O primeiro plano do filme, sem que saibamos, adianta o ponto de ruptura emocional do longa. Ao mesmo tempo que acompanhamos uma cena de violência conjugal, o reflexo das janelas espelha a selva de concreto dos arranha-céus, como se a metrópole monstruosa fosse cúmplice, catalisadora e eterna observadora dos conflitos de seus habitantes.
Tal capacidade pictórica de sintetizar perfeitamente o tema do filme em uma imagem é digna dos grandes mestres, e o diretor Luís Sérgio Person faz um verdadeiro tour-de-force. Um dos grandes longas-metragens da cinematografia nacional, com certeza, e mais que isso: um dos melhores filmes de sua época a captar o mal-estar existencial de toda uma geração global - e que só parece se aprofundar a cada década.
Kitano continua com seu trabalho de desconstrução do filme de crime japonês, mas dessa vez a disrupção não se dá tanto na forma, mas sim no conteúdo: nunca se viu tanta traição e desleadade num filme do gênero, que retrata a nova faceta corporativa da Yakuza como a mais fria e cruel. Algumas cenas de explosões de violência, à guisa do diretor, são simplesmente inesquecíveis.
Só pelas atuações magistrais de Hopkins e Colman, já valeria a sessão. Mas o filme de estreia de Florian Zeller vai muito além: nos colocando na assustadora perspectiva do protagonista, há a disrupção do tempo e do espaço cênico, em um jogo de linguagem que confere um aspecto cinemático de forma muitíssimo sagaz a um produto oriundo do teatro. Bela surpresa.
Desde os primeiros minutos do longa, o diretor Chang-dong Lee consegue quase que imediatamente prender o espectador. Ao nos inserir na pele do solitário Jong-soo, logo desenrola as relações e personalidades dele e das outras duas figuras chaves da trama, a amiga de infância Hae-mi e o abastado Ben. Segue-se então um cuidadoso estudo do trio de personagens, com pinceladas críticas quanto à desigualdade na Coreia do Sul, que mantém quem assiste em uma névoa de desconfiança quanto a natureza da história. Mas então o filme nos apresenta sua virada, e qualquer fiapo de certeza se esvai, numa construção de um mar de ambiguidades cada vez mais agoniante, onde parece ser impossível captar algo além das aparências. Mas, claro, na jornada semi-investigativa de Jong-soo, as respostas não importam verdadeiramente. O que Em Chamas se pretende é instigar o espectador, tirá-lo da zona de conforto. No fim, a metáfora dita por Hae-mi sobre a “pequena fome” (física) e a “grande fome” (busca por um sentido) parece ser a central. Afinal de contas, não é preciso dizer qual das duas instiga os três personagens a cometer todos os seus atos, do mais banal ao mais extremo.
Filme hipnotizante, perfeito em seu ritmo cadenciado, cronologia que sugere os processos da memória e encenação que mistura naturalismo e fantasia. Impossível desassociar a alegoria política imanente à trama, filmada e ambientada literalmente no leito de morte de Francisco Franco e seu regime autocrático. A representação de um País marcado, incapaz de lidar com a própria memória e obcecado com a pulsão da morte, refletidos na pequena Ana, que só consegue absorver e reproduzir os ciclos tóxicos dos adultos que a cercam.
De alguma forma, ela parece ser a representação da nova Espanha, ainda infante, mas que dava seus primeiros passos no mundo após 40 anos de ditadura, fortemente influenciada pelos traumas de seu passado recente. Tal pensamento poderia trazer algum otimismo, mas a visão da personagem adulta, refletindo sobre a amargura de sua infância e representada pela mesma Geraldine Chaplin que encarnou sua mãe oprimida e morta internamente, alerta para um futuro que pode estar destinado a repetir o passado, e coroa este fabuloso drama com um gosto amargo.
Filme de imagens mesmerizantes, algumas das mais poderosas do cinema. O uso excepcional de profundidade de campo e algumas set pieces contidas, porém instigantes, entregam que Wajda é um esteta talentosíssimo. No entanto, não é só aí que residem os méritos do filme. O longa é grande como estudo de personagens, mas ainda maior como alegoria política de um país destruído, que se arrasta para um futuro dúbio e de pouca esperança.
Dentre as cinzas da guerra, alguns diamantes certamente surgirão. O protagonista Maciek sabe disso e pensa conhecê-los, provavelmente na figura do citado Coronel Wilk que lidera sua "facção", morto sem ver as benesses dos vitoriosos. Posteriormente, conclui que seria um "diamante" a garota Krystyna, que reacende sentimentos luminosos dentro dele, ao mesmo tempo que se questiona se seu alvo, o secretário do partido comunista Szczuka, também não o seria. No fim das contas, a certeza que lhe assola é que ele próprio jamais será um diamante surgido dessas cinzas, e sim apenas mais um dos cadáveres, tal qual o do homem que abateu, necessários para que o país encontre seu novo rumo, talvez como casais forçados a valsar a melodia desafinada de quem se mantiver em pé no fim.
Magnum opus do genial Robert Altman, que aqui nos apresenta seu mesmerizante painel da sociedade americana, onde os temas gerais (política, religião, contracultura, fanatismo, entre outros) colidem através dos dramas pessoais de seus personagens, em um mosaico que borbulha melancolia e esperança, como forças equivalentes na mesma balança. Com grandes atuações, montagem e fotografia primorosas, além de um final arrepiante, Nashville é um dos auges do cinema americano.
Baseado em um caso que chocou a Suécia no início desse século, este longa é uma crônica assustadoramente real sobre a miséria humana na Europa Oriental e a crueldade da exploração sexual nessa parte do mundo. A direção claustrofóbica de Lukas Moodysson e a estética documental utilizada fazem a diferença na construção de uma narrativa que retira sua força da verdade tristemente embutida em cada frame, dos sonhos às decepções, estas cada vez mais frequentes. Apesar de certa previsibilidade no roteiro e alguns simbolismos simplórios, "Para Sempre Lilya" permanece como um rolo compressor emocional que demora de sair da cabeça do espectador.
Joias Brutas vem, no apagar de luzes da década, para se firmar como um dos mais instigantes trabalhos dos últimos anos. O longa dos Irmãos Safdie (excelentes na direção e roteiro) foi chamado pelo também grande Yorgos Lanthimos de "um filme de Robert Altman mergulhado em LSD". Definição mais que justa, tanto pelo primoroso domínio cênico e dos atores, mas também pelo ritmo frenético que impede que o espectador tire os olhos da tela. Adam Sandler é a alma do filme, incorporando e desaparecendo no complexo personagem de Howard Ratner, um homem que vê tudo em sua vida como uma aposta, e sempre deseja apostar mais alto. Um dos filmes obrigatórios do ano que agora se encerra.
Bruto, amoral, estiloso e violento, Django é de muitas formas o spaghetti seminal. Muito além de observar seu legado na cultura pop, é essencial visualizar como as características do gênero se impregnam de forma genial na narrativa. Alvo de inúmeras cópias e fanfarronices, definitivamente o original é uma obra inesquecível.
Filme histórico competente e bem montado, Elizabeth se destaca pelo seu estreladíssimo elenco e a atuação hipnotizante de Cate Blanchett. De resto, o roteiro imprime dinâmica suficiente à trama para entreter até o espectador mais casual, sem sacrificar bom desenvolvimento de personagens e reflexões políticas. Peca apenas em alguns pontos a direção carregada de Kapur, que parece querer chamar mais atenção para si do que as atuações de seu excelente grupo de intérpretes.
Assistir uma obra do Kurosawa é ter a certeza de encontrar uma direção impecável e roteiro inteligente, e é exatamente o que se vê neste longa. Por mais que acabe sendo inferior a Yojimbo (principalmente pela menor lapidação da história, com algumas inconsistências), ainda assim vale pela construção dinâmica da trama, criando ótimas cenas e dando camadas aos personagens. Mifune lidera o elenco de forma irrepreensível, mais uma vez. O Duelo final é inesquecível.
Spaghetti que se consolida como um dos mais interessantes do gênero. A perseguição Lee Van Cleef x Tomas Milian é abrilhantada por um roteiro que vai revelando camadas e guarda viradas instigantes. Definitivamente, boa construção de personagens (com exceção de alguns exageros) com a cereja do bolo, um excelente duelo final.
Sem dúvida trata-se de uma experiência mais sensorial que racional; a fotografia deslumbrante e a belíssima trilha de Morricone conseguem evocar fortes sentimentos. é um pena que o aspecto episódico do roteiro e a falta de uma trama que junte essas arestas de forma firme tirem do filme o rótulo de impecável. Mas ainda assim, Malick conduz um longa, de várias formas, invejável.
Retornando aos épicos depois de Gladiador, Ridley Scott faz um filme irregular que coleciona méritos e deslizes. Primeiramente, há de ser louvada toda a parte técnica e visual do filme, com ótimas cenas de batalha, além de um plano de fundo interessante e tratamento humanizado dos "adversários" (o povo islâmico). No entanto, o longa sofre com um prólogo excessivamente apressado e com a atuação insossa e inexpressiva de Orlando Bloom, que dificulta que o espectador compre qualquer das mudanças passadas pelo personagem ao decorrer do filme (aliás, todo o elenco é subutilizado). Potencial para ser melhor, com certeza tinha.
Interessante jogo de intrigas e traições, esse longa de Kobayashi mantém o fôlego durante sua duração, mas acaba esbarrando em alguns problemas. A maioria das viradas é excessivamente telegrafada e previsível, aliado a certos exageros na construção dos personagens que acabam diluindo a força da obra. Ainda assim, algumas construções visuais interessantes ajudam a tornar o saldo relativamente positivo.
Poderoso retrato humanista da distância, dos desencontros entre os indivíduos e das cicatrizes emocionais deixadas entre eles. Wim Wenders mostra uma direção invejável ao conduzir essa produção de ritmo cadenciado, preocupada em explorar o significado do não-dito e dos pequenos gestos. Todo o terceiro ato culmina em um dos clímax mais intensos e poéticos que já vi.
Aula de direção de Wolfgang Petersen, que utiliza a longa duração do filme para tentar imprimir no espectador ao máximo a sensação de exaustão e tensão constante dos personagens. Experiência sensorial como poucas. O elenco conduz o filme com maestria, guiados por um roteiro que parte de uma premissa de quebra do maniqueísmo (empatia pelos nazistas) para trazer um estudo de personagens e forte mensagem antibelicista. Memorável.
Mais um fascinante mergulho no universo feminino pelas lentes de Almodóvar. Aqui, o diretor trabalha com mais um roteiro muitíssimo bem-estruturado, cheio de ecos e repetição dos temas, em uma série de mini-arcos: as relações de maternidade, abuso doméstico e aceitação da morte, dentre outros. Tudo é capitaneado por inspirado elenco, do qual se destaca a interpretação resiliente de Penélope Cruz.
Com uma grife de diretor, roteirista e atores desse nível, não podia dar errado. E não deu. Scorsese domina completamente as engrenagens do subgênero que o marcou, e as utiliza aqui para, de forma elegante e sóbria, promover reflexões sobre legado, envelhecimento e o papel das escolhas - principalmente em um ambiente condicionado a relegar a segundo plano questões morais que fujam a dinheiro ou prestígio. Pacino, Pesci e De Niro comandam o filme com atuações excelentes (o primeiro, em especial, rouba a cena). Uma extensa teia de intrigas e conexões dá o tom épico do longa, mas parece apontar para o conceito levantado por Scorsese: são as relações interpessoais, sentimentais e humanas, que fazem ou não tudo valer a pena no final. Filme magistral.
Apesar das visíveis restrições orçamentárias e atuações fracas, este longa de Fuller se sustenta em seu poderoso conceito e nas metáforas sobre o racismo - e o quanto a humanidade se confunde com a bestialidade nesse quesito.
Filme interessante e bem conduzido sobre os bastidores da realeza britânica em um de seus períodos de maior crise. Stephen Frears, Peter Morgan e todo o elenco demonstram sintonia com a proposta do filme, que une imagens reais à dramatizações, de forma econômica e sutil. Helen Mirren domina sua personagem de forma magistral, e abrilhanta este longa que, longe de querer atingir grandes possibilidades dramáticas, faz um retrato elegante e preciso de sua época - e seus questionamentos quanto à monarquia, que persistem até hoje.
Bergman nos situa em sua já conhecida análise existencial e psicológica de seus personagens- frequentemente com resultados soturnos. Aqui, todas as discussões sobre o distúrbio psicológico da personagem de Harriet Andersson (ótima no papel) transcendem quadros clínicos e buscam um sentido maior, na maior parte metafísico, para explicá-lo. Uma metáfora perfeita, penso eu, para o isolamento e desconexão dos indivíduos uns com os outros. "Através de um Espelho" é Bergman jogando solto e afiado, e de fato, não há como se desapontar.
Após um início lento, Talbot e Fails mostram que seu trabalho é um dos mais interessantes filmes do ano. Totalmente calcado em uma narrativa poética e imageticamente rica, o roteiro consegue fugir de lugares-comuns e abordar de forma sensível uma série de temas, dentre o qual se destaca a relação do homem com seu ambiente, e os laços sentimentais e existenciais decorrentes dela. Jonathan Majors rouba a cena, e sua química com Fails é precisa. Merece ser visto.
São Paulo Sociedade Anônima
4.2 172O primeiro plano do filme, sem que saibamos, adianta o ponto de ruptura emocional do longa. Ao mesmo tempo que acompanhamos uma cena de violência conjugal, o reflexo das janelas espelha a selva de concreto dos arranha-céus, como se a metrópole monstruosa fosse cúmplice, catalisadora e eterna observadora dos conflitos de seus habitantes.
Tal capacidade pictórica de sintetizar perfeitamente o tema do filme em uma imagem é digna dos grandes mestres, e o diretor Luís Sérgio Person faz um verdadeiro tour-de-force. Um dos grandes longas-metragens da cinematografia nacional, com certeza, e mais que isso: um dos melhores filmes de sua época a captar o mal-estar existencial de toda uma geração global - e que só parece se aprofundar a cada década.
O Ultraje
3.6 45Kitano continua com seu trabalho de desconstrução do filme de crime japonês, mas dessa vez a disrupção não se dá tanto na forma, mas sim no conteúdo: nunca se viu tanta traição e desleadade num filme do gênero, que retrata a nova faceta corporativa da Yakuza como a mais fria e cruel. Algumas cenas de explosões de violência, à guisa do diretor, são simplesmente inesquecíveis.
Meu Pai
4.4 1,2K Assista AgoraSó pelas atuações magistrais de Hopkins e Colman, já valeria a sessão. Mas o filme de estreia de Florian Zeller vai muito além: nos colocando na assustadora perspectiva do protagonista, há a disrupção do tempo e do espaço cênico, em um jogo de linguagem que confere um aspecto cinemático de forma muitíssimo sagaz a um produto oriundo do teatro. Bela surpresa.
Em Chamas
3.9 379 Assista AgoraDesde os primeiros minutos do longa, o diretor Chang-dong Lee consegue quase que imediatamente prender o espectador. Ao nos inserir na pele do solitário Jong-soo, logo desenrola as relações e personalidades dele e das outras duas figuras chaves da trama, a amiga de infância Hae-mi e o abastado Ben. Segue-se então um cuidadoso estudo do trio de personagens, com pinceladas críticas quanto à desigualdade na Coreia do Sul, que mantém quem assiste em uma névoa de desconfiança quanto a natureza da história. Mas então o filme nos apresenta sua virada, e qualquer fiapo de certeza se esvai, numa construção de um mar de ambiguidades cada vez mais agoniante, onde parece ser impossível captar algo além das aparências. Mas, claro, na jornada semi-investigativa de Jong-soo, as respostas não importam verdadeiramente. O que Em Chamas se pretende é instigar o espectador, tirá-lo da zona de conforto. No fim, a metáfora dita por Hae-mi sobre a “pequena fome” (física) e a “grande fome” (busca por um sentido) parece ser a central. Afinal de contas, não é preciso dizer qual das duas instiga os três personagens a cometer todos os seus atos, do mais banal ao mais extremo.
Cria Corvos
4.3 199 Assista AgoraFilme hipnotizante, perfeito em seu ritmo cadenciado, cronologia que sugere os processos da memória e encenação que mistura naturalismo e fantasia.
Impossível desassociar a alegoria política imanente à trama, filmada e ambientada literalmente no leito de morte de Francisco Franco e seu regime autocrático.
A representação de um País marcado, incapaz de lidar com a própria memória e obcecado com a pulsão da morte, refletidos na pequena Ana, que só consegue absorver e reproduzir os ciclos tóxicos dos adultos que a cercam.
De alguma forma, ela parece ser a representação da nova Espanha, ainda infante, mas que dava seus primeiros passos no mundo após 40 anos de ditadura, fortemente influenciada pelos traumas de seu passado recente.
Tal pensamento poderia trazer algum otimismo, mas a visão da personagem adulta, refletindo sobre a amargura de sua infância e representada pela mesma Geraldine Chaplin que encarnou sua mãe oprimida e morta internamente, alerta para um futuro que pode estar destinado a repetir o passado, e coroa este fabuloso drama com um gosto amargo.
Cinzas e Diamantes
4.1 40 Assista AgoraFilme de imagens mesmerizantes, algumas das mais poderosas do cinema.
O uso excepcional de profundidade de campo e algumas set pieces contidas, porém instigantes, entregam que Wajda é um esteta talentosíssimo. No entanto, não é só aí que residem os méritos do filme.
O longa é grande como estudo de personagens, mas ainda maior como alegoria política de um país destruído, que se arrasta para um futuro dúbio e de pouca esperança.
Dentre as cinzas da guerra, alguns diamantes certamente surgirão.
O protagonista Maciek sabe disso e pensa conhecê-los, provavelmente na figura do citado Coronel Wilk que lidera sua "facção", morto sem ver as benesses dos vitoriosos.
Posteriormente, conclui que seria um "diamante" a garota Krystyna, que reacende sentimentos luminosos dentro dele, ao mesmo tempo que se questiona se seu alvo, o secretário do partido comunista Szczuka, também não o seria.
No fim das contas, a certeza que lhe assola é que ele próprio jamais será um diamante surgido dessas cinzas, e sim apenas mais um dos cadáveres, tal qual o do homem que abateu, necessários para que o país encontre seu novo rumo, talvez como casais forçados a valsar a melodia desafinada de quem se mantiver em pé no fim.
Nashville
3.8 64Magnum opus do genial Robert Altman, que aqui nos apresenta seu mesmerizante painel da sociedade americana, onde os temas gerais (política, religião, contracultura, fanatismo, entre outros) colidem através dos dramas pessoais de seus personagens, em um mosaico que borbulha melancolia e esperança, como forças equivalentes na mesma balança.
Com grandes atuações, montagem e fotografia primorosas, além de um final arrepiante, Nashville é um dos auges do cinema americano.
Para Sempre Lilya
4.2 868Baseado em um caso que chocou a Suécia no início desse século, este longa é uma crônica assustadoramente real sobre a miséria humana na Europa Oriental e a crueldade da exploração sexual nessa parte do mundo.
A direção claustrofóbica de Lukas Moodysson e a estética documental utilizada fazem a diferença na construção de uma narrativa que retira sua força da verdade tristemente embutida em cada frame, dos sonhos às decepções, estas cada vez mais frequentes.
Apesar de certa previsibilidade no roteiro e alguns simbolismos simplórios, "Para Sempre Lilya" permanece como um rolo compressor emocional que demora de sair da cabeça do espectador.
Joias Brutas
3.7 1,1K Assista AgoraJoias Brutas vem, no apagar de luzes da década, para se firmar como um dos mais instigantes trabalhos dos últimos anos.
O longa dos Irmãos Safdie (excelentes na direção e roteiro) foi chamado pelo também grande Yorgos Lanthimos de "um filme de Robert Altman mergulhado em LSD". Definição mais que justa, tanto pelo primoroso domínio cênico e dos atores, mas também pelo ritmo frenético que impede que o espectador tire os olhos da tela.
Adam Sandler é a alma do filme, incorporando e desaparecendo no complexo personagem de Howard Ratner, um homem que vê tudo em sua vida como uma aposta, e sempre deseja apostar mais alto.
Um dos filmes obrigatórios do ano que agora se encerra.
Django
3.9 203 Assista AgoraBruto, amoral, estiloso e violento, Django é de muitas formas o spaghetti seminal. Muito além de observar seu legado na cultura pop, é essencial visualizar como as características do gênero se impregnam de forma genial na narrativa. Alvo de inúmeras cópias e fanfarronices, definitivamente o original é uma obra inesquecível.
Elizabeth
3.8 303 Assista AgoraFilme histórico competente e bem montado, Elizabeth se destaca pelo seu estreladíssimo elenco e a atuação hipnotizante de Cate Blanchett.
De resto, o roteiro imprime dinâmica suficiente à trama para entreter até o espectador mais casual, sem sacrificar bom desenvolvimento de personagens e reflexões políticas.
Peca apenas em alguns pontos a direção carregada de Kapur, que parece querer chamar mais atenção para si do que as atuações de seu excelente grupo de intérpretes.
Sanjuro
4.2 51Assistir uma obra do Kurosawa é ter a certeza de encontrar uma direção impecável e roteiro inteligente, e é exatamente o que se vê neste longa. Por mais que acabe sendo inferior a Yojimbo (principalmente pela menor lapidação da história, com algumas inconsistências), ainda assim vale pela construção dinâmica da trama, criando ótimas cenas e dando camadas aos personagens. Mifune lidera o elenco de forma irrepreensível, mais uma vez.
O Duelo final é inesquecível.
O Dia da Desforra
4.1 32Spaghetti que se consolida como um dos mais interessantes do gênero. A perseguição Lee Van Cleef x Tomas Milian é abrilhantada por um roteiro que vai revelando camadas e guarda viradas instigantes. Definitivamente, boa construção de personagens (com exceção de alguns exageros) com a cereja do bolo, um excelente duelo final.
Cinzas no Paraíso
4.0 172 Assista AgoraSem dúvida trata-se de uma experiência mais sensorial que racional; a fotografia deslumbrante e a belíssima trilha de Morricone conseguem evocar fortes sentimentos. é um pena que o aspecto episódico do roteiro e a falta de uma trama que junte essas arestas de forma firme tirem do filme o rótulo de impecável. Mas ainda assim, Malick conduz um longa, de várias formas, invejável.
Cruzada
3.4 633 Assista AgoraRetornando aos épicos depois de Gladiador, Ridley Scott faz um filme irregular que coleciona méritos e deslizes.
Primeiramente, há de ser louvada toda a parte técnica e visual do filme, com ótimas cenas de batalha, além de um plano de fundo interessante e tratamento humanizado dos "adversários" (o povo islâmico).
No entanto, o longa sofre com um prólogo excessivamente apressado e com a atuação insossa e inexpressiva de Orlando Bloom, que dificulta que o espectador compre qualquer das mudanças passadas pelo personagem ao decorrer do filme (aliás, todo o elenco é subutilizado).
Potencial para ser melhor, com certeza tinha.
A Herança
4.1 5Interessante jogo de intrigas e traições, esse longa de Kobayashi mantém o fôlego durante sua duração, mas acaba esbarrando em alguns problemas.
A maioria das viradas é excessivamente telegrafada e previsível, aliado a certos exageros na construção dos personagens que acabam diluindo a força da obra.
Ainda assim, algumas construções visuais interessantes ajudam a tornar o saldo relativamente positivo.
Paris, Texas
4.3 698 Assista AgoraPoderoso retrato humanista da distância, dos desencontros entre os indivíduos e das cicatrizes emocionais deixadas entre eles.
Wim Wenders mostra uma direção invejável ao conduzir essa produção de ritmo cadenciado, preocupada em explorar o significado do não-dito e dos pequenos gestos.
Todo o terceiro ato culmina em um dos clímax mais intensos e poéticos que já vi.
O Barco: Inferno no Mar
4.2 175 Assista AgoraAula de direção de Wolfgang Petersen, que utiliza a longa duração do filme para tentar imprimir no espectador ao máximo a sensação de exaustão e tensão constante dos personagens. Experiência sensorial como poucas.
O elenco conduz o filme com maestria, guiados por um roteiro que parte de uma premissa de quebra do maniqueísmo (empatia pelos nazistas) para trazer um estudo de personagens e forte mensagem antibelicista.
Memorável.
Volver
4.1 1,1K Assista AgoraMais um fascinante mergulho no universo feminino pelas lentes de Almodóvar.
Aqui, o diretor trabalha com mais um roteiro muitíssimo bem-estruturado, cheio de ecos e repetição dos temas, em uma série de mini-arcos: as relações de maternidade, abuso doméstico e aceitação da morte, dentre outros.
Tudo é capitaneado por inspirado elenco, do qual se destaca a interpretação resiliente de Penélope Cruz.
O Irlandês
4.0 1,5K Assista AgoraCom uma grife de diretor, roteirista e atores desse nível, não podia dar errado. E não deu.
Scorsese domina completamente as engrenagens do subgênero que o marcou, e as utiliza aqui para, de forma elegante e sóbria, promover reflexões sobre legado, envelhecimento e o papel das escolhas - principalmente em um ambiente condicionado a relegar a segundo plano questões morais que fujam a dinheiro ou prestígio.
Pacino, Pesci e De Niro comandam o filme com atuações excelentes (o primeiro, em especial, rouba a cena).
Uma extensa teia de intrigas e conexões dá o tom épico do longa, mas parece apontar para o conceito levantado por Scorsese: são as relações interpessoais, sentimentais e humanas, que fazem ou não tudo valer a pena no final. Filme magistral.
Cão Branco
3.7 183Apesar das visíveis restrições orçamentárias e atuações fracas, este longa de Fuller se sustenta em seu poderoso conceito e nas metáforas sobre o racismo - e o quanto a humanidade se confunde com a bestialidade nesse quesito.
A Rainha
3.7 377Filme interessante e bem conduzido sobre os bastidores da realeza britânica em um de seus períodos de maior crise.
Stephen Frears, Peter Morgan e todo o elenco demonstram sintonia com a proposta do filme, que une imagens reais à dramatizações, de forma econômica e sutil.
Helen Mirren domina sua personagem de forma magistral, e abrilhanta este longa que, longe de querer atingir grandes possibilidades dramáticas, faz um retrato elegante e preciso de sua época - e seus questionamentos quanto à monarquia, que persistem até hoje.
Através de um Espelho
4.3 249Bergman nos situa em sua já conhecida análise existencial e psicológica de seus personagens- frequentemente com resultados soturnos.
Aqui, todas as discussões sobre o distúrbio psicológico da personagem de Harriet Andersson (ótima no papel) transcendem quadros clínicos e buscam um sentido maior, na maior parte metafísico, para explicá-lo. Uma metáfora perfeita, penso eu, para o isolamento e desconexão dos indivíduos uns com os outros.
"Através de um Espelho" é Bergman jogando solto e afiado, e de fato, não há como se desapontar.
O Último Homem Negro em San Francisco
3.8 51Após um início lento, Talbot e Fails mostram que seu trabalho é um dos mais interessantes filmes do ano.
Totalmente calcado em uma narrativa poética e imageticamente rica, o roteiro consegue fugir de lugares-comuns e abordar de forma sensível uma série de temas, dentre o qual se destaca a relação do homem com seu ambiente, e os laços sentimentais e existenciais decorrentes dela.
Jonathan Majors rouba a cena, e sua química com Fails é precisa. Merece ser visto.