Bom, não sou muito fã de King Kong nem Godzilla, do Kong eu vi o filme original, o segundo original e o remake com Jack Black e Adrien Brody. Do Godzilla, só aquele filme de 1998 com trilha do Wallflowers e Jamiroquai e o Minus One recentemente que é uma obra lindíssima. Eu gosto, mas não sou fã. Dito isto, os filmes anteriores desse "monsterverse" que foi batizado, eu não vi nenhum, nem o Godzilla com a Wanda e o Pietro (sim sou marvete), nem o Kong Rei dos Monstros, nem o anterior que era o Kong vs Godzilla... fui bem virgem para esse filme, e peguei bem o bonde andando.
Portanto, não tenho muito embasamento para falar com propriedade sobre a franquia e os dois monstros, se foram bem representados, se o filme serve bem a história deles, se é melhor que o anterior, e por aí vai. Vou falar apenas o que achei assistindo o filme como uma pessoa leiga.
Em termos de CGI, luta entre os Titãs, a destruição das cidades, as partes de batalha mesmo, os monstros e tal, eu achei satisfatório. Teve boas lutas, algumas curtas demais, como contra o poderoso Tiamat, uma luta curta para um monstro tão temido, enfim... mas as lutas foram boas, bem feitas, bem coreografadas, bem criadas, me entreteve e foi o ponto alto do filme para mim, quando tinham os embates. O Kong em si, eu meio que não gostei muito de ver ele assim meio, super-herói, sabe discernir o certo e o errado com uma facilidade muito grande, e só consegue se comunicar 100% mesmo com a garotinha Jia, interpretada pela atriz Surda Kaylee Hotlle. O Godzilla, como eu não o conheço a fundo, achei muito estranho ele dormir no coliseu romeno, ao invés de ir pro fundo do mar ou algo assim... assim como achei estranha a interação entre ele e Kong, como se conversassem, aquela cena dele e do Kong pulando em câmera lenta pra enfrentar os dois vilões, eles parecendo uma espécie de Vingadores ou algo assim... sei lá. Eu os achei bem descaracterizados do que eu os conheço, apenas isso.
O roteiro em si achei bem fraco, bem morno, bem raso, apenas para dar uma desculpa para se contar essa história onde eles se juntam no final para enfrentar dois monstros que têm a fama de serem muito poderosos, e são derrotados em alguns minutos. Achei toda a trama bem clichê, bem desinteressante, não consegui me conectar com o povo Iwi, que estava nas terras não mapeadas pelos militares. Não gostei da personagem Jia (Kaylee Hotlle), eu vi que o filme todo ela sofre demais e faz caras e bocas de sofrimento, principalmente quando o Kong tá dodói e tudo... e aí quando ele tá bem ela abre o sorrisão, e fica contentona, isso é muito clichê de filmes noventistas com personagens mirins fracos... obviamente ela seria a salvadora da história inteira, eu não curti muito, bem preguiçoso a construção e resolução da história.
Assim como não gostei do resto do núcleo humano do filme, todos muito caricatos, onde temos Bernie Hayes um personagem mega caricato, o alívio cômico do filme que ao meu ver em nada acrescentou ao longa... temos o Caçador, outro personagem totalmente clichê, onde sacamos todos os movimentos dele no longa, também serve como alívio cômico, e ele até aparece no longa de uma forma bacana, é bem construído e tudo, mas cai num clichê eterno e chato. Ainda temos aquele famoso personagem que sempre morre no começo da jornada dos personagens ao tentar solucionar a questão do filme, dessa vez por uma pseudo planta carnívora... clichê. Eu vejo somente a personagem principal Dra. Ilene Andrews bem escrita, melhor posicionada no roteiro, apesar de ter falas bem clichês, e pouca profundidade na trama, de longe é a mais interessante, ou a única do filme.
Falando dos personagens, seus atores foram bem na medida do possível; Rebecca Hall (de Homem de Ferro 3) foi a mais esforçada e a que entregou a melhor performance do filme, gostei dela no longa, mas... ainda assim foi a mais esforçada e a mais dramática. Dan Stevens, de quem conheço da série 'Legion' (da FX/Marvel) onde fez David Heller, eu acho o Dan um ator sensacional, fora de série, sou muito fã do trabalho dele... mas nesse filme ele está bem clichezão, alegrão demais, como o personagem Caçador pede é claro, frases de efeito e tudo. Ele caiu como uma luva no personagem, é a cara dele mesmo, mas eu acho que ele começou bem o filme, foi bem apresentado, mas depois entrou numa espiral de comodismo que não curti muito... acho que muito por conta do diretor não cobrar muito do seu elenco. Brian Tyree Henry, que fez Bernie, para mim foi o mais fraco do longa, conheço Brian dos filmes 'Eternos' e 'Causeways', e ele é um ator ótimo, mas aqui realmente, eu não curti...acho que ele mais se divertiu do que interpretou.
A trilha sonora do filme foi apenas ok, sendo composta por Junkie XL (que tem um remix chato paca de uma música do Elvis Presley) e Antonio Di Iorio, acho que essa adição do Junkie XL deixou a música do filme meio plástica, não sei, eu não curti muito.
Os efeitos especiais são bons, satisfatórios, as cidades representadas no filme também ficaram muito bem em tela, apesar de uma cena de batalha entre os titãs na praia de Copacabana no Rio ter ficado meio esquisita, deu pra ver ali como fizeram o Rio em maquete em um dos frames... enfim... Muita ida e vinda no globo, toda hora o filme cortava para um canto do planeta, deu uma cansada em certos momentos, faz as coisas ficarem meio desconexas, menos coesas...
A verdade é que eu achei um filme bem meia boca, sendo que tecnicamente ele é muito bem feito, foi um trabalho muito bem realizado e construído e conseguiram entregar algo visualmente que agrada quem assiste. Mas em termos de história e ritmo de filme eu não gostei, achei bem abaixo, e a grande maioria dos personagens eu também não consegui gostar ou me conectar, a não ser a Dra. Andrews.
Na verdade este é um tipo de gênero que agrada mesmo os adeptos da cultura japonesa, envolvendo ali os kaijus, as brigas entre monstrengos gigantes, um pega pra capá da gota... só uma desculpa para os bichos caírem no murro, e destruírem tudo que veem pela frente, ou lutarem entre sim como foi o filme anterior que não vi. Nesse naipe, eu prefiro o Godzilla Minus One, que realmente foi um filmão acima da média com um roteiro matador e emocionante que tinha mais a mostrar e conversar com o público e me agradou muito e é mais a minha cara.
Baseado na obra de Barbara Abel, 'Instinto Materno' é o primeiro filme dirigido por Benoít Delhomme, que é um diretor de fotografia que já trabalhou em filmes como 'A Proposta', '1408' e 'A Teoria de Tudo'.
Do meu ponto de vista, o filme tem muito brilho mais por conta das suas duas protagonistas, Anne Hathaway e Jessica Chastain, duas atrizes que sou fã número 1, muito mais de Chastain devo confessar... Acho que 'Instinto Materno' é um filme bem 'Super Cine', bem modesto, com uma premissa muito comum, e com um desenvolvimento bem clichê. Isso não é um ponto negativo que faça o filme não ser agradável, longe disso, mas deixa o filme com uma leitura muito fácil pra quem já é cinéfilo, acostumado a ver diversos filmes, você acaba sabendo o que vai acontecer em grande parte dos acontecimentos. Ficava claro que algo aconteceria com os dois meninos, o trailer deixou bem evidente que o embate entre as duas seria o tom do longa... quando ficamos sabendo que o filho de Alice não podia comer biscoito de amendoim, pois tinha alergia e poderia vir a óbito, estava claro que mais a frente no filme, ele acabaria provando esse biscoito... você não apresenta um ponto em um romance/conto, para não explorá-lo mais a frente, sem falar em outros detalhes do longa que são facilmente lidos. O filme fica bem previsível, mas não nego que ele consegue envolver quem o assiste, é um bom suspense.
Achei a direção de Benóit boa, principalmente com as duas protagonistas e seus coadjuvantes, que foram seus maridos, interpretados por Josh Charles e Anders Danielsen Lie, ele rodou ótimas cenas de suspense, conseguiu extrair o melhor do talento de dos dois atores mirins, que foram muito bem no longa, e teve uma sequência de cenas satisfatórias para deixar o filme com um final bem emocionante, de deixar apreensivo que assistia no cinema.
Não vou comentar a fundo sobre Hathaway e Chastain, pois nem há necessidade, para mim elas estavam incríveis em seus papéis e foram a alma do filme, que girou praticamente em torno delas, e foram as que mais se sobressaíram nas cenas. O final do longa não chega a ser uma surpresa, mas confesso que enxergava ali um caminho satisfatório para o que foi apresentado, com uma saída condizente para os envolvidos... na verdade optaram por um caminho mais corajoso, que vai desagradar aqueles que consomem filmes buscando um final feliz e vão criticar a forma como ele se encerrou. Eu particularmente achei mais atraente esse final, porque combina com tudo o que foi apresentado e arquitetado, apesar de ser um final não muito comum para o público comum, mas ser um final muito visto em vários filmes do gênero.
Tecnicamente o filme é bem tocado, bem montado, tem um ótimo cenografia, temos figurinos muito bem criados, que são vestidos por Hathaway e Chastain, uma boa direção de arte, e uma edição muito boa, que não compromete o seguimento do filme. A trilha sonora também é competente, nada demais.
É um filme bem clichê como disse, onde dá para se imaginar quais serão os próximos acontecimentos, e acaba sendo apenas um suspense para te entreter em uma noite. Como disse, um filme bem Super Cine... mas gostei.
A diretora Kaouther Ben Hania ouviu uma entrevista de Olfa, a mãe das meninas deste documentário, na rádio sobre a sua história trágica com suas filhas, e logo ficou interessada em contar a história dessa família. Foi assim que surgiu a ideia de fazer este documentário.
'As 4 Filhas de Olfa' traz o relato de Olfa, que na Tunísia, teve 4 filhas, Eya, Tayssir, Rahma e Ghofrane, vivendo e crescendo na cultura Tunisiana, com suas crenças e culturas, com a religião como ponto forte na sociedade, e o uso de hijabs, e o fato de as mulheres entenderem que o corpo delas pertencem somente ao marido, que podem ter até quatro esposas, alguns costumes sociais que de décadas e décadas pelos lados muçulmanos.
Durante a infância e início de adolescência das meninas, depois de tanto viverem juntas, e aprontarem, flertarem com os meninos, brincarem, falarem sobre as questões sociais e sofrerem na mão da mãe, que impunha uma educação bem conservadora, ainda que com muito amor... Rahma e Ghofrane, as mais velhas, ao aceitarem de vez o uso dos Hijabs, acabam se envolvendo com o discurso mais radical dos muçulmanos, do país, onde elas acreditam que o país deve se libertar, seguir a vontade de Deus, que Deus quer que o país seja livre, livre da vida moderna, e tudo o que os mais extremistas acreditam. As duas resolvem fugir de casa e se entregar ao movimento, e fogem com homens que fazem parte desse movimento mais extremista, e que na verdade são terroristas, que atacaram muitos locais na Tunísia... e fogem pra Líbia e se casam com esses homens, e nunca mais voltam a ver sua família, por terem se entregado a outro estilo de vida.
O documentário mostra como a educação rígida de Olfa, pode ter influenciado suas filhas de se juntarem a esse movimento extremista, e como suas duas filhas que ficaram, Eya e Tayssir, estavam indo pelo mesmo caminho e por pouco não se juntaram às suas irmãs...
A diretora Ben Hania queria contar essa história, mas sentia que ter apenas Olfa e as duas filhas que ficaram não era o suficiente, não era a história como um todo, portanto contratou quatro atores para poder fazer as cenas que Olfa relatava. Duas atrizes fizeram as filhas que partiram, Rahma e Ghofrane, outra atriz para interpretar Olfa mais jovem, e um ator para fazer vários papéis masculinos que impactaram a vida da família.
O documentário é bem forte, as atrizes entraram nas personagens e vivenciaram em partes como foi ser educadas por Olfa, e sentiram a dor das irmãs em perder suas parentes e em como elas ainda se ressentem de algumas atitudes tomadas por sua mãe. O ator Majd Mastoura também se sente incomodado em um determinado momento do filme, que traz um momento pesado, mostrando a carga que toda a história tinha por trás.
É um filme muito interessante, ele pode confundir um pouco no começo, não ser coeso o suficiente para deixar você propenso a ficar imerso no que está acompanhando, mas a medida que ele avança, as coisas começam a ficar mais claras para quem está assistindo, e para quem gosta de documentários e outros costumes, acabará se tornando uma experiência bem satisfatória. Para mim, o melhor momento mesmo do filme é no seu 3º ato, onde temos algumas imagens reais, de arquivo, entrevistas de Olfa e as duas irmãs que ficaram, e imagens de Ghofrane, sua filha e Rahma na penitenciária. Muito pesado.
Para quem assiste no Brasil, fica o fato de acompanharmos outra cultura, social e religiosa, completamente diferente dos que estamos acostumados. Para quem gosta de assistir tudo e se interessa pelo o que acontece ao redor do mundo, vai encontrar uma realidade da qual já somos familiarizados de outros países da região, do continente em questão... não é nada que já não saibamos e tenhamos visto em outros documentários, filmes, tele-jornalismo e afins. Mesmo assim, é curioso notar esses costumes dos quais não fazemos parte e entendemos como algo errado, e é difícil para nós aceitarmos que esta é a realidade social do país e que não cabe a nós julgarmos a forma como eles são educados e no que acreditam, afinal de contas, se olharmos para nosso próprio quintal, temos questões a ser resolvidas, tão sérias quanto às deles. É um debate amplo, que requer muito bom senso, onde não entra em questão, é claro, o lado extremista, os terroristas que são mais fanáticos, que está completamente fora de debate.
Eu gostei muito de ter conhecido a história de Olfa e suas 4 filhas, e por mais que Olfa tenha defeitos gritantes que são imperdoáveis (ou não), é impossível negar o quão forte foi essa mulher durante toda sua vida e que no fim das contas ela criou suas filhas com muita dignidade e afeição. Igualmente digo sobre suas filhas, Eya e Tayssir, as que ficaram, que são as que dá para falar, elas são duas mulheres Lindíssimas, educadas, que pensam um pouco a frente da mãe, possuem personalidade, e querendo ou não foram bem criadas na medida do possível. São meninas que merecem tudo de bom que a vida pode oferecer, uma vez que já sofreram tanto desde a infância, e sofreram MUITO, coisas que apenas mulheres mesmo são capazes de vivenciar. As atrizes foram ótimas, e Naou Karoui e Ichraq Matar que fizeram Rahma e Ghofrane, respectivamente, em um certo ponto do filme, para mim pessoalmente, parece que eu estava assistindo as verdadeiras irmãs, e não duas atrizes, principalmente quando há um debate entre Naou e Olfa, e é tão verossímil, Naou entrou tanto no personagem, que parece uma discussão real de mãe e filha.
Boa trilha sonora e uma boa direção de Kaouther Ben Hania, que teve muitas dificuldades durante a produção do documentário e enquanto filmava também.
O filme foi indicado a Melhor Documentário no Oscar, no Spirit Awards, no César Awards e Gotham Awards; Além de ser indicado ao Festival de Cannes para o Palma de Ouro, o Prêmio do Júri e o Grand Prix. Destas Indicações, Kaouther levou o prêmio no César Awards, no Gotham Awards e no Spirit Awards, 3 prêmios para um trabalho muito bem feito e uma dedicação absurda para contar uma história tão forte com tanta dor e ressentimento envolvido.
(Assistido em 29/03/2024 - Cine Instituto Moreira Salles)
'Brinquedo Assassino 2' deve ter sido um dos filmes que mais vi do Chucky até hoje, e também o que mais via na infância... quantas vezes eu não aluguei esse filme na locadora, e quantas vezes eu o vi no SBT, seja no 'Cinema em Casa' ou no 'Tela de Sucessos'... ou até mesmo no 'Corujão' da Globo.
Revendo, como preparação para a série de Chucky, pela enésima vez, sempre me diverte e me entretém, mesmo sabendo como será cada morte, sabendo exatamente o que vai acontecer, e sabendo cada fala do filme.
Puro blockbuster dos anos 80, mesmo o filme tendo sido lançado no ano de 1990, não dá para cobrar coisas sérias da obra, nem um roteiro mais enxuto... não dá para cobrar mortes mais convincentes, porque um boneco contra uma pessoa é só a pessoa meter um chute e por aí vai... isso aqui é entretenimento, é cinema, é fantasia, o ponto é entreter e contar uma história, e não retratar fielmente se existisse um boneco demoniado e como seriam as mortes de verdade na vida real. Recado dado.
Comparado ao primeiro filme, a sequência é boa, mesmo achando o primeiro filme mais envolvente, num ritmo muito mais bacana, e com uma história mais coesa. Nesse segundo filme, a nova família de Andy não tem aquele carisma todo, os dois atores até tentam trazer esse carisma para seus personagens, mas como eles são passageiros, ficou aquela coisa meio leite com toddy...(falando nisso toddy melhor que nescau) As mortes que acontecem no filme, que Chucky comete, são bem feias, mas aquela da Sra. Kettlewell ficou bem censurada, isso está na cara (ou na tela), e ali deu pra perceber que certas liberdades, não podem ver a luz do dia, pelo menos naquela época... é tipo assim, "com o boneco a gente pode pegar pesado, as crianças vão adorar, mas com as pessoas, não pode ter sangue explícito e nem cena explícita." Até no primeiro filme as mortes humanas tinham um limite, e aqui não foi diferente... o único que deu uma passada do ponto e até surpreende, foi o funcionário da fábrica de 'Good Guys' que teve olhos de bonecos enfiados em seus olhos... olhando pela ótica da época, impacta.
A atriz que fez Kyle, Christine Elise, foi muito bem no filme, eu particularmente gostei muito dela no filme, e igualmente Alex Vincent que retorna como Andy e esse menino era um ator mirim de outro nível... até hoje não pesquisei se à época ele chegou a fazer mais produções... porque bom, ele era.
Mas é um bom filme, até hoje diverte, e deve prender a atenção do público que só quer um entretenimento com mortes e tal, porque terror, terror, 'Brinquedo Assassino' não é mais, sendo que na época ele era categorizado assim, mas hoje em dia o gênero mudou tanto, que acredito que os longas já não entram nesse quesito... os filmes à partir de 'A Noiva de Chucky' que o digam.
Dirigido dessa vez por John Lafia, que escreveu o roteiro do primeiro filme, e produzido, óbvio, pelo criador da franquia Don Mancini e David Kirschner, foi filmado ao mesmo tempo que o terceiro filme, sendo que os dois filmes foram lançados no cinema com intervalo de meses.
Agora umas curiosidades sobre os pais adotivos de Andy: A mãe, a atriz Jenny Agutter, além de ter feito o cult e clássico Darkman - 'Vingança Sem Rosto', como bom Marvete que sou, ela foi uma dos membros do conselho de segurança nacional que apareceu nos filmes 'Vingadores 1' e 'Capitão América O Soldado Invernal', aquele conselho com quem Nick Fury conversava, a única mulher do conselho era ela... soube disso somente agora. Já o pai, o ator Gerrit Graham, já participou de um episódio das icônicas séries 'Anos Incríveis' e 'Lois & Clark - As novas Aventuras do Superman', e fez o personagem Ace na franquia que eu amo, Loucademia de Polícia, no sexto filme.
Quem diria que os Guardiões da Galáxia iriam alcançar esse status todo mundo afora, uma vez que eles eram do 5º ou 6º escalão da Marvel e tiveram um certo protagonismo apenas nos anos 80 com sua revista mensal. Quando comecei a ler quadrinhos, conhecia a Gamora, o Drax, o Warlock, Senhor das Estrelas, pela saga 'Desafio Infinito', e nessas sagas galácticas é que fiquei sabendo da existência dos Guardiões e de Rocket e Groot... mas quando o primeiro filme saiu, eu sequer tinha referência deles, sequer tinha lido uma história do grupo, só os conhecia soltos em grandes sagas. E hoje... Guardiões da Galáxia tem tanta relevância quanto os Vingadores u Homem-Aranha. Quem diria...
Pra mim, o primeiro filme deles é matador, uma obra sem igual de James Gunn, o filme definitivo do grupo, 10 de 10. O segundo filme é ótimo, tem uma abertura perfeita com Baby Groot, possui um ritmo legal, mesmo pecando ali e acolá em alguns segmentos... possui um final muito emocionante que pega qualquer espectador. Este terceiro filme, que encerra a saga dos Guardiões no cinema, tem um diferencial perante os outros dois, conseguindo dar tempo de tela suficiente para cada membro do grupo poder ter seu protagonismo... afinal é um encerramento para cada um deles, e tirando o Groot, que não tem muito a ser aprofundado, todos tem ali sua questão pessoal para resolver, seu momento de tela para lidar e aflorar isto, e por mais que o filme seja mais sobre Rocket, todo mundo ali consegue ter o seu momento.
Achei muito justo esse espaço que James Gunn deu para os animais no filme, levantar um pouco esse lado dos maus tratos aos animais, que acontecem em tantos laboratórios mundo afora, que fazem testes e mais testes, levando esses anjos a óbito e maltratando e os fazendo sofrer em nome da medicina ou seja lá a bobagem que eles querem vender. Sem mencionar os animais que já são maltratados aqui no Brasil, judiados, envenenados, abandonados, atropelados, invisíveis e por aí vai... quem sabe uma abordagem como essa, que fez James Gunn fez, possa quem sabe fazer certas pessoas a mudar sua visão para os animais de uma forma geral, o que acho bem difícil, mas enfim...
Gunn deu um final para Peter, onde ele finalmente volta para casa, para a Terra, agora que ele não tem mais Gamora, não tem mais seu pai biológico, ganhou uma irmã, foi um final mais burocrático, mas satisfatório para o personagem. E realmente achei que ele iria dessa pra melhor quando ficou inchado no espaço... tinha certeza absoluta, mas...
Nebula foi a personagem que mais cresceu de todos os Guardiões, seja com Gunn, seja com os irmãos Russo nos dois filmes dos Vingadores... e aqui ela tem um ar de líder maior que Peter, apesar de ele ainda dar as cartas. De vilã, a dependente de uma irmã, até ser heroína de fato, seu arco é dos melhores, se não o melhor de todo o MCU. E que grande atriz é Karen Gillan, sou fã demais dela, lindíssima também, e uma atuação sem igual em todos os filmes que Nebula apareceu.
Mantis é outra que cresceu bastante neste filme, sendo que Gunn deu mais protagonismo para ela, para poder lidar com seus poderes e sentimentos com tudo que a cerca, sem focar apenas no besteirol que ela criou com Drax. Outro grande atuação de Pom Klementieff, super atriz que assim como Karen, deu uma personalidade ímpar a sua personagem.
Drax foi mais do mesmo, teve um final comovente, convincente, mas eu confesso que acho que James Gunn perdeu um pouco a mão do personagem, que só é interessante no primeiro filme... depois virou o bobo da corte com suas falas engraçadas e por aí vai. Isso explica muito a vontade de Dave Bautista largar logo o personagem.
Bradley Cooper volta como Rocket, com seu trabalho mega competente em dar voz ao personagem da forma mais emotiva, sincera e verdadeira possível. Dos três filmes, mais Vingadores, o curta e Thor 4, aqui é seu melhor trabalho vocal sem sombra de dúvidas... a aceitação em ser um Racoon, e ter toda sua origem contada para definir de uma vez por todas o personagem, mesmo que tenha sido uma origem bem clichê, ainda é emocionante e bem construída. E seu parceiro Groot, dublado por Vin Diesel, tem aquele final onde ele diz "I Love You Guys", que eu vejo de uma forma, onde o público (nós) agora fazemos parte daquela família, depois de toda essa jornada, e a coroação disso é entender o que Groot fala. O 'I Am Groot' que ele verbaliza, sempre diz algo, mas só que convive com ele consegue entender, por isso Steve Rogers ou a nova Gamora não entendem, mas quando você realmente convive com ele e é aceito por ele, fica natural o que ele está dizendo... e isso funciona conosco, sendo dessa forma que enxergo sua fala final.
Achei bem interessante a forma como Gunn colocou a nova Gamora neste filme, um contraponto não só para os Guardiões, e para o Quill, como para o público... essa é a Gamora que vimos lá no começo do primeiro Guardiões, e quem ela continuaria sendo se não tivesse se juntado ao grupo e se apaixonado por Quill... mas ela fica muito limitada a só ser uma anti-heroína, e pouco contribui para o desenrolar do longa, apenas sendo esse contraponto mesmo.
Porém, de todos os personagens do filme, o melhor em cena, com toda a certeza foi Chukwudi Iwuji, que fez o vilão Alto Evolucionário. A primeira vez que vi o Evolucionário, foi em um desenho dos X-Men, e tive um contato ali e acolá com o personagem, que tem uma ligação forte com as origens de Mercúrio e Feiticeira Escarlate. Neste filme ele tem outra pegada, mas não deixa de ser tão interessante quanto a dos quadrinhos, até melhor... a atuação de Chukwudi é matadora, ele foi muito feliz na construção do personagem. Foi ameaçador ao extremo, doentio, performático, sádico, foi tudo o que poderíamos esperar de um vilão que não se considera tal, acha que está fazendo um bem estar ao universo, se considera benevolente, mas age com um sadismo impressionante, entregando uma atuação de outro nível, muito forte, muito convincente, e muito catártico. Gostei demais dele em cena, um Ator com A maiúsculo, que fez um trabalho grandioso, e que merece mais papéis interessantes no futuro para poder mostrar mais desse talento gigante que ele tem. A contra-terra que ele criou, para seus animais conscientes, é uma referência a contra-terra criada por Franklin Richards, onde os heróis que pereceram na saga Massacre foram viver na saga 'Heróis Renascem'.
A ótima atriz Maria Bakalova, de Borat, volta para dar a voz ao cão Cosmo, e por mais que apareça no começo e no fim do longa, está bem divertida em seu embate com Kraglin (Sean Gunn), eles servem como uma espécie de alívio cômico, mas não tão espalhafatoso como Drax, é um alívio cômico inofensivo, é bacana de ver.
Quem não gostei mesmo no filme foi Adam Warlock, interpretado por Will Pouter... Will esteve bem, o lance não é ele, mas como James Gunn inseriu o personagem no longa. Em nada ele lembra o Warlock dos quadrinhos, um ser que nasceu para proteger e carregar a Jóia da Alma em sua testa e manter o equilíbrio do universo. Neste filme ele é só uma personagem que acabou de nascer e age feito uma criança que não sabe diferenciar as coisas, com frases cômicas de efeito e que não serve em nada para o roteiro do filme. Se ele não estivesse no longa, não faria falta, pois seu personagem não acrescenta em nada, apenas entrega um bom embate contra os Guardiões no começo do filme e só... não sabemos par quê ele está lá e nem o que está fazendo. Igualmente perdida está Ayesha, sua "mãe", interpretada pela premiada Elizabeth Debicki, a princesa Diana de 'The Crown', que nada serve ao filme, é uma das criações do Alto Evolucionário, perdeu toda sua pompa do segundo filme, e virou uma canastrona neste longa até perecer na Contra Terra de uma forma totalmente limada, escorraçada do roteiro. Dois desperdícios totais, e uma decepção grande com Warlock, que no MCU é apenas um personagem bobão, sem construção, sem aprofundamento, que não faz jus á sua contraparte original dos quadrinhos.
Fora a luta de Warlock com Guardiões no início, a cena onde os Guardiões enfrentam as criações do Alto Evolucionário, quando Rocket diz que está cansado de fugir, é as melhores cenas de luta do longa. Toda aquela sequência sem edição, muito bem coreografada, com cada um mostrando o que tem de melhor, quando está em batalha, é de fazer segurar o fôlego... muito bem dirigida e bem performada, se juntando como uma das boas cenas de luta com a cena inicial do segundo filme.
As músicas do longa, que sempre foram um ótimo adendo nos outros filmes, neste ficou um pouco mais largado ao vento...as músicas são ótimas, a maioria dos anos 90, mas não casou muito com o que o filme estava dizendo, não funcionou com as cenas, com os personagens... uma exceção foi 'Creep' do Radiohead com o Rocket, mas conforme o filme foi avançando, as músicas se faziam presente por se fazer... 'No Sleep Till Broklin' dos Beastie Boys, 'This is The Day' do The The, 'We Care A Lot' do Faith No More, são alguns exemplos de como não se encaixaram nas cenas em que foram usadas... Já outras canções como 'In The Meantime' do Spacehog e 'Do You Realize?' do The Flaming Lips, casaram bem com a cena e com o que ela queria passar... nos outros filmes, a trilha andava de mãos dadas com o roteiro, e na minha visão, aqui não esteve tão coeso assim. Muitos vão discordar de mim, mas aquele final com 'Dog Days Are Over' da Florence Welsh, com as crianças, o Drax, as dancinhas e tudo mais, eu achei bem, mas bem brega...gostei não.
Citando ainda mais alguns nomes do elenco, tivemos Linda Cardellini (de Dead To Me) fazendo a voz de Lyla, Daniela Melchior, Sylvester Stalonne, Michael Rosenbaum (O Lex Luthor de Smallville) e Natan Fillion (da série Castle, Desperate Housewives e Lost).
Foi indicado a Efeitos Visuias no Oscar e no BAFTA, obviamente não iria vencer com outros filmes com efeitos mais superiores...apesar dos efeitos aqui serem mais do que convincentes, é um deleite para os olhos o mundo intergalático que Gunn criou nos filmes dos Guardiões.
Foi um bom encerramento para o grupo nos cinemas, e mesmo assim James gunn deixou as portas abertas para eles no MCU, com uma formação nova dos Guardiões, liderada por Rocket, que seria muito bem vinda quando tivermos os futuros novos filmes dos Vingadores, onde eles poderiam se envolver, porque não. A cena pós crédito, onde Peter volta para a Terra, e nos é dito que teremos o retorno do 'Legendário Senhor das Estrelas', deixa um ponto de interrogação de como isso será trabalhado no futuro... uma série no Disney Plus? Uma participação em algum filme? Será deixado de lado magicamente?
Mas como eu já disse... quem diria que os Guardiões teriam essa relevância toda hoje em dia...
20 Dias em Mariupol foi o grande vencedor do Oscar de Melhor Documentário, tendo faturado também o BAFTA, sendo indicado ainda ao Gotham Awards e ao Satellite Awards.
Ainda não cheguei a assistir todos os documentários indicados, vi poucos na verdade, mas acredito que o prêmio está em ótimas mãos. O filme é indigesto, vai ser impossível você assistir sem fazer caras feias, sem se contorcer e ficar indignado com tantas atrocidades que foram registradas pelo idealizador do documentário Mstyslav Chernov, que na verdade é Fotojornalista, correspondente de guerra e agora, cineasta.
Dentro de suas 1h30 de duração, eu me contorci e virei a cara em muitos momentos do documentário na sala de cinema, pude ouvir pessoas cochichando sobre as coisas que viam, outras em profunda indignação, e muitas mulheres chorando com as desgraças que recaía em inúmeras pessoas inocentes que tiveram suas vidas e rotinas interrompidas por conta da ocupação russa ordenada pelo Presidente (reeleito vejam só), Vladimir Putin. De crianças, bebês com 1 mês de nascimento, idosos e idosas, pais de família, mulheres grávidas de oito meses, animais inocentes, adolescentes que jogavam futebol e tantas e tantas outras mortes, a indignação é o mínimo que se sente enquanto se assiste ao fatos documentados por Chernov. Muitas dessas mortes ou pré-mortes são documentadas e acompanhadas passo a passo por Chernov, e dependendo da pessoa que assiste, ou você se revolta com o que vê (que não é nada bonito) ou você evita de ver, por não ter estômago para testemunhar tal ato, como foi meu caso com a mulher grávida de uns oito meses... não tive coragem, e não dá nem pra mencionar o que senti na hora, não tem como nomear.
Acho que fica muito claro que qualquer guerra que aconteça, seja onde for, pelo que for, da forma que for, é um ato ridículo, desesperado que apenas alimenta o ego dos poderosos e visa encher suas carteiras já recheada de dólares, euros, yens, ou seja lá a moeda que for. O número de pessoas que perdem a vida, e isso eu digo enfatizando mais os civis, por conta de atos sem fundamento crasso algum, é ridículo.... você testemunhar o que essas pessoas passaram enquanto Chernov esteve cobrindo, ou depois que ele foi embora, o horror, o medo, a desesperança, o sentimento de não sabe como será o amanhã, se haverá amanhã, seus entes que você perdeu, sua vida que foi consumida por um regime autoritário, que visa somente a ganância e a demonstração de força... não se apoia tais atos, e faz você repensar a forma como se pensa do mundo, da política, dos costumes e tantos outros assuntos, pois a compaixão é um fogo que nunca se apagará no coração das pessoas de boa vontade.
Pra mim pessoalmente então, que sou apaixonado por animais e repúdio qualquer ser humano imundo que maltrata um ser vivo tão puro e necessário como eles (seja doméstico, seja silvestre), ver que eles também acabam sendo vítimas, obviamente desses ataques covardes, só aumenta meu profundo ódio por tais atos, por tais monstros, por tais pátrias.
Dito tudo isto, Chernov foi um verdadeiro herói ao cobrir tudo o que foi documentado... é humanamente impossível tentar salvar todos os que estavam sendo afetados, e mesmo tendo o sentimento de querer poder fazer muito mais do que está ao nosso alcance... somos (no caso, ele era) muito menor(es), face ao tamanho da catástrofe que estava sendo cometida a nação ucraniana. Imagine as atrocidades que estão sendo cometidas diariamente nessa guerra Israel-Hamas, onde somente os civis, as pessoas que estão vivendo sua única vida, estão pagando o preço por atos hediondos que beneficiam vocês sabem quem, e nem discussão cabe.
Pra quem não assistiu, assistam... tenham coragem, dói, machuca, revolta, mas é necessário... outras guerras ou acontecimentos ás vezes não ganham essa imersão que Chernov trouxe de Mariupol, que nos dá um pequenino vislumbre de como foi a investida russa na Ucrânia, e o que as pessoas estavam sofrendo exatamente enquanto nós víamos os noticiários e ficávamos com discussões vazias pela internet afora.
Esse é um bom especial de natal, com pouco mais de 40 minutos, trazendo aquele conto básico de natal norte-americano, aquela magia do natal que os americanos adoram contar... como na música que James Gunn escreveu e que abre o curta tocado pela banda 'Bzermikitokolok and the Knowheremen', (que na verdade são a Old 90's na vida real) : "Eu não sei o que é o natal, mas a época do natal está aqui".
A história é básica justamente por se tratar de um especial de natal, não precisa ter tantas firulas assim, é só pra aquecer o coração das pessoas na noite de natal, mesmo o especial tendo sido lançado no dia 25 de Novembro...
Kevin Bacon faz uma boa participação no curta interpretando ele mesmo, e teve uma boa química com Dave Bautista e Pom Klementieff. E sua participação no final tocando com a banda alienígena a canção 'Here it's christimastime' mostra que Bacon curte um bom folk, além de ser um bom músico.
Por falar em Dave Bautista e Pom Klementieff, os dois tiveram claramente uma ótima química no segundo filme dos Guardiões, e muito se falava se poderia ter um spin'off só com os dois... ou quem sabe uma participação maior no terceiro longa. Porém James Gunn aproveitou esse curta para dar um protagonismo maior para eles, sendo que eles fazem parte da trama com uma participação bem maior que os outros Guardiões, em sua vinda para Terra para sequestrar Kevin Bacon.
Gostei muito do curta, da sacada do James Gunn, em chamar o Kevin Bacon para participar, uma vez que ele é citado tão enfusivamente no primeiro filme como herói de Peter. E aí incluir mais algumas coisinhas que deixaram o conto mais verossímil.
Todo mundo volta neste curta, que ainda tem as vozes de Michael Rooker dublando Yondu na parte animada do curta, Vin Diesel e Bradley Cooper como a dulpa Groot e Rocky novamente, e ainda a ótima Maria Bakalova (de Borat 2) como Cosmo, o cão inteligente.
Aqui é um trabalho visado excepcionalmente para o público americano, englobando a cultura americana do natal... já é algo de tradição do final do ano lá termos contos nessa pegada, e esse tipo de narrativa não funciona aqui no Brasil... aqui é uma cultura, lá é outra. Muita gente já disse que é fraquinho ou bonzinho, mas nem dá para comparar, julgar ou criticar uma obra cultural totalmente americana que funciona lá e não faz parte da cultura daqui. São poucas as exceções que acabam funcionando aqui, como 'Esqueceram de Mim' e 'Beetlejuice' por exemplo, que são clásscios... mas nem 'O Grinch' conseguiu pegar muito aqui, então...
É bom apenas, bom assistir na para a época do natal.
Eu não sei se na época em que Diane Nyad estava tentando fazer este nado histórico, entre 2010 e 2013, eu ouvi falar sobre isto na internet ou em algum tele-jornal, não vou lembrar... por isso a minha surpresa inicial em saber que uma pessoas que passou dos 60 anos conseguiu realizar um nado tão perigoso e exigente como este com êxito, após tantas tentativas.
Apesar de seu feito, de nadar por mais de 52 horas de Cuba até Miami, ser histórico e uma superação absurda para alguém da idade dela, até hoje não foi reconhecida pelo Guiness Book por uma série de razões. Porém o filme não foca na quebra do recorde em si, e sim em focar em uma mulher que, mesmo estando na terceira idade, quer mostrar ao mundo que ainda está viva, que ainda é útil e que ainda pode. Mas pelo que vi no filme, não é bem para o mundo que ela quer mostrar essas coisas, parece que ela quer mais se convencer de que não é uma inútil, de que ainda pode realizar sucessos.. é mais para afagar seu próprio ego.
Como mostrado no longa, Diane era uma pessoa difícil, de lidar, de conviver, cabeça dura, teimosa, que pega no sentimental de quem está lhe cercando... isso não faz dela uma pessoa ruim, longe disso, afinal todos nós temos os nossos defeitos, só temos que reconhecê-los e não sermos hipócritas. Porém, Diane tinha muitas virtudes, sabia usar bem as palavras para convencer as pessoas a lhe seguir em sua caminhada para realizar o recorde. E muitas dessas pessoas, como Bonnie e Bartlett, precisavam de um frescor novo em suas vidas que estavam estáveis, ótimas, tranquilas, mas que enxergavam o potencial e a excitação em ajudar a realizar tal feito.
É claro que sua perseverança em conseguir ir de Cuba até a costa de Miami, em 5 tentativas dentro de, 3 anos? 4 anos? (coisa assim né?), é algo muito notável e serve de inspiração para todas as pessoas que acham que não podem realizar nada em suas vidas sociais. Tudo é possível desde que você se mova e comece algo, seja na quebra de recordes ou em qualquer aspecto da vida pessoal de cada ser humano. Nesse ponto, o filme cumpriu seu papel.
'Nyad' foi dirigido por Elizabeth Chai Vasarhelyi e Jimmy Chin, casal que produziu e dirigiu obras como 'De Volta ao espaço' e o ótimo 'Free Solo', e se basearam em um roteiro escrito por Julia Cox, encima do livro escrito e lançado por Diane. Acho o roteiro muito bem escrito, que deixa a história leve e bem solta para o espectador acompanhar sem se sentir cansado ou ofendido em algumas passagens. Quando digo ofendido, é explicar nos mínimos detalhes algumas motivações de Diane ou alguns aspectos de seu nado e quebra de recorde... é tudo muito simples e de fácil absorção pelo espectador.
A direção do casal é incrível, obviamente pelas cenas aquáticas, onde eles pegam Annette Bening debaixo em seus nados braçais, nas cenas onde ela delira enquanto está nadando, e nas incríveis cenas noturnas onde ela enfrenta uma tempestade e é muito verossímil aquelas cenas, elas fazem você entrar na quebra do recorde com Diane... como se você estivesse lá com ela dando cada braçada e se cansando junto e tentando juntar forças junto a ela. As demais cenas são decentemente dirigidas e passam uma boa imersão dos acontecimentos e favorece as duas protagonistas a brilharem em cena, assim como o coadjuvante Rhys Ifans como John Bartlett.
Nas atuações, achei Annette Bening, bem e comum no filme... ela foi ótima quando esteve dentro d'água, suas cenas são incríveis e ela passou uma imersão sem igual enquanto esteve atuando de uma forma cansada e alienada dentro d'água. Suas cenas com Jodie Foster também foram ótimas, as duas possuem química quando estão juntas em cena... mas no geral achei apenas decente, ganhando mais para o final do filme, onde fica uma atuação bem emocionante. Honestamente, não a indicaria ao Oscar, apesar de adorar ela como atriz, afinal ela é uma monstra em seus mais diversos filmes como 'Minhas Mães e Meu Pai', 'Beleza Americana' e 'Capitã Marvel'.
Jodie Foster sim eu já achei neste filme, um degrau acima de Bening... esteve perfeita no papel de Bonnie, soube dosar bem a dramaticidade de sua personagem com algumas passagens mais leves, um pouco cômicas. Esteve em sintonia com sua personagem, e acho que fez um trabalho muito competente com a Bonnie real, para poder representá-la da melhor forma em cena. A grande maioria das suas cenas são de destaque, em nenhum momento ela cai um pouco ou dá uma escorregada, ela está no controle da atuação o filme inteiro. Ela sim eu achei justíssimo ser indicada a Atriz Coadjuvante no Oscar.
Rhys Ifans (o Xenophilius da série 'Harry Potter' e do clipe The Importance Of Being idle do Oasis), fez John Bartlett e sua atuação foi na medida que a personagem pedia, achei ele com uma presença de tela muito boa, trazendo um pouco de dramaticidade quando Bartlett revela e Bonnie que está doente, e foi muito bem no filme... gosto muito dele, por razões óbvias, já que sou fã de Oasis.
Achei a trilha sonora ótima, complementando bem o trajeto percorrido por Diane de Cuba até Miami, crescendo nas cenas mais tensas e de dificuldade, e sendo mais sereno nas cenas mais densas e de conflito com Bonnie ou com Bartlett. Um trabalho competente do já conhecido e de quem respeito muito Alexandre Desplat, de quem virei fã nos filmes 'Desejo e Perigo' (uma obra prima de Ang Lee) e 'Benjamim Button', passando por 'A Garota Dinamarquesa', 'Godzilla de 2014' e 'Pinóquio de Del Toro'... esse homem já fez tantos filmes, mas tantos filmes, é uma máquina de composição, sou fã demais dele.
O filme recebeu apenas indicações de atuação nesta temporada de premiações: - Annette Bening foi indicada a Atriz Principal no Oscar, Globo de Ouro e SAG's Awards, perdendo para Emma Stone e Lily Gladstone; - Jodie Foster foi indicada ao Oscar, Critics Choice Awards, Globo de Ouro e SAG's Awards por Atriz Coadjuvante, perdendo todos para a arrasa quarteirão Da'Vine Joy Randolph.
è um bom filme 'Nyad', e ao meu ver, não tem nada demais nele, só uma boa e ótima história de se superar e enxergar que ainda tem lugar no mundo, e que ainda pode realizar suas metas pessoais... mas é um filme ok, bem dirigido e bem atuado. É competente. Esse ano realmente a Netflix não deu tanta sorte com suas produções cinematográficas nas premiações, pois tanto 'Maestro' quanto 'Nyad', que foram as obras mais visadas (Rustin foi pouco visado), não obtiveram sucesso nem no Oscar, nem nas demais premiações da temporada... tirando o Oscar para o curta de Wes Anderson, 2023 é um ano para a Netflix esquecer em termos de reconhecimento acadêmico.
São raros os filmes independentes que conseguem ser bem sucedidos, e furam a bolha do circuito onde eles são exibidos... o último caso foi o arrebatador 'Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo'. Porém 'American Fiction' foi muito bem sucedido, atingindo um número enorme de público, furando sua bolha, e conseguindo altas e ótimas críticas país e mundo afora. Aqui temos aquela trinco que eu adoro e respeito, produção, direção e roteiro, tudo feito por Cord Jefferson, que ainda teve ajuda de Percival Everett que é o autor da Obra Original, na qual o roteiro se baseia, como produtor executivo, e também teve Rian Johnson (de 'Knives Out' e 'Glass Onion') na produção executiva também, para ajudar-lhe ao filme ver a luz do dia.
'American Fiction' traz à tona aquela sagacidade para escancarar a hipocrisia social atual, onde o preto é visto fazendo apenas coisas temáticas que são consideradas de 'preto', como música de preto (Rap, Hip Hop, R&B), livros de preto (que sempre tem que ser pessoal, passando pelas suas dificuldades e precisa se passar no 'Guetho'), filmes de temática Preta, entretenimento para pretos, e tantas outras coisas que permeiam a sociedade atual. Um pouco dessa visão pode ser vista em uma fala de Jon Batsite no seu documentário 'American Symphony', personifica bem como a sociedade enxerga alguns aspectos artísticos relacionados a Pretos.
Vemos um texto muito cirúrgico e inteligente de Cord Jefferson para tratar desse assunto, onde Monk se vê encurralado em uma sociedade que não dá crédito a livros bem escritos, bem estudados, com fundo filosófico, com uma temática única, escrito por pretos... consumindo apenas aquilo que é genérico, uma representação, segundo ele vazia e sem fundamentos de situações e trejeitos e falas, já enraizados na forma de se representar uma escrita preta. Seja nas passagens do livro de Sintara, ou nas passagens do livro de Monk, temos ali um texto que facilmente você vê em filmes cômicos dentro da cultura preta, ou em séries que são protagonizados por pretos e se passam em bairros pretos americanos... ou até mesmo em esquetes cômicas que representem personagens pretos. E esse tipo de visão e também a adoração do público irrita demais Monk, e irrita muito mais ainda, quando ele resolve só de sacanagem, escrever um livro exatamente dentro dessa temática... e vira um best-seller absoluto, com direito a adaptação imediata para as telonas.
Foi um texto muito interessante de Cord Jefferson e bem prazeroso de se acompanhar em suas 2h de duração, ver esse embate de visões entre uma pessoa como Monk, que é contra essas ideias minimalistas de textos partindo dos escritores pretos, e a adoração do público comum a esse tipo de leitura, e uma pessoa como Sinatra que entende bem o que o público anseia e pretende lhes proporcionar esse tipo de entretenimento e leitura, adicionando um toque pessoal ao produto que está entregando às prateleiras... e até mesmo uma visão vista de fora, como a da namorada de Monk, Lisa, que possui o mesmo tipo de gosto que ele, mas que consegue enxergar positividades no livro que o próprio Monk escreveu, algo que ele considera mequetrefe.
No meio de tudo isso, Monk tem toda sua situação familiar, da qual ele tem que lidar, uma vez que só vivia afastado da mesma, e por um acaso do destino recai sobre seus ombros... e todo esse imbróglio que ele precisa dar atenção e tomar conta, não chega a ser tão diferente assim de algumas passagens que se encontram em algumas publicações das quais ele tanto crítica... ele, mais ou menos, vive aquilo que ele tanto abomina e/ou não respeita, chegando a ser um contraponto interessante.
Um dos momentos interessantes do longa, é justamente a conversa entre Monk e Wiley, o diretor/produtor que irá adaptar o livro de Monk, intitulado 'Fuck', para o cinema, e temos aquele final onde Monk sugere alguns finais para Wiley, deixando o público que está assistindo o filme (eu e vocês), ficarem questionando qual podeira ser o final do que estamos assistindo, qual é o mais apropriado... tirando aquele em que ele é baleado é claro, que foi o escolhido por Wiley, numa clara alusão onde no final, o preto precisa morrer para ser uma espécie de mártir ou algo parecido. Um pouco típico da indústria também se for ver criticamente. Achei esse final muito interessante, deixando a jornada de Monk aberta e óbvia ao mesmo tempo, com muita coisa ali bem respondida e resolvida, e outras ficando a cargo do bom senso de cada espectador.
Não à toa Jeffrey Wright foi indicado a Melhor Ator em muitas premiações nessa temporada de premiações, pois o ator deu um show em tela, de longe era o personagem mais interessante de se acompanhar no filme, e sua atuação o deixava com um carisma além da conta. Wright sempre foi um ator mais que competente e sempre entregou atuações acima da média, e precisava de uma personagem assim, onde ele pudesse colocar toda sua elegância em atuar para fora, em um personagem tão rico ideologicamente. Jeffrey Wright que fez o Comissário Gordon em 'The Batman' e é a voz do Vigia na animação do Marvel Studios 'What If?' foi indicado a Melhor Ator no Oscar, Critics Choice Awards, Globo de Ouro, Satellite Awards, Astra Awards e SAG's Awards, perdendo todos... porém levou o Spirit Awards de Atuação Principal, merecidamente.
Sterling K Brown (de 'This Is Us' e ''Pantera Negra') fez seu irmão no longa, Cliff, e foi ótimo vê-lo em cena, foi um personagem cômico e dramático, e Sterling conseguiu dosar isso na personagem muito bem, deixando-o agradável de se acompanhar, não sendo nada pesado em tela e muito menos sendo só o alívio cômico do filme. Sterling foi indicado a Ator Coadjuvante no Oscar, Spirit Awards, SAG's Awards e Critics Choice Awards, perdendo todos.
Erika Alexander fez a irmã de Monk, Coraline, e mesmo tendo aparecido só no 1° ato do filme, fez um ótimo trabalho com sua personagem. Foi indicada ao Spirit Awards em Atuação Coadjuvante perdendo o prêmio.
Tracee Ellis Ross fez Lisa, a namorada de Monk, e gostei demais dela em cena, uma atriz bem desenvolta, que atua de uma forma graciosa, abraçando a personagem de uma forma envolvente que me cativou bastante, e espero que tenha cativado o público. Ainda tivemos o já tarimbado de longa data Adam Brody, o eterno Seth de 'The O.C', fazendo o produtor Wiley.
'American Fiction' foi indicado a melhor Filme no Oscar, Critics Choice Awards, Astra Awards, Spirit Awards e a Filme Comédia/Musical no Globo de Ouro e Satellite Awards, não levando o prêmio em nenhuma premiação.
Porém, Cord Jefferson possui muitos prêmios por Roteiro Adaptado na sua estante, tendo levado o tão cobiçado Oscar e Critics Choice Awards, Spirit Awards, Satellite Awards e o BAFTA, sua única indicação na premiação britânica. Fora o prêmio para Laura Kapman pela sua Trilha Sonora no filme, no Satellite Awards.
'Eu, Capitão' é o indicado da Itália, para representar o país no Oscar de Filme Internacional, também tendo concorrido em outras premiações, e desde o começo de Janeiro eu estava muito curioso pra ver este filme, pois ele estava sendo muito bem visto há uns meses atrás quando começaram a ser divulgados os indicados a Filme estrangeiro de outras premiações.
Eu me surpreendi positivamente, tendo já conferido o trailer que me ganhou de cara, e toda a experiência de conferir o filme foi fantástica... o roteiro e a ideia original é do diretor do longa Matteo Garrone, e junto a outros 3 roteiristas eles criaram essa história que é um vislumbre do que acontece com os Senegaleses que tentam atravessar o deserto e o oceano para chegar até a Europa. Não só os senegaleses, mas também os demais africanos de diferentes países que tentam essa sorte, para mudarem sua própria sorte, ter uma vida um pouco mais digna, ou apenas ajudar a família.
Muita coisa é complicada na África, e clandestinamente, o que mais importa pelo visto é sempre o dinheiro, temos uma máfia muito grande de viagens clandestinas, falsificação de passaportes, meios de viagens deploráveis, e situações humilhantes e desumanas de imigração pelo oceano, como vimos na cena do barco. Com certeza coisas piores devem acontecer que não foram levadas para o longa, além do suborno policial, que em qualquer lugar do planeta acontece, mas o que foi retratado no filme já é uma boa pincelada de como são essas questões pelos lados daquele continente.
Eu pessoalmente achei o ritmo do filme ótimo, nenhum pouco cansativo, bem direto ao ponto, se criou ali uma cenário de edificação da sociedade mais pobre senegalesa, alguns dos costumes, algumas das rotinas e preocupações... tudo isso pela visão de dois garotos protagonistas, Moussa e Seydou, para em seguida, o roteiro entrar mais detalhadamente na viagem e em como se dá todo esse percurso de Senegal, passando pelo Deserto, até Líbia e seguindo rumo a Europa, mais precisamente a Itália. Temos cenas pesadas, que não entraram nos detalhes que achávamos que o filme iria entrar, como quando é citado as torturas, e vemos apenas um vislumbre de como eram torturados as vítimas que não cooperavam com o que os seu 'sequestradores', que na verdade não passavam da máfia local, sendo que a polícia também fazia parte, apesar de não vermos em nenhum momento as consequências que Moussa enfrentou na prisão.
Acho que a sequência do barco foi o ápice do longa, apesar de eu gostar particularmente das sequências no deserto e em Líbia, mas é ali que vemos um garoto se superar e se auto declarar 'Io, Capitano', onde lidou da melhor forma que pôde para lidar com as emoções afloradas de quem estava no barco, e dos problemas que surgirão, com mulher prestes a dar a luz e pessoas com risco de vida na escotilha do barco.
Achei a atuação dos dois protagonistas perfeita, Seydou Sarr e Moustapha Fall mandaram muito bem, tiveram muita química, souberam dar carisma e graça aos seus personagens, conseguiram aproximar o público deles, muito favorecido também pelo roteiro, mas são os atores que dão vida aos personagens... e foi ótimo ver a jornada deles.
O filme possui muitas boas cenas fotografadas, as do deserto são as que mais me chamaram a atenção, e temos ótimas cenas fotografadas na Líbia, quando ele visita algumas comunidades senegalesas e quando está trabalhando na construção... sem deixar de mencionar aquela ótima fotografia da fonte que construíram. A sequência do barco também tem boas cenas desse tipo, e o mérito vai para Paolo Carnera, diretor de fotografia que já trabalhou no filme 'White Tiger' da Netflix.
A cenografia do longa também me chamou muita atenção, nas mesmas cenas citadas, no local onde construíram a fonte, na construção onde Seydou trabalhou, o barco também tem que ser exaltado, mesmo estando lotado de figurantes, e claramente toda a sequência do começo do filme que se passa em um bairro de Senegal.
A direção de Matteo Garrone é ótima, acho que ele foi muito bem na grande e maciça maioria das cenas que rodou, soube conduzir muito bem seus dois protagonistas, e teve um ótimo elenco secundário, aqueles que foram da Máfia, da Polícia de Líbia e os habitantes da cidade de Líbia onde Seydou e Moussa foram parar. A trilha sonora de Andrea Farri também foi muito bem composta, gostei muito das músicas nos créditos incluídas, e nas cenas mais tensas e/ou pesadas do longa temos uma ótima inclusão de composição que complementou as cenas.
O filme foi indicado a Filme Internacional no Oscar, ao Globo de Ouro e ao Satellite Awards; No Festival de veneza foi indicado ao Leão de Ouro de Melhor Filme perdendo para 'Pobres Criaturas' e ao Prêmio Especial do Júri, perdendo para 'Evil Does Not Exist' de Ryusuke Hamaguchi... porém levou o prêmio de Leão de Prata de Melhor Diretor para Matteo Garrone.
Simplesmente um filme necessário, relevante, atual, com fator histórico, muito bem dirigido e atuado, uma grande película com uma grande história que envolve o espectador. É cinema, simples assim.
Esse é o filme que eu gostaria de ter dirigido, e escrito também... se eu fosse um 'filmaker' é claro. Eu achei 'A Sala dos Professores' uma experiência fantástica, um filme ímpar, tenso, catártico, de uma inteligência absurda, uma visão de roteiro sem igual. Acho que um dos trunfos do filme, sem contar a trama principal que é entre Carla Nowak, a Sra Kuhn e seu filho Oskar, está presente no texto, e nos detalhes que compõe o ato de lecionar e o que se está lecionando. Temos cenas onde Carla está dando suas aulas, onde obviamente ela está ensinando seus alunos, mas o trunfo do texto é nos ensinar também sobre algum assunto aleatório, que realmente nos deixa ligado à tela enquanto observamos ela lecionar. E fora isso, é o estudo para deixar isso bem claro no texto, mas se tornar verossímil para quem estiver lecionando, no caso Carla, e em como você enriquece o seu roteiro, com cenas reais de aprendizado. Penso que normalmente em um filme como este, teríamos mais cenas focadas na trama em si e nos dramas dos personagens, mas aqui, além desse ponto central que faz o roteiro girar, temos cenas focadas no ato de lecionar, com matérias e temas muito interessantes e explicados da melhor maneira possível por Carla, e apresentadas pelos alunos também na sala em alguns momentos. Pra mim, isso é um dos pontos que deixou o filme com tanto brilho e vida, e conteúdo...
Brilhantemente dirigido por Ílker Çatak, que teve a visão certeira de focar o drama e a tensão presente no roteiro em Carla, Oskar, Sra.Kuhn e nos alunos de sua sala, conseguiu criar ótimas cenas sequenciais que deixam a história leve para se acompanhar, sem fugir muito do que está sendo tratado, e sabendo exatamente posicionar Carla no centro das cenas, uma vez que gira tudo em torno dela... Como já citei, ele foi muito feliz nas cenas onde ela leciona para os alunos, soube muito bem dirigir essas crianças para poder tirar o que queria delas em cena, em como se comportavam antes e depois do acontecido com a mãe de Oskar, e em suas mais variadas emoções conforme o filme se desenrolava. Conseguiu também inserir com muita competência os professores coadjuvantes da escola em cenas chave, que diretamente e indiretamente lhes envolviam, com textos diretos e certeiros que colocavam as atitudes morais de Carla em xeque, mesmo ela tendo uma resposta direta para o assunto ou só se esquivando deles.
A tensão no filme é gigante, ao mesmo tempo que Carla está certa em agir da forma como agiu, pois se percebe o quanto os professores são de atitudes duvidosas naquela escola e qualquer um pode agir de forma contraditória e de mau caráter... e está certa também em passar a denúncia adiante, pois é bem crível o que se apresenta no vídeo... ela ao mesmo tempo, possui uma atitude muito precipitada que coloca sua moral em risco, a moral da Sra. Kuhn em dualidade, e expõe os demais professores, que estão no direito de questionar de estarem sendo filmados sem nenhum conhecimento prévio. Mas então, porquê agir de uma forma tão autoritária, com os alunos tentando descobrir quem é o responsável por atos de furtos na escola... porque os alunos podem ser suspeitos, e quando não se chegou a lugar nenhum, acusando um aluno muçulmano, que claramente era inocente, apontado por outro aluno que provavelmente tinha algo contra este aluno, a escola não lhe deu as desculpas necessárias, ou não agiu de uma forma mais eloquente e responsável para não culpar um aluno do qual não tinham 100% de certeza?
Isso tudo gera uma das cenas mais interessantes do longa que é a impressão do jornal estudantil, onde os alunos usam de sua veia jornalística e investigativa para poder dar vida a matéria que expõe apenas o lado negativo da professora Carla, muito por conta da vingança que Oskar pretendia realizar contra ela. A entrevista dos alunos com Carla, e depois quando ela vai cobrar a mudança do texto dos mesmos, após o jornal ser impresso, trouxe um texto afiadíssimo, um debate moral onde Carla sempre que começava a dar um passo a frente, trazendo a razão e o bom senso pro seu lado, os alunos retrucavam com algo maior e mais bom senso, deixando a situação em um quebra de braço, onde um lado iria prevalecer... o da verdade. Roteiro incrível de Ílker Çatak e Johannes Duncker... se fosse um filme americano, estaria indicado nas categorias de roteiro e quiçá de direção.
Leonie Benesch (A Volta ao Mundo em 80 Dias) está incrível como a professora Carla Nowak, sua atuação é inspiradíssima, certeira, centrada, com muita sensibilidade e ótima carga dramática... ela impõe em suas feições uma tensão que o filme exige, e um desconforto genuíno quando está de frente aos seus alunos que visualmente estão contra a professora pelos acontecimentos não verbalizados na escola e na sala de aula. Leonie foi incrível, gostei demais, mas demais dela em cena e já virei fã da atriz... se houvesse um 'Oscar' para Atriz Internacional, daria o prêmio para ela.
Outro que se destacou, Leo Stettnisch, que fez Oskar, que garoto foi esse... uma atuação GIGANTE, o rapazinho foi perfeito, foi cirúrgico, ele foi mocinho, foi vilão, foi FDP, foi coração, foi emoção, foi tudo em uma atuação só... claro que o roteiro lhe favoreceu muito em muitas das cenas, mas sua atuação foi a alma do filme... não sei vocês, mas os momentos foram variados onde eu me pegava sentindo por ele, torcendo por ele, detestando ele, culpando ele e por aí vai...simplesmente sensacional este garoto em cena em seu filme de estreia. Todas as demais crianças e adolescentes do filme, foram sensacionais também... dando o destaque óbvio, para as crianças da sala de Carla, foram ótimas, foram perfeitas, foram incríveis e entregaram performances condizentes com que o filme pedia. O talento é delas, e o mérito também é do diretor Çatak que soube tirar o que queria das crianças para deixar as cenas a melhor possível.
Os professores coadjuvantes foram ótimos, todos tinham seu ar carismático, Liebenwerda que era o mais centrado de todos, com a cabeça sempre no lugar, e a professora Vanessa que já era mais ácida, sempre tentando tirar o que queria ouvir de Carla...Lore Semnik e o Professor Milosz Dudek também foram ótimos coadjuvantes, tendo boa presença de cena no longa.
A trilha sonora do filme ficou com Marvin Miller, que já trabalhou em clássicos como 'O Jovem Frankstein' e 'O Pricnípe Ladrão', e aqui fez um trabalho ótimo, deixando a composição sempre tensa, um ar que o filme carrega, e a composição dele compõe muito bem essa atmosfera, sempre com o violino ácido e presente nas cenas. O filme tem uma ótima cinematografia, tanto das cenas externas, como das cenas internas, que são as que ganham mais notoriedade na fotografia feita. Ela se ganha mais na construção da cena e em como ela conversa com o público que assiste, do que em paleta de cores, ou takes abrangentes com temáticas singulares... o caso aqui é mais nos espaços que os atores ocupam e em como isso conversa com a atenção do público. A diretora de Fotografia é Judith Kaufmann, que trabalhou no filme 'Corsage, indicado a Filme Estrangeiro no BAFTA de 2023.
Falando em Indicações, o longa foi indicado a Melhor Filme Internacional no OSCAR, no Satellite Awards e no Astra Awards; Também foi indicado no Prêmio de Cinema Alemão em Melhor Filme, Melhor Diretor (Ílker Çalak), Melhor Atriz (Leonie Benesch), Melhor Roteiro Original, Melhor Edição, Melhor Fotografia, Melhor Trilha Sonora... perdeu apenas Fotografia e Trilha Sonora, vencendo as demais categorias, como Direção, Atriz para Leonie Benesch e Melhor Filme batendo 'Nada de Novo no Front' e 'Holy Spider', dois ótimos e grandes filmes; No Goya, o Oscar espanhol, perdeu Melhor Filme Europeu para 'Anatomia de Uma Queda'; No Astra Awards, Leonie Benesch ainda foi indicada a Melhor Atriz Internacional.
Um grande filme é 'A Sala dos Professores', tenso, ágil, inteligente, texto em alto nível, um elenco mirim surreal, uma protagonista brilhante... adoraria ter dirigido este filme, foi muito gostoso acompanhar no cinema, sequer vi a hora passar. Apesar de ter chegado apenas este ano de 2024 nos cinemas brasileiros, o filme estreou em fevereiro de 2023, e devo confessar, que ano foi o de 2023 para o cinema alemão, este filmaço, 'Holy Spider' que é soberbo e tenso também, e o já premiado 'Nada de Novo no Front' que é um espetáculo cinematográfico. Viva o cinema estrangeiro! Viva o cinema Alemão!
(Assistido em 06/02/2024 - Cine Kinoplex Vila Olímpia)
'Flamin Hot' conta a história de Richard Montañez, um mexicano que trabalhava na fábrica da Pepsico, como ajudante de limpeza/manutenção, e revolucionou o mercado de salgadinhos ao ter a ideia de dar o sabor picante para várias marcas como Cheetos, Ruffles, e outros salgadinhos. Ou seja, é baseado em um fato real. E claro, como é cinema, temos muitos fatos ajustados para poder contar uma história mais condizente para os espectadores, quem assiste o filme pode perceber com muita facilidade, onde a caneta trabalha para alavancar o roteiro com situações e textos que possam compor melhor o longa metragem.
Não é o primeiro trabalho dirigido por Eva Longoria, mas é o primeiro longa metragem que ela dirige... e eu particularmente, sou fã de Eva Longoria desde os tempos de 'Desperate Housewives' onde ela interpretava Gaby, uma personagem ácida, em uma grande série que marcou época. Por ser fã dela, fiquei muito satisfeito e contente ao ver o grande trabalho que ela realizou neste filme... baseado no roteiro de Linda Yvette Chavez e Lewis Colick, Eva Longoria conseguiu tirar ótimas atuações de seu elenco, que foram muito competentes, e inseriu ótimas tomadas, e cenas que enriqueceram o longa, o deixaram com personalidade, e também o deixaram no ponto certo, entre o cômico, o drama, e a curiosidade sobre a história contada.
O longa é contado por Montañez, o personagem interpretado pelo ótimo Jesse Garcia, e enquanto ele narra a história ele coloca uma pitada de humor em imaginar certas cenas e falas, que em seguida é corrigida por ele pelo o que de fato aconteceu. Ele possui uma veia cômica ótima, interpreta bem, entrega o que o personagem pede, apesar de parecer cartunesco demais. O ritmo do filme é bem dosado, não temos nada atropelado nem corrido, e também possuímos não só cenas que são muito cômicas, como cenas que mostram como era a realidade dos mexicanos na época, economicamente e socialmente... fora algumas cenas dramáticas muito bonitas, clichês é verdade, mas não deixa de ser boas cenas que podem comover os mais sensíveis.
Uma atriz que rouba a cena no filme para mim foi Annie Gonzalez, que fez a esposa de Montañez, Judy, e Annie esteve ótima no filme. No começo ela parecia um tanto quanto comedida e ainda tentando achar o tom da personagem, mas acredito que logo após o filme avançar para quando eles estavam casados e com filhos, ela achou o tom certo da personagem, e entregou performances ótimas, em sua maioria cômicas, e algumas poucas mais dramáticas, mas não muito por parte dela, que ia mais no automático nessa parte.
O elenco ainda conta com Tony Shalhoub, o eterno Adrian Monk, em suas oito temporadas de existência, como Roger Enrico, o CEO da Pepsico na época, que apostou na ideia de Montañez. E também temos o já consagrado Dennis Haysbert, que sempre será lembrado como o presidente dos EUA David Palmer... aqui ele faz o Clarence Baker, o chefe de manutenção da fábrica que ensina Montañez a operar as máquinas do local.
'Flamin Hot' não tem nada demais, é um filme com um orçamento menor comparado aos demais filmes de grandes estúdios, tem uma 'vibe' mais Sessão da Tarde, não deve atingir a grande maioria do público... mas dentro de sua proposta entregou um ótimo entretenimento, e irá ser um bom passatempo para quem quiser conferir algo mais descontraído. Eu particularmente gostei muito de como Eva Longoria dirigiu o filme, em como ela teve sua visão de contar a história que tinha em mãos, um bom roteiro, onde ela usou de toda sua experiência e visão para entregar um filme que possui muita alma e coração, e também sendo cômico na medida certa, sem deixar de ter bons momentos dramáticos que convencem muito bem.
Na temporada de premiações, o filme teve apenas indicação para Melhor Canção no Satellite Awards e no Oscar, para a música 'Fire Inside', interpretada pela cantora e atriz Becky G (de Power Rangers de 2017), e escrita pela compositora Diane Warren, 15 vezes indicada ao Oscar sem levar nenhum prêmio.
Nesse caso, vai muito do gosto do espectador do que ela gosta de ver um filme ou não, e eu particularmente me diverti com este filme, gostei de seu resultado, e está em alto conceito comigo,com certeza.
Quando eu penso em Win Wenders, eu lembro de 'Asas do Desejo', óbvio, um clássico de sua autoria de 1987, e também do meu primeiro contato com algo dirigido por ele, o clipe de Stay (Far Away, So Close) do U2, que passava na MTV. Esse clipe é uma extensão do filme 'Far Away, So Close' de 1993, e além de eu gostar demais da música na época em que eu estava conhecendo o rock a fundo, o clipe me deixou fisgado também. Sempre achei os clipes do U2 muito interessantes, e este em particular era dirigido por um cineasta, coisa que eu ainda jovem achava legal, diretores de cinema dirigirem videoclipes.
Acho que Dias Perfeitos é a mais nova obra definitiva do professor Win Wenders, um filme lotado de sentimentalismo, de uma delicadeza difícil de encontrar em outros filmes, e uma visão certeira sobre como são os dias perfeitos em sua forma mais crível.
Todo mundo já passou por esses dias perfeitos, eu mesmo tenho muitas lembranças de passagens da minha vida nos anos de 1997, 1998, 2000, 2001, 2005, 2013, anos que foram muito especiais, e eram simplesmente assim como no filme, dias perfeitos, sem nada especial, nada demais, nada fora da rotina... era a mesma coisa todos os dias,a mesma rotina, mas não conseguimos explicar, havia uma mágica naqueles tempos que faz nós olharmos para trás e sentir saudades ou nostalgia ou melancolia de um tempo que sensacional, mesmo não tendo acontecido nada que renda uma história para se contar a outras pessoas.
Foi muito certeiro o roteiro de Win Wenders e Takayuki Takuma, em mesclar os dias que Hirayama vivia e ia com seu carro para o serviço ou voltando para casa, e as músicas que ele ouvia ditava algo que fazia parte de sua rotina, como as luzes da cidade, o porto onde sempre passava, a casa do sol nascente, e por aí vai. Dentre essas músicas, 'Redondo Beach' da Patti Smith, conta muito sobre o que Aya está vivendo no momento, não é à toa que ela rouba a fita para ouvir, e depois de devolver a Hirayama e ouvir novamente no carro dele, deixa o sentimento aflorar e lhe dá um beijo carinhoso de agradecimento... ou seja, a trilha não serve apenas para ele, mas engloba seus coadjuvantes. Assim como foi com sua sobrinha, Niko, que teve a canção 'Brown Eyed Girl' de Van Morrison, embalando sua estadia ou chegada, na rotina de Hirayama, quando estava fugindo da mãe... sua participação no filme foi muito tocante e singela, trouxe toda uma cor para aquele ato em específico do filme. Aquela cena dos dois indo de bicicleta dizendo: "Da próxima vez, é da próxima vez', e 'Agora é agora', foi algo tão simples, mas tão profundo, uma conexão que se mostra única por sua simplicidade.
Eu mesmo me identifiquei muito com a rotina de Hirayama porque já passei anos e anos na mesma rotina em diversos empregos, fazendo as tarefas e indo e vindo do local... ver aquela mesma rotina de Hirayama, sem muitos diálogos, só as tarefas que ele realizava com sua viagem de ida e volta, as pausas para lanchar/almoçar, as idas no bar/lanchonete, ou ao local da moça que tem o ex-marido com câncer... era tão gostoso acompanhar aquilo, tão pacífico, tão acolhedor. Eu podia ficar mais duas horas vendo as mesmas coisas se Wenders fosse louvo e fizesse umas 6 horas de filme ahahahahahahahahahaha... é o típico filme que você se quer olha na hora pra saber quanto está faltando pra terminar, você se deixa levar por aquele mundo que você está vivenciando na sala de cinema.
A atuação de Koji Yakusho é perfeita, divina, emocionante, tocante... todos os adjetivos existentes para congratular a performance de Koji. Ele, obiviamente, foi a alma do longa, e acompanhar sua rotina foi muito prazerosa, e ainda o fato de ele ter pouco diálogo no filme, ser uma pessoa mais retraída, era muito bom vê-lo só vivendo o dia da melhor maneira possível, dentro da sua paz atual. Ficou claro, quando a mãe de Niko, irmã de Koji, veio buscá-la que existe um passado meio sombrio, não resolvido, entre ele, sua irmã e o pai deles que está internado... ele claramente não quer visitá-lo onde ele se encontra, e tanto Koji quanto sua irmã, evitam de falar do passado. Obviamente dá a entender que eles são uma família que possui uma situação financeira ótima, ou é sua irmã que está bem atualmente, mas o fato de ela perguntá-lo se está mesmo limpando banheiros, mostra que tem muita coisa no passado dele que não é trazido para o filme. E ele está bem assim... feliz.
Arisa Nakano que faz sua sobrinha esteve muito bem em cena, era bem gostoso acompanhar a relação dos dois, que ficava cada vez mais interessante conforme eles faziam mais coisas juntos. Aoi Yamada fez Aya e ela também esteve ótima nas cenas onde apareceu, é uma atriz bem talentosa... gostei também de Tokio Emoto que fez Takashi, possui uma veia cômica grandíssima, e foi um dos alívios cômicos do filme, foi muito bem inserido no roteiro e é um personagem que faz muita diferença no longa.
O que falar da cinematografia do filme... uma obra-prima é o que posso dizer, perfeito, cada cena fantástica onde se fotografava a cidade, os túneis luminosos, o porto à luz do dia, ou próximo de entardecer, o grande monumento que não me recordo o nome, colorido, que Hirayama e o ex-marido com câncer observam, a cena dos dois brincando com as sombras... fantásticas fotografias. Mas o que ficou soberbo mesmo eram as as cenas das árvores, onde o sol se encontrava no meio delas, e Hirayama as fotograva com sua câmera, essas cenas sim possuem uma fotografia soberba, coisa linda de se ver na tela, um deleite puro. Um trabalho primoroso e surreal de Franz Lustig (de The 'Aftermath').
A trilha sonora então, nem se fala de tão a dedo escolhida para as cenas, para demonstrar a personalidade de Hirayama... são tantos, mas cito aqui 'Sunny Afternoon' da banda The Kinks (quem aí curte 'You Really Got Me?'), '(Sittin' on) the dock of the bay' de Ottis redding, 'Pale Blue Eyes' da saudosa The Velvet Underground, a já clássica 'House of the Rising Sun' do The Animals, se eu não me engane a primeira a aparecer no longa... um hino atemporal 'Feeling Good' de Nina Simone, que conheci primeiro com a banda Muse... e a canção que fecha o filme em uma sequência de mais de dois minutos com a feição sem igual de Koji Yakusho, feliz, realizado, vivo, com 'Perfect Day' do saudoso Lou Reed de fundo, uma cena icônica com uma música icônica, em um filme icônico.
O filme foi indicado nesta temporada de prêmios na categoria de Filme Estrangeiro ao Oscar, Critics Choice Awards e César Awards... perdendo o Critics para 'Anatomia de Uma Queda' e o César para 'The Nature of Love'. Provavelmente não deve levar o Oscar, vide que a Academia não tem muita relevância e tem preguiça de ver certos filmes. Foi indicado no Festival de Cannes à Palma de Ouro, ao Prêmio do Júri, ao Grand Prix, e a Roteiro... mas levou o prêmio de Interpretação Masculina para Koji Yakusho, como pode ser visto no começo do longa. No Asian Film award está indicado a Melhor Filme; No Japan Academy Prize está indicado a Melhor Filme e Melhor Diretor. No Astra Awards foi indicado a Melhor Filme Internacional, Melhor Ator Internacional para Koji Yakusho e Melhor Diretor Internacional para Win Wenders.
'Perfect Days' de Win wenders é maravilhoso, uma obra primorosa, gostosa e necessária... estava relutante em dar as 5 estrelas, mas é o tipo de filme que dá vontade de assistir todos os dias... todos os dias...e como já falei, se tivesse mais umas 2 ou 3 horas de duração, não iria cansar, nem enjoar... é cinema em seu mais puro esplendor. Viva Win Wenders, professor eterno!
Como fã de Fórmula 1 de longa data e apreciador de outras categorias automobilísticas, fiquei bem empolgado quando saiu a notícia de que um filme sobre Enzo Ferrari estava sendo desenvolvido com a direção de Michael Mann, que dirigiu o já consagrado 'O Último dos Moicanos' e o ótimo 'Inimigos Públicos', além de ter produzido 'Ford vs. Ferrari' que é um filme muito bom. Achei que teríamos uma biografia aqui de respeito, cobrindo boa parte da vida de Enzo e a ascenção da marca Ferrari na cultura Italiana e no mundo. Mas, o filme deixou bem a desejar em vários pontos, e temos um resultado apenas ok, na minha modesta opinião.
Baseado no livro de Brock Yates 'The Man, The Cars, The Races', o filme focou muito na relação de Enzo com sua esposa, Laura Ferrari, e em seu relacionamento com outra mulher, escondido de Laura, Lina Lardi, com quem ele tinha um filho... além de focar também no momento onde Enzo está para ir à falência pelo fato de estar gastando mais do que ganha, e é aconselhado a vencer as 'Mille Miglia', que era o embrião da futura F1, para poder se recuperar financeiramente e poder manter seus carros em construção.
O roteiro foi até bem escrito, tudo está bem alinhado, nenhuma ponta fica solta, e muitos pontos ali se encaixam e se desenvolvem com naturalidade... eu achei bem interessante acompanhar este fato, onde Enzo possui dois relacionamentos, um que já se quebrou a muito tempo com a morte de seu filho com Laura... e seu relacionamento ás escondidas com Lina Lardi, e a aflição dela em não saber que sobrenome seu filho irá ganhar. Me entreteu, me deixou ligado na tela, nos fatos, nos acontecimentos, foi uma experiência bem legal...porém, confesso que o filme deixou muito a desejar, ficou faltando alma ali, tem muita cara de novela mexicana, o foco é muito maior nas relações de Enzo, e ali substancialmente, em como ele está lidando com o fato de estar indo à falência e ter que pedir ajuda financeira a seus concorrentes. O peso do nome, da marca Ferrari, fica mesmo em terceiro plano, o piloto Alfonso De Portago foi muito mal trabalhado no longa, nada desenvolvido, não dá para se importar totalmente com ele, nenhum aspecto dele nos é apresentado em tela... o mesmo do outro piloto, Piero Taruffi, que não foi desenvolvido, não foi apresentado, só está ali com sua pseudo aura de piloto acima da média, metido que ganha tudo... nem isso eles conseguiram desenvolver direito.
Toda a sequência das 'Mille Miglia' foi muito bem filmada, realmente aqui devo confessar que Mann filmou maravilhosamente bem e soube dar destaque para cada pequeno e grande detalhes, e foi bem emocionante acompanhar. Assim como todas as cenas em que alguém pilotava uma Ferrari, passou uma imersão ótima para quem assistia, e incluo a cena onde Enzo dirige e troca as marchas no começo do filme, uma ótima coreografia ali.
Impossível não citar o erro grotesco de você filmar um longa sobre a maior marca de carros da Itália e do mundo, ali em seus tempos áureos, com todo os acontecimentos se passando na Itália, com personagens Italianos, com toda a sociedade italiana de fundo, e os jornalistas da época dos jornais locais, os rapazes falando sobre o campeonato italiano, e citando Verona, Parma, e outros times... E O FILME SER FALADO EM INGLÊS, TOTALMENTE. Tudo bem, é uma produção Hollywoodiana, produzido por estúdio americano, com estrelas de Hollywood... mas não dá né gente, eles se deram ao trabalho de ter o sotaque italiano no filme, mas não falam em italiano, não tem como você enxergar autenticidade na obra, porque soa maquiado, soa incoerente, fantasioso... ainda mais com o peso que o nome Ferrari tem... eu entendo as circunstâncias, mas isso deveria ser melhor trabalhado... e talvez, e somente talvez, este seja um dos fatos do filme não ter sido tão bem recebido quando foi lançado, além do fato de ele focar mais em relacionamentos do que na marca em si e no homem em si.
Mas tecnicamente ele é decente, possui boas cenas das 'Mille Miglia', possui um figurino decente, temos boas tomadas fotográficas no longa, principalmente na corrida noturna, nos testes com o primeiro piloto que morreu, nas cenas de discussão entre Enzo e Laura no escritório de Enzo e na casa deles, assim com as do cemitério. E claro, cito também o design de produção do longa que está muito bem feito, a fábrica é decente, bem caracterizada, gostei muito dos carros apresentados no filme, não só as Ferraris, mas os demais carros que competiam nas 'Mille Miglia'... tudo muito bem ambientizado.
Adam Driver como Enzo Ferrari está decente, gostei da maquiagem que fizeram nele, para lhe fazer parecer mais envelhecido como Enzo à época. Acho Adam um grande ator, tem veia para tudo, é bem competente em tudo que ele atua, e aqui ele se esforçou bastante, entregou uma performance condizente, de força, de presença, de impacto, teve falas onde ele era incisivo, como quando cobrou mais comprometimento de seus pilotos depois de uma corrida fracassada... suas conversas discussões com Laura e com sua outra mulher a Lina Lardi... mas é um trabalho apenas ok, o roteiro também não lhe exige muito assim, tá na medida.
Já Penélope Cruz...meu Deus, que mulher é essa... ela estava possuída neste filme, tomada totalmente pela arte de atuar. É raro vermos um ator achar o tom perfeito de sua personagem e incorporar e entregar uma performance 100%, sem deixar este tom cair em nenhum momento do filme. Vemos Penélope amargurada, transtornada e consumida as 2h10 do filme inteiro, não tem uma cena onde ela não está atuando para ganhar.Está insana, uma performance fortíssima, uma entrega total à personagem... ela já começa o filme com os dois pés na porta, tomando a cena toda para si, se agigantando, todos parecem pequenos quando ela está em cena...realmente Penélope se superou neste filme, com este papel, e ela esteve perfeita como já disse...sou só elogios para ela, e foi um deleite vendo-a atuando daquela maneira. Não à toa, foi indicada a Atriz Coadjuvante no SAG'S Awards e a Melhor Atriz Principal no Festival de Veneza e no Satellite Awards... merecia muito mais indicações, com certeza, acho que cabia até uma lembrança no Oscar, mas faltou promoção do estúdio para o filme.
O filme ainda teve Shailene Woodley (O Mauritano) fazendo Lina Lardi em uma atuação segura, Gabriel Leone (Eduardo e Mônica e Verdades Secretas) como De Portago em uma atuação normal, o roteiro não lhe favoreceu em nenhum momento, não teve oportunidade de tentar brilhar. Também tivemos o veterano Patrick Dempsey que dispensa comentários como o piloto Piero Taruffi, também não foi favorecido pelo roteiro então ele apenas fez número ao elenco.
Nesta temporada de premiações foi pouquíssimo lembrado: - No Oscar, Critics Choice e Globo de Ouro sequer teve indicações; - No BAFTA recebeu apenas indicação a Melhor Som perdendo para 'Zona de Interesse'; - No SAG's Awards teve a indicação da Penélope Cruz; - No Satellite Awards teve em Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia, Melhor Som, Atriz Filme Drama (Penélope) e Melhor Filme Drama; - Além de ser indicado ao Leão de Ouro no festival de Veneza, Leão de Prata de Melhor Diretor, Prêmio especial do Júri e Roteiro;
Acho um filme competente, bem feito, bem filmado, bem roteirizado, mas que pecou em detalhes bobos, que fariam uma diferença enorme no longa. Ainda assim é um bom entretenimento e cumpre o papel de mostrar, mesmo de forma esporádica e por cima, quem foi Enzo e como se dava sua relação com sua família. Agora a história da Ferrari em si, ficou no muro.
Nunca fui muito fã de musicais, mas venho consumindo muitos deles nos últimos anos, e mesmo que eu esteja devendo alguns, como 'La La Land', venho tentando acompanhar outros estilos de filmes musical para não sentir aquele sentimento de que vou encontrar algo cansativo. Tenho bons filmes musicais dos quais sou fã de carteirinha, como 'Dançando na Chuva' e 'Moulin Rouge', mas são poucos comparados o grande número que tem por aí afora... mas é claro que musicais são algo que os americanos amam e eles colocam em tudo o que criam na TV e no Cinema.
Mas não posso negar que 'A Cor Púrpura' é uma ótimo filme e um grande musical, que realmente me entreteu e me surpreendeu positivamente. O longa musical possui ótimas músicas, que possuem uma banda competente por trás que as deixam envolvente para quem assiste. São muito bem escritas as canções, são muito envolventes, possuem um ritmo bem agradável, curti várias das canções, bati o pé em muitas delas, realmente me pegaram e me divertiram. Foram duas ou três canções que não curti, pois elas já eram mais emocionais, aquelas canções pra emocionar mesmo o público, para pegar no âmago, lá no fundo, pra fazer a atriz crescer e colocar toda sua emoção pra fora, aquela oportunidade para ganhar sua indicação na Academia, e fazer a música também ser indicada... essas eu não curti, o exemplo crasso disso é a cena onde Celie canta em frente a sua loja de calças, e que vai estufar o peito e encarar de frente, e flertar com alguém, porque eu estou aqui, viva e tal... não é minha praia, muito forçado. Mas as canções são ótimas!
A história do filme é muito boa, eu me envolvi demais no enredo e na construção dos personagens, em como Celie foi criada com sua irmã, que sofriam na mão do pai delas, aquela infância sofrida, e Celie perdia seus bebês pois seu pai não a deixava ficar com eles. Toda a passagem dela com o 'Mister', e em como ele a destratava e como só queria se aproveitar mesmo da pequena Nettie... realmente é um enredo assim que não tem nada demais né, vamos ser práticos aqui... é o clichê do clichê do clichê dos contos norte-americanos, já vi esse segmento ser usado em inúmeros filmes e séries de TV nos EUA, anos e anos à rodo, é algo que quem é acostumado a acompanhar cinema, filmes em geral, filmes para TV, sabe que esse tipo de enredo é comum e batido. Mas a história é boa, bem contada, bem amarrada, uma virada sensacional em seu final, com revelações surpreendentes, mas típica dessas narrativas... aquele final onde tudo dá certo e ela reencontra seus filhos que milagrosamente param na mão de sua irmã, e então serão todos felizes pra sempre... é clichê... é... é fantasioso... é... mas é um musical, e musicais são assim.
Eu gostei do filme, eu gostei dos números musicais e coreografias, gostei da história, me envolveu muito, o filme me entreteu e realmente é um trabalho incrível, esteticamente e de roteiro também. Porém eu devo confessar que o filme seria muito mais interessante e funcional, se a história dele fosse contada em primeiro plano, e tivesse um ou outro número musical, se a história fosse o cerne do filme... porque é a história que me ganhou, que me deixou centrado no filme. 'A Cor Púrpura' O Musical, funciona na Broadway, eu gostaria muito de ver esse musical na Broadway, deve ser uma experiência única e marcante... mas em longa metragem, acho que não brilha tanto como deveria. Tudo é ótimo, mas quebra o ritmo da história, que é o que mais chama a atenção, pois ela é envolvente e te prende e te emociona perto do final, e ficamos tão impactados com a força de Celie e tudo mais... mas os números musicais quebram esse ritmo, eles não fazem o filme andar, eles apenas se fazem presentes para edificar o musical. A História nasceu dentro do musical, ele é a parte central, e por isso deve funcionar mais na Broadway, com a história de fundo...no longa, as canções não fazem os acontecimentos andarem, eles param a narrativa, para vermos um ótimo número e boas coreografias, e em seguida, o filme volta a decorrer. Se as canções complementassem a história, fizesse o filme caminhar, como nos dois musicais que citei acima que são meus preferidos, aí seria um resultado bem diferente.
Isso que citei acima é a minha principal ressalva com o filme, seus números musicais barram o andamento da história, o decorrer do roteiro, e por isso acho que o musical deve funcionar mesmo na Broadway, porque no filme, ele não foi bem desenvolvido para andar junto ao roteiro. Os dois foram bem feitos, cenas musicais e enredo, mas não caminharam junto no filme dirigido por Blitz Bazawule, que na minha humilde opinião, não conseguiu montar o filme de forma coesa para fazer os dois pontos funcionarem harmoniosamente.
Fantasia Barrino está uma força da natureza como Celie, ela realmente incorporou a personagem, trouxe uma força motriz incrível para dar vida a Celie e deixá-la verdadeira e verossímil para o público... que personagem e que Atriz.
Gostei muito de Danielle Brooks como Sofia, uma das melhores interpretações do filme, e para mim, a melhor personagem do longa, forte, de presença, de personalidade, que não mede esforços para fincar sua vontade na sociedade onde vive... uma mulher de força e personalidade forte que não se molda a ninguém e não leva desaforo para casa, e o principal, obvio, não vai deixar macho nenhum lhe dizer o que e como fazer. Mas que é totalmente quebrada quando sofre o que todo Preto sofre até hoje...racismo, e injustamente é presa... toda sua força e personalidade são quebradas e vemos uma Sofia irreconhecível... dá muita dó... que personagem, e que atuação maravilhosa e fortíssima de Danielle Brooks. Se não fosse Da'Vine Joy Randolph, Brooks podia ser uma séria candidata ao prêmio, uma vez que ela recebeu a indicação no Oscar para Atriz Coadjuvante.
Agora o meu ator favorito, Colman Domingo, sou fã demais desse homem, interpretou Albert 'Mister' Johnson, e foi feroz em sua atuação, com ira, com força, com inerência, enfim... tudo. Colman foi gigante no longa, entregou uma performance sem igual, um personagem ame ou odeie, pois ele era perverso, mas ao mesmo muito engraçado e de carisma, mesmo sendo mal daquele jeito. Foi indicado a Ator Coadjuvante no Astra Awards e a Elenco em Filme no SAG's Awards.
O elenco ainda teve a ótima Taraji P. Henson (Estrelas Além do Tempo) como a incrível personagem Shug Avery; Corey Hawkins (The Walkind Dead e 24 Horas) como Harpo Johnson em uma ótima atuação, gosto muito dele como ator; Halle Bailey, a pequena marmeid, como a jovem Nettie Harris, que canta muito bem e dança muito bem; A cantora H.E.R que recentemente gravou com o Foo Fighters, fazendo a nova esposa de Harpo, a Squeaky, gostei muito da atuação dela. Ainda temos Anjanue Ellis (de 'King Richards'), Louis Gossett Jr. (de 'Tubarão 3'), o cantor Jon Batiste mostrando que é versátil também atuando, como o marido de Shug Avery e Elizabeth Marvel (de 'Hellstorm' e 'The Dropout') como Miss Millie, culpada pela prisão de Sofia.
Figurinos impecáveis e muito bem construídos, cenografia embasbacante, uma fotografia lindíssima e envolvente, nas cenas onde Nettie e Celie jovens cantam e dançam na praia, ou nas cenas noturnas na casa de 'Mister', ou até nas passagens no bar de Harpo, principalmente também no n[umero musical de Celie na frente de sua loja... são muitas cenas onde a fotografia do filme se destaca e salta os olhos... perfeito é o que posso dizer, trabalho feito por Dan Laustsen da franquia 'John Wick'. Uma direção de arte também perfeita, com tudo remetendo ao começo da década de 1900, bem verossímil e chamativo, detalhado, um trabalho bem detalhado e dedicado. Tecnicamente o filme não perde pra ninguém, é tudo muito bem construído, muito bem encenado, é o grande trunfo da produção.
Uma coisa que me incomodou também no longa, foi as passagens de anos, era 8 anos, depois mais 9 anos, depois 10 anos, depois 4 anos, mais 2 anos... essa passagem toda fica quebrando o andamento do enredo, e nada acrescenta à caracterização das personagens, que parecem que estão no mesmo tom independente dos anos que passam.
A trilha sonora é de Kristopher Bowers (de 'Bob Marley: One Love' e 'Invasão Secreta' do Marvel Studios) e entregou uma trabalho muito bom,mas muito bom. Gostei demais das composições que ele criou e que foram inseridas certeiramente no longa, em momentos chave das personagens, em seus diversos momentos. Dou um destaque para a composição que começa a tocar na subida dos créditos, com piano e violinos, música muito bem composta, coisa linda de ouvir.
Achei a cena final do filme muito brega, sinceramente não gostei, tudo muito mágico, aquela coisa de juntar todo o elenco e aquela prece, e os filhos que nunca a virão, mamãe eu te amo... tipo, eu entendo, é cinema, é musical, é coisa de americano, é faz de conta, é fantasia... mas é brega demais pro meu gosto e como não sou americano, não funciona comigo.
No BAFTA, Fantasia Barrino e Danielle Brooks foram indicadas a Atriz e Atriz Coadjuvante respectivamente, perdendo para Emma Stone e Da'Vine Joy Randolph.
No Astra Awards indicao a Melhor Elenco, Melhor Figurino, Melhor Cabelo e Maquiagem, Atriz e Atriz Coadjuvante para Fantasia Barrino e Danielle Brooks e Melhor Filme.
No Sag's Awards para Elenco em Filme, Atriz Coadjuvante para Danielle Brooks, perdendo os dois prêmios.
No Globo de Ouro para Atriz Drama (Fantasia), Atriz Coadjuvante (Danielle), perdendo todas.
No Critics Choice Awards para Melhor Filme, Atriz Coadjuvante (Danielle), Elenco, Design de Produção e Maquiagem e Cabelo, perdendo todos os prêmios.
Eu não sei se veria de novo o filme, dublado com alguém eu não veria nem a pau, teria que ser legendado, e aí eu teria que ver sozinho, e não sei se sentiria vontade de voltar ao filme, mas quem sabe, pode ser que sim... porque é um bom musical, mas pra retornar, eu não sei...
'Rotting In The Sun' é um dos filmes mais surreais que vi nos últimos tempos. Ele é tipo dois filmes em um só, dois tons distintos ao mesmo tempo. Basicamente ele começa como um filme Cômico Gay escrachado, com um pincelada de drama, e depois no seu segundo ato ele vira completamente outro filme, muito mais criminalístico, mais dramático, mais envolvente.
Dirigido, roteirizado e estrelado pelo ator e músico Sebastián Silva, a trama do filme gira em torno de Sebastián, que interpreta ele mesmo, que está passando por uma depressão profunda, e indicado pelo seu amigo, viaja até uma praia gay no México para tentar relaxar... lá ele procura por um veneno usado para cachorros, que pretende comprar para se suicidar. Na praia ele encontra Jordan Firstman, um influencer do Instagram que está trabalhando em um novo projeto para TV e convida Sebastián para escrever o projeto com ele. Sebastián mesmo relutante, concorda em trabalhar com Jordan e resolvem se encontrar no espaço de Sebastián para começarem a esboçar o novo projeto... porém, Sebastián desaparece misteriosamente, e ao chegar na casa, Jordan começa a suspeitar dos atos da empregada da casa de Sebastián e seu amigo. E só pra contextualizar, Jordan Firstman, também interpreta a si mesmo no longa.
O primeiro ato do filme é escrachamento puro, claro, nós temos uma construção de narrativa, somos apresentados a Sebastián que sofre de depressão, conhecemos seu amigo Mateo, sua empregada que vive sendo humilhada Verónica ou "Vero" e etc, etc... porém no meio disso tudo, quando Sebastián vai para a praia que esqueci o nome, uma praia nudista gay, ali a putaria toma... É cara batendo punheta, é cara balançando a rola na cara de Sebastián enquanto ele conversa com Jordan, tem caras metendo atrás da grande pedra... daí aparece um fã de Jordan que começa a chupar a benga do Jordan, e depois tem um velho que assedia Sebastián, insistindo numa chupada... enfim. O filme segue, a narrativa segue, as intenções de Sebastián e de Jordan ficam bem claras, temos outras situações que aparecem no caminho, mais cenas de punheta e boquete, e meteção... uma discussão entre Sebastián e Jordan que mostra como os dois enxergam a vida, e como isso impacta em algumas coisas no fim do filme.
Já o segundo ato do filme, vem quando Jordan está avisando a Sebastián que já está viajando para lhe encontrar em sua casa para trabalharem no projeto de Jordan... e tudo muda quando Sebastián e a empregada "Vero", estão pegando um sofá para levar até embaixo na casa, para Jordan poder dormir nele quando chegar... O filme muda de tom da água pro vinho, a putaria e o tom escrachado vão embora e do nada, o filme fica mais sério, mais investigativo, mais tenso, mais dramático, e os personagens começam a mostrar facetas que não sabíamos ainda que tinham, dado o desenrolar dos acontecimentos.
O filme muda de tom porque, quando "Vero" e Sebastián estão descendo o sofá, acidentalmente Sebastián cai da laje e acaba morrendo, e a culpa nem tanto da "Vero", é mais displicência de Sebastián mesmo. Por conta disto, Verónica abafa o caso, esconde o corpo por conta do medo polícia em prendê-la, e isso faz com que Jordan desconfie dela, até ele perceber que, dada aquela discussão que tiveram na estadia na praia nudista, pode ter influenciado Sebastián a se suicidar, uma vez que Verónica plantou provas de que ele teria ingerido o veneno de cachorros... e Mateo, seu amigo, também acha que o fato de ele sempre debochar e incentivar os atos suicidas de seu amigo, pode ter influenciado ele a se suicidar... todo mundo acha que tem culpa na possível e provável morte dele.
'Rotting In The Sun' é um filme que me surpreendeu bastante, e positivamente, ele se vende como uma coisa e seu resultado é bem diferente do que esperamos. Um filme que começa todo escrachado, nudismo e safadeza e que vira a chave total para se tornar algo dramático, criminalístico, pessoal, se desenvolve de uma maneira excelente e me envolveu e me deixou concentrado no desenrolar do caso.
Achei bacana o fato de Sebastián e Jordan interpretarem a si mesmos no filme, e é como se fosse interpretação mesmo, um personagem... como fazer de si mesmo um personagem? Como levar isso para a tela interpretando a si e ao mesmo tempo mudando as facetas de quem você é... fora que ainda temos o irmão de Sebastián, Juan Andrés Silva, também interpretando a si mesmo.
Cataleena Saavedra faz a doméstica Verónica, e ela está perfeita no filme, no começo você a vê mais escondida, fala uma coisa ou outra, acha que não vai ser tão acionada no desenrolar do roteiro... mas logo ela se torna peça central da história, e aí o roteiro lhe favorece e Cataleena consegue entregar uma performance incrível e surpreendente, que lembra muito as performances das atrizes de novelas mexicanas... mas aqui com uma carga dramática mais acentuada, não é algo exagerado como nas novelas de lá, é algo que é mais na linha cinematográfica mesmo... ela está esplêndida.
'Rotting in The Sun' foi indicado no Spirit Awards de Filmes Independentes nas categorias de Melhor Performance Coadjuvante para Cataleena Saavedra, Melhor Montagem e para o prêmio John Cassavetes de filmes que foram orçados em menos de 1 milhão de dólares... perdeu nas três categorias, mas foi reconhecido pela corpo docente da academia de filmes independentes.
É um ótimo filme, é engraçado, é envolvente, entretém, cria um ar de suspense, mesmo você sabendo de tudo, no ar, que é gostoso de acompanhar o desenrolar dos fatos e como cada personagem aje de acordo com a culpa que carrega. Se a pessoa não tiver pudor com cenas explícitas de sexo gay, e também não se incomodar com nudez masculina gratuita... vai encontrar um ótimo roteiro que culminou num ótimo filme, com interpretações competentes.
Só vim aqui dar um exemplo de como o Oscar não tem relevância...pra nada...
Um dos votantes das categorias disse o seguinte: "Não assisti Killers of The Flower Moon inteiro, não consegui, ninguém precisa ver 2 minutos e meio só de paisagem, tinha que cortar um pouco disso."
O filme não tem nenhuma cena de 2 minutos e meio de paisagem.
Gosto muito do critics Choice, BAFTA (com ressalvas, claro), SAG's, Spirit Awards e Astra Awards... até o satellite tem mais relevância comigo.
Oscar é muito palhaçada por conta de seu corpo votante...só amebas. Isso é só um exemplo de inúmeros que conheço.
Eu tenho um sério problema, que venho melhorando com o passar dos anos, mas vez ou outra eu tenho uma recaída. Ás vezes olhos pra filmes que tenho que assistir, e vou sem interesse porque acho que vai ser meio chato. E eu sei que preciso parar com isso porque na maioria das vezes sou surpreendido positivamente... e mais uma vez eu tomo aquele 'job' de direita no meio da fuça... porque fui meio assim, meio 'mé', e acabei conferindo uma das melhores comédias que vi nos últimos dois anos, talvez.
'Teather Camp' é um 'Mocumentary', termo usado lá fora para definir um ficção documental cômica... ou seja, é um filme gravado no formato documentário, que se passa num local real, mas a história é fictícia e cômica...mais ou menos isso.
Depois da dona do local Joan, entrar em coma em uma das apresentações do acampamento, os professores resolvem fazer uma peça baseada na vida de Joan, com as crianças alunas do acampamento. Porém, o lugar passa a ser administrado pelo de Joan, Troy, um 'infleuncer' das redes sociais, que acha que sabe como administrar um local, mas na verdade não sabe, tomando decisões que levam o lugar a ser ocupado por investidores de fora. A peça sobre a vida de Joan pode ser a única salvação do local.
Do momento que o filme começa até o seu encerramento, somos abastecidos com situações cômicas... todo o ritmo e tom do filme é cômico, com um ar de seriedade no fundo, que não se leva a sério, dado o fato dos próprios personagens terem atos e falas que não se levam a sério. Temos personagens com dramas pessoais, como Rebecca-Diane que quer dar um salto a mais na carreira mais está presa a seu amigo Amos, e este, tem uma relação de co-dependência com Rebecca-Diane, e o faz tudo Glenn que sonha em ser um astro dos palcos... entre outros. Mas o tom do filme é tão cômico, que este drama fica ali na superfície dos personagens, nós enxergamos algo mais neles, mas as situações e eles próprios sempre estão contra... acho que o charme deste filme está justamente nisso... tem algo maior na superfície do filme, mas não é o caso aqui explorá-lo, mas deixar sub-entendido e deixar o absurdo das situações ditarem o rumo do longa e dos personagens.
Não é aquele tipo de comédia, este filme, que vai lhe fazer arrancar risadas e mais risadas, são as situações cômicas que falam mais alto aqui, as falas non-sense em cenas onde eles deveriam agir com maturidade, a personalidade dos personagens que cativa quem for assistir, justamente por ter esse jeito blasé-debochado de agir, responder e tratar durante as passagens do filme.
É muito bom ver em cena os dois protagonistas Ben Platt, que faz Amos e Molly Gordon que faz Rebecca-Diane... eles possuem uma química ótima contacenando, um 'timing' perfeito para as cenas non-sense, estão alinhados no texto, e passam aquele ar de 'olhem como eu levo a sério o drama do meu personagem', mas fica claro enquanto assistimos usam da sua veia cômica para debochar dessa falsa interpretação séria. Molly Gordon é uma atriz que me surpreendeu muito, gostei demais dela no filme, tem muita veia Cômica, atua muito bem, e ela também de outros trabalhos ótimos, como a série que sou fã 'The Bear', a série 'Lakers:Winning Time', e o incrível filme indie 'Shiva Baby'.
Noah Galvin, de 'The Good Doctor' e 'Booksmart', faz Glenn e também está muito bem no filme, fazendo o faz tudo do acampamento, o cara que mexe na elétrica, que vê os equipamentos, cuida da iluminação, busca a comida, cuida cenografia, mexe nos encanamentos, enfim... e no final do longa, Noah entrega aquela atuação magnífica fazendo a personagem de Joan já adulta na peça, dançando, atuando, performando, tudo... ele foi um arraso em toda a sequência da peça, e um dos destaques do filme, gostei demais dele. Quero destacar também o ator mirim Alan Kim, que já roubou a cena no ótimo filme 'Minari', e aqui... esse menino é uma jóia.... ele está irretocável fazendo uma criança que fingi ser empresário, dono de escritório que agencia seus talentos... ele aparece só em momentos chave do filme, sempre trazendo essa parte de cômica de: "Eu vou fazer dela a minha estrela", "Minha na Segunda de Manhã", "pegue meu cartão, pense nisso", ou "Eu estou próximo de fechar com tal pessoa"... só assistindo para ver a pérola que esse garoto é atuando nesse filme...fortíssima veia cômica.
Ainda temos Jimmy Tatro como Troy, o filho de Joan, a ótima e linda Ayo Edebiri (de 'The Bear' e 'Bottoms') como Janet, a professora que não sabe nada (ela mentiu no currículo), e Amy Sedaris como Joan, e ainda a Patti Harrison, de Mulher-Hulk, como Caroline Krauss. Porém quero destacar também todas as crianças do longa, que estão no acampamento... sério, o que são aquelas crianças!!! Mais talentosas impossível, elas possuem veia cômica altíssima, veia dramática na medida, 'timing' para improvisação, sabem dançar, cantar, atuar, performar, são estrelas em ascenção. Vê-las em cena é um deleite para os amantes da arte, e um murro no estômago por perceber o quão talentosas elas são e o trabalho que entregaram nesse filme, ao qual estava levemente torcendo o nariz.
Do elenco do filme, Molly Gordon, Noah Galvin e Jimmy Tatro, produzem o longa ao lado de Will Ferrel... aqui é legal notar que além de atores, eles são muito bons produtores, seja no quesito de produzir mesmo todas as questões do filme, ou só executivo no caso de Jimmy Tatro, que é algo mais administrativo. Também destaco Will Ferrel, que tem visão e bom gosto para apostar em produções diversas para ele se envolver na produção e conseguir tirar do papel, assim como foi em 'Barbie', 'Segredos de um Escândalo' e 'Succession'.
Fora isso, Molly Gordon, Noah Galvin, Ben Platt e Nick Lieberman fizeram o roteiro deste filme, com Molly Gordon e Nick Lieberman se revezando na direção, e o próprio Nick Lieberman fazendo toda a trilha sonora do longa. E as músicas que vemos serem interpretadas no longa, foram escritas pela Molly Gordon, Noah Galvin e Ben Platt... ou seja...atuaram, dirigiram, produziram, escreveram e compuseram pro filme... pra mim, ARTISTAS no real sentindo da palavra. Admiração pura pelos responsáveis por este filme.
O longa foi indicado ao Spirit Awards de filmes independentes nas categorias, Melhor Atuação Coadjuvante para Noah Galvin, Melhor Primeiro Roteiro e Melhor Montagem... perdendo os três prêmios. No Astra Awards dos críticos de Hollywood, também foi indicado a Melhor Comédia.
'Teather Camp' na minha opinião, é um poço de criatividade, humor na medida certa. Ali temos atores e atrizes com raízes teatrais, e isso fica muito nítido na forma como eles atuam e performam. É tudo muito bem feito no filme, e ficou um resultado final muito satisfatório.
Um fato curioso, pra terminar... o filme obviamente possui um roteiro, mas não possui texto. Você sabia o que ia fazer e como iria se portar, mas nenhum personagem no filme possuía falas... todas as falas no filme foram improvisadas, TODAS... você vai fazer isso, vai vir para cá e depois vai agir assim, liga a câmera, fala ' ação', e o texto é improvisado na hora pelo ator... o quão incrível é isso hein... você assistir um longa e todas as falas surgiram naquela hora. Muito bom.
Esse filme é a coisa bela, e a experiência mais incrível que já tive em uma sala de cinema!!! O que Yorgos Lanthimos fez não foi cinema, foi uma peça de arte que fica exposta para o público contemplar, e tirar as suas conclusões do que está observando... sabe quando os mais endinheirados vão ao museu ou essas galerias abertas, e ficam vislumbrando a obra, seja em quadro ou cerâmica, e aí eles ficam debatendo e cada um enxerga de uma forma e por aí vai? Este filme é isso... foi o sentimento que me causou pelo menos, enquanto assistia e depois que terminou e os créditos subiram.
Simplesmente uma Obra de Arte em termos de Caracterização, de construção de personagem, estético, visual... o filme é um deleite para quem assiste, falando do visual em si, que efeitos foram aqueles... tão sutis e ao mesmo tempo tão profissional. A forma como criaram o mar enquanto estavam no Navio, o terreno onde ficavam as pessoas pobres que Bella viu, as passagens onde havia a troca de cérebros dos corpos, ou as autópsias realizadas, praticamente tudo magnífico e muito bem costurado visualmente.
Bella Baxter, para mim, entrou para a história do cinema como uma das personagens mais marcantes dos contos de faz de conta, estará eternizada entre os cinéfilos, junto a Forrest Gump, John Coffey, Don Lockwood, Dorothy Gale, Jack torrance, Hannibal Lecter, Rose DeWitt Butaker, Rocky Balboa, Walter White, Tony Stark e tantos outros...
É incrível como Tony McNamara escreveu uma personagem com tanta paixão, personalidade, inocência, sagacidade, empatia, decência, uma personagem riquíssima em tantos adjetivos, que começou praticamente como uma tela branca, murmurando adjetivos inacabados, como 'God' ou 'Dad', e com comportamentos e pensamentos infantis que não condiziam com o corpo em que estava, e que com o passar do longa, se desenvolve de uma forma voraz, passo a passo, se desenvolve aos olhos do espectador, que vai percebendo sutilmente, dado o fato de estar tão mergulhado na personagem, que mal consegue apontar: "Ah,aqui ela já está diferente", "Ah, aqui ela está mais mulher"... o entretenimento é tão grande e tão imersivo, que você não verbaliza esses pontos, você só os sente. McNamara já escreveu personagens interpretados por Emma Stone em outros filmes, 'Cruella' e 'A Favorita', duas personagens fortíssimas que exigiram um alto grau de atuação de Emma, e com Bella, Emma atingiu todo um novo nível de atuação e entrega.
Bella tem muitos pontos para melhorar, aprimorar, aprender, enquanto ainda vive com 'God' e seu 'noivo' Max McCandless, porém a partir do momento que ela sai para ver o mundo com o charlatão Duncan Wedderburn, é que vemos Bella passar por essa transformação, essa metamorfose, como se fosse uma borboleta saindo de seu casulo... e quanto mais ela verbaliza sobre as coisas, mais damos razão para suas colocações inocentes e certeiras, e mais Bella se desenvolve e conhece não só o mundo que tanto almejava conhecer, mas as pessoas em geral, e percebe o quão complicado e magnífico é se relacionar com as mesmas... tudo, claro, dentro de sua ingenuidade. Bella é apaixonante, é encantadora, é uma bruxa, uma demônio como disse Wedderburn, sua personalidade em formação é cativante e hipnotizante, e faz qualquer pessoas ao seu redor se apaixonar quase que instantaneamente, seja romanticamente, por parte dos homens, ou companheristicamente por parte das moças.
Lanthimos fez um trabalho magistral com seu filme, elevando uns três, quatro degraus em relação aos seus trabalhos anteriores, como 'O Sacrífico do Cervo sagrado' e 'O Lagosta'...junto a Alastair Gray, autor da obra original, ele pavimentou toda a cenografia do filme, atribuiu sua visão fora da curva para a estética do filme, e deu um toque refinado ás vestimentas do longa chamando a figurinista Holly Waddington, que elevou o nível visual do filme a cada cena que avançava, com os tons de figurino se alternando para cada lugar novo que visitavam.
Uma cinematografia, que devo dizer foi de tirar o fôlego... nunca vi um trabalho tão bonito como este, sensacional, visionário, surreal, eram tantos ângulos que se destacavam, tantas iluminações que davam o tom do local ou do cômodo onde estavam encenando... o que foram aquelas tomadas no topo das acomodações do Dr. Godwin com Bella e Wedderburn, e também de Bella com McCandless... ou toda aquela passagem no mar, quando estavam no navio e víamos o mar ao fundo... e os temas, quando anunciavam Paris, Lisboa, o Navio, com uma cena de Bella fora de qualquer contexto... aquilo era obra de arte pura, uma fotografia soberba, reluzente... de tirar o fôlego de quem aprecia. Méritos de Robbie Ryan que também trabalhou nos filmes 'História de um Casamento' e 'C'Mon C'Mon', onde neste filme ele também tem uma fotografia em preto e branco que salta os olhos.
Agora Willem Dafoe e Mark Ruffalo, o Duende Verde e o Incrível Hulk para quem é marvete... que atuação desses dois monstros, totalmente sem igual, perfeitos, certeiros, magistrais. Dafor personificou um doutor desfigurado, que sempre colocou o seu trabalho, suas pesquisas, seus experimentos em primeiro lugar, a razão de estar vivo, a motivação que o faz levantar da cama, nunca se afeiçoou ás suas 'criações' ou 'experimentos'... até dar vida à Bella, e ali presenciamos um sentimento afetivo, paternal, para um ser que ele trata como sua filha... uma preocupação única para com o bem estar de sua 'criação', mesmo que ás vezes controversa, mas sempre visando o bem estar de Bella. Godwin possui muitas camadas que fazem ele ser o que é, e essas camadas fazem com que o público se relacione facilmente com sua pessoa, dado o que ouvi de conversas aleatórias na saída do cinema.
Já Mark Ruffalo deu vida ao advogado Duncan Wedderburn, um homem sórdido que pensa somente em seu bel prazer, e enxerga na ingenuidade de Bella alguém que ele pode manipular, para atingir seus prazeres e fazer suas vontades. Narcisista, Duncan não suporta que Bella tenha outras relações, e a enxerga mais como um bibelô, e de forma alguma quer o bem de Bella... mas dentro da inexperiência de Bella para com o mundo e com as pessoas, o jogo vira de forma surpreendente, e Duncan se vê preso dentro de um labirinto do qual não consegue sair... pois como já havia mencionado, Bella é uma pessoa apaixonante para quem conhece.
Já deixo aqui registrado, que a dança de Bella e Duncan Wedderbuen no salão em Lisboa, ao som de uma orquestra desalinhada... toda aquela sequência de dança, todos os movimentos de Bella, todos os movimentos de Duncan, a dança dos dois, tudo aquilo... vai ficar eternizado também como uma das cenas de dança mais icônicas na história do cinema, se juntando a cenas como: Gene Kelly dançando na chuva, a cena da dança de John Travolta em 'Grease', a dança de Patrick Swayze em 'Footloose', o tango de Roxanne, a memorável dança em 'Flash Dance', Jack e Rose dançando no Navio... e claro a cena mais icônica de todas, Vincent Vega e Mia Wallace dançando ao som de 'Never Can Tell'.
Do elenco destaco ainda o ótimo Ramy Youssef (de 'Mo' e 'Ramy') como o noivo de Bella, esteve muito bem no filme... e Christopher Abbott (de 'O Primeiro Homem') que fez o marido de Bella antes de ela se suicidar... ele também esteve perfeito naquele papel mais maquiavélico e cheio de nuances. Ainda temos Margareth Qualley, atriz que adoro e sou fã, que fez Felicity, a nova criação de Godwin depois que Bella foi embora. Sua participação no longa infelizmente é curta, mas lá está ela em uma grande produção de novo, depois de aparecer em 'Era Uma Vez Em... Hollywood' e na série 'Maid' da Netflix.
A trilha sonora é soberba, incrível, magnífica, já saí da sala de cinema ouvindo no meu celular, porque me ganhou desde o primeiro momento que ouvi, principalmente o som da dança entre Mark Ruffalo e Emma Stone que mencionei, que confesso já havia visto no Twitter antes de ver o filme, para mostrar o quanto aquela dança toda viralizou assim que o filme foi lançado lá fora. A trilha é assinada por Jerskin Fendrix em seu primeiro trabalho cinematográfico...e já essa coisa estrondosa que ele compôs... merece muito o Oscar.
Indicações: - No Globo de Ouro, Ator Coadjuvante (Willem Dafoe e Mark Ruffalo), Diretor (Yorgos Lanthimos), Roteiro (Tony McNamara), Trilha Sonora (Jersjin Fendrix); - No Critics Choice Awards, Melhor Filme, Diretor, Melhor Comédia, Ator Coadjuvante (Mark Ruffalo), Roteiro Adaptado, Fotografia, Edição, Figurino, Design de Produção, Trilha Sonora, Maquiagem, Efeitos Visuais; - No BAFTA, Melhor Filme, Melhor Filme Britânico, Roteiro Adaptado, Fotografia, Edição, Trilha Sonora; - No SAG's Awards, Atriz (Emma Stone) e Ator Coadjuvante (Willem Dafoe); - No Satellite Awards, Melhor Filme Comédia/Musical, Melhor Atriz (Emma Stone), Melhor Diretor, Ator Coadjuvante (Mark Ruffalo), Roteiro Adaptado, Edição, Figurino, Trilha Sonora; - No Oscar, Melhor Filme, Melhor Atriz (Stone), Melhor Ator Coadjuvante (Ruffalo), Melhor Diretor, Roteiro Adaptado, Melhor Design De Produção, Melhor Trilha Sonora, Melhor Fotografia, Melhor Maquiagem, Melhor Edição, Melhor Figurino;.
Prêmios: - No Globo de Ouro levou Melhor Filme Comédia/Musical e Melhor Atriz Comédia/Musical para Emma Stone, 2 prêmios de 7 indicações; - No Critics Choice Awards levou só Melhor Atriz de 13 indicações; - No BAFTA levou, Melhor Figurino, Melhor Maquiagem, Melhor Design de Produção, Melhor Efeitos Visuais e Melhor Atriz para Emma Stone 5 prêmios de 11 Indicações: - No SAG's não levou nada; - No Festival de Veneza levou o Leão de Ouro.
Pra mim, pessoalmente, são poucos prêmios que o longa recebeu nesta temporada, e pra mim a derrota mais gritante foi a de Filme Britânico no BAFTA, uma vez que eles premiaram 'Zona de Interesse' como Melhor Filme em Língua Não Inglesa, achei que dariam o prêmio de Filme Britânico para 'Pobres Criaturas', porém deram o prêmio também para 'Zona De Interesse'. No Oscar, o prêmio para Emma já é colocado em xeque, uma vez que a Lily Gladstone levou os SAG's Awards, e isso conta muito. Já para Melhor Filme e Diretor, o favoritismo é 100% de Oppenheimer, então, Yorgos vai ficar de mãos abanando com essa pérola que ele filmou.
Como disse antes, 'Pobres Criaturas' não é cinema, é uma Obra de arte a ser apreciada, é uma Obra Prima de Lanthimos, e pessoalmente, eu considero o seu melhor filme até então, e uma contribuição gigantesca à história cinematográfica.Uma pena que não será bem premiado, tendo que se contentar com o Festival de Veneza e o Globo de Ouro.
Assistam no Cinema, antes que saia de cartaz...a experiência é única... a minha sala estava lotada e foi do C@#$%&...
Existem muitos projetos independentes que são bem difíceis de se tirar do papel, pois esbarram no orçamento, que vai ser necessário para fazer tudo o que o filme precisa ter. Esses projetos precisam achar bons produtores que acreditem no potencial do longa, e que trabalhem nas internas para garantir que se veja a luz do dia. Em 'Bottoms' (me recuso a usar o título brasileiro RÍDICULO), esse papel de produtora coube a Elizabeth Banks, que dispensa comentários, mas... foi diretora de 'O Urso do Pó Branco' (que ainda estou devendo) e 'Charlie's Angels', e ainda estrelou a saga 'Jogos Vorazes' e ' Power Rangers' e por aí vai...
'Bottoms' é um filme adolescente que mostra duas garotas lésbicas que estão prestes a deixar a escola e ir para a faculdade, e não querem ir para lá virgens. Sendo as estranhas da escola junto a outras garotas, elas se envolvem em um pequeno acidente com o principal jogador de Futebol Americano da escola, e prestes a serem expulsas, inventam a mirabolante história de que estão montando um clube feminino de artes marciais e todo um discurso para convencer o diretor. Então surge o clube, onde elas aprendem a se defender dos Bullies masculinos, mas tudo isso é um pretexto para pegar as duas garotas gostosas que elas estão afim.
O filme é um besteirol como eu esperava, mas gostei muito do que assisti, é um filme muito cômico, mas não é aquela pegada onde você vai gargalhar de rir o tempo inteiro, é aquele filme cômico onde as situações acontecem e você ás vezes é pego de surpresa e salta uma risada ali e acolá, mas para quem gostar do filme vai se entreter e vai considerar uma boa comédia. É dirigido por Emma Seligman, do já icônico 'Shiva Baby' (que também estou devendo), sendo que com 'Shiva Baby', Emma foi muito elogiada e condecorada pelo seu trabalho de estreia na direção. Mas falando de 'Bottoms' eu gostei bastante da direção dela, posicionou bem a câmera nas mais diversas cenas de luta, soube enquadrar bem as protagonistas nos momentos chave onde tentam pegar/impressionar as garotas, e conseguiu captar todas as meninas coadjuvantes muito bem,, dando tempo de telas o suficiente para conhecermos elas e desenvolve-las.
A protagonista do filme é Rachel Senott, que faz PJ, ela também escreveu o roteiro do longa com Emma Seligman, a ideia é das duas, e Rachel foi a protagonista de 'Shiva Baby', muito elogiada também por sua atuação lá. E Rachel também protagonizou outro sucesso juvenil, 'Bodies, Bodies, Bodies', um terror que fez muito barulho nos EUA. Ou seja, Rachel vem só despontando como atriz e como comediante, que também é a linha dela. E no filme ela está muito bem, faz o papel de adolescente birrenta e xarope como nenhuma outra... por ser a roteirista junto a diretora, não poupou palavrões sujos no roteiro, é uma chuva de 'fucks' e 'cunts' e 'dicks' e por aí vai.
Ayo Edebiri faz Josie, amiga de PJ, e Ayo é uma atriz que virei fã desde que a vi primeiro em 'The Bear', uma das minhas séries favoritas atualmente. Gosto muito da Ayo como atriz, ela é completíssima, sabe muito bem fazer todo tipo de atuação... ela impressiona sendo muito dramática em 'The Bear', além de mostrar leveza, e aqui em 'Bottoms' ela mostra toda sua desenvoltura como comediante, tendo um 'timing' perfeito para várias das cenas e falas. Ela e Rachel já são amigas de longa data, tendo feito podcast juntas, então a química entre ela já é natural no filme.
Ainda destaco mais duas atrizes, Ruby Cruz, que faz Hazel, foi a que mais gostei no longa, ela é ótima atuando, é a atuação cômica contida, não é pra voce rir, mas você percebe os traços cômicos, e ela ainda traz uma pequena carga dramática para sua personagem. Talentosa e muito linda, já fez a série 'Mare of Easttown' e, para mim, rouba a cena sempre que aparece aqui no longa. Outra que destaco é Kaia Gerber que faz Britanny, o sonho de consumo de PJ, ela é filha da atriz e modelo Cindy Crawford, e não dá aqui aquele show de atuação nem nada parecido disso. Mas o jeito blasé de atuar, o ar de 'whatever' que ela dá para Britanny é muito interessante, para alguém que não costuma atuar com frequência, o personagem lhe serviu e ela entendeu direitinho o que tinha que entregar.
As músicas do filme são de Charlie XCX, conheço pouco dela, mas o que vi no filme agradou, junto ao compositor Leo Birenberg (de Cobra Kai), para um filme adolescente cômico, não ficou ruim.
Mas 'Bottoms' é para quem curte uma comédia moderna, que hoje em dia vem regada a muito palavrão, coisa que não me incomoda e nem acho forçado, hoje em dia os standups norte-americanos são exatamente neste estilo... mas me agradou bastante, o resultado foi ótimo, eu me diverti, dei algumas risadas e o roteiro é bem escrito. As cenas finais no campo de futebol, com as meninas enfrentando o time de futebol adversário, é a melhor parte do filme, ficou em um resultado surreal, diferente do comum entregue em filmes deste estilo... e foi diversão pura.
Foi indicado a Melhor Comédia no Astra Awards e também foi no Critics Choice Awards onde perdeu para o fenômeno 'Barbie'. No Spirit Awards de filmes independentes, está indicado a Melhor Roteiro e Performance Estreante para Marshawn Lynch, ex jogador de futebol americano que faz o professor Mr. G e ajuda as meninas no clube, a seu próprio modo.
Eu aprecio ideias assim, que saem da zona de conforto e entregam algo que mistura criatividade com nonsense, regado a um roteiro coeso, sem se preocupar com os politicamente correto. Espero ver mais trabalhos cinematográficos de Rachel Senott e de Emma Seligamn.
Dirigido por Ira Sachs (de 'O Amor é Estranho' e 'Melhores Amigos'), e escrito por Mauricio Zacharias, Ira Sachs e Arlette Langmann, 'Passages' mostra um diretor de cinema, Tomas, que após terminar as filmagens de seu novo longa, conhece uma garota, Agathe, na festa do término das gravações... Tomas é gay e casado com Martin, que deixa festa mais cedo, cansado. Frustrado, uma vez que o relacionamento deles está numa pequena crise, ele acaba se envolvendo romanticamente e sexualmente com Agathe, e começa um caso com a garota. Ao saber da traição do marido, Martin, posteriormente, acaba começando o seu próprio caso com uma rapaz que está lançando um livro... ao saber que seu ex-marido está tendo um caso, Tomas volta suas atenções novamente para Martin.
O longa de Ira Sachs, é um mergulho na psique conturbada de Tomas Freiburg, personagem protagonista do filme, e Ira nos mostra o quão Tomas é perturbado emocionalmente e confuso em suas impulsividades conjugais. Tomas é gay, gay, mas basta apenas Martin não lhe dar a devida atenção, não demonstrar o afeto que ele espera, passar pela sua cabeça que Martin não está sendo atencioso o suficiente para com ele, que é o bastante para Tomas se aprofundar em um relacionamento que nem ele está seguro de que quer. Ao transar após a festa com Agathe, ele com muita euforia, que compartilhar essa experiência com Martin, já mostrando o quão quebrada está a relação dos dois, e o quão Tomas não tem a menor capacidade de perceber algo que é tão concreto debaixo de seu nariz. Dali para frente é só ladeira abaixo para Tomas, e começamos a acompanhar um personagem que lentamente vai caindo ao fundo do poço, por decisões erradas que acaba tomando, por um comportamento narcisista e um distúrbio emocional gritante. O quão inconscientemente uma pessoa pode destruir a própria?
Com seu roteiro, ao lado de Zacharias e Langmann, Ira não quer fazer um estudo completo de como funciona a mente de Tomas, nem de tentar nos mostrar o quão defeituoso é a auto estima da personagem, mas sim, nos mostrar pequenos pontos da personalidade do trio, Martin, Tomas e Agathe, e o quão distintos são uns dos outros, e como apenas o apetite sexual acaba os unindo, de forma singular é claro. É claro que não há dúvidas durante o filme, que Martin realmente amava Tomas, e de que Agathe realmente nutriu essa paixão por Tomas, mas conforme as coisas vão se desenrolando, começamos a nos perguntar enquanto assistimos: "Afinal, quem Tomas realmente ama? Ele realmente ama a si mesmo?" Ou seu ego fala por si só?" Até porque o começo do longa mostra o quão ditador Tomas é dirigindo seu elenco, o quão detalhista é em pequenas coisas, ele sabe exatamente o que quer, na hora que tem que ser, do jeito que tem ser, qual sentimento passar e em como a pessoa deve se portar... mas na sua vida pessoal, essa visão, essa certeza, sequer faz presente. Para mim, esse é o principal ponto que faz o filme de Ira Sachs ser tão interessante e atraente.
Eu marquei aqui como spoiler, mas o spoiler mesmo é na última linha...
eu me peguei muito questionando os atos de Tomas durante o filme, o quão ele estava perdido no filme, perdendo a mão da própria vida e destruindo a vida das duas pessoas com quem ele se relacionava, por não saber exatamente o que quer, o que esperar não só da vida em si, mas das pessoas que o cercam, e aonde se enxergará daqui uns anos... e vê-lo se afundando perante seus atos, acabou sendo algo que olhei e achei o mais justo possível, nunca vi uma pessoa ter a capacidade de ferrar com sua própria vida e levar os outros juntos, sem sequer achar que está sendo inconsequente. Agora o spoiler de fato...Na última cena onde ele para a bike e a uma luz vermelha forte em seu rosto, eu pessoalmente, enxergo como se ele tivesse parado no farol fechado, e vislumbrando o quão fodida estava sua vida, culpa dele mesmo, obviamente, ele ponderou e ponderou, e acredito que no final tenha atravessado o farol fechado e ... velório. Mas a interpretação é pessoal e o que vale é o que o filme quer passar para o espectador.
Achei a direção de Ira Sachs muito boa, ele sabe mesmo como fazer os atores se portar em cena, acho que ele tirou muito bem o que ele queria de seu elenco, de seu trio de protagonistas, e nos mostrou uns takes muito interessantes, bem singulares... gostei muito do cena inicial onde tomas está dirigindo seu filme, gostei muito da cena onde Tomas discute com os pais de Agathe, e todas as sequências com Tomas e Agathe eram gostosas demais de se acompanhar.
Agora o que eu realmente quero exaltar em Ira Sachs, é o fato de ele ter 'zero' pudor em rodar as cenas de sexo no filme. Ira não se deixa levar pelo politicamente correto, não está interessado em agradar uma parte conservadora do público, que tem aversão com cenas explícitas de sexo... aqui essas cenas elas ajudam a complementar a personalidade do trio de protagonistas e acaba sendo mais um traço de como esse relacionamento conturbado os afeta. Para tal, temos uma cena de sexo visceral de Tomas e Agathe, que ajuda a demonstrar o quanto foi fulminante a ligação entre os dois, e o quanto eles se complementavam dentro daquele ato e da relação... achei a atuação sexual de Adèle Exarchopoulos incrível, singular e incrível, ela não teve pudor e se entregou mesmo à cena e a personagem... magnífica. A outra cena de sexo visceral, a que mais me impactou, foi a de Tomas e Martin, onde Martin faz a parte ativa do ato, e são uns bons 2, 3 minutos, por aí de coito entre os dois, numa entrega dos dois atores, com ricos detalhes de performance, da parte de Martin que mete de um jeito cauteloso e afoito e de Tomas que impressiona mais pela atuação vocal, em seus gemidos de prazer e pedidos para meter mais. Sem pudor, sem frescura, fora do cinema convencional, direto e reto como tem que ser, dois homens transando, apenas sem mostrar genitálias e com um único enquadramento, de costas para Martin. Não sei o que as mulheres acham de tal cena, mas muitas delas já ficam incomodadas quando vêem cenas de sexo entre homem e mulher e não gostam muito de acompanhar... o que dirá de uma cena como esta... já os homens, acredito que os mais puritanos e conservadores vão torcer o nariz, dificilmente um homem hétero consegue enxergar arte neste tipo de cena homossexual, e eu já não tenho esse tipo de pudor, acho super normal, e encaro como uma forma de arte, do que deixar o machismo falar mais alto... mas isso é pessoal e peculiar de cada um, e cada pessoa sabe como se relacionar com este tipo de cinema, e no final tem que se haver o respeito do que cada um enxergou.
Franz Rogowski esteve perfeito no papel de Tomas, achei ele incrível, verossímil, sagaz, achou o tom do personagem e só o fez crescer durante o filme... foi um deleite vê-lo atuando e suas várias nuances de personalidade conforme os atos avançavam... acho que Franz foi gigante no filme e entregou um trabalho muito, mas muito acima da média.
Já Ben Wishaw (dos filmes '007' de Daniel Craig, 'Entre Mulheres', 'O Lagosta') que faz Martin, foi outro que esteve sensacional em seu papel, achei Wishaw coeso, certeiro, centrado, interpretando um Martin seguro de si (em partes, claro), e passando suavidade e leveza quando exigido... aquela cena dele conversando com Agathe ao dar o presente é ótima, e suas discussões com Tomas também mostravam o quanto Ben estava sendo certeiro em sua atuação... grande ator.
Agora Adèle Exarchopoulos, que mulher linda, linda demais...e super talentosa, Adèle para mim foi soberba, sempre exalto as atrizes que conseguem enxergar a arte nas cenas de sexo, e se entregam sem pudor, quando o filme entende que tais cenas contribuem para o que está sendo conversado com o público. Acho que ela esteve magnífica em tal cena, e no resto do filme, sendo impossível você não se relacionar com Agathe durante o longa. E grande parte disso é a atuação de Adèle, que é muita singela e competente, entendendo a personagem e a compondo de uma forma completa e única. Para mim, atuação digna de indicações, mesmo modestas.
O longa de Ira Sachs foi indicado ao Gotham de filmes Independentes em Melhor Filme e Melhor Atuação Principal para Franz Rogowski. No Satellite Awards foi indicado a Melhor Ator Filme Drama para Franz Rogowski. No Spirit Awards de Filmes Independentes, foi indicado a Melhor Filme, Melhor Diretor (Ira Sachs), Melhor Atuação Principal (Franz Rogowski) e Melhor Atuação Coadjuvante (Ben Wishaw).
Achei um filme sensacional, com muita personalidade e um estudo perfeito de personalidade de personagem. Ver toda a trajetória de Tomas é uma experiência esclarecedora, uma vez que existem muitas pessoas assim em nosso ciclo social, assim como tem muitos Martins e muitas Agathes. Muito bem dirigido e escrito, e melhor ainda interpretado por um elenco competente, e um trio de protagonistas afiados. Filmão!
'Rye Lane' é um filme britânico produzido pela BBC Films e estrelado por David Jonsson Fray e Vivian Oparah (de 'Espírito Jovem), e trata de dois jovens que acabaram de sair de um relacionamento e estão tentando lidar com esse fim à suas próprias formas. Eles se encontram a noite, casualmente, e surge um interesse grande por parte de Yas (Vivian Oparah) por Dom (David Jonsson), e a partir do momento que começam a conversar e trocar segredos sobre seus términos, a ligação entre os dois vai crescendo, ao mesmo tempo em que eles se colocam em situações de confusão, como recuperar um disco de um ex-namorado ou encontrar a ex-namorada e seu atual num bar para resolver as coisas.
O filme é dirigido por Raine Allen Miller em seu longa de estreia, e ela faz um trabalho bem bacana, tudo é muito colorido e neon pelo bairro de Rye Lane em Londres, onde é gravado o filme. Ela tem ótimos takes no filme, sabendo deixar os dois protagonistas em evidência o tempo todo, porém, os coadjuvantes, que têm seu momento de destaque, também são bem enquadrados e destacados quando aparecem em cena e muda os rumos do roteiro.
Possui um ritmo bacana, envolve o espectador em suas 1h30 de duração, começa um pouco na marcha lenta, mas assim que os dois protagonistas são apresentados e começam a se dialogar, o filme desce a ladeira e vai no automático. O texto é bom, temos ótimas falas, bem ácido e muitos momentos, não seu poupa nos palavrões e nas palavras de baixo calão, que são muitas, o que deixa o longa verossímil, afinal todo mundo fala palavrão (mesmo eu que me policio bastante). É engraçado na medida certa, possui muitas situações cômicas e falas engraçadas, o espectador não vai se pegar gargalhando de rir, mas entenderá o quão cômico é o filme em seus muitos momentos. Não é piegas e não insulta quem assiste, é aquele comédia romântica totalmente moderna, que não liga pro politicamente correto, solta o verbo e não se segura nas cenas apresentadas.
Os protagonistas são ótimos, possuem uma química bacana e aceitável, não se atropelam quando estão contracenando e não passam da linha na questão cômica. No geral, achei a Vivian um pouco mais solta que David Jonsson, acho que ela teve mais 'feeling' pra deixar sua personagem mais solta... mas David esteve bem em muitas cenas e conseguiu se soltar em alguns momentos. Acho que no começo ele estava muito preso, estava precisando achar mais o tom de sua personagem, mas com o decorrer do filme você percebe que ele acha o tom e vai no automático.
Como já citaram aqui embaixo nos comentários, a Fotografia do filme é ótima, gostei bastante da iluminação do longa nas cenas internas e noturnas, temos vários takes da cidade onde os protagonistas ficam em evidência, e várias das cenas onde eles conversam, trazem uma take fotográfico certeiro para deixar claro a intenção e relação dos dois. O figurino também, muito bem escolhido e alinhado com os padrões modernos da juventude londrina de hoje, pelo menos o que vejo quando assisto a vídeos da cena rock/alternativa da Inglaterra. Falando em música a trilha do filme é regada a muito Rap e som alternativo, também ditando um bom ritmo nas cenas onde os dois estão se conhecendo a fundo.
Já os coadjuvantes do filme são hilários e destaco aqui dois deles: Malcolm Atobrah que fez Jules, ex de Yas, que possui uma atuação solta e cômica quando Yas e Dom invadem o apartamento para recuperar o disco de Yas do 'A Trible Called Quest' (quem conhece?)... eu achei ele muito bom em toda aquela sequência, principalmente depois que ele pega o pedaço de sua obra que cai, e dá aquela virada de corpo com um certo tom de deboche...muito bom! Outro destaque é Benjamin Sarpong-Broni que faz Eric, o atual namorado da ex de Dom... ele faz o típico cara bobão, que não sabe diferenciar as coisas, tudo que sai da sua boca é bobagem, e é mais burro que uma porta enferrujada com cupins... personagem bem caricato, mas ele tem veia cômica, o cara é muito bem e muitas de suas falas eu me diverti... é um ótimo ator cômico. O filme ainda teve produção executiva de Kristin Scott Irving, que também produziu 'How To Have Sex' outro ótimo filme britânico.
O filme foi lembrado pelo BAFTA nas categorias de Melhor Filme Britânico, perdendo para 'Zona De Interesse' (obra prima) e também a Melhor Atriz para Vivian Oparah, perdendo para a já favoritaça Emma Stone de 'Pobres Criaturas'.
Já no British Film Independent Awards, recebeu uma chuva de indicações: - Melhor Filme Britânico Independente, Melhor Revelação (Vivian Oparah), Melhor Diretor (Raine Allen Miller), Melhor Performance Principal (Vivian Oparah), Melhor Filme de Estreia, Melhor Roteiro, Melhor Produção, Melhor Figurino, Melhor Edição, Melhor Elenco, Melhor Maquiagem & Cabelo, Melhor Design de Produção, Melhor Supervisão Musical, Melhor Cinematografia, Melhor Roteiro de Estreia e Melhor Música Original. (UFA!!)
Dessas indicações levou apenas dois prêmios, Melhor Revelação para Vivian Oparah e Melhor Música Original para o Produtor e Compositor Kwes.
'Rye Lane' é um filme bacana, honesto, com um romance bem diferente do que vemos em produções Hollywoodianas, e com uma pegada diferente também. É um filme muito bem feito esteticamente, possui identidade, mas sei que nme todo mundo irá sair agradado da experiência, afinal, é uma outra escola de cinema, e uma outra escola de Comédia Romântica moderna, uma linguagem mais do guetto, uma coisa mais atual. Mas eu me diverti bastante. E sim, Vivian Oaparah é uma grande surpresa e uma atriz muita qualificada.
Eu acho incrível quando vejo diretores que passam anos sem lançar obras novas, e então quando aparecem com obras novas, nos surpreendem entregando um entretenimento da mais alta categoria. Alexander Payne, diretor de 'Os Descendentes' e 'Nebraska', entregou um longa que tem total foco nos personagens, no que eles sentem, na forma como eles vêem o próprio mundo, a própria vida, e em como eles acham que devem ser a relação para com os outros. Grande parte do mérito do longa, vem do texto de David Hemingson, acostumado a escrever séries, como 'Whiskey Cavalier' e 'American Dad', e quando roteiriza seu primeiro longa, já acerta em cheio com um texto ácido, envolvente, que prende a atenção do espectador, por retratar com tanta honestidade a personalidade de seus personagens principais.
'Os Rejeitados' é um filme ótimo, divertido, envolvente, sagaz e singelo. O trio Paul Hunham, Mary e Angus funciona perfeitamente bem, sobram e vendem carisma, e dita todo o ritmo do longa. Acho que Payne, foi muito feliz em deixar o seu filme esteticamente como um longa dos anos 70... a forma como é produzido na tela do cinema, sonoramente também é nítido como o filme tem ares de anos 70, todo o seu início que nos mostra os estúdios envolvidos na produção e o começo à lá filme feito para TV da época. Isso deu uma imersão maior para o que iríamos acompanhar e deixa o filme como uma identidade própria.
Como já mencionei, não tem como não elogiar o texto do filme, é direto ao ponto, repercute bem a personalidade dos protagonistas, traz dinamismo paras cenas, e já nos deixa apresentados como são cada um deles, seja os protagonistas, ou seus coadjuvantes, que são os alunos que ficaram para trás durante as festas de fim de ano. Esses alunos logo saem de cena, mas o tempo que eles ficam em cena não só é ótimo e enriquecedor para o texto, mas também nos mostra o quão bem escrito e criados eles são... poderiam ficar o resto do filme na escola, e ainda assim engrandeceria o longa, pois são todos carismáticos, e ricos em problemas pessoais e questões a serem resolvidas, mesmo os dois garotos, que podem aparentar serem apenas um complemento, mas que se mostraram bem úteis no pouco tempo que ficaram em cena.
É o típico filme de pessoas desajustadas que procuram seu lugar na vida, que tentam encontrar uma direção, no caso de Angus, ou que precisa acreditar que é o suficiente aonde chegou, no caso de Hunham... outras estão perdidas, se agarrando ao que lhe restou, como é caso de Mary. Facilmente acharemos filmes assim, tanto na década de 80 como na de 90, são muito semelhantes pois possuem um enredo pré determinado, sabemos de onde partem, pelo que vão passar, o que vão aprender um com o outro, e aonde e como terminarão... quem está acostumado a assistir filmes, seja com essa premissa, ou dos mais variados temas, sabe como os roteiros geralmente funcionam... Mesmo assim, o texto precisa nos ganhar, precisa nos fazer se importar com o que está acontecendo, precisa nos fazer enxergar nós mesmos nos personagens (ou em alguns deles), nos fazer nos relacionar com aquele ambiente que estamos acompanhando... e, claro, nos entreter... vamos ter algo a tirar dali para nós mesmos, ao mesmo tempo que estamos nos divertindo.
O filme não seria essa pérola que ele é, se não fosse o ótimo elenco escalado por Susan Shopmaker (de 'Garra de Ferro' e 'Sound of Metal')... Dominic Sessa que faz Angus, em sua estreia cinematográfica, foi um achado incrível, esse rapaz tem um 'time' incrível para ser cômico e dramático ao mesmo tempo, numa mesma cena, sendo que é tão peculiar esse traço em sua atuação, que você não consegue distinguir exatamente quando eles está sendo cômico e quando ele está sendo dramático. Ele domina e transita tão bem entre os dois traços, que dá impressão que ele está sendo sarcástico o tempo todo, mas não, ele criou uma linha de personalidade própria para Angus, que o deixou um personagem interessantíssimo de se acompanhar e também de se relacionar.
Paul Giamatti, a primeira vez que vi foi em 'O Casamento do Meu Melhor Amigo' e depois em tantos filme como 'O Show de Truman, 'O Mundo de Andy' e 'O Espetacular Homem Aranha 2: A Ameaça de Electro' fazendo o vilão Rino, era uma participação pequena, no começo e final do longa... mas ele nunca foi protagonista em nenhum filme, não que eu me lembre, ou seja, Paul tem esse potencial para carregar um longa, com seu imenso talento, e precisava apenas do personagem e roteiro certo, para nos brindar com uma atuação envolvente. Paul Hunham é um deleite de personagem, rabugento, xarope, metido, ranzinza, mas como podemos acompanhar durante o longa, possui um coração enorme, claro que teve que ter seus olhos abertos por Mary, mas estava tudo lá dentro dele, só precisava ser aflorado. Fora o texto, que o favorece demais, possui tantas e tantas linhas que nos arrancam risos em boa parte do filme, e todo o trejeito que Giamatti criou para o personagem e a forma como se portou, para nos passar a grandeza de um homem que vai evoluindo conforme as coisas vão se desenrolando.
Mas a alma e o coração mesmo do filme é Mary, de Da'Vine Joy Randolph (de 'A Cor Púrpura' e 'Rustin'), afinal tudo que se sucede no filme, a quebra de carcaça de Hunham e Angus, todo o processo de humanização deles, a posição onde eles terminaram entre eles, tudo o que aprenderam e vivenciaram naquele inverno, se deve a Mary e seu grande coração e sua imensa personalidade, que mesmo em um período doloroso de luto, gigante e imenso, ela conseguiu ser tudo o que os dois precisavam e não sabiam expressar, ela foi mãe, foi irmã, foi tia, foi avó, foi madrasta... enfim. Da'Vine teve muita sensibilidade para interpretar este personagem, achou o tom perfeito de Mary, e entendeu seu luto de uma forma genuína e isto está presente de uma forma muito forte nas cenas onde lamenta seu filho... sendo que trouxe a serenidade que a personagem pedia, porque já fazia parte de sua essência, e Da'Vine teve a inteligência e o talento e enxergar isso no texto e repassar isso em cena. Acho que o respeito e a admiração entre os protagonistas fez eles terem essa facilidade para atuar uns com os outros, e tudo ficou muito genuíno em cena, muito verdadeiro, a entrega ali é verdadeira, eles acreditam muito no projeto e nos personagens, e o resultado foi perfeito... 'Os Rejeitados' é muita coisa em um filme só, é comédia, é drama, é 'road trip', é ficção de época, é um filme mais que completo.
Tirando toda a cenografia do filme que foi muito bem construída por Ryan Warren Smith, e que salta aos olhos principalmente em toda a sequência na escola, mas também na festa na casa de Lydia (Carrie Preston de 'True Blood')... a Cinematografia do filme foi um dos pontos que mais me chamou a atenção tecnicamente no filme. Temos tantas cenas bem fotografadas, dentro da escola, na parte do ginásio, quando Angus está tocando Piano, quando os três estão comendo na mesa, toda a sequência na Neve do lado de fora da escola, no bar onde Angus arruma confusão, e aquela sequência linda e incrível de Angus com seu pai na clínica... uma fotografia belíssima ali. Trabalho magnífico de Eigil Bryld, que trabalhou em 'The Report' e no fraquinho 'Que Horas Eu Te Pego?'. A Edição ficou por conta de Kevin Tent, que já editou 'Garota Interrompida' e 'A Bússola de Ouro', ele montou o filme muito bem, trouxe aquela edição tradicional de obras dos anos 70, aquela edição bem televisiva, e deu um ritmo bacana para o longa, que não cansa os olhos, que te deixa fisgado na tela... realmente uma montagem profissional e de primeira linha.
A Trilha sonora é muito boa, com uma composição mais serena, mais amigável em muitas cenas, para avançar a transição entre as cenas, e ganhando notoriedade quando temos momentos mais íntimos entre Angus e Hunham, ou nas cenas de luto de Mary.
-No Oscar foi indicado a Melhor Filme, Melhor Roteiro Original,Melhor Edição, Ator (Paul Giamatti), Atriz Coadjuvante (Da'Vine Joy Randolph); -No Satellite Awards foi indicado a Melhor Ator (Giamatti), Atriz Coadjuvante (Da'Vine), Ator Coadjuvante (Dominic Sessa), Melhor Filme Comédia/Musical, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original e Melhor Edição; -No Spirit Awards de Filme independentes a Melhor Roteiro, Melhor Fotografia, Melhor Atuação Coadjuvante (Da'Vine), Melhor Performance de estreia (Dominic Sessa); -No BAFTA perdeu em Melhor Filme, Ator (Giamatti), Ator Coadjuvante (Sessa), Roteiro Original e Melhor Elenco; -No Critics Choice Awards perdeu Melhor Filme, Melhor Elenco, Melhor Roteiro Original e Melhor Direção; -No Globo de Ouro perdeu Melhor Filme Comédia/Musical para 'Pobres Criaturas' No SAG's Awards está indicado a Melhor Elenco em Filme, Melhor Ator (Giamatti), Atriz Coadjuvante (Da'Vine);
Os Prêmios que o filme levou até agora: - Da'Vine Joy Randolph fez a limpa em todas as premiações como Atriz Coadjuvante, todos sem exceção... é a Favorita pro Oscar; - Paul Giamatti levou Melhor Ator no Globo de Ouro e no Critics Choice Awards; - Dominic Sessa levou o Critics Choice Awards de Melhor Jovem Ator; - No BAFTA ainda levou o prêmio de Melhor Elenco;
Pra mim, 'Os Rejeitados' foi um dos melhores filmes do ano passado, um tiro certeiro de Alexander Payne e David Hemingson, um filme que comove, que diverte, que ensina, que traz um trio de protagonistas em sua melhor forma no cinema... é uma pérola do cinema moderno... está justissimamente indicado a Melhor Filme no Oscar, assim como foi indicado em outras premiações.
(Assistido em 16/02/2024 - Cine Kinoplex Vila Olímpia)
Uma Obra-Prma!! É assim que já descrevo este filme de Jonathan Glazer, que possuía até então apenas 3 filmes em seu currículo, sendo que o último foi 'Under The Skin' de 2013, fora os curtas que ele dirigiu nos últimos três anos.
'Zona De Interesse' é uma daquelas obras audiovisuais que que reverbera na cabeça de quem o consome por dias e semanas sem fim. Filmado na Polônia, com boa parte dos elenco e figurantes alemães, 'Zona De Interesse' traz esse ponto de vista total dos nazistas. O Comandante Rudolf Höss, dado seus anos e anos de bom serviço ao Führer, criou para si uma bela casa, com um belo jardim, piscina, flores, uma estufa, uma ostensiva horta e um grupo de criadas, para dar o melhor lar para sua esposa e seus filhos. Para ter um lugar que é na verdade um pequeno paraíso, o sonho de consumo de qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo... um sonho na verdade. E ele recebe os parentes, amigos, o exército nazista, homens da alta patente, e por ali organiza reuniões, condecorações, congratulações, e momentos de puro lazer com festa das crianças, almoços, bebidas e tudo o que uma boa vida luxuosa pode dar. Tudo isso cercado por um muro que divide esse paraíso e um campo de extermínio, onde pessoas são sufocadas em câmaras de gás e possui seus corpos incinerados em outra parte da mesma câmara. Pessoas não... milhares de pessoas, milhares, números incontáveis. É a beleza dentro do horror...é o horror dentro da beleza.
Essa vida que os nazistas levam enquanto outros seres humanos são assassinados, nas câmaras, nas tarefas, são executados com tiros, são castigados ao cumprirem o dever lhes impostos. E é a realidade normal de cada um deles... as crianças brincam de serem executores, na inocência, se assustam com que escutam, mas é tão banal do dia a dia, que chega a ser o sonho de futuro deles. Höss pouco se importa, para ele, aquilo é o sucesso, puro e simples, é o trabalho a ser feito e nada mais. Para sua esposa, Hedwig, é como diz sua mãe ao visitá-la, se deu bem na vida... amarga, fria, apenas pensa em seu próprio bem estar, ás custas do trabalho do marido. É dura com as criadas, e parece que os gritos e cheiros e fogos e fumaça não existem pra ela, não há nenhuma menção em seus gestos corporais que sugere que ela enxerga algo que acontece do outro lado muro. Sua mãe no entanto, age com naturalidade ao visitá-la, mas pelo visto, uma noite foi demais para ela, que partiu sem despedida, provavelmente, e somente provavelmente, incomodada com o que testemunhara à noite.
Enfim... 'Zona De Interesse' é uma obra riquíssima, Glazer apresentou planos que não costumamos ver em filmes com frequência, a forma como se comportam roboticamente ao fechar portas, trancar trincos, fechar cadeados, girar chaves, tudo impecável, me lembrou muito algumas passagens do jogo 'Resident Evil' de Playstation 1, com aquela passagens dos personagens pela cozinha, pelo corredor mais escuro, depois o a sacada, o quarto, e por aí vai.
Além de mostrar este contraponto entre uma vida perfeita de nazistas separados por um muro à um campo de extermínio, somado a toda essa experiência visual e estética, temos uma trilha sonora que caminha de mãos dadas com o filme, de forma vigorosa, e primorosa. Mica Levi, que já trabalhou nos filmes 'Sob a Pele' e 'Jackie', fez este trabalho impecável, ao dar uma sonorização perfeita ao filme, com os gritos abafados do outro lado muro, os sons, o fogo queimando, e principalmente com a música inquietante, desconfortante, maquiavélica, que entra nos seus ouvidos e lhe deixa mais ainda incomodado, não bastasse o que você testemunha em cena, a trilha completa perfeitamente com o que é mostrado, e traz uma experiência única. E ainda tem mais, Jonathan Glazer complementa toda essa experiência surreal, incômoda e angustiante, nos apresentando tela vermelhas ou verdes, com sons estridentes,horríveis que fazem uma transição grotesca de um ato para o outro. É como se estivéssemos vendo uma Obra de Arte em uma galeria nazista, com obras somente de pessoas nazistas, refletindo o âmago deles... imagine-se experimentando tal 'entretenimento'. É esse incômodo que Glazer passa para quem acompanha este filme.
Como mencionei, 'Zona De Interesse' não é só uma película, ele é uma peça audiovisual, não é um filme singular, a trilha sonora, o som, toda sua mixagem, é conjunto que culmina em uma obra única de uma época negra na história, em um ponto de visto horrendo, nojento, surreal... ele te coloca dentro daquela realidade, pois sempre vimos produções do lado de cá, de quem sofreu esses horrores, estamos sempre enfrentando esses seres que cometeram hediondo ato de desumanização. Mas Glazer nos coloca do lado de lá, um pequeno vislumbre de como é estar do lado de lá... e presenciar visualmente essa rotina, é nada mais que desconcertante. Visual e sonoramente.
Com interpretações ferozes de Christian Friedel (The White Lotus), que está ótimo e impecável no papel de Rudolf Höss e Sandra Hüller (Anatomia de Uma Queda), mais que perfeita em suas cenas mais dramáticas como Hedwig Höss, temos uma imersão maior de como que seria, em partes, a faceta de pessoas do alto escalão da sociedade nazista. Imogen Kogge, Stephanie Petrowitz, Lili Falk são outras atrizes que merecem destaque pelo que entregaram em cena.
O que falar então de toda a direção de arte, minuciosamente bem trabalhada e construída para o longa, internamente e externamente, com foco também nas cenas onde o Comandante Höss passeia pelo complexo nazista ao fechar tantas e tantas portas ao fim do filme. A estufa bem criada, as hortas bem plantadas, a casa detalhadamente organizada... A Cinematografia então é SOBERBA... o que falar daquele take onde Höss contempla a piscina cheia de crianças, todos se divertindo, com uma fumaça ao fundo do plano da câmara de extermínio... o take que ó do pôster, o que salta mais olhos durante o filme. O que falar das cenas fotografadas onde o fogo grita vermelho puro nas janelas e cortinas, onde Höss contempla o rio que não para de correr... todos os takes dentro da casa de dos Höss, onde andam e andam sem parar as criadas e Hedwig. Perfeição é o que posso dizer, tudo isso graças ao homem chamado Lukasz Zal, diretor de Fotografia que já trabalhou no filme 'Com Amor, Van Gogh'. Magnífico trabalho, digno de prêmios e mais prêmios, eu mesmo daria todos os prêmios possíveis para o trabalho dele.
Temos um final muito forte, com aquele olhar específico lançado por Höss, como se vislumbrasse o futuro de seu trabalho, como uma espécie de troféu, ou dever cumprido a humanidade, ou seja lá o que se passasse em sua cabeça... cortando para cenas no presente, com funcionários trabalhando na limpeza de uma das Câmaras de Extermínio, onde temos estufas específicas onde ficam armazenados milhares de calçados das vítimas, ou muitos artefatos, como muletas de tantas vítimas deste holocausto. Todos muito bem expostos, e tudo muito bem lavado, cuidado, encerado, para receber incontáveis visitas do mundo todo... como eu disse, como uma espécie de troféu...
Sem esquecer de mencionar, o começo do longa... mais ou menos ali 1 minuto/1 minuto e meio de tela preta e sons diversos, para só então termos o primeiro vislumbre da família Höss á beira do lago... e no fim do filme, também temos algo em torno do mesmo tempo, de tela preta e um som agoniante, irritante, inquietante, um completo nada, como se fosse uma espécie delirante de inferno, até entrar os créditos finais... onde a música de Lukasz Zal se torna mais emblemática, mais esquisita, mais atormentante. Que forma mais emblemática de se começar e terminar um longa... Bravo!
Produzido pela Film4 e pela A24 (o que mais posso dizer do meu estúdio favorito) 'Zona De Interesse foi muito bem indicado nesta temporada de premiações:
- No Oscar a Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Filme Internacional, Melhor Direção, Melhor Som (merece muito ganhar); - No Critics Choice Awards a Melhor Filme Estrangeiro; - No Globo de Ouro a Melhor Filme Drama, Melhor Filme em Língua Não-Inglesa e Melhor Trilha Sonora; - No Gotham de Filmes Independentes a Melhor Filme Internacional, Melhor Roteiro e Melhor Atuação Coadjuvante para Sandra Hüller; - No Spirit Awards a Melhor Filme Internacional; - No Satellite Awards a Melhor Filme Internacional, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Adaptado; - No Astra Awards a Melhor Filme Internacional, Melhor Diretor Internacional e Melhor Ator Internacional para Christian Friedel; - No BAFTA foi indicado e perdeu em Melhor Diretor, Roteiro Adptado, Atriz Coadjuvante (Sandra Hüller), Cinematografia (pecado), Edição e Design de Produção;
Em termos de Prêmios, até o momento o filme faturou: - Em Cannes, levou o Grand Prix do Júri, Melhor Trilha Sonora para Mica Levi e Artista Técnico para Johnnie Burn; - No BAFTA levou Melhor Filme em Língua Não Inglesa, Melhor Filme Britânico e Melhor Som; - Levou o Prêmio de Filme Estrangeiro da Associação de Críticos de Austin, Boston, Chicago, Denver, Houston, Indiana, Oklahoma, São Francisco;
É o favorito para levar o Oscar de Filme Internacional se não houver nenhuma surpresa. No BAFTA acabou batendo o grande favorito 'Anatomia de Uma Queda' e levou o prêmio de Filme em Língua Não Inglesa, e também bateu os favoritos 'Pobres Criaturas' e 'Wonka' para levar Melhor Filme Britânico. Confesso que acho 'Zona de Interesse' um filmaço e o meu favorito de toda a temporada, superando minha afeição por 'Anatomia de Uma Queda', onde eu também premiaria no BAFTA, e teria dado o prêmio no Globo e no Critics, no lugar do filme de Justine Triet.
É uma Obra Prima incrível, um filme primoroso, um recorte agoniante e angustiante, profissionalmente bem trabalhado e montado e construído, uma bela (e horrenda) peça de arte audiovisual... eu sou só elogios para Jonathan Glazer, Lukasz Zal, Mica Levi, o elenco e a A24 e Fim4 por esse trabalho inigualável, e com certeza no futuro devo buscar uma cópia para ter guardado em casa. Não deve levar o Oscar de Melhor Filme, que vai para Oppenheimer, mas fica aqui minha pequena torcida.
Godzilla e Kong: O Novo Império
3.2 108Bom, não sou muito fã de King Kong nem Godzilla, do Kong eu vi o filme original, o segundo original e o remake com Jack Black e Adrien Brody. Do Godzilla, só aquele filme de 1998 com trilha do Wallflowers e Jamiroquai e o Minus One recentemente que é uma obra lindíssima. Eu gosto, mas não sou fã.
Dito isto, os filmes anteriores desse "monsterverse" que foi batizado, eu não vi nenhum, nem o Godzilla com a Wanda e o Pietro (sim sou marvete), nem o Kong Rei dos Monstros, nem o anterior que era o Kong vs Godzilla... fui bem virgem para esse filme, e peguei bem o bonde andando.
Portanto, não tenho muito embasamento para falar com propriedade sobre a franquia e os dois monstros, se foram bem representados, se o filme serve bem a história deles, se é melhor que o anterior, e por aí vai. Vou falar apenas o que achei assistindo o filme como uma pessoa leiga.
Em termos de CGI, luta entre os Titãs, a destruição das cidades, as partes de batalha mesmo, os monstros e tal, eu achei satisfatório. Teve boas lutas, algumas curtas demais, como contra o poderoso Tiamat, uma luta curta para um monstro tão temido, enfim... mas as lutas foram boas, bem feitas, bem coreografadas, bem criadas, me entreteve e foi o ponto alto do filme para mim, quando tinham os embates.
O Kong em si, eu meio que não gostei muito de ver ele assim meio, super-herói, sabe discernir o certo e o errado com uma facilidade muito grande, e só consegue se comunicar 100% mesmo com a garotinha Jia, interpretada pela atriz Surda Kaylee Hotlle.
O Godzilla, como eu não o conheço a fundo, achei muito estranho ele dormir no coliseu romeno, ao invés de ir pro fundo do mar ou algo assim... assim como achei estranha a interação entre ele e Kong, como se conversassem, aquela cena dele e do Kong pulando em câmera lenta pra enfrentar os dois vilões, eles parecendo uma espécie de Vingadores ou algo assim... sei lá. Eu os achei bem descaracterizados do que eu os conheço, apenas isso.
O roteiro em si achei bem fraco, bem morno, bem raso, apenas para dar uma desculpa para se contar essa história onde eles se juntam no final para enfrentar dois monstros que têm a fama de serem muito poderosos, e são derrotados em alguns minutos.
Achei toda a trama bem clichê, bem desinteressante, não consegui me conectar com o povo Iwi, que estava nas terras não mapeadas pelos militares.
Não gostei da personagem Jia (Kaylee Hotlle), eu vi que o filme todo ela sofre demais e faz caras e bocas de sofrimento, principalmente quando o Kong tá dodói e tudo... e aí quando ele tá bem ela abre o sorrisão, e fica contentona, isso é muito clichê de filmes noventistas com personagens mirins fracos... obviamente ela seria a salvadora da história inteira, eu não curti muito, bem preguiçoso a construção e resolução da história.
Assim como não gostei do resto do núcleo humano do filme, todos muito caricatos, onde temos Bernie Hayes um personagem mega caricato, o alívio cômico do filme que ao meu ver em nada acrescentou ao longa... temos o Caçador, outro personagem totalmente clichê, onde sacamos todos os movimentos dele no longa, também serve como alívio cômico, e ele até aparece no longa de uma forma bacana, é bem construído e tudo, mas cai num clichê eterno e chato.
Ainda temos aquele famoso personagem que sempre morre no começo da jornada dos personagens ao tentar solucionar a questão do filme, dessa vez por uma pseudo planta carnívora... clichê. Eu vejo somente a personagem principal Dra. Ilene Andrews bem escrita, melhor posicionada no roteiro, apesar de ter falas bem clichês, e pouca profundidade na trama, de longe é a mais interessante, ou a única do filme.
Falando dos personagens, seus atores foram bem na medida do possível;
Rebecca Hall (de Homem de Ferro 3) foi a mais esforçada e a que entregou a melhor performance do filme, gostei dela no longa, mas... ainda assim foi a mais esforçada e a mais dramática.
Dan Stevens, de quem conheço da série 'Legion' (da FX/Marvel) onde fez David Heller, eu acho o Dan um ator sensacional, fora de série, sou muito fã do trabalho dele... mas nesse filme ele está bem clichezão, alegrão demais, como o personagem Caçador pede é claro, frases de efeito e tudo. Ele caiu como uma luva no personagem, é a cara dele mesmo, mas eu acho que ele começou bem o filme, foi bem apresentado, mas depois entrou numa espiral de comodismo que não curti muito... acho que muito por conta do diretor não cobrar muito do seu elenco.
Brian Tyree Henry, que fez Bernie, para mim foi o mais fraco do longa, conheço Brian dos filmes 'Eternos' e 'Causeways', e ele é um ator ótimo, mas aqui realmente, eu não curti...acho que ele mais se divertiu do que interpretou.
A trilha sonora do filme foi apenas ok, sendo composta por Junkie XL (que tem um remix chato paca de uma música do Elvis Presley) e Antonio Di Iorio, acho que essa adição do Junkie XL deixou a música do filme meio plástica, não sei, eu não curti muito.
Os efeitos especiais são bons, satisfatórios, as cidades representadas no filme também ficaram muito bem em tela, apesar de uma cena de batalha entre os titãs na praia de Copacabana no Rio ter ficado meio esquisita, deu pra ver ali como fizeram o Rio em maquete em um dos frames... enfim...
Muita ida e vinda no globo, toda hora o filme cortava para um canto do planeta, deu uma cansada em certos momentos, faz as coisas ficarem meio desconexas, menos coesas...
A verdade é que eu achei um filme bem meia boca, sendo que tecnicamente ele é muito bem feito, foi um trabalho muito bem realizado e construído e conseguiram entregar algo visualmente que agrada quem assiste.
Mas em termos de história e ritmo de filme eu não gostei, achei bem abaixo, e a grande maioria dos personagens eu também não consegui gostar ou me conectar, a não ser a Dra. Andrews.
Na verdade este é um tipo de gênero que agrada mesmo os adeptos da cultura japonesa, envolvendo ali os kaijus, as brigas entre monstrengos gigantes, um pega pra capá da gota... só uma desculpa para os bichos caírem no murro, e destruírem tudo que veem pela frente, ou lutarem entre sim como foi o filme anterior que não vi.
Nesse naipe, eu prefiro o Godzilla Minus One, que realmente foi um filmão acima da média com um roteiro matador e emocionante que tinha mais a mostrar e conversar com o público e me agradou muito e é mais a minha cara.
Esse aqui, realmente, eu deixaria passar.
(Assistido em 29/03/2024 - Kinoplex Vila Olímpia)
Instinto Materno
3.5 32Baseado na obra de Barbara Abel, 'Instinto Materno' é o primeiro filme dirigido por Benoít Delhomme, que é um diretor de fotografia que já trabalhou em filmes como 'A Proposta', '1408' e 'A Teoria de Tudo'.
Do meu ponto de vista, o filme tem muito brilho mais por conta das suas duas protagonistas, Anne Hathaway e Jessica Chastain, duas atrizes que sou fã número 1, muito mais de Chastain devo confessar...
Acho que 'Instinto Materno' é um filme bem 'Super Cine', bem modesto, com uma premissa muito comum, e com um desenvolvimento bem clichê. Isso não é um ponto negativo que faça o filme não ser agradável, longe disso, mas deixa o filme com uma leitura muito fácil pra quem já é cinéfilo, acostumado a ver diversos filmes, você acaba sabendo o que vai acontecer em grande parte dos acontecimentos.
Ficava claro que algo aconteceria com os dois meninos, o trailer deixou bem evidente que o embate entre as duas seria o tom do longa... quando ficamos sabendo que o filho de Alice não podia comer biscoito de amendoim, pois tinha alergia e poderia vir a óbito, estava claro que mais a frente no filme, ele acabaria provando esse biscoito... você não apresenta um ponto em um romance/conto, para não explorá-lo mais a frente, sem falar em outros detalhes do longa que são facilmente lidos. O filme fica bem previsível, mas não nego que ele consegue envolver quem o assiste, é um bom suspense.
Achei a direção de Benóit boa, principalmente com as duas protagonistas e seus coadjuvantes, que foram seus maridos, interpretados por Josh Charles e Anders Danielsen Lie, ele rodou ótimas cenas de suspense, conseguiu extrair o melhor do talento de dos dois atores mirins, que foram muito bem no longa, e teve uma sequência de cenas satisfatórias para deixar o filme com um final bem emocionante, de deixar apreensivo que assistia no cinema.
Não vou comentar a fundo sobre Hathaway e Chastain, pois nem há necessidade, para mim elas estavam incríveis em seus papéis e foram a alma do filme, que girou praticamente em torno delas, e foram as que mais se sobressaíram nas cenas.
O final do longa não chega a ser uma surpresa, mas confesso que enxergava ali um caminho satisfatório para o que foi apresentado, com uma saída condizente para os envolvidos... na verdade optaram por um caminho mais corajoso, que vai desagradar aqueles que consomem filmes buscando um final feliz e vão criticar a forma como ele se encerrou. Eu particularmente achei mais atraente esse final, porque combina com tudo o que foi apresentado e arquitetado, apesar de ser um final não muito comum para o público comum, mas ser um final muito visto em vários filmes do gênero.
Tecnicamente o filme é bem tocado, bem montado, tem um ótimo cenografia, temos figurinos muito bem criados, que são vestidos por Hathaway e Chastain, uma boa direção de arte, e uma edição muito boa, que não compromete o seguimento do filme.
A trilha sonora também é competente, nada demais.
É um filme bem clichê como disse, onde dá para se imaginar quais serão os próximos acontecimentos, e acaba sendo apenas um suspense para te entreter em uma noite.
Como disse, um filme bem Super Cine... mas gostei.
(Assistido em 30/03/24 - Kinoplex Vila Olímpia)
As 4 Filhas de Olfa
3.7 33 Assista AgoraA diretora Kaouther Ben Hania ouviu uma entrevista de Olfa, a mãe das meninas deste documentário, na rádio sobre a sua história trágica com suas filhas, e logo ficou interessada em contar a história dessa família. Foi assim que surgiu a ideia de fazer este documentário.
'As 4 Filhas de Olfa' traz o relato de Olfa, que na Tunísia, teve 4 filhas, Eya, Tayssir, Rahma e Ghofrane, vivendo e crescendo na cultura Tunisiana, com suas crenças e culturas, com a religião como ponto forte na sociedade, e o uso de hijabs, e o fato de as mulheres entenderem que o corpo delas pertencem somente ao marido, que podem ter até quatro esposas, alguns costumes sociais que de décadas e décadas pelos lados muçulmanos.
Durante a infância e início de adolescência das meninas, depois de tanto viverem juntas, e aprontarem, flertarem com os meninos, brincarem, falarem sobre as questões sociais e sofrerem na mão da mãe, que impunha uma educação bem conservadora, ainda que com muito amor... Rahma e Ghofrane, as mais velhas, ao aceitarem de vez o uso dos Hijabs, acabam se envolvendo com o discurso mais radical dos muçulmanos, do país, onde elas acreditam que o país deve se libertar, seguir a vontade de Deus, que Deus quer que o país seja livre, livre da vida moderna, e tudo o que os mais extremistas acreditam.
As duas resolvem fugir de casa e se entregar ao movimento, e fogem com homens que fazem parte desse movimento mais extremista, e que na verdade são terroristas, que atacaram muitos locais na Tunísia... e fogem pra Líbia e se casam com esses homens, e nunca mais voltam a ver sua família, por terem se entregado a outro estilo de vida.
O documentário mostra como a educação rígida de Olfa, pode ter influenciado suas filhas de se juntarem a esse movimento extremista, e como suas duas filhas que ficaram, Eya e Tayssir, estavam indo pelo mesmo caminho e por pouco não se juntaram às suas irmãs...
A diretora Ben Hania queria contar essa história, mas sentia que ter apenas Olfa e as duas filhas que ficaram não era o suficiente, não era a história como um todo, portanto contratou quatro atores para poder fazer as cenas que Olfa relatava.
Duas atrizes fizeram as filhas que partiram, Rahma e Ghofrane, outra atriz para interpretar Olfa mais jovem, e um ator para fazer vários papéis masculinos que impactaram a vida da família.
O documentário é bem forte, as atrizes entraram nas personagens e vivenciaram em partes como foi ser educadas por Olfa, e sentiram a dor das irmãs em perder suas parentes e em como elas ainda se ressentem de algumas atitudes tomadas por sua mãe.
O ator Majd Mastoura também se sente incomodado em um determinado momento do filme, que traz um momento pesado, mostrando a carga que toda a história tinha por trás.
É um filme muito interessante, ele pode confundir um pouco no começo, não ser coeso o suficiente para deixar você propenso a ficar imerso no que está acompanhando, mas a medida que ele avança, as coisas começam a ficar mais claras para quem está assistindo, e para quem gosta de documentários e outros costumes, acabará se tornando uma experiência bem satisfatória.
Para mim, o melhor momento mesmo do filme é no seu 3º ato, onde temos algumas imagens reais, de arquivo, entrevistas de Olfa e as duas irmãs que ficaram, e imagens de Ghofrane, sua filha e Rahma na penitenciária. Muito pesado.
Para quem assiste no Brasil, fica o fato de acompanharmos outra cultura, social e religiosa, completamente diferente dos que estamos acostumados. Para quem gosta de assistir tudo e se interessa pelo o que acontece ao redor do mundo, vai encontrar uma realidade da qual já somos familiarizados de outros países da região, do continente em questão... não é nada que já não saibamos e tenhamos visto em outros documentários, filmes, tele-jornalismo e afins.
Mesmo assim, é curioso notar esses costumes dos quais não fazemos parte e entendemos como algo errado, e é difícil para nós aceitarmos que esta é a realidade social do país e que não cabe a nós julgarmos a forma como eles são educados e no que acreditam, afinal de contas, se olharmos para nosso próprio quintal, temos questões a ser resolvidas, tão sérias quanto às deles. É um debate amplo, que requer muito bom senso, onde não entra em questão, é claro, o lado extremista, os terroristas que são mais fanáticos, que está completamente fora de debate.
Eu gostei muito de ter conhecido a história de Olfa e suas 4 filhas, e por mais que Olfa tenha defeitos gritantes que são imperdoáveis (ou não), é impossível negar o quão forte foi essa mulher durante toda sua vida e que no fim das contas ela criou suas filhas com muita dignidade e afeição.
Igualmente digo sobre suas filhas, Eya e Tayssir, as que ficaram, que são as que dá para falar, elas são duas mulheres Lindíssimas, educadas, que pensam um pouco a frente da mãe, possuem personalidade, e querendo ou não foram bem criadas na medida do possível. São meninas que merecem tudo de bom que a vida pode oferecer, uma vez que já sofreram tanto desde a infância, e sofreram MUITO, coisas que apenas mulheres mesmo são capazes de vivenciar.
As atrizes foram ótimas, e Naou Karoui e Ichraq Matar que fizeram Rahma e Ghofrane, respectivamente, em um certo ponto do filme, para mim pessoalmente, parece que eu estava assistindo as verdadeiras irmãs, e não duas atrizes, principalmente quando há um debate entre Naou e Olfa, e é tão verossímil, Naou entrou tanto no personagem, que parece uma discussão real de mãe e filha.
Boa trilha sonora e uma boa direção de Kaouther Ben Hania, que teve muitas dificuldades durante a produção do documentário e enquanto filmava também.
O filme foi indicado a Melhor Documentário no Oscar, no Spirit Awards, no César Awards e Gotham Awards;
Além de ser indicado ao Festival de Cannes para o Palma de Ouro, o Prêmio do Júri e o Grand Prix.
Destas Indicações, Kaouther levou o prêmio no César Awards, no Gotham Awards e no Spirit Awards, 3 prêmios para um trabalho muito bem feito e uma dedicação absurda para contar uma história tão forte com tanta dor e ressentimento envolvido.
(Assistido em 29/03/2024 - Cine Instituto Moreira Salles)
Brinquedo Assassino 2
3.1 456 Assista Agora'Brinquedo Assassino 2' deve ter sido um dos filmes que mais vi do Chucky até hoje, e também o que mais via na infância... quantas vezes eu não aluguei esse filme na locadora, e quantas vezes eu o vi no SBT, seja no 'Cinema em Casa' ou no 'Tela de Sucessos'... ou até mesmo no 'Corujão' da Globo.
Revendo, como preparação para a série de Chucky, pela enésima vez, sempre me diverte e me entretém, mesmo sabendo como será cada morte, sabendo exatamente o que vai acontecer, e sabendo cada fala do filme.
Puro blockbuster dos anos 80, mesmo o filme tendo sido lançado no ano de 1990, não dá para cobrar coisas sérias da obra, nem um roteiro mais enxuto... não dá para cobrar mortes mais convincentes, porque um boneco contra uma pessoa é só a pessoa meter um chute e por aí vai... isso aqui é entretenimento, é cinema, é fantasia, o ponto é entreter e contar uma história, e não retratar fielmente se existisse um boneco demoniado e como seriam as mortes de verdade na vida real. Recado dado.
Comparado ao primeiro filme, a sequência é boa, mesmo achando o primeiro filme mais envolvente, num ritmo muito mais bacana, e com uma história mais coesa.
Nesse segundo filme, a nova família de Andy não tem aquele carisma todo, os dois atores até tentam trazer esse carisma para seus personagens, mas como eles são passageiros, ficou aquela coisa meio leite com toddy...(falando nisso toddy melhor que nescau)
As mortes que acontecem no filme, que Chucky comete, são bem feias, mas aquela da Sra. Kettlewell ficou bem censurada, isso está na cara (ou na tela), e ali deu pra perceber que certas liberdades, não podem ver a luz do dia, pelo menos naquela época... é tipo assim, "com o boneco a gente pode pegar pesado, as crianças vão adorar, mas com as pessoas, não pode ter sangue explícito e nem cena explícita." Até no primeiro filme as mortes humanas tinham um limite, e aqui não foi diferente... o único que deu uma passada do ponto e até surpreende, foi o funcionário da fábrica de 'Good Guys' que teve olhos de bonecos enfiados em seus olhos... olhando pela ótica da época, impacta.
A atriz que fez Kyle, Christine Elise, foi muito bem no filme, eu particularmente gostei muito dela no filme, e igualmente Alex Vincent que retorna como Andy e esse menino era um ator mirim de outro nível... até hoje não pesquisei se à época ele chegou a fazer mais produções... porque bom, ele era.
Mas é um bom filme, até hoje diverte, e deve prender a atenção do público que só quer um entretenimento com mortes e tal, porque terror, terror, 'Brinquedo Assassino' não é mais, sendo que na época ele era categorizado assim, mas hoje em dia o gênero mudou tanto, que acredito que os longas já não entram nesse quesito... os filmes à partir de 'A Noiva de Chucky' que o digam.
Dirigido dessa vez por John Lafia, que escreveu o roteiro do primeiro filme, e produzido, óbvio, pelo criador da franquia Don Mancini e David Kirschner, foi filmado ao mesmo tempo que o terceiro filme, sendo que os dois filmes foram lançados no cinema com intervalo de meses.
Agora umas curiosidades sobre os pais adotivos de Andy:
A mãe, a atriz Jenny Agutter, além de ter feito o cult e clássico Darkman - 'Vingança Sem Rosto', como bom Marvete que sou, ela foi uma dos membros do conselho de segurança nacional que apareceu nos filmes 'Vingadores 1' e 'Capitão América O Soldado Invernal', aquele conselho com quem Nick Fury conversava, a única mulher do conselho era ela... soube disso somente agora.
Já o pai, o ator Gerrit Graham, já participou de um episódio das icônicas séries 'Anos Incríveis' e 'Lois & Clark - As novas Aventuras do Superman', e fez o personagem Ace na franquia que eu amo, Loucademia de Polícia, no sexto filme.
É isso Brasil!
(28/03/2024)
Guardiões da Galáxia: Vol. 3
4.2 801 Assista AgoraQuem diria que os Guardiões da Galáxia iriam alcançar esse status todo mundo afora, uma vez que eles eram do 5º ou 6º escalão da Marvel e tiveram um certo protagonismo apenas nos anos 80 com sua revista mensal.
Quando comecei a ler quadrinhos, conhecia a Gamora, o Drax, o Warlock, Senhor das Estrelas, pela saga 'Desafio Infinito', e nessas sagas galácticas é que fiquei sabendo da existência dos Guardiões e de Rocket e Groot... mas quando o primeiro filme saiu, eu sequer tinha referência deles, sequer tinha lido uma história do grupo, só os conhecia soltos em grandes sagas.
E hoje... Guardiões da Galáxia tem tanta relevância quanto os Vingadores u Homem-Aranha. Quem diria...
Pra mim, o primeiro filme deles é matador, uma obra sem igual de James Gunn, o filme definitivo do grupo, 10 de 10. O segundo filme é ótimo, tem uma abertura perfeita com Baby Groot, possui um ritmo legal, mesmo pecando ali e acolá em alguns segmentos... possui um final muito emocionante que pega qualquer espectador.
Este terceiro filme, que encerra a saga dos Guardiões no cinema, tem um diferencial perante os outros dois, conseguindo dar tempo de tela suficiente para cada membro do grupo poder ter seu protagonismo... afinal é um encerramento para cada um deles, e tirando o Groot, que não tem muito a ser aprofundado, todos tem ali sua questão pessoal para resolver, seu momento de tela para lidar e aflorar isto, e por mais que o filme seja mais sobre Rocket, todo mundo ali consegue ter o seu momento.
Achei muito justo esse espaço que James Gunn deu para os animais no filme, levantar um pouco esse lado dos maus tratos aos animais, que acontecem em tantos laboratórios mundo afora, que fazem testes e mais testes, levando esses anjos a óbito e maltratando e os fazendo sofrer em nome da medicina ou seja lá a bobagem que eles querem vender.
Sem mencionar os animais que já são maltratados aqui no Brasil, judiados, envenenados, abandonados, atropelados, invisíveis e por aí vai... quem sabe uma abordagem como essa, que fez James Gunn fez, possa quem sabe fazer certas pessoas a mudar sua visão para os animais de uma forma geral, o que acho bem difícil, mas enfim...
Gunn deu um final para Peter, onde ele finalmente volta para casa, para a Terra, agora que ele não tem mais Gamora, não tem mais seu pai biológico, ganhou uma irmã, foi um final mais burocrático, mas satisfatório para o personagem. E realmente achei que ele iria dessa pra melhor quando ficou inchado no espaço... tinha certeza absoluta, mas...
Nebula foi a personagem que mais cresceu de todos os Guardiões, seja com Gunn, seja com os irmãos Russo nos dois filmes dos Vingadores... e aqui ela tem um ar de líder maior que Peter, apesar de ele ainda dar as cartas. De vilã, a dependente de uma irmã, até ser heroína de fato, seu arco é dos melhores, se não o melhor de todo o MCU. E que grande atriz é Karen Gillan, sou fã demais dela, lindíssima também, e uma atuação sem igual em todos os filmes que Nebula apareceu.
Mantis é outra que cresceu bastante neste filme, sendo que Gunn deu mais protagonismo para ela, para poder lidar com seus poderes e sentimentos com tudo que a cerca, sem focar apenas no besteirol que ela criou com Drax. Outro grande atuação de Pom Klementieff, super atriz que assim como Karen, deu uma personalidade ímpar a sua personagem.
Drax foi mais do mesmo, teve um final comovente, convincente, mas eu confesso que acho que James Gunn perdeu um pouco a mão do personagem, que só é interessante no primeiro filme... depois virou o bobo da corte com suas falas engraçadas e por aí vai. Isso explica muito a vontade de Dave Bautista largar logo o personagem.
Bradley Cooper volta como Rocket, com seu trabalho mega competente em dar voz ao personagem da forma mais emotiva, sincera e verdadeira possível. Dos três filmes, mais Vingadores, o curta e Thor 4, aqui é seu melhor trabalho vocal sem sombra de dúvidas... a aceitação em ser um Racoon, e ter toda sua origem contada para definir de uma vez por todas o personagem, mesmo que tenha sido uma origem bem clichê, ainda é emocionante e bem construída.
E seu parceiro Groot, dublado por Vin Diesel, tem aquele final onde ele diz "I Love You Guys", que eu vejo de uma forma, onde o público (nós) agora fazemos parte daquela família, depois de toda essa jornada, e a coroação disso é entender o que Groot fala. O 'I Am Groot' que ele verbaliza, sempre diz algo, mas só que convive com ele consegue entender, por isso Steve Rogers ou a nova Gamora não entendem, mas quando você realmente convive com ele e é aceito por ele, fica natural o que ele está dizendo... e isso funciona conosco, sendo dessa forma que enxergo sua fala final.
Achei bem interessante a forma como Gunn colocou a nova Gamora neste filme, um contraponto não só para os Guardiões, e para o Quill, como para o público... essa é a Gamora que vimos lá no começo do primeiro Guardiões, e quem ela continuaria sendo se não tivesse se juntado ao grupo e se apaixonado por Quill... mas ela fica muito limitada a só ser uma anti-heroína, e pouco contribui para o desenrolar do longa, apenas sendo esse contraponto mesmo.
Porém, de todos os personagens do filme, o melhor em cena, com toda a certeza foi Chukwudi Iwuji, que fez o vilão Alto Evolucionário. A primeira vez que vi o Evolucionário, foi em um desenho dos X-Men, e tive um contato ali e acolá com o personagem, que tem uma ligação forte com as origens de Mercúrio e Feiticeira Escarlate.
Neste filme ele tem outra pegada, mas não deixa de ser tão interessante quanto a dos quadrinhos, até melhor... a atuação de Chukwudi é matadora, ele foi muito feliz na construção do personagem. Foi ameaçador ao extremo, doentio, performático, sádico, foi tudo o que poderíamos esperar de um vilão que não se considera tal, acha que está fazendo um bem estar ao universo, se considera benevolente, mas age com um sadismo impressionante, entregando uma atuação de outro nível, muito forte, muito convincente, e muito catártico. Gostei demais dele em cena, um Ator com A maiúsculo, que fez um trabalho grandioso, e que merece mais papéis interessantes no futuro para poder mostrar mais desse talento gigante que ele tem.
A contra-terra que ele criou, para seus animais conscientes, é uma referência a contra-terra criada por Franklin Richards, onde os heróis que pereceram na saga Massacre foram viver na saga 'Heróis Renascem'.
A ótima atriz Maria Bakalova, de Borat, volta para dar a voz ao cão Cosmo, e por mais que apareça no começo e no fim do longa, está bem divertida em seu embate com Kraglin (Sean Gunn), eles servem como uma espécie de alívio cômico, mas não tão espalhafatoso como Drax, é um alívio cômico inofensivo, é bacana de ver.
Quem não gostei mesmo no filme foi Adam Warlock, interpretado por Will Pouter... Will esteve bem, o lance não é ele, mas como James Gunn inseriu o personagem no longa. Em nada ele lembra o Warlock dos quadrinhos, um ser que nasceu para proteger e carregar a Jóia da Alma em sua testa e manter o equilíbrio do universo.
Neste filme ele é só uma personagem que acabou de nascer e age feito uma criança que não sabe diferenciar as coisas, com frases cômicas de efeito e que não serve em nada para o roteiro do filme. Se ele não estivesse no longa, não faria falta, pois seu personagem não acrescenta em nada, apenas entrega um bom embate contra os Guardiões no começo do filme e só... não sabemos par quê ele está lá e nem o que está fazendo.
Igualmente perdida está Ayesha, sua "mãe", interpretada pela premiada Elizabeth Debicki, a princesa Diana de 'The Crown', que nada serve ao filme, é uma das criações do Alto Evolucionário, perdeu toda sua pompa do segundo filme, e virou uma canastrona neste longa até perecer na Contra Terra de uma forma totalmente limada, escorraçada do roteiro.
Dois desperdícios totais, e uma decepção grande com Warlock, que no MCU é apenas um personagem bobão, sem construção, sem aprofundamento, que não faz jus á sua contraparte original dos quadrinhos.
Fora a luta de Warlock com Guardiões no início, a cena onde os Guardiões enfrentam as criações do Alto Evolucionário, quando Rocket diz que está cansado de fugir, é as melhores cenas de luta do longa. Toda aquela sequência sem edição, muito bem coreografada, com cada um mostrando o que tem de melhor, quando está em batalha, é de fazer segurar o fôlego... muito bem dirigida e bem performada, se juntando como uma das boas cenas de luta com a cena inicial do segundo filme.
As músicas do longa, que sempre foram um ótimo adendo nos outros filmes, neste ficou um pouco mais largado ao vento...as músicas são ótimas, a maioria dos anos 90, mas não casou muito com o que o filme estava dizendo, não funcionou com as cenas, com os personagens... uma exceção foi 'Creep' do Radiohead com o Rocket, mas conforme o filme foi avançando, as músicas se faziam presente por se fazer... 'No Sleep Till Broklin' dos Beastie Boys, 'This is The Day' do The The, 'We Care A Lot' do Faith No More, são alguns exemplos de como não se encaixaram nas cenas em que foram usadas...
Já outras canções como 'In The Meantime' do Spacehog e 'Do You Realize?' do The Flaming Lips, casaram bem com a cena e com o que ela queria passar... nos outros filmes, a trilha andava de mãos dadas com o roteiro, e na minha visão, aqui não esteve tão coeso assim.
Muitos vão discordar de mim, mas aquele final com 'Dog Days Are Over' da Florence Welsh, com as crianças, o Drax, as dancinhas e tudo mais, eu achei bem, mas bem brega...gostei não.
Citando ainda mais alguns nomes do elenco, tivemos Linda Cardellini (de Dead To Me) fazendo a voz de Lyla, Daniela Melchior, Sylvester Stalonne, Michael Rosenbaum (O Lex Luthor de Smallville) e Natan Fillion (da série Castle, Desperate Housewives e Lost).
Foi indicado a Efeitos Visuias no Oscar e no BAFTA, obviamente não iria vencer com outros filmes com efeitos mais superiores...apesar dos efeitos aqui serem mais do que convincentes, é um deleite para os olhos o mundo intergalático que Gunn criou nos filmes dos Guardiões.
Foi um bom encerramento para o grupo nos cinemas, e mesmo assim James gunn deixou as portas abertas para eles no MCU, com uma formação nova dos Guardiões, liderada por Rocket, que seria muito bem vinda quando tivermos os futuros novos filmes dos Vingadores, onde eles poderiam se envolver, porque não.
A cena pós crédito, onde Peter volta para a Terra, e nos é dito que teremos o retorno do 'Legendário Senhor das Estrelas', deixa um ponto de interrogação de como isso será trabalhado no futuro... uma série no Disney Plus? Uma participação em algum filme? Será deixado de lado magicamente?
Mas como eu já disse... quem diria que os Guardiões teriam essa relevância toda hoje em dia...
(25/03/2024)
20 Dias em Mariupol
3.9 56 Assista Agora20 Dias em Mariupol foi o grande vencedor do Oscar de Melhor Documentário, tendo faturado também o BAFTA, sendo indicado ainda ao Gotham Awards e ao Satellite Awards.
Ainda não cheguei a assistir todos os documentários indicados, vi poucos na verdade, mas acredito que o prêmio está em ótimas mãos. O filme é indigesto, vai ser impossível você assistir sem fazer caras feias, sem se contorcer e ficar indignado com tantas atrocidades que foram registradas pelo idealizador do documentário Mstyslav Chernov, que na verdade é Fotojornalista, correspondente de guerra e agora, cineasta.
Dentro de suas 1h30 de duração, eu me contorci e virei a cara em muitos momentos do documentário na sala de cinema, pude ouvir pessoas cochichando sobre as coisas que viam, outras em profunda indignação, e muitas mulheres chorando com as desgraças que recaía em inúmeras pessoas inocentes que tiveram suas vidas e rotinas interrompidas por conta da ocupação russa ordenada pelo Presidente (reeleito vejam só), Vladimir Putin.
De crianças, bebês com 1 mês de nascimento, idosos e idosas, pais de família, mulheres grávidas de oito meses, animais inocentes, adolescentes que jogavam futebol e tantas e tantas outras mortes, a indignação é o mínimo que se sente enquanto se assiste ao fatos documentados por Chernov. Muitas dessas mortes ou pré-mortes são documentadas e acompanhadas passo a passo por Chernov, e dependendo da pessoa que assiste, ou você se revolta com o que vê (que não é nada bonito) ou você evita de ver, por não ter estômago para testemunhar tal ato, como foi meu caso com a mulher grávida de uns oito meses... não tive coragem, e não dá nem pra mencionar o que senti na hora, não tem como nomear.
Acho que fica muito claro que qualquer guerra que aconteça, seja onde for, pelo que for, da forma que for, é um ato ridículo, desesperado que apenas alimenta o ego dos poderosos e visa encher suas carteiras já recheada de dólares, euros, yens, ou seja lá a moeda que for.
O número de pessoas que perdem a vida, e isso eu digo enfatizando mais os civis, por conta de atos sem fundamento crasso algum, é ridículo.... você testemunhar o que essas pessoas passaram enquanto Chernov esteve cobrindo, ou depois que ele foi embora, o horror, o medo, a desesperança, o sentimento de não sabe como será o amanhã, se haverá amanhã, seus entes que você perdeu, sua vida que foi consumida por um regime autoritário, que visa somente a ganância e a demonstração de força... não se apoia tais atos, e faz você repensar a forma como se pensa do mundo, da política, dos costumes e tantos outros assuntos, pois a compaixão é um fogo que nunca se apagará no coração das pessoas de boa vontade.
Pra mim pessoalmente então, que sou apaixonado por animais e repúdio qualquer ser humano imundo que maltrata um ser vivo tão puro e necessário como eles (seja doméstico, seja silvestre), ver que eles também acabam sendo vítimas, obviamente desses ataques covardes, só aumenta meu profundo ódio por tais atos, por tais monstros, por tais pátrias.
Dito tudo isto, Chernov foi um verdadeiro herói ao cobrir tudo o que foi documentado... é humanamente impossível tentar salvar todos os que estavam sendo afetados, e mesmo tendo o sentimento de querer poder fazer muito mais do que está ao nosso alcance... somos (no caso, ele era) muito menor(es), face ao tamanho da catástrofe que estava sendo cometida a nação ucraniana.
Imagine as atrocidades que estão sendo cometidas diariamente nessa guerra Israel-Hamas, onde somente os civis, as pessoas que estão vivendo sua única vida, estão pagando o preço por atos hediondos que beneficiam vocês sabem quem, e nem discussão cabe.
Pra quem não assistiu, assistam... tenham coragem, dói, machuca, revolta, mas é necessário... outras guerras ou acontecimentos ás vezes não ganham essa imersão que Chernov trouxe de Mariupol, que nos dá um pequenino vislumbre de como foi a investida russa na Ucrânia, e o que as pessoas estavam sofrendo exatamente enquanto nós víamos os noticiários e ficávamos com discussões vazias pela internet afora.
(Assistido em 09/03/2024 - Cine Belas Artes)
Guardiões da Galáxia: Especial de Festas
3.5 169 Assista AgoraEsse é um bom especial de natal, com pouco mais de 40 minutos, trazendo aquele conto básico de natal norte-americano, aquela magia do natal que os americanos adoram contar... como na música que James Gunn escreveu e que abre o curta tocado pela banda 'Bzermikitokolok and the Knowheremen', (que na verdade são a Old 90's na vida real) :
"Eu não sei o que é o natal, mas a época do natal está aqui".
A história é básica justamente por se tratar de um especial de natal, não precisa ter tantas firulas assim, é só pra aquecer o coração das pessoas na noite de natal, mesmo o especial tendo sido lançado no dia 25 de Novembro...
Kevin Bacon faz uma boa participação no curta interpretando ele mesmo, e teve uma boa química com Dave Bautista e Pom Klementieff. E sua participação no final tocando com a banda alienígena a canção 'Here it's christimastime' mostra que Bacon curte um bom folk, além de ser um bom músico.
Por falar em Dave Bautista e Pom Klementieff, os dois tiveram claramente uma ótima química no segundo filme dos Guardiões, e muito se falava se poderia ter um spin'off só com os dois... ou quem sabe uma participação maior no terceiro longa. Porém James Gunn aproveitou esse curta para dar um protagonismo maior para eles, sendo que eles fazem parte da trama com uma participação bem maior que os outros Guardiões, em sua vinda para Terra para sequestrar Kevin Bacon.
Gostei muito do curta, da sacada do James Gunn, em chamar o Kevin Bacon para participar, uma vez que ele é citado tão enfusivamente no primeiro filme como herói de Peter. E aí incluir mais algumas coisinhas que deixaram o conto mais verossímil.
Todo mundo volta neste curta, que ainda tem as vozes de Michael Rooker dublando Yondu na parte animada do curta, Vin Diesel e Bradley Cooper como a dulpa Groot e Rocky novamente, e ainda a ótima Maria Bakalova (de Borat 2) como Cosmo, o cão inteligente.
Aqui é um trabalho visado excepcionalmente para o público americano, englobando a cultura americana do natal... já é algo de tradição do final do ano lá termos contos nessa pegada, e esse tipo de narrativa não funciona aqui no Brasil... aqui é uma cultura, lá é outra.
Muita gente já disse que é fraquinho ou bonzinho, mas nem dá para comparar, julgar ou criticar uma obra cultural totalmente americana que funciona lá e não faz parte da cultura daqui.
São poucas as exceções que acabam funcionando aqui, como 'Esqueceram de Mim' e 'Beetlejuice' por exemplo, que são clásscios... mas nem 'O Grinch' conseguiu pegar muito aqui, então...
É bom apenas, bom assistir na para a época do natal.
NYAD
3.7 153Eu não sei se na época em que Diane Nyad estava tentando fazer este nado histórico, entre 2010 e 2013, eu ouvi falar sobre isto na internet ou em algum tele-jornal, não vou lembrar... por isso a minha surpresa inicial em saber que uma pessoas que passou dos 60 anos conseguiu realizar um nado tão perigoso e exigente como este com êxito, após tantas tentativas.
Apesar de seu feito, de nadar por mais de 52 horas de Cuba até Miami, ser histórico e uma superação absurda para alguém da idade dela, até hoje não foi reconhecida pelo Guiness Book por uma série de razões.
Porém o filme não foca na quebra do recorde em si, e sim em focar em uma mulher que, mesmo estando na terceira idade, quer mostrar ao mundo que ainda está viva, que ainda é útil e que ainda pode. Mas pelo que vi no filme, não é bem para o mundo que ela quer mostrar essas coisas, parece que ela quer mais se convencer de que não é uma inútil, de que ainda pode realizar sucessos.. é mais para afagar seu próprio ego.
Como mostrado no longa, Diane era uma pessoa difícil, de lidar, de conviver, cabeça dura, teimosa, que pega no sentimental de quem está lhe cercando... isso não faz dela uma pessoa ruim, longe disso, afinal todos nós temos os nossos defeitos, só temos que reconhecê-los e não sermos hipócritas. Porém, Diane tinha muitas virtudes, sabia usar bem as palavras para convencer as pessoas a lhe seguir em sua caminhada para realizar o recorde. E muitas dessas pessoas, como Bonnie e Bartlett, precisavam de um frescor novo em suas vidas que estavam estáveis, ótimas, tranquilas, mas que enxergavam o potencial e a excitação em ajudar a realizar tal feito.
É claro que sua perseverança em conseguir ir de Cuba até a costa de Miami, em 5 tentativas dentro de, 3 anos? 4 anos? (coisa assim né?), é algo muito notável e serve de inspiração para todas as pessoas que acham que não podem realizar nada em suas vidas sociais. Tudo é possível desde que você se mova e comece algo, seja na quebra de recordes ou em qualquer aspecto da vida pessoal de cada ser humano. Nesse ponto, o filme cumpriu seu papel.
'Nyad' foi dirigido por Elizabeth Chai Vasarhelyi e Jimmy Chin, casal que produziu e dirigiu obras como 'De Volta ao espaço' e o ótimo 'Free Solo', e se basearam em um roteiro escrito por Julia Cox, encima do livro escrito e lançado por Diane.
Acho o roteiro muito bem escrito, que deixa a história leve e bem solta para o espectador acompanhar sem se sentir cansado ou ofendido em algumas passagens. Quando digo ofendido, é explicar nos mínimos detalhes algumas motivações de Diane ou alguns aspectos de seu nado e quebra de recorde... é tudo muito simples e de fácil absorção pelo espectador.
A direção do casal é incrível, obviamente pelas cenas aquáticas, onde eles pegam Annette Bening debaixo em seus nados braçais, nas cenas onde ela delira enquanto está nadando, e nas incríveis cenas noturnas onde ela enfrenta uma tempestade e é muito verossímil aquelas cenas, elas fazem você entrar na quebra do recorde com Diane... como se você estivesse lá com ela dando cada braçada e se cansando junto e tentando juntar forças junto a ela. As demais cenas são decentemente dirigidas e passam uma boa imersão dos acontecimentos e favorece as duas protagonistas a brilharem em cena, assim como o coadjuvante Rhys Ifans como John Bartlett.
Nas atuações, achei Annette Bening, bem e comum no filme... ela foi ótima quando esteve dentro d'água, suas cenas são incríveis e ela passou uma imersão sem igual enquanto esteve atuando de uma forma cansada e alienada dentro d'água. Suas cenas com Jodie Foster também foram ótimas, as duas possuem química quando estão juntas em cena... mas no geral achei apenas decente, ganhando mais para o final do filme, onde fica uma atuação bem emocionante. Honestamente, não a indicaria ao Oscar, apesar de adorar ela como atriz, afinal ela é uma monstra em seus mais diversos filmes como 'Minhas Mães e Meu Pai', 'Beleza Americana' e 'Capitã Marvel'.
Jodie Foster sim eu já achei neste filme, um degrau acima de Bening... esteve perfeita no papel de Bonnie, soube dosar bem a dramaticidade de sua personagem com algumas passagens mais leves, um pouco cômicas. Esteve em sintonia com sua personagem, e acho que fez um trabalho muito competente com a Bonnie real, para poder representá-la da melhor forma em cena. A grande maioria das suas cenas são de destaque, em nenhum momento ela cai um pouco ou dá uma escorregada, ela está no controle da atuação o filme inteiro. Ela sim eu achei justíssimo ser indicada a Atriz Coadjuvante no Oscar.
Rhys Ifans (o Xenophilius da série 'Harry Potter' e do clipe The Importance Of Being idle do Oasis), fez John Bartlett e sua atuação foi na medida que a personagem pedia, achei ele com uma presença de tela muito boa, trazendo um pouco de dramaticidade quando Bartlett revela e Bonnie que está doente, e foi muito bem no filme... gosto muito dele, por razões óbvias, já que sou fã de Oasis.
Achei a trilha sonora ótima, complementando bem o trajeto percorrido por Diane de Cuba até Miami, crescendo nas cenas mais tensas e de dificuldade, e sendo mais sereno nas cenas mais densas e de conflito com Bonnie ou com Bartlett. Um trabalho competente do já conhecido e de quem respeito muito Alexandre Desplat, de quem virei fã nos filmes 'Desejo e Perigo' (uma obra prima de Ang Lee) e 'Benjamim Button', passando por 'A Garota Dinamarquesa', 'Godzilla de 2014' e 'Pinóquio de Del Toro'... esse homem já fez tantos filmes, mas tantos filmes, é uma máquina de composição, sou fã demais dele.
O filme recebeu apenas indicações de atuação nesta temporada de premiações:
- Annette Bening foi indicada a Atriz Principal no Oscar, Globo de Ouro e SAG's Awards, perdendo para Emma Stone e Lily Gladstone;
- Jodie Foster foi indicada ao Oscar, Critics Choice Awards, Globo de Ouro e SAG's Awards por Atriz Coadjuvante, perdendo todos para a arrasa quarteirão Da'Vine Joy Randolph.
è um bom filme 'Nyad', e ao meu ver, não tem nada demais nele, só uma boa e ótima história de se superar e enxergar que ainda tem lugar no mundo, e que ainda pode realizar suas metas pessoais... mas é um filme ok, bem dirigido e bem atuado. É competente.
Esse ano realmente a Netflix não deu tanta sorte com suas produções cinematográficas nas premiações, pois tanto 'Maestro' quanto 'Nyad', que foram as obras mais visadas (Rustin foi pouco visado), não obtiveram sucesso nem no Oscar, nem nas demais premiações da temporada... tirando o Oscar para o curta de Wes Anderson, 2023 é um ano para a Netflix esquecer em termos de reconhecimento acadêmico.
(Assistido em 08/03/2024 - Netflix)
Ficção Americana
3.8 369 Assista AgoraSão raros os filmes independentes que conseguem ser bem sucedidos, e furam a bolha do circuito onde eles são exibidos... o último caso foi o arrebatador 'Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo'. Porém 'American Fiction' foi muito bem sucedido, atingindo um número enorme de público, furando sua bolha, e conseguindo altas e ótimas críticas país e mundo afora.
Aqui temos aquela trinco que eu adoro e respeito, produção, direção e roteiro, tudo feito por Cord Jefferson, que ainda teve ajuda de Percival Everett que é o autor da Obra Original, na qual o roteiro se baseia, como produtor executivo, e também teve Rian Johnson (de 'Knives Out' e 'Glass Onion') na produção executiva também, para ajudar-lhe ao filme ver a luz do dia.
'American Fiction' traz à tona aquela sagacidade para escancarar a hipocrisia social atual, onde o preto é visto fazendo apenas coisas temáticas que são consideradas de 'preto', como música de preto (Rap, Hip Hop, R&B), livros de preto (que sempre tem que ser pessoal, passando pelas suas dificuldades e precisa se passar no 'Guetho'), filmes de temática Preta, entretenimento para pretos, e tantas outras coisas que permeiam a sociedade atual. Um pouco dessa visão pode ser vista em uma fala de Jon Batsite no seu documentário 'American Symphony', personifica bem como a sociedade enxerga alguns aspectos artísticos relacionados a Pretos.
Vemos um texto muito cirúrgico e inteligente de Cord Jefferson para tratar desse assunto, onde Monk se vê encurralado em uma sociedade que não dá crédito a livros bem escritos, bem estudados, com fundo filosófico, com uma temática única, escrito por pretos... consumindo apenas aquilo que é genérico, uma representação, segundo ele vazia e sem fundamentos de situações e trejeitos e falas, já enraizados na forma de se representar uma escrita preta.
Seja nas passagens do livro de Sintara, ou nas passagens do livro de Monk, temos ali um texto que facilmente você vê em filmes cômicos dentro da cultura preta, ou em séries que são protagonizados por pretos e se passam em bairros pretos americanos... ou até mesmo em esquetes cômicas que representem personagens pretos. E esse tipo de visão e também a adoração do público irrita demais Monk, e irrita muito mais ainda, quando ele resolve só de sacanagem, escrever um livro exatamente dentro dessa temática... e vira um best-seller absoluto, com direito a adaptação imediata para as telonas.
Foi um texto muito interessante de Cord Jefferson e bem prazeroso de se acompanhar em suas 2h de duração, ver esse embate de visões entre uma pessoa como Monk, que é contra essas ideias minimalistas de textos partindo dos escritores pretos, e a adoração do público comum a esse tipo de leitura, e uma pessoa como Sinatra que entende bem o que o público anseia e pretende lhes proporcionar esse tipo de entretenimento e leitura, adicionando um toque pessoal ao produto que está entregando às prateleiras... e até mesmo uma visão vista de fora, como a da namorada de Monk, Lisa, que possui o mesmo tipo de gosto que ele, mas que consegue enxergar positividades no livro que o próprio Monk escreveu, algo que ele considera mequetrefe.
No meio de tudo isso, Monk tem toda sua situação familiar, da qual ele tem que lidar, uma vez que só vivia afastado da mesma, e por um acaso do destino recai sobre seus ombros... e todo esse imbróglio que ele precisa dar atenção e tomar conta, não chega a ser tão diferente assim de algumas passagens que se encontram em algumas publicações das quais ele tanto crítica... ele, mais ou menos, vive aquilo que ele tanto abomina e/ou não respeita, chegando a ser um contraponto interessante.
Um dos momentos interessantes do longa, é justamente a conversa entre Monk e Wiley, o diretor/produtor que irá adaptar o livro de Monk, intitulado 'Fuck', para o cinema, e temos aquele final onde Monk sugere alguns finais para Wiley, deixando o público que está assistindo o filme (eu e vocês), ficarem questionando qual podeira ser o final do que estamos assistindo, qual é o mais apropriado... tirando aquele em que ele é baleado é claro, que foi o escolhido por Wiley, numa clara alusão onde no final, o preto precisa morrer para ser uma espécie de mártir ou algo parecido. Um pouco típico da indústria também se for ver criticamente.
Achei esse final muito interessante, deixando a jornada de Monk aberta e óbvia ao mesmo tempo, com muita coisa ali bem respondida e resolvida, e outras ficando a cargo do bom senso de cada espectador.
Não à toa Jeffrey Wright foi indicado a Melhor Ator em muitas premiações nessa temporada de premiações, pois o ator deu um show em tela, de longe era o personagem mais interessante de se acompanhar no filme, e sua atuação o deixava com um carisma além da conta.
Wright sempre foi um ator mais que competente e sempre entregou atuações acima da média, e precisava de uma personagem assim, onde ele pudesse colocar toda sua elegância em atuar para fora, em um personagem tão rico ideologicamente.
Jeffrey Wright que fez o Comissário Gordon em 'The Batman' e é a voz do Vigia na animação do Marvel Studios 'What If?' foi indicado a Melhor Ator no Oscar, Critics Choice Awards, Globo de Ouro, Satellite Awards, Astra Awards e SAG's Awards, perdendo todos... porém levou o Spirit Awards de Atuação Principal, merecidamente.
Sterling K Brown (de 'This Is Us' e ''Pantera Negra') fez seu irmão no longa, Cliff, e foi ótimo vê-lo em cena, foi um personagem cômico e dramático, e Sterling conseguiu dosar isso na personagem muito bem, deixando-o agradável de se acompanhar, não sendo nada pesado em tela e muito menos sendo só o alívio cômico do filme.
Sterling foi indicado a Ator Coadjuvante no Oscar, Spirit Awards, SAG's Awards e Critics Choice Awards, perdendo todos.
Erika Alexander fez a irmã de Monk, Coraline, e mesmo tendo aparecido só no 1° ato do filme, fez um ótimo trabalho com sua personagem. Foi indicada ao Spirit Awards em Atuação Coadjuvante perdendo o prêmio.
Tracee Ellis Ross fez Lisa, a namorada de Monk, e gostei demais dela em cena, uma atriz bem desenvolta, que atua de uma forma graciosa, abraçando a personagem de uma forma envolvente que me cativou bastante, e espero que tenha cativado o público.
Ainda tivemos o já tarimbado de longa data Adam Brody, o eterno Seth de 'The O.C', fazendo o produtor Wiley.
'American Fiction' foi indicado a melhor Filme no Oscar, Critics Choice Awards, Astra Awards, Spirit Awards e a Filme Comédia/Musical no Globo de Ouro e Satellite Awards, não levando o prêmio em nenhuma premiação.
Porém, Cord Jefferson possui muitos prêmios por Roteiro Adaptado na sua estante, tendo levado o tão cobiçado Oscar e Critics Choice Awards, Spirit Awards, Satellite Awards e o BAFTA, sua única indicação na premiação britânica.
Fora o prêmio para Laura Kapman pela sua Trilha Sonora no filme, no Satellite Awards.
(Assistido em 07/03/2024 - Amazon Prime)
Eu, Capitão
4.0 70 Assista Agora'Eu, Capitão' é o indicado da Itália, para representar o país no Oscar de Filme Internacional, também tendo concorrido em outras premiações, e desde o começo de Janeiro eu estava muito curioso pra ver este filme, pois ele estava sendo muito bem visto há uns meses atrás quando começaram a ser divulgados os indicados a Filme estrangeiro de outras premiações.
Eu me surpreendi positivamente, tendo já conferido o trailer que me ganhou de cara, e toda a experiência de conferir o filme foi fantástica... o roteiro e a ideia original é do diretor do longa Matteo Garrone, e junto a outros 3 roteiristas eles criaram essa história que é um vislumbre do que acontece com os Senegaleses que tentam atravessar o deserto e o oceano para chegar até a Europa. Não só os senegaleses, mas também os demais africanos de diferentes países que tentam essa sorte, para mudarem sua própria sorte, ter uma vida um pouco mais digna, ou apenas ajudar a família.
Muita coisa é complicada na África, e clandestinamente, o que mais importa pelo visto é sempre o dinheiro, temos uma máfia muito grande de viagens clandestinas, falsificação de passaportes, meios de viagens deploráveis, e situações humilhantes e desumanas de imigração pelo oceano, como vimos na cena do barco. Com certeza coisas piores devem acontecer que não foram levadas para o longa, além do suborno policial, que em qualquer lugar do planeta acontece, mas o que foi retratado no filme já é uma boa pincelada de como são essas questões pelos lados daquele continente.
Eu pessoalmente achei o ritmo do filme ótimo, nenhum pouco cansativo, bem direto ao ponto, se criou ali uma cenário de edificação da sociedade mais pobre senegalesa, alguns dos costumes, algumas das rotinas e preocupações... tudo isso pela visão de dois garotos protagonistas, Moussa e Seydou, para em seguida, o roteiro entrar mais detalhadamente na viagem e em como se dá todo esse percurso de Senegal, passando pelo Deserto, até Líbia e seguindo rumo a Europa, mais precisamente a Itália.
Temos cenas pesadas, que não entraram nos detalhes que achávamos que o filme iria entrar, como quando é citado as torturas, e vemos apenas um vislumbre de como eram torturados as vítimas que não cooperavam com o que os seu 'sequestradores', que na verdade não passavam da máfia local, sendo que a polícia também fazia parte, apesar de não vermos em nenhum momento as consequências que Moussa enfrentou na prisão.
Acho que a sequência do barco foi o ápice do longa, apesar de eu gostar particularmente das sequências no deserto e em Líbia, mas é ali que vemos um garoto se superar e se auto declarar 'Io, Capitano', onde lidou da melhor forma que pôde para lidar com as emoções afloradas de quem estava no barco, e dos problemas que surgirão, com mulher prestes a dar a luz e pessoas com risco de vida na escotilha do barco.
Achei a atuação dos dois protagonistas perfeita, Seydou Sarr e Moustapha Fall mandaram muito bem, tiveram muita química, souberam dar carisma e graça aos seus personagens, conseguiram aproximar o público deles, muito favorecido também pelo roteiro, mas são os atores que dão vida aos personagens... e foi ótimo ver a jornada deles.
O filme possui muitas boas cenas fotografadas, as do deserto são as que mais me chamaram a atenção, e temos ótimas cenas fotografadas na Líbia, quando ele visita algumas comunidades senegalesas e quando está trabalhando na construção... sem deixar de mencionar aquela ótima fotografia da fonte que construíram.
A sequência do barco também tem boas cenas desse tipo, e o mérito vai para Paolo Carnera, diretor de fotografia que já trabalhou no filme 'White Tiger' da Netflix.
A cenografia do longa também me chamou muita atenção, nas mesmas cenas citadas, no local onde construíram a fonte, na construção onde Seydou trabalhou, o barco também tem que ser exaltado, mesmo estando lotado de figurantes, e claramente toda a sequência do começo do filme que se passa em um bairro de Senegal.
A direção de Matteo Garrone é ótima, acho que ele foi muito bem na grande e maciça maioria das cenas que rodou, soube conduzir muito bem seus dois protagonistas, e teve um ótimo elenco secundário, aqueles que foram da Máfia, da Polícia de Líbia e os habitantes da cidade de Líbia onde Seydou e Moussa foram parar.
A trilha sonora de Andrea Farri também foi muito bem composta, gostei muito das músicas nos créditos incluídas, e nas cenas mais tensas e/ou pesadas do longa temos uma ótima inclusão de composição que complementou as cenas.
O filme foi indicado a Filme Internacional no Oscar, ao Globo de Ouro e ao Satellite Awards;
No Festival de veneza foi indicado ao Leão de Ouro de Melhor Filme perdendo para 'Pobres Criaturas' e ao Prêmio Especial do Júri, perdendo para 'Evil Does Not Exist' de Ryusuke Hamaguchi... porém levou o prêmio de Leão de Prata de Melhor Diretor para Matteo Garrone.
Simplesmente um filme necessário, relevante, atual, com fator histórico, muito bem dirigido e atuado, uma grande película com uma grande história que envolve o espectador. É cinema, simples assim.
(Assistido em 06/03/2024 - Cine Belas Artes)
A Sala dos Professores
3.9 138 Assista AgoraEsse é o filme que eu gostaria de ter dirigido, e escrito também... se eu fosse um 'filmaker' é claro.
Eu achei 'A Sala dos Professores' uma experiência fantástica, um filme ímpar, tenso, catártico, de uma inteligência absurda, uma visão de roteiro sem igual.
Acho que um dos trunfos do filme, sem contar a trama principal que é entre Carla Nowak, a Sra Kuhn e seu filho Oskar, está presente no texto, e nos detalhes que compõe o ato de lecionar e o que se está lecionando. Temos cenas onde Carla está dando suas aulas, onde obviamente ela está ensinando seus alunos, mas o trunfo do texto é nos ensinar também sobre algum assunto aleatório, que realmente nos deixa ligado à tela enquanto observamos ela lecionar. E fora isso, é o estudo para deixar isso bem claro no texto, mas se tornar verossímil para quem estiver lecionando, no caso Carla, e em como você enriquece o seu roteiro, com cenas reais de aprendizado.
Penso que normalmente em um filme como este, teríamos mais cenas focadas na trama em si e nos dramas dos personagens, mas aqui, além desse ponto central que faz o roteiro girar, temos cenas focadas no ato de lecionar, com matérias e temas muito interessantes e explicados da melhor maneira possível por Carla, e apresentadas pelos alunos também na sala em alguns momentos. Pra mim, isso é um dos pontos que deixou o filme com tanto brilho e vida, e conteúdo...
Brilhantemente dirigido por Ílker Çatak, que teve a visão certeira de focar o drama e a tensão presente no roteiro em Carla, Oskar, Sra.Kuhn e nos alunos de sua sala, conseguiu criar ótimas cenas sequenciais que deixam a história leve para se acompanhar, sem fugir muito do que está sendo tratado, e sabendo exatamente posicionar Carla no centro das cenas, uma vez que gira tudo em torno dela...
Como já citei, ele foi muito feliz nas cenas onde ela leciona para os alunos, soube muito bem dirigir essas crianças para poder tirar o que queria delas em cena, em como se comportavam antes e depois do acontecido com a mãe de Oskar, e em suas mais variadas emoções conforme o filme se desenrolava.
Conseguiu também inserir com muita competência os professores coadjuvantes da escola em cenas chave, que diretamente e indiretamente lhes envolviam, com textos diretos e certeiros que colocavam as atitudes morais de Carla em xeque, mesmo ela tendo uma resposta direta para o assunto ou só se esquivando deles.
A tensão no filme é gigante, ao mesmo tempo que Carla está certa em agir da forma como agiu, pois se percebe o quanto os professores são de atitudes duvidosas naquela escola e qualquer um pode agir de forma contraditória e de mau caráter... e está certa também em passar a denúncia adiante, pois é bem crível o que se apresenta no vídeo... ela ao mesmo tempo, possui uma atitude muito precipitada que coloca sua moral em risco, a moral da Sra. Kuhn em dualidade, e expõe os demais professores, que estão no direito de questionar de estarem sendo filmados sem nenhum conhecimento prévio.
Mas então, porquê agir de uma forma tão autoritária, com os alunos tentando descobrir quem é o responsável por atos de furtos na escola... porque os alunos podem ser suspeitos, e quando não se chegou a lugar nenhum, acusando um aluno muçulmano, que claramente era inocente, apontado por outro aluno que provavelmente tinha algo contra este aluno, a escola não lhe deu as desculpas necessárias, ou não agiu de uma forma mais eloquente e responsável para não culpar um aluno do qual não tinham 100% de certeza?
Isso tudo gera uma das cenas mais interessantes do longa que é a impressão do jornal estudantil, onde os alunos usam de sua veia jornalística e investigativa para poder dar vida a matéria que expõe apenas o lado negativo da professora Carla, muito por conta da vingança que Oskar pretendia realizar contra ela.
A entrevista dos alunos com Carla, e depois quando ela vai cobrar a mudança do texto dos mesmos, após o jornal ser impresso, trouxe um texto afiadíssimo, um debate moral onde Carla sempre que começava a dar um passo a frente, trazendo a razão e o bom senso pro seu lado, os alunos retrucavam com algo maior e mais bom senso, deixando a situação em um quebra de braço, onde um lado iria prevalecer... o da verdade.
Roteiro incrível de Ílker Çatak e Johannes Duncker... se fosse um filme americano, estaria indicado nas categorias de roteiro e quiçá de direção.
Leonie Benesch (A Volta ao Mundo em 80 Dias) está incrível como a professora Carla Nowak, sua atuação é inspiradíssima, certeira, centrada, com muita sensibilidade e ótima carga dramática... ela impõe em suas feições uma tensão que o filme exige, e um desconforto genuíno quando está de frente aos seus alunos que visualmente estão contra a professora pelos acontecimentos não verbalizados na escola e na sala de aula.
Leonie foi incrível, gostei demais, mas demais dela em cena e já virei fã da atriz... se houvesse um 'Oscar' para Atriz Internacional, daria o prêmio para ela.
Outro que se destacou, Leo Stettnisch, que fez Oskar, que garoto foi esse... uma atuação GIGANTE, o rapazinho foi perfeito, foi cirúrgico, ele foi mocinho, foi vilão, foi FDP, foi coração, foi emoção, foi tudo em uma atuação só... claro que o roteiro lhe favoreceu muito em muitas das cenas, mas sua atuação foi a alma do filme... não sei vocês, mas os momentos foram variados onde eu me pegava sentindo por ele, torcendo por ele, detestando ele, culpando ele e por aí vai...simplesmente sensacional este garoto em cena em seu filme de estreia.
Todas as demais crianças e adolescentes do filme, foram sensacionais também... dando o destaque óbvio, para as crianças da sala de Carla, foram ótimas, foram perfeitas, foram incríveis e entregaram performances condizentes com que o filme pedia. O talento é delas, e o mérito também é do diretor Çatak que soube tirar o que queria das crianças para deixar as cenas a melhor possível.
Os professores coadjuvantes foram ótimos, todos tinham seu ar carismático, Liebenwerda que era o mais centrado de todos, com a cabeça sempre no lugar, e a professora Vanessa que já era mais ácida, sempre tentando tirar o que queria ouvir de Carla...Lore Semnik e o Professor Milosz Dudek também foram ótimos coadjuvantes, tendo boa presença de cena no longa.
A trilha sonora do filme ficou com Marvin Miller, que já trabalhou em clássicos como 'O Jovem Frankstein' e 'O Pricnípe Ladrão', e aqui fez um trabalho ótimo, deixando a composição sempre tensa, um ar que o filme carrega, e a composição dele compõe muito bem essa atmosfera, sempre com o violino ácido e presente nas cenas.
O filme tem uma ótima cinematografia, tanto das cenas externas, como das cenas internas, que são as que ganham mais notoriedade na fotografia feita. Ela se ganha mais na construção da cena e em como ela conversa com o público que assiste, do que em paleta de cores, ou takes abrangentes com temáticas singulares... o caso aqui é mais nos espaços que os atores ocupam e em como isso conversa com a atenção do público. A diretora de Fotografia é Judith Kaufmann, que trabalhou no filme 'Corsage, indicado a Filme Estrangeiro no BAFTA de 2023.
Falando em Indicações, o longa foi indicado a Melhor Filme Internacional no OSCAR, no Satellite Awards e no Astra Awards;
Também foi indicado no Prêmio de Cinema Alemão em Melhor Filme, Melhor Diretor (Ílker Çalak), Melhor Atriz (Leonie Benesch), Melhor Roteiro Original, Melhor Edição, Melhor Fotografia, Melhor Trilha Sonora... perdeu apenas Fotografia e Trilha Sonora, vencendo as demais categorias, como Direção, Atriz para Leonie Benesch e Melhor Filme batendo 'Nada de Novo no Front' e 'Holy Spider', dois ótimos e grandes filmes;
No Goya, o Oscar espanhol, perdeu Melhor Filme Europeu para 'Anatomia de Uma Queda';
No Astra Awards, Leonie Benesch ainda foi indicada a Melhor Atriz Internacional.
Um grande filme é 'A Sala dos Professores', tenso, ágil, inteligente, texto em alto nível, um elenco mirim surreal, uma protagonista brilhante... adoraria ter dirigido este filme, foi muito gostoso acompanhar no cinema, sequer vi a hora passar.
Apesar de ter chegado apenas este ano de 2024 nos cinemas brasileiros, o filme estreou em fevereiro de 2023, e devo confessar, que ano foi o de 2023 para o cinema alemão, este filmaço, 'Holy Spider' que é soberbo e tenso também, e o já premiado 'Nada de Novo no Front' que é um espetáculo cinematográfico.
Viva o cinema estrangeiro! Viva o cinema Alemão!
(Assistido em 06/02/2024 - Cine Kinoplex Vila Olímpia)
Flamin' Hot: O Sabor que Mudou a História
3.3 64 Assista Agora'Flamin Hot' conta a história de Richard Montañez, um mexicano que trabalhava na fábrica da Pepsico, como ajudante de limpeza/manutenção, e revolucionou o mercado de salgadinhos ao ter a ideia de dar o sabor picante para várias marcas como Cheetos, Ruffles, e outros salgadinhos. Ou seja, é baseado em um fato real.
E claro, como é cinema, temos muitos fatos ajustados para poder contar uma história mais condizente para os espectadores, quem assiste o filme pode perceber com muita facilidade, onde a caneta trabalha para alavancar o roteiro com situações e textos que possam compor melhor o longa metragem.
Não é o primeiro trabalho dirigido por Eva Longoria, mas é o primeiro longa metragem que ela dirige... e eu particularmente, sou fã de Eva Longoria desde os tempos de 'Desperate Housewives' onde ela interpretava Gaby, uma personagem ácida, em uma grande série que marcou época.
Por ser fã dela, fiquei muito satisfeito e contente ao ver o grande trabalho que ela realizou neste filme... baseado no roteiro de Linda Yvette Chavez e Lewis Colick, Eva Longoria conseguiu tirar ótimas atuações de seu elenco, que foram muito competentes, e inseriu ótimas tomadas, e cenas que enriqueceram o longa, o deixaram com personalidade, e também o deixaram no ponto certo, entre o cômico, o drama, e a curiosidade sobre a história contada.
O longa é contado por Montañez, o personagem interpretado pelo ótimo Jesse Garcia, e enquanto ele narra a história ele coloca uma pitada de humor em imaginar certas cenas e falas, que em seguida é corrigida por ele pelo o que de fato aconteceu. Ele possui uma veia cômica ótima, interpreta bem, entrega o que o personagem pede, apesar de parecer cartunesco demais.
O ritmo do filme é bem dosado, não temos nada atropelado nem corrido, e também possuímos não só cenas que são muito cômicas, como cenas que mostram como era a realidade dos mexicanos na época, economicamente e socialmente... fora algumas cenas dramáticas muito bonitas, clichês é verdade, mas não deixa de ser boas cenas que podem comover os mais sensíveis.
Uma atriz que rouba a cena no filme para mim foi Annie Gonzalez, que fez a esposa de Montañez, Judy, e Annie esteve ótima no filme. No começo ela parecia um tanto quanto comedida e ainda tentando achar o tom da personagem, mas acredito que logo após o filme avançar para quando eles estavam casados e com filhos, ela achou o tom certo da personagem, e entregou performances ótimas, em sua maioria cômicas, e algumas poucas mais dramáticas, mas não muito por parte dela, que ia mais no automático nessa parte.
O elenco ainda conta com Tony Shalhoub, o eterno Adrian Monk, em suas oito temporadas de existência, como Roger Enrico, o CEO da Pepsico na época, que apostou na ideia de Montañez.
E também temos o já consagrado Dennis Haysbert, que sempre será lembrado como o presidente dos EUA David Palmer... aqui ele faz o Clarence Baker, o chefe de manutenção da fábrica que ensina Montañez a operar as máquinas do local.
'Flamin Hot' não tem nada demais, é um filme com um orçamento menor comparado aos demais filmes de grandes estúdios, tem uma 'vibe' mais Sessão da Tarde, não deve atingir a grande maioria do público... mas dentro de sua proposta entregou um ótimo entretenimento, e irá ser um bom passatempo para quem quiser conferir algo mais descontraído.
Eu particularmente gostei muito de como Eva Longoria dirigiu o filme, em como ela teve sua visão de contar a história que tinha em mãos, um bom roteiro, onde ela usou de toda sua experiência e visão para entregar um filme que possui muita alma e coração, e também sendo cômico na medida certa, sem deixar de ter bons momentos dramáticos que convencem muito bem.
Na temporada de premiações, o filme teve apenas indicação para Melhor Canção no Satellite Awards e no Oscar, para a música 'Fire Inside', interpretada pela cantora e atriz Becky G (de Power Rangers de 2017), e escrita pela compositora Diane Warren, 15 vezes indicada ao Oscar sem levar nenhum prêmio.
Nesse caso, vai muito do gosto do espectador do que ela gosta de ver um filme ou não, e eu particularmente me diverti com este filme, gostei de seu resultado, e está em alto conceito comigo,com certeza.
(Assistido em 05/03/2024 - Star Plus)
Dias Perfeitos
4.2 264 Assista AgoraQuando eu penso em Win Wenders, eu lembro de 'Asas do Desejo', óbvio, um clássico de sua autoria de 1987, e também do meu primeiro contato com algo dirigido por ele, o clipe de Stay (Far Away, So Close) do U2, que passava na MTV. Esse clipe é uma extensão do filme 'Far Away, So Close' de 1993, e além de eu gostar demais da música na época em que eu estava conhecendo o rock a fundo, o clipe me deixou fisgado também. Sempre achei os clipes do U2 muito interessantes, e este em particular era dirigido por um cineasta, coisa que eu ainda jovem achava legal, diretores de cinema dirigirem videoclipes.
Acho que Dias Perfeitos é a mais nova obra definitiva do professor Win Wenders, um filme lotado de sentimentalismo, de uma delicadeza difícil de encontrar em outros filmes, e uma visão certeira sobre como são os dias perfeitos em sua forma mais crível.
Todo mundo já passou por esses dias perfeitos, eu mesmo tenho muitas lembranças de passagens da minha vida nos anos de 1997, 1998, 2000, 2001, 2005, 2013, anos que foram muito especiais, e eram simplesmente assim como no filme, dias perfeitos, sem nada especial, nada demais, nada fora da rotina... era a mesma coisa todos os dias,a mesma rotina, mas não conseguimos explicar, havia uma mágica naqueles tempos que faz nós olharmos para trás e sentir saudades ou nostalgia ou melancolia de um tempo que sensacional, mesmo não tendo acontecido nada que renda uma história para se contar a outras pessoas.
Foi muito certeiro o roteiro de Win Wenders e Takayuki Takuma, em mesclar os dias que Hirayama vivia e ia com seu carro para o serviço ou voltando para casa, e as músicas que ele ouvia ditava algo que fazia parte de sua rotina, como as luzes da cidade, o porto onde sempre passava, a casa do sol nascente, e por aí vai.
Dentre essas músicas, 'Redondo Beach' da Patti Smith, conta muito sobre o que Aya está vivendo no momento, não é à toa que ela rouba a fita para ouvir, e depois de devolver a Hirayama e ouvir novamente no carro dele, deixa o sentimento aflorar e lhe dá um beijo carinhoso de agradecimento... ou seja, a trilha não serve apenas para ele, mas engloba seus coadjuvantes.
Assim como foi com sua sobrinha, Niko, que teve a canção 'Brown Eyed Girl' de Van Morrison, embalando sua estadia ou chegada, na rotina de Hirayama, quando estava fugindo da mãe... sua participação no filme foi muito tocante e singela, trouxe toda uma cor para aquele ato em específico do filme. Aquela cena dos dois indo de bicicleta dizendo: "Da próxima vez, é da próxima vez', e 'Agora é agora', foi algo tão simples, mas tão profundo, uma conexão que se mostra única por sua simplicidade.
Eu mesmo me identifiquei muito com a rotina de Hirayama porque já passei anos e anos na mesma rotina em diversos empregos, fazendo as tarefas e indo e vindo do local... ver aquela mesma rotina de Hirayama, sem muitos diálogos, só as tarefas que ele realizava com sua viagem de ida e volta, as pausas para lanchar/almoçar, as idas no bar/lanchonete, ou ao local da moça que tem o ex-marido com câncer... era tão gostoso acompanhar aquilo, tão pacífico, tão acolhedor. Eu podia ficar mais duas horas vendo as mesmas coisas se Wenders fosse louvo e fizesse umas 6 horas de filme ahahahahahahahahahaha... é o típico filme que você se quer olha na hora pra saber quanto está faltando pra terminar, você se deixa levar por aquele mundo que você está vivenciando na sala de cinema.
A atuação de Koji Yakusho é perfeita, divina, emocionante, tocante... todos os adjetivos existentes para congratular a performance de Koji. Ele, obiviamente, foi a alma do longa, e acompanhar sua rotina foi muito prazerosa, e ainda o fato de ele ter pouco diálogo no filme, ser uma pessoa mais retraída, era muito bom vê-lo só vivendo o dia da melhor maneira possível, dentro da sua paz atual.
Ficou claro, quando a mãe de Niko, irmã de Koji, veio buscá-la que existe um passado meio sombrio, não resolvido, entre ele, sua irmã e o pai deles que está internado... ele claramente não quer visitá-lo onde ele se encontra, e tanto Koji quanto sua irmã, evitam de falar do passado. Obviamente dá a entender que eles são uma família que possui uma situação financeira ótima, ou é sua irmã que está bem atualmente, mas o fato de ela perguntá-lo se está mesmo limpando banheiros, mostra que tem muita coisa no passado dele que não é trazido para o filme. E ele está bem assim... feliz.
Arisa Nakano que faz sua sobrinha esteve muito bem em cena, era bem gostoso acompanhar a relação dos dois, que ficava cada vez mais interessante conforme eles faziam mais coisas juntos.
Aoi Yamada fez Aya e ela também esteve ótima nas cenas onde apareceu, é uma atriz bem talentosa... gostei também de Tokio Emoto que fez Takashi, possui uma veia cômica grandíssima, e foi um dos alívios cômicos do filme, foi muito bem inserido no roteiro e é um personagem que faz muita diferença no longa.
O que falar da cinematografia do filme... uma obra-prima é o que posso dizer, perfeito, cada cena fantástica onde se fotografava a cidade, os túneis luminosos, o porto à luz do dia, ou próximo de entardecer, o grande monumento que não me recordo o nome, colorido, que Hirayama e o ex-marido com câncer observam, a cena dos dois brincando com as sombras... fantásticas fotografias.
Mas o que ficou soberbo mesmo eram as as cenas das árvores, onde o sol se encontrava no meio delas, e Hirayama as fotograva com sua câmera, essas cenas sim possuem uma fotografia soberba, coisa linda de se ver na tela, um deleite puro. Um trabalho primoroso e surreal de Franz Lustig (de The 'Aftermath').
A trilha sonora então, nem se fala de tão a dedo escolhida para as cenas, para demonstrar a personalidade de Hirayama... são tantos, mas cito aqui 'Sunny Afternoon' da banda The Kinks (quem aí curte 'You Really Got Me?'), '(Sittin' on) the dock of the bay' de Ottis redding, 'Pale Blue Eyes' da saudosa The Velvet Underground, a já clássica 'House of the Rising Sun' do The Animals, se eu não me engane a primeira a aparecer no longa... um hino atemporal 'Feeling Good' de Nina Simone, que conheci primeiro com a banda Muse... e a canção que fecha o filme em uma sequência de mais de dois minutos com a feição sem igual de Koji Yakusho, feliz, realizado, vivo, com 'Perfect Day' do saudoso Lou Reed de fundo, uma cena icônica com uma música icônica, em um filme icônico.
O filme foi indicado nesta temporada de prêmios na categoria de Filme Estrangeiro ao Oscar, Critics Choice Awards e César Awards... perdendo o Critics para 'Anatomia de Uma Queda' e o César para 'The Nature of Love'. Provavelmente não deve levar o Oscar, vide que a Academia não tem muita relevância e tem preguiça de ver certos filmes.
Foi indicado no Festival de Cannes à Palma de Ouro, ao Prêmio do Júri, ao Grand Prix, e a Roteiro... mas levou o prêmio de Interpretação Masculina para Koji Yakusho, como pode ser visto no começo do longa.
No Asian Film award está indicado a Melhor Filme;
No Japan Academy Prize está indicado a Melhor Filme e Melhor Diretor.
No Astra Awards foi indicado a Melhor Filme Internacional, Melhor Ator Internacional para Koji Yakusho e Melhor Diretor Internacional para Win Wenders.
'Perfect Days' de Win wenders é maravilhoso, uma obra primorosa, gostosa e necessária... estava relutante em dar as 5 estrelas, mas é o tipo de filme que dá vontade de assistir todos os dias... todos os dias...e como já falei, se tivesse mais umas 2 ou 3 horas de duração, não iria cansar, nem enjoar... é cinema em seu mais puro esplendor.
Viva Win Wenders, professor eterno!
(Assistido em 04/03/2024 - Cine Belas Artes)
Ferrari
3.3 93 Assista AgoraComo fã de Fórmula 1 de longa data e apreciador de outras categorias automobilísticas, fiquei bem empolgado quando saiu a notícia de que um filme sobre Enzo Ferrari estava sendo desenvolvido com a direção de Michael Mann, que dirigiu o já consagrado 'O Último dos Moicanos' e o ótimo 'Inimigos Públicos', além de ter produzido 'Ford vs. Ferrari' que é um filme muito bom. Achei que teríamos uma biografia aqui de respeito, cobrindo boa parte da vida de Enzo e a ascenção da marca Ferrari na cultura Italiana e no mundo.
Mas, o filme deixou bem a desejar em vários pontos, e temos um resultado apenas ok, na minha modesta opinião.
Baseado no livro de Brock Yates 'The Man, The Cars, The Races', o filme focou muito na relação de Enzo com sua esposa, Laura Ferrari, e em seu relacionamento com outra mulher, escondido de Laura, Lina Lardi, com quem ele tinha um filho... além de focar também no momento onde Enzo está para ir à falência pelo fato de estar gastando mais do que ganha, e é aconselhado a vencer as 'Mille Miglia', que era o embrião da futura F1, para poder se recuperar financeiramente e poder manter seus carros em construção.
O roteiro foi até bem escrito, tudo está bem alinhado, nenhuma ponta fica solta, e muitos pontos ali se encaixam e se desenvolvem com naturalidade... eu achei bem interessante acompanhar este fato, onde Enzo possui dois relacionamentos, um que já se quebrou a muito tempo com a morte de seu filho com Laura... e seu relacionamento ás escondidas com Lina Lardi, e a aflição dela em não saber que sobrenome seu filho irá ganhar.
Me entreteu, me deixou ligado na tela, nos fatos, nos acontecimentos, foi uma experiência bem legal...porém, confesso que o filme deixou muito a desejar, ficou faltando alma ali, tem muita cara de novela mexicana, o foco é muito maior nas relações de Enzo, e ali substancialmente, em como ele está lidando com o fato de estar indo à falência e ter que pedir ajuda financeira a seus concorrentes.
O peso do nome, da marca Ferrari, fica mesmo em terceiro plano, o piloto Alfonso De Portago foi muito mal trabalhado no longa, nada desenvolvido, não dá para se importar totalmente com ele, nenhum aspecto dele nos é apresentado em tela... o mesmo do outro piloto, Piero Taruffi, que não foi desenvolvido, não foi apresentado, só está ali com sua pseudo aura de piloto acima da média, metido que ganha tudo... nem isso eles conseguiram desenvolver direito.
Toda a sequência das 'Mille Miglia' foi muito bem filmada, realmente aqui devo confessar que Mann filmou maravilhosamente bem e soube dar destaque para cada pequeno e grande detalhes, e foi bem emocionante acompanhar. Assim como todas as cenas em que alguém pilotava uma Ferrari, passou uma imersão ótima para quem assistia, e incluo a cena onde Enzo dirige e troca as marchas no começo do filme, uma ótima coreografia ali.
Impossível não citar o erro grotesco de você filmar um longa sobre a maior marca de carros da Itália e do mundo, ali em seus tempos áureos, com todo os acontecimentos se passando na Itália, com personagens Italianos, com toda a sociedade italiana de fundo, e os jornalistas da época dos jornais locais, os rapazes falando sobre o campeonato italiano, e citando Verona, Parma, e outros times... E O FILME SER FALADO EM INGLÊS, TOTALMENTE.
Tudo bem, é uma produção Hollywoodiana, produzido por estúdio americano, com estrelas de Hollywood... mas não dá né gente, eles se deram ao trabalho de ter o sotaque italiano no filme, mas não falam em italiano, não tem como você enxergar autenticidade na obra, porque soa maquiado, soa incoerente, fantasioso... ainda mais com o peso que o nome Ferrari tem... eu entendo as circunstâncias, mas isso deveria ser melhor trabalhado... e talvez, e somente talvez, este seja um dos fatos do filme não ter sido tão bem recebido quando foi lançado, além do fato de ele focar mais em relacionamentos do que na marca em si e no homem em si.
Mas tecnicamente ele é decente, possui boas cenas das 'Mille Miglia', possui um figurino decente, temos boas tomadas fotográficas no longa, principalmente na corrida noturna, nos testes com o primeiro piloto que morreu, nas cenas de discussão entre Enzo e Laura no escritório de Enzo e na casa deles, assim com as do cemitério.
E claro, cito também o design de produção do longa que está muito bem feito, a fábrica é decente, bem caracterizada, gostei muito dos carros apresentados no filme, não só as Ferraris, mas os demais carros que competiam nas 'Mille Miglia'... tudo muito bem ambientizado.
Adam Driver como Enzo Ferrari está decente, gostei da maquiagem que fizeram nele, para lhe fazer parecer mais envelhecido como Enzo à época. Acho Adam um grande ator, tem veia para tudo, é bem competente em tudo que ele atua, e aqui ele se esforçou bastante, entregou uma performance condizente, de força, de presença, de impacto, teve falas onde ele era incisivo, como quando cobrou mais comprometimento de seus pilotos depois de uma corrida fracassada... suas conversas discussões com Laura e com sua outra mulher a Lina Lardi... mas é um trabalho apenas ok, o roteiro também não lhe exige muito assim, tá na medida.
Já Penélope Cruz...meu Deus, que mulher é essa... ela estava possuída neste filme, tomada totalmente pela arte de atuar. É raro vermos um ator achar o tom perfeito de sua personagem e incorporar e entregar uma performance 100%, sem deixar este tom cair em nenhum momento do filme.
Vemos Penélope amargurada, transtornada e consumida as 2h10 do filme inteiro, não tem uma cena onde ela não está atuando para ganhar.Está insana, uma performance fortíssima, uma entrega total à personagem... ela já começa o filme com os dois pés na porta, tomando a cena toda para si, se agigantando, todos parecem pequenos quando ela está em cena...realmente Penélope se superou neste filme, com este papel, e ela esteve perfeita como já disse...sou só elogios para ela, e foi um deleite vendo-a atuando daquela maneira. Não à toa, foi indicada a Atriz Coadjuvante no SAG'S Awards e a Melhor Atriz Principal no Festival de Veneza e no Satellite Awards... merecia muito mais indicações, com certeza, acho que cabia até uma lembrança no Oscar, mas faltou promoção do estúdio para o filme.
O filme ainda teve Shailene Woodley (O Mauritano) fazendo Lina Lardi em uma atuação segura, Gabriel Leone (Eduardo e Mônica e Verdades Secretas) como De Portago em uma atuação normal, o roteiro não lhe favoreceu em nenhum momento, não teve oportunidade de tentar brilhar.
Também tivemos o veterano Patrick Dempsey que dispensa comentários como o piloto Piero Taruffi, também não foi favorecido pelo roteiro então ele apenas fez número ao elenco.
Nesta temporada de premiações foi pouquíssimo lembrado:
- No Oscar, Critics Choice e Globo de Ouro sequer teve indicações;
- No BAFTA recebeu apenas indicação a Melhor Som perdendo para 'Zona de Interesse';
- No SAG's Awards teve a indicação da Penélope Cruz;
- No Satellite Awards teve em Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia, Melhor Som, Atriz Filme Drama (Penélope) e Melhor Filme Drama;
- Além de ser indicado ao Leão de Ouro no festival de Veneza, Leão de Prata de Melhor Diretor, Prêmio especial do Júri e Roteiro;
Acho um filme competente, bem feito, bem filmado, bem roteirizado, mas que pecou em detalhes bobos, que fariam uma diferença enorme no longa. Ainda assim é um bom entretenimento e cumpre o papel de mostrar, mesmo de forma esporádica e por cima, quem foi Enzo e como se dava sua relação com sua família. Agora a história da Ferrari em si, ficou no muro.
(Assistido em 26/02/2024 - Cine Lasar Segall)
A Cor Púrpura
3.5 101Nunca fui muito fã de musicais, mas venho consumindo muitos deles nos últimos anos, e mesmo que eu esteja devendo alguns, como 'La La Land', venho tentando acompanhar outros estilos de filmes musical para não sentir aquele sentimento de que vou encontrar algo cansativo.
Tenho bons filmes musicais dos quais sou fã de carteirinha, como 'Dançando na Chuva' e 'Moulin Rouge', mas são poucos comparados o grande número que tem por aí afora... mas é claro que musicais são algo que os americanos amam e eles colocam em tudo o que criam na TV e no Cinema.
Mas não posso negar que 'A Cor Púrpura' é uma ótimo filme e um grande musical, que realmente me entreteu e me surpreendeu positivamente.
O longa musical possui ótimas músicas, que possuem uma banda competente por trás que as deixam envolvente para quem assiste. São muito bem escritas as canções, são muito envolventes, possuem um ritmo bem agradável, curti várias das canções, bati o pé em muitas delas, realmente me pegaram e me divertiram. Foram duas ou três canções que não curti, pois elas já eram mais emocionais, aquelas canções pra emocionar mesmo o público, para pegar no âmago, lá no fundo, pra fazer a atriz crescer e colocar toda sua emoção pra fora, aquela oportunidade para ganhar sua indicação na Academia, e fazer a música também ser indicada... essas eu não curti, o exemplo crasso disso é a cena onde Celie canta em frente a sua loja de calças, e que vai estufar o peito e encarar de frente, e flertar com alguém, porque eu estou aqui, viva e tal... não é minha praia, muito forçado. Mas as canções são ótimas!
A história do filme é muito boa, eu me envolvi demais no enredo e na construção dos personagens, em como Celie foi criada com sua irmã, que sofriam na mão do pai delas, aquela infância sofrida, e Celie perdia seus bebês pois seu pai não a deixava ficar com eles. Toda a passagem dela com o 'Mister', e em como ele a destratava e como só queria se aproveitar mesmo da pequena Nettie... realmente é um enredo assim que não tem nada demais né, vamos ser práticos aqui... é o clichê do clichê do clichê dos contos norte-americanos, já vi esse segmento ser usado em inúmeros filmes e séries de TV nos EUA, anos e anos à rodo, é algo que quem é acostumado a acompanhar cinema, filmes em geral, filmes para TV, sabe que esse tipo de enredo é comum e batido.
Mas a história é boa, bem contada, bem amarrada, uma virada sensacional em seu final, com revelações surpreendentes, mas típica dessas narrativas... aquele final onde tudo dá certo e ela reencontra seus filhos que milagrosamente param na mão de sua irmã, e então serão todos felizes pra sempre... é clichê... é... é fantasioso... é... mas é um musical, e musicais são assim.
Eu gostei do filme, eu gostei dos números musicais e coreografias, gostei da história, me envolveu muito, o filme me entreteu e realmente é um trabalho incrível, esteticamente e de roteiro também.
Porém eu devo confessar que o filme seria muito mais interessante e funcional, se a história dele fosse contada em primeiro plano, e tivesse um ou outro número musical, se a história fosse o cerne do filme... porque é a história que me ganhou, que me deixou centrado no filme.
'A Cor Púrpura' O Musical, funciona na Broadway, eu gostaria muito de ver esse musical na Broadway, deve ser uma experiência única e marcante... mas em longa metragem, acho que não brilha tanto como deveria. Tudo é ótimo, mas quebra o ritmo da história, que é o que mais chama a atenção, pois ela é envolvente e te prende e te emociona perto do final, e ficamos tão impactados com a força de Celie e tudo mais... mas os números musicais quebram esse ritmo, eles não fazem o filme andar, eles apenas se fazem presentes para edificar o musical. A História nasceu dentro do musical, ele é a parte central, e por isso deve funcionar mais na Broadway, com a história de fundo...no longa, as canções não fazem os acontecimentos andarem, eles param a narrativa, para vermos um ótimo número e boas coreografias, e em seguida, o filme volta a decorrer.
Se as canções complementassem a história, fizesse o filme caminhar, como nos dois musicais que citei acima que são meus preferidos, aí seria um resultado bem diferente.
Isso que citei acima é a minha principal ressalva com o filme, seus números musicais barram o andamento da história, o decorrer do roteiro, e por isso acho que o musical deve funcionar mesmo na Broadway, porque no filme, ele não foi bem desenvolvido para andar junto ao roteiro.
Os dois foram bem feitos, cenas musicais e enredo, mas não caminharam junto no filme dirigido por Blitz Bazawule, que na minha humilde opinião, não conseguiu montar o filme de forma coesa para fazer os dois pontos funcionarem harmoniosamente.
Fantasia Barrino está uma força da natureza como Celie, ela realmente incorporou a personagem, trouxe uma força motriz incrível para dar vida a Celie e deixá-la verdadeira e verossímil para o público... que personagem e que Atriz.
Gostei muito de Danielle Brooks como Sofia, uma das melhores interpretações do filme, e para mim, a melhor personagem do longa, forte, de presença, de personalidade, que não mede esforços para fincar sua vontade na sociedade onde vive... uma mulher de força e personalidade forte que não se molda a ninguém e não leva desaforo para casa, e o principal, obvio, não vai deixar macho nenhum lhe dizer o que e como fazer. Mas que é totalmente quebrada quando sofre o que todo Preto sofre até hoje...racismo, e injustamente é presa... toda sua força e personalidade são quebradas e vemos uma Sofia irreconhecível... dá muita dó... que personagem, e que atuação maravilhosa e fortíssima de Danielle Brooks.
Se não fosse Da'Vine Joy Randolph, Brooks podia ser uma séria candidata ao prêmio, uma vez que ela recebeu a indicação no Oscar para Atriz Coadjuvante.
Agora o meu ator favorito, Colman Domingo, sou fã demais desse homem, interpretou Albert 'Mister' Johnson, e foi feroz em sua atuação, com ira, com força, com inerência, enfim... tudo. Colman foi gigante no longa, entregou uma performance sem igual, um personagem ame ou odeie, pois ele era perverso, mas ao mesmo muito engraçado e de carisma, mesmo sendo mal daquele jeito. Foi indicado a Ator Coadjuvante no Astra Awards e a Elenco em Filme no SAG's Awards.
O elenco ainda teve a ótima Taraji P. Henson (Estrelas Além do Tempo) como a incrível personagem Shug Avery;
Corey Hawkins (The Walkind Dead e 24 Horas) como Harpo Johnson em uma ótima atuação, gosto muito dele como ator;
Halle Bailey, a pequena marmeid, como a jovem Nettie Harris, que canta muito bem e dança muito bem;
A cantora H.E.R que recentemente gravou com o Foo Fighters, fazendo a nova esposa de Harpo, a Squeaky, gostei muito da atuação dela.
Ainda temos Anjanue Ellis (de 'King Richards'), Louis Gossett Jr. (de 'Tubarão 3'), o cantor Jon Batiste mostrando que é versátil também atuando, como o marido de Shug Avery e Elizabeth Marvel (de 'Hellstorm' e 'The Dropout') como Miss Millie, culpada pela prisão de Sofia.
Figurinos impecáveis e muito bem construídos, cenografia embasbacante, uma fotografia lindíssima e envolvente, nas cenas onde Nettie e Celie jovens cantam e dançam na praia, ou nas cenas noturnas na casa de 'Mister', ou até nas passagens no bar de Harpo, principalmente também no n[umero musical de Celie na frente de sua loja... são muitas cenas onde a fotografia do filme se destaca e salta os olhos... perfeito é o que posso dizer, trabalho feito por Dan Laustsen da franquia 'John Wick'.
Uma direção de arte também perfeita, com tudo remetendo ao começo da década de 1900, bem verossímil e chamativo, detalhado, um trabalho bem detalhado e dedicado.
Tecnicamente o filme não perde pra ninguém, é tudo muito bem construído, muito bem encenado, é o grande trunfo da produção.
Uma coisa que me incomodou também no longa, foi as passagens de anos, era 8 anos, depois mais 9 anos, depois 10 anos, depois 4 anos, mais 2 anos... essa passagem toda fica quebrando o andamento do enredo, e nada acrescenta à caracterização das personagens, que parecem que estão no mesmo tom independente dos anos que passam.
A trilha sonora é de Kristopher Bowers (de 'Bob Marley: One Love' e 'Invasão Secreta' do Marvel Studios) e entregou uma trabalho muito bom,mas muito bom. Gostei demais das composições que ele criou e que foram inseridas certeiramente no longa, em momentos chave das personagens, em seus diversos momentos. Dou um destaque para a composição que começa a tocar na subida dos créditos, com piano e violinos, música muito bem composta, coisa linda de ouvir.
Achei a cena final do filme muito brega, sinceramente não gostei, tudo muito mágico, aquela coisa de juntar todo o elenco e aquela prece, e os filhos que nunca a virão, mamãe eu te amo... tipo, eu entendo, é cinema, é musical, é coisa de americano, é faz de conta, é fantasia... mas é brega demais pro meu gosto e como não sou americano, não funciona comigo.
No BAFTA, Fantasia Barrino e Danielle Brooks foram indicadas a Atriz e Atriz Coadjuvante respectivamente, perdendo para Emma Stone e Da'Vine Joy Randolph.
No Astra Awards indicao a Melhor Elenco, Melhor Figurino, Melhor Cabelo e Maquiagem, Atriz e Atriz Coadjuvante para Fantasia Barrino e Danielle Brooks e Melhor Filme.
No Sag's Awards para Elenco em Filme, Atriz Coadjuvante para Danielle Brooks, perdendo os dois prêmios.
No Globo de Ouro para Atriz Drama (Fantasia), Atriz Coadjuvante (Danielle), perdendo todas.
No Critics Choice Awards para Melhor Filme, Atriz Coadjuvante (Danielle), Elenco, Design de Produção e Maquiagem e Cabelo, perdendo todos os prêmios.
Eu não sei se veria de novo o filme, dublado com alguém eu não veria nem a pau, teria que ser legendado, e aí eu teria que ver sozinho, e não sei se sentiria vontade de voltar ao filme, mas quem sabe, pode ser que sim... porque é um bom musical, mas pra retornar, eu não sei...
(Assistido em 26/02/2024 - Cinemark Market Place)
Rotting in the Sun
3.5 83 Assista Agora'Rotting In The Sun' é um dos filmes mais surreais que vi nos últimos tempos. Ele é tipo dois filmes em um só, dois tons distintos ao mesmo tempo.
Basicamente ele começa como um filme Cômico Gay escrachado, com um pincelada de drama, e depois no seu segundo ato ele vira completamente outro filme, muito mais criminalístico, mais dramático, mais envolvente.
Dirigido, roteirizado e estrelado pelo ator e músico Sebastián Silva, a trama do filme gira em torno de Sebastián, que interpreta ele mesmo, que está passando por uma depressão profunda, e indicado pelo seu amigo, viaja até uma praia gay no México para tentar relaxar... lá ele procura por um veneno usado para cachorros, que pretende comprar para se suicidar. Na praia ele encontra Jordan Firstman, um influencer do Instagram que está trabalhando em um novo projeto para TV e convida Sebastián para escrever o projeto com ele.
Sebastián mesmo relutante, concorda em trabalhar com Jordan e resolvem se encontrar no espaço de Sebastián para começarem a esboçar o novo projeto... porém, Sebastián desaparece misteriosamente, e ao chegar na casa, Jordan começa a suspeitar dos atos da empregada da casa de Sebastián e seu amigo.
E só pra contextualizar, Jordan Firstman, também interpreta a si mesmo no longa.
O primeiro ato do filme é escrachamento puro, claro, nós temos uma construção de narrativa, somos apresentados a Sebastián que sofre de depressão, conhecemos seu amigo Mateo, sua empregada que vive sendo humilhada Verónica ou "Vero" e etc, etc... porém no meio disso tudo, quando Sebastián vai para a praia que esqueci o nome, uma praia nudista gay, ali a putaria toma...
É cara batendo punheta, é cara balançando a rola na cara de Sebastián enquanto ele conversa com Jordan, tem caras metendo atrás da grande pedra... daí aparece um fã de Jordan que começa a chupar a benga do Jordan, e depois tem um velho que assedia Sebastián, insistindo numa chupada... enfim.
O filme segue, a narrativa segue, as intenções de Sebastián e de Jordan ficam bem claras, temos outras situações que aparecem no caminho, mais cenas de punheta e boquete, e meteção... uma discussão entre Sebastián e Jordan que mostra como os dois enxergam a vida, e como isso impacta em algumas coisas no fim do filme.
Já o segundo ato do filme, vem quando Jordan está avisando a Sebastián que já está viajando para lhe encontrar em sua casa para trabalharem no projeto de Jordan... e tudo muda quando Sebastián e a empregada "Vero", estão pegando um sofá para levar até embaixo na casa, para Jordan poder dormir nele quando chegar...
O filme muda de tom da água pro vinho, a putaria e o tom escrachado vão embora e do nada, o filme fica mais sério, mais investigativo, mais tenso, mais dramático, e os personagens começam a mostrar facetas que não sabíamos ainda que tinham, dado o desenrolar dos acontecimentos.
Essa parte é Spoiler:
O filme muda de tom porque, quando "Vero" e Sebastián estão descendo o sofá, acidentalmente Sebastián cai da laje e acaba morrendo, e a culpa nem tanto da "Vero", é mais displicência de Sebastián mesmo.
Por conta disto, Verónica abafa o caso, esconde o corpo por conta do medo polícia em prendê-la, e isso faz com que Jordan desconfie dela, até ele perceber que, dada aquela discussão que tiveram na estadia na praia nudista, pode ter influenciado Sebastián a se suicidar, uma vez que Verónica plantou provas de que ele teria ingerido o veneno de cachorros... e Mateo, seu amigo, também acha que o fato de ele sempre debochar e incentivar os atos suicidas de seu amigo, pode ter influenciado ele a se suicidar... todo mundo acha que tem culpa na possível e provável morte dele.
'Rotting In The Sun' é um filme que me surpreendeu bastante, e positivamente, ele se vende como uma coisa e seu resultado é bem diferente do que esperamos. Um filme que começa todo escrachado, nudismo e safadeza e que vira a chave total para se tornar algo dramático, criminalístico, pessoal, se desenvolve de uma maneira excelente e me envolveu e me deixou concentrado no desenrolar do caso.
Achei bacana o fato de Sebastián e Jordan interpretarem a si mesmos no filme, e é como se fosse interpretação mesmo, um personagem... como fazer de si mesmo um personagem? Como levar isso para a tela interpretando a si e ao mesmo tempo mudando as facetas de quem você é... fora que ainda temos o irmão de Sebastián, Juan Andrés Silva, também interpretando a si mesmo.
Cataleena Saavedra faz a doméstica Verónica, e ela está perfeita no filme, no começo você a vê mais escondida, fala uma coisa ou outra, acha que não vai ser tão acionada no desenrolar do roteiro... mas logo ela se torna peça central da história, e aí o roteiro lhe favorece e Cataleena consegue entregar uma performance incrível e surpreendente, que lembra muito as performances das atrizes de novelas mexicanas... mas aqui com uma carga dramática mais acentuada, não é algo exagerado como nas novelas de lá, é algo que é mais na linha cinematográfica mesmo... ela está esplêndida.
'Rotting in The Sun' foi indicado no Spirit Awards de Filmes Independentes nas categorias de Melhor Performance Coadjuvante para Cataleena Saavedra, Melhor Montagem e para o prêmio John Cassavetes de filmes que foram orçados em menos de 1 milhão de dólares... perdeu nas três categorias, mas foi reconhecido pela corpo docente da academia de filmes independentes.
É um ótimo filme, é engraçado, é envolvente, entretém, cria um ar de suspense, mesmo você sabendo de tudo, no ar, que é gostoso de acompanhar o desenrolar dos fatos e como cada personagem aje de acordo com a culpa que carrega.
Se a pessoa não tiver pudor com cenas explícitas de sexo gay, e também não se incomodar com nudez masculina gratuita... vai encontrar um ótimo roteiro que culminou num ótimo filme, com interpretações competentes.
(Assistido em 24/02/2024 - MUBI)
Assassinos da Lua das Flores
4.1 608 Assista AgoraSó vim aqui dar um exemplo de como o Oscar não tem relevância...pra nada...
Um dos votantes das categorias disse o seguinte:
"Não assisti Killers of The Flower Moon inteiro, não consegui, ninguém precisa ver 2 minutos e meio só de paisagem, tinha que cortar um pouco disso."
O filme não tem nenhuma cena de 2 minutos e meio de paisagem.
Gosto muito do critics Choice, BAFTA (com ressalvas, claro), SAG's, Spirit Awards e Astra Awards... até o satellite tem mais relevância comigo.
Oscar é muito palhaçada por conta de seu corpo votante...só amebas. Isso é só um exemplo de inúmeros que conheço.
Acampamento de Teatro
3.6 23 Assista AgoraEu tenho um sério problema, que venho melhorando com o passar dos anos, mas vez ou outra eu tenho uma recaída.
Ás vezes olhos pra filmes que tenho que assistir, e vou sem interesse porque acho que vai ser meio chato.
E eu sei que preciso parar com isso porque na maioria das vezes sou surpreendido positivamente... e mais uma vez eu tomo aquele 'job' de direita no meio da fuça... porque fui meio assim, meio 'mé', e acabei conferindo uma das melhores comédias que vi nos últimos dois anos, talvez.
'Teather Camp' é um 'Mocumentary', termo usado lá fora para definir um ficção documental cômica... ou seja, é um filme gravado no formato documentário, que se passa num local real, mas a história é fictícia e cômica...mais ou menos isso.
Depois da dona do local Joan, entrar em coma em uma das apresentações do acampamento, os professores resolvem fazer uma peça baseada na vida de Joan, com as crianças alunas do acampamento. Porém, o lugar passa a ser administrado pelo de Joan, Troy, um 'infleuncer' das redes sociais, que acha que sabe como administrar um local, mas na verdade não sabe, tomando decisões que levam o lugar a ser ocupado por investidores de fora. A peça sobre a vida de Joan pode ser a única salvação do local.
Do momento que o filme começa até o seu encerramento, somos abastecidos com situações cômicas... todo o ritmo e tom do filme é cômico, com um ar de seriedade no fundo, que não se leva a sério, dado o fato dos próprios personagens terem atos e falas que não se levam a sério.
Temos personagens com dramas pessoais, como Rebecca-Diane que quer dar um salto a mais na carreira mais está presa a seu amigo Amos, e este, tem uma relação de co-dependência com Rebecca-Diane, e o faz tudo Glenn que sonha em ser um astro dos palcos... entre outros.
Mas o tom do filme é tão cômico, que este drama fica ali na superfície dos personagens, nós enxergamos algo mais neles, mas as situações e eles próprios sempre estão contra... acho que o charme deste filme está justamente nisso... tem algo maior na superfície do filme, mas não é o caso aqui explorá-lo, mas deixar sub-entendido e deixar o absurdo das situações ditarem o rumo do longa e dos personagens.
Não é aquele tipo de comédia, este filme, que vai lhe fazer arrancar risadas e mais risadas, são as situações cômicas que falam mais alto aqui, as falas non-sense em cenas onde eles deveriam agir com maturidade, a personalidade dos personagens que cativa quem for assistir, justamente por ter esse jeito blasé-debochado de agir, responder e tratar durante as passagens do filme.
É muito bom ver em cena os dois protagonistas Ben Platt, que faz Amos e Molly Gordon que faz Rebecca-Diane... eles possuem uma química ótima contacenando, um 'timing' perfeito para as cenas non-sense, estão alinhados no texto, e passam aquele ar de 'olhem como eu levo a sério o drama do meu personagem', mas fica claro enquanto assistimos usam da sua veia cômica para debochar dessa falsa interpretação séria.
Molly Gordon é uma atriz que me surpreendeu muito, gostei demais dela no filme, tem muita veia Cômica, atua muito bem, e ela também de outros trabalhos ótimos, como a série que sou fã 'The Bear', a série 'Lakers:Winning Time', e o incrível filme indie 'Shiva Baby'.
Noah Galvin, de 'The Good Doctor' e 'Booksmart', faz Glenn e também está muito bem no filme, fazendo o faz tudo do acampamento, o cara que mexe na elétrica, que vê os equipamentos, cuida da iluminação, busca a comida, cuida cenografia, mexe nos encanamentos, enfim... e no final do longa, Noah entrega aquela atuação magnífica fazendo a personagem de Joan já adulta na peça, dançando, atuando, performando, tudo... ele foi um arraso em toda a sequência da peça, e um dos destaques do filme, gostei demais dele.
Quero destacar também o ator mirim Alan Kim, que já roubou a cena no ótimo filme 'Minari', e aqui... esse menino é uma jóia.... ele está irretocável fazendo uma criança que fingi ser empresário, dono de escritório que agencia seus talentos... ele aparece só em momentos chave do filme, sempre trazendo essa parte de cômica de: "Eu vou fazer dela a minha estrela", "Minha na Segunda de Manhã", "pegue meu cartão, pense nisso", ou "Eu estou próximo de fechar com tal pessoa"... só assistindo para ver a pérola que esse garoto é atuando nesse filme...fortíssima veia cômica.
Ainda temos Jimmy Tatro como Troy, o filho de Joan, a ótima e linda Ayo Edebiri (de 'The Bear' e 'Bottoms') como Janet, a professora que não sabe nada (ela mentiu no currículo), e Amy Sedaris como Joan, e ainda a Patti Harrison, de Mulher-Hulk, como Caroline Krauss.
Porém quero destacar também todas as crianças do longa, que estão no acampamento... sério, o que são aquelas crianças!!!
Mais talentosas impossível, elas possuem veia cômica altíssima, veia dramática na medida, 'timing' para improvisação, sabem dançar, cantar, atuar, performar, são estrelas em ascenção. Vê-las em cena é um deleite para os amantes da arte, e um murro no estômago por perceber o quão talentosas elas são e o trabalho que entregaram nesse filme, ao qual estava levemente torcendo o nariz.
Do elenco do filme, Molly Gordon, Noah Galvin e Jimmy Tatro, produzem o longa ao lado de Will Ferrel... aqui é legal notar que além de atores, eles são muito bons produtores, seja no quesito de produzir mesmo todas as questões do filme, ou só executivo no caso de Jimmy Tatro, que é algo mais administrativo. Também destaco Will Ferrel, que tem visão e bom gosto para apostar em produções diversas para ele se envolver na produção e conseguir tirar do papel, assim como foi em 'Barbie', 'Segredos de um Escândalo' e 'Succession'.
Fora isso, Molly Gordon, Noah Galvin, Ben Platt e Nick Lieberman fizeram o roteiro deste filme, com Molly Gordon e Nick Lieberman se revezando na direção, e o próprio Nick Lieberman fazendo toda a trilha sonora do longa. E as músicas que vemos serem interpretadas no longa, foram escritas pela Molly Gordon, Noah Galvin e Ben Platt... ou seja...atuaram, dirigiram, produziram, escreveram e compuseram pro filme... pra mim, ARTISTAS no real sentindo da palavra. Admiração pura pelos responsáveis por este filme.
O longa foi indicado ao Spirit Awards de filmes independentes nas categorias, Melhor Atuação Coadjuvante para Noah Galvin, Melhor Primeiro Roteiro e Melhor Montagem... perdendo os três prêmios.
No Astra Awards dos críticos de Hollywood, também foi indicado a Melhor Comédia.
'Teather Camp' na minha opinião, é um poço de criatividade, humor na medida certa. Ali temos atores e atrizes com raízes teatrais, e isso fica muito nítido na forma como eles atuam e performam. É tudo muito bem feito no filme, e ficou um resultado final muito satisfatório.
Um fato curioso, pra terminar... o filme obviamente possui um roteiro, mas não possui texto. Você sabia o que ia fazer e como iria se portar, mas nenhum personagem no filme possuía falas... todas as falas no filme foram improvisadas, TODAS... você vai fazer isso, vai vir para cá e depois vai agir assim, liga a câmera, fala ' ação', e o texto é improvisado na hora pelo ator... o quão incrível é isso hein... você assistir um longa e todas as falas surgiram naquela hora. Muito bom.
(Assistido em 23/02/2024 - Star Plus)
Pobres Criaturas
4.1 1,1K Assista AgoraEsse filme é a coisa bela, e a experiência mais incrível que já tive em uma sala de cinema!!!
O que Yorgos Lanthimos fez não foi cinema, foi uma peça de arte que fica exposta para o público contemplar, e tirar as suas conclusões do que está observando... sabe quando os mais endinheirados vão ao museu ou essas galerias abertas, e ficam vislumbrando a obra, seja em quadro ou cerâmica, e aí eles ficam debatendo e cada um enxerga de uma forma e por aí vai? Este filme é isso... foi o sentimento que me causou pelo menos, enquanto assistia e depois que terminou e os créditos subiram.
Simplesmente uma Obra de Arte em termos de Caracterização, de construção de personagem, estético, visual... o filme é um deleite para quem assiste, falando do visual em si, que efeitos foram aqueles... tão sutis e ao mesmo tempo tão profissional. A forma como criaram o mar enquanto estavam no Navio, o terreno onde ficavam as pessoas pobres que Bella viu, as passagens onde havia a troca de cérebros dos corpos, ou as autópsias realizadas, praticamente tudo magnífico e muito bem costurado visualmente.
Bella Baxter, para mim, entrou para a história do cinema como uma das personagens mais marcantes dos contos de faz de conta, estará eternizada entre os cinéfilos, junto a Forrest Gump, John Coffey, Don Lockwood, Dorothy Gale, Jack torrance, Hannibal Lecter, Rose DeWitt Butaker, Rocky Balboa, Walter White, Tony Stark e tantos outros...
É incrível como Tony McNamara escreveu uma personagem com tanta paixão, personalidade, inocência, sagacidade, empatia, decência, uma personagem riquíssima em tantos adjetivos, que começou praticamente como uma tela branca, murmurando adjetivos inacabados, como 'God' ou 'Dad', e com comportamentos e pensamentos infantis que não condiziam com o corpo em que estava, e que com o passar do longa, se desenvolve de uma forma voraz, passo a passo, se desenvolve aos olhos do espectador, que vai percebendo sutilmente, dado o fato de estar tão mergulhado na personagem, que mal consegue apontar: "Ah,aqui ela já está diferente", "Ah, aqui ela está mais mulher"... o entretenimento é tão grande e tão imersivo, que você não verbaliza esses pontos, você só os sente.
McNamara já escreveu personagens interpretados por Emma Stone em outros filmes, 'Cruella' e 'A Favorita', duas personagens fortíssimas que exigiram um alto grau de atuação de Emma, e com Bella, Emma atingiu todo um novo nível de atuação e entrega.
Bella tem muitos pontos para melhorar, aprimorar, aprender, enquanto ainda vive com 'God' e seu 'noivo' Max McCandless, porém a partir do momento que ela sai para ver o mundo com o charlatão Duncan Wedderburn, é que vemos Bella passar por essa transformação, essa metamorfose, como se fosse uma borboleta saindo de seu casulo... e quanto mais ela verbaliza sobre as coisas, mais damos razão para suas colocações inocentes e certeiras, e mais Bella se desenvolve e conhece não só o mundo que tanto almejava conhecer, mas as pessoas em geral, e percebe o quão complicado e magnífico é se relacionar com as mesmas... tudo, claro, dentro de sua ingenuidade.
Bella é apaixonante, é encantadora, é uma bruxa, uma demônio como disse Wedderburn, sua personalidade em formação é cativante e hipnotizante, e faz qualquer pessoas ao seu redor se apaixonar quase que instantaneamente, seja romanticamente, por parte dos homens, ou companheristicamente por parte das moças.
Lanthimos fez um trabalho magistral com seu filme, elevando uns três, quatro degraus em relação aos seus trabalhos anteriores, como 'O Sacrífico do Cervo sagrado' e 'O Lagosta'...junto a Alastair Gray, autor da obra original, ele pavimentou toda a cenografia do filme, atribuiu sua visão fora da curva para a estética do filme, e deu um toque refinado ás vestimentas do longa chamando a figurinista Holly Waddington, que elevou o nível visual do filme a cada cena que avançava, com os tons de figurino se alternando para cada lugar novo que visitavam.
Uma cinematografia, que devo dizer foi de tirar o fôlego... nunca vi um trabalho tão bonito como este, sensacional, visionário, surreal, eram tantos ângulos que se destacavam, tantas iluminações que davam o tom do local ou do cômodo onde estavam encenando... o que foram aquelas tomadas no topo das acomodações do Dr. Godwin com Bella e Wedderburn, e também de Bella com McCandless... ou toda aquela passagem no mar, quando estavam no navio e víamos o mar ao fundo... e os temas, quando anunciavam Paris, Lisboa, o Navio, com uma cena de Bella fora de qualquer contexto... aquilo era obra de arte pura, uma fotografia soberba, reluzente... de tirar o fôlego de quem aprecia.
Méritos de Robbie Ryan que também trabalhou nos filmes 'História de um Casamento' e 'C'Mon C'Mon', onde neste filme ele também tem uma fotografia em preto e branco que salta os olhos.
Agora Willem Dafoe e Mark Ruffalo, o Duende Verde e o Incrível Hulk para quem é marvete... que atuação desses dois monstros, totalmente sem igual, perfeitos, certeiros, magistrais.
Dafor personificou um doutor desfigurado, que sempre colocou o seu trabalho, suas pesquisas, seus experimentos em primeiro lugar, a razão de estar vivo, a motivação que o faz levantar da cama, nunca se afeiçoou ás suas 'criações' ou 'experimentos'... até dar vida à Bella, e ali presenciamos um sentimento afetivo, paternal, para um ser que ele trata como sua filha... uma preocupação única para com o bem estar de sua 'criação', mesmo que ás vezes controversa, mas sempre visando o bem estar de Bella.
Godwin possui muitas camadas que fazem ele ser o que é, e essas camadas fazem com que o público se relacione facilmente com sua pessoa, dado o que ouvi de conversas aleatórias na saída do cinema.
Já Mark Ruffalo deu vida ao advogado Duncan Wedderburn, um homem sórdido que pensa somente em seu bel prazer, e enxerga na ingenuidade de Bella alguém que ele pode manipular, para atingir seus prazeres e fazer suas vontades.
Narcisista, Duncan não suporta que Bella tenha outras relações, e a enxerga mais como um bibelô, e de forma alguma quer o bem de Bella... mas dentro da inexperiência de Bella para com o mundo e com as pessoas, o jogo vira de forma surpreendente, e Duncan se vê preso dentro de um labirinto do qual não consegue sair... pois como já havia mencionado, Bella é uma pessoa apaixonante para quem conhece.
Já deixo aqui registrado, que a dança de Bella e Duncan Wedderbuen no salão em Lisboa, ao som de uma orquestra desalinhada... toda aquela sequência de dança, todos os movimentos de Bella, todos os movimentos de Duncan, a dança dos dois, tudo aquilo... vai ficar eternizado também como uma das cenas de dança mais icônicas na história do cinema, se juntando a cenas como: Gene Kelly dançando na chuva, a cena da dança de John Travolta em 'Grease', a dança de Patrick Swayze em 'Footloose', o tango de Roxanne, a memorável dança em 'Flash Dance', Jack e Rose dançando no Navio... e claro a cena mais icônica de todas, Vincent Vega e Mia Wallace dançando ao som de 'Never Can Tell'.
Do elenco destaco ainda o ótimo Ramy Youssef (de 'Mo' e 'Ramy') como o noivo de Bella, esteve muito bem no filme... e Christopher Abbott (de 'O Primeiro Homem') que fez o marido de Bella antes de ela se suicidar... ele também esteve perfeito naquele papel mais maquiavélico e cheio de nuances.
Ainda temos Margareth Qualley, atriz que adoro e sou fã, que fez Felicity, a nova criação de Godwin depois que Bella foi embora. Sua participação no longa infelizmente é curta, mas lá está ela em uma grande produção de novo, depois de aparecer em 'Era Uma Vez Em... Hollywood' e na série 'Maid' da Netflix.
A trilha sonora é soberba, incrível, magnífica, já saí da sala de cinema ouvindo no meu celular, porque me ganhou desde o primeiro momento que ouvi, principalmente o som da dança entre Mark Ruffalo e Emma Stone que mencionei, que confesso já havia visto no Twitter antes de ver o filme, para mostrar o quanto aquela dança toda viralizou assim que o filme foi lançado lá fora. A trilha é assinada por Jerskin Fendrix em seu primeiro trabalho cinematográfico...e já essa coisa estrondosa que ele compôs... merece muito o Oscar.
Indicações:
- No Globo de Ouro, Ator Coadjuvante (Willem Dafoe e Mark Ruffalo), Diretor (Yorgos Lanthimos), Roteiro (Tony McNamara), Trilha Sonora (Jersjin Fendrix);
- No Critics Choice Awards, Melhor Filme, Diretor, Melhor Comédia, Ator Coadjuvante (Mark Ruffalo), Roteiro Adaptado, Fotografia, Edição, Figurino, Design de Produção, Trilha Sonora, Maquiagem, Efeitos Visuais;
- No BAFTA, Melhor Filme, Melhor Filme Britânico, Roteiro Adaptado, Fotografia, Edição, Trilha Sonora;
- No SAG's Awards, Atriz (Emma Stone) e Ator Coadjuvante (Willem Dafoe);
- No Satellite Awards, Melhor Filme Comédia/Musical, Melhor Atriz (Emma Stone), Melhor Diretor, Ator Coadjuvante (Mark Ruffalo), Roteiro Adaptado, Edição, Figurino, Trilha Sonora;
- No Oscar, Melhor Filme, Melhor Atriz (Stone), Melhor Ator Coadjuvante (Ruffalo), Melhor Diretor, Roteiro Adaptado, Melhor Design De Produção, Melhor Trilha Sonora, Melhor Fotografia, Melhor Maquiagem, Melhor Edição, Melhor Figurino;.
Prêmios:
- No Globo de Ouro levou Melhor Filme Comédia/Musical e Melhor Atriz Comédia/Musical para Emma Stone, 2 prêmios de 7 indicações;
- No Critics Choice Awards levou só Melhor Atriz de 13 indicações;
- No BAFTA levou, Melhor Figurino, Melhor Maquiagem, Melhor Design de Produção, Melhor Efeitos Visuais e Melhor Atriz para Emma Stone 5 prêmios de 11 Indicações:
- No SAG's não levou nada;
- No Festival de Veneza levou o Leão de Ouro.
Pra mim, pessoalmente, são poucos prêmios que o longa recebeu nesta temporada, e pra mim a derrota mais gritante foi a de Filme Britânico no BAFTA, uma vez que eles premiaram 'Zona de Interesse' como Melhor Filme em Língua Não Inglesa, achei que dariam o prêmio de Filme Britânico para 'Pobres Criaturas', porém deram o prêmio também para 'Zona De Interesse'.
No Oscar, o prêmio para Emma já é colocado em xeque, uma vez que a Lily Gladstone levou os SAG's Awards, e isso conta muito.
Já para Melhor Filme e Diretor, o favoritismo é 100% de Oppenheimer, então, Yorgos vai ficar de mãos abanando com essa pérola que ele filmou.
Como disse antes, 'Pobres Criaturas' não é cinema, é uma Obra de arte a ser apreciada, é uma Obra Prima de Lanthimos, e pessoalmente, eu considero o seu melhor filme até então, e uma contribuição gigantesca à história cinematográfica.Uma pena que não será bem premiado, tendo que se contentar com o Festival de Veneza e o Globo de Ouro.
Assistam no Cinema, antes que saia de cartaz...a experiência é única... a minha sala estava lotada e foi do C@#$%&...
(Assistido em 22/02/2024 - Cine Sala)
Clube da Luta Para Meninas
3.4 227 Assista AgoraExistem muitos projetos independentes que são bem difíceis de se tirar do papel, pois esbarram no orçamento, que vai ser necessário para fazer tudo o que o filme precisa ter. Esses projetos precisam achar bons produtores que acreditem no potencial do longa, e que trabalhem nas internas para garantir que se veja a luz do dia.
Em 'Bottoms' (me recuso a usar o título brasileiro RÍDICULO), esse papel de produtora coube a Elizabeth Banks, que dispensa comentários, mas... foi diretora de 'O Urso do Pó Branco' (que ainda estou devendo) e 'Charlie's Angels', e ainda estrelou a saga 'Jogos Vorazes' e ' Power Rangers' e por aí vai...
'Bottoms' é um filme adolescente que mostra duas garotas lésbicas que estão prestes a deixar a escola e ir para a faculdade, e não querem ir para lá virgens. Sendo as estranhas da escola junto a outras garotas, elas se envolvem em um pequeno acidente com o principal jogador de Futebol Americano da escola, e prestes a serem expulsas, inventam a mirabolante história de que estão montando um clube feminino de artes marciais e todo um discurso para convencer o diretor.
Então surge o clube, onde elas aprendem a se defender dos Bullies masculinos, mas tudo isso é um pretexto para pegar as duas garotas gostosas que elas estão afim.
O filme é um besteirol como eu esperava, mas gostei muito do que assisti, é um filme muito cômico, mas não é aquela pegada onde você vai gargalhar de rir o tempo inteiro, é aquele filme cômico onde as situações acontecem e você ás vezes é pego de surpresa e salta uma risada ali e acolá, mas para quem gostar do filme vai se entreter e vai considerar uma boa comédia.
É dirigido por Emma Seligman, do já icônico 'Shiva Baby' (que também estou devendo), sendo que com 'Shiva Baby', Emma foi muito elogiada e condecorada pelo seu trabalho de estreia na direção. Mas falando de 'Bottoms' eu gostei bastante da direção dela, posicionou bem a câmera nas mais diversas cenas de luta, soube enquadrar bem as protagonistas nos momentos chave onde tentam pegar/impressionar as garotas, e conseguiu captar todas as meninas coadjuvantes muito bem,, dando tempo de telas o suficiente para conhecermos elas e desenvolve-las.
A protagonista do filme é Rachel Senott, que faz PJ, ela também escreveu o roteiro do longa com Emma Seligman, a ideia é das duas, e Rachel foi a protagonista de 'Shiva Baby', muito elogiada também por sua atuação lá. E Rachel também protagonizou outro sucesso juvenil, 'Bodies, Bodies, Bodies', um terror que fez muito barulho nos EUA. Ou seja, Rachel vem só despontando como atriz e como comediante, que também é a linha dela. E no filme ela está muito bem, faz o papel de adolescente birrenta e xarope como nenhuma outra... por ser a roteirista junto a diretora, não poupou palavrões sujos no roteiro, é uma chuva de 'fucks' e 'cunts' e 'dicks' e por aí vai.
Ayo Edebiri faz Josie, amiga de PJ, e Ayo é uma atriz que virei fã desde que a vi primeiro em 'The Bear', uma das minhas séries favoritas atualmente. Gosto muito da Ayo como atriz, ela é completíssima, sabe muito bem fazer todo tipo de atuação... ela impressiona sendo muito dramática em 'The Bear', além de mostrar leveza, e aqui em 'Bottoms' ela mostra toda sua desenvoltura como comediante, tendo um 'timing' perfeito para várias das cenas e falas. Ela e Rachel já são amigas de longa data, tendo feito podcast juntas, então a química entre ela já é natural no filme.
Ainda destaco mais duas atrizes, Ruby Cruz, que faz Hazel, foi a que mais gostei no longa, ela é ótima atuando, é a atuação cômica contida, não é pra voce rir, mas você percebe os traços cômicos, e ela ainda traz uma pequena carga dramática para sua personagem. Talentosa e muito linda, já fez a série 'Mare of Easttown' e, para mim, rouba a cena sempre que aparece aqui no longa.
Outra que destaco é Kaia Gerber que faz Britanny, o sonho de consumo de PJ, ela é filha da atriz e modelo Cindy Crawford, e não dá aqui aquele show de atuação nem nada parecido disso. Mas o jeito blasé de atuar, o ar de 'whatever' que ela dá para Britanny é muito interessante, para alguém que não costuma atuar com frequência, o personagem lhe serviu e ela entendeu direitinho o que tinha que entregar.
As músicas do filme são de Charlie XCX, conheço pouco dela, mas o que vi no filme agradou, junto ao compositor Leo Birenberg (de Cobra Kai), para um filme adolescente cômico, não ficou ruim.
Mas 'Bottoms' é para quem curte uma comédia moderna, que hoje em dia vem regada a muito palavrão, coisa que não me incomoda e nem acho forçado, hoje em dia os standups norte-americanos são exatamente neste estilo... mas me agradou bastante, o resultado foi ótimo, eu me diverti, dei algumas risadas e o roteiro é bem escrito.
As cenas finais no campo de futebol, com as meninas enfrentando o time de futebol adversário, é a melhor parte do filme, ficou em um resultado surreal, diferente do comum entregue em filmes deste estilo... e foi diversão pura.
Foi indicado a Melhor Comédia no Astra Awards e também foi no Critics Choice Awards onde perdeu para o fenômeno 'Barbie'.
No Spirit Awards de filmes independentes, está indicado a Melhor Roteiro e Performance Estreante para Marshawn Lynch, ex jogador de futebol americano que faz o professor Mr. G e ajuda as meninas no clube, a seu próprio modo.
Eu aprecio ideias assim, que saem da zona de conforto e entregam algo que mistura criatividade com nonsense, regado a um roteiro coeso, sem se preocupar com os politicamente correto. Espero ver mais trabalhos cinematográficos de Rachel Senott e de Emma Seligamn.
(Assistido em 21/02/2024 - Amazon Prime)
Passagens
3.4 79 Assista AgoraDirigido por Ira Sachs (de 'O Amor é Estranho' e 'Melhores Amigos'), e escrito por Mauricio Zacharias, Ira Sachs e Arlette Langmann, 'Passages' mostra um diretor de cinema, Tomas, que após terminar as filmagens de seu novo longa, conhece uma garota, Agathe, na festa do término das gravações... Tomas é gay e casado com Martin, que deixa festa mais cedo, cansado. Frustrado, uma vez que o relacionamento deles está numa pequena crise, ele acaba se envolvendo romanticamente e sexualmente com Agathe, e começa um caso com a garota. Ao saber da traição do marido, Martin, posteriormente, acaba começando o seu próprio caso com uma rapaz que está lançando um livro... ao saber que seu ex-marido está tendo um caso, Tomas volta suas atenções novamente para Martin.
O longa de Ira Sachs, é um mergulho na psique conturbada de Tomas Freiburg, personagem protagonista do filme, e Ira nos mostra o quão Tomas é perturbado emocionalmente e confuso em suas impulsividades conjugais.
Tomas é gay, gay, mas basta apenas Martin não lhe dar a devida atenção, não demonstrar o afeto que ele espera, passar pela sua cabeça que Martin não está sendo atencioso o suficiente para com ele, que é o bastante para Tomas se aprofundar em um relacionamento que nem ele está seguro de que quer. Ao transar após a festa com Agathe, ele com muita euforia, que compartilhar essa experiência com Martin, já mostrando o quão quebrada está a relação dos dois, e o quão Tomas não tem a menor capacidade de perceber algo que é tão concreto debaixo de seu nariz.
Dali para frente é só ladeira abaixo para Tomas, e começamos a acompanhar um personagem que lentamente vai caindo ao fundo do poço, por decisões erradas que acaba tomando, por um comportamento narcisista e um distúrbio emocional gritante. O quão inconscientemente uma pessoa pode destruir a própria?
Com seu roteiro, ao lado de Zacharias e Langmann, Ira não quer fazer um estudo completo de como funciona a mente de Tomas, nem de tentar nos mostrar o quão defeituoso é a auto estima da personagem, mas sim, nos mostrar pequenos pontos da personalidade do trio, Martin, Tomas e Agathe, e o quão distintos são uns dos outros, e como apenas o apetite sexual acaba os unindo, de forma singular é claro.
É claro que não há dúvidas durante o filme, que Martin realmente amava Tomas, e de que Agathe realmente nutriu essa paixão por Tomas, mas conforme as coisas vão se desenrolando, começamos a nos perguntar enquanto assistimos: "Afinal, quem Tomas realmente ama? Ele realmente ama a si mesmo?" Ou seu ego fala por si só?"
Até porque o começo do longa mostra o quão ditador Tomas é dirigindo seu elenco, o quão detalhista é em pequenas coisas, ele sabe exatamente o que quer, na hora que tem que ser, do jeito que tem ser, qual sentimento passar e em como a pessoa deve se portar... mas na sua vida pessoal, essa visão, essa certeza, sequer faz presente. Para mim, esse é o principal ponto que faz o filme de Ira Sachs ser tão interessante e atraente.
Eu marquei aqui como spoiler, mas o spoiler mesmo é na última linha...
eu me peguei muito questionando os atos de Tomas durante o filme, o quão ele estava perdido no filme, perdendo a mão da própria vida e destruindo a vida das duas pessoas com quem ele se relacionava, por não saber exatamente o que quer, o que esperar não só da vida em si, mas das pessoas que o cercam, e aonde se enxergará daqui uns anos... e vê-lo se afundando perante seus atos, acabou sendo algo que olhei e achei o mais justo possível, nunca vi uma pessoa ter a capacidade de ferrar com sua própria vida e levar os outros juntos, sem sequer achar que está sendo inconsequente.
Agora o spoiler de fato...Na última cena onde ele para a bike e a uma luz vermelha forte em seu rosto, eu pessoalmente, enxergo como se ele tivesse parado no farol fechado, e vislumbrando o quão fodida estava sua vida, culpa dele mesmo, obviamente, ele ponderou e ponderou, e acredito que no final tenha atravessado o farol fechado e ... velório. Mas a interpretação é pessoal e o que vale é o que o filme quer passar para o espectador.
Achei a direção de Ira Sachs muito boa, ele sabe mesmo como fazer os atores se portar em cena, acho que ele tirou muito bem o que ele queria de seu elenco, de seu trio de protagonistas, e nos mostrou uns takes muito interessantes, bem singulares... gostei muito do cena inicial onde tomas está dirigindo seu filme, gostei muito da cena onde Tomas discute com os pais de Agathe, e todas as sequências com Tomas e Agathe eram gostosas demais de se acompanhar.
Agora o que eu realmente quero exaltar em Ira Sachs, é o fato de ele ter 'zero' pudor em rodar as cenas de sexo no filme. Ira não se deixa levar pelo politicamente correto, não está interessado em agradar uma parte conservadora do público, que tem aversão com cenas explícitas de sexo... aqui essas cenas elas ajudam a complementar a personalidade do trio de protagonistas e acaba sendo mais um traço de como esse relacionamento conturbado os afeta.
Para tal, temos uma cena de sexo visceral de Tomas e Agathe, que ajuda a demonstrar o quanto foi fulminante a ligação entre os dois, e o quanto eles se complementavam dentro daquele ato e da relação... achei a atuação sexual de Adèle Exarchopoulos incrível, singular e incrível, ela não teve pudor e se entregou mesmo à cena e a personagem... magnífica.
A outra cena de sexo visceral, a que mais me impactou, foi a de Tomas e Martin, onde Martin faz a parte ativa do ato, e são uns bons 2, 3 minutos, por aí de coito entre os dois, numa entrega dos dois atores, com ricos detalhes de performance, da parte de Martin que mete de um jeito cauteloso e afoito e de Tomas que impressiona mais pela atuação vocal, em seus gemidos de prazer e pedidos para meter mais.
Sem pudor, sem frescura, fora do cinema convencional, direto e reto como tem que ser, dois homens transando, apenas sem mostrar genitálias e com um único enquadramento, de costas para Martin. Não sei o que as mulheres acham de tal cena, mas muitas delas já ficam incomodadas quando vêem cenas de sexo entre homem e mulher e não gostam muito de acompanhar... o que dirá de uma cena como esta... já os homens, acredito que os mais puritanos e conservadores vão torcer o nariz, dificilmente um homem hétero consegue enxergar arte neste tipo de cena homossexual, e eu já não tenho esse tipo de pudor, acho super normal, e encaro como uma forma de arte, do que deixar o machismo falar mais alto... mas isso é pessoal e peculiar de cada um, e cada pessoa sabe como se relacionar com este tipo de cinema, e no final tem que se haver o respeito do que cada um enxergou.
Franz Rogowski esteve perfeito no papel de Tomas, achei ele incrível, verossímil, sagaz, achou o tom do personagem e só o fez crescer durante o filme... foi um deleite vê-lo atuando e suas várias nuances de personalidade conforme os atos avançavam... acho que Franz foi gigante no filme e entregou um trabalho muito, mas muito acima da média.
Já Ben Wishaw (dos filmes '007' de Daniel Craig, 'Entre Mulheres', 'O Lagosta') que faz Martin, foi outro que esteve sensacional em seu papel, achei Wishaw coeso, certeiro, centrado, interpretando um Martin seguro de si (em partes, claro), e passando suavidade e leveza quando exigido... aquela cena dele conversando com Agathe ao dar o presente é ótima, e suas discussões com Tomas também mostravam o quanto Ben estava sendo certeiro em sua atuação... grande ator.
Agora Adèle Exarchopoulos, que mulher linda, linda demais...e super talentosa, Adèle para mim foi soberba, sempre exalto as atrizes que conseguem enxergar a arte nas cenas de sexo, e se entregam sem pudor, quando o filme entende que tais cenas contribuem para o que está sendo conversado com o público. Acho que ela esteve magnífica em tal cena, e no resto do filme, sendo impossível você não se relacionar com Agathe durante o longa. E grande parte disso é a atuação de Adèle, que é muita singela e competente, entendendo a personagem e a compondo de uma forma completa e única. Para mim, atuação digna de indicações, mesmo modestas.
O longa de Ira Sachs foi indicado ao Gotham de filmes Independentes em Melhor Filme e Melhor Atuação Principal para Franz Rogowski.
No Satellite Awards foi indicado a Melhor Ator Filme Drama para Franz Rogowski.
No Spirit Awards de Filmes Independentes, foi indicado a Melhor Filme, Melhor Diretor (Ira Sachs), Melhor Atuação Principal (Franz Rogowski) e Melhor Atuação Coadjuvante (Ben Wishaw).
Achei um filme sensacional, com muita personalidade e um estudo perfeito de personalidade de personagem. Ver toda a trajetória de Tomas é uma experiência esclarecedora, uma vez que existem muitas pessoas assim em nosso ciclo social, assim como tem muitos Martins e muitas Agathes.
Muito bem dirigido e escrito, e melhor ainda interpretado por um elenco competente, e um trio de protagonistas afiados. Filmão!
(Assistido em 21/02/2024 - MUBI)
Rye Lane: Um Amor Inesperado
3.6 36 Assista Agora'Rye Lane' é um filme britânico produzido pela BBC Films e estrelado por David Jonsson Fray e Vivian Oparah (de 'Espírito Jovem), e trata de dois jovens que acabaram de sair de um relacionamento e estão tentando lidar com esse fim à suas próprias formas. Eles se encontram a noite, casualmente, e surge um interesse grande por parte de Yas (Vivian Oparah) por Dom (David Jonsson), e a partir do momento que começam a conversar e trocar segredos sobre seus términos, a ligação entre os dois vai crescendo, ao mesmo tempo em que eles se colocam em situações de confusão, como recuperar um disco de um ex-namorado ou encontrar a ex-namorada e seu atual num bar para resolver as coisas.
O filme é dirigido por Raine Allen Miller em seu longa de estreia, e ela faz um trabalho bem bacana, tudo é muito colorido e neon pelo bairro de Rye Lane em Londres, onde é gravado o filme. Ela tem ótimos takes no filme, sabendo deixar os dois protagonistas em evidência o tempo todo, porém, os coadjuvantes, que têm seu momento de destaque, também são bem enquadrados e destacados quando aparecem em cena e muda os rumos do roteiro.
Possui um ritmo bacana, envolve o espectador em suas 1h30 de duração, começa um pouco na marcha lenta, mas assim que os dois protagonistas são apresentados e começam a se dialogar, o filme desce a ladeira e vai no automático.
O texto é bom, temos ótimas falas, bem ácido e muitos momentos, não seu poupa nos palavrões e nas palavras de baixo calão, que são muitas, o que deixa o longa verossímil, afinal todo mundo fala palavrão (mesmo eu que me policio bastante).
É engraçado na medida certa, possui muitas situações cômicas e falas engraçadas, o espectador não vai se pegar gargalhando de rir, mas entenderá o quão cômico é o filme em seus muitos momentos. Não é piegas e não insulta quem assiste, é aquele comédia romântica totalmente moderna, que não liga pro politicamente correto, solta o verbo e não se segura nas cenas apresentadas.
Os protagonistas são ótimos, possuem uma química bacana e aceitável, não se atropelam quando estão contracenando e não passam da linha na questão cômica. No geral, achei a Vivian um pouco mais solta que David Jonsson, acho que ela teve mais 'feeling' pra deixar sua personagem mais solta... mas David esteve bem em muitas cenas e conseguiu se soltar em alguns momentos. Acho que no começo ele estava muito preso, estava precisando achar mais o tom de sua personagem, mas com o decorrer do filme você percebe que ele acha o tom e vai no automático.
Como já citaram aqui embaixo nos comentários, a Fotografia do filme é ótima, gostei bastante da iluminação do longa nas cenas internas e noturnas, temos vários takes da cidade onde os protagonistas ficam em evidência, e várias das cenas onde eles conversam, trazem uma take fotográfico certeiro para deixar claro a intenção e relação dos dois.
O figurino também, muito bem escolhido e alinhado com os padrões modernos da juventude londrina de hoje, pelo menos o que vejo quando assisto a vídeos da cena rock/alternativa da Inglaterra. Falando em música a trilha do filme é regada a muito Rap e som alternativo, também ditando um bom ritmo nas cenas onde os dois estão se conhecendo a fundo.
Já os coadjuvantes do filme são hilários e destaco aqui dois deles: Malcolm Atobrah que fez Jules, ex de Yas, que possui uma atuação solta e cômica quando Yas e Dom invadem o apartamento para recuperar o disco de Yas do 'A Trible Called Quest' (quem conhece?)... eu achei ele muito bom em toda aquela sequência, principalmente depois que ele pega o pedaço de sua obra que cai, e dá aquela virada de corpo com um certo tom de deboche...muito bom!
Outro destaque é Benjamin Sarpong-Broni que faz Eric, o atual namorado da ex de Dom... ele faz o típico cara bobão, que não sabe diferenciar as coisas, tudo que sai da sua boca é bobagem, e é mais burro que uma porta enferrujada com cupins... personagem bem caricato, mas ele tem veia cômica, o cara é muito bem e muitas de suas falas eu me diverti... é um ótimo ator cômico.
O filme ainda teve produção executiva de Kristin Scott Irving, que também produziu 'How To Have Sex' outro ótimo filme britânico.
O filme foi lembrado pelo BAFTA nas categorias de Melhor Filme Britânico, perdendo para 'Zona De Interesse' (obra prima) e também a Melhor Atriz para Vivian Oparah, perdendo para a já favoritaça Emma Stone de 'Pobres Criaturas'.
Já no British Film Independent Awards, recebeu uma chuva de indicações:
- Melhor Filme Britânico Independente, Melhor Revelação (Vivian Oparah), Melhor Diretor (Raine Allen Miller), Melhor Performance Principal (Vivian Oparah), Melhor Filme de Estreia, Melhor Roteiro, Melhor Produção, Melhor Figurino, Melhor Edição, Melhor Elenco, Melhor Maquiagem & Cabelo, Melhor Design de Produção, Melhor Supervisão Musical, Melhor Cinematografia, Melhor Roteiro de Estreia e Melhor Música Original. (UFA!!)
Dessas indicações levou apenas dois prêmios, Melhor Revelação para Vivian Oparah e Melhor Música Original para o Produtor e Compositor Kwes.
'Rye Lane' é um filme bacana, honesto, com um romance bem diferente do que vemos em produções Hollywoodianas, e com uma pegada diferente também. É um filme muito bem feito esteticamente, possui identidade, mas sei que nme todo mundo irá sair agradado da experiência, afinal, é uma outra escola de cinema, e uma outra escola de Comédia Romântica moderna, uma linguagem mais do guetto, uma coisa mais atual.
Mas eu me diverti bastante. E sim, Vivian Oaparah é uma grande surpresa e uma atriz muita qualificada.
(Assistido em 17/02/2024 - Star Plus)
Os Rejeitados
4.0 317Eu acho incrível quando vejo diretores que passam anos sem lançar obras novas, e então quando aparecem com obras novas, nos surpreendem entregando um entretenimento da mais alta categoria.
Alexander Payne, diretor de 'Os Descendentes' e 'Nebraska', entregou um longa que tem total foco nos personagens, no que eles sentem, na forma como eles vêem o próprio mundo, a própria vida, e em como eles acham que devem ser a relação para com os outros.
Grande parte do mérito do longa, vem do texto de David Hemingson, acostumado a escrever séries, como 'Whiskey Cavalier' e 'American Dad', e quando roteiriza seu primeiro longa, já acerta em cheio com um texto ácido, envolvente, que prende a atenção do espectador, por retratar com tanta honestidade a personalidade de seus personagens principais.
'Os Rejeitados' é um filme ótimo, divertido, envolvente, sagaz e singelo. O trio Paul Hunham, Mary e Angus funciona perfeitamente bem, sobram e vendem carisma, e dita todo o ritmo do longa.
Acho que Payne, foi muito feliz em deixar o seu filme esteticamente como um longa dos anos 70... a forma como é produzido na tela do cinema, sonoramente também é nítido como o filme tem ares de anos 70, todo o seu início que nos mostra os estúdios envolvidos na produção e o começo à lá filme feito para TV da época. Isso deu uma imersão maior para o que iríamos acompanhar e deixa o filme como uma identidade própria.
Como já mencionei, não tem como não elogiar o texto do filme, é direto ao ponto, repercute bem a personalidade dos protagonistas, traz dinamismo paras cenas, e já nos deixa apresentados como são cada um deles, seja os protagonistas, ou seus coadjuvantes, que são os alunos que ficaram para trás durante as festas de fim de ano.
Esses alunos logo saem de cena, mas o tempo que eles ficam em cena não só é ótimo e enriquecedor para o texto, mas também nos mostra o quão bem escrito e criados eles são... poderiam ficar o resto do filme na escola, e ainda assim engrandeceria o longa, pois são todos carismáticos, e ricos em problemas pessoais e questões a serem resolvidas, mesmo os dois garotos, que podem aparentar serem apenas um complemento, mas que se mostraram bem úteis no pouco tempo que ficaram em cena.
É o típico filme de pessoas desajustadas que procuram seu lugar na vida, que tentam encontrar uma direção, no caso de Angus, ou que precisa acreditar que é o suficiente aonde chegou, no caso de Hunham... outras estão perdidas, se agarrando ao que lhe restou, como é caso de Mary. Facilmente acharemos filmes assim, tanto na década de 80 como na de 90, são muito semelhantes pois possuem um enredo pré determinado, sabemos de onde partem, pelo que vão passar, o que vão aprender um com o outro, e aonde e como terminarão... quem está acostumado a assistir filmes, seja com essa premissa, ou dos mais variados temas, sabe como os roteiros geralmente funcionam...
Mesmo assim, o texto precisa nos ganhar, precisa nos fazer se importar com o que está acontecendo, precisa nos fazer enxergar nós mesmos nos personagens (ou em alguns deles), nos fazer nos relacionar com aquele ambiente que estamos acompanhando... e, claro, nos entreter... vamos ter algo a tirar dali para nós mesmos, ao mesmo tempo que estamos nos divertindo.
O filme não seria essa pérola que ele é, se não fosse o ótimo elenco escalado por Susan Shopmaker (de 'Garra de Ferro' e 'Sound of Metal')...
Dominic Sessa que faz Angus, em sua estreia cinematográfica, foi um achado incrível, esse rapaz tem um 'time' incrível para ser cômico e dramático ao mesmo tempo, numa mesma cena, sendo que é tão peculiar esse traço em sua atuação, que você não consegue distinguir exatamente quando eles está sendo cômico e quando ele está sendo dramático. Ele domina e transita tão bem entre os dois traços, que dá impressão que ele está sendo sarcástico o tempo todo, mas não, ele criou uma linha de personalidade própria para Angus, que o deixou um personagem interessantíssimo de se acompanhar e também de se relacionar.
Paul Giamatti, a primeira vez que vi foi em 'O Casamento do Meu Melhor Amigo' e depois em tantos filme como 'O Show de Truman, 'O Mundo de Andy' e 'O Espetacular Homem Aranha 2: A Ameaça de Electro' fazendo o vilão Rino, era uma participação pequena, no começo e final do longa... mas ele nunca foi protagonista em nenhum filme, não que eu me lembre, ou seja, Paul tem esse potencial para carregar um longa, com seu imenso talento, e precisava apenas do personagem e roteiro certo, para nos brindar com uma atuação envolvente. Paul Hunham é um deleite de personagem, rabugento, xarope, metido, ranzinza, mas como podemos acompanhar durante o longa, possui um coração enorme, claro que teve que ter seus olhos abertos por Mary, mas estava tudo lá dentro dele, só precisava ser aflorado. Fora o texto, que o favorece demais, possui tantas e tantas linhas que nos arrancam risos em boa parte do filme, e todo o trejeito que Giamatti criou para o personagem e a forma como se portou, para nos passar a grandeza de um homem que vai evoluindo conforme as coisas vão se desenrolando.
Mas a alma e o coração mesmo do filme é Mary, de Da'Vine Joy Randolph (de 'A Cor Púrpura' e 'Rustin'), afinal tudo que se sucede no filme, a quebra de carcaça de Hunham e Angus, todo o processo de humanização deles, a posição onde eles terminaram entre eles, tudo o que aprenderam e vivenciaram naquele inverno, se deve a Mary e seu grande coração e sua imensa personalidade, que mesmo em um período doloroso de luto, gigante e imenso, ela conseguiu ser tudo o que os dois precisavam e não sabiam expressar, ela foi mãe, foi irmã, foi tia, foi avó, foi madrasta... enfim.
Da'Vine teve muita sensibilidade para interpretar este personagem, achou o tom perfeito de Mary, e entendeu seu luto de uma forma genuína e isto está presente de uma forma muito forte nas cenas onde lamenta seu filho... sendo que trouxe a serenidade que a personagem pedia, porque já fazia parte de sua essência, e Da'Vine teve a inteligência e o talento e enxergar isso no texto e repassar isso em cena.
Acho que o respeito e a admiração entre os protagonistas fez eles terem essa facilidade para atuar uns com os outros, e tudo ficou muito genuíno em cena, muito verdadeiro, a entrega ali é verdadeira, eles acreditam muito no projeto e nos personagens, e o resultado foi perfeito... 'Os Rejeitados' é muita coisa em um filme só, é comédia, é drama, é 'road trip', é ficção de época, é um filme mais que completo.
Tirando toda a cenografia do filme que foi muito bem construída por Ryan Warren Smith, e que salta aos olhos principalmente em toda a sequência na escola, mas também na festa na casa de Lydia (Carrie Preston de 'True Blood')... a Cinematografia do filme foi um dos pontos que mais me chamou a atenção tecnicamente no filme. Temos tantas cenas bem fotografadas, dentro da escola, na parte do ginásio, quando Angus está tocando Piano, quando os três estão comendo na mesa, toda a sequência na Neve do lado de fora da escola, no bar onde Angus arruma confusão, e aquela sequência linda e incrível de Angus com seu pai na clínica... uma fotografia belíssima ali. Trabalho magnífico de Eigil Bryld, que trabalhou em 'The Report' e no fraquinho 'Que Horas Eu Te Pego?'.
A Edição ficou por conta de Kevin Tent, que já editou 'Garota Interrompida' e 'A Bússola de Ouro', ele montou o filme muito bem, trouxe aquela edição tradicional de obras dos anos 70, aquela edição bem televisiva, e deu um ritmo bacana para o longa, que não cansa os olhos, que te deixa fisgado na tela... realmente uma montagem profissional e de primeira linha.
A Trilha sonora é muito boa, com uma composição mais serena, mais amigável em muitas cenas, para avançar a transição entre as cenas, e ganhando notoriedade quando temos momentos mais íntimos entre Angus e Hunham, ou nas cenas de luto de Mary.
-No Oscar foi indicado a Melhor Filme, Melhor Roteiro Original,Melhor Edição, Ator (Paul Giamatti), Atriz Coadjuvante (Da'Vine Joy Randolph);
-No Satellite Awards foi indicado a Melhor Ator (Giamatti), Atriz Coadjuvante (Da'Vine), Ator Coadjuvante (Dominic Sessa), Melhor Filme Comédia/Musical, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original e Melhor Edição;
-No Spirit Awards de Filme independentes a Melhor Roteiro, Melhor Fotografia, Melhor Atuação Coadjuvante (Da'Vine), Melhor Performance de estreia (Dominic Sessa);
-No BAFTA perdeu em Melhor Filme, Ator (Giamatti), Ator Coadjuvante (Sessa), Roteiro Original e Melhor Elenco;
-No Critics Choice Awards perdeu Melhor Filme, Melhor Elenco, Melhor Roteiro Original e Melhor Direção;
-No Globo de Ouro perdeu Melhor Filme Comédia/Musical para 'Pobres Criaturas'
No SAG's Awards está indicado a Melhor Elenco em Filme, Melhor Ator (Giamatti), Atriz Coadjuvante (Da'Vine);
Os Prêmios que o filme levou até agora:
- Da'Vine Joy Randolph fez a limpa em todas as premiações como Atriz Coadjuvante, todos sem exceção... é a Favorita pro Oscar;
- Paul Giamatti levou Melhor Ator no Globo de Ouro e no Critics Choice Awards;
- Dominic Sessa levou o Critics Choice Awards de Melhor Jovem Ator;
- No BAFTA ainda levou o prêmio de Melhor Elenco;
Pra mim, 'Os Rejeitados' foi um dos melhores filmes do ano passado, um tiro certeiro de Alexander Payne e David Hemingson, um filme que comove, que diverte, que ensina, que traz um trio de protagonistas em sua melhor forma no cinema... é uma pérola do cinema moderno... está justissimamente indicado a Melhor Filme no Oscar, assim como foi indicado em outras premiações.
(Assistido em 16/02/2024 - Cine Kinoplex Vila Olímpia)
Zona de Interesse
3.6 587 Assista AgoraUma Obra-Prma!!
É assim que já descrevo este filme de Jonathan Glazer, que possuía até então apenas 3 filmes em seu currículo, sendo que o último foi 'Under The Skin' de 2013, fora os curtas que ele dirigiu nos últimos três anos.
'Zona De Interesse' é uma daquelas obras audiovisuais que que reverbera na cabeça de quem o consome por dias e semanas sem fim.
Filmado na Polônia, com boa parte dos elenco e figurantes alemães, 'Zona De Interesse' traz esse ponto de vista total dos nazistas. O Comandante Rudolf Höss, dado seus anos e anos de bom serviço ao Führer, criou para si uma bela casa, com um belo jardim, piscina, flores, uma estufa, uma ostensiva horta e um grupo de criadas, para dar o melhor lar para sua esposa e seus filhos. Para ter um lugar que é na verdade um pequeno paraíso, o sonho de consumo de qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo... um sonho na verdade. E ele recebe os parentes, amigos, o exército nazista, homens da alta patente, e por ali organiza reuniões, condecorações, congratulações, e momentos de puro lazer com festa das crianças, almoços, bebidas e tudo o que uma boa vida luxuosa pode dar.
Tudo isso cercado por um muro que divide esse paraíso e um campo de extermínio, onde pessoas são sufocadas em câmaras de gás e possui seus corpos incinerados em outra parte da mesma câmara. Pessoas não... milhares de pessoas, milhares, números incontáveis.
É a beleza dentro do horror...é o horror dentro da beleza.
Essa vida que os nazistas levam enquanto outros seres humanos são assassinados, nas câmaras, nas tarefas, são executados com tiros, são castigados ao cumprirem o dever lhes impostos. E é a realidade normal de cada um deles... as crianças brincam de serem executores, na inocência, se assustam com que escutam, mas é tão banal do dia a dia, que chega a ser o sonho de futuro deles.
Höss pouco se importa, para ele, aquilo é o sucesso, puro e simples, é o trabalho a ser feito e nada mais. Para sua esposa, Hedwig, é como diz sua mãe ao visitá-la, se deu bem na vida... amarga, fria, apenas pensa em seu próprio bem estar, ás custas do trabalho do marido. É dura com as criadas, e parece que os gritos e cheiros e fogos e fumaça não existem pra ela, não há nenhuma menção em seus gestos corporais que sugere que ela enxerga algo que acontece do outro lado muro.
Sua mãe no entanto, age com naturalidade ao visitá-la, mas pelo visto, uma noite foi demais para ela, que partiu sem despedida, provavelmente, e somente provavelmente, incomodada com o que testemunhara à noite.
Enfim... 'Zona De Interesse' é uma obra riquíssima, Glazer apresentou planos que não costumamos ver em filmes com frequência, a forma como se comportam roboticamente ao fechar portas, trancar trincos, fechar cadeados, girar chaves, tudo impecável, me lembrou muito algumas passagens do jogo 'Resident Evil' de Playstation 1, com aquela passagens dos personagens pela cozinha, pelo corredor mais escuro, depois o a sacada, o quarto, e por aí vai.
Além de mostrar este contraponto entre uma vida perfeita de nazistas separados por um muro à um campo de extermínio, somado a toda essa experiência visual e estética, temos uma trilha sonora que caminha de mãos dadas com o filme, de forma vigorosa, e primorosa.
Mica Levi, que já trabalhou nos filmes 'Sob a Pele' e 'Jackie', fez este trabalho impecável, ao dar uma sonorização perfeita ao filme, com os gritos abafados do outro lado muro, os sons, o fogo queimando, e principalmente com a música inquietante, desconfortante, maquiavélica, que entra nos seus ouvidos e lhe deixa mais ainda incomodado, não bastasse o que você testemunha em cena, a trilha completa perfeitamente com o que é mostrado, e traz uma experiência única.
E ainda tem mais, Jonathan Glazer complementa toda essa experiência surreal, incômoda e angustiante, nos apresentando tela vermelhas ou verdes, com sons estridentes,horríveis que fazem uma transição grotesca de um ato para o outro. É como se estivéssemos vendo uma Obra de Arte em uma galeria nazista, com obras somente de pessoas nazistas, refletindo o âmago deles... imagine-se experimentando tal 'entretenimento'. É esse incômodo que Glazer passa para quem acompanha este filme.
Como mencionei, 'Zona De Interesse' não é só uma película, ele é uma peça audiovisual, não é um filme singular, a trilha sonora, o som, toda sua mixagem, é conjunto que culmina em uma obra única de uma época negra na história, em um ponto de visto horrendo, nojento, surreal... ele te coloca dentro daquela realidade, pois sempre vimos produções do lado de cá, de quem sofreu esses horrores, estamos sempre enfrentando esses seres que cometeram hediondo ato de desumanização. Mas Glazer nos coloca do lado de lá, um pequeno vislumbre de como é estar do lado de lá... e presenciar visualmente essa rotina, é nada mais que desconcertante. Visual e sonoramente.
Com interpretações ferozes de Christian Friedel (The White Lotus), que está ótimo e impecável no papel de Rudolf Höss e Sandra Hüller (Anatomia de Uma Queda), mais que perfeita em suas cenas mais dramáticas como Hedwig Höss, temos uma imersão maior de como que seria, em partes, a faceta de pessoas do alto escalão da sociedade nazista.
Imogen Kogge, Stephanie Petrowitz, Lili Falk são outras atrizes que merecem destaque pelo que entregaram em cena.
O que falar então de toda a direção de arte, minuciosamente bem trabalhada e construída para o longa, internamente e externamente, com foco também nas cenas onde o Comandante Höss passeia pelo complexo nazista ao fechar tantas e tantas portas ao fim do filme. A estufa bem criada, as hortas bem plantadas, a casa detalhadamente organizada...
A Cinematografia então é SOBERBA... o que falar daquele take onde Höss contempla a piscina cheia de crianças, todos se divertindo, com uma fumaça ao fundo do plano da câmara de extermínio... o take que ó do pôster, o que salta mais olhos durante o filme.
O que falar das cenas fotografadas onde o fogo grita vermelho puro nas janelas e cortinas, onde Höss contempla o rio que não para de correr... todos os takes dentro da casa de dos Höss, onde andam e andam sem parar as criadas e Hedwig. Perfeição é o que posso dizer, tudo isso graças ao homem chamado Lukasz Zal, diretor de Fotografia que já trabalhou no filme 'Com Amor, Van Gogh'. Magnífico trabalho, digno de prêmios e mais prêmios, eu mesmo daria todos os prêmios possíveis para o trabalho dele.
Temos um final muito forte, com aquele olhar específico lançado por Höss, como se vislumbrasse o futuro de seu trabalho, como uma espécie de troféu, ou dever cumprido a humanidade, ou seja lá o que se passasse em sua cabeça... cortando para cenas no presente, com funcionários trabalhando na limpeza de uma das Câmaras de Extermínio, onde temos estufas específicas onde ficam armazenados milhares de calçados das vítimas, ou muitos artefatos, como muletas de tantas vítimas deste holocausto. Todos muito bem expostos, e tudo muito bem lavado, cuidado, encerado, para receber incontáveis visitas do mundo todo... como eu disse, como uma espécie de troféu...
Sem esquecer de mencionar, o começo do longa... mais ou menos ali 1 minuto/1 minuto e meio de tela preta e sons diversos, para só então termos o primeiro vislumbre da família Höss á beira do lago... e no fim do filme, também temos algo em torno do mesmo tempo, de tela preta e um som agoniante, irritante, inquietante, um completo nada, como se fosse uma espécie delirante de inferno, até entrar os créditos finais... onde a música de Lukasz Zal se torna mais emblemática, mais esquisita, mais atormentante. Que forma mais emblemática de se começar e terminar um longa... Bravo!
Produzido pela Film4 e pela A24 (o que mais posso dizer do meu estúdio favorito) 'Zona De Interesse foi muito bem indicado nesta temporada de premiações:
- No Oscar a Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Filme Internacional, Melhor Direção, Melhor Som (merece muito ganhar);
- No Critics Choice Awards a Melhor Filme Estrangeiro;
- No Globo de Ouro a Melhor Filme Drama, Melhor Filme em Língua Não-Inglesa e Melhor Trilha Sonora;
- No Gotham de Filmes Independentes a Melhor Filme Internacional, Melhor Roteiro e Melhor Atuação Coadjuvante para Sandra Hüller;
- No Spirit Awards a Melhor Filme Internacional;
- No Satellite Awards a Melhor Filme Internacional, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Adaptado;
- No Astra Awards a Melhor Filme Internacional, Melhor Diretor Internacional e Melhor Ator Internacional para Christian Friedel;
- No BAFTA foi indicado e perdeu em Melhor Diretor, Roteiro Adptado, Atriz Coadjuvante (Sandra Hüller), Cinematografia (pecado), Edição e Design de Produção;
Em termos de Prêmios, até o momento o filme faturou:
- Em Cannes, levou o Grand Prix do Júri, Melhor Trilha Sonora para Mica Levi e Artista Técnico para Johnnie Burn;
- No BAFTA levou Melhor Filme em Língua Não Inglesa, Melhor Filme Britânico e Melhor Som;
- Levou o Prêmio de Filme Estrangeiro da Associação de Críticos de Austin, Boston, Chicago, Denver, Houston, Indiana, Oklahoma, São Francisco;
É o favorito para levar o Oscar de Filme Internacional se não houver nenhuma surpresa.
No BAFTA acabou batendo o grande favorito 'Anatomia de Uma Queda' e levou o prêmio de Filme em Língua Não Inglesa, e também bateu os favoritos 'Pobres Criaturas' e 'Wonka' para levar Melhor Filme Britânico.
Confesso que acho 'Zona de Interesse' um filmaço e o meu favorito de toda a temporada, superando minha afeição por 'Anatomia de Uma Queda', onde eu também premiaria no BAFTA, e teria dado o prêmio no Globo e no Critics, no lugar do filme de Justine Triet.
É uma Obra Prima incrível, um filme primoroso, um recorte agoniante e angustiante, profissionalmente bem trabalhado e montado e construído, uma bela (e horrenda) peça de arte audiovisual... eu sou só elogios para Jonathan Glazer, Lukasz Zal, Mica Levi, o elenco e a A24 e Fim4 por esse trabalho inigualável, e com certeza no futuro devo buscar uma cópia para ter guardado em casa.
Não deve levar o Oscar de Melhor Filme, que vai para Oppenheimer, mas fica aqui minha pequena torcida.
(Assistido em 16/02/2024 - Cine Kinoplex Itaim)