Entrar em um filme do Yorgos Lanthimos, é entrar em um ambiente totalmente novo, em que tudo pode acontecer. Todas aquelas convenções sociais que formam uma base em nós, que formam um chão para a nossa interpretação de algo, não vale para O Sacrifício do Cervo Sagrado.
Não é um filme surrealista, ou "Lynchiano", mas ainda assim o senso comum que temos para como se dá os diálogos, as relações humanas, etc, nada importam para esse filme. Você deve estar preparado para aprender um novo senso comum do ponto de vista social.
Assim como acontece quando você assiste a um filme da Marvel e você aceita que super poderes existem (sendo que claramente o nosso senso comum diz que não), ou quando você assiste a um Mad Max e aceita aquele universo pós-apocalíptico. Do mesmo modo, ao assistir O Sacrifício do Cervo Sagrado, você deve aceitar aquele universo.
Mas não é que o filme do Yorgos não tenham nenhuma mensagem, ideia ou ligação com a realidade. Ele trata, sim, da natureza humana. Somente, ele simplesmente não diz o que queremos ouvir, ou o que queremos acreditar que seja a natureza humana.
Ele trata a natureza humana como algo repugnante. E é interessante percebermos que esta repugnância só é de fato revelada quando os personagens são postos contra a parede, sem ter para onde ir.
Isso porque ele escolhe justamente uma família "bem sucedida" para tratar da parte "sombria" da natureza humana. Mesmo em gêneros apocalípticos, onde as "amarras sociais" são retiradas e a verdadeira "natureza humana" é revelada, nós esperamos (e geralmente isto ocorre) que a família seja representada como um ambiente de amor e carinho.
Interessante notar que, no início do filme, ela é de fato assim representada, mesmo que propositalmente artificial - como se gritasse que, na hora do "vamos ver", todo aquele "amor" seria facilmente deixado para trás pela sobrevivência. Porém, exposta a "maldição" para a família, observamos as graduais mudanças no comportamento dela.
Outro ponto importante é notar a razão da maldição no filme: ela se trata de um "MacGuffin" (terminologia utilizada por Hitchcock), ou seja, algo que é a origem para o desenvolvimento do enredo mas, em si mesmo, não é importante. Não importa o que a maldição é em si, mas o que ela acarreta, como ela revela a real personalidade e os reais desejos dos personagens. Um exemplo semelhante de MacGuffin muito explícito e conhecido, é a maleta de Pulp Fiction, onde nada importa o que ela possui, mas como a estória se desenvolve por causa dela. Para mais detalhes, recomendo: https://cinemacao.com/2017/04/16/macguffin/.
Enfim, dado o início da maldição, há uma mudança gradual naquele ambiente familiar, acompanhado do fato de que cada vez mais os personagens vão se convencendo de que não há solução alternativa para ela.
O pai que era tranquilo e pacífico, se torna cada vez mais violento, pressionado ao mesmo tempo pela culpa, de que um erro seu acabou por prejudicar a todos, e pela indecisão, de como proceder perante uma situação que se mostra cada vez mais inevitável (sendo que, em certo momento, até mesmo tenta terceirizar esta decisão para o diretor da escola).
Já a mãe e os filhos, apesar de permanecerem unidos em um primeiro instante, gradualmente vão se afastando e se revelando: o filho corta o cabelo para tentar "ganhar o favor" do pai e não ser o escolhido para morrer; a filha tenta fugir e conquistar o "amaldiçoador" - e, sem sucesso, depois inicia um discurso de autopiedade, tentando mostrar o seu valor; a mãe diz seca e diretamente: logicamente quem deve morrer é um dos filhos, pois eles são substituíveis, afinal basta fazermos um outro.
E a cereja do bolo de todo esse enredo, é como tudo isso é tratado com naturalidade. Como essa luta pela sobrevivência, essa repulsa a morte, é tratada com naturalidade: da irmã pedindo o MP3 para o irmão, quando ela estava certa de que seria ele o "sacrificado", visto que ela se achava segura por ser a preferida do pai, aos filhos se arrastando pela casa, como se fosse isso a coisa mais natural do mundo.
Não há choro. Não há cena excessivamente dramática. Não há desespero. Somente a fria e egoísta realidade de que a vida própria é mais importante que a dos outros. O que nos leva à cena final do filme: após a morte do filho, a família comumente lancha em uma lanchonete. Isto pois, dada a situação, o desfecho da situação foi o que eles mais esperavam: afinal, estavam vivos.
Sensibilidade que sufoca. Delicadeza que aperta o coração.
Assistir o filme parece com o subir de uma montanha russa. Você vai subindo e subindo. O coração vai apertando e apertando. O nó na garganta vai ficando cada vez maior. E quando você chega no ápice, estranhamente, você só quer cair, você só quer que acabe.
Mas não acaba. Você fica lá, parado no topo, com uma mistura de ansiedade, tristeza e raiva. Nunca sabendo quando o filme vai "cair". Quando a luta vai acabar e o obstáculo vai ser transposto.
Roma é um filme sensacional. É um daqueles filmes que são lembrados e recordados como grandes filmes na história do diretor que o fez. Isso porque, Roma não se consagrou como um dos melhores filmes do ano somente por ser bem feito, bem trabalhado, com uma boa fotografia. Roma não se apoia em uma história bonitinha ou uma com final forçadamente trágico para ser bom. Tampouco se apoia em uma história da luta das minorias contra a opressão ou se trata de uma homenagem a alguém. . Não. Roma não se trata de nada disso, e é natural que pessoas que assistam o filme buscando uma das características acima na história, se vejam frustradas ao tentar imprimir ao filme algo que ele não o é. É natural que se odeie o filme quando se busca nele características que ele não possui. Cleo não está ali, enquanto personagem, para ser uma personagem que luta contra a classe patronal por direitos e respeito (o que não quer dizer que a causa, em si, seja negligenciável, mas que o papel da personagem não é esse). . Apesar das características que citei não trazerem necessariamente detrimento a um filme, não são elas que fazem um filme ser, de fato, memorável. O que torna um filme memorável é o fato dele ter uma identidade. Isso que o faz ser lembrado durante anos, décadas, em nossas mentes. . Roma possui identidade. Roma possui um propósito, uma forma de ser. É um filme autoral, com a face e a visão de Alfonso Cuarón. E essa face é fantástica. A sensibilidade que Cuarón imprimiu no filme é o marco principal do filme. Discordo veementemente de quem achou o filme arrastado, sem sentido, com cenas vazias. . É justamente o contrário! Assim como todo grande filme, TODAS as cenas do filme tem um propósito. Elas falam, sussurram ou gritam um sentido! Não há diálogos desnecessários para demonstrar algo que pode (e deve!) ser dito pura e cinematograficamente através de cenas! . Todas elas tem um sentido que deve ser captado pelo espectador. Assistir a Roma (ou qualquer outro grande filme) é um exercício de constantemente se perguntar: o que isto representa? .
O que representa os 2 minutos de cena do marido estacionando o carro na garagem? O que ele quis dizer com isso? Mais adiante, perceberemos que este extremo cuidado do marido com o carro Galaxy se tornará uma analogia ao próprio estado do relacionamento do casal. De amassados acidentais a amassados propositais, até por fim a venda do carro, vemos como Sofia vai encarando o término de ser relacionamento. "Quis um carro menor. Cansei do Galaxy."
. Outro ponto fantástico são as rimas visuais. Cuarón propositalmente inicia e termina o filme com água (inclusive, pode-se dizer que o movimento inicial da água assemelha-se bastante ao das ondas no final). Não se trata, ao meu ver, do significado em si que a água representa. Mas Cuarón a utiliza como um marco visual, que traz o alerta: "Preste atenção aqui, pois a próxima cena é importante". .
A água do lavar do chão chama atenção ao cocô de cachorro, que chama atenção posteriormente a discussão do casal. A água da pia de lavar louça antecede a cena onde é mostrado que, apesar das inúmeras lampadas da casa, a "chefia" não gosta de que elas utilizem um única luz para si... O líquido da bebida (copo quebrado) na festa de fim de ano, que antecede a cena onde Sofia rejeita um primo bêbado que da em cima dela... Dentre outras cenas.
. Igualmente sensível é a utilização de dois planos correndo distintos nas cenas em quase todos os pontos de virada do filme (cinema onde ela conta que está grávida, incêndio, parto, etc). Uma alusão a própria situação da protagonista. Ela convive e está lá junto da família de classe média alta, porém ao mesmo tempo não está. Tanto que, não importa o que ela esteja fazendo, ela deve imediatamente parar quando algo é a ela solicitado, para atender o mais rápido possível ao patrão. .
É esse "estar lá mais não estar", que é brilhantemente quebrado na etapa final do filme, quando, após salvar os filhos de Sofia, toda a família a abraça e se posiciona ao redor dela, em um mesmo plano, em uma das cenas mais lindas do filme.
. Enfim, falei muito, mais poderia falar muito mais. Roma é desses filmes que o fazem querer discutir durante uma noite. Que o fazem querer desabafar e expressar tudo o que sentiu e viu durante o filme. Que deixa uma marca e um sentimento dentro de sua mente e coração. . Não somente um filme, mas uma obra prima, com identidade e razão de ser.
Nolan acerta em várias coisas, mas erra também em outras: o roteiro é bem simplório, e muitas atuações deixam a desejar. Porém, tecnicamente é excelente. As angulações, o tom de cor azulado, os paralelos muito inteligentes entre as histórias (interessante a montagem eficiente ao fazer difíceis paralelos entre momentos que temporalmente não ocorrem ao mesmo tempo). Todas as cenas foram pensadas e filmadas com um sentido. Nolan pensa: o que essa cena representa, e: o que eu quero suscitar na platéia? E com esse pensamento, utiliza-se dos recursos cinematográficos para eficientemente cumprir sua missão.
Mas, de tudo no filme, o que mais me impressionou foi o som. Principalmente o som dos aviões.
Esse filme foi feito para ser assistido no cinema. ASSISTAM NO CINEMA PELAMOR DE DEUS. Só lá que usufruiremos da real intenção do diretor: de fazer seu coração tremer (estou falando LITERALMENTE vibrar devido as ondas sonoras). Nolan nos imerge em um ambiente de guerra através do som estonteante de um rasante de um caça alemão. Parece que estamos ali, embaixo do avião, prestes a sermos bombardeados.
Interessante também como ele inicia o filme: com 5 soldados encurralados, fugindo, sendo que somente um sobrevive. Não porque ele era melhor ou mais rápido ou mais inteligente: foi simplesmente sorte. Ele estava tão exposto e tão vulnerável como qualquer outro ali. E fica clara a intenção do diretor de dizer exatamente isto: "Os que sobreviveram em Dunkirk, sobreviveram pelo acaso. Estarei retratando aqui a história não de alguém excepcional, mas de alguém que teve sorte o suficiente para sair dela vivo e, então, contá-la".
E, como os personagens ali, o espectador não é convidado a presenciar atos heroicos de guerra, mas sim a sobreviver a ela. Eu queria que o filme acabasse o mais rápido possível. Eu queria sair daquele lugar, onde eu podia ser bombardeado a qualquer hora. Onde a minha esperança, que era o navio de resgate, não era tão esperançoso assim: estava vulnerável aos constantes ataques aéreos e marítimos dos alemães.
"Abandonados" pela força aérea e pela marinha britânica, esse enorme exército de 400 mil soldados se via totalmente impotente, capaz somente de se agachar ao ouvir o som dos imponentes caças alemães. Dunkirk, do início ao fim, é simplesmente e grandiosamente isto: torcer para que, no meio do fogo cruzado, milagrosamente nenhuma bala o acerte.
Esse filme é uma aula de como se fazer diálogos. Estou começando agora minha jornada pelo cinema de Kurosawa, e confesso que só esbarrei nesse filme por causa de um vídeo do Tony Zhou no Every Frame a Painting (https://vimeo.com/118078262 - recomendo MUITO ver esse episódio, e também toda a série Every Frame a Painting).
Além dessa cena, que é espetacular e já foi primorosamente comentada por Tony Zhou, o filme nos presenteia com outras cenas sensacionais, como:
- A cena após Iwabuchi dopar a filha, em que anda de um lado para o outro em um corredor que tem um espelho. Nessa cena, além dos nossos olhos não ficarem cansados, olhando ora para o personagem, ora para o espelho (e até criando um suspense no meio disso), podemos ver que quando personagem olha para seu reflexo, olha para dentro de si, com remorso da sua atitude.
Hitchcock, em sua entrevista a Truffaut, disse que apenas 8% dos closes que se faziam eram de fato necessários. O close tinha se tornado não só uma técnica, mas um vício, uma mania sem sentido. Já Kurosawa é a total antítese do uso exacerbado de closes: seus diálogos são em planos que mostram todos os personagens presentes. Há vezes em que até mesmo o diretor não mostra um posterior personagem entrando em cena: basta o barulho da porta para saber que um outro elemento entrará na cena/diálogo.
Por isso, é legal notar aspectos interessantíssimos que mostram o cuidado do diretor em conduzir com fluidez o diálogo, mesmo sem usar cortes e closes. Como exemplo, temos uma cena já, próximo ao final do filme, onde Nishi e Itakura estão conversando sobre o passado e há 3 personagens em cena: Nishi, Itakura e Wada. Quando a conversa é entre Nishi e Itakura, ambos estão em pé e Wada sentado. Quando Nishi sai de cena e Itakura vai conversar com Wada, esse senta e se coloca no mesmo nível do Wada (que constantemente está sentado / prostado / em menor nível que Nishi, o que demonstra o domínio que Nishi tem perante ele).
São coisas pequenas, mas legais de se notar e que dão uma fluidez absurda para as cenas, não o tornado cansativo. Outra cena interessante é a do churrasco, quando há um corte momentos antes de Yoshiko alimentar o pai, cortando para a mesa de Nishi e Tatsuo e mostrando o término da ação no fundo. Com isso, Kurosawa "espacializa" os personagens presentes e mostra como diversas ações e pensamentos estão sendo tomados ao mesmo tempo (novamente, nossos olhos pulam de personagem a personagem, nos guiando na cena e não a deixando tediosa).
Infelizmente, está cada vez mais raro (principalmente no cinema ocidental, sendo pior ainda mais no americano) filmar cenas assim. E o motivo é óbvio: é muito mais fácil filmar algumas vezes e consertar na montagem do que refazer e refazer e refazer até que todos os personagens tenham acertado a cena como o diretor deseja. Além do que, há de se reconhecer que, para bem executadas, cenas assim devem ser conduzidas por bom diretores - e é nisso que percebemos o quão gênio é Kurosawa.
O Grande Golpe é um excelente filme. Incrível como Kubrick, com apenas 27 anos (27 anos!!!), conseguiu ter a ousadia de fazer um filme tão "complexo" para a época, com uma narração não-linear que se tornou o grande marco do filme e inspirou muitos cineastas por ai a fora.
Incrível, também, como ele usa essa não-linearidade para criar um ambiente de tensão constante:
Kubrick, primeiro, lança um plano de assalto (que você desconhece quase que por completo). Depois, ele imprime situações que possivelmente venham a comprometer este plano: o amante de Sherry, a mentira desta sobre um estrupo que não ocorreu (o que pode vir a desbalancear George), etc. Por fim, utiliza a narrativa não-linear para descrever o plano (que, novamente ressalto, o espectador desconhece). Assim, conforme o assalto é explicado de acordo com o ponto de vista de cada um dos personagens, o espectador se torna aflito, sufocado, sempre se perguntando: será que tal personagem conseguiu realizar a sua parte corretamente? Além disso, em cada tarefa, percebe-se uma situação não prevista que certamente arruinaria o plano, caso não fosse resolvida rapidamente (o amigo se oferecendo para levar as flores, a mulher pedindo socorro para o policial e o guarda do estacionamento importunando o atirador). Por fim, a resposta do sucesso ou não do plano só é dada, com toda a certeza, quando o assalto se encerra, com todos os pontos de vista já explicitados.
Assim, Kubrick utilizou uma forma inteligentíssima de se criar suspense, escondendo do espectador a paisagem completa do que estava acontecendo naquele exato momento. Ademais, o ambiente sufocante já havia sido criado anteriormente, com objetos sendo colocados em primeiro plano, criando um ambiente sufocante e claustrofóbico (isto é muito evidente nos diálogos entre Sherry e George, principalmente naquele em que há uma oscilação na câmera de um lado pro outro, acompanhando George).
Interessante também é reparar do porquê aprofundar nos motivos de George estar ali participando do roubo, já que o dos outros integrantes, quando explicitados, foram curtos (apesar de serem o suficientes para o espectador entender que todos ali tinham seus motivos e lados bons). Este é mais um recurso de suspense do filme:
No início, temos a certeza que George é parte fundamental para o assalto ser possível, já que ele trabalhava no jóquei, como dito por Sherry (mais tarde, descobriremos que na verdade TODOS são tão imprescindíveis quanto George, porém não sabíamos disso - já que desconhecíamos o plano). Porém, Kubrick, ao fornecer o papel de peça fundamental no roubo a um personagem instável e fraco, com uma motivação igualmente frágil, faz com que o espectador esteja sempre apreensivo que tal personagem venha a falhar, seja por se revoltar contra seus "companheiros", seja por sua motivação acabar (um possível abandono ou desencanto com Sherry).
Ressalva especial, ainda, para uma cena com George na reta final do filme, que chega a mostrar o domínio de linguagem que Kubrick tinha, mesmo sendo tão novo:
Quando todos estão no quarto, esperando que Johnny chegue com o dinheiro, observe como Kubrick representa o nervosismo de George em contraste com a calma dos outros integrantes. George, que se move de um lado para o outro, tem suas mãos sempre próximas da câmera. É no inquieto movimentar de dedos de George, somado a sua movimentação de um lado para o outro (que serve também para mostrar as falas dos outros personagens), que Kubrick traduz a ansiedade de George, que se confirma (ou, ainda, se explica) quando este questiona o atraso de Johnny. Assim, Kubrick evita diálogos super explicativos (que ele odeia, por sinal), conseguindo traduzir perfeitamente a situação sem trilha sonora ou diálogos excessivos.
Her é impressionante. Chamá-lo de sensacional já seria válido se simplesmente analisássemos o caráter crítico do enredo, que trata da natureza do ser humano de se tornar solitário, visto que o relacionamento com o outro é difícil, desafiador e conflitoso. Por isso o homem foi, através da possibilidade vinda do avanço tecnológico, afastando-se cada vez mais dos relacionamentos, com jogos que simulam a vida real de uma mãe ou jogos que exploram um mundo criado e possibilita a interação com ET's (no caso, uma criança), simulando a interação que os humanos deveriam ter com si mesmos.
Note que a trama não se trata de como a tecnologia muda o homem. Não. Não é a tecnologia que muda o homem, mas é ela que possibilita a realização de seu afastamento natural. E isso cresce até chegar a um completo isolamento relacional, quando esta tecnologia fornece uma inteligência artificial a qual, ao mesmo tempo que substitui qualquer forma de interação, também é majoritariamente não-conflituosa, não questionando, não discordando e, quando há brigas, certamente o SO fará as pazes calmamente depois. O diálogo-chave da trama ocorre quando a esposa de Theodore o confronta, dizendo-o a verdade como um tapa na cara, que faz o espectador pensar:
"Ele sempre quis ter uma esposa sem ter os desafios de ter que lidar com coisas reais"
Mas Her não é só isso. Her não é só enredo e é por isso que esse filme é impressionante.
Por traz da trama, há uma direção e uma atuação maravilhosa. A começar pela forma de desencadear a história, já que o filme é, basicamente, um diálogo entre Joaquim Phoenix e um computador (logo, obviamente, só Joaquim Phoenix é filmado). A história se desenvolve ali e, todas as outras cenas são consequências do desenvolvimento obtido ali. É por isso que, em Ela, Joaquim Phoenix tem um peso semelhante ao do Tom Hanks em Naufrago. O sucesso ou não do filme depende se Joaquim Phoenix (junto com Spike Jonze) consegue prender o espectador em seus diálogos, que duram mais de uma hora. E ele conseguiu.
Outro aspecto interessantíssimo do filme é o uso da cor. Para comparação, não me lembro de outro filme que use as cores de forma tão significativa para a linguagem e narrativa do filme sem ser "Um Corpo que Cai", de Hitchcock (o que não quer dizer que ele é o único, somente que não me vem a memória ou que talvez eu não tenha assistido aos outros filmes). Além das cores do cenário, perceba que TODAS as cenas do Theodore são "previsíveis". Sempre que Theodore está apaixonado ou irá se apaixonar, ele usa um vermelho forte, colocando de vez em quando um casaco por cima ou acinzentando o tom da cor quando a cena é mais "triste". Do mesmo modo, temos para a alegria o amarelo, para tristeza o azul claro (ou outras cores frias) e para memórias distantes, o branco.
E isso segue metodicamente durante todo o desenrolar da trama, fazendo com que Her seja maravilhoso do ponto estilístico e crítico do ponto de vista ficcional.
Algo que venho notado nos filmes coreanos é como eles se utilizam do silêncio para construir a história. Não, o sentimentos de Sunwoo não ficaram "pouco evidenciados", deixando margem a interpretação. O olhar, as expressões faciais e o silêncio explicitam os sentimentos que nem mesmo o personagem, em primeira instância, havia descoberto. E esse método, quando bem executado, é belíssimo, pois requer que o espectador preste atenção nas cenas, e não somente nos diálogos, para que nelas e, somente nelas, entenda o ódio, o amor, a pena e a compaixão.
A bittersweet life chega a executar bem esse caminho, porém não o faz com perfeição, já que acaba por tornar o subentendido em óbvio com alguns diálogos, o que acho um erro no filme. Porém, nada que venha a prejudicar tanto (*coff coff como prejudicado nos recentes filmes do Spielberg coff coff*). Além, há quem diga que o protagonista não teve um bom desenvolvimento no filme. Concordo em parte, porém discordo plenamente quando apontam isso como um erro. O filme não teve esse objetivo. A trama não foi feita para ser complexa, sendo que inicia e termina com Sunwoo mantendo as mesmas características... E é assim que deve ser, já que o caráter do personagem é este: frio, calado, sério e mortal.
Linda também é a forma de filmar nas cenas de ação. O movimento da câmera, "estranho" aos olhos do cinema hollywoodiano, forma intensas e bem executadas cenas de ação, onde se consegue entender exatamente o que está acontecendo, sem perder o ritmo acelerado.
Por fim e, para mim, uma das coisas que mais gostei no filme: as grandes referências a Tarantino. O diretor brinca com algumas cenas de Kill Bill, havendo menção honrosa a cena de Sunwoo sendo enterrado vivo, que nos lembra facilmente de Kill Bill 2 e, por nos lembrar de tal, pensamos que no momento Sunwoo estende a mão para fora da terra, ele está livre e irá voltar para se vingar (como acontece em Kill Bill). Porém, logo em seguida, o diretor brinca com o espectador, mostrando Moon Suk esperando Sunwoo sair e o parabenizando pelo feito.
A Bittersweet Life não chega a ser um dos meus favoritos mas, sem dúvida, mostra a força do cinema sul coreano. Kim Jee Woon mostra ser capaz de produzir um filme de ação estilo "porrada" como há muito não vejo no cinema americano.
O filme é legal. Ponto. Não que o filme em si seja ruim, porém Fury pega uma série de fórmulas de filmes de guerra já pré-concebidas e as executa sem inovação/avanço algum. Uma equipe de 5 soldados, sendo um deles totalmente inexperiente e 'ingênuo', vão andando de cidade em cidade encontrando os horrores da guerra (lembra-se de O Resgate do Soldado Ryan?). "Matar ou ser morto", um dos 'pontos altos' do filme, também é um tema recorrente em filmes de guerras, como, por exemplo, o muito bem executado Nascido para Matar.
Comparar Spielberg e Kubrick com David Ayer é covardia? Sim. Porém, é por nem se poder comparar que, para mim, o filme é 'legal' e ponto final. O filme até apresenta bons elementos, como o Norman, que está lá justamente pra mostrar a transformação de uma pessoa normal (com quem o espectador se identifica) em um soldado durante a guerra. Recurso legal mas, como já disse, recorrente em outros filmes, não sendo nenhuma novidade, já que tal recurso não foi melhorado ou aperfeiçoado.
A direção de filmagem é simples, a trilha sonora não é nada de mais e as cenas marcantes não são tão marcantes assim. Todavia, o filme se sustenta com atuações consistentes e o auxílio de uma equipe técnica até que competente, visto que a cena de conflito final foi relativamente bem executada. Além disso, é interessante se contar a guerra no ponto de vista de um pelotão de tanques.
Terminar um filme do Studio Ghibli sempre é muito difícil. Sempre que vejo um, me seguro para não sair do sofá/cama. E o motivo não é que os ache massivos ou chatos. Muito pelo contrário: eles me fazem querer viver...
A alegria pura e ingênua que sinto ao assistir qualquer um dos filmes do Isao Takahata ou do Hayao Miyazaki me faz querer sair de casa e viver a vida. Sorrir, cantar, correr, aproveitar a natureza como as crianças ali estão fazendo. Onde foi que parei de rir pela mais ingênuas coincidências do dia-a-dia? Em que parte da minha vida foi que perdi o ânimo e a imaginação de uma criança de tornar o trabalho em prazer, em diversão, em brincadeira? Pela primeira vez em um filme do Studio Ghibli, pelo menos pra mim, esse pensamento foi um explicito tapa na cara.
O Conto da Princesa Kaguya é simples, mas profundo... Belo, mas triste. O Conto da Princesa Kaguya é um grito estonteante que diz: VIVA A VIDA! Afinal, que normas de vida são essas que nós impomos a nós mesmos? Por que fazemos coisas que não gostamos? Que felicidade é essa que procuramos? Que felicidade é essa, que se resume a "um chapéu de cortesão"!!!
Não seria melhor correr, e brincar, e se sujar, e viver feliz, mesmo que "passando fome e comendo raízes"? ... Sim, seria melhor! E é isto que este conto quer nos passar. Não deixe que você, quando souber que irá embora deste mundo em que vivemos, diga pra si mesmo: "Eu TERIA sido feliz...". Pelo contrário, SEJA! Não espere que seja tarde de mais para "correr o mais rápido que puder"... Corra agora!
Não se deixe enganar pela felicidade falsa que "roupas caras, lindas mansões, boa comida" lhe prometem. Só você sabe o que te faz feliz, não o mundo, nem mesmo o seus amorosos pais, que tanto te amam. Só você sabe pelo que realmente vale a pena lutar e soar...
Para que quando você for para a "lua", quando você for para o "céu", você não tenha o semblante tristonho com os olhos lacrimejando da Princesa Kaguya, como quem "volta para o céu, mas deixa o coração na terra..." (como disse Rhayssa Dias, logo abaixo nos comentários). Mas que seu semblante seja alegre como o da "Pequeno Bambu"... E que você tenha convicção o suficiente para gritar: EU FUI FELIZ!
Mais um filme sensacional de Bong Joon-ho. Me interessei por esse diretor (ou melhor, pelo próprio cinema coreano em si) após assistir a "Memórias de um Assassino", que também é excelente. Foi então que Mother, para mim, confirmou a grande promessa mundial que Bong Joon-ho é.
Se Memórias de um Assassino tem uma trama mais intrigante e um desenvolvimento mais intenso e sedutor, Mother, por sua vez, é destruidor em sua direção. O diretor se destaca já no início do filme, retratando lindamente a obsessão de uma mãe viuvá com seu único filho . Cenas como os dois almoçando (onde ela tira os ossos do frango, não deixando o seu filho nem mesmo comer sozinho) e quando ela 'cobre' os rastros de urina de Do-joon logo após dar a ele, na boca, a 'sopa' que ele havia esquecido de tomar... Tudo isso demonstra como a mãe não só cuida excessivamente do seu filho, mas encobre os erros dele. Mãe esta que se dedica tanto ao seu filho, que doa a si mesmo completamente, tanto que nem mesmo seu nome é revelado no filme... Talvez pois ela nem mesmo nome mais tem: tornou-se um nada ao dar tudo o que tinha, até mesmo sua identidade.
(Logo mais, descobriremos que, talvez, essa obsessão seria proveniente de uma sensação de culpa por ter tentado matar seu filho no passado - somado, é claro, com o fato óbvio de ele ter problemas mentais)
Menção honrosa, também, à angustiante cena em que a mãe invade o quarto de Jin-tae. Bong Joon-ho mostra o plano aberto já no início (como faz diversas vezes no filme). Assim, você identifica todos os elementos do quarto, inclusive as diversas garrafas no chão. Garrafas estas que, a princípio representa a personalidade desleixada de Jin-tae, logo mais se tornara um objeto impressionante de apreensão. A angústia que passei naquela cena me lembrou até dos filmes de Hitchcock. Fiquei louco com a tensão dos pequenos passos entre as garrafas até que uma delas derrama no chão e, então, observei a água lentamente escorregar, com a sensação de que fosse eu ali, tentando fugir.
Por fim, se eu fosse definir esse filme em uma palavra, essa seria "delicado". Mother é de uma delicadeza enorme. A forma como se dirige, o cuidado com cada detalhe, com cada forma de filmar, cada atitude e objeto na cena, é impressionante. Para se captar tudo isso, precisa-se de atenção. Um espectador descuidado pode não aproveitar o filme, o achando massivo, se não captar isso. Afinal, Mother transmite muito mais beleza e conteúdo através da direção do que do diálogo ou do enredo. É preciso observar o que cada forma de filmar e ação do personagem representa para a sua personalidade, já que os diálogos são breves e muitas vezes dispensáveis. Isto, para mim, é que faz Mother ser simplesmente fantástico!
O texto a seguir é GRANDE, e contém SPOILER. Grande, principalmente, pois escrevi pra mim, para pensar sobre o filme e, então, tirar conclusões sobre ele.
Birdman é fantástico. A crítica escancarada à obsessão pela glória foi acompanhada de belíssima fotografia e montagem, atuações lindas e roteiro sensacional. Iñárritu, que já havia feito bons filmes em Babel e 21 gramas, acertou em cheio em Birdman.
A começar pelo elenco. Michael Keaton e Edward Norton não foram escolhidos ao acaso. São todos atores que vivenciaram o tema central da trama, ou seja, fama através da interpretação de super-heróis (Keaton -> Batman, Norton -> Hulk). Keaton, principalmente, pois viveu Batman pela última vez há 22 anos, tendo, portanto, uma ligação direta com Riggan Thompson.
Mas a genialidade não para por ai. Os personagens são minuciosamente pensados!
Riggan, um infeliz artista que vive o fim de uma carreira baseada em um único papel (tido como superficial no filme), vive uma constante procura por aceitação, por prestígio, já que confundi prestígio com amor, felicidade.
Há também Mike, um artista talentoso e egocêntrico, mas vazio. Mike não possui emoções, personalidade, por isso as forja. O personagem de Edward Norton mesmo o diz, em sua conversa com Sam: "Eu não finjo no palco, já lhe disse. Finjo em quase qualquer lugar, menos lá". Ele é incapaz de ser verdadeiro quando não lhe colocam um script indicando quem ele deve ser, pois ele mesmo é oco. Por isso, então, que ele é capaz de ter uma ereção no palco, mas tem medo de broxar na vida real.
Pra terminar, temos Lesley. Uma personagem feminina, que aos olhos do público, pode ser visto como símbolo de sucesso, mas que por dentro sofre uma profunda crise. Lesley é uma pessoa que não tem autoestima. Sempre sonhou em ser atriz na Broadway, mas para que conseguisse se sentir realizada, precisou de que alguém a elogiasse. A personagem de Naomi Watts não consegue se auto-valorizar, ela precisa que alguém a valorize, que a perceba, para que assim alcance o respeito próprio.
Todos esses três personagens dilaceram a nossa visão das celebridades. É comum que todos nós pensemos que os famosos sejam felizes, realizados. Celebridades teriam a vida de deuses. Não sentem dor, não sentem angústia, não ficam tristes ou ansiosos. Eles tem poder... Mas que poder? O tal "poder" seria 50.000 visualizações por uma ereção? Ou 350.000 por andar de cueca na rua? "Um gato brincando com um vibrador teria mais do que isso!", como disse Riggan Thomson. Isso NÃO é poder e muito menos felicidade. As celebridades retratadas no filme são muito mais infelizes que o público. Daí, talvez, venha o significado do segundo título: A inesperada virtude da ignorância. Ser famoso não é uma benção. Pelo contrário, a verdadeira virtude está em não ser conhecido.
E então, como toque final do filme, temos a fotografia. Iñárritu e o diretor de fotografia Emmanuel Lubezki (que também fez Gravidade), deram a obra a condição de "completa". A fotografia, quase que sem cortes, com vários movimentos elípticos, nos coloca imersos na trama como se fôssemos um personagem-observador invisível. A falta de cortes proporciona também ao filme similaridade com o teatro (portanto, uma metalinguagem) e, ainda, transmite a nós, telespectadores, a ideia do estresse constante, ininterrupto, que o protagonista é submetido, até que este chega ao colapso.
O foco nas atuações, nos rostos do personagens, nos faz sempre lembrar que aquilo tudo é falso (pois essa mesma atuação é vista no teatro, e os sorrisos lá interpretados são constantemente interrompidos nos bastidores). O filme Birdman deixa claro não ser uma história real, mas, paradoxalmente, tenta retratar a realidade.
Achei o filme genial. Memórias de um Assassino me fez se interessar pelo cinema sul coreano. Por que? Talvez porque o que mais gostei no filme foi sua completa antítese ao estilo americano de filmes de investigação.
Memórias de um Assassino não contempla a história de investigadores bem treinados, equipados com altas tecnologias. Nada nesse filme é idealizado. O filme é sobre uma cidadezinha de interior, onde o detetive mal consegue ler, as pessoas invadem as cenas do crime e destroem as evidências, o suspeito escapa porque o carro enguiçou...
Isso torna tudo mais real, palpável, humano. Humanização, essa é a palavra para os personagens dessa trama. Eles são humanizados! Eles tem emoções, a ponto de utilizarem de violência, não por corrupção, mas porque erram, explodem! Se deixam levar cegamente pela ideia de que estão sempre certos...
Eles tem personalidade. E uma personalidade que vai mudando quanto mais profundo os detetives se envolvem com o caso. Isso é o mais interessante do filme. Observar que, ao final, conforme os detetives foram se aproximando, cada um foi absorvendo as características do outro...
Hitchcock é um mestre. Não há dúvidas. Poucos se igualam a ele na arte de criar suspense (na verdade, meu fanatismo me faz pensar que nenhum se equipara). Porém, Frenesi não trouxe nada de novo ao legado de Hitchcock. Isso faz o filme ser ruim? Aos olhos de muitos, talvez. Para mim, jamais!
Frenesi é um filme com várias pitadas, vários elementos, dos filmes passados de Hitchcock. A começar pela história, sendo surpreendente como o filme consegue lhe dar suspense, mesmo apresentando o assassino nos primeiros 30 min do filme. Semelhante à "Disque M para Matar", o suspense está justamente em observar como é difícil para um investigador (ou aparentemente impossível) chegar a verdade, mesmo ela estando tão próxima.
Além disso, a fotografia é brilhante. A cena final demonstra muito isso. Filmar os passos, a mão no corredor, o rosto, tudo isso faz ficarmos nervosos pois o medo, a ansiedade do personagem, é transmitido à nós. Sem falar das cenas em que as vítimas são mortas, sempre mostrando o prédio e não o ato em si (difícil explicar com poucas palavras, quem viu se lembrará com mais clareza).
Hitchcock mostra que não é necessário efeitos especiais e ambientes escuros para se criar suspense, medo, ansiedade. A cena entre Brenda e Rusk é tensa por sua longa duração, o que nos deixa apreensivos quanto ao destino de Brenda. Somado à isso, a trama também se torna leve, com situações cômicas muito bem inseridas, como à do Rusk no caminhão de batatas e a da esposa do investigador, sempre lhe servindo pratos pitorescos (pra não dizer nojentos).
Frenesi, um filme que não pode ser considerado revolucionário, mas que recebe a marca do Mestre!
Donnie Darko é daqueles filmes que podem ser apreciados na primeira vez que for assistido, mas impossível de se entender sem revê-lo. Ao final do filme, mesmo com muitas perguntas e anuviadas respostas, já tinha a certeza que este filme entraria nos meus favoritos.
E isso, pelo menos, é fácil de explicar: Donnie Darko é um filme que, apesar de ter uma história profundamente baseada em princípios físicos "fictícios" criados pela "Grandma Death", também envolve em segundo plano uma trama onde se critica o modelo escolar e a alienação (ambos pela prof. Farmer), a hipocrisia (Jim Cunningham), etc. Tudo isso com a típica história de romance adolescente americana, com direito a valentões e tudo mais.
A junção entre física, crítica a sociedade e romance de sessão da tarde em Donnie Darko é que o torna tão especial, na minha humilde visão. Essa mistura foi sutil, estranha, mas perfeitamente executada, permitindo você ter carisma pelo personagem sem entender bulhufas do que realmente estava acontecendo.
Esse post, como percebido, foi grande, mas sem intenção de explicar nada. A explicação para Donnie Darko é tão rica que não pode ser mensurada em um post no filmow. Aos que tiveram paciência de ler até aqui, fica a minha dica de site pra melhor entendimento da obra: http://www.donniedarko.org.uk/introduction/
Esse comentário é ENORME e CONTÉM MUITO SPOILER. NÃO O LEIA SE NÃO TIVER VISTO O FILME. Tenta retratar uma das várias interpretações possíveis do filme.
Quando terminei de assistir ao filme, só tive uma "certeza": o protagonista é um ator. Todos os compromissos seriam "atos", em que as "câmeras eram tão pequenas que pareciam que nem estavam lá" e, quando dentro da limousine, seria o único momento em que ele não estava atuando "no filme" - afinal ela seria o "motor sagrado" (Holy Motors) que o transportava de cenário à cenário.
Então tive que pesquisar. De fato, Holy Motors é uma "homenagem" (ou crítica) ao cinema. Crítica ao cinema do século XXI, que logo no início do filme é retratado quando o próprio diretor Leos Carax abre uma "porta" em seu quarto e vê uma platéia indiferente perante as cenas de ação rasas que marcam o cinema atual. O cinema não daria mais emoção, sentimento, aos que o assistem.
Conhecemos então o protagonista, Monsieur Oscar, que representa um ator experiente e, talvez, o último que exerça sua profissão pela "beleza do gesto". O mundo seria um grande palco, em que tudo parece ser verdadeiro nas não é real (vemos Oscar se maquiando para cada ato, morrendo várias vezes e, talvez a parte mais importante, vemos que os outros também não passam de personagens atuando - como a mulher que chora pela morte de seu tio). Mas o que mais nos intriga é para qual platéia essas atuações são realizadas. Para quem? Aquilo será mostrado? As atuações virarão filmes? O diretor não nos conta, e é nessa ausência de respostas do que e para quem são os atos que se encontra a subjetividade do filme e talvez à parte mais profunda dele.
Oscar, em um dia, fez "um desfile de pequenas histórias" de drama, ficção científica, musical, ação, violência. Cada um com seu gênero, cada um com sua peculiaridade, cenário, trilha sonora e ritmo que nos faz crer que sejam reais! Criamos 9 mundos em um único filme, cada qual girando em torno se suas próprias leis. Isso seria o cinema: a criação de um universo que, por mais estranho e anormal que seja, torna-se possível e verdadeiro.
Mas essa "arte" estaria para morrer. A cena final, talvez a mais confusa do filme, nos revela. Os "motores sagrados" do cinema (as limousines) que produzem ARTE ficariam enferrujados e iriam para o ferro velho. Por que? Porque ninguém mais quer saber de motores. Ninguém quer mais saber de "ação" (alusão a palavra dita quando se dá inicio a uma atuação - muito vista em desenhos com aquela característica plaquinha). Eles se tornaram obsoletos!
Não é a primeira vez que Martin Scorsese trata da ganância, da ascensão social em detrimento da degradação da vida social. Apesar de não ter como base Wall Street, o diretor já tratou desse assunto em Touro Indomável e Goodfellas que, não desprezando o filme "O Lobo de Wall Street", ficaram muito melhores (afinal, alcançaram patamares de clássicos, filmes excelentes). Além do que, tratava o assunto de forma muito mais profunda - agora Scorsese opta por um desenrolar mais cômico (basta ver o elenco).
Não é atoa que O Lobo de Wall Street não ganhou o Óscar. Apesar de imensamente bem dirigido (Em plena sociedade do rápido e descartável, Martin Scorcese transformou um filme de 3 HORAS em um grande sucesso!), o tema não é novo e, talvez por isso, o final é um pouco previsível (principalmente pra quem já viu Goodfellas). Mas isso não abafa a grandiosidade da parceria do Martin Scorsese com Leonardo DiCaprio, mostrando a versatilidade dos dois artistas, que juntos já fizeram filmes de "Ação" (Gangues de Nova York), Drama (O Aviador) e Suspense (Ilha do Medo)... Todos sucessos de bilheteria e qualidade!
Fotografia do filme foi perfeita para o objetivo. Em várias cenas temos a câmera, focalizada por um período, mostrando somente o rosto e as emoções de Solomon Northup... O diretor queria mostrar que negros também tem sentimentos. Sim, eles sofreram! Eles choraram! Eles desejaram a morte a vida... A escravidão vai muito além do capítulos de um livro de História. Estamos tratando de humanos ali, e não de estatísticas...
Como disse Brad Pitt para o Epps: "Suponha que a lei é reformada e lhe tirem a liberdade lhe transformando num escravo. Suponha". É isso que o filme quer que você faça, que você se coloque na pele de um escravo e sinta o tamanho da brutalidade que a humanidade cometeu no passado.
"But I dont wanna survive... I wanna live." - Solomon Northup
A atuação de Sandra Bullock está incrível neste filme. A forma como foi filmada foi muito interessante. Muitas vezes em primeira pessoa, consegue transmitir, de forma bem real para quem assiste, a sensação do personagem (como ocorreu no início do filme, quando ela rodopeia).
Além disso, as trilhas sonoras incríveis (que nos momentos de desesperança parava, deixando como único som a respiração da Sandra Bullock, e era nesse momento que experimentávamos o "silêncio do espaço" - silêncio esse desesperador) e a fotografia dão um esplêndido cenário - que é o espaço. Receita também utilizada em 2001 - Uma Odisseia no Espaço (que vale a pena ser citado só por ser do mesmo tema, já que o objetivo dos dois filmes são completamente diferentes).
O filme, pra mim, pareceu um curta (apesar de ter uma tensão durante quase toda a trama). Não sei porque... Talvez seja porque tudo é tão lento de se fazer e difícil pra Dra. Stone.
É impressionante como o filme consegue fazer tão bem críticas à respeito da TV e da própria população.
Pra mim, a mais importante parte do filme é o "O Show de Howard Beale". Por que? Porque Howard em seus pronunciamentos está falando conosco. Sim, com nós que estamos assistindo. Ele nos critica. Critica nossa maneira de pensar, e diz como tudo que nós pensamos vem dessa "caixa preta" chamada TV.
“Porque a única verdade que vocês sabem é a que sai dessa caixa preta. Nesse exato momento há uma geração inteira que nunca aprendeu nada que não tivesse saído dessa caixa preta! Essa caixa preta é seu evangelho. É a revelação máxima.”
E se tudo o que aprendemos e pensamos vem da TV, será que o que ela nos fala é verdade? A resposta está no próprio filme:
“Televisão não é a verdade. Televisão é uma porcaria de um parque de diversões! [...] Estamos num negócio em que a única coisa que importa é matar o tédio. [...]Nós te contamos qualquer coisa que você quiser ouvir. E mentimos sem remorso. [...] Nós vendemos ilusões. Mas não a verdade!”
E como nós respondemos à essa ilusão? A tratamos como ficção, reconhecemos o objetivo inescrupuloso (que é o simples lucro sem medir consequências) da televisão? Howard nos diz que nós somos alienados. Que seguimos ingenuamente todas as mentiras que a televisão nos diz... Inclusive o seu próprio show.
“Mas vocês pessoas, sentam na frente dela, dia após dia, noite após noite. [...]Vocês estão começando a acreditar até nas mentiras que estamos lhes dizendo nesse exato momento. Vocês estão começando a acreditar que a caixa preta é de verdade e que suas vidas são de mentira! Vocês fazem tudo que a caixa-preta manda vocês fazerem! Vestem-se como ela manda, comem o que ela manda... [...]Isso é uma alucinação coletiva em massa, seus maníacos! [...]Nós aqui dentro é que somos a ilusão!”
Outra referência ao modo de agir da televisão é a personagem Diana Christensen. Ela mostra o interior da tv. O que ela pensa, quais seus objetivos e como ela age nos bastidores
(representada exageradamente - ou não - pela decisão de assassinar Howard Beale no final do filme)
. "Você é a televisão encarnada, Diana. Indiferente ao sofrimento, insensível à alegria"
Rede de Intrigas não é filme para se assistir para fins de mera diversão. Você deve assisti-lo para pensar, refletir. Afinal, será que a mensagem que esse filme nos passa através da "caixa preta" é realmente verdade? Ou somente mais de umas das suas ilusões?
Invocação do Mal foi um filme que pegou um conjunto de "clichês" (o que por si só não é algo ruim), juntou tudo e conseguiu fazer um filme bom com uma pitada de criatividade.
Não é um filme que te dá susto, mas pode te dar medo. As cenas não fazem você "gritar", é quase como se você visse lentamente acontecer. Mas é ai que tá: a cada cena de terror, você fica mais fascinado, preso, aflito... E isso gera medo. Um medo diferente, um medo com uma grande parcela de ansiedade.
Somado a isso temos as expressões dos personagens (de literal terror), que foram muito bem feitas, e a forma de filmagem (chegam a filmar de cabeça para baixo) que imprimem uma agitação ao filme de forma bem feita.
É um ótimo filme. Não o achei nem arrastado, nem chato ou desinteressante, só com um ritmo diferente que muitas pessoas não estão acostumadas a ver (principalmente aquelas que só veem filmes hollywoodianos cheio de tiros e explosões). Lincoln não é um filme pra quem quer ver aventura, ação.
É um filme dramático, biográfico, que tem como um dos pré-requisitos para a boa apreciação de quem assistir ao filme um interesse, mesmo que mínimo, em política e também, é claro, na questão da escravidão negra. Não achei um filme longo (2h 20min tá na média ainda). Também gostei de como ele demonstra que até mesmo uma boa causa (abolição da escravidão), que transformou totalmente os EUA, só pôde ser aprovada e levada adiante através da corrupção e de caminhos "imorais".
"Um presente para você. A maior emenda do século XIX, aprovada através da corrupção, ajudada e instigada pelo homem mais puro da América."
É um filme que passa uma mensagem de encorajamento muito grande. A mensagem de incentivo a se reerguer, continuar suportando e enfrentando todos os obstáculo é muito bonita.
Acho que essa é a razão de Rocky ter ganho o Óscar, e não Taxi Driver. Os EUA, em meio a Guerra Fria, não podiam eleger um filme que criticava e expunha as deficiências, as corrupções e a "sujeira" de seu país (o que é algo muito importante, e não desmereço o filme - muito pelo contrário). Eles precisavam de algo que iria levantar a moral e agitar os corações dos norte-americanos.
Eles precisavam de algo que passasse uma mensagem de esperança, e não uma mensagem de desespero.
O Sacrifício do Cervo Sagrado
3.7 1,2K Assista AgoraEntrar em um filme do Yorgos Lanthimos, é entrar em um ambiente totalmente novo, em que tudo pode acontecer. Todas aquelas convenções sociais que formam uma base em nós, que formam um chão para a nossa interpretação de algo, não vale para O Sacrifício do Cervo Sagrado.
Não é um filme surrealista, ou "Lynchiano", mas ainda assim o senso comum que temos para como se dá os diálogos, as relações humanas, etc, nada importam para esse filme. Você deve estar preparado para aprender um novo senso comum do ponto de vista social.
Assim como acontece quando você assiste a um filme da Marvel e você aceita que super poderes existem (sendo que claramente o nosso senso comum diz que não), ou quando você assiste a um Mad Max e aceita aquele universo pós-apocalíptico. Do mesmo modo, ao assistir O Sacrifício do Cervo Sagrado, você deve aceitar aquele universo.
Mas não é que o filme do Yorgos não tenham nenhuma mensagem, ideia ou ligação com a realidade. Ele trata, sim, da natureza humana. Somente, ele simplesmente não diz o que queremos ouvir, ou o que queremos acreditar que seja a natureza humana.
Ele trata a natureza humana como algo repugnante. E é interessante percebermos que esta repugnância só é de fato revelada quando os personagens são postos contra a parede, sem ter para onde ir.
Isso porque ele escolhe justamente uma família "bem sucedida" para tratar da parte "sombria" da natureza humana. Mesmo em gêneros apocalípticos, onde as "amarras sociais" são retiradas e a verdadeira "natureza humana" é revelada, nós esperamos (e geralmente isto ocorre) que a família seja representada como um ambiente de amor e carinho.
Interessante notar que, no início do filme, ela é de fato assim representada, mesmo que propositalmente artificial - como se gritasse que, na hora do "vamos ver", todo aquele "amor" seria facilmente deixado para trás pela sobrevivência. Porém, exposta a "maldição" para a família, observamos as graduais mudanças no comportamento dela.
Outro ponto importante é notar a razão da maldição no filme: ela se trata de um "MacGuffin" (terminologia utilizada por Hitchcock), ou seja, algo que é a origem para o desenvolvimento do enredo mas, em si mesmo, não é importante. Não importa o que a maldição é em si, mas o que ela acarreta, como ela revela a real personalidade e os reais desejos dos personagens. Um exemplo semelhante de MacGuffin muito explícito e conhecido, é a maleta de Pulp Fiction, onde nada importa o que ela possui, mas como a estória se desenvolve por causa dela. Para mais detalhes, recomendo: https://cinemacao.com/2017/04/16/macguffin/.
Enfim, dado o início da maldição, há uma mudança gradual naquele ambiente familiar, acompanhado do fato de que cada vez mais os personagens vão se convencendo de que não há solução alternativa para ela.
O pai que era tranquilo e pacífico, se torna cada vez mais violento, pressionado ao mesmo tempo pela culpa, de que um erro seu acabou por prejudicar a todos, e pela indecisão, de como proceder perante uma situação que se mostra cada vez mais inevitável (sendo que, em certo momento, até mesmo tenta terceirizar esta decisão para o diretor da escola).
Já a mãe e os filhos, apesar de permanecerem unidos em um primeiro instante, gradualmente vão se afastando e se revelando: o filho corta o cabelo para tentar "ganhar o favor" do pai e não ser o escolhido para morrer; a filha tenta fugir e conquistar o "amaldiçoador" - e, sem sucesso, depois inicia um discurso de autopiedade, tentando mostrar o seu valor; a mãe diz seca e diretamente: logicamente quem deve morrer é um dos filhos, pois eles são substituíveis, afinal basta fazermos um outro.
E a cereja do bolo de todo esse enredo, é como tudo isso é tratado com naturalidade. Como essa luta pela sobrevivência, essa repulsa a morte, é tratada com naturalidade: da irmã pedindo o MP3 para o irmão, quando ela estava certa de que seria ele o "sacrificado", visto que ela se achava segura por ser a preferida do pai, aos filhos se arrastando pela casa, como se fosse isso a coisa mais natural do mundo.
Não há choro. Não há cena excessivamente dramática. Não há desespero. Somente a fria e egoísta realidade de que a vida própria é mais importante que a dos outros. O que nos leva à cena final do filme: após a morte do filho, a família comumente lancha em uma lanchonete. Isto pois, dada a situação, o desfecho da situação foi o que eles mais esperavam: afinal, estavam vivos.
Ninguém Pode Saber
4.3 228Sensibilidade que sufoca. Delicadeza que aperta o coração.
Assistir o filme parece com o subir de uma montanha russa. Você vai subindo e subindo. O coração vai apertando e apertando. O nó na garganta vai ficando cada vez maior. E quando você chega no ápice, estranhamente, você só quer cair, você só quer que acabe.
Mas não acaba. Você fica lá, parado no topo, com uma mistura de ansiedade, tristeza e raiva. Nunca sabendo quando o filme vai "cair". Quando a luta vai acabar e o obstáculo vai ser transposto.
E ele não cai. Ele desmorona.
Roma
4.1 1,4K Assista AgoraRoma é um filme sensacional. É um daqueles filmes que são lembrados e recordados como grandes filmes na história do diretor que o fez. Isso porque, Roma não se consagrou como um dos melhores filmes do ano somente por ser bem feito, bem trabalhado, com uma boa fotografia. Roma não se apoia em uma história bonitinha ou uma com final forçadamente trágico para ser bom. Tampouco se apoia em uma história da luta das minorias contra a opressão ou se trata de uma homenagem a alguém.
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Não. Roma não se trata de nada disso, e é natural que pessoas que assistam o filme buscando uma das características acima na história, se vejam frustradas ao tentar imprimir ao filme algo que ele não o é. É natural que se odeie o filme quando se busca nele características que ele não possui. Cleo não está ali, enquanto personagem, para ser uma personagem que luta contra a classe patronal por direitos e respeito (o que não quer dizer que a causa, em si, seja negligenciável, mas que o papel da personagem não é esse).
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Apesar das características que citei não trazerem necessariamente detrimento a um filme, não são elas que fazem um filme ser, de fato, memorável. O que torna um filme memorável é o fato dele ter uma identidade. Isso que o faz ser lembrado durante anos, décadas, em nossas mentes.
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Roma possui identidade. Roma possui um propósito, uma forma de ser. É um filme autoral, com a face e a visão de Alfonso Cuarón. E essa face é fantástica. A sensibilidade que Cuarón imprimiu no filme é o marco principal do filme. Discordo veementemente de quem achou o filme arrastado, sem sentido, com cenas vazias.
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É justamente o contrário! Assim como todo grande filme, TODAS as cenas do filme tem um propósito. Elas falam, sussurram ou gritam um sentido! Não há diálogos desnecessários para demonstrar algo que pode (e deve!) ser dito pura e cinematograficamente através de cenas!
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Todas elas tem um sentido que deve ser captado pelo espectador. Assistir a Roma (ou qualquer outro grande filme) é um exercício de constantemente se perguntar: o que isto representa?
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O que representa os 2 minutos de cena do marido estacionando o carro na garagem? O que ele quis dizer com isso? Mais adiante, perceberemos que este extremo cuidado do marido com o carro Galaxy se tornará uma analogia ao próprio estado do relacionamento do casal. De amassados acidentais a amassados propositais, até por fim a venda do carro, vemos como Sofia vai encarando o término de ser relacionamento. "Quis um carro menor. Cansei do Galaxy."
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Outro ponto fantástico são as rimas visuais. Cuarón propositalmente inicia e termina o filme com água (inclusive, pode-se dizer que o movimento inicial da água assemelha-se bastante ao das ondas no final). Não se trata, ao meu ver, do significado em si que a água representa. Mas Cuarón a utiliza como um marco visual, que traz o alerta: "Preste atenção aqui, pois a próxima cena é importante".
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A água do lavar do chão chama atenção ao cocô de cachorro, que chama atenção posteriormente a discussão do casal. A água da pia de lavar louça antecede a cena onde é mostrado que, apesar das inúmeras lampadas da casa, a "chefia" não gosta de que elas utilizem um única luz para si... O líquido da bebida (copo quebrado) na festa de fim de ano, que antecede a cena onde Sofia rejeita um primo bêbado que da em cima dela... Dentre outras cenas.
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Igualmente sensível é a utilização de dois planos correndo distintos nas cenas em quase todos os pontos de virada do filme (cinema onde ela conta que está grávida, incêndio, parto, etc). Uma alusão a própria situação da protagonista. Ela convive e está lá junto da família de classe média alta, porém ao mesmo tempo não está. Tanto que, não importa o que ela esteja fazendo, ela deve imediatamente parar quando algo é a ela solicitado, para atender o mais rápido possível ao patrão.
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É esse "estar lá mais não estar", que é brilhantemente quebrado na etapa final do filme, quando, após salvar os filhos de Sofia, toda a família a abraça e se posiciona ao redor dela, em um mesmo plano, em uma das cenas mais lindas do filme.
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Enfim, falei muito, mais poderia falar muito mais. Roma é desses filmes que o fazem querer discutir durante uma noite. Que o fazem querer desabafar e expressar tudo o que sentiu e viu durante o filme. Que deixa uma marca e um sentimento dentro de sua mente e coração.
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Não somente um filme, mas uma obra prima, com identidade e razão de ser.
Dunkirk
3.8 2,0K Assista AgoraNolan acerta em várias coisas, mas erra também em outras: o roteiro é bem simplório, e muitas atuações deixam a desejar. Porém, tecnicamente é excelente. As angulações, o tom de cor azulado, os paralelos muito inteligentes entre as histórias (interessante a montagem eficiente ao fazer difíceis paralelos entre momentos que temporalmente não ocorrem ao mesmo tempo). Todas as cenas foram pensadas e filmadas com um sentido. Nolan pensa: o que essa cena representa, e: o que eu quero suscitar na platéia? E com esse pensamento, utiliza-se dos recursos cinematográficos para eficientemente cumprir sua missão.
Mas, de tudo no filme, o que mais me impressionou foi o som. Principalmente o som dos aviões.
Esse filme foi feito para ser assistido no cinema. ASSISTAM NO CINEMA PELAMOR DE DEUS. Só lá que usufruiremos da real intenção do diretor: de fazer seu coração tremer (estou falando LITERALMENTE vibrar devido as ondas sonoras). Nolan nos imerge em um ambiente de guerra através do som estonteante de um rasante de um caça alemão. Parece que estamos ali, embaixo do avião, prestes a sermos bombardeados.
Interessante também como ele inicia o filme: com 5 soldados encurralados, fugindo, sendo que somente um sobrevive. Não porque ele era melhor ou mais rápido ou mais inteligente: foi simplesmente sorte. Ele estava tão exposto e tão vulnerável como qualquer outro ali. E fica clara a intenção do diretor de dizer exatamente isto: "Os que sobreviveram em Dunkirk, sobreviveram pelo acaso. Estarei retratando aqui a história não de alguém excepcional, mas de alguém que teve sorte o suficiente para sair dela vivo e, então, contá-la".
E, como os personagens ali, o espectador não é convidado a presenciar atos heroicos de guerra, mas sim a sobreviver a ela. Eu queria que o filme acabasse o mais rápido possível. Eu queria sair daquele lugar, onde eu podia ser bombardeado a qualquer hora. Onde a minha esperança, que era o navio de resgate, não era tão esperançoso assim: estava vulnerável aos constantes ataques aéreos e marítimos dos alemães.
"Abandonados" pela força aérea e pela marinha britânica, esse enorme exército de 400 mil soldados se via totalmente impotente, capaz somente de se agachar ao ouvir o som dos imponentes caças alemães. Dunkirk, do início ao fim, é simplesmente e grandiosamente isto: torcer para que, no meio do fogo cruzado, milagrosamente nenhuma bala o acerte.
Homem Mau Dorme Bem
4.2 28Esse filme é uma aula de como se fazer diálogos. Estou começando agora minha jornada pelo cinema de Kurosawa, e confesso que só esbarrei nesse filme por causa de um vídeo do Tony Zhou no Every Frame a Painting (https://vimeo.com/118078262 - recomendo MUITO ver esse episódio, e também toda a série Every Frame a Painting).
Além dessa cena, que é espetacular e já foi primorosamente comentada por Tony Zhou, o filme nos presenteia com outras cenas sensacionais, como:
- A cena após Iwabuchi dopar a filha, em que anda de um lado para o outro em um corredor que tem um espelho. Nessa cena, além dos nossos olhos não ficarem cansados, olhando ora para o personagem, ora para o espelho (e até criando um suspense no meio disso), podemos ver que quando personagem olha para seu reflexo, olha para dentro de si, com remorso da sua atitude.
Hitchcock, em sua entrevista a Truffaut, disse que apenas 8% dos closes que se faziam eram de fato necessários. O close tinha se tornado não só uma técnica, mas um vício, uma mania sem sentido. Já Kurosawa é a total antítese do uso exacerbado de closes: seus diálogos são em planos que mostram todos os personagens presentes. Há vezes em que até mesmo o diretor não mostra um posterior personagem entrando em cena: basta o barulho da porta para saber que um outro elemento entrará na cena/diálogo.
Por isso, é legal notar aspectos interessantíssimos que mostram o cuidado do diretor em conduzir com fluidez o diálogo, mesmo sem usar cortes e closes. Como exemplo, temos uma cena já, próximo ao final do filme, onde Nishi e Itakura estão conversando sobre o passado e há 3 personagens em cena: Nishi, Itakura e Wada. Quando a conversa é entre Nishi e Itakura, ambos estão em pé e Wada sentado. Quando Nishi sai de cena e Itakura vai conversar com Wada, esse senta e se coloca no mesmo nível do Wada (que constantemente está sentado / prostado / em menor nível que Nishi, o que demonstra o domínio que Nishi tem perante ele).
São coisas pequenas, mas legais de se notar e que dão uma fluidez absurda para as cenas, não o tornado cansativo. Outra cena interessante é a do churrasco, quando há um corte momentos antes de Yoshiko alimentar o pai, cortando para a mesa de Nishi e Tatsuo e mostrando o término da ação no fundo. Com isso, Kurosawa "espacializa" os personagens presentes e mostra como diversas ações e pensamentos estão sendo tomados ao mesmo tempo (novamente, nossos olhos pulam de personagem a personagem, nos guiando na cena e não a deixando tediosa).
Infelizmente, está cada vez mais raro (principalmente no cinema ocidental, sendo pior ainda mais no americano) filmar cenas assim. E o motivo é óbvio: é muito mais fácil filmar algumas vezes e consertar na montagem do que refazer e refazer e refazer até que todos os personagens tenham acertado a cena como o diretor deseja. Além do que, há de se reconhecer que, para bem executadas, cenas assim devem ser conduzidas por bom diretores - e é nisso que percebemos o quão gênio é Kurosawa.
O Grande Golpe
4.1 236 Assista AgoraO Grande Golpe é um excelente filme. Incrível como Kubrick, com apenas 27 anos (27 anos!!!), conseguiu ter a ousadia de fazer um filme tão "complexo" para a época, com uma narração não-linear que se tornou o grande marco do filme e inspirou muitos cineastas por ai a fora.
Incrível, também, como ele usa essa não-linearidade para criar um ambiente de tensão constante:
Kubrick, primeiro, lança um plano de assalto (que você desconhece quase que por completo). Depois, ele imprime situações que possivelmente venham a comprometer este plano: o amante de Sherry, a mentira desta sobre um estrupo que não ocorreu (o que pode vir a desbalancear George), etc. Por fim, utiliza a narrativa não-linear para descrever o plano (que, novamente ressalto, o espectador desconhece). Assim, conforme o assalto é explicado de acordo com o ponto de vista de cada um dos personagens, o espectador se torna aflito, sufocado, sempre se perguntando: será que tal personagem conseguiu realizar a sua parte corretamente? Além disso, em cada tarefa, percebe-se uma situação não prevista que certamente arruinaria o plano, caso não fosse resolvida rapidamente (o amigo se oferecendo para levar as flores, a mulher pedindo socorro para o policial e o guarda do estacionamento importunando o atirador). Por fim, a resposta do sucesso ou não do plano só é dada, com toda a certeza, quando o assalto se encerra, com todos os pontos de vista já explicitados.
Assim, Kubrick utilizou uma forma inteligentíssima de se criar suspense, escondendo do espectador a paisagem completa do que estava acontecendo naquele exato momento. Ademais, o ambiente sufocante já havia sido criado anteriormente, com objetos sendo colocados em primeiro plano, criando um ambiente sufocante e claustrofóbico (isto é muito evidente nos diálogos entre Sherry e George, principalmente naquele em que há uma oscilação na câmera de um lado pro outro, acompanhando George).
Interessante também é reparar do porquê aprofundar nos motivos de George estar ali participando do roubo, já que o dos outros integrantes, quando explicitados, foram curtos (apesar de serem o suficientes para o espectador entender que todos ali tinham seus motivos e lados bons). Este é mais um recurso de suspense do filme:
No início, temos a certeza que George é parte fundamental para o assalto ser possível, já que ele trabalhava no jóquei, como dito por Sherry (mais tarde, descobriremos que na verdade TODOS são tão imprescindíveis quanto George, porém não sabíamos disso - já que desconhecíamos o plano). Porém, Kubrick, ao fornecer o papel de peça fundamental no roubo a um personagem instável e fraco, com uma motivação igualmente frágil, faz com que o espectador esteja sempre apreensivo que tal personagem venha a falhar, seja por se revoltar contra seus "companheiros", seja por sua motivação acabar (um possível abandono ou desencanto com Sherry).
Ressalva especial, ainda, para uma cena com George na reta final do filme, que chega a mostrar o domínio de linguagem que Kubrick tinha, mesmo sendo tão novo:
Quando todos estão no quarto, esperando que Johnny chegue com o dinheiro, observe como Kubrick representa o nervosismo de George em contraste com a calma dos outros integrantes. George, que se move de um lado para o outro, tem suas mãos sempre próximas da câmera. É no inquieto movimentar de dedos de George, somado a sua movimentação de um lado para o outro (que serve também para mostrar as falas dos outros personagens), que Kubrick traduz a ansiedade de George, que se confirma (ou, ainda, se explica) quando este questiona o atraso de Johnny. Assim, Kubrick evita diálogos super explicativos (que ele odeia, por sinal), conseguindo traduzir perfeitamente a situação sem trilha sonora ou diálogos excessivos.
Ela
4.2 5,8K Assista AgoraHer é impressionante. Chamá-lo de sensacional já seria válido se simplesmente analisássemos o caráter crítico do enredo, que trata da natureza do ser humano de se tornar solitário, visto que o relacionamento com o outro é difícil, desafiador e conflitoso. Por isso o homem foi, através da possibilidade vinda do avanço tecnológico, afastando-se cada vez mais dos relacionamentos, com jogos que simulam a vida real de uma mãe ou jogos que exploram um mundo criado e possibilita a interação com ET's (no caso, uma criança), simulando a interação que os humanos deveriam ter com si mesmos.
Note que a trama não se trata de como a tecnologia muda o homem. Não. Não é a tecnologia que muda o homem, mas é ela que possibilita a realização de seu afastamento natural. E isso cresce até chegar a um completo isolamento relacional, quando esta tecnologia fornece uma inteligência artificial a qual, ao mesmo tempo que substitui qualquer forma de interação, também é majoritariamente não-conflituosa, não questionando, não discordando e, quando há brigas, certamente o SO fará as pazes calmamente depois. O diálogo-chave da trama ocorre quando a esposa de Theodore o confronta, dizendo-o a verdade como um tapa na cara, que faz o espectador pensar:
"Ele sempre quis ter uma esposa sem ter os desafios de ter que lidar com coisas reais"
Mas Her não é só isso. Her não é só enredo e é por isso que esse filme é impressionante.
Por traz da trama, há uma direção e uma atuação maravilhosa. A começar pela forma de desencadear a história, já que o filme é, basicamente, um diálogo entre Joaquim Phoenix e um computador (logo, obviamente, só Joaquim Phoenix é filmado). A história se desenvolve ali e, todas as outras cenas são consequências do desenvolvimento obtido ali. É por isso que, em Ela, Joaquim Phoenix tem um peso semelhante ao do Tom Hanks em Naufrago. O sucesso ou não do filme depende se Joaquim Phoenix (junto com Spike Jonze) consegue prender o espectador em seus diálogos, que duram mais de uma hora. E ele conseguiu.
Outro aspecto interessantíssimo do filme é o uso da cor. Para comparação, não me lembro de outro filme que use as cores de forma tão significativa para a linguagem e narrativa do filme sem ser "Um Corpo que Cai", de Hitchcock (o que não quer dizer que ele é o único, somente que não me vem a memória ou que talvez eu não tenha assistido aos outros filmes). Além das cores do cenário, perceba que TODAS as cenas do Theodore são "previsíveis". Sempre que Theodore está apaixonado ou irá se apaixonar, ele usa um vermelho forte, colocando de vez em quando um casaco por cima ou acinzentando o tom da cor quando a cena é mais "triste". Do mesmo modo, temos para a alegria o amarelo, para tristeza o azul claro (ou outras cores frias) e para memórias distantes, o branco.
E isso segue metodicamente durante todo o desenrolar da trama, fazendo com que Her seja maravilhoso do ponto estilístico e crítico do ponto de vista ficcional.
O Gosto da Vingança
3.9 188Algo que venho notado nos filmes coreanos é como eles se utilizam do silêncio para construir a história. Não, o sentimentos de Sunwoo não ficaram "pouco evidenciados", deixando margem a interpretação. O olhar, as expressões faciais e o silêncio explicitam os sentimentos que nem mesmo o personagem, em primeira instância, havia descoberto. E esse método, quando bem executado, é belíssimo, pois requer que o espectador preste atenção nas cenas, e não somente nos diálogos, para que nelas e, somente nelas, entenda o ódio, o amor, a pena e a compaixão.
A bittersweet life chega a executar bem esse caminho, porém não o faz com perfeição, já que acaba por tornar o subentendido em óbvio com alguns diálogos, o que acho um erro no filme. Porém, nada que venha a prejudicar tanto (*coff coff como prejudicado nos recentes filmes do Spielberg coff coff*). Além, há quem diga que o protagonista não teve um bom desenvolvimento no filme. Concordo em parte, porém discordo plenamente quando apontam isso como um erro. O filme não teve esse objetivo. A trama não foi feita para ser complexa, sendo que inicia e termina com Sunwoo mantendo as mesmas características... E é assim que deve ser, já que o caráter do personagem é este: frio, calado, sério e mortal.
Linda também é a forma de filmar nas cenas de ação. O movimento da câmera, "estranho" aos olhos do cinema hollywoodiano, forma intensas e bem executadas cenas de ação, onde se consegue entender exatamente o que está acontecendo, sem perder o ritmo acelerado.
Por fim e, para mim, uma das coisas que mais gostei no filme: as grandes referências a Tarantino. O diretor brinca com algumas cenas de Kill Bill, havendo menção honrosa a cena de Sunwoo sendo enterrado vivo, que nos lembra facilmente de Kill Bill 2 e, por nos lembrar de tal, pensamos que no momento Sunwoo estende a mão para fora da terra, ele está livre e irá voltar para se vingar (como acontece em Kill Bill). Porém, logo em seguida, o diretor brinca com o espectador, mostrando Moon Suk esperando Sunwoo sair e o parabenizando pelo feito.
A Bittersweet Life não chega a ser um dos meus favoritos mas, sem dúvida, mostra a força do cinema sul coreano. Kim Jee Woon mostra ser capaz de produzir um filme de ação estilo "porrada" como há muito não vejo no cinema americano.
Corações de Ferro
3.9 1,4K Assista AgoraO filme é legal. Ponto. Não que o filme em si seja ruim, porém Fury pega uma série de fórmulas de filmes de guerra já pré-concebidas e as executa sem inovação/avanço algum. Uma equipe de 5 soldados, sendo um deles totalmente inexperiente e 'ingênuo', vão andando de cidade em cidade encontrando os horrores da guerra (lembra-se de O Resgate do Soldado Ryan?). "Matar ou ser morto", um dos 'pontos altos' do filme, também é um tema recorrente em filmes de guerras, como, por exemplo, o muito bem executado Nascido para Matar.
Comparar Spielberg e Kubrick com David Ayer é covardia? Sim. Porém, é por nem se poder comparar que, para mim, o filme é 'legal' e ponto final. O filme até apresenta bons elementos, como o Norman, que está lá justamente pra mostrar a transformação de uma pessoa normal (com quem o espectador se identifica) em um soldado durante a guerra. Recurso legal mas, como já disse, recorrente em outros filmes, não sendo nenhuma novidade, já que tal recurso não foi melhorado ou aperfeiçoado.
A direção de filmagem é simples, a trilha sonora não é nada de mais e as cenas marcantes não são tão marcantes assim. Todavia, o filme se sustenta com atuações consistentes e o auxílio de uma equipe técnica até que competente, visto que a cena de conflito final foi relativamente bem executada. Além disso, é interessante se contar a guerra no ponto de vista de um pelotão de tanques.
O Conto da Princesa Kaguya
4.4 802 Assista AgoraTerminar um filme do Studio Ghibli sempre é muito difícil. Sempre que vejo um, me seguro para não sair do sofá/cama. E o motivo não é que os ache massivos ou chatos. Muito pelo contrário: eles me fazem querer viver...
A alegria pura e ingênua que sinto ao assistir qualquer um dos filmes do Isao Takahata ou do Hayao Miyazaki me faz querer sair de casa e viver a vida. Sorrir, cantar, correr, aproveitar a natureza como as crianças ali estão fazendo. Onde foi que parei de rir pela mais ingênuas coincidências do dia-a-dia? Em que parte da minha vida foi que perdi o ânimo e a imaginação de uma criança de tornar o trabalho em prazer, em diversão, em brincadeira? Pela primeira vez em um filme do Studio Ghibli, pelo menos pra mim, esse pensamento foi um explicito tapa na cara.
O Conto da Princesa Kaguya é simples, mas profundo... Belo, mas triste. O Conto da Princesa Kaguya é um grito estonteante que diz: VIVA A VIDA! Afinal, que normas de vida são essas que nós impomos a nós mesmos? Por que fazemos coisas que não gostamos? Que felicidade é essa que procuramos? Que felicidade é essa, que se resume a "um chapéu de cortesão"!!!
Não seria melhor correr, e brincar, e se sujar, e viver feliz, mesmo que "passando fome e comendo raízes"? ... Sim, seria melhor! E é isto que este conto quer nos passar. Não deixe que você, quando souber que irá embora deste mundo em que vivemos, diga pra si mesmo: "Eu TERIA sido feliz...". Pelo contrário, SEJA! Não espere que seja tarde de mais para "correr o mais rápido que puder"... Corra agora!
Não se deixe enganar pela felicidade falsa que "roupas caras, lindas mansões,
boa comida" lhe prometem. Só você sabe o que te faz feliz, não o mundo, nem mesmo o seus amorosos pais, que tanto te amam. Só você sabe pelo que realmente vale a pena lutar e soar...
Para que quando você for para a "lua", quando você for para o "céu", você não tenha o semblante tristonho com os olhos lacrimejando da Princesa Kaguya, como quem "volta para o céu, mas deixa o coração na terra..." (como disse Rhayssa Dias, logo abaixo nos comentários). Mas que seu semblante seja alegre como o da "Pequeno Bambu"... E que você tenha convicção o suficiente para gritar: EU FUI FELIZ!
Mother - A Busca Pela Verdade
4.1 279Mais um filme sensacional de Bong Joon-ho. Me interessei por esse diretor (ou melhor, pelo próprio cinema coreano em si) após assistir a "Memórias de um Assassino", que também é excelente. Foi então que Mother, para mim, confirmou a grande promessa mundial que Bong Joon-ho é.
Se Memórias de um Assassino tem uma trama mais intrigante e um desenvolvimento mais intenso e sedutor, Mother, por sua vez, é destruidor em sua direção. O diretor se destaca já no início do filme, retratando lindamente a obsessão de uma mãe viuvá com seu único filho . Cenas como os dois almoçando (onde ela tira os ossos do frango, não deixando o seu filho nem mesmo comer sozinho) e quando ela 'cobre' os rastros de urina de Do-joon logo após dar a ele, na boca, a 'sopa' que ele havia esquecido de tomar... Tudo isso demonstra como a mãe não só cuida excessivamente do seu filho, mas encobre os erros dele. Mãe esta que se dedica tanto ao seu filho, que doa a si mesmo completamente, tanto que nem mesmo seu nome é revelado no filme... Talvez pois ela nem mesmo nome mais tem: tornou-se um nada ao dar tudo o que tinha, até mesmo sua identidade.
(Logo mais, descobriremos que, talvez, essa obsessão seria proveniente de uma sensação de culpa por ter tentado matar seu filho no passado - somado, é claro, com o fato óbvio de ele ter problemas mentais)
Menção honrosa, também, à angustiante cena em que a mãe invade o quarto de Jin-tae. Bong Joon-ho mostra o plano aberto já no início (como faz diversas vezes no filme). Assim, você identifica todos os elementos do quarto, inclusive as diversas garrafas no chão. Garrafas estas que, a princípio representa a personalidade desleixada de Jin-tae, logo mais se tornara um objeto impressionante de apreensão. A angústia que passei naquela cena me lembrou até dos filmes de Hitchcock. Fiquei louco com a tensão dos pequenos passos entre as garrafas até que uma delas derrama no chão e, então, observei a água lentamente escorregar, com a sensação de que fosse eu ali, tentando fugir.
Por fim, se eu fosse definir esse filme em uma palavra, essa seria "delicado". Mother é de uma delicadeza enorme. A forma como se dirige, o cuidado com cada detalhe, com cada forma de filmar, cada atitude e objeto na cena, é impressionante. Para se captar tudo isso, precisa-se de atenção. Um espectador descuidado pode não aproveitar o filme, o achando massivo, se não captar isso. Afinal, Mother transmite muito mais beleza e conteúdo através da direção do que do diálogo ou do enredo. É preciso observar o que cada forma de filmar e ação do personagem representa para a sua personalidade, já que os diálogos são breves e muitas vezes dispensáveis. Isto, para mim, é que faz Mother ser simplesmente fantástico!
Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
3.8 3,4K Assista AgoraO texto a seguir é GRANDE, e contém SPOILER. Grande, principalmente, pois escrevi pra mim, para pensar sobre o filme e, então, tirar conclusões sobre ele.
Birdman é fantástico. A crítica escancarada à obsessão pela glória foi acompanhada de belíssima fotografia e montagem, atuações lindas e roteiro sensacional. Iñárritu, que já havia feito bons filmes em Babel e 21 gramas, acertou em cheio em Birdman.
A começar pelo elenco. Michael Keaton e Edward Norton não foram escolhidos ao acaso. São todos atores que vivenciaram o tema central da trama, ou seja, fama através da interpretação de super-heróis (Keaton -> Batman, Norton -> Hulk). Keaton, principalmente, pois viveu Batman pela última vez há 22 anos, tendo, portanto, uma ligação direta com Riggan Thompson.
Mas a genialidade não para por ai. Os personagens são minuciosamente pensados!
Riggan, um infeliz artista que vive o fim de uma carreira baseada em um único papel (tido como superficial no filme), vive uma constante procura por aceitação, por prestígio, já que confundi prestígio com amor, felicidade.
Há também Mike, um artista talentoso e egocêntrico, mas vazio. Mike não possui emoções, personalidade, por isso as forja. O personagem de Edward Norton mesmo o diz, em sua conversa com Sam: "Eu não finjo no palco, já lhe disse. Finjo em quase qualquer lugar, menos lá". Ele é incapaz de ser verdadeiro quando não lhe colocam um script indicando quem ele deve ser, pois ele mesmo é oco. Por isso, então, que ele é capaz de ter uma ereção no palco, mas tem medo de broxar na vida real.
Pra terminar, temos Lesley. Uma personagem feminina, que aos olhos do público, pode ser visto como símbolo de sucesso, mas que por dentro sofre uma profunda crise. Lesley é uma pessoa que não tem autoestima. Sempre sonhou em ser atriz na Broadway, mas para que conseguisse se sentir realizada, precisou de que alguém a elogiasse. A personagem de Naomi Watts não consegue se auto-valorizar, ela precisa que alguém a valorize, que a perceba, para que assim alcance o respeito próprio.
Todos esses três personagens dilaceram a nossa visão das celebridades. É comum que todos nós pensemos que os famosos sejam felizes, realizados. Celebridades teriam a vida de deuses. Não sentem dor, não sentem angústia, não ficam tristes ou ansiosos. Eles tem poder... Mas que poder? O tal "poder" seria 50.000 visualizações por uma ereção? Ou 350.000 por andar de cueca na rua? "Um gato brincando com um vibrador teria mais do que isso!", como disse Riggan Thomson. Isso NÃO é poder e muito menos felicidade. As celebridades retratadas no filme são muito mais infelizes que o público. Daí, talvez, venha o significado do segundo título: A inesperada virtude da ignorância. Ser famoso não é uma benção. Pelo contrário, a verdadeira virtude está em não ser conhecido.
E então, como toque final do filme, temos a fotografia. Iñárritu e o diretor de fotografia Emmanuel Lubezki (que também fez Gravidade), deram a obra a condição de "completa". A fotografia, quase que sem cortes, com vários movimentos elípticos, nos coloca imersos na trama como se fôssemos um personagem-observador invisível. A falta de cortes proporciona também ao filme similaridade com o teatro (portanto, uma metalinguagem) e, ainda, transmite a nós, telespectadores, a ideia do estresse constante, ininterrupto, que o protagonista é submetido, até que este chega ao colapso.
O foco nas atuações, nos rostos do personagens, nos faz sempre lembrar que aquilo tudo é falso (pois essa mesma atuação é vista no teatro, e os sorrisos lá interpretados são constantemente interrompidos nos bastidores). O filme Birdman deixa claro não ser uma história real, mas, paradoxalmente, tenta retratar a realidade.
Memórias de um Assassino
4.2 366 Assista AgoraAchei o filme genial. Memórias de um Assassino me fez se interessar pelo cinema sul coreano. Por que? Talvez porque o que mais gostei no filme foi sua completa antítese ao estilo americano de filmes de investigação.
Memórias de um Assassino não contempla a história de investigadores bem treinados, equipados com altas tecnologias. Nada nesse filme é idealizado. O filme é sobre uma cidadezinha de interior, onde o detetive mal consegue ler, as pessoas invadem as cenas do crime e destroem as evidências, o suspeito escapa porque o carro enguiçou...
Isso torna tudo mais real, palpável, humano. Humanização, essa é a palavra para os personagens dessa trama. Eles são humanizados! Eles tem emoções, a ponto de utilizarem de violência, não por corrupção, mas porque erram, explodem! Se deixam levar cegamente pela ideia de que estão sempre certos...
Eles tem personalidade. E uma personalidade que vai mudando quanto mais profundo os detetives se envolvem com o caso. Isso é o mais interessante do filme. Observar que, ao final, conforme os detetives foram se aproximando, cada um foi absorvendo as características do outro...
Frenesi
3.9 272 Assista AgoraHitchcock é um mestre. Não há dúvidas. Poucos se igualam a ele na arte de criar suspense (na verdade, meu fanatismo me faz pensar que nenhum se equipara). Porém, Frenesi não trouxe nada de novo ao legado de Hitchcock. Isso faz o filme ser ruim? Aos olhos de muitos, talvez. Para mim, jamais!
Frenesi é um filme com várias pitadas, vários elementos, dos filmes passados de Hitchcock. A começar pela história, sendo surpreendente como o filme consegue lhe dar suspense, mesmo apresentando o assassino nos primeiros 30 min do filme. Semelhante à "Disque M para Matar", o suspense está justamente em observar como é difícil para um investigador (ou aparentemente impossível) chegar a verdade, mesmo ela estando tão próxima.
Além disso, a fotografia é brilhante. A cena final demonstra muito isso. Filmar os passos, a mão no corredor, o rosto, tudo isso faz ficarmos nervosos pois o medo, a ansiedade do personagem, é transmitido à nós. Sem falar das cenas em que as vítimas são mortas, sempre mostrando o prédio e não o ato em si (difícil explicar com poucas palavras, quem viu se lembrará com mais clareza).
Hitchcock mostra que não é necessário efeitos especiais e ambientes escuros para se criar suspense, medo, ansiedade. A cena entre Brenda e Rusk é tensa por sua longa duração, o que nos deixa apreensivos quanto ao destino de Brenda. Somado à isso, a trama também se torna leve, com situações cômicas muito bem inseridas, como à do Rusk no caminhão de batatas e a da esposa do investigador, sempre lhe servindo pratos pitorescos (pra não dizer nojentos).
Frenesi, um filme que não pode ser considerado revolucionário, mas que recebe a marca do Mestre!
Donnie Darko
4.2 3,8K Assista AgoraDonnie Darko é daqueles filmes que podem ser apreciados na primeira vez que for assistido, mas impossível de se entender sem revê-lo. Ao final do filme, mesmo com muitas perguntas e anuviadas respostas, já tinha a certeza que este filme entraria nos meus favoritos.
E isso, pelo menos, é fácil de explicar: Donnie Darko é um filme que, apesar de ter uma história profundamente baseada em princípios físicos "fictícios" criados pela "Grandma Death", também envolve em segundo plano uma trama onde se critica o modelo escolar e a alienação (ambos pela prof. Farmer), a hipocrisia (Jim Cunningham), etc. Tudo isso com a típica história de romance adolescente americana, com direito a valentões e tudo mais.
A junção entre física, crítica a sociedade e romance de sessão da tarde em Donnie Darko é que o torna tão especial, na minha humilde visão. Essa mistura foi sutil, estranha, mas perfeitamente executada, permitindo você ter carisma pelo personagem sem entender bulhufas do que realmente estava acontecendo.
Esse post, como percebido, foi grande, mas sem intenção de explicar nada. A explicação para Donnie Darko é tão rica que não pode ser mensurada em um post no filmow. Aos que tiveram paciência de ler até aqui, fica a minha dica de site pra melhor entendimento da obra: http://www.donniedarko.org.uk/introduction/
Holy Motors
3.9 652Esse comentário é ENORME e CONTÉM MUITO SPOILER. NÃO O LEIA SE NÃO TIVER VISTO O FILME. Tenta retratar uma das várias interpretações possíveis do filme.
Quando terminei de assistir ao filme, só tive uma "certeza": o protagonista é um ator. Todos os compromissos seriam "atos", em que as "câmeras eram tão pequenas que pareciam que nem estavam lá" e, quando dentro da limousine, seria o único momento em que ele não estava atuando "no filme" - afinal ela seria o "motor sagrado" (Holy Motors) que o transportava de cenário à cenário.
Então tive que pesquisar. De fato, Holy Motors é uma "homenagem" (ou crítica) ao cinema. Crítica ao cinema do século XXI, que logo no início do filme é retratado quando o próprio diretor Leos Carax abre uma "porta" em seu quarto e vê uma platéia indiferente perante as cenas de ação rasas que marcam o cinema atual. O cinema não daria mais emoção, sentimento, aos que o assistem.
Conhecemos então o protagonista, Monsieur Oscar, que representa um ator experiente e, talvez, o último que exerça sua profissão pela "beleza do gesto". O mundo seria um grande palco, em que tudo parece ser verdadeiro nas não é real (vemos Oscar se maquiando para cada ato, morrendo várias vezes e, talvez a parte mais importante, vemos que os outros também não passam de personagens atuando - como a mulher que chora pela morte de seu tio). Mas o que mais nos intriga é para qual platéia essas atuações são realizadas. Para quem? Aquilo será mostrado? As atuações virarão filmes? O diretor não nos conta, e é nessa ausência de respostas do que e para quem são os atos que se encontra a subjetividade do filme e talvez à parte mais profunda dele.
Oscar, em um dia, fez "um desfile de pequenas histórias" de drama, ficção científica, musical, ação, violência. Cada um com seu gênero, cada um com sua peculiaridade, cenário, trilha sonora e ritmo que nos faz crer que sejam reais! Criamos 9 mundos em um único filme, cada qual girando em torno se suas próprias leis. Isso seria o cinema: a criação de um universo que, por mais estranho e anormal que seja, torna-se possível e verdadeiro.
Mas essa "arte" estaria para morrer. A cena final, talvez a mais confusa do filme, nos revela. Os "motores sagrados" do cinema (as limousines) que produzem ARTE ficariam enferrujados e iriam para o ferro velho. Por que? Porque ninguém mais quer saber de motores. Ninguém quer mais saber de "ação" (alusão a palavra dita quando se dá inicio a uma atuação - muito vista em desenhos com aquela característica plaquinha). Eles se tornaram obsoletos!
O Lobo de Wall Street
4.1 3,4K Assista AgoraPeço perdão pela extensão do comentário, mas...
Não é a primeira vez que Martin Scorsese trata da ganância, da ascensão social em detrimento da degradação da vida social. Apesar de não ter como base Wall Street, o diretor já tratou desse assunto em Touro Indomável e Goodfellas que, não desprezando o filme "O Lobo de Wall Street", ficaram muito melhores (afinal, alcançaram patamares de clássicos, filmes excelentes). Além do que, tratava o assunto de forma muito mais profunda - agora Scorsese opta por um desenrolar mais cômico (basta ver o elenco).
Não é atoa que O Lobo de Wall Street não ganhou o Óscar. Apesar de imensamente bem dirigido (Em plena sociedade do rápido e descartável, Martin Scorcese transformou um filme de 3 HORAS em um grande sucesso!), o tema não é novo e, talvez por isso, o final é um pouco previsível (principalmente pra quem já viu Goodfellas). Mas isso não abafa a grandiosidade da parceria do Martin Scorsese com Leonardo DiCaprio, mostrando a versatilidade dos dois artistas, que juntos já fizeram filmes de "Ação" (Gangues de Nova York), Drama (O Aviador) e Suspense (Ilha do Medo)... Todos sucessos de bilheteria e qualidade!
12 Anos de Escravidão
4.3 3,0KFotografia do filme foi perfeita para o objetivo. Em várias cenas temos a câmera, focalizada por um período, mostrando somente o rosto e as emoções de Solomon Northup... O diretor queria mostrar que negros também tem sentimentos. Sim, eles sofreram! Eles choraram! Eles desejaram a morte a vida... A escravidão vai muito além do capítulos de um livro de História. Estamos tratando de humanos ali, e não de estatísticas...
Como disse Brad Pitt para o Epps: "Suponha que a lei é reformada e lhe tirem a liberdade lhe transformando num escravo. Suponha". É isso que o filme quer que você faça, que você se coloque na pele de um escravo e sinta o tamanho da brutalidade que a humanidade cometeu no passado.
"But I dont wanna survive... I wanna live." - Solomon Northup
Gravidade
3.9 5,1K Assista AgoraA atuação de Sandra Bullock está incrível neste filme. A forma como foi filmada foi muito interessante. Muitas vezes em primeira pessoa, consegue transmitir, de forma bem real para quem assiste, a sensação do personagem (como ocorreu no início do filme, quando ela rodopeia).
Além disso, as trilhas sonoras incríveis (que nos momentos de desesperança parava, deixando como único som a respiração da Sandra Bullock, e era nesse momento que experimentávamos o "silêncio do espaço" - silêncio esse desesperador) e a fotografia dão um esplêndido cenário - que é o espaço. Receita também utilizada em 2001 - Uma Odisseia no Espaço (que vale a pena ser citado só por ser do mesmo tema, já que o objetivo dos dois filmes são completamente diferentes).
O filme, pra mim, pareceu um curta (apesar de ter uma tensão durante quase toda a trama). Não sei porque... Talvez seja porque tudo é tão lento de se fazer e difícil pra Dra. Stone.
Rede de Intrigas
4.2 360 Assista AgoraÉ impressionante como o filme consegue fazer tão bem críticas à respeito da TV e da própria população.
Pra mim, a mais importante parte do filme é o "O Show de Howard Beale". Por que? Porque Howard em seus pronunciamentos está falando conosco. Sim, com nós que estamos assistindo. Ele nos critica. Critica nossa maneira de pensar, e diz como tudo que nós pensamos vem dessa "caixa preta" chamada TV.
“Porque a única verdade que vocês sabem é a que sai dessa caixa preta. Nesse exato momento há uma geração inteira que nunca aprendeu nada que não tivesse saído dessa caixa preta! Essa caixa preta é seu evangelho. É a revelação máxima.”
E se tudo o que aprendemos e pensamos vem da TV, será que o que ela nos fala é verdade? A resposta está no próprio filme:
“Televisão não é a verdade. Televisão é uma porcaria de um parque de diversões! [...] Estamos num negócio em que a única coisa que importa é matar o tédio. [...]Nós te contamos qualquer coisa que você quiser ouvir. E mentimos sem remorso. [...] Nós vendemos ilusões. Mas não a verdade!”
E como nós respondemos à essa ilusão? A tratamos como ficção, reconhecemos o objetivo inescrupuloso (que é o simples lucro sem medir consequências) da televisão? Howard nos diz que nós somos alienados. Que seguimos ingenuamente todas as mentiras que a televisão nos diz... Inclusive o seu próprio show.
“Mas vocês pessoas, sentam na frente dela, dia após dia, noite após noite. [...]Vocês estão começando a acreditar até nas mentiras que estamos lhes dizendo nesse exato momento. Vocês estão começando a acreditar que a caixa preta é de verdade e que suas vidas são de mentira! Vocês fazem tudo que a caixa-preta manda vocês fazerem! Vestem-se como ela manda, comem o que ela manda... [...]Isso é uma alucinação coletiva em massa, seus maníacos! [...]Nós aqui dentro é que somos a ilusão!”
Outra referência ao modo de agir da televisão é a personagem Diana Christensen. Ela mostra o interior da tv. O que ela pensa, quais seus objetivos e como ela age nos bastidores
(representada exageradamente - ou não - pela decisão de assassinar Howard Beale no final do filme)
Rede de Intrigas não é filme para se assistir para fins de mera diversão. Você deve assisti-lo para pensar, refletir. Afinal, será que a mensagem que esse filme nos passa através da "caixa preta" é realmente verdade? Ou somente mais de umas das suas ilusões?
Invocação do Mal
3.8 3,9K Assista AgoraInvocação do Mal foi um filme que pegou um conjunto de "clichês" (o que por si só não é algo ruim), juntou tudo e conseguiu fazer um filme bom com uma pitada de criatividade.
Não é um filme que te dá susto, mas pode te dar medo. As cenas não fazem você "gritar", é quase como se você visse lentamente acontecer. Mas é ai que tá: a cada cena de terror, você fica mais fascinado, preso, aflito... E isso gera medo. Um medo diferente, um medo com uma grande parcela de ansiedade.
Somado a isso temos as expressões dos personagens (de literal terror), que foram muito bem feitas, e a forma de filmagem (chegam a filmar de cabeça para baixo) que imprimem uma agitação ao filme de forma bem feita.
Lincoln
3.5 1,5KÉ um ótimo filme. Não o achei nem arrastado, nem chato ou desinteressante, só com um ritmo diferente que muitas pessoas não estão acostumadas a ver (principalmente aquelas que só veem filmes hollywoodianos cheio de tiros e explosões). Lincoln não é um filme pra quem quer ver aventura, ação.
É um filme dramático, biográfico, que tem como um dos pré-requisitos para a boa apreciação de quem assistir ao filme um interesse, mesmo que mínimo, em política e também, é claro, na questão da escravidão negra. Não achei um filme longo (2h 20min tá na média ainda). Também gostei de como ele demonstra que até mesmo uma boa causa (abolição da escravidão), que transformou totalmente os EUA, só pôde ser aprovada e levada adiante através da corrupção e de caminhos "imorais".
"Um presente para você. A maior emenda do século XIX, aprovada através da corrupção, ajudada e instigada pelo homem mais puro da América."
Rocky: Um Lutador
4.1 848 Assista AgoraÉ um filme que passa uma mensagem de encorajamento muito grande. A mensagem de incentivo a se reerguer, continuar suportando e enfrentando todos os obstáculo é muito bonita.
Acho que essa é a razão de Rocky ter ganho o Óscar, e não Taxi Driver. Os EUA, em meio a Guerra Fria, não podiam eleger um filme que criticava e expunha as deficiências, as corrupções e a "sujeira" de seu país (o que é algo muito importante, e não desmereço o filme - muito pelo contrário). Eles precisavam de algo que iria levantar a moral e agitar os corações dos norte-americanos.
Eles precisavam de algo que passasse uma mensagem de esperança, e não uma mensagem de desespero.
Vanilla Sky
3.8 2,0K Assista AgoraCameron Diaz jamais me assustou tanto quanto nesse filme... Pra mim, seu único defeito é a atuação de Tom Cruise...
Não foi das melhores...