Como estou assistindo aos filmes desta diretora em ordem cronológica invertida, está havendo também a constatação de uma ordem decrescente de qualidade. O que não chega a ser demeritório, visto que seu domínio do roteiro com múltiplas camas e do elenco impressionam a cada novo contato. A envergadura assumidamente cômica desta obra possui um cariz auto-indulgente, o que talvez explique o porquê de ele não ter me fisgado tanto quanto os dois longas-metragens posteriores: é como se, ao explicar que beleza e inteligência são critérios que chamam a atenção do júri, a protagonista me fizesse suspeitar do meu fascínio pelas situações amorais trazidas à tona. A personagem é ótima, as situações são sempre críveis, as aparições animais são magistrais e o desfecho é conciliador, afinal, mas , no saldo geral, senti falta das pontas soltas que tornar-se-ão o grande apanágio do estilo trietiano. Incrível como, numa obra ainda curta, ela já conseguiu se consolidar autoralmente: nasceu pronta! (WPC>)
A conjuntura de época (olhar branco "autorizado" sobre as tradições populares) faz com que, em âmbito moral e julgamental, o filme não tenha envelhecido muito bem, naquilo que ele narra, expõe e comenta (exagerando tanto ou mais que a pantomima dos representados). Porém, a despeito disso, a condução é tão inteligente, o depoimento de Pelé é tão sintomático, a abordagem temática é tão necessária e a pesquisa é tão consistente que, mesmo não sendo o maior fã de futebol, saí da sessão encantado. Pena que só conheci este diretor após o seu falecimento: ele é incrível! (WPC>)
Há muito nas entrelinhas do roteiro: como a protagonista é uma leitora compulsiva, ela nos treina para que leiamos também. Neste sentido, faz sentido que tantos espectadores tenham notado reverberações de romances famosos, além das próprias discussões internas sobre "Os Irmãos Karamazov". Gostei de como a ambientação político-nacional reflete a pós-adolescência da personagem, mas, depois de certo momento, começou a ficar repetitiva e não mais tão interessante o ciclo de atração e repulsa entre a jovem e o vizinho mais velho de seu namorado. A fotografia perenemente alaranjada fascina, também, pelos subtextos comparativos, já que faz o trigo rimar com o crepúsculo, com os cabelos loiros da protagonista e com o papel de parede do quarto de Henner. Começar com Depeche Mode e terminar com Patti Smith foi uma ótima sacada da diretora. Mas o filme estendeu-se onde talvez nem precisasse e subestimou o potencial reflexivo das conversas familiares, das múltiplas distinções (cidade x campo, RDA X RFA, etc.) que atravessam a trama... Seja como for, possui calor, que eventualmente redunda em febre. É agradável, ajuda-nos a refazer as pazes com memórias de juventude. E estimula-nos a voltar aos clássicos da Literatura mundial! (WPC>)
Que o Murilo Benício é um ótimo e versátil ator, não se nega. Mas, como diretor, infelizmente, está optando pelas execuções mais equivocadas possíveis. Aqui, por exemplo, a indefinição do ritmo cômico faz com que o filme pareça um pasticho mui piorado de MINHA MÃE É UMA PEÇA - O FILME, sem o mesmo talento na composição de personagens: é tudo exageradamente caricato, insuportável de ser acompanhado. A montagem alinear é horrenda, a concepção do álter-ego do dramaturgo é péssima (que atorzinho inexpressivo!) e a pretensa homenagem à maternidade é tolhida no próprio projeto, pela maneira abjeta e oportunista com que a personagem-título trata a mãe, que sequer aparece... É um retrato cômico (mas sem graça) sobre os estereótipos de classe e sobre os apanágios egoístas e egocêntricos dessa conjuntura. Não se consegue entender adequadamente os conflitos de personagens secundários (a traição conjugal perpetrada por uma das tias, por exemplo), de tão mal desenvolvidos que estes são. E o narrador revela-se alguém progressivamente desinteressante e mui desagradável: não conheço a origem teatral desta produção, mas, por este roteiro, é difícil imaginar que ele tenha se convertido num autor tão consagrado. Esforcei-me para gostar de algo no filme, mas é tudo degringolado, histriônico, disfuncional... Uma pena! (WPC>)
Aproveitando a deixa, tendo eu ficado sumamente deslumbrado perante SAGRADA FAMÍLIA, resolvi emendar este curta-metragem. Ainda que, obviamente, seja interessante enquanto manifesto - e, agora, também testamento - do realizador, não funciona tanto, parece um tanto engessando em suas intenções discursivas. Talvez eu gostasse mais se tivesse lido, ao invés de visto, não obstante a coleção de imagens do desfecho ser extraordinária, enquanto demonstração pragmática da tese, que soou mais eisensteiniana que vertoviana. Faz sentido! (risos) - WPC>
Foi o meu primeiro contato com o diretor, e já fiquei sumamente apaixonado: por mais que a sinopse direcione-nos para uma determinada trama, o que se descortina diante de nossos olhos (e, sobretudo, ouvidos) é extremamente radical, múltiplo, polifônico. A montagem de sons desta obra é uma das coisas mais geniais que existem! Vi o filme com minha mãe, que temeu ficar tonta, tamanha a quantidade de 'travellings' circulares, tão longos quanto brilhantes. Confirmando a associação do Cinema Marginal (ou melhor, pós-Novo, como bem dizia o Carlos Reichenbach) às estradas vazias, aqui, elas abundam: a migração ocorre da cidade grande para o interior, num percurso que faz completo sentido, em relação às intenções do diretor, que é mineiro. Não o conhecia: descobri esta obra-prima por conta de seu falecimento, e fiquei alucinado. Pereio está gostosíssimo como personagem maladro. Minha mãe ficou espantada com a quantidade de livros nos cômodos. Tudo aqui é genial: Maria Gladys deve ter ficado felicíssima com a menção nos ótimos e mui coloridos créditos de abertura. Um novo mundo abriu-se para mim, em pleno Brasil. Ôba! (WPC>)
Os romenos sabem como abordar a dessacralização dos padres, numa sociedade reificada: se eu já ficara sumamente impressionado com a cena dos RGs em ALÉM DAS MONTANHAS, do Cristian Mungiu, reiterei o meu espanto neste curta-metragem, pelo modo como o pároco é interrompido, durante os ritos, ou pelas questões envolvendo declarações de impostos para doações à Igreja. Os atores são tão bons que até pensamos estar diante de um documentário. Que direção precisa, que roteiro contundente: Radu Jude é um mestre! (WPC>)
Que filmaço é esse?! Como é que eu pude ficar tanto tempo sem conhecê-lo?! A cada obra do Kiyoshi que eu descubro, fico mais e mais impressionado com a maneira como ele mescla as convenções de diversos gêneros. Porém, o que ele faz aqui é ainda mais acachapante: pense num filme surpreendente, com as reviravoltas mais impensáveis... O elenco é ótimo e a direção entrega-nos seqüências longas e impressionantes (vide o que ocorre no hospital). O mote de invasão alienígena é pretexto para valiosas reflexões sobre relações humanas, incluindo uma crise marital e um contexto empregatício mui abusivo. Os efeitos visuais são magistrais, bem como a maneira esplêndida com que os "possuídos" pronunciam, de maneira intencionalmente inexpressiva, elucubrações existenciais de alto calibre. Magnífica descoberta, fui arrebatado! (WPC>)
Não sou muito aficcionado por gatos, de modo que apreciei de imediato o ponto de partida tramático, afinal dividido em três episódios: é incrível como os felinos estão associados ao terror, né? O segmento que intersecciona os episódios é um tanto exagerado, no que tange à exigência de verossimilhança para os relatos literários trazidos pelo personagem de Peter Cushing, mas é divertido vê-lo interagindo com Ray Milland. O primeiro episódio, mais aterrorizante efetivamente foi o meu favorito. O segundo é um interessante conto de perversão infantil. E o terceiro adere a uma perspectiva mais cômica. Cada um dos três possui o seu charme peculiar. Um passatempo divertido! (WPC>)
Assisti a este filme por acaso, num instante em que chovia, onde moro, e eu sofria as conseqüências de goteiras, de modo que eu fiquei muito tenso ao longo de toda a sessão: parecia que o curta-metragem tinha o triplo da duração, de tão tenso que eu fiquei. Temia que, a qualquer momento, o cinismo do diretor - eventualmente tendente à exposição da misantropia romena - explodisse em situações de violência emocional, mas, para o meu consolo, até que o desfecho é bonito, terno, otimista em parâmetros localizados. O elenco é incrível (são atores mesmo?!), as situações apresentadas são aflitivas e o ponto de partida é ótimo: nascia um maravilhoso diretor aqui! (WPC>)
O meu desconhecimento (na verdade, rechaço) quanto às situações que ocorrem nos bastidores das competições hípicas fez com que eu demorasse um pouco para "entrar" no filme e perceber que, através dele, Herzog denuncia algo muito mais generalizado, a ponto de afetar ate mesmo os flamingos... O jogo de ataques e repulsas entre os personagens é muito contundente. Mesmo que eu não tenha apreciado a contento, num contato inicial, é um curta-metragem psicanaliticamente poderoso. Voltarei a ele, noutro(s) momento(s)... (WPC>)
Revi com minha mãe, a propósito convidativo de um debate em cineclube, e foi ótimo vê-la torcer pelos mocinhos/bandidos (leia-se: anti-heróis): por mais radicalmente anti-armamentista que minha mãe seja, em diversos momentos ela queria que os personagens matassem seus perseguidores, de tão entusiasmada que ela ficou. Há inúmeras possibilidades de interpretação freudiana para as situações do filme, com destaque para aquela abertura explícita e magistral. A voz de Peggy Cummins é sumamente sedutora: que mulher linda, como não se apaixonar imediatamente por ela? Trata-se de um filme pioneiro e mui subversivo, que aborda as questões fetichistas de maneira originalíssima e enfatizando a complementaridade requerida por determinadas ações, sobremaneira quando de ordem criminosa. A seqüência final - idílica e desoladora, ao mesmo tempo - é excelente. Em minha opinião empolgada, uma obra-prima absoluta! (WPC>)
Exercício de terror inteligente e inventivo. Esse diretor promete, ainda que não seja o melhor ator disponível (risos). Em alguns sentidos, este filme prenuncia INCROYABLE MAIS VRAI, do Quentin Dupieux. Pena que seja tão curto, ficamos querendo mais após o término abrupto e interessante. Muito, muito bom! (WPC>)
Ouvi tanta gente falando mal, que adentrei a sessão sem quase nenhuma expectativa. Mas, tanto como ocorreu em ENCANTO, fui logo atraído pelas belas canções com acento hispânico. Havia algo de promissor na narrativa, que atualizava questões tanto do Velho Testamento quanto de MILAGRE EM MILÃO, no que tange a livre-arbítrio e questões afins. Mas, de repente, tudo se perde numa narrativa insossa, sem desejo ou paixão, tão artificial que parece uma mera costura forçada para acrescentar as auto-referências a inúmeros outros longas-metragens clássicos da Disney. Será que o roteiro foi escrito com o auxílio de Inteligência Artificial? É o que parece! Tanto que a reviravolta não convence muito, além de eu ter achado o personagem do bodinho falante (com voz grave) inconveniente e destoante. Os momentos isolados de candura compensam o saldo geral entretanto: minha mãe, por exemplo, adorou! (WPC>)
Este filme marcou a minha pré-adolescência: foi a primeira vez na vida em que ouvi a palavra "orgasmo" e que apresentou-me a uma artista que, naquela época, já era completa, já podai ser considerada imortal. após o show arrebatador do último sábado, no Brasil, resolvi voltar a este documentário seminal, e percebi muitas similaridades cênicas. Os depoimentos são ótimos, bem como a demonstração das vocações maternais da cantora, que tratava a seus dançarinos como filhos. Ela não hesita em se exibir como caprichosa, mimada e um tanto infantil nalguns momentos, mas tudo isso é justificado pelas diversas falas sobre a necessidade de ser amada. As situações envolvendo os seus familiares, no show em Detroit, também explicam muito sobre ele. Idem quanto aos encontros com Kevin Costner, Pedro Almodóvar, Antonio Banderas e o relacionamento com Warren Beatty. A despeito da longa duração, é um filme muito gostoso de ser visto, principalmente quando se é fã da estrela titular. Muito bom perceber quão fiel a si mesma ela permaneceu, trinta e três anos depois que ela própria tinha ainda 33 anos. Adorei! (WPC>)
Em uma nova revisão, com debate, alguns problemas, maiores que as próprias contradições estruturais, se manifestam: o desfecho imposto por David Cardoso, por exemplo, que contradiz a lógica anterior do enfrentamento entre os personagens. No geral, entretanto, a autoralidade candeiasiana e a base teatral validam a narrativa muito forte sobre um período atroz de nossa história. O personagem masculino é bem construído em sua ojeriza e Vera Gimenez consegue se impor como freira descobrindo que amar a Deus requer prática. O uso da trilha musical, a montagem elíptica e a fotografia do próprio Candeias são agrados à parte, bem como a averiguação das obsessões bestiais do realizador, que sempre expõe como as agruras do ambiente tendem a desumanizar os indivíduos. Incômodo e problemático, mas indubitavelmente ótimo! (WPC>)
Vários amigos acham este o melhor da trilogia. Eu, entretanto, sempre tive uma barreira íntima em relação a ele. Na revisão, acho que entendi o porquê, em lógica de psicologia reversa, visto que vermelho é a minha cor favorita, sou extremamente cinófilo e também passo por questões envolvendo a renúncia de compromissos pessoais em razão de problemas familiares. Zbigniew Preisner comparece com um lindo bolero (executado numa passarela de moda, quem diria?) e Iréne Jacob encanta-nos a cada instante, a cada sorriso, a cada emulação profissional de tristeza... A direção e a montagem são sobremaneira joviais e a personificação de Jean-Louis Trintignant faz jus à sua fama enquanto ícone francês. O vermelho fascina, seduz... As indicações ao Oscar que o filme recebeu são merecedíssimas! Imagino o impacto desta obra para o jovem Paul Thomas Anderson, por exemplo. Lindo: na revisão, emocionei-me bastante! (WPC>)
O tom dramático muda em relação ao primeiro filme: aqui, o diretor retorna à condição polonesa, em contraste com o idílio francês, prometido via matrimônio com uma das mulheres mais lindas existentes: apaixonei-me perdidamente por Julie Delpy desde o primeiro instante. Sua personagem é cruel, entretanto: ferida em seu desejo feminino, ela é pivô de uma trama de vingança que, em muitos aspectos, soa alegórica. O tango preisneriano é belíssimo, e a amizade edificada naquela corrida na neve marcou a minha pós-adolescência! É o menos favorito da trilogia, mas, ainda assim, brilhante em diversos aspectos! (WPC>)
Depois de assistir a este filme N vezes em minha adolescência (obrigado, revista Caras!), o revi após mais de 20 anos - e foi uma experiência epifânica , tanto como são muitas das situações que ocorrem no enredo: parte-se de uma tragédia, de um evento muito doloroso, rumo à potência da reconciliação, com uma sinfonia enquanto metáfora. Juliette Binoche está em estado de graça, e a trilha musical de Zbigniew Preisner é antológica, clássica desde o momento de sua composição. Que fotografia sublime: sempre que aparecia um relance de azul, eu comemorava, eu exultava. Mas há estratagemas ainda mais complexos e sutis envolvendo cores, como aqueles apagões de hesitação, em momentos decisivos. os coadjuvantes são ótimos (até Emmanuelle Riva comparece) e as situações paralelas e/ou secundárias são igualmente contributivas para a libertação da protagonista, em sua renúncia inicial ao luto. Obra-prima absoluta: soberbo! (WPC>)
Formalmente, o documentário tenta emular certo experimentalismo, quando seria muito interessante mesmo se aderisse ao tradicionalismo didático: os depoimentos do diretor homenageado são tão sóbrios e inteligentes - enquanto continuador de Erich von Stroheim e do Buñuel realista - que quedamos impactados perante o que é mostrado e confirmado. A montagem de cenas de obras do grande Ozualdo Candeias é muito oportuna. Um curta-metragem discreto porém assertivo. Para quem ama este gênio de nosso cinema, obrigatório! (WPC>)
De fato, quando Dercy Gonçalves está em cena, o filme consegue provocar o riso por conta de seus exageros. Mas o que ela faz com um cavalo e seu condutor, no terço final, é indefensável: minha mãe ficou irritadíssima, inclusive porque ela sequer paga ao figurante, que fica inerte enquanto as situações previsíveis de resolução acontecem. O casal jovem é canastrão e as crianças são graciosas. E, por mais que as apresentações da escola de samba soem um tanto arrítmicas, no modo como invadem a narrativa e se demoram - desencadeando um desfecho anticlimático para o filme -, elas comprovam o zelo do diretor em relação à trilha musical. É uma produção que, em suas convenções chanchadescas tardias, envelheceu mal. Mas que, ainda assim, diverte e faz com que prestemos atenção ao seu realizador, infelizmente pouco valorizado pelos enciclopedistas cinéfilos. De minha parte, estou esforçando-me para corrigir isso! (WPC>)
Obcecado pelo diretor que sou, não conhecia este filme. O que tornou-se "explicável" nos primeiros segundos de projeção: em verdade, é um debate sobre curtas-metragens dados como perdidos, nem moldes que antecipam extras de DVD. Pouco a pouco, o que não se parecia considerar um filme em si (por conta do registro em vídeo, enquanto debate) torna-se uma obra exemplar, na qual o diretor demonstra uma erudição acachapante, com muitas críticas a uma concepção arrivista da Antropologia. Fiquei surpreso ao descobrir o "caminhoneiro da Boca do Lixo" tão afinado aos discursos acadêmicos, para que consiga implodi-los, de maneira inteligentíssima. Depoimentos magistrais, registros mui singulares de épocas e lugares, e um filme (sim, filme) obrigatório para se conhecer mais sobre a imponência deste grande realizador brasileiro! (WPC>)
Apesar do título suspeitoso e execrável, o file é bem mais elaborado do que a publicidade fez parecer: o enredo, em sua brasilização de O CÉU PODE ESPERAR e afins, proporciona boas interpretações ao elenco envolvido e um aproveitamento elaborado de personagens lúbricos históricos. Sandra Barsotti, colaboradora habitual do diretor, está contida, enquanto Maria Lúcia Dahl arrebenta como uma feminista assumida e ostensiva. Quem acreditaria no Ney Latorraca enquanto conquistador heterossexual? (risos) Grande Otelo, apenas por aparecer, já nos provoca risos legítimos. E o cuidado do cineasta com a trilha musical (ótimo o tema próprio, inclusive) é mui laudatória. As seqüências que mostram a infância dos gêmeos evidencia um freudianismo extraordinário. Não gostei tanto quanto poderia gostar, mas achei o projeto inteligente e merecedor de novas chances. De uma hora para outra, estou recomendando para todo mundo um diretor que eu não conhecia - e que, infelizmente, partiu muito cedo, tendo realizado pouquíssimos filmes! (WPC>)
Surpreendentemente, apesar de eu ter pesquisado as pornochanchadas em meu Mestrado, eu não conhecia o Saul Lachtermacher até um dia desses. E, sem ter visto os filmes, cri que ele fosse medíocre por causa de seus títulos super machistas. Erro meu! A despeito do ponto de partida machista, inevitavelmente, o roteiro torna o protagonista legitimamente defensável (por ele não ser ciumento, por exemplo). O modo como os adultérios são justificados (mediante concessão psicanalítica) é interessante e a revelação da "maldição" impotente é hábil e divertido. Minha mãe gargalhou em diversas cenas e eu fiquei realmente espantado com a guinada ideológica que o filme dá: a partir da mais repetitiva das situações, faz com que percebamos que há um problema nisso (vide as conversas do ciclo feminino, desde a despedida de solteiro). Quem diria? (WPC>)
Na Cama com Victoria
3.0 32 Assista AgoraComo estou assistindo aos filmes desta diretora em ordem cronológica invertida, está havendo também a constatação de uma ordem decrescente de qualidade. O que não chega a ser demeritório, visto que seu domínio do roteiro com múltiplas camas e do elenco impressionam a cada novo contato. A envergadura assumidamente cômica desta obra possui um cariz auto-indulgente, o que talvez explique o porquê de ele não ter me fisgado tanto quanto os dois longas-metragens posteriores: é como se, ao explicar que beleza e inteligência são critérios que chamam a atenção do júri, a protagonista me fizesse suspeitar do meu fascínio pelas situações amorais trazidas à tona. A personagem é ótima, as situações são sempre críveis, as aparições animais são magistrais e o desfecho é conciliador, afinal, mas , no saldo geral, senti falta das pontas soltas que tornar-se-ão o grande apanágio do estilo trietiano. Incrível como, numa obra ainda curta, ela já conseguiu se consolidar autoralmente: nasceu pronta! (WPC>)
Superstição e Futebol
3.8 1A conjuntura de época (olhar branco "autorizado" sobre as tradições populares) faz com que, em âmbito moral e julgamental, o filme não tenha envelhecido muito bem, naquilo que ele narra, expõe e comenta (exagerando tanto ou mais que a pantomima dos representados). Porém, a despeito disso, a condução é tão inteligente, o depoimento de Pelé é tão sintomático, a abordagem temática é tão necessária e a pesquisa é tão consistente que, mesmo não sendo o maior fã de futebol, saí da sessão encantado. Pena que só conheci este diretor após o seu falecimento: ele é incrível! (WPC>)
Um Dia Nossos Segredos Serão Revelados
3.1 4Há muito nas entrelinhas do roteiro: como a protagonista é uma leitora compulsiva, ela nos treina para que leiamos também. Neste sentido, faz sentido que tantos espectadores tenham notado reverberações de romances famosos, além das próprias discussões internas sobre "Os Irmãos Karamazov". Gostei de como a ambientação político-nacional reflete a pós-adolescência da personagem, mas, depois de certo momento, começou a ficar repetitiva e não mais tão interessante o ciclo de atração e repulsa entre a jovem e o vizinho mais velho de seu namorado. A fotografia perenemente alaranjada fascina, também, pelos subtextos comparativos, já que faz o trigo rimar com o crepúsculo, com os cabelos loiros da protagonista e com o papel de parede do quarto de Henner. Começar com Depeche Mode e terminar com Patti Smith foi uma ótima sacada da diretora. Mas o filme estendeu-se onde talvez nem precisasse e subestimou o potencial reflexivo das conversas familiares, das múltiplas distinções (cidade x campo, RDA X RFA, etc.) que atravessam a trama... Seja como for, possui calor, que eventualmente redunda em febre. É agradável, ajuda-nos a refazer as pazes com memórias de juventude. E estimula-nos a voltar aos clássicos da Literatura mundial! (WPC>)
Pérola
3.5 24Que o Murilo Benício é um ótimo e versátil ator, não se nega. Mas, como diretor, infelizmente, está optando pelas execuções mais equivocadas possíveis. Aqui, por exemplo, a indefinição do ritmo cômico faz com que o filme pareça um pasticho mui piorado de MINHA MÃE É UMA PEÇA - O FILME, sem o mesmo talento na composição de personagens: é tudo exageradamente caricato, insuportável de ser acompanhado. A montagem alinear é horrenda, a concepção do álter-ego do dramaturgo é péssima (que atorzinho inexpressivo!) e a pretensa homenagem à maternidade é tolhida no próprio projeto, pela maneira abjeta e oportunista com que a personagem-título trata a mãe, que sequer aparece... É um retrato cômico (mas sem graça) sobre os estereótipos de classe e sobre os apanágios egoístas e egocêntricos dessa conjuntura. Não se consegue entender adequadamente os conflitos de personagens secundários (a traição conjugal perpetrada por uma das tias, por exemplo), de tão mal desenvolvidos que estes são. E o narrador revela-se alguém progressivamente desinteressante e mui desagradável: não conheço a origem teatral desta produção, mas, por este roteiro, é difícil imaginar que ele tenha se convertido num autor tão consagrado. Esforcei-me para gostar de algo no filme, mas é tudo degringolado, histriônico, disfuncional... Uma pena! (WPC>)
Um cinema caligrafico
2.5 1Aproveitando a deixa, tendo eu ficado sumamente deslumbrado perante SAGRADA FAMÍLIA, resolvi emendar este curta-metragem. Ainda que, obviamente, seja interessante enquanto manifesto - e, agora, também testamento - do realizador, não funciona tanto, parece um tanto engessando em suas intenções discursivas. Talvez eu gostasse mais se tivesse lido, ao invés de visto, não obstante a coleção de imagens do desfecho ser extraordinária, enquanto demonstração pragmática da tese, que soou mais eisensteiniana que vertoviana. Faz sentido! (risos) - WPC>
Sagrada Família
3.0 4Foi o meu primeiro contato com o diretor, e já fiquei sumamente apaixonado: por mais que a sinopse direcione-nos para uma determinada trama, o que se descortina diante de nossos olhos (e, sobretudo, ouvidos) é extremamente radical, múltiplo, polifônico. A montagem de sons desta obra é uma das coisas mais geniais que existem! Vi o filme com minha mãe, que temeu ficar tonta, tamanha a quantidade de 'travellings' circulares, tão longos quanto brilhantes. Confirmando a associação do Cinema Marginal (ou melhor, pós-Novo, como bem dizia o Carlos Reichenbach) às estradas vazias, aqui, elas abundam: a migração ocorre da cidade grande para o interior, num percurso que faz completo sentido, em relação às intenções do diretor, que é mineiro. Não o conhecia: descobri esta obra-prima por conta de seu falecimento, e fiquei alucinado. Pereio está gostosíssimo como personagem maladro. Minha mãe ficou espantada com a quantidade de livros nos cômodos. Tudo aqui é genial: Maria Gladys deve ter ficado felicíssima com a menção nos ótimos e mui coloridos créditos de abertura. Um novo mundo abriu-se para mim, em pleno Brasil. Ôba! (WPC>)
Shadow of a Cloud
3.4 1Os romenos sabem como abordar a dessacralização dos padres, numa sociedade reificada: se eu já ficara sumamente impressionado com a cena dos RGs em ALÉM DAS MONTANHAS, do Cristian Mungiu, reiterei o meu espanto neste curta-metragem, pelo modo como o pároco é interrompido, durante os ritos, ou pelas questões envolvendo declarações de impostos para doações à Igreja. Os atores são tão bons que até pensamos estar diante de um documentário. Que direção precisa, que roteiro contundente: Radu Jude é um mestre! (WPC>)
Antes Que Tudo Desapareça
3.4 32Que filmaço é esse?! Como é que eu pude ficar tanto tempo sem conhecê-lo?! A cada obra do Kiyoshi que eu descubro, fico mais e mais impressionado com a maneira como ele mescla as convenções de diversos gêneros. Porém, o que ele faz aqui é ainda mais acachapante: pense num filme surpreendente, com as reviravoltas mais impensáveis... O elenco é ótimo e a direção entrega-nos seqüências longas e impressionantes (vide o que ocorre no hospital). O mote de invasão alienígena é pretexto para valiosas reflexões sobre relações humanas, incluindo uma crise marital e um contexto empregatício mui abusivo. Os efeitos visuais são magistrais, bem como a maneira esplêndida com que os "possuídos" pronunciam, de maneira intencionalmente inexpressiva, elucubrações existenciais de alto calibre. Magnífica descoberta, fui arrebatado! (WPC>)
Trama Sinistra
3.5 29Não sou muito aficcionado por gatos, de modo que apreciei de imediato o ponto de partida tramático, afinal dividido em três episódios: é incrível como os felinos estão associados ao terror, né? O segmento que intersecciona os episódios é um tanto exagerado, no que tange à exigência de verossimilhança para os relatos literários trazidos pelo personagem de Peter Cushing, mas é divertido vê-lo interagindo com Ray Milland. O primeiro episódio, mais aterrorizante efetivamente foi o meu favorito. O segundo é um interessante conto de perversão infantil. E o terceiro adere a uma perspectiva mais cômica. Cada um dos três possui o seu charme peculiar. Um passatempo divertido! (WPC>)
The Tube With a Hat
3.8 1Assisti a este filme por acaso, num instante em que chovia, onde moro, e eu sofria as conseqüências de goteiras, de modo que eu fiquei muito tenso ao longo de toda a sessão: parecia que o curta-metragem tinha o triplo da duração, de tão tenso que eu fiquei. Temia que, a qualquer momento, o cinismo do diretor - eventualmente tendente à exposição da misantropia romena - explodisse em situações de violência emocional, mas, para o meu consolo, até que o desfecho é bonito, terno, otimista em parâmetros localizados. O elenco é incrível (são atores mesmo?!), as situações apresentadas são aflitivas e o ponto de partida é ótimo: nascia um maravilhoso diretor aqui! (WPC>)
Medidas Contra Fanáticos
3.2 5O meu desconhecimento (na verdade, rechaço) quanto às situações que ocorrem nos bastidores das competições hípicas fez com que eu demorasse um pouco para "entrar" no filme e perceber que, através dele, Herzog denuncia algo muito mais generalizado, a ponto de afetar ate mesmo os flamingos... O jogo de ataques e repulsas entre os personagens é muito contundente. Mesmo que eu não tenha apreciado a contento, num contato inicial, é um curta-metragem psicanaliticamente poderoso. Voltarei a ele, noutro(s) momento(s)... (WPC>)
Mortalmente Perigosa
4.1 39 Assista AgoraRevi com minha mãe, a propósito convidativo de um debate em cineclube, e foi ótimo vê-la torcer pelos mocinhos/bandidos (leia-se: anti-heróis): por mais radicalmente anti-armamentista que minha mãe seja, em diversos momentos ela queria que os personagens matassem seus perseguidores, de tão entusiasmada que ela ficou. Há inúmeras possibilidades de interpretação freudiana para as situações do filme, com destaque para aquela abertura explícita e magistral. A voz de Peggy Cummins é sumamente sedutora: que mulher linda, como não se apaixonar imediatamente por ela? Trata-se de um filme pioneiro e mui subversivo, que aborda as questões fetichistas de maneira originalíssima e enfatizando a complementaridade requerida por determinadas ações, sobremaneira quando de ordem criminosa. A seqüência final - idílica e desoladora, ao mesmo tempo - é excelente. Em minha opinião empolgada, uma obra-prima absoluta! (WPC>)
O Armário
3.6 19Exercício de terror inteligente e inventivo. Esse diretor promete, ainda que não seja o melhor ator disponível (risos). Em alguns sentidos, este filme prenuncia INCROYABLE MAIS VRAI, do Quentin Dupieux. Pena que seja tão curto, ficamos querendo mais após o término abrupto e interessante. Muito, muito bom! (WPC>)
Wish: O Poder dos Desejos
3.0 166 Assista AgoraOuvi tanta gente falando mal, que adentrei a sessão sem quase nenhuma expectativa. Mas, tanto como ocorreu em ENCANTO, fui logo atraído pelas belas canções com acento hispânico. Havia algo de promissor na narrativa, que atualizava questões tanto do Velho Testamento quanto de MILAGRE EM MILÃO, no que tange a livre-arbítrio e questões afins. Mas, de repente, tudo se perde numa narrativa insossa, sem desejo ou paixão, tão artificial que parece uma mera costura forçada para acrescentar as auto-referências a inúmeros outros longas-metragens clássicos da Disney. Será que o roteiro foi escrito com o auxílio de Inteligência Artificial? É o que parece! Tanto que a reviravolta não convence muito, além de eu ter achado o personagem do bodinho falante (com voz grave) inconveniente e destoante. Os momentos isolados de candura compensam o saldo geral entretanto: minha mãe, por exemplo, adorou! (WPC>)
Na Cama com Madonna
3.7 152Este filme marcou a minha pré-adolescência: foi a primeira vez na vida em que ouvi a palavra "orgasmo" e que apresentou-me a uma artista que, naquela época, já era completa, já podai ser considerada imortal. após o show arrebatador do último sábado, no Brasil, resolvi voltar a este documentário seminal, e percebi muitas similaridades cênicas. Os depoimentos são ótimos, bem como a demonstração das vocações maternais da cantora, que tratava a seus dançarinos como filhos. Ela não hesita em se exibir como caprichosa, mimada e um tanto infantil nalguns momentos, mas tudo isso é justificado pelas diversas falas sobre a necessidade de ser amada. As situações envolvendo os seus familiares, no show em Detroit, também explicam muito sobre ele. Idem quanto aos encontros com Kevin Costner, Pedro Almodóvar, Antonio Banderas e o relacionamento com Warren Beatty. A despeito da longa duração, é um filme muito gostoso de ser visto, principalmente quando se é fã da estrela titular. Muito bom perceber quão fiel a si mesma ela permaneceu, trinta e três anos depois que ela própria tinha ainda 33 anos. Adorei! (WPC>)
A Freira e a Tortura
3.0 17Em uma nova revisão, com debate, alguns problemas, maiores que as próprias contradições estruturais, se manifestam: o desfecho imposto por David Cardoso, por exemplo, que contradiz a lógica anterior do enfrentamento entre os personagens. No geral, entretanto, a autoralidade candeiasiana e a base teatral validam a narrativa muito forte sobre um período atroz de nossa história. O personagem masculino é bem construído em sua ojeriza e Vera Gimenez consegue se impor como freira descobrindo que amar a Deus requer prática. O uso da trilha musical, a montagem elíptica e a fotografia do próprio Candeias são agrados à parte, bem como a averiguação das obsessões bestiais do realizador, que sempre expõe como as agruras do ambiente tendem a desumanizar os indivíduos. Incômodo e problemático, mas indubitavelmente ótimo! (WPC>)
A Fraternidade é Vermelha
4.2 440 Assista AgoraVários amigos acham este o melhor da trilogia. Eu, entretanto, sempre tive uma barreira íntima em relação a ele. Na revisão, acho que entendi o porquê, em lógica de psicologia reversa, visto que vermelho é a minha cor favorita, sou extremamente cinófilo e também passo por questões envolvendo a renúncia de compromissos pessoais em razão de problemas familiares. Zbigniew Preisner comparece com um lindo bolero (executado numa passarela de moda, quem diria?) e Iréne Jacob encanta-nos a cada instante, a cada sorriso, a cada emulação profissional de tristeza... A direção e a montagem são sobremaneira joviais e a personificação de Jean-Louis Trintignant faz jus à sua fama enquanto ícone francês. O vermelho fascina, seduz... As indicações ao Oscar que o filme recebeu são merecedíssimas! Imagino o impacto desta obra para o jovem Paul Thomas Anderson, por exemplo. Lindo: na revisão, emocionei-me bastante! (WPC>)
A Igualdade é Branca
4.0 366 Assista AgoraO tom dramático muda em relação ao primeiro filme: aqui, o diretor retorna à condição polonesa, em contraste com o idílio francês, prometido via matrimônio com uma das mulheres mais lindas existentes: apaixonei-me perdidamente por Julie Delpy desde o primeiro instante. Sua personagem é cruel, entretanto: ferida em seu desejo feminino, ela é pivô de uma trama de vingança que, em muitos aspectos, soa alegórica. O tango preisneriano é belíssimo, e a amizade edificada naquela corrida na neve marcou a minha pós-adolescência! É o menos favorito da trilogia, mas, ainda assim, brilhante em diversos aspectos! (WPC>)
A Liberdade é Azul
4.1 650 Assista AgoraDepois de assistir a este filme N vezes em minha adolescência (obrigado, revista Caras!), o revi após mais de 20 anos - e foi uma experiência epifânica , tanto como são muitas das situações que ocorrem no enredo: parte-se de uma tragédia, de um evento muito doloroso, rumo à potência da reconciliação, com uma sinfonia enquanto metáfora. Juliette Binoche está em estado de graça, e a trilha musical de Zbigniew Preisner é antológica, clássica desde o momento de sua composição. Que fotografia sublime: sempre que aparecia um relance de azul, eu comemorava, eu exultava. Mas há estratagemas ainda mais complexos e sutis envolvendo cores, como aqueles apagões de hesitação, em momentos decisivos. os coadjuvantes são ótimos (até Emmanuelle Riva comparece) e as situações paralelas e/ou secundárias são igualmente contributivas para a libertação da protagonista, em sua renúncia inicial ao luto. Obra-prima absoluta: soberbo! (WPC>)
O Olhar Singular de Ozualdo R. Candeias
3.7 1Formalmente, o documentário tenta emular certo experimentalismo, quando seria muito interessante mesmo se aderisse ao tradicionalismo didático: os depoimentos do diretor homenageado são tão sóbrios e inteligentes - enquanto continuador de Erich von Stroheim e do Buñuel realista - que quedamos impactados perante o que é mostrado e confirmado. A montagem de cenas de obras do grande Ozualdo Candeias é muito oportuna. Um curta-metragem discreto porém assertivo. Para quem ama este gênio de nosso cinema, obrigatório! (WPC>)
Com Minha Sogra em Paquetá
3.1 3De fato, quando Dercy Gonçalves está em cena, o filme consegue provocar o riso por conta de seus exageros. Mas o que ela faz com um cavalo e seu condutor, no terço final, é indefensável: minha mãe ficou irritadíssima, inclusive porque ela sequer paga ao figurante, que fica inerte enquanto as situações previsíveis de resolução acontecem. O casal jovem é canastrão e as crianças são graciosas. E, por mais que as apresentações da escola de samba soem um tanto arrítmicas, no modo como invadem a narrativa e se demoram - desencadeando um desfecho anticlimático para o filme -, elas comprovam o zelo do diretor em relação à trilha musical. É uma produção que, em suas convenções chanchadescas tardias, envelheceu mal. Mas que, ainda assim, diverte e faz com que prestemos atenção ao seu realizador, infelizmente pouco valorizado pelos enciclopedistas cinéfilos. De minha parte, estou esforçando-me para corrigir isso! (WPC>)
A América Do Sul
3.4 1Obcecado pelo diretor que sou, não conhecia este filme. O que tornou-se "explicável" nos primeiros segundos de projeção: em verdade, é um debate sobre curtas-metragens dados como perdidos, nem moldes que antecipam extras de DVD. Pouco a pouco, o que não se parecia considerar um filme em si (por conta do registro em vídeo, enquanto debate) torna-se uma obra exemplar, na qual o diretor demonstra uma erudição acachapante, com muitas críticas a uma concepção arrivista da Antropologia. Fiquei surpreso ao descobrir o "caminhoneiro da Boca do Lixo" tão afinado aos discursos acadêmicos, para que consiga implodi-los, de maneira inteligentíssima. Depoimentos magistrais, registros mui singulares de épocas e lugares, e um filme (sim, filme) obrigatório para se conhecer mais sobre a imponência deste grande realizador brasileiro! (WPC>)
Deixa, Amorzinho... Deixa
2.5 4Apesar do título suspeitoso e execrável, o file é bem mais elaborado do que a publicidade fez parecer: o enredo, em sua brasilização de O CÉU PODE ESPERAR e afins, proporciona boas interpretações ao elenco envolvido e um aproveitamento elaborado de personagens lúbricos históricos. Sandra Barsotti, colaboradora habitual do diretor, está contida, enquanto Maria Lúcia Dahl arrebenta como uma feminista assumida e ostensiva. Quem acreditaria no Ney Latorraca enquanto conquistador heterossexual? (risos) Grande Otelo, apenas por aparecer, já nos provoca risos legítimos. E o cuidado do cineasta com a trilha musical (ótimo o tema próprio, inclusive) é mui laudatória. As seqüências que mostram a infância dos gêmeos evidencia um freudianismo extraordinário. Não gostei tanto quanto poderia gostar, mas achei o projeto inteligente e merecedor de novas chances. De uma hora para outra, estou recomendando para todo mundo um diretor que eu não conhecia - e que, infelizmente, partiu muito cedo, tendo realizado pouquíssimos filmes! (WPC>)
O Marido Virgem
2.6 4Surpreendentemente, apesar de eu ter pesquisado as pornochanchadas em meu Mestrado, eu não conhecia o Saul Lachtermacher até um dia desses. E, sem ter visto os filmes, cri que ele fosse medíocre por causa de seus títulos super machistas. Erro meu! A despeito do ponto de partida machista, inevitavelmente, o roteiro torna o protagonista legitimamente defensável (por ele não ser ciumento, por exemplo). O modo como os adultérios são justificados (mediante concessão psicanalítica) é interessante e a revelação da "maldição" impotente é hábil e divertido. Minha mãe gargalhou em diversas cenas e eu fiquei realmente espantado com a guinada ideológica que o filme dá: a partir da mais repetitiva das situações, faz com que percebamos que há um problema nisso (vide as conversas do ciclo feminino, desde a despedida de solteiro). Quem diria? (WPC>)