Senti falta de mais elementos do noir como linguagem, incidindo na trama. Os personagens, jornalista e fotógrafo, se articulam de maneira muito convencional ao lidar com o mistério. No caminhar do roteiro, suas ações deixam os eventos mornos demais, perdendo oportunidades de aprofundar nuances em suas respectivas construções, principalmente quando um deles demonstra faltar com ética e caráter, e o outro precisa lidar com isso. Talvez a opção por atuar e dirigir não tenha sido uma boa ideia do Melville...
Embora as cenas explorem certa dose de sensualidade, já que o filme toca nesse tema, elas não explicitam erotização, o que já é um ponto bem válido para a personagem mulher escrita pelos dois roteiristas da obra. Juliette nasceu pra ser livre como toda mulher, e possui os contornos e nuances da sua liberdade. É uma pena que o filme não dê esse segmento em seu desfecho. Não dá pra passar pano para frases como "mulheres assim destroem a nossa vida de homem blá blá blá". Fora isso, bom filme.
Adorei! A frase final dita por Minus, "Papai falou comigo", praticamente sintetiza a ideia transmitida nesse filme, sobre uma comunicação que não acontece. A família já possui em seu DNA marcas traumáticas da morte da mãe, acometida por esquizofrenia. Então temos o pai, um escritor que possui seus próprios demônios, mas que ao mesmo tempo deixa transparecer uma preocupação maior com seu desempenho profissional do que com qualquer outra coisa, e que não se comunica adequadamente com seus filhos, Karin e Minus. Estes, por sua vez, são maculados por esse "silêncio", mesmo quando tentam agradar ao pai como se quisessem obter dele a atenção que não lhes é dada. Daí, vem à tona o caos psicológico envolvendo as crenças, as intenções individuais e a falta de comprometimento, que acabam expondo as dificuldades que essa família tem de interagir como deveria. A meu ver, o "espelho" do título se encaixa nessa configuração de duas formas um tanto óbvias: a primeira, no sentido de "refletir" o comportamento esquizofrênico da mãe para ambos os filhos, como sintoma dessa ausência de comunicação; e a segunda, como uma representação simbólica no sentido de sugerir um olhar dessa família para ela mesma, considerando que a causa de todos esses problemas estão dentro do próprio seio familiar.
Minhas percepções foram se esfacelando ao longo dos poucos 85 minutos dessa obra. A princípio, esperei pelo clichê do jovem e atraente psicopata em busca de algo desconhecido e ameaçando uma família inocente. Aos poucos fui vendo que não era bem isso, e tudo começou a se desenhar como uma espécie de Teorema, do Pasolini, com sua configuração em que um inusitado visitante entra na casa e na vida de uma família e acaba por seduzir a todos. Mais ao fim, pesquei qual era a ideia. E acertei. Méritos para Adam Coleman Howard e equipe, cujo trabalho técnico sustentou o roteiro à sua altura, assegurando que a minha atenção se prendesse a todo instante.
Explorando um evento que aproxima a entidade católica e a américa latina, o filme evoca a luta de um povo que se ilude ao ter esperança num mundo em que a distância entre grandes e pequenos é abismal. Duas coisas me chamaram muito a atenção: o fato de que as personagens precisam atravessar fronteiras para adquirir bens e corram riscos, mostrado em contraponto à bandeira de união global levantada por grupos religiosos; e a personagem Silvia, que sonha em ser jornalista, vendo com os próprios olhos a força avassaladora da notícia criar tanta expectativa pra algo que no fim passou por ela e não deixou fruto algum além de, apenas, o sabor amargo da desilusão.
Vi uma versão do Canal Brasil que tava bem comprometida e atrapalhou bastante a minha apreciação. Preciso urgentemente ver uma cópia restaurada desse clássico.
Pra quem não tá entendendo ainda, a própria família de Don Shirley alega a deturpação de sua história:
h t t p s : / / cinemacomrapadura .com .br/ colunas/ 534771/ conta-a-historia-quem- segura-a-caneta-porque-bohemian -rhapsody-e-green-book-sao- erros-graves-de-representacao/
Pensei em desistir por várias vezes e dei chances de continuar porque insisti na perda de tempo mesmo. Personagens ingênuos, pistas clichês, atuações comedidas, nada ajudava a manter o interesse. Até que, num certo momento, tudo começou a ficar óbvio demais e só aí deu pra notar a peculiaridade de um roteiro que não reinventou a roda, mas que soube extrair de uma proposta típica de rejeição uma saída interessante. Pena que demorou demais pra isso acontecer.
Gostei, embora alguns aspectos de roteiro, de direção e, evidentemente, da Netflix tenham prejudicado um material que poderia se tornar um épico cinematográfico.
Um tema tão oportuno, contemporâneo... A impressão de que veria uma abordagem com profundidade e consistência sobre relacionamentos abertos empolgou. Infelizmente, o filme perde uma grande força ao optar por um desfecho que não colabora em nada com a desconstrução desse enorme tabu.
A princípio, imaginei que seria uma versão búlgara de Taxi Teerã, do iraniano Jafar Panahi. Mas "Posoki", como o próprio nome já diz, segue para caminhos diferentes e agrada ao costurar um tecido crítico e atual da Bulgária (mas que também poderia ser de qualquer outro lugar do mundo) através do cotidiano de taxistas. E achei curioso como o cigarro é utilizado no filme como um elemento de alívio bastante presente nesse difícil cotidiano, seja para condutores ou para passageiros.
Um excelente argumento, alinhado à uma técnica cinematográfica apurada e aos exageros costumeiros das narrativas pitorescas orientais. Ou seja, uma tradicional receita indispensável para seu público cativo.
In the Fade tem o tipo de desfecho que eu gosto em filmes: onde tudo culmina em um único ato do personagem, algumas vezes inesperado, outras nem tanto. O tema é desenvolvido de uma maneira muito envolvente, me fez pensar em uma sucessão de rumos, um após ao outro, onde eu imaginei que o filme iria concentrar o seu desfecho: primeiro, na deterioração da Katia ao não ter forças para lidar com seu drama; segundo, no desenrolar muito bem construído do Tribunal; e em terceiro, na primeira tentativa de vingança, mal sucedida. Achei excelente o desfecho, no ponto de vista cinematográfico. Diane Kruger muito bem no papel, merece todos os créditos. E Fatih Akin me surpreendendo mais uma vez no terceiro filme que assisto dele (já vi Soul Kitchen e Contra a Parede), de uma forma diferente dos demais.
Não me simpatizei com a pessoa do Gabriel. Mas acho válida qualquer forma de representação cinematográfica das regiões onde vivem povos nunca bem representados. O diário de bordo é curto para o filme extenso, e há pouca substância pra manter a força e o interesse no filme quando o enfoque se concentra nas características negativas (que eu particularmente identifico) do Gabriel. Gostaria que o filme investisse um pouco mais no atrito com a Cris, no âmbito da consciência política dela, que se contrapõe à dele. Entretanto, o filme se apoia documentalmente nos pontos de vista diferenciados de terceiros que presenciaram a trajetória do Gabriel, e se essa é a proposta, não cabe sair dela. Inclusive, é nessa fórmula que mora o seu encanto.
Mesmo já tendo muitas experiências, Glória encara uma nova aventura e passa por altos e baixos para revelar, definitivamente, que é uma mulher cheia de vida dentro de si e que sabe como viver essa vida. Final excelente! E o Sebastián Lelio revelando aqui um pouco da sua quedinha por música brasileira. Muito bom filme!
Dois Homens em Manhattan
3.3 8Senti falta de mais elementos do noir como linguagem, incidindo na trama. Os personagens, jornalista e fotógrafo, se articulam de maneira muito convencional ao lidar com o mistério. No caminhar do roteiro, suas ações deixam os eventos mornos demais, perdendo oportunidades de aprofundar nuances em suas respectivas construções, principalmente quando um deles demonstra faltar com ética e caráter, e o outro precisa lidar com isso. Talvez a opção por atuar e dirigir não tenha sido uma boa ideia do Melville...
Morte em Veneza
4.0 210 Assista AgoraA câmera nesse filme é uma artista à parte quando se trata de situar, conduzir e cativar. Visconti gênio!
...E Deus Criou a Mulher
3.5 113 Assista AgoraEmbora as cenas explorem certa dose de sensualidade, já que o filme toca nesse tema, elas não explicitam erotização, o que já é um ponto bem válido para a personagem mulher escrita pelos dois roteiristas da obra. Juliette nasceu pra ser livre como toda mulher, e possui os contornos e nuances da sua liberdade. É uma pena que o filme não dê esse segmento em seu desfecho. Não dá pra passar pano para frases como "mulheres assim destroem a nossa vida de homem blá blá blá". Fora isso, bom filme.
As Diabólicas
4.2 208 Assista AgoraQue roteiro! Que filme!
Estou em êxtase, nem sei o que comentar!
Através de um Espelho
4.3 249Adorei! A frase final dita por Minus, "Papai falou comigo", praticamente sintetiza a ideia transmitida nesse filme, sobre uma comunicação que não acontece. A família já possui em seu DNA marcas traumáticas da morte da mãe, acometida por esquizofrenia. Então temos o pai, um escritor que possui seus próprios demônios, mas que ao mesmo tempo deixa transparecer uma preocupação maior com seu desempenho profissional do que com qualquer outra coisa, e que não se comunica adequadamente com seus filhos, Karin e Minus. Estes, por sua vez, são maculados por esse "silêncio", mesmo quando tentam agradar ao pai como se quisessem obter dele a atenção que não lhes é dada. Daí, vem à tona o caos psicológico envolvendo as crenças, as intenções individuais e a falta de comprometimento, que acabam expondo as dificuldades que essa família tem de interagir como deveria. A meu ver, o "espelho" do título se encaixa nessa configuração de duas formas um tanto óbvias: a primeira, no sentido de "refletir" o comportamento esquizofrênico da mãe para ambos os filhos, como sintoma dessa ausência de comunicação; e a segunda, como uma representação simbólica no sentido de sugerir um olhar dessa família para ela mesma, considerando que a causa de todos esses problemas estão dentro do próprio seio familiar.
Ilha do Medo
3.3 47 Assista AgoraCHOCADO com esse final!
Minhas percepções foram se esfacelando ao longo dos poucos 85 minutos dessa obra. A princípio, esperei pelo clichê do jovem e atraente psicopata em busca de algo desconhecido e ameaçando uma família inocente. Aos poucos fui vendo que não era bem isso, e tudo começou a se desenhar como uma espécie de Teorema, do Pasolini, com sua configuração em que um inusitado visitante entra na casa e na vida de uma família e acaba por seduzir a todos. Mais ao fim, pesquei qual era a ideia. E acertei. Méritos para Adam Coleman Howard e equipe, cujo trabalho técnico sustentou o roteiro à sua altura, assegurando que a minha atenção se prendesse a todo instante.
O Banheiro do Papa
4.0 157Explorando um evento que aproxima a entidade católica e a américa latina, o filme evoca a luta de um povo que se ilude ao ter esperança num mundo em que a distância entre grandes e pequenos é abismal. Duas coisas me chamaram muito a atenção: o fato de que as personagens precisam atravessar fronteiras para adquirir bens e corram riscos, mostrado em contraponto à bandeira de união global levantada por grupos religiosos; e a personagem Silvia, que sonha em ser jornalista, vendo com os próprios olhos a força avassaladora da notícia criar tanta expectativa pra algo que no fim passou por ela e não deixou fruto algum além de, apenas, o sabor amargo da desilusão.
Pequenos Monstros
3.2 157Sinto muito, Lupita! Sinto muito,Taylor!
Elisa & Marcela
4.1 189 Assista AgoraMaravilhoso!
Acusada
2.9 42Adorei como foi revelado esse assassino.
A Hora e a Vez de Augusto Matraga
4.0 30Vi uma versão do Canal Brasil que tava bem comprometida e atrapalhou bastante a minha apreciação. Preciso urgentemente ver uma cópia restaurada desse clássico.
Green Book: O Guia
4.1 1,5K Assista AgoraPra quem não tá entendendo ainda, a própria família de Don Shirley alega a deturpação de sua história:
h t t p s : / / cinemacomrapadura .com .br/ colunas/ 534771/ conta-a-historia-quem- segura-a-caneta-porque-bohemian -rhapsody-e-green-book-sao- erros-graves-de-representacao/
O Pombo - Um Refúgio para Sobreviver
3.2 5 Assista AgoraResistência
Afterimage
4.0 29 Assista AgoraAtípica, crua e cruel cinebiografia.
Verão de 84
3.4 411 Assista AgoraPensei em desistir por várias vezes e dei chances de continuar porque insisti na perda de tempo mesmo. Personagens ingênuos, pistas clichês, atuações comedidas, nada ajudava a manter o interesse. Até que, num certo momento, tudo começou a ficar óbvio demais e só aí deu pra notar a peculiaridade de um roteiro que não reinventou a roda, mas que soube extrair de uma proposta típica de rejeição uma saída interessante. Pena que demorou demais pra isso acontecer.
Aniquilação
3.4 1,6K Assista AgoraGostei, embora alguns aspectos de roteiro, de direção e, evidentemente, da Netflix tenham prejudicado um material que poderia se tornar um épico cinematográfico.
ABC da Greve
4.2 41Como sugere o próprio título, trata-se de uma abordagem bastante didática dos eventos.
Newness
3.4 233Um tema tão oportuno, contemporâneo... A impressão de que veria uma abordagem com profundidade e consistência sobre relacionamentos abertos empolgou. Infelizmente, o filme perde uma grande força ao optar por um desfecho que não colabora em nada com a desconstrução desse enorme tabu.
Direções
3.9 17A princípio, imaginei que seria uma versão búlgara de Taxi Teerã, do iraniano Jafar Panahi. Mas "Posoki", como o próprio nome já diz, segue para caminhos diferentes e agrada ao costurar um tecido crítico e atual da Bulgária (mas que também poderia ser de qualquer outro lugar do mundo) através do cotidiano de taxistas. E achei curioso como o cigarro é utilizado no filme como um elemento de alívio bastante presente nesse difícil cotidiano, seja para condutores ou para passageiros.
Birdshot
3.4 15A instituição polícia sendo merda
Antes Que Tudo Desapareça
3.4 32Um excelente argumento, alinhado à uma técnica cinematográfica apurada e aos exageros costumeiros das narrativas pitorescas orientais. Ou seja, uma tradicional receita indispensável para seu público cativo.
Em Pedaços
3.9 236 Assista AgoraIn the Fade tem o tipo de desfecho que eu gosto em filmes: onde tudo culmina em um único ato do personagem, algumas vezes inesperado, outras nem tanto. O tema é desenvolvido de uma maneira muito envolvente, me fez pensar em uma sucessão de rumos, um após ao outro, onde eu imaginei que o filme iria concentrar o seu desfecho: primeiro, na deterioração da Katia ao não ter forças para lidar com seu drama; segundo, no desenrolar muito bem construído do Tribunal; e em terceiro, na primeira tentativa de vingança, mal sucedida. Achei excelente o desfecho, no ponto de vista cinematográfico. Diane Kruger muito bem no papel, merece todos os créditos. E Fatih Akin me surpreendendo mais uma vez no terceiro filme que assisto dele (já vi Soul Kitchen e Contra a Parede), de uma forma diferente dos demais.
Gabriel e a Montanha
3.7 141 Assista AgoraNão me simpatizei com a pessoa do Gabriel. Mas acho válida qualquer forma de representação cinematográfica das regiões onde vivem povos nunca bem representados. O diário de bordo é curto para o filme extenso, e há pouca substância pra manter a força e o interesse no filme quando o enfoque se concentra nas características negativas (que eu particularmente identifico) do Gabriel. Gostaria que o filme investisse um pouco mais no atrito com a Cris, no âmbito da consciência política dela, que se contrapõe à dele. Entretanto, o filme se apoia documentalmente nos pontos de vista diferenciados de terceiros que presenciaram a trajetória do Gabriel, e se essa é a proposta, não cabe sair dela. Inclusive, é nessa fórmula que mora o seu encanto.
Gloria
3.8 138 Assista AgoraMesmo já tendo muitas experiências, Glória encara uma nova aventura e passa por altos e baixos para revelar, definitivamente, que é uma mulher cheia de vida dentro de si e que sabe como viver essa vida. Final excelente! E o Sebastián Lelio revelando aqui um pouco da sua quedinha por música brasileira. Muito bom filme!