filmow.com/usuario/joaovargas
    Você está em
  1. > Home
  2. > Usuários
  3. > joaovargas
27 years Vila Velha - (BRA)
Usuário desde Abril de 2012
Grau de compatibilidade cinéfila
Baseado em 0 avaliações em comum

Últimas opiniões enviadas

  • JoaoVargas

    Entrar em um filme do Yorgos Lanthimos, é entrar em um ambiente totalmente novo, em que tudo pode acontecer. Todas aquelas convenções sociais que formam uma base em nós, que formam um chão para a nossa interpretação de algo, não vale para O Sacrifício do Cervo Sagrado.

    Não é um filme surrealista, ou "Lynchiano", mas ainda assim o senso comum que temos para como se dá os diálogos, as relações humanas, etc, nada importam para esse filme. Você deve estar preparado para aprender um novo senso comum do ponto de vista social.

    Assim como acontece quando você assiste a um filme da Marvel e você aceita que super poderes existem (sendo que claramente o nosso senso comum diz que não), ou quando você assiste a um Mad Max e aceita aquele universo pós-apocalíptico. Do mesmo modo, ao assistir O Sacrifício do Cervo Sagrado, você deve aceitar aquele universo.

    Mas não é que o filme do Yorgos não tenham nenhuma mensagem, ideia ou ligação com a realidade. Ele trata, sim, da natureza humana. Somente, ele simplesmente não diz o que queremos ouvir, ou o que queremos acreditar que seja a natureza humana.

    Ele trata a natureza humana como algo repugnante. E é interessante percebermos que esta repugnância só é de fato revelada quando os personagens são postos contra a parede, sem ter para onde ir.

    Comentário contando partes do filme. Mostrar.

    Isso porque ele escolhe justamente uma família "bem sucedida" para tratar da parte "sombria" da natureza humana. Mesmo em gêneros apocalípticos, onde as "amarras sociais" são retiradas e a verdadeira "natureza humana" é revelada, nós esperamos (e geralmente isto ocorre) que a família seja representada como um ambiente de amor e carinho.

    Interessante notar que, no início do filme, ela é de fato assim representada, mesmo que propositalmente artificial - como se gritasse que, na hora do "vamos ver", todo aquele "amor" seria facilmente deixado para trás pela sobrevivência. Porém, exposta a "maldição" para a família, observamos as graduais mudanças no comportamento dela.

    Outro ponto importante é notar a razão da maldição no filme: ela se trata de um "MacGuffin" (terminologia utilizada por Hitchcock), ou seja, algo que é a origem para o desenvolvimento do enredo mas, em si mesmo, não é importante. Não importa o que a maldição é em si, mas o que ela acarreta, como ela revela a real personalidade e os reais desejos dos personagens. Um exemplo semelhante de MacGuffin muito explícito e conhecido, é a maleta de Pulp Fiction, onde nada importa o que ela possui, mas como a estória se desenvolve por causa dela. Para mais detalhes, recomendo: https://cinemacao.com/2017/04/16/macguffin/.

    Enfim, dado o início da maldição, há uma mudança gradual naquele ambiente familiar, acompanhado do fato de que cada vez mais os personagens vão se convencendo de que não há solução alternativa para ela.

    O pai que era tranquilo e pacífico, se torna cada vez mais violento, pressionado ao mesmo tempo pela culpa, de que um erro seu acabou por prejudicar a todos, e pela indecisão, de como proceder perante uma situação que se mostra cada vez mais inevitável (sendo que, em certo momento, até mesmo tenta terceirizar esta decisão para o diretor da escola).

    Já a mãe e os filhos, apesar de permanecerem unidos em um primeiro instante, gradualmente vão se afastando e se revelando: o filho corta o cabelo para tentar "ganhar o favor" do pai e não ser o escolhido para morrer; a filha tenta fugir e conquistar o "amaldiçoador" - e, sem sucesso, depois inicia um discurso de autopiedade, tentando mostrar o seu valor; a mãe diz seca e diretamente: logicamente quem deve morrer é um dos filhos, pois eles são substituíveis, afinal basta fazermos um outro.

    E a cereja do bolo de todo esse enredo, é como tudo isso é tratado com naturalidade. Como essa luta pela sobrevivência, essa repulsa a morte, é tratada com naturalidade: da irmã pedindo o MP3 para o irmão, quando ela estava certa de que seria ele o "sacrificado", visto que ela se achava segura por ser a preferida do pai, aos filhos se arrastando pela casa, como se fosse isso a coisa mais natural do mundo.

    Não há choro. Não há cena excessivamente dramática. Não há desespero. Somente a fria e egoísta realidade de que a vida própria é mais importante que a dos outros. O que nos leva à cena final do filme: após a morte do filho, a família comumente lancha em uma lanchonete. Isto pois, dada a situação, o desfecho da situação foi o que eles mais esperavam: afinal, estavam vivos.

    Você precisa estar logado para comentar. Fazer login.
  • JoaoVargas

    Sensibilidade que sufoca. Delicadeza que aperta o coração.

    Assistir o filme parece com o subir de uma montanha russa. Você vai subindo e subindo. O coração vai apertando e apertando. O nó na garganta vai ficando cada vez maior. E quando você chega no ápice, estranhamente, você só quer cair, você só quer que acabe.

    Mas não acaba. Você fica lá, parado no topo, com uma mistura de ansiedade, tristeza e raiva. Nunca sabendo quando o filme vai "cair". Quando a luta vai acabar e o obstáculo vai ser transposto.

    E ele não cai. Ele desmorona.

    Você precisa estar logado para comentar. Fazer login.
  • JoaoVargas

    Roma é um filme sensacional. É um daqueles filmes que são lembrados e recordados como grandes filmes na história do diretor que o fez. Isso porque, Roma não se consagrou como um dos melhores filmes do ano somente por ser bem feito, bem trabalhado, com uma boa fotografia. Roma não se apoia em uma história bonitinha ou uma com final forçadamente trágico para ser bom. Tampouco se apoia em uma história da luta das minorias contra a opressão ou se trata de uma homenagem a alguém.
    .
    Não. Roma não se trata de nada disso, e é natural que pessoas que assistam o filme buscando uma das características acima na história, se vejam frustradas ao tentar imprimir ao filme algo que ele não o é. É natural que se odeie o filme quando se busca nele características que ele não possui. Cleo não está ali, enquanto personagem, para ser uma personagem que luta contra a classe patronal por direitos e respeito (o que não quer dizer que a causa, em si, seja negligenciável, mas que o papel da personagem não é esse).
    .
    Apesar das características que citei não trazerem necessariamente detrimento a um filme, não são elas que fazem um filme ser, de fato, memorável. O que torna um filme memorável é o fato dele ter uma identidade. Isso que o faz ser lembrado durante anos, décadas, em nossas mentes.
    .
    Roma possui identidade. Roma possui um propósito, uma forma de ser. É um filme autoral, com a face e a visão de Alfonso Cuarón. E essa face é fantástica. A sensibilidade que Cuarón imprimiu no filme é o marco principal do filme. Discordo veementemente de quem achou o filme arrastado, sem sentido, com cenas vazias.
    .
    É justamente o contrário! Assim como todo grande filme, TODAS as cenas do filme tem um propósito. Elas falam, sussurram ou gritam um sentido! Não há diálogos desnecessários para demonstrar algo que pode (e deve!) ser dito pura e cinematograficamente através de cenas!
    .
    Todas elas tem um sentido que deve ser captado pelo espectador. Assistir a Roma (ou qualquer outro grande filme) é um exercício de constantemente se perguntar: o que isto representa?
    .

    Comentário contando partes do filme. Mostrar.

    O que representa os 2 minutos de cena do marido estacionando o carro na garagem? O que ele quis dizer com isso? Mais adiante, perceberemos que este extremo cuidado do marido com o carro Galaxy se tornará uma analogia ao próprio estado do relacionamento do casal. De amassados acidentais a amassados propositais, até por fim a venda do carro, vemos como Sofia vai encarando o término de ser relacionamento. "Quis um carro menor. Cansei do Galaxy."


    .
    Outro ponto fantástico são as rimas visuais. Cuarón propositalmente inicia e termina o filme com água (inclusive, pode-se dizer que o movimento inicial da água assemelha-se bastante ao das ondas no final). Não se trata, ao meu ver, do significado em si que a água representa. Mas Cuarón a utiliza como um marco visual, que traz o alerta: "Preste atenção aqui, pois a próxima cena é importante".
    .
    Comentário contando partes do filme. Mostrar.

    A água do lavar do chão chama atenção ao cocô de cachorro, que chama atenção posteriormente a discussão do casal. A água da pia de lavar louça antecede a cena onde é mostrado que, apesar das inúmeras lampadas da casa, a "chefia" não gosta de que elas utilizem um única luz para si... O líquido da bebida (copo quebrado) na festa de fim de ano, que antecede a cena onde Sofia rejeita um primo bêbado que da em cima dela... Dentre outras cenas.


    .
    Igualmente sensível é a utilização de dois planos correndo distintos nas cenas em quase todos os pontos de virada do filme (cinema onde ela conta que está grávida, incêndio, parto, etc). Uma alusão a própria situação da protagonista. Ela convive e está lá junto da família de classe média alta, porém ao mesmo tempo não está. Tanto que, não importa o que ela esteja fazendo, ela deve imediatamente parar quando algo é a ela solicitado, para atender o mais rápido possível ao patrão.
    .
    Comentário contando partes do filme. Mostrar.

    É esse "estar lá mais não estar", que é brilhantemente quebrado na etapa final do filme, quando, após salvar os filhos de Sofia, toda a família a abraça e se posiciona ao redor dela, em um mesmo plano, em uma das cenas mais lindas do filme.


    .
    Enfim, falei muito, mais poderia falar muito mais. Roma é desses filmes que o fazem querer discutir durante uma noite. Que o fazem querer desabafar e expressar tudo o que sentiu e viu durante o filme. Que deixa uma marca e um sentimento dentro de sua mente e coração.
    .
    Não somente um filme, mas uma obra prima, com identidade e razão de ser.

    Você precisa estar logado para comentar. Fazer login.
  • Nenhum recado para JoaoVargas.

Este site usa cookies para oferecer a melhor experiência possível. Ao navegar em nosso site, você concorda com o uso de cookies.

Se você precisar de mais informações e / ou não quiser que os cookies sejam colocados ao usar o site, visite a página da Política de Privacidade.