prévias falando pela minha percepção -- durante todo o filme um ar de "tudo que esses 'loucos' necessitam é mais compaixão e um modo para expressarem a si mesmos numa sociedade que os calou perante suas peculiaridades; pintar quadros é um excelente tratamento para transtornos graves como esquizofrenia".
Isso é não contar a história toda, e é ainda fazer malabarismo para deformar o pouco que se conta.