La la land se sustenta apenas nesta elegia auto-referente, que é moda nos dias de hoje. O casal tem zero de carisma, não sabe dançar nem cantar, nem desperta qualquer interesse em sua trajetória. Se na história dos musicais (inspiração para o filme) a performance de corpo e voz na maioria das vezes garantia a qualidade dos números, aqui é necessário acrescentar pirotecnias e rococós vazios, como "truques" para impressionar quem assiste.
Nos diálogos e na linguagem está a busca nostálgica de um "tempo perdido", seja do jazz ou do cinema clássico de Hollywood. Algo de encomenda para a Academia se auto-celebrar ou talvez gerar um vídeo viralizador mostrando referências em antigos filmes. Quem sabe também uma lista descolada no Buzzfeed? O tema é o velho e bom sonho americano, do imaginário meritocrata do jovem buscando realizar seus desejos na cidade das possibilidades. Já o ritmo do filme (e sua péssima montagem) com o perdão do trocadilho musical, é descompassado, perdido e entediante.
Assim como ocorre com os mortos numa cena do musical O Violinista no Telhado, acho que todos os grandes astros do gênero, como Fred Astaire, Gene Kelly e Ginger Rogers se ergueram revoltados de suas tumbas.
O filme de Anita Rocha da Silveira está em sintonia com a tendência em utilizar o terror e o suspense no contexto das tensões, medos e violências urbanas, algo visto em alguns filmes nacionais recentes. Em "O som ao redor", estes elementos estavam na ameaça à classe média em seus apartamentos, no conflito entre vizinhos ou na tensão de classe que ameaça o tempo todo estourar. Já em "Mate-me favor" o terror (medo, ameaça) transforma-se logo em o horror (ojeriza, repulsa, o sinistro), onde a violência e o grotesco se naturalizam, mostrando que são partes constitutivas da sociedade atual. Tudo isso é produzido através de uma estilização assumida e muito bem construída, negando o predomínio da linguagem realista. A música, a fotografia e direção de arte, os movimentos coreografados constroem um conjunto perfeito de imagens e sons de um mundo entre a violência real e a loucura fantasmagórica, entre as pequenas e grandes violências e a intensidade estética, revelando subjetividades e sintomas da vida presente e do mundo para onde estamos caminhando.
O primeiro filme é uma das obras-primas de Oliver Stone. Se por um lado havia o compromisso herdado do anterior, o novo possuía o grande potencial de abordar o ano da crise de 2008, prato cheio para os temas de Wall Street. Embora o roteiro seja competente, especialmente por conseguir prender a atenção com as histórias que entrecruzam relações familiares e financeiras, tudo acaba caindo em resoluções simplistas e até mesmo piegas. A crueldade do mercado financeiro é suavizada numa abordagem sob ponto de vista moral individual, impedindo alguma proximidade com a complexidade deste universo, que recusa maniqueísmos, heróis e vilões, com uma estrutura que já parte viciada, em si mesma, Os protagonistas são medianos. Douglas não decepciona na interpretação daquele que considero seu melhor personagem. Nele está perfeitamente o homem destruído pela prisão, mas que esconde dentro o mesmo homem poderoso lá de trás. Destaque para Susan Sarandon, que interpreta a mãe de Shia LaBeouf, mas que infelizmente aparece pouco.
Sem dúvida uma obra-prima! Roteiro, trilha, fotografia impecáveis. Recomendo não procurar sobre os fatos que inspiraram o filme, nem fazer esta relação ao recomendá-lo para alguém. Teria muita coisa para falar sobre O lobo atrás da porta, mas esta crítica do Octavio Caruso já me contempla (pesquisas no Google, pois não se permite colocar link aqui, ao que parece)
"Raro exemplo de perfeição do elenco, fotografia, montagem, trilha sonora, roteiro e direção.
Esse filme é um raro exemplo de perfeição em todos os quesitos, do elenco principal ao coadjuvante, da fotografia excelente de Lula Carvalho à montagem, da trilha sonora ao roteiro e direção. Uma trama que envolve, ilude, manipula e surpreende, com exibição de pleno entendimento na linguagem utilizada. O roteiro do diretor Fernando Coimbra, estreando de modo promissor com a coragem de um Michael Haneke, ousa trilhar o caminho do cinema de gênero com personalidade, desobedecendo a uma informal cartilha que é passada a todos os estudantes da área e que incentiva de maneira simplista o desprezo por gêneros como medíocre enlatado estrangeiro (e de tal forma escondendo a incompetência e o medo de errar na prática de aperfeiçoamento das fórmulas).
O Lobo Atrás da Porta é autoral e minimalista, mas inteligentemente não é anti-indústria. O impactante resultado final incita naturalmente o boca a boca no espectador, mérito exatamente das convenções do gênero bem executadas que a obra abraça. A história em si, um suspense que pode remeter a clássicos como Atração Fatal, não é particularmente original, mas a forma como a câmera rejeita qualquer gordura extra, focando-se no quebra-cabeça que se estabelece logo no início, demonstra necessária segurança e não o complexo de inferioridade usual em tentativas nacionais similares nas quais os cineastas buscam transformar qualquer fiapo de trama em algo esteticamente revolucionário.
Até mesmo os alívios cômicos representados principalmente pelo colega de trabalho do protagonista e pela comediante Thalita Carauta, elementos que costumam existir numa realidade paralela à trama, funcionam como movimentadores da narrativa principal. E é válido salientar que somos apresentados a personagens tridimensionais, com motivações bem fundamentadas, algo que não é essencial no gênero - que permite sem maiores problemas as caricaturas, tal como no já citado Atração Fatal. Até mesmo o personagem vivido por Emiliano Queiroz, aparecendo pouco e sem dizer uma palavra, acaba se mostrando narrativamente essencial no entendimento do enigma comportamental que envolve a protagonista.
Não saberia por onde começar os elogios às atuações de Leandra Leal e Milhem Cortaz. A bela e talentosa atriz entrega um desempenho assustador, transmitindo na sutileza de olhares a vulnerabilidade da personagem, atravessando os diversos estágios psicológicos de seu arco narrativo, indo da doçura à intensa crueldade em questão de segundos. Cortaz continua sendo uma força da natureza, praticante da difícil arte de fazer todos os diálogos do roteiro soarem como improvisos naturais, sempre com um toque de ironia. Ele vive um homem preso em um relacionamento desgastado, que acaba encontrando a injeção de ânimo no arriscado desafio amoroso que enxerga numa jovem que conheceu num transporte público, um simbólico motivo condutor do roteiro e que se apresenta desde os créditos iniciais até o desfecho, representando o fator desconhecido que se esconde nas várias encruzilhadas decisórias diárias na vida de todo indivíduo."
Menina adolescente, com dificuldade de se encaixar na sociedade e cheia de conflitos internos- CHECK
Essa menina se apaixona pelo menino popular do colégio, que é atleta, loiro (ou ruivo) e é um babaca- CHECK
Um menino esquisitão aparece, com a clássica cena do aluno novo na escola (e no caso, com visual misturando The Cure com Crepúsculo)- CHECK
Cena clássica do casal na loja de discos, onde um fala para o outro uma música, ouvida naqueles fones- CHECK
Califórnia é uma grande colcha de retalhos com clichês de filmes adolescentes. Tudo com um forte apelo às referências dos anos 80, que soa bastante forçado. Como se tudo fosse costurado para se obter um produto final que não dá certo. Não adianta colocar ótimas músicas e apelar para a nostalgia com um filme mais do mesmo.
Se imaginarmos o ótimo filme baiano Depois da Chuva, mostrando adolescentes desta idade, nesta mesma época no Brasil, a coisa ainda fica mais feia para Califórnia.
As duas estrelas ficam por conta do personagem e interpretação do Caio Blat, com uma história interessante, tratando de um tema bem importante naquele período.
A primeira parte do filme se desenvolve através da fantasia, repleta de estereótipos, do homem intelectual padrão. Ele é o professor de filosofia depressivo, aparentemente profundo, que é desejado pelas mulheres incluindo, obviamente, uma mulher mais nova, a sua jovem aluna. Allen, talvez expressando muitos de seus desejos e aflições, usa de forma bastante limitada os temas da filosofia, com citações soltas e superficiais, dignas de um meme de auto-ajuda de Facebook.
Contudo, o filme possui uma interessante virada, quando o professor e a aluna ouvem uma conversa no bar, estimulando-o a praticar um assassinato para eliminar uma pessoa ruim, que destruía a vida familiar de uma mulher desconhecida. São dilemas recorrentes em sua obra, como em Crimes e pecados e O sonho de Cassandra, com a inspiração em Crime e Castigo -citado literalmente, de maneira um tanto forçada-., Mesmo assim é instigante observar estas variações sobre o mesmo tema na filmografia de Allen, que sempre acabam por trazer interessantes inquietações morais, além de possuírem inegável força narrativa.
Por film, entre altos e baixos, de uma obra bem irregular, me chama muito a atenção algo presente em muitos filmes e séries dos EUA: o egoísmo, um eu centrado, que mesmo aparentando virtude, ao fim está apenas voltado ao seu próprio umbigo, seu prazer, sua consciência e seus interesses. Mesmo com todos os problemas do filme, esta provocação consegue me tirar do lugar, prolongando o filme na reflexão e no repensar sobre a vida.
Esta fase europeia do Allen já cansou. Eu entendo que ele consegue mais financiamento lá, mas aqui neste filme ele acaba voltando a várias fórmulas, especialmente aquela que envolve o encantamento com a Europa (mostrada de forma "mágica", "emocionante"). Embora tenha gerado bons momentos, como Vicky Christina Barcelona, a intenção de fazer um filme para estimular o turismo do país já não dá para esconder mais. Ainda mais pelo final, de um narrador na janela "convidando" para uma nova visita.
O filme, ainda assim, é salvo pela história nonsense protagonizada por Benigni (do anônimo que se torna celebridade) e a do próprio Allen como ator (do produtor que descobre um grande tenor que só canta no chuveiro), igualmente surreal. Duas belas crônicas, no melhor estilo do diretor, cheias de criatividade, crítica e ironia.
Um dos piores filmes que já assisti na minha vida. E olha que gosto do Kiko Goifman em "33". É um exemplo claro de como dizer um foda-se para qualquer parâmetro de ética fílmica, apenas para satisfazer o ego do realizador. Se aproveita de uma situação de vulnerabilidade das pessoas para realizar um exercício de puro sadismo. Eu também sou fóbico e me ofendi muito com este filme. Essa nota aí ainda é muito alta.
La La Land: Cantando Estações
4.1 3,6K Assista AgoraLa la land se sustenta apenas nesta elegia auto-referente, que é moda nos dias de hoje. O casal tem zero de carisma, não sabe dançar nem cantar, nem desperta qualquer interesse em sua trajetória. Se na história dos musicais (inspiração para o filme) a performance de corpo e voz na maioria das vezes garantia a qualidade dos números, aqui é necessário acrescentar pirotecnias e rococós vazios, como "truques" para impressionar quem assiste.
Nos diálogos e na linguagem está a busca nostálgica de um "tempo perdido", seja do jazz ou do cinema clássico de Hollywood. Algo de encomenda para a Academia se auto-celebrar ou talvez gerar um vídeo viralizador mostrando referências em antigos filmes. Quem sabe também uma lista descolada no Buzzfeed? O tema é o velho e bom sonho americano, do imaginário meritocrata do jovem buscando realizar seus desejos na cidade das possibilidades. Já o ritmo do filme (e sua péssima montagem) com o perdão do trocadilho musical, é descompassado, perdido e entediante.
Assim como ocorre com os mortos numa cena do musical O Violinista no Telhado, acho que todos os grandes astros do gênero, como Fred Astaire, Gene Kelly e Ginger Rogers se ergueram revoltados de suas tumbas.
Mate-me Por Favor
3.0 232 Assista AgoraO filme de Anita Rocha da Silveira está em sintonia com a tendência em utilizar o terror e o suspense no contexto das tensões, medos e violências urbanas, algo visto em alguns filmes nacionais recentes. Em "O som ao redor", estes elementos estavam na ameaça à classe média em seus apartamentos, no conflito entre vizinhos ou na tensão de classe que ameaça o tempo todo estourar. Já em "Mate-me favor" o terror (medo, ameaça) transforma-se logo em o horror (ojeriza, repulsa, o sinistro), onde a violência e o grotesco se naturalizam, mostrando que são partes constitutivas da sociedade atual. Tudo isso é produzido através de uma estilização assumida e muito bem construída, negando o predomínio da linguagem realista. A música, a fotografia e direção de arte, os movimentos coreografados constroem um conjunto perfeito de imagens e sons de um mundo entre a violência real e a loucura fantasmagórica, entre as pequenas e grandes violências e a intensidade estética, revelando subjetividades e sintomas da vida presente e do mundo para onde estamos caminhando.
Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme
3.3 404 Assista AgoraO primeiro filme é uma das obras-primas de Oliver Stone. Se por um lado havia o compromisso herdado do anterior, o novo possuía o grande potencial de abordar o ano da crise de 2008, prato cheio para os temas de Wall Street. Embora o roteiro seja competente, especialmente por conseguir prender a atenção com as histórias que entrecruzam relações familiares e financeiras, tudo acaba caindo em resoluções simplistas e até mesmo piegas. A crueldade do mercado financeiro é suavizada numa abordagem sob ponto de vista moral individual, impedindo alguma proximidade com a complexidade deste universo, que recusa maniqueísmos, heróis e vilões, com uma estrutura que já parte viciada, em si mesma, Os protagonistas são medianos. Douglas não decepciona na interpretação daquele que considero seu melhor personagem. Nele está perfeitamente o homem destruído pela prisão, mas que esconde dentro o mesmo homem poderoso lá de trás. Destaque para Susan Sarandon, que interpreta a mãe de Shia LaBeouf, mas que infelizmente aparece pouco.
O Lobo Atrás da Porta
4.0 1,3K Assista AgoraSem dúvida uma obra-prima! Roteiro, trilha, fotografia impecáveis. Recomendo não procurar sobre os fatos que inspiraram o filme, nem fazer esta relação ao recomendá-lo para alguém. Teria muita coisa para falar sobre O lobo atrás da porta, mas esta crítica do Octavio Caruso já me contempla (pesquisas no Google, pois não se permite colocar link aqui, ao que parece)
"Raro exemplo de perfeição do elenco, fotografia, montagem, trilha sonora, roteiro e direção.
Esse filme é um raro exemplo de perfeição em todos os quesitos, do elenco principal ao coadjuvante, da fotografia excelente de Lula Carvalho à montagem, da trilha sonora ao roteiro e direção. Uma trama que envolve, ilude, manipula e surpreende, com exibição de pleno entendimento na linguagem utilizada. O roteiro do diretor Fernando Coimbra, estreando de modo promissor com a coragem de um Michael Haneke, ousa trilhar o caminho do cinema de gênero com personalidade, desobedecendo a uma informal cartilha que é passada a todos os estudantes da área e que incentiva de maneira simplista o desprezo por gêneros como medíocre enlatado estrangeiro (e de tal forma escondendo a incompetência e o medo de errar na prática de aperfeiçoamento das fórmulas).
O Lobo Atrás da Porta é autoral e minimalista, mas inteligentemente não é anti-indústria. O impactante resultado final incita naturalmente o boca a boca no espectador, mérito exatamente das convenções do gênero bem executadas que a obra abraça. A história em si, um suspense que pode remeter a clássicos como Atração Fatal, não é particularmente original, mas a forma como a câmera rejeita qualquer gordura extra, focando-se no quebra-cabeça que se estabelece logo no início, demonstra necessária segurança e não o complexo de inferioridade usual em tentativas nacionais similares nas quais os cineastas buscam transformar qualquer fiapo de trama em algo esteticamente revolucionário.
Até mesmo os alívios cômicos representados principalmente pelo colega de trabalho do protagonista e pela comediante Thalita Carauta, elementos que costumam existir numa realidade paralela à trama, funcionam como movimentadores da narrativa principal. E é válido salientar que somos apresentados a personagens tridimensionais, com motivações bem fundamentadas, algo que não é essencial no gênero - que permite sem maiores problemas as caricaturas, tal como no já citado Atração Fatal. Até mesmo o personagem vivido por Emiliano Queiroz, aparecendo pouco e sem dizer uma palavra, acaba se mostrando narrativamente essencial no entendimento do enigma comportamental que envolve a protagonista.
Não saberia por onde começar os elogios às atuações de Leandra Leal e Milhem Cortaz. A bela e talentosa atriz entrega um desempenho assustador, transmitindo na sutileza de olhares a vulnerabilidade da personagem, atravessando os diversos estágios psicológicos de seu arco narrativo, indo da doçura à intensa crueldade em questão de segundos. Cortaz continua sendo uma força da natureza, praticante da difícil arte de fazer todos os diálogos do roteiro soarem como improvisos naturais, sempre com um toque de ironia. Ele vive um homem preso em um relacionamento desgastado, que acaba encontrando a injeção de ânimo no arriscado desafio amoroso que enxerga numa jovem que conheceu num transporte público, um simbólico motivo condutor do roteiro e que se apresenta desde os créditos iniciais até o desfecho, representando o fator desconhecido que se esconde nas várias encruzilhadas decisórias diárias na vida de todo indivíduo."
Octavio Caruso
Califórnia
3.5 302Menina adolescente, com dificuldade de se encaixar na sociedade e cheia de conflitos internos- CHECK
Essa menina se apaixona pelo menino popular do colégio, que é atleta, loiro (ou ruivo) e é um babaca- CHECK
Um menino esquisitão aparece, com a clássica cena do aluno novo na escola (e no caso, com visual misturando The Cure com Crepúsculo)- CHECK
Cena clássica do casal na loja de discos, onde um fala para o outro uma música, ouvida naqueles fones- CHECK
Califórnia é uma grande colcha de retalhos com clichês de filmes adolescentes. Tudo com um forte apelo às referências dos anos 80, que soa bastante forçado. Como se tudo fosse costurado para se obter um produto final que não dá certo. Não adianta colocar ótimas músicas e apelar para a nostalgia com um filme mais do mesmo.
Se imaginarmos o ótimo filme baiano Depois da Chuva, mostrando adolescentes desta idade, nesta mesma época no Brasil, a coisa ainda fica mais feia para Califórnia.
As duas estrelas ficam por conta do personagem e interpretação do Caio Blat, com uma história interessante, tratando de um tema bem importante naquele período.
O Homem Irracional
3.5 555 Assista AgoraA primeira parte do filme se desenvolve através da fantasia, repleta de estereótipos, do homem intelectual padrão. Ele é o professor de filosofia depressivo, aparentemente profundo, que é desejado pelas mulheres incluindo, obviamente, uma mulher mais nova, a sua jovem aluna. Allen, talvez expressando muitos de seus desejos e aflições, usa de forma bastante limitada os temas da filosofia, com citações soltas e superficiais, dignas de um meme de auto-ajuda de Facebook.
Contudo, o filme possui uma interessante virada, quando o professor e a aluna ouvem uma conversa no bar, estimulando-o a praticar um assassinato para eliminar uma pessoa ruim, que destruía a vida familiar de uma mulher desconhecida. São dilemas recorrentes em sua obra, como em Crimes e pecados e O sonho de Cassandra, com a inspiração em Crime e Castigo -citado literalmente, de maneira um tanto forçada-., Mesmo assim é instigante observar estas variações sobre o mesmo tema na filmografia de Allen, que sempre acabam por trazer interessantes inquietações morais, além de possuírem inegável força narrativa.
Por film, entre altos e baixos, de uma obra bem irregular, me chama muito a atenção algo presente em muitos filmes e séries dos EUA: o egoísmo, um eu centrado, que mesmo aparentando virtude, ao fim está apenas voltado ao seu próprio umbigo, seu prazer, sua consciência e seus interesses. Mesmo com todos os problemas do filme, esta provocação consegue me tirar do lugar, prolongando o filme na reflexão e no repensar sobre a vida.
Para Roma Com Amor
3.4 1,3K Assista AgoraEsta fase europeia do Allen já cansou. Eu entendo que ele consegue mais financiamento lá, mas aqui neste filme ele acaba voltando a várias fórmulas, especialmente aquela que envolve o encantamento com a Europa (mostrada de forma "mágica", "emocionante"). Embora tenha gerado bons momentos, como Vicky Christina Barcelona, a intenção de fazer um filme para estimular o turismo do país já não dá para esconder mais. Ainda mais pelo final, de um narrador na janela "convidando" para uma nova visita.
O filme, ainda assim, é salvo pela história nonsense protagonizada por Benigni (do anônimo que se torna celebridade) e a do próprio Allen como ator (do produtor que descobre um grande tenor que só canta no chuveiro), igualmente surreal. Duas belas crônicas, no melhor estilo do diretor, cheias de criatividade, crítica e ironia.
Vale dos Esquecidos
4.2 8Ótimo filme, mostrando a complexidade da luta pela terra, com os vários sujeitos em disputa,
FilmeFobia
2.7 58Um dos piores filmes que já assisti na minha vida. E olha que gosto do Kiko Goifman em "33". É um exemplo claro de como dizer um foda-se para qualquer parâmetro de ética fílmica, apenas para satisfazer o ego do realizador. Se aproveita de uma situação de vulnerabilidade das pessoas para realizar um exercício de puro sadismo. Eu também sou fóbico e me ofendi muito com este filme. Essa nota aí ainda é muito alta.