Tem uns filmes que a gente começa a assistir já preparado para se decepcionar, mas que acabam nos surpreendendo positivamente no final das contas. É o caso de Amizade Desfeita, um filme de suspense que acontece todo diante de uma tela de computador. Durante uma hora e meia de filme tudo o que vemos é o que se passa na tela da personagem Blaire (Shelley Hennig), que está em uma conversa por Skype com alguns amigos de escola. Junto com eles aparece um usuário desconhecido, que ninguém consegue desconectar, e que aos poucos começa a ameaçar a vida de todos no grupo. Apesar da história bem clichê, a produção consegue manter o frescor justamente por conseguir apresentá-la apenas com a tela de um computador, sem que o filme fique cansativo.
A história começa com Blaire assistindo um vídeo no qual sua amiga Laura Barns (Heather Sossaman) comete suicídio no pátio da escola, já deixando clara a curiosidade mórbida que temos de assistir esse tipo de coisa na internet. As coisas começam a ficar estranhas quando ela recebe uma mensagem de Laura no Facebook, ao mesmo tempo em que começam as ameaças via Skype. O intruso na conversa, que atende pelo apelido Billie227, culpa todos ali por terem praticado bullying com Laura, o que a levou a tirar a própria vida. A partir daí vemos o grupo de amigos desconfiando uns dos outros e tentando descobrir quem é o tal intruso e como se livrar dele. O filme abre até a hipótese de ser algo sobrenatural, sem nunca deixar de mostrar apenas a tela do computador.
Sabendo que um filme nesse estilo poderia facilmente ficar cansativo, o diretor Levan Gabriadze consegue controlar o ritmo do filme através de mudanças na tela. Aqui ele substitui a tradicional montagem dos filmes por trocas que Blaire faz entre os programas que está usando no computador. No começo, por exemplo, vemos apenas ela e o namorado conversando, já que ainda está tudo calmo. Mas conforme a tensão aumenta, ela a passa a alternar com mais velocidade entre os aplicativos abertos, além de digitar algumas palavras erradas, mostrando todo o nervosismo que o momento pede. E quando ela tenta clicar várias vezes em algo que não está funcionando, o barulho do mouse ajuda o espectador a ficar tenso junto com a personagem. A cena da remoção de um vírus consegue nos deixar nervosos vendo alguém apenas esvaziando a lixeira do computador. Seguindo esta lógica, a trilha sonora do filme também entra em cena de forma orgânica, com Blaire trocando as músicas no Spotify.
Levan Gabriadze ainda consegue criar algumas cenas no estilo found footage, já que os personagens estão o tempo todo de frente para a webcam. Da mesma forma, alguns personagens fazem algumas trocas de cenário, ajudando a manter o dinamismo do filme. Claro que nem tudo é perfeito. Em algumas cenas que Blaire está em alguma conversa importante via chat, os outros personagens milagrosamente ficam em silêncio. Difícil acreditar que isso aconteceria com vários adolescentes fazendo uma conferência via Skype. Mas é apenas um pequeno detalhe que não prejudica o filme como um todo. No geral, Amizade Desfeita pega vários clichês de filmes de suspense e os apresenta de maneira bem inovadora, utilizando de forma eficiente todos os recursos disponíveis em um computador. Além disso, aproveita para mostrar os perigos do bullying no ambiente escolar, que pode fazer com que uma pessoa tire a própria vida.
Assisti esse filme porque dois personagens de Twin Peaks citam o nome dele na terceira temporada e fiquei curioso. Dá até pra imaginar que o futuro dessa menina é justamente a tal Carrie Paige que aparece no último episódio de Twin Peaks. Curti bem e achei bastante tenso, principalmente por causa do pedófilo que fica rondando a menina o tempo todo.
Filmaço de terror que explora muito bem os medos infantis. interessante como muitos medos estão relacionados ao medo da vida adulta. Como o filme se passa em 1989, acaba lembrando as produções dessa época, como o clássico Conta Comigo. Única coisa que me incomodou foi a cena em que a Bev (uma criança) flerta com uma farmacêutico bem mais velho que ela e ele se mostra interessado.
Filme de ação bem divertido e com bastante inspiração em Matrix, principalmente as cenas nos terraços dos prédios. Atuação foda da Noomi Rapace ao interpretar sete personagens diferentes. As cenas de luta são bem boas, mas o filme podia ser um pouco mais curto porque na metade ele já bem previsível e a revelação final ficou óbvia.
Difícil adaptar uma obra de sete volumes em apenas um filme de uma hora e meia de duração. Isso dito, achei o filme bem divertido e que lembra bastante as produções de fantasia e ação da década de 1980, principalmente pela questão da criança com um grande destino e tal. Não me arrependi de ter visto no cinema.
Depois de muitos anos tentando, finalmente consegui passar da parte dos macacos e assistir o filme até o final. Embora ele seja visualmente muito bonito em certas partes, infelizmente não curti o filme. Eu sempre dormia quando tentava assistir, mas dessa vez fui tentar de peito aberto, mas realmente não rolou. Continuei achando chato. Antes que venham me xingar, não estou dizendo que o filme é ruim, mas realmente não me agradou.
Apesar de ser conhecido como o Cavaleiro das Trevas, que é um nome bastante sombrio, muitas pessoas conheceram o Batman através da clássica série dos anos 1960. Com um homem-morcego gordinho, um Coringa que ostentava um grande bigode debaixo da maquiagem branca e o já clássico bat-repelente de tubarão, o seriado era muito mais uma paródia do personagem do que uma adaptação dos quadrinhos. A verdade é que, por trás de toda a tosquice da produção, ela era divertida de se assistir. Então não é de se espantar que a Warner/DC tenha resolvido trazer de volta esse universo tão querido por alguns fãs. Primeiro nos quadrinhos e agora nas animações, área na qual a empresa não costuma decepcionar. E Batman: O Retorno da Dupla Dinâmica realmente não decepciona. Com dublagens de Adam West e Burt Ward reprisando seus papéis de Batman e Robin, respectivamente, a animação não apenas homenageia a série original, como ainda acaba sendo uma paródia da paródia.
Quem assistia o seriado sabe que alguns dos episódios mais esperados eram aqueles em que vários vilões se reuniam para tentar finalmente acabar com o Cruzado Encapuzado e seu pupilo. Então para este retorno nada mais natural que uma reunião dos maiores deles. Coringa, Charada, Pinguim e Mluher-Gato se unem para roubar um aparelho experimental capaz de duplicar qualquer coisa. Sem as restrições orçamentárias de uma série com atores reais, a animação aproveita para apresentar as mais absurdas situações nunca antes vistas na série. Assim, temos personagens duplicados, lutas em gravidade zero e armadilhas ainda mais exageradas do que as apresentadas na série, como uma bandeja de comida gigante. Além disso, se Batman e Robin já pareciam inteligentes demais no seriado, descobrindo coisas através das menores pistas, aqui eles são praticamente deuses. Basta citar uma palavra qualquer que, de repente, Batman adivinha o grande plano dos vilões, mesmo que não faça sentido algum.
Muito mais preocupado em homenagear o seriado do que em contar uma história que faça sentido, o diretor Rick Morales enche a tela de lutas (soc, pow, tum) e referências ao material original. Em determinado momento, por exemplo, Batman leva um golpe e fica meio desnorteado, passando a enxergar tudo triplicado. Ao olhar para a Mulher-Gato, ele vê as três atrizes que interpretaram a personagem na série: Julie Newmar, Lee Meriwheter e Eartha Kitt. Por falar em Mulher-Gato, não faltam também insinuações a um possível relacionamento homossexual entre Batman e Robin, já que muitas pessoas na época da série afirmavam que eles eram um casal. Assim, sempre que a ladra se insinua pra cima do homem-morcego, as reações do menino prodígio contra esse relacionamento são sempre hilárias e cheias de ciúmes. Além disso, a tia Harriet afirma que descobriu o grande segredo dos sobrinhos, dando a entender que sabe do relacionamento deles e que eles não deveriam esconder.
Apesar de adaptar os personagens da série dos anos 1960, Batman: O Retorno da Dupla Dinâmica vai além e resolve zoar com outras encarnações do herói. A principal delas é o Batman da animação dos anos 1990, criada por Paul Dini. Sem entrar em detalhes sobre a trama, em certo momento o herói passa a agir de maneira diferente e muito mais sombria, gerando cenas hilárias como sumir e deixar o Comissário Gordon falando sozinho. E o retorno da personalidade original do herói se dá da forma mais mirabolante possível, como pede o clima galhofa da animação. Nem mesmo a trilogia dirigida por Christopher Nolan escapou das alfinetadas dessa animação. Em mais uma das tentativas de Batman trazer a Mulher-Gato para o lado do bem, com o objetivo de que eles possam ficar juntos, a ladra responde que fará isso com a condição de que ambos possam ir para a Europa, tomar um chá e viverem felizes para sempre. De imediato, Robin diz que isso seria um final bem sem graça.
Para quem cresceu assistindo ao seriado, Batman: O Retorno da Dupla Dinâmica é uma divertida volta no tempo, mas que consegue trazer algum frescor para os personagens ao homenagear outras encarnações dos heróis. Além disso, as cenas durante a noite, que eram praticamente inexistentes na série, dão um ar de novidade para este universo, além de serem muito bonitas. Completando o pacote, as atuações de Adam West e Burt Ward estão fantásticas, com destaque para o primeiro, que consegue nos apresentar um Batman ainda mais canastrão do que aquele visto na série de TV. Se é que isso é possível.
Em seus minutos iniciais, Planeta dos Macacos: A Guerra entrega o que promete em seu título. São vários minutos tensos em que soldados humanos se preparam para emboscar soldados macacos que atravessam uma floresta. Com uma excelente direção de Matt Reeves, a cena lembra alguns dos grandes filmes de guerra já produzidos, como Platoon, já que ambos possuem combate em floresta. Porém, não demora para o espectador perceber que, apesar do título do filme, não estamos testemunhando uma guerra, mas sim uma caçada. Liderados pelo carismático César (Andy Serkis), os macacos continuam tentando evitar o conflito ao máximo e acabam demonstrando mais humanidade do que os próprios humanos. Assim, este encerramento da trilogia escapa de ser apenas mais um filme cheio de combates e explosões, apostando muito mais na complexidade dos seus personagens.
Embora continue com ideais pacifistas com relação aos humanos, César possui cada vez mais dificuldade de convencer os outros macacos de que um conflito é desnecessário. E um evento ainda no primeiro ato do filme faz com que o líder símio comece a perceber que talvez seu rival Koba (que morreu em Planeta dos Macacos: O Confronto) tivesse alguma razão. Mas apesar de todo o sofrimento ao longo da história, é interessante como César nunca consegue odiar totalmente os humanos, já que as primeiras pessoas que ele amou na vida eram humanas. Dessa forma, quando o grupo encontra uma garotinha com problemas, o símio acaba se afeiçoando a ela, mesmo que não admita isso para os seus companheiros. Aqui vale ressaltar a atuação de Andy Serkis, que mais uma vez brilha dando vida à César através da captura de movimentos. Com pequenos movimentos faciais ele consegue demonstrar um certo remorso pelo destino da menina, mesmo que suas palavras digam que não.
Com César representando o pacifismo, o lado belicista fica por conta do personagem interpretado por Woody Harrelson. Chamado apenas pela sua patente de Coronel, sem nome próprio, o roteiro escrito por Matt Reeves e Mark Bomback já trata de deixar claro que o único objetivo do personagem é o conflito. Claro que ele apresenta suas razões para fazer o que faz, mas sempre que pode trata os macacos como se fossem lixo, mesmo que alguns ali sejam muito mais inteligentes que alguns dos subordinados do Coronel. É interessante notar também que os únicos macacos que o Coronel permite que trabalhem no mesmo nível dos seus soldados sejam justamente os gorilas, devido à sua extrema força física. Enquanto isso, qualquer outro que não pareça um combatente é tratado como escravo. O que vemos então é um confronto de duas ideologias completamente diferentes. De um lado temos César que, apesar de todas as suas perdas, continua acreditando que é possível as duas espécies viverem em paz. Do outro está o Coronel, que está convencido de que o extermínio dos inimigos é a única maneira da raça humana viver tranquilamente.
Claramente demonstrando muito mais carinho pelos personagens símios do que pelos humanos, o diretor Matt Reeves cria uma lógica visual que ressalta a civilização do primeiro grupo, enquanto o segundo age muito mais como um bando de selvagens. Na cena de combate logo no início do filme, por exemplo, vemos os humanos se arrastando pelas matas e subindo em árvores, enquanto os macacos andam tranquilamente em seus cavalos. Já na cidade de César e seus companheiros, todos vivem pacificamente, debatem os assuntos e é possível reconhecer cada macaco ali presente, mesmo que fisicamente eles sejam bem parecidos uns com os outros. Já na base do Coronel, seu exército é uniforme, todos os soldados fazem os mesmos movimentos combinados. Parecem muito mais um bando agindo por instintos, do que indivíduos com pensamentos próprios. Não é a toa que, quando tiros são disparados, sentimos muito mais a morte de um único macaco do que dezenas dos soldados humanos.
O único problema do filme, ainda que pequeno, é a inclusão de um personagem macaco que serve como alívio cômico. Embora ele seja carismático e forneça informações que dão pistas para o espectador sobre o que está por vir, a maioria das suas cenas possuem alguma coisa engraçadinha que não combina com o tom do restante da produção. Não chega a ser algo que estrague o filme, mas não faria falta alguma se não estivesse lá. Planeta dos Macacos: A Guerra ainda apresenta, em seu terceiro ato, um grande e emocionante conflito que consegue nos deixar na ponta da cadeira até seus minutos finais. Além disso, o início desse conflito acaba ressaltando ainda mais a grande questão que permeia todo o filme: o que é ser civilizado? Construir armas e dominar os mais fracos ou tratar a todos com igualdade?
A franquia Velozes & Furiosos passou a chamar minha atenção quando deixou de ser apenas sobre carros tunados e virou uma franquia de ação. Mas não qualquer tipo de ação. Com o passar dos filmes, a série foi se entregando cada vez mais à loucura, cenas impossíveis e roteiros sem sentido. Vin Diesel e companhia passaram de ladrões a super espiões que combatem ameaças utilizando carros em vez de armas. Afinal, como bem disse o sábio Rogerinho do Ingá: “o carro é uma arma, mas é uma arma do bem”. Com toda a escala de maluquice aumentando a cada novo filme, terminei de assistir ao sétimo capítulo me perguntando se eles conseguiriam superar tudo que foi mostrado ali. Ao assistir apenas o trailer de Velozes & Furiosos 8 eu já tive a certeza de que a resposta era sim. Algo que finalmente confirmei assistindo o filme inteiro.
Velozes & Furiosos 8 já abre com uma sequência fantástica na qual Vin Diesel precisa salvar o primo que está com problemas. E é óbvio que o problema será resolvido através de um racha pelas ruas de Cuba, mas não sem antes do protagonista dizer frases de efeito como “não importa o carro, mas sim quem está atrás do volante”. Além disso, é fascinante que ele decida correr para salvar o carro do primo, mas a primeira coisa que ele faz é praticamente desmontar o veículo para ganhar mais velocidade. Pra quem achava as corridas dos primeiros filmes mentirosas, essa aqui vai além de qualquer limite. Tem o Vin Diesel utilizando anel de lata de refrigerante pra fazer gambiarra no motor, motor explodindo por causa da velocidade e até carro andando muito mais rápido na marcha ré do que de frente. Sem contar que ele faz isso mesmo com o nitro ligado, sendo que ele fica na parte de trás do carro. Mas segue o jogo.
Esta sequência inicial se encarrega basicamente de passar a mensagem “não levem esse filme a sério porque nós não levamos”. Velozes & Furiosos é para ser sentido e não entendido. Seguindo este mantra por todo o filme, o roteiro de Chris Morgan serve apenas como uma desculpa para as insanas e divertidas cenas de ação. Temos chuva de carros, The Rock amassando porta de aço com um soco e Vin Diesel utilizando uma serra circular tal qual um assassino de filmes slasher, como Sexta-Feira 13. Mas nada chega aos pés de ver a equipe fugindo de um submarino no meio do gelo e de assistir The Rock manusear um torpedo com as próprias mãos. Ah sim, não podemos esquecer da sensacional cena envolvendo uma bola de ferro gigante no meio das ruas de Berlim, na Alemanha. O mais impressionante é que, mesmo com tanta coisa acontecendo na tela, as cenas de ação são muito bem executadas pelo diretor F. Gary Gray. Mesmo nas cenas com vários carros pulando pra lá e pra cá, o diretor consegue manter uma lógica, nunca deixando o espectador perdido sobre o que está acontecendo.
Além das cenas de ação absurdas, o roteiro conta ainda com aquelas reviravoltas que já são recorrentes na série. Temos personagens que morrem, mas na verdade estão vivos e outros que surgem como grande surpresa, mesmo que a gente nem lembre dele ter aparecido em outros filmes. Mas são justamente essas tosquices que fazem a franquia ser divertida. Dessa forma, as partes mais fracas de Velozes & Furiosos 8 são justamente aquelas nas quais o roteiro se leva a sério demais. Nestas cenas com mais diálogos os defeitos da história saltam aos olhos, afinal, ninguém aguenta mais ver o Vin Diesel falando sobre família. Sem contar que as motivações dos vilões na série nunca são grande coisa. É normal que filmes de ação tenham momentos com mais diálogos para dar um respiro ao espectador, mas aqui isso mais atrapalha que ajuda.
E vocês devem ter reparado que, até agora, eu citei apenas os nomes dos atores e não dos seus personagens. Isso se deve ao fato de que, com exceção do personagem do Vin Diesel, eu não sei o nome dos outros personagens. Porque a verdade é que isso não importa, o filme tem aquela aura de que aquilo tudo é apenas uma reunião de amigos que estão se divertindo enquanto ganham uma grana. Isso fica ainda mais claro quando o personagem do falecido Paul Walker continua recebendo homenagens, mesmo que o personagem continue vivo na história da franquia. A grande questão que fica ao final de Velozes & Furiosos 8 é: como eles vão conseguir superar a perseguição no gelo? A única solução que consigo enxergar é uma continuação que se passe no espaço. E se isso acontecer, ele será o maior filme de ação galhofa da história, podendo ser superado apenas por um possível crossover entre Velozes & Furiosos e Transformers. Imagina o Vin Diesel pilotando o Bumblebee. Sonhar não custa nada.
Documentário bem foda produzido pela Frances Bean, filha do Kurt Cobain. Graças a isso, ele é cheio de imagens do arquivo pessoal da família, além de ter entrevistas bem sinceras da Courtney Love e da mãe do Kurt. É um documentário que não tenta endeusar a figura de Kurt Cobain e ainda desfaz algumas lendas, como aquela que dizia que ele nunca quis ter fama. Depoimentos de amigos e trechos do diário pessoal dele mostram que ele sempre quis ser famoso. Também é bem maneiro o fato do documentário ilustrar com animações as passagens que apresentam apenas áudios gravados pelo Kurt.
Filme bem mais ou menos que não consegue assustar e não se decide se é um filme de terror sobrenatural ou psicológico. Sem contar que o tempo todo a história leva a gente acreditar que vai terminar de maneira bizarra, mas não tiveram coragem de entregar o final prometido.
Filme legalzinho que mostra a confusão mental pela qual passa uma pessoa que cresceu ouvindo histórias sobre a danação eterna por causa da sua sexualidade. Quando Michael chama os homossexuais de aberração dá pra perceber que faz isso muito mais por medo do que por convicção. O filme ainda tem o mérito de passar longe de apresentar gays estereotipados.
Fome de Poder abre com Ray Kroc (Michael Keaton) questionando se uma lanchonete vendia poucos milkshakes porque havia pouca procura, ou se a procura era baixa justamente porque os pedidos demoravam a ficar prontos e por isso as pessoas desistiam. Com essa pequena introdução, o filme já deixa clara a obsessão de Kroc com o atendimento ágil que os restaurantes deveriam ter. Assim, não é de se espantar quando ele fica maravilhado com uma pequena lanchonete chamada McDonald’s, que entregava os lanches assim que os pedidos terminavam de ser feitos. A paixão de Kroc por esta ideia foi tanta que ele conseguiu convencer os donos a iniciar a hoje famosa franquia, conseguindo se tornar mais tarde o único dono dela. Fome de Poder se encarrega de contar essa história, mas sem intenção alguma de se aprofundar nos personagens envolvidos.
Como acontece na maioria das histórias de grandes empresas, aqui também Ray Kroc em algum momento acaba passando a perna nos irmãos McDonald (Nick Offerman e John Carrol Lynch). O grande problema do filme é que, em diversos momentos, ele parece endeusar seu protagonista e minimizar seus defeitos. Se ele acaba largando a esposa é porque ela demorou a embarcar em seus sonhos e ele acabou arranjando alguém que o compreendia melhor. E quando ele finalmente decide partir para o ataque contra os donos originais do McDonald’s, somos levados a ficar do lado dele porque ao longo do filme os irmãos são retratados como sendo muito intransigentes e não aceitavam as opiniões de Ray. Fome de Poder também falha em oferecer pistas de que Ray Kroc pudesse passar a perna em alguém, já que o tempo todo ele é mostrado como alguém íntegro. Isso acaba até passando a impressão de que ele acabou mudando justamente por causa dos irmãos McDonald.
Além disso, todos os outros personagens do filme parecem simples figurantes que estão ali apenas para enfeitar o cenário. Em certo momento, Ray Kroc está claramente dando em cima da esposa de um possível sócio (Patrick Wilson) na frente dele e o sujeito fica o tempo todo com a mesma expressão impassível no rosto. Já a esposa de Ray, interpretada por Laura Dern, está ali apenas para enfatizar que o protagonista possuía ambições maiores do que ser casado e ter uma bela casa. Porém, talvez o caso mais grave de personagem mal aproveitado seja o da secretária de Kroc, June Martino (Kate kneeland), que aparece no filme apenas como uma simples anotadora de recados para o empresário. Apenas durante os créditos do filme é mencionado que ela acabou se tornando sócia do McDonald’s e a primeira mulher a ter ações na bolsa de valores quando a empresa abriu suas ações para o público. Uma rápida pesquisa no google também mostra que Juno foi a responsável por conseguir alguns dos primeiros franqueados bem sucedidos para o McDonald’s. Já B.J. Novak parece não conseguir se livrar do papel de “jovem empreendedor canalha” que ele carrega desde o seriado The Office.
Enquanto o roteiro de Robert D. Siegel falha em aprofundar os personagens, a direção de John Lee Hancock acaba pecando em algumas escolhas narrativas ao contar a história. Em alguns momentos, principalmente no começo, o filme trata o espectador como um idiota, repetindo a mesma informação diversas vezes. Assim, somos obrigados a assistir Ray Kroc tendo um péssimo atendimento em várias lanchonetes diferentes, numa tentativa de deixar bem claro os motivos que o levaram a ficar fascinado com a ideia do McDonald’s e sua comida rápida. Porém, o cuidado de repetir várias vezes uma ideia tão simples não aparece quando o filme apresenta um conceito um pouco mais complexo. Para conseguir o dinheiro que o permitisse enfrentar os irmãos McDonald, Ray Kroc começa um esquema de compra de terras junto com Harry Sonneborn (B.J. Novak), mas tudo é apresentado tão rápido que fica difícil entender o que está acontecendo. Justamente a parte que merecia um pouco mais de tempo de tela acabou apenas ficando jogada ali no meio da história. A parte mais criativa do filme fica por conta do momento em que os irmãos McDonald contam como tiveram a ideia da lanchonete. Com uma montagem dinâmica, a história contada pelos dois se torna divertida e emocionante, exatamente como os personagens que a estão contando querem que pareça.
Apesar dos defeitos do roteiro e dos tropeços na direção, Fome de Poder ainda consegue entreter ao contar a história da maior rede de lanchonetes fast food do mundo. Além disso, Michael Keaton interpreta Ray Kroc com a sua competência de sempre e consegue dar conta de carregar o filme nas costas, uma vez que, além dele, apenas os irmãos McDonald são um pouco melhor trabalhados.
Me amarro em histórias de hospital desde os tempos do saudoso Plantão Médico. E esse filme é isso aí, um Plantão Médico num hospital sucateado do Rio de Janeiro, que fica de frente pra uma favela e recebe os piores casos sem ter a menor condição pra isso. Curti bem e vou acompanhar a série da Globo.
O visual do filme é lindo, com muitas cores e algumas cenas parecem saídas de uma história em quadrinho. O design de alguns personagens também são muito bonitos. Fora isso, a história é previsível desde o primeiro trailer, mas serve bem ao seu propósito de apresentar cenas de ação. É um filme de ação honesto e que dá pra se divertir.
O filme é tão ruim quanto o jogo Resident Evil 6. As batalhas são tão exageradas que dão a impressão de que os protagonistas também foram infectados com algum super vírus pra conseguir enfrentar as ameaças. Sabe-se lá porque o Leon utiliza a moto dele em praticamente todas as cenas de ação, até pra explodir parte de um helicóptero.
Grande parte do sucesso do Homem-Aranha se deve ao fato de que é fácil o público se relacionar com ele. Por baixo da máscara e dos poderes, ele é um jovem com problemas igual a todo mundo. Sofre bullying na escola, precisa de grana pra ajudar a tia a pagar as contas de casa etc. Não é à toa que o apelido dele seja Amigão da Vizinhança. E Homem-Aranha: De Volta ao Lar é o filme que melhor retrata essa humanidade do personagem. Apesar de ter ajudado o Homem de Ferro (Robert Downey Jr.) contra o Capitão América (Chris Evans) durante a Guerra Civil, Peter Parker (Tom Holland) é apenas um garoto de 15 anos ainda deslumbrado com os novos poderes e a perspectiva de integrar a equipe dos Vingadores. Infelizmente para ele, ainda é necessário percorrer um longo caminho para isso, fazendo com que ele aprenda da maneira mais difícil que “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”, sem que a frase seja sequer citada durante o filme.
Possuindo a missão de encaixar o Aranha no resto do Universo Cinematográfico da Marvel e, ao mesmo tempo, servir como uma nova roupagem do herói, Homem-Aranha: De Volta ao Lar é extremamente eficiente no modo como apresenta não só o personagem título, mas também o vilão Abutre. Em apenas poucos minutos vemos o que levou Adrian Toomes (Michael Keaton) a se tornar um vilão. Melhor ainda, conseguimos entender suas motivações e até simpatizar com ele, já que o filme aproveita para fazer uma pequena crítica ao modo predatório como as grandes empresas agem, muitas vezes destruindo pequenos negócios e deixando famílias inteiras na miséria. Com o vilão estabelecido, o filme dá um salto de oito anos e acompanhamos todo o trajeto de Peter Parker até a batalha contra os Vingadores comandados pelo Capitão América. Toda esta sequência é mostrada através de um vídeo gravado pelo próprio protagonista, fazendo com que o espectador veja tudo através dos olhos do Aranha e perceba o quanto ele ainda é imaturo.
Com a expectativa de se tornar um membro fixo dos Vingadores, Peter Parker volta para a sua rotina diária, que consiste em ir para a escola durante o dia e agir como herói após o horário das aulas. E aqui temos a melhor encarnação do personagem nos cinemas. Agindo como um verdadeiro Amigão da Vizinhança, o Homem-Aranha deste filme ajuda idosos a atravessarem a rua, impede roubos de bicicletas e indica direções para turistas perdidos na cidade. Além disso, como as pessoas já estão acostumadas a viver em um mundo repleto de heróis, elas não se espantam com a presença do Aranha. Pelo contrário, elas até gostam da presença dele e conversam com o personagem como se ele fosse apenas mais um vizinho do bairro. Afinal, ele é apenas um adolescente que não pode sair da cidade sem pedir autorização para a tia May (Marisa Tomei). Estes momentos de interação do Aranha com as pessoas comuns rendem cenas muito engraçadas, como a do mortal pra trás ou do alarme do carro. Além disso, enquanto os Vingadores se preocupam com a destruição de países inteiros, a grande preocupação do Aranha aqui é a destruição de um mercadinho no Queens.
Apesar dos superpoderes, Peter Parker ainda é um adolescente, com preocupações equivalentes a essa fase da vida, e Homem-Aranha: De Volta ao Lar aborda isso de maneira excelente. Em alguns momentos, o filme lembra muito as produções adolescentes da década de 1980. Temos o protagonista apaixonado pela garota mais popular da escola, o riquinho implicante, a garota que finge não gostar de ninguém etc. Na verdade é possível até imaginar um remake do clássico Clube dos Cinco com os atores deste novo Homem-Aranha. O filme possui até uma cena de perseguição que homenageia uma famosa cena de Curtindo a Vida Adoidado, outro clássico oitentista. Porém, nada disso adiantaria se não fosse a excelente atuação de Tom Holland no papel principal. Além de ter o porte físico ideal (nem muito alto, nem muito baixo), o ator varia a voz entre tons mais graves ou mais agudos dependendo da situação, algo que é típico da adolescência. Além disso, Holland consegue transmitir com veracidade toda a empolgação que um garoto de 15 anos sentiria se tivesse os poderes que Parker possui. Quando ele conversa com Tony Stark, por exemplo, os olhos dele chegam a brilhar por estar na presença de um ídolo. Assim, é possível perceber, no olhar do protagonista, o momento exato em que ele deixa de ser apenas uma criança com superpoderes e passa a ser um herói de verdade, em uma cena que homenageia um momento clássico dos gibis desenhados por Steve Ditko (um dos criadores do personagem).
O filme ainda é certeiro na escalação do elenco de coadjuvantes, conseguindo trazer mais diversidade ao grupo de amigos de Peter Parker, que sempre foi composto basicamente de pessoas brancas. Liz (Laura Harrier), a paixão de Parker, é negra, enquanto Tony Revolori, que interpreta o popular Flash Thompson, possui ascendência da Guatemala. Já o melhor amigo de Parker, Ned, é interpretado por Jacob Batalon, que é descendente de filipinos e nasceu no Havaí. Além disso, o bullying praticado por Flash se resume a fazer trocadilhos com o nome de Peter, nunca apelando para comentários a respeito da aparência física dos personagens. Ned, por exemplo, é um rapaz acima do peso, mas em momento algum isso é relevante de qualquer maneira. Não existem cenas dele comendo sem parar, ou correndo com dificuldade, algo que seria comum em qualquer filme com um personagem adolescente com esse biotipo. Aqui, ele é tratado apenas como mais um do grupo, algo que deveria ser normal em qualquer lugar. Sendo uma história voltada para os jovens, o filme faz, assim, a sua parte para mostrar que são todos iguais, não importando a aparência física de cada um.
Para acompanhar essa pegada mais humana que o Homem-Aranha traz para o Universo Marvel, o filme acerta em cheio também na construção do vilão Abutre. Enquanto o sonho de Peter Parker é justamente fazer parte de coisas grandiosas com os Vingadores, Adrian Toomes quer apenas ficar fora do radar. Ele não deseja dominar o mundo ou destruir o Aranha a qualquer custo, mas apenas continuar vendendo suas armas feitas com peças das naves dos Chitauri. E ele entra para a vida do crime simplesmente porque o seu negócio legítimo foi destruído por causa de um acordo do governo com as Indústrias Stark. O vilão ainda traz questionamentos relevantes sobre como funciona a nossa própria sociedade. Como o Abutre diz em certo momento, ele é considerado criminoso por vender armas simplesmente porque não teve dinheiro para legitimar o negócio, enquanto Tony Stark passou anos aumentando sua fortuna justamente vendendo armas para governos ao redor do mundo. É uma importante discussão sobre o fato das leis serem mais maleáveis para os poderosos, enquanto os mais pobres sofrem todo o rigor dela. E aqui é preciso destacar a excelente atuação de Michael Keaton, que consegue soar ameaçador mesmo quando parece estar falando sobre coisas aleatórias. Além disso, é graças à atuação dele que é possível simpatizar com o vilão, já que conseguimos perceber por parte dele uma preocupação genuína com a família e os amigos que ficaram desempregados. Essa preocupação o torna tão humano quanto o próprio Peter Parker e fica difícil torcer para que algo de grave aconteça com ele ao final de tudo. Isso acaba fazendo com que o Abutre seja um dos vilões mais interessantes e carismáticos do Universo Marvel nos cinemas.
Homem-Aranha: De Volta ao Lar acerta também ao focar a ameaça apenas em Peter Parker e não em seus familiares, algo que já foi feito à exaustão nos outros filmes do herói. Além disso, devido à falta de experiência como super-herói, o próprio protagonista é mostrado como uma possível ameaça para todos ao seu redor e à sua própria vida. Assim, o filme deixa de lado a velha muleta da morte do tio Ben, fazendo com que Peter Parker aprenda com os próprios erros que “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”. E que nem sempre essas responsabilidades precisam envolver salvar um planeta inteiro da destruição, mas apenas um mercadinho que vende o melhor sanduíche do Queens. Afinal, é isso que se espera de um Amigão da Vizinhança.
Documentário emocionante que mostra o descaso com que a polícia inglesa tratava os torcedores de futebol e o perigo de colocar alguém mal preparado em um cargo importante, como o de chefe de polícia.
A coisa mais comum em filmes de serial killers é acompanharmos a rotina de alguma das vítimas, as investigações da polícia e um assassino que consegue manter sua vida dupla com extrema perfeição, sem levantar qualquer tipo de suspeita. Maníaco, dirigido por Franck Khalfoun, ignora os dois primeiros itens e foca totalmente na rotina do assassino Frank (Elijah Wood). Assim, o que temos é um filme que aborda um serial killer não como aquele assassino caricato que sempre tem tudo sob controle. Frank é uma pessoa com sérios problemas mentais e que possui bastante dificuldade em manter seus atos em segredo. Focado totalmente no personagem, Maníaco é um passeio por uma mente perturbada e que consegue nos colocar como uma espécie de cúmplice do assassino.
Filmado quase totalmente com uma câmera subjetiva que mostra as cenas pelo olhar de Frank, acompanhamos todo o processo dele até finalmente matar suas vítimas. O filme abre com o personagem dentro da sua van perseguindo uma mulher. Quando parece que ela vai conseguir ficar em segurança, Frank revela que sabe onde ela mora e, pela primeira vez, vemos o seu rosto no reflexo do retrovisor. E é impossível não levar um pequeno susto quando surge o olhar de Frank na tela. Elijah Wood, que já havia interpretado um serial killer em Sin City, parece ter um talento natural para esse tipo de papel. É impressionante o contraste entre o olhar vazio que ele apresenta nesta cena inicial com o olhar preocupado que ele demonstra mais à frente. Quando ele finalmente chega até a vítima, Frank não pensa duas vezes antes de matá-la. Com uma morte tão violenta logo nos primeiros minutos, a impressão é de que o filme será uma espécie de gore, mas ele consegue passar longe disso.
Conforme a produção avança, Maníaco acaba se mostrando um excelente estudo de personagem. A primeira coisa que chama a atenção é que ele mata suas vítimas com rapidez, não demonstrando interesse algum em vê-las sofrendo. Em algumas situações é possível perceber que, na verdade, ele possui uma necessidade de matar, porém não consegue ter prazer com a experiência. E como o personagem conversa bastante sozinho, surge a dúvida se ele possui dupla personalidade ou não. Claro que um assassino é um personagem desprezível, mas graças à atuação de Elijah Wood é possível que o espectador se apegue ao personagem. E grande parte dessa atuação está na entonação da voz do ator, já que o rosto dele só aparece em momentos muito específicos. Também é interessante notar que, sempre que Frank se olha no espelho, ele parece um pouco assustado com o que vê. É como se o personagem estivesse lutando muito para manter algo terrível sob controle.
Mesmo focando na mente do seu protagonista, Maníaco apresenta cenas que podem perturbar as pessoas mais sensíveis. Alguns assassinatos cometidos por Frank são bastante violentos, envolvendo inclusive escalpelamentos. Felizmente as mortes não estão ali apenas para chocar, mas servem também para mostrar como Frank não é o assassino perfeito que aparece na maioria dos filmes. Praticamente todas as mortes cometidas pelo protagonista acabam acontecendo de improviso e nunca o vemos limpando o local do crime. Assim, Maníaco apresenta um serial killer que não é infalível, muito pelo contrário, ele acaba deixando várias pistas espalhadas. Não é à toa que, ao longo do filme, o diretor Franck Khalfoun espalhe vários telejornais informando sobre mortes que vem ocorrendo na cidade. É através dessas pequenas inserções que o espectador consegue perceber se a polícia está ou não perto de capturar Frank.
Maníaco também é interessante na forma como explora a psique de seu protagonista quando, em alguns momentos, abandona a câmera em primeira pessoa e mostra Frank como um personagem comum na tela. Isso acontece em momentos de maior adrenalina e é quase como se o personagem saísse do próprio corpo e testemunhasse os assassinatos sendo cometidos por outra pessoa. Em seu terceiro ato, Maníaco ainda apresenta perseguições típicas de filmes de serial killer, com a diferença que não sabemos se torcemos para o assassino ou para suas vítimas. Afinal, depois de acompanharmos tudo pelos olhos de Frank, é impossível não se sentir cúmplice e, porque não, um pouco apegado ao personagem.
Curti o documentário, mas esperava algo mais abrangente, com alguns depoimentos de familiares e tal. Só o filho do Laerte que fala um pouquinho em determinado momento. No final ficou só um grande bate-papo com o Laerte, mas vale a pena.
Logo nos primeiros minutos de filme eu já percebi que tinha caído em uma cilada. A sinopse do filme na Netflix dizia “eles matam garotas por esporte e já escolheram sua próxima vítima, só não sabem que ela é uma assassina profissional”. Com um resumo desses, eu esperava uma espécie de suspense, no qual os caçadores iriam virar caça, porém suspense é o que menos existe em Final Girl. Os primeiros minutos do filme são focados na jovem Veronica (Abigail Breslin) que, por algum motivo, foi escolhida para passar por um treinamento com o objetivo de caçar assassinos em série. Em vez de focar justamente na caçada aos assassinos e, aos poucos, ir mostrando o passado da protagonista, o filme perde muito tempo estabelecendo quais são as habilidades dela, sem nunca se aprofundar na personagem. Além disso, em momento algum é explicado o porque do treinador de Veronica precisar dela para a tarefa, já que ele se mostra extremamente habilidoso para a tarefa.
Com uma história sem pé nem cabeça como essa, o mínimo que se espera desse tipo de filme é que, pelo menos, ele tenha bastante suspense e mortes bizarras. Infelizmente, nem isso ele consegue entregar para o espectador. O único momento em que o filme tenta criar um certo suspense, com a protagonista parecendo estar em uma posição vulnerável, é estragado justamente porque a gente já conhece todas as habilidades da garota e sabe que ela pode sair da situação tranquilamente. E quando finalmente chega a vez dela caçar os caçadores, o filme se resume a mostrar os garotos correndo pela floresta e depois lutando com Veronica. Em momento algum temos uma sensação de estar assistindo a uma perseguição de verdade. Além disso, mesmo com as burradas cometidas pela protagonista, ela nunca parece estar em perigo, fazendo com que o espectador não se preocupe com ela, o que tira a emoção do filme.
Final Girl não respeita a própria história da personagem apresentada logo no começo do filme. Mostrada como alguém treinada para prosseguir com sua missão mesmo nas situações mais adversas e tirar proveito de qualquer vantagem, é no mínimo estranho assistir Veronica abrindo mão de vários recursos que poderiam ajudá-la. Em pouco tempo ela consegue ter acesso a um machado, que é logo descartado para que ela enfrente um dos vilões na porrada. Não demora para que ela consiga outras coisas, mas sempre preferindo utilizar as próprias mãos e apanhar um pouco no processo. Isso poderia fazer algum sentido se ela tivesse sido apresentada como alguém que gosta de lutas corporais ou gosta de sentir dor, mas ela foi treinada justamente para que isso não fosse necessário. Se pelo menos as lutas fossem interessantes e bem feitas, isso poderia justificar a escolha da personagem, mas nem isso acontece. Até mesmo as mortes dos vilões não possuem impacto visual algum. É um filme sobre assassinatos que praticamente não possui sangue.
E já que eu citei a falta de sangue, isso é apenas um exemplo do quanto essa produção é capenga. Boa parte de Final Girl se passa durante a madrugada no meio de uma floresta. Porém, a iluminação claramente artificial faz com que o espectador tenha a sensação de que estão todos confortáveis dentro de um estúdio. É um tipo de iluminação que seria simplesmente impossível em uma floresta mesmo que fosse uma noite de lua cheia. Mesmo com tantas árvores ao redor, a luz parece cercar os personagens, vindo de todas as direções possíveis. Em algumas cenas é possível perceber exatamente onde foram colocados os holofotes no cenário. A coisa toda chega ao cúmulo de ter uma fonte de luz atrás de um dos personagens, mas o rosto dele aparecer tão iluminado quanto o personagem que está de frente para ele. Além disso, eles são sempre iluminados com uma luz muito dura, típica de estúdios de fotografia. Como se tudo isso não bastasse, Final Girl conta com personagens que não possuem carisma, sendo impossível se preocupar com qualquer um deles. A única coisa que talvez pudesse salvar o filme é se ele tivesse uma montagem diferente, com Veronica sendo mostrada como vítima para depois descobrirmos o que ela é de verdade. Infelizmente, o diretor Tyler Shields optou por uma abordagem linear, o que deixou ainda pior a já fraca história.
Amizade Desfeita
2.8 1,1K Assista AgoraTem uns filmes que a gente começa a assistir já preparado para se decepcionar, mas que acabam nos surpreendendo positivamente no final das contas. É o caso de Amizade Desfeita, um filme de suspense que acontece todo diante de uma tela de computador. Durante uma hora e meia de filme tudo o que vemos é o que se passa na tela da personagem Blaire (Shelley Hennig), que está em uma conversa por Skype com alguns amigos de escola. Junto com eles aparece um usuário desconhecido, que ninguém consegue desconectar, e que aos poucos começa a ameaçar a vida de todos no grupo. Apesar da história bem clichê, a produção consegue manter o frescor justamente por conseguir apresentá-la apenas com a tela de um computador, sem que o filme fique cansativo.
A história começa com Blaire assistindo um vídeo no qual sua amiga Laura Barns (Heather Sossaman) comete suicídio no pátio da escola, já deixando clara a curiosidade mórbida que temos de assistir esse tipo de coisa na internet. As coisas começam a ficar estranhas quando ela recebe uma mensagem de Laura no Facebook, ao mesmo tempo em que começam as ameaças via Skype. O intruso na conversa, que atende pelo apelido Billie227, culpa todos ali por terem praticado bullying com Laura, o que a levou a tirar a própria vida. A partir daí vemos o grupo de amigos desconfiando uns dos outros e tentando descobrir quem é o tal intruso e como se livrar dele. O filme abre até a hipótese de ser algo sobrenatural, sem nunca deixar de mostrar apenas a tela do computador.
Sabendo que um filme nesse estilo poderia facilmente ficar cansativo, o diretor Levan Gabriadze consegue controlar o ritmo do filme através de mudanças na tela. Aqui ele substitui a tradicional montagem dos filmes por trocas que Blaire faz entre os programas que está usando no computador. No começo, por exemplo, vemos apenas ela e o namorado conversando, já que ainda está tudo calmo. Mas conforme a tensão aumenta, ela a passa a alternar com mais velocidade entre os aplicativos abertos, além de digitar algumas palavras erradas, mostrando todo o nervosismo que o momento pede. E quando ela tenta clicar várias vezes em algo que não está funcionando, o barulho do mouse ajuda o espectador a ficar tenso junto com a personagem. A cena da remoção de um vírus consegue nos deixar nervosos vendo alguém apenas esvaziando a lixeira do computador. Seguindo esta lógica, a trilha sonora do filme também entra em cena de forma orgânica, com Blaire trocando as músicas no Spotify.
Levan Gabriadze ainda consegue criar algumas cenas no estilo found footage, já que os personagens estão o tempo todo de frente para a webcam. Da mesma forma, alguns personagens fazem algumas trocas de cenário, ajudando a manter o dinamismo do filme. Claro que nem tudo é perfeito. Em algumas cenas que Blaire está em alguma conversa importante via chat, os outros personagens milagrosamente ficam em silêncio. Difícil acreditar que isso aconteceria com vários adolescentes fazendo uma conferência via Skype. Mas é apenas um pequeno detalhe que não prejudica o filme como um todo. No geral, Amizade Desfeita pega vários clichês de filmes de suspense e os apresenta de maneira bem inovadora, utilizando de forma eficiente todos os recursos disponíveis em um computador. Além disso, aproveita para mostrar os perigos do bullying no ambiente escolar, que pode fazer com que uma pessoa tire a própria vida.
A Menina do Outro Lado da Rua
3.8 162Assisti esse filme porque dois personagens de Twin Peaks citam o nome dele na terceira temporada e fiquei curioso. Dá até pra imaginar que o futuro dessa menina é justamente a tal Carrie Paige que aparece no último episódio de Twin Peaks. Curti bem e achei bastante tenso, principalmente por causa do pedófilo que fica rondando a menina o tempo todo.
Jerry Before Seinfeld
3.7 21 Assista AgoraUm resumão da carreira do Jerry Seinfeld. Inclusive, muitas piadas que aparecem aqui já apareceram no seriado Seinfeld. Foi bem o que eu esperava.
It: A Coisa
3.9 3,0K Assista AgoraFilmaço de terror que explora muito bem os medos infantis. interessante como muitos medos estão relacionados ao medo da vida adulta. Como o filme se passa em 1989, acaba lembrando as produções dessa época, como o clássico Conta Comigo. Única coisa que me incomodou foi a cena em que a Bev (uma criança) flerta com uma farmacêutico bem mais velho que ela e ele se mostra interessado.
O Massacre da Serra Elétrica 2
2.8 346Que lixo! Nem dá pra acreditar que foi dirigido pelo mesmo diretor do primeiro.
Onde Está Segunda?
3.6 1,3K Assista AgoraFilme de ação bem divertido e com bastante inspiração em Matrix, principalmente as cenas nos terraços dos prédios. Atuação foda da Noomi Rapace ao interpretar sete personagens diferentes. As cenas de luta são bem boas, mas o filme podia ser um pouco mais curto porque na metade ele já bem previsível e a revelação final ficou óbvia.
A Torre Negra
2.6 839 Assista AgoraDifícil adaptar uma obra de sete volumes em apenas um filme de uma hora e meia de duração. Isso dito, achei o filme bem divertido e que lembra bastante as produções de fantasia e ação da década de 1980, principalmente pela questão da criança com um grande destino e tal. Não me arrependi de ter visto no cinema.
2001: Uma Odisseia no Espaço
4.2 2,4K Assista AgoraDepois de muitos anos tentando, finalmente consegui passar da parte dos macacos e assistir o filme até o final. Embora ele seja visualmente muito bonito em certas partes, infelizmente não curti o filme. Eu sempre dormia quando tentava assistir, mas dessa vez fui tentar de peito aberto, mas realmente não rolou. Continuei achando chato. Antes que venham me xingar, não estou dizendo que o filme é ruim, mas realmente não me agradou.
Batman: O Retorno da Dupla Dinâmica
3.5 44 Assista AgoraApesar de ser conhecido como o Cavaleiro das Trevas, que é um nome bastante sombrio, muitas pessoas conheceram o Batman através da clássica série dos anos 1960. Com um homem-morcego gordinho, um Coringa que ostentava um grande bigode debaixo da maquiagem branca e o já clássico bat-repelente de tubarão, o seriado era muito mais uma paródia do personagem do que uma adaptação dos quadrinhos. A verdade é que, por trás de toda a tosquice da produção, ela era divertida de se assistir. Então não é de se espantar que a Warner/DC tenha resolvido trazer de volta esse universo tão querido por alguns fãs. Primeiro nos quadrinhos e agora nas animações, área na qual a empresa não costuma decepcionar. E Batman: O Retorno da Dupla Dinâmica realmente não decepciona. Com dublagens de Adam West e Burt Ward reprisando seus papéis de Batman e Robin, respectivamente, a animação não apenas homenageia a série original, como ainda acaba sendo uma paródia da paródia.
Quem assistia o seriado sabe que alguns dos episódios mais esperados eram aqueles em que vários vilões se reuniam para tentar finalmente acabar com o Cruzado Encapuzado e seu pupilo. Então para este retorno nada mais natural que uma reunião dos maiores deles. Coringa, Charada, Pinguim e Mluher-Gato se unem para roubar um aparelho experimental capaz de duplicar qualquer coisa. Sem as restrições orçamentárias de uma série com atores reais, a animação aproveita para apresentar as mais absurdas situações nunca antes vistas na série. Assim, temos personagens duplicados, lutas em gravidade zero e armadilhas ainda mais exageradas do que as apresentadas na série, como uma bandeja de comida gigante. Além disso, se Batman e Robin já pareciam inteligentes demais no seriado, descobrindo coisas através das menores pistas, aqui eles são praticamente deuses. Basta citar uma palavra qualquer que, de repente, Batman adivinha o grande plano dos vilões, mesmo que não faça sentido algum.
Muito mais preocupado em homenagear o seriado do que em contar uma história que faça sentido, o diretor Rick Morales enche a tela de lutas (soc, pow, tum) e referências ao material original. Em determinado momento, por exemplo, Batman leva um golpe e fica meio desnorteado, passando a enxergar tudo triplicado. Ao olhar para a Mulher-Gato, ele vê as três atrizes que interpretaram a personagem na série: Julie Newmar, Lee Meriwheter e Eartha Kitt. Por falar em Mulher-Gato, não faltam também insinuações a um possível relacionamento homossexual entre Batman e Robin, já que muitas pessoas na época da série afirmavam que eles eram um casal. Assim, sempre que a ladra se insinua pra cima do homem-morcego, as reações do menino prodígio contra esse relacionamento são sempre hilárias e cheias de ciúmes. Além disso, a tia Harriet afirma que descobriu o grande segredo dos sobrinhos, dando a entender que sabe do relacionamento deles e que eles não deveriam esconder.
Apesar de adaptar os personagens da série dos anos 1960, Batman: O Retorno da Dupla Dinâmica vai além e resolve zoar com outras encarnações do herói. A principal delas é o Batman da animação dos anos 1990, criada por Paul Dini. Sem entrar em detalhes sobre a trama, em certo momento o herói passa a agir de maneira diferente e muito mais sombria, gerando cenas hilárias como sumir e deixar o Comissário Gordon falando sozinho. E o retorno da personalidade original do herói se dá da forma mais mirabolante possível, como pede o clima galhofa da animação. Nem mesmo a trilogia dirigida por Christopher Nolan escapou das alfinetadas dessa animação. Em mais uma das tentativas de Batman trazer a Mulher-Gato para o lado do bem, com o objetivo de que eles possam ficar juntos, a ladra responde que fará isso com a condição de que ambos possam ir para a Europa, tomar um chá e viverem felizes para sempre. De imediato, Robin diz que isso seria um final bem sem graça.
Para quem cresceu assistindo ao seriado, Batman: O Retorno da Dupla Dinâmica é uma divertida volta no tempo, mas que consegue trazer algum frescor para os personagens ao homenagear outras encarnações dos heróis. Além disso, as cenas durante a noite, que eram praticamente inexistentes na série, dão um ar de novidade para este universo, além de serem muito bonitas. Completando o pacote, as atuações de Adam West e Burt Ward estão fantásticas, com destaque para o primeiro, que consegue nos apresentar um Batman ainda mais canastrão do que aquele visto na série de TV. Se é que isso é possível.
Planeta dos Macacos: A Guerra
4.0 960 Assista AgoraEm seus minutos iniciais, Planeta dos Macacos: A Guerra entrega o que promete em seu título. São vários minutos tensos em que soldados humanos se preparam para emboscar soldados macacos que atravessam uma floresta. Com uma excelente direção de Matt Reeves, a cena lembra alguns dos grandes filmes de guerra já produzidos, como Platoon, já que ambos possuem combate em floresta. Porém, não demora para o espectador perceber que, apesar do título do filme, não estamos testemunhando uma guerra, mas sim uma caçada. Liderados pelo carismático César (Andy Serkis), os macacos continuam tentando evitar o conflito ao máximo e acabam demonstrando mais humanidade do que os próprios humanos. Assim, este encerramento da trilogia escapa de ser apenas mais um filme cheio de combates e explosões, apostando muito mais na complexidade dos seus personagens.
Embora continue com ideais pacifistas com relação aos humanos, César possui cada vez mais dificuldade de convencer os outros macacos de que um conflito é desnecessário. E um evento ainda no primeiro ato do filme faz com que o líder símio comece a perceber que talvez seu rival Koba (que morreu em Planeta dos Macacos: O Confronto) tivesse alguma razão. Mas apesar de todo o sofrimento ao longo da história, é interessante como César nunca consegue odiar totalmente os humanos, já que as primeiras pessoas que ele amou na vida eram humanas. Dessa forma, quando o grupo encontra uma garotinha com problemas, o símio acaba se afeiçoando a ela, mesmo que não admita isso para os seus companheiros. Aqui vale ressaltar a atuação de Andy Serkis, que mais uma vez brilha dando vida à César através da captura de movimentos. Com pequenos movimentos faciais ele consegue demonstrar um certo remorso pelo destino da menina, mesmo que suas palavras digam que não.
Com César representando o pacifismo, o lado belicista fica por conta do personagem interpretado por Woody Harrelson. Chamado apenas pela sua patente de Coronel, sem nome próprio, o roteiro escrito por Matt Reeves e Mark Bomback já trata de deixar claro que o único objetivo do personagem é o conflito. Claro que ele apresenta suas razões para fazer o que faz, mas sempre que pode trata os macacos como se fossem lixo, mesmo que alguns ali sejam muito mais inteligentes que alguns dos subordinados do Coronel. É interessante notar também que os únicos macacos que o Coronel permite que trabalhem no mesmo nível dos seus soldados sejam justamente os gorilas, devido à sua extrema força física. Enquanto isso, qualquer outro que não pareça um combatente é tratado como escravo. O que vemos então é um confronto de duas ideologias completamente diferentes. De um lado temos César que, apesar de todas as suas perdas, continua acreditando que é possível as duas espécies viverem em paz. Do outro está o Coronel, que está convencido de que o extermínio dos inimigos é a única maneira da raça humana viver tranquilamente.
Claramente demonstrando muito mais carinho pelos personagens símios do que pelos humanos, o diretor Matt Reeves cria uma lógica visual que ressalta a civilização do primeiro grupo, enquanto o segundo age muito mais como um bando de selvagens. Na cena de combate logo no início do filme, por exemplo, vemos os humanos se arrastando pelas matas e subindo em árvores, enquanto os macacos andam tranquilamente em seus cavalos. Já na cidade de César e seus companheiros, todos vivem pacificamente, debatem os assuntos e é possível reconhecer cada macaco ali presente, mesmo que fisicamente eles sejam bem parecidos uns com os outros. Já na base do Coronel, seu exército é uniforme, todos os soldados fazem os mesmos movimentos combinados. Parecem muito mais um bando agindo por instintos, do que indivíduos com pensamentos próprios. Não é a toa que, quando tiros são disparados, sentimos muito mais a morte de um único macaco do que dezenas dos soldados humanos.
O único problema do filme, ainda que pequeno, é a inclusão de um personagem macaco que serve como alívio cômico. Embora ele seja carismático e forneça informações que dão pistas para o espectador sobre o que está por vir, a maioria das suas cenas possuem alguma coisa engraçadinha que não combina com o tom do restante da produção. Não chega a ser algo que estrague o filme, mas não faria falta alguma se não estivesse lá. Planeta dos Macacos: A Guerra ainda apresenta, em seu terceiro ato, um grande e emocionante conflito que consegue nos deixar na ponta da cadeira até seus minutos finais. Além disso, o início desse conflito acaba ressaltando ainda mais a grande questão que permeia todo o filme: o que é ser civilizado? Construir armas e dominar os mais fracos ou tratar a todos com igualdade?
Velozes e Furiosos 8
3.4 745 Assista AgoraA franquia Velozes & Furiosos passou a chamar minha atenção quando deixou de ser apenas sobre carros tunados e virou uma franquia de ação. Mas não qualquer tipo de ação. Com o passar dos filmes, a série foi se entregando cada vez mais à loucura, cenas impossíveis e roteiros sem sentido. Vin Diesel e companhia passaram de ladrões a super espiões que combatem ameaças utilizando carros em vez de armas. Afinal, como bem disse o sábio Rogerinho do Ingá: “o carro é uma arma, mas é uma arma do bem”. Com toda a escala de maluquice aumentando a cada novo filme, terminei de assistir ao sétimo capítulo me perguntando se eles conseguiriam superar tudo que foi mostrado ali. Ao assistir apenas o trailer de Velozes & Furiosos 8 eu já tive a certeza de que a resposta era sim. Algo que finalmente confirmei assistindo o filme inteiro.
Velozes & Furiosos 8 já abre com uma sequência fantástica na qual Vin Diesel precisa salvar o primo que está com problemas. E é óbvio que o problema será resolvido através de um racha pelas ruas de Cuba, mas não sem antes do protagonista dizer frases de efeito como “não importa o carro, mas sim quem está atrás do volante”. Além disso, é fascinante que ele decida correr para salvar o carro do primo, mas a primeira coisa que ele faz é praticamente desmontar o veículo para ganhar mais velocidade. Pra quem achava as corridas dos primeiros filmes mentirosas, essa aqui vai além de qualquer limite. Tem o Vin Diesel utilizando anel de lata de refrigerante pra fazer gambiarra no motor, motor explodindo por causa da velocidade e até carro andando muito mais rápido na marcha ré do que de frente. Sem contar que ele faz isso mesmo com o nitro ligado, sendo que ele fica na parte de trás do carro. Mas segue o jogo.
Esta sequência inicial se encarrega basicamente de passar a mensagem “não levem esse filme a sério porque nós não levamos”. Velozes & Furiosos é para ser sentido e não entendido. Seguindo este mantra por todo o filme, o roteiro de Chris Morgan serve apenas como uma desculpa para as insanas e divertidas cenas de ação. Temos chuva de carros, The Rock amassando porta de aço com um soco e Vin Diesel utilizando uma serra circular tal qual um assassino de filmes slasher, como Sexta-Feira 13. Mas nada chega aos pés de ver a equipe fugindo de um submarino no meio do gelo e de assistir The Rock manusear um torpedo com as próprias mãos. Ah sim, não podemos esquecer da sensacional cena envolvendo uma bola de ferro gigante no meio das ruas de Berlim, na Alemanha. O mais impressionante é que, mesmo com tanta coisa acontecendo na tela, as cenas de ação são muito bem executadas pelo diretor F. Gary Gray. Mesmo nas cenas com vários carros pulando pra lá e pra cá, o diretor consegue manter uma lógica, nunca deixando o espectador perdido sobre o que está acontecendo.
Além das cenas de ação absurdas, o roteiro conta ainda com aquelas reviravoltas que já são recorrentes na série. Temos personagens que morrem, mas na verdade estão vivos e outros que surgem como grande surpresa, mesmo que a gente nem lembre dele ter aparecido em outros filmes. Mas são justamente essas tosquices que fazem a franquia ser divertida. Dessa forma, as partes mais fracas de Velozes & Furiosos 8 são justamente aquelas nas quais o roteiro se leva a sério demais. Nestas cenas com mais diálogos os defeitos da história saltam aos olhos, afinal, ninguém aguenta mais ver o Vin Diesel falando sobre família. Sem contar que as motivações dos vilões na série nunca são grande coisa. É normal que filmes de ação tenham momentos com mais diálogos para dar um respiro ao espectador, mas aqui isso mais atrapalha que ajuda.
E vocês devem ter reparado que, até agora, eu citei apenas os nomes dos atores e não dos seus personagens. Isso se deve ao fato de que, com exceção do personagem do Vin Diesel, eu não sei o nome dos outros personagens. Porque a verdade é que isso não importa, o filme tem aquela aura de que aquilo tudo é apenas uma reunião de amigos que estão se divertindo enquanto ganham uma grana. Isso fica ainda mais claro quando o personagem do falecido Paul Walker continua recebendo homenagens, mesmo que o personagem continue vivo na história da franquia. A grande questão que fica ao final de Velozes & Furiosos 8 é: como eles vão conseguir superar a perseguição no gelo? A única solução que consigo enxergar é uma continuação que se passe no espaço. E se isso acontecer, ele será o maior filme de ação galhofa da história, podendo ser superado apenas por um possível crossover entre Velozes & Furiosos e Transformers. Imagina o Vin Diesel pilotando o Bumblebee. Sonhar não custa nada.
Nunca Diga Seu Nome
2.2 468 Assista AgoraOutro filme de terror bem meia boca, mas que pelo menos consegue dar um susto aqui e outro ali. Mas é só isso mesmo.
Cobain: Montage of Heck
4.2 344 Assista AgoraDocumentário bem foda produzido pela Frances Bean, filha do Kurt Cobain. Graças a isso, ele é cheio de imagens do arquivo pessoal da família, além de ter entrevistas bem sinceras da Courtney Love e da mãe do Kurt. É um documentário que não tenta endeusar a figura de Kurt Cobain e ainda desfaz algumas lendas, como aquela que dizia que ele nunca quis ter fama. Depoimentos de amigos e trechos do diário pessoal dele mostram que ele sempre quis ser famoso. Também é bem maneiro o fato do documentário ilustrar com animações as passagens que apresentam apenas áudios gravados pelo Kurt.
O Quarto dos Esquecidos
1.9 338 Assista AgoraFilme bem mais ou menos que não consegue assustar e não se decide se é um filme de terror sobrenatural ou psicológico. Sem contar que o tempo todo a história leva a gente acreditar que vai terminar de maneira bizarra, mas não tiveram coragem de entregar o final prometido.
Se a mãe matasse o filho naquele rompante de loucura o final teria sido bem mais interessante.
Eu Sou Michael
2.6 174Filme legalzinho que mostra a confusão mental pela qual passa uma pessoa que cresceu ouvindo histórias sobre a danação eterna por causa da sua sexualidade. Quando Michael chama os homossexuais de aberração dá pra perceber que faz isso muito mais por medo do que por convicção. O filme ainda tem o mérito de passar longe de apresentar gays estereotipados.
Fome de Poder
3.6 830 Assista AgoraFome de Poder abre com Ray Kroc (Michael Keaton) questionando se uma lanchonete vendia poucos milkshakes porque havia pouca procura, ou se a procura era baixa justamente porque os pedidos demoravam a ficar prontos e por isso as pessoas desistiam. Com essa pequena introdução, o filme já deixa clara a obsessão de Kroc com o atendimento ágil que os restaurantes deveriam ter. Assim, não é de se espantar quando ele fica maravilhado com uma pequena lanchonete chamada McDonald’s, que entregava os lanches assim que os pedidos terminavam de ser feitos. A paixão de Kroc por esta ideia foi tanta que ele conseguiu convencer os donos a iniciar a hoje famosa franquia, conseguindo se tornar mais tarde o único dono dela. Fome de Poder se encarrega de contar essa história, mas sem intenção alguma de se aprofundar nos personagens envolvidos.
Como acontece na maioria das histórias de grandes empresas, aqui também Ray Kroc em algum momento acaba passando a perna nos irmãos McDonald (Nick Offerman e John Carrol Lynch). O grande problema do filme é que, em diversos momentos, ele parece endeusar seu protagonista e minimizar seus defeitos. Se ele acaba largando a esposa é porque ela demorou a embarcar em seus sonhos e ele acabou arranjando alguém que o compreendia melhor. E quando ele finalmente decide partir para o ataque contra os donos originais do McDonald’s, somos levados a ficar do lado dele porque ao longo do filme os irmãos são retratados como sendo muito intransigentes e não aceitavam as opiniões de Ray. Fome de Poder também falha em oferecer pistas de que Ray Kroc pudesse passar a perna em alguém, já que o tempo todo ele é mostrado como alguém íntegro. Isso acaba até passando a impressão de que ele acabou mudando justamente por causa dos irmãos McDonald.
Além disso, todos os outros personagens do filme parecem simples figurantes que estão ali apenas para enfeitar o cenário. Em certo momento, Ray Kroc está claramente dando em cima da esposa de um possível sócio (Patrick Wilson) na frente dele e o sujeito fica o tempo todo com a mesma expressão impassível no rosto. Já a esposa de Ray, interpretada por Laura Dern, está ali apenas para enfatizar que o protagonista possuía ambições maiores do que ser casado e ter uma bela casa. Porém, talvez o caso mais grave de personagem mal aproveitado seja o da secretária de Kroc, June Martino (Kate kneeland), que aparece no filme apenas como uma simples anotadora de recados para o empresário. Apenas durante os créditos do filme é mencionado que ela acabou se tornando sócia do McDonald’s e a primeira mulher a ter ações na bolsa de valores quando a empresa abriu suas ações para o público. Uma rápida pesquisa no google também mostra que Juno foi a responsável por conseguir alguns dos primeiros franqueados bem sucedidos para o McDonald’s. Já B.J. Novak parece não conseguir se livrar do papel de “jovem empreendedor canalha” que ele carrega desde o seriado The Office.
Enquanto o roteiro de Robert D. Siegel falha em aprofundar os personagens, a direção de John Lee Hancock acaba pecando em algumas escolhas narrativas ao contar a história. Em alguns momentos, principalmente no começo, o filme trata o espectador como um idiota, repetindo a mesma informação diversas vezes. Assim, somos obrigados a assistir Ray Kroc tendo um péssimo atendimento em várias lanchonetes diferentes, numa tentativa de deixar bem claro os motivos que o levaram a ficar fascinado com a ideia do McDonald’s e sua comida rápida. Porém, o cuidado de repetir várias vezes uma ideia tão simples não aparece quando o filme apresenta um conceito um pouco mais complexo. Para conseguir o dinheiro que o permitisse enfrentar os irmãos McDonald, Ray Kroc começa um esquema de compra de terras junto com Harry Sonneborn (B.J. Novak), mas tudo é apresentado tão rápido que fica difícil entender o que está acontecendo. Justamente a parte que merecia um pouco mais de tempo de tela acabou apenas ficando jogada ali no meio da história. A parte mais criativa do filme fica por conta do momento em que os irmãos McDonald contam como tiveram a ideia da lanchonete. Com uma montagem dinâmica, a história contada pelos dois se torna divertida e emocionante, exatamente como os personagens que a estão contando querem que pareça.
Apesar dos defeitos do roteiro e dos tropeços na direção, Fome de Poder ainda consegue entreter ao contar a história da maior rede de lanchonetes fast food do mundo. Além disso, Michael Keaton interpreta Ray Kroc com a sua competência de sempre e consegue dar conta de carregar o filme nas costas, uma vez que, além dele, apenas os irmãos McDonald são um pouco melhor trabalhados.
Sob Pressão
3.8 93 Assista AgoraMe amarro em histórias de hospital desde os tempos do saudoso Plantão Médico. E esse filme é isso aí, um Plantão Médico num hospital sucateado do Rio de Janeiro, que fica de frente pra uma favela e recebe os piores casos sem ter a menor condição pra isso. Curti bem e vou acompanhar a série da Globo.
A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell
3.2 1,0K Assista AgoraO visual do filme é lindo, com muitas cores e algumas cenas parecem saídas de uma história em quadrinho. O design de alguns personagens também são muito bonitos. Fora isso, a história é previsível desde o primeiro trailer, mas serve bem ao seu propósito de apresentar cenas de ação. É um filme de ação honesto e que dá pra se divertir.
Resident Evil: A Vingança
3.3 145 Assista AgoraO filme é tão ruim quanto o jogo Resident Evil 6. As batalhas são tão exageradas que dão a impressão de que os protagonistas também foram infectados com algum super vírus pra conseguir enfrentar as ameaças. Sabe-se lá porque o Leon utiliza a moto dele em praticamente todas as cenas de ação, até pra explodir parte de um helicóptero.
Homem-Aranha: De Volta ao Lar
3.8 1,9K Assista AgoraGrande parte do sucesso do Homem-Aranha se deve ao fato de que é fácil o público se relacionar com ele. Por baixo da máscara e dos poderes, ele é um jovem com problemas igual a todo mundo. Sofre bullying na escola, precisa de grana pra ajudar a tia a pagar as contas de casa etc. Não é à toa que o apelido dele seja Amigão da Vizinhança. E Homem-Aranha: De Volta ao Lar é o filme que melhor retrata essa humanidade do personagem. Apesar de ter ajudado o Homem de Ferro (Robert Downey Jr.) contra o Capitão América (Chris Evans) durante a Guerra Civil, Peter Parker (Tom Holland) é apenas um garoto de 15 anos ainda deslumbrado com os novos poderes e a perspectiva de integrar a equipe dos Vingadores. Infelizmente para ele, ainda é necessário percorrer um longo caminho para isso, fazendo com que ele aprenda da maneira mais difícil que “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”, sem que a frase seja sequer citada durante o filme.
Possuindo a missão de encaixar o Aranha no resto do Universo Cinematográfico da Marvel e, ao mesmo tempo, servir como uma nova roupagem do herói, Homem-Aranha: De Volta ao Lar é extremamente eficiente no modo como apresenta não só o personagem título, mas também o vilão Abutre. Em apenas poucos minutos vemos o que levou Adrian Toomes (Michael Keaton) a se tornar um vilão. Melhor ainda, conseguimos entender suas motivações e até simpatizar com ele, já que o filme aproveita para fazer uma pequena crítica ao modo predatório como as grandes empresas agem, muitas vezes destruindo pequenos negócios e deixando famílias inteiras na miséria. Com o vilão estabelecido, o filme dá um salto de oito anos e acompanhamos todo o trajeto de Peter Parker até a batalha contra os Vingadores comandados pelo Capitão América. Toda esta sequência é mostrada através de um vídeo gravado pelo próprio protagonista, fazendo com que o espectador veja tudo através dos olhos do Aranha e perceba o quanto ele ainda é imaturo.
Com a expectativa de se tornar um membro fixo dos Vingadores, Peter Parker volta para a sua rotina diária, que consiste em ir para a escola durante o dia e agir como herói após o horário das aulas. E aqui temos a melhor encarnação do personagem nos cinemas. Agindo como um verdadeiro Amigão da Vizinhança, o Homem-Aranha deste filme ajuda idosos a atravessarem a rua, impede roubos de bicicletas e indica direções para turistas perdidos na cidade. Além disso, como as pessoas já estão acostumadas a viver em um mundo repleto de heróis, elas não se espantam com a presença do Aranha. Pelo contrário, elas até gostam da presença dele e conversam com o personagem como se ele fosse apenas mais um vizinho do bairro. Afinal, ele é apenas um adolescente que não pode sair da cidade sem pedir autorização para a tia May (Marisa Tomei). Estes momentos de interação do Aranha com as pessoas comuns rendem cenas muito engraçadas, como a do mortal pra trás ou do alarme do carro. Além disso, enquanto os Vingadores se preocupam com a destruição de países inteiros, a grande preocupação do Aranha aqui é a destruição de um mercadinho no Queens.
Apesar dos superpoderes, Peter Parker ainda é um adolescente, com preocupações equivalentes a essa fase da vida, e Homem-Aranha: De Volta ao Lar aborda isso de maneira excelente. Em alguns momentos, o filme lembra muito as produções adolescentes da década de 1980. Temos o protagonista apaixonado pela garota mais popular da escola, o riquinho implicante, a garota que finge não gostar de ninguém etc. Na verdade é possível até imaginar um remake do clássico Clube dos Cinco com os atores deste novo Homem-Aranha. O filme possui até uma cena de perseguição que homenageia uma famosa cena de Curtindo a Vida Adoidado, outro clássico oitentista. Porém, nada disso adiantaria se não fosse a excelente atuação de Tom Holland no papel principal. Além de ter o porte físico ideal (nem muito alto, nem muito baixo), o ator varia a voz entre tons mais graves ou mais agudos dependendo da situação, algo que é típico da adolescência. Além disso, Holland consegue transmitir com veracidade toda a empolgação que um garoto de 15 anos sentiria se tivesse os poderes que Parker possui. Quando ele conversa com Tony Stark, por exemplo, os olhos dele chegam a brilhar por estar na presença de um ídolo. Assim, é possível perceber, no olhar do protagonista, o momento exato em que ele deixa de ser apenas uma criança com superpoderes e passa a ser um herói de verdade, em uma cena que homenageia um momento clássico dos gibis desenhados por Steve Ditko (um dos criadores do personagem).
O filme ainda é certeiro na escalação do elenco de coadjuvantes, conseguindo trazer mais diversidade ao grupo de amigos de Peter Parker, que sempre foi composto basicamente de pessoas brancas. Liz (Laura Harrier), a paixão de Parker, é negra, enquanto Tony Revolori, que interpreta o popular Flash Thompson, possui ascendência da Guatemala. Já o melhor amigo de Parker, Ned, é interpretado por Jacob Batalon, que é descendente de filipinos e nasceu no Havaí. Além disso, o bullying praticado por Flash se resume a fazer trocadilhos com o nome de Peter, nunca apelando para comentários a respeito da aparência física dos personagens. Ned, por exemplo, é um rapaz acima do peso, mas em momento algum isso é relevante de qualquer maneira. Não existem cenas dele comendo sem parar, ou correndo com dificuldade, algo que seria comum em qualquer filme com um personagem adolescente com esse biotipo. Aqui, ele é tratado apenas como mais um do grupo, algo que deveria ser normal em qualquer lugar. Sendo uma história voltada para os jovens, o filme faz, assim, a sua parte para mostrar que são todos iguais, não importando a aparência física de cada um.
Para acompanhar essa pegada mais humana que o Homem-Aranha traz para o Universo Marvel, o filme acerta em cheio também na construção do vilão Abutre. Enquanto o sonho de Peter Parker é justamente fazer parte de coisas grandiosas com os Vingadores, Adrian Toomes quer apenas ficar fora do radar. Ele não deseja dominar o mundo ou destruir o Aranha a qualquer custo, mas apenas continuar vendendo suas armas feitas com peças das naves dos Chitauri. E ele entra para a vida do crime simplesmente porque o seu negócio legítimo foi destruído por causa de um acordo do governo com as Indústrias Stark. O vilão ainda traz questionamentos relevantes sobre como funciona a nossa própria sociedade. Como o Abutre diz em certo momento, ele é considerado criminoso por vender armas simplesmente porque não teve dinheiro para legitimar o negócio, enquanto Tony Stark passou anos aumentando sua fortuna justamente vendendo armas para governos ao redor do mundo. É uma importante discussão sobre o fato das leis serem mais maleáveis para os poderosos, enquanto os mais pobres sofrem todo o rigor dela. E aqui é preciso destacar a excelente atuação de Michael Keaton, que consegue soar ameaçador mesmo quando parece estar falando sobre coisas aleatórias. Além disso, é graças à atuação dele que é possível simpatizar com o vilão, já que conseguimos perceber por parte dele uma preocupação genuína com a família e os amigos que ficaram desempregados. Essa preocupação o torna tão humano quanto o próprio Peter Parker e fica difícil torcer para que algo de grave aconteça com ele ao final de tudo. Isso acaba fazendo com que o Abutre seja um dos vilões mais interessantes e carismáticos do Universo Marvel nos cinemas.
Homem-Aranha: De Volta ao Lar acerta também ao focar a ameaça apenas em Peter Parker e não em seus familiares, algo que já foi feito à exaustão nos outros filmes do herói. Além disso, devido à falta de experiência como super-herói, o próprio protagonista é mostrado como uma possível ameaça para todos ao seu redor e à sua própria vida. Assim, o filme deixa de lado a velha muleta da morte do tio Ben, fazendo com que Peter Parker aprenda com os próprios erros que “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”. E que nem sempre essas responsabilidades precisam envolver salvar um planeta inteiro da destruição, mas apenas um mercadinho que vende o melhor sanduíche do Queens. Afinal, é isso que se espera de um Amigão da Vizinhança.
Desastre de Hillsborough
4.4 1Documentário emocionante que mostra o descaso com que a polícia inglesa tratava os torcedores de futebol e o perigo de colocar alguém mal preparado em um cargo importante, como o de chefe de polícia.
Maníaco
3.0 579 Assista AgoraA coisa mais comum em filmes de serial killers é acompanharmos a rotina de alguma das vítimas, as investigações da polícia e um assassino que consegue manter sua vida dupla com extrema perfeição, sem levantar qualquer tipo de suspeita. Maníaco, dirigido por Franck Khalfoun, ignora os dois primeiros itens e foca totalmente na rotina do assassino Frank (Elijah Wood). Assim, o que temos é um filme que aborda um serial killer não como aquele assassino caricato que sempre tem tudo sob controle. Frank é uma pessoa com sérios problemas mentais e que possui bastante dificuldade em manter seus atos em segredo. Focado totalmente no personagem, Maníaco é um passeio por uma mente perturbada e que consegue nos colocar como uma espécie de cúmplice do assassino.
Filmado quase totalmente com uma câmera subjetiva que mostra as cenas pelo olhar de Frank, acompanhamos todo o processo dele até finalmente matar suas vítimas. O filme abre com o personagem dentro da sua van perseguindo uma mulher. Quando parece que ela vai conseguir ficar em segurança, Frank revela que sabe onde ela mora e, pela primeira vez, vemos o seu rosto no reflexo do retrovisor. E é impossível não levar um pequeno susto quando surge o olhar de Frank na tela. Elijah Wood, que já havia interpretado um serial killer em Sin City, parece ter um talento natural para esse tipo de papel. É impressionante o contraste entre o olhar vazio que ele apresenta nesta cena inicial com o olhar preocupado que ele demonstra mais à frente. Quando ele finalmente chega até a vítima, Frank não pensa duas vezes antes de matá-la. Com uma morte tão violenta logo nos primeiros minutos, a impressão é de que o filme será uma espécie de gore, mas ele consegue passar longe disso.
Conforme a produção avança, Maníaco acaba se mostrando um excelente estudo de personagem. A primeira coisa que chama a atenção é que ele mata suas vítimas com rapidez, não demonstrando interesse algum em vê-las sofrendo. Em algumas situações é possível perceber que, na verdade, ele possui uma necessidade de matar, porém não consegue ter prazer com a experiência. E como o personagem conversa bastante sozinho, surge a dúvida se ele possui dupla personalidade ou não. Claro que um assassino é um personagem desprezível, mas graças à atuação de Elijah Wood é possível que o espectador se apegue ao personagem. E grande parte dessa atuação está na entonação da voz do ator, já que o rosto dele só aparece em momentos muito específicos. Também é interessante notar que, sempre que Frank se olha no espelho, ele parece um pouco assustado com o que vê. É como se o personagem estivesse lutando muito para manter algo terrível sob controle.
Mesmo focando na mente do seu protagonista, Maníaco apresenta cenas que podem perturbar as pessoas mais sensíveis. Alguns assassinatos cometidos por Frank são bastante violentos, envolvendo inclusive escalpelamentos. Felizmente as mortes não estão ali apenas para chocar, mas servem também para mostrar como Frank não é o assassino perfeito que aparece na maioria dos filmes. Praticamente todas as mortes cometidas pelo protagonista acabam acontecendo de improviso e nunca o vemos limpando o local do crime. Assim, Maníaco apresenta um serial killer que não é infalível, muito pelo contrário, ele acaba deixando várias pistas espalhadas. Não é à toa que, ao longo do filme, o diretor Franck Khalfoun espalhe vários telejornais informando sobre mortes que vem ocorrendo na cidade. É através dessas pequenas inserções que o espectador consegue perceber se a polícia está ou não perto de capturar Frank.
Maníaco também é interessante na forma como explora a psique de seu protagonista quando, em alguns momentos, abandona a câmera em primeira pessoa e mostra Frank como um personagem comum na tela. Isso acontece em momentos de maior adrenalina e é quase como se o personagem saísse do próprio corpo e testemunhasse os assassinatos sendo cometidos por outra pessoa. Em seu terceiro ato, Maníaco ainda apresenta perseguições típicas de filmes de serial killer, com a diferença que não sabemos se torcemos para o assassino ou para suas vítimas. Afinal, depois de acompanharmos tudo pelos olhos de Frank, é impossível não se sentir cúmplice e, porque não, um pouco apegado ao personagem.
Laerte-se
4.0 184Curti o documentário, mas esperava algo mais abrangente, com alguns depoimentos de familiares e tal. Só o filho do Laerte que fala um pouquinho em determinado momento. No final ficou só um grande bate-papo com o Laerte, mas vale a pena.
Final Girl
2.2 296Logo nos primeiros minutos de filme eu já percebi que tinha caído em uma cilada. A sinopse do filme na Netflix dizia “eles matam garotas por esporte e já escolheram sua próxima vítima, só não sabem que ela é uma assassina profissional”. Com um resumo desses, eu esperava uma espécie de suspense, no qual os caçadores iriam virar caça, porém suspense é o que menos existe em Final Girl. Os primeiros minutos do filme são focados na jovem Veronica (Abigail Breslin) que, por algum motivo, foi escolhida para passar por um treinamento com o objetivo de caçar assassinos em série. Em vez de focar justamente na caçada aos assassinos e, aos poucos, ir mostrando o passado da protagonista, o filme perde muito tempo estabelecendo quais são as habilidades dela, sem nunca se aprofundar na personagem. Além disso, em momento algum é explicado o porque do treinador de Veronica precisar dela para a tarefa, já que ele se mostra extremamente habilidoso para a tarefa.
Com uma história sem pé nem cabeça como essa, o mínimo que se espera desse tipo de filme é que, pelo menos, ele tenha bastante suspense e mortes bizarras. Infelizmente, nem isso ele consegue entregar para o espectador. O único momento em que o filme tenta criar um certo suspense, com a protagonista parecendo estar em uma posição vulnerável, é estragado justamente porque a gente já conhece todas as habilidades da garota e sabe que ela pode sair da situação tranquilamente. E quando finalmente chega a vez dela caçar os caçadores, o filme se resume a mostrar os garotos correndo pela floresta e depois lutando com Veronica. Em momento algum temos uma sensação de estar assistindo a uma perseguição de verdade. Além disso, mesmo com as burradas cometidas pela protagonista, ela nunca parece estar em perigo, fazendo com que o espectador não se preocupe com ela, o que tira a emoção do filme.
Final Girl não respeita a própria história da personagem apresentada logo no começo do filme. Mostrada como alguém treinada para prosseguir com sua missão mesmo nas situações mais adversas e tirar proveito de qualquer vantagem, é no mínimo estranho assistir Veronica abrindo mão de vários recursos que poderiam ajudá-la. Em pouco tempo ela consegue ter acesso a um machado, que é logo descartado para que ela enfrente um dos vilões na porrada. Não demora para que ela consiga outras coisas, mas sempre preferindo utilizar as próprias mãos e apanhar um pouco no processo. Isso poderia fazer algum sentido se ela tivesse sido apresentada como alguém que gosta de lutas corporais ou gosta de sentir dor, mas ela foi treinada justamente para que isso não fosse necessário. Se pelo menos as lutas fossem interessantes e bem feitas, isso poderia justificar a escolha da personagem, mas nem isso acontece. Até mesmo as mortes dos vilões não possuem impacto visual algum. É um filme sobre assassinatos que praticamente não possui sangue.
E já que eu citei a falta de sangue, isso é apenas um exemplo do quanto essa produção é capenga. Boa parte de Final Girl se passa durante a madrugada no meio de uma floresta. Porém, a iluminação claramente artificial faz com que o espectador tenha a sensação de que estão todos confortáveis dentro de um estúdio. É um tipo de iluminação que seria simplesmente impossível em uma floresta mesmo que fosse uma noite de lua cheia. Mesmo com tantas árvores ao redor, a luz parece cercar os personagens, vindo de todas as direções possíveis. Em algumas cenas é possível perceber exatamente onde foram colocados os holofotes no cenário. A coisa toda chega ao cúmulo de ter uma fonte de luz atrás de um dos personagens, mas o rosto dele aparecer tão iluminado quanto o personagem que está de frente para ele. Além disso, eles são sempre iluminados com uma luz muito dura, típica de estúdios de fotografia. Como se tudo isso não bastasse, Final Girl conta com personagens que não possuem carisma, sendo impossível se preocupar com qualquer um deles. A única coisa que talvez pudesse salvar o filme é se ele tivesse uma montagem diferente, com Veronica sendo mostrada como vítima para depois descobrirmos o que ela é de verdade. Infelizmente, o diretor Tyler Shields optou por uma abordagem linear, o que deixou ainda pior a já fraca história.