Bom filme, mas sem brilho. Sinisi faz um Truman interessante, mas o roteiro acaba por deixá-lo cansativo. A história de Truman é cheia de dilemas, pois viveu um período de grandes transformações/decisões e assumiu posturas que até hoje geram problemas no sistema internacional. Mas a direção não problematiza tanto estes momentos, às vezes prefere voltar-se para os aspectos pessoais da vida do homem e não do presidente. A caracterização da primeira-dama como uma mulher mais velha também ficou um pouco comprometida. Por fim, temos mais uma vez a tentativa de construir heróis humanos num país repleto de super-heróis. Bom apenas, mas que será esquecido com o tempo até que façam outra cinebio mais crítica... ou como Lincoln!
Poucas vezes esbarramos com uma obra de arte como esta. O filme é uma preciosidade! Tecnicamente ele é perfeito e busca uma linguagem que o diferencia dos demais que abordam a mesma temática - e aqui a concorrência é dura, pois temos Kamchatka, Machuca, O Anos que meus pais saíram de férias, dentre outros -, pois a inserção dos "quadrinhos" causa um impacto perfeito. Ao mesmo tempo em que poderia reduzir a força das imagens reais da violência, também serve para que elas ganhem ênfase, pelo dinamismo da edição e pelo que vemos e criamos. O espectador é presenteado com os momentos pontuais que utilizam essa técnica narrativa. O roteiro também é muito bem construído, pois consegue transmitir o clima presente na época da ditadura militar, seja na vida cotidiana das pessoas quanto dos militantes. Coloca algumas questões em xeque e propõe perspectivas distintas. É maravilhoso ouvir os diálogos entre mãe e filha durante o aniversário de Ernesto. A dureza do significado daquele momento para gerações distintas. Mas temos a história de Ernesto que é igual a de todos os garotos de sua idade, mas completamente diferente. E Ávila procura não fazer juízo de valor, apenas retrata o que o menino vivencia, o quão é difícil ser igual num universo que ele já percebe as diferenças. A sacada da bandeira também é perfeita! Como um menino conseguiria entender todo aquele processo? E que final!!! A explicação para este meu último questionamento vem no final. O filme é a mais uma prova de que o cinema argentino constrói grandes filmes porque privilegia o roteiro e as interpretações. Não está preocupado com a beleza dos atores, mas com a dramaticidade da trama... O filme termina e somos obrigados e pararmos e refletirmos sobre tudo que vimos e o significado daquilo. E mais, o porquê de a Argentina ter conseguido expurgar o fantasma da ditadura e o Brasil ainda conviver com ele nos porões!
Um filme muito superior ao primeiro. Seja pela qualidade do roteiro, que traz uma intriga mais bem elaborada, ou pela interpretação de Connery. Também, as mulheres passam a ter mais sentido na trama e não servem apenas para embelezar o filme. De fato, este poderia ser o primeiro filme de Bond, pois além de tudo reforça o conflito existem durante a Guerra Fria. Cabe, ainda, ressaltar a qualidade da direção, pois proporciona ao filme um caráter mais verossímil que Dr. No. De quebra, temos Veneza que Bond retornará-la em Cassino Royale, numa versão mais hardcore que a de Connery. Mas isso somente no século XXI.
Mais do mesmo. Moore parte de sua fórmula consagrada para documentários e cumpre muito bem esse papel. Ele trabalha com informações de modo tão envolvente que não leva o público a pensar, apenas o conduz à conclusão que ele quer que se chegue. Não quero dizer com isso que suas informações estejam erradas, etc. Apenas que ele é um grande manipulador. Faz analogias com situações históricas se apropriando de todas as liberdades possíveis, mas que nem sempre correspondem à realidade, haja vista ser um caso particular. Mas como resultado final fica perfeito. Neste filme, a comparação com o Império Romano é uma sacada de mestre. Também tem o lado sensacionalista, que faz com que o espectador perceba Moore como um herói. OU outra pessoa "comum" qualquer poderia colocar aquela fita do CSI em torno dos prédios sem ser presa?! Mas tudo isso não reduz a importância das denúncias de Moore e sua interpretação acerca da maneira com que o capitalismo é apropriado por grupos de poder nos EUA. Temos um bom documentário!
A simplicidade deste filme é tocante. Um roteiro completamente maniqueísta e que trata o público como um idiota que necessita ter muito claramente em mente quem é quem. Também não exige grandes esforços interpretativos por parte dos atores, uma vez que se considerarmos que uma pessoa com uma faca destrói todo o exército soviético, já está construída trama mais surreal possível. O mais interessante é que o nível de abstração da realidade extrapola qualquer possibilidade de consideração crítica. Ou o espectador aceita como uma grande piada e se diverte, ou tem de parar tudo e não assistir mais ao filme. A própria exaltação dos guerrilheiros afegãos - com uma frase fantástica nos créditos finais - acaba soando como um ironia histórica. Também há todos os clichês que foram criados por Stallone e que entraram para a história do cinema, mas isso não quer dizer que o filme tenha alguma qualidade. Uma piada criada no final da guerra fria para que os EUA mostrasse para o mondo quem eram os malvados... e pensar que as torturas dos soviéticos parecem brincadeira de criança em comparação à técnica exposta em A Hora Mais Escura.
Fotografia impecável. Como muitos outros filmes de Spielberg, a fotografia tem importância ímpar para que a trama ganhe em densidade. E, exemplo máximo disso temos A Lista de Schindler. Lincoln segue esta mesma linha. Também temos um personagem central muito forte e magnificamente interpretada por Day-Lewis. Um mito que consegue manter a integridade, mesmo quando Spielberg mostra que a "construção da democracia não passa, necessariamente, por caminhos democráticos". Evidentemente que Spielberg apenas pincela essa questão e não a torna o aspecto mais importante da trama, haja vista esta discussão poder abalar a figura do mito. Semelhante a filmes contemporâneos, como A Hora Mais Escura, Lincoln busca justificar os meios pelos fins, fato que gera estranhamento ético, mas somente àqueles que param para pensar no que está acontecendo, no significado dos atos de um presidente. Mas a direção, por outro lado, prefere conduzir a trama como se fosse uma ode a Lincoln, exaltando cada uma de suas palavras, além de sua imagem. Ao final, temos a construção de um mito... e, para que não paire qualquer dúvida sobre sua importância, morreu assassinado. O significado disso para os EUA é notório e reflete até nos dias de hoje. Assim, assistir a este filme é, muito mais do que apreciar a beleza de uma fotografia - inclusive ao retratar o ápice da barbárie humana, que é a guerra -, configura-se numa tentativa de mostrar ao povo estadunidense que as exceções são válidas e cabíveis quando se busca algo mais nobre. Fica o questionamento acerca de quem tem o direito de ditar tais valores de nobreza! Mas isso Spielberg não propõe ser discutido!
Apenas boa! Talvez sua característica mais interessante tenha sido conseguir ser fiel "ao espírito" de alguns filmes de Allen. Alguns sacadas boas nas falas, mas um roteiro simples demais e que, apesar de proporcionar um filme curto, cansa. Os atores não apresentam grande destaque, apenas cumprem seu papel de modo simples. Por fim, temos uma comédia romântica francesa - talvez haja pequenas diferenças das estadunidenses, mas que pela qualidade do filme nem vale a pena ressaltar - que está longe da qualidade de outra. Um ideia que se perdeu num roteiro comum!
Muito boas interpretações, um cenário que não é comumente exposto quando assistimos filmes argentinos, e que, por isso, ganham mais importância, pois a realidade ali apresentada assemelha-se a da grande maioria dos países da américa latina. Darín como padre também se sai bem, com uma interpretação mais contida numa interpretação que, se não é explendorosa como muitas outras suas, consegue dividir bem a importância em cena com os demais. Também é interessante perceber como a opção narrativa e visual fogem da linha braileira dos filmes "de favela". E aí não cabe nenhum tipo de comparação qualitativa, apenas ressalta-se a diferença. Se pensarmos em Cidade de Deus, aí a distinção fica ainda maior. Mas nem por isso a violência deixa de ser o grande tema do filme, mas ainda agrega uma discussão necssária e que muitos preferem não tocar na questão, qual seja, a participação da Igreja Católica em todo este processo. Sem contar que no filme alguns dogmas são questionados, e de modo muito interessante. Todos estes aspectos juntos fazem do filme algo diferenciado, mas não excepcional. Também não é um roteiro perfeito, pois em alguns momentos opta por saídas comuns e esperadas... às vezes até forladas.
O que dizer da cena da morte do padre interpretado por Darí? Até caberia uma explicação para ele pegar o revólver no carro, mas ficou tão "preparado" para ele ser assassinado que deixa o espectador frustrado.
Mas é um filme que merece ser assistido... nem que seja para constatarmos que a Argentina também vive com problemas muito semelhantes aos de todos os países da América Latina!
Um filme necessário! O processo de revisão histórica nem sempre é fácil para um Estado, contudo, não é possível abandoná-lo em prol de não esbarrar com "temas delicados". Este filme vai ao encontro "do problema", pois passa a desnudar aspectos históricos que atingem certa parcela da sociedade que tende a entender o período da ditadura militar como uma "revolução". E mais, nega a interferência dos Estados Unidos em todo o processo que levo à derrubada de Jango e a construção de toda a estrutura repressiva que veio na sequência. Aí a funça dos documentaristas é impecável, como exímios pesquisadores, vão à fonte para comprovarem o que já era sabido por muitos. Através de documentos escritos e audios, a presença dos EStados Unidos na construção da ditadura militar brasileira fica cada vez mais evidente. E a direção consegue essa qualidade incrível de informação com a utilização de uma linguagem extremamente acessível e objetiva. Um documentário na melhor acepção da palavra, por isso, necessário que seja visto e revisto por todos os brasileiros para que saibamos qual é o limite da influência externa no país... inclusive nos dias de hoje!
Impecável! Difícil encntrarmos um filme com tamanha beleza estética e densidade dratúrgica como este. Com estas mesas características, contudo de outra maneira, acredito que Lavoura Arcaica seja um bom exemplo. Corações Sujos parece ser um filme milimetrado, cou seja, a direção tem controle absoluto da atuação do atores e da cena. Parece ser um filme extremamente ensaiado. E as interpretações são muito seguras, densas e "falam" até pelos olhares. Um grande desafio foi ter feito o filme em japonês, contudo, essa opção acabou ampliando sua dimensão, uma vez que é possível perceber o abismo cultural entre os povos. A direção de arte também merece um prêmio pela contrução da vila e dos cenários e das locações, de modo geral. Por fim, a adaptação do roteiro, ou inspiração no romance, como alguns preferem, foi perfeita. Utilizando como pano de fundo o roteiro, é criada uma trama de amor que ressalta a tradição e cultura japonesa. Amorim constrói uma pequena obra de arte!
Bom apenas, infelizmente! A proposta é muito interessante, contudo, apesar de ser bem produzido, com um fotografia muito boa, parece que a direção opta por assistir a tudo de longe. Assim, as pessoas que são entrevistadas acabam ficando rasas... e não por falta de potencial, mas porque ñão foram bem exploradas. O reprtório também é muito rico, mas a participação dos autores/cantores também foi subaproventada. Enfim, como proposta é incrível e o trailer "vende" um produto impecável, no entanto, o resultado final acaba sendo apenas uma promessa a ser concretizada!
Depois da compra do box o melhor a fazer é rever todos os filmes em ordem cronológica e poder entender melhor o efeito que um personagem como James Bond causa no cinema. E começar por Dr. No acaba tendo um sabor especial, primeiramente pela oportunidade de rever a clássica atuação de Connery e segundo porque o politicamente os efeitos especiais não eram as grande estrelas, mas sim o próprio personagem. E Connery está por si neste filme, pois sua interpretação de 007 supera o roteiro e o envelhecimento da tecnologia que vemos nas telas (hoje parecendo um pouco fake demais). Temos os efeitos da Guerra Fria, temos belas mulheres (mesmo que neste caso Andress possa parecer que está no filme exatamente pelo que é, ou seja, uma mulher estonteante!) e um vilão diferenciado. Outra vez, para os padrões do 007 atual, a forma com que se resolve este filme é rápida demais e acaba não sendo aproveitada suficientemente. Também, existe certa ingenuidade no roteiro, o que acredito repercutir no resultado final. Algumas situações são "forçadas" e ainda não vemos o aparato técnico do agente. Mas tem Connery que consegue matar como se uma rainha pudesse atribuir esse direito a qualquer pessoa e isso fosse válido. Exceto se ela quisesse matar britânico, o mundo é grande demais para ficar sob a jurisdição de uma rainha... mas ao assistirmos ao filme esta questão se torna acessória. Mas muito relevante para entendermos a maneira com que os britânicos pensam o mundo... mas o filme continua sendo muito bom, mas não excelente. Que venham os próximos!
Há alguns anos adentrei no universo teen para escrever três peças (TEENS, BOYS AND GILRS e VIOLÊNCIA) e quase tive uma overdose de temas que se repetiam. Tanto na literatura quanto no cinema. Poucas vezes esbarrava com algo com originalidade. Daí, o óbvio, a adolescência é a mesma coisa e as histórias variam em níveis distintos, mas nada é extraordinariamente novo... então, o que faz um filme ou uma história se diferenciar, como neste caso? Outra vez, não da para destacar apenas um aspecto, tudo tem de estar muito bem para que o convencional deixe de sê-lo e se transforme em algo novo. É a sensação de ver o que já viu (conheceu/ouviu falar, etc), mas mesmo assim querem saber o que acontece no final. E este filme tem isso, já começa com um título perfeito e os personagens acabam sendo um mosaico do que é a adolescência. Dramas, muitos dramas!!! Mas algo mais além do sofrimento... Este filme é um misto de tudo, mas tudo em dosagem adequada para ficar belíssimo. Interpretações emocionantes, roteiro que procura fugir de piadas (e/ou cena convencionais) e acaba propondo uma leitura visual do roteiro muito empolgante. Os atores construíram personagens densos e multilaterais, Lerman faz um adolescente difícil de ser descrito em poucas palavras, um misto de vários "problemáticos" do cinema, mas com uma coerência incrível. Sensível, mas não idiotizado. Watson também faz uma personagem muito intrigante e cativante, que se mostra gradualmente... Miller é o mais "fácil", pois vem carregado de certos estereótipos, mas ainda assim é contido pela direção. A trilha sonora é algo diferenciado, belíssimo. Ah, e nos extras, não deixem de assistir a cena do Poema... difícil encontrar algo que seja tão transparente quanto aquelas palavras de Michael. Quando ele termina de ler o poema, a sensação de quem assiste é a mesma dos demais personagens... desolação e incapacidade para emitir qualquer palavra. Belo roteiro em uma direção extremamente cuidadosa!
Um filme asqueroso! Não pelos seus aspectos técnicos, pois são bons, mas nada que mereça destaque demasiado, mais pelo que representa. Este filme é uma libelo à atuação pragmática dos Estados Unidos no mundo. Ele se reveste de uma suposta crítica e mea culpa, pois diz que "a tortura acabou", mas na verdade, em todo o momento justifica a utilização desta técnica para alcançar os objetivos políticos do país. A heroína é um substrato de uma típica cidadão estadunidense, pois vive obstinada por uma construção política estadunidense que justificaria qualquer ação. Bigelow tenta transformar a personagem de Chastain num modelo a ser seguido, pois odeia um personagem criado para justificar tudo! Nesse sentido o filme perde em interesse, pois a construção de Chastain é muito rasa, ele não tem grandes atrativos dramáticos e acaba sendo uma personagem sem brilho. Os coadjuvantes parecem criados pelo "serviço de propaganda à Guerra ao Terror", pois agem como máquinas e reproduzem falas que as vezes parecem críticas, mas que estão sustentando uma guerra. E a maneira heroica com que a trama é abordada, deve ter feito com que milhares e milhares de pessoas se alistassem para continuarem a luta contra terroristas. Um filme propaganda de qualidade inferior a Argo nos aspectos técnicos (roteiro de Argo consegue deixar mais claro ainda quem são os bons e os maus), mas tão terrível quanto este quando se compara ao efeito que provoca na construção de um inimigo islâmico. E Bigelow segue na escola da propaganda!!!
Que filme cansativo... parece que o carisma do Homem de Aço está acabando! Bom, por mais que os efeitos especiais estejam em cada milímetro do filme e se tornem atrativos, não deveria se transformar no "prato principal". E esse é o grande problema, pois o roteiro não é grande coisa e o humor de Stark acaba se tornando cansativo com o passar do tempo. Como resultado temos mais de duas horas para resolver uma trama que não gera grande expectativas, nem menos diante do enfrentamento entre protagonista e antagonista. As "grande revelações" não geram suspense e o roteiro segue capenga para um final que acaba e parece tão morno quanto quando começou. Assim, o que poderia ser um grande filme de super-herói, se transformou num apanhado de efeitos e cenas de ação. Muitas opções de roteiro são pobres e já usadas ao extremo, como a presença do menino. Com isso, talvez o filme se de melhor na sessão da tarde... que falta faz um roteiro como o de Batman ou Watchmen!
Demorei algum tempo para fazer qualquer comentário sobre este filme para poder passar a impressão inicial, mas mesmo ao revê-lo na tela pequena o impacto não desaparece. Muita coisa já foi dita sobre este filme que é uma grande obra de arte. E pode ser classificado como tal porque a direção o constrói desta maneira. Casa cena é planejada para se transformar em algo histórico, para ficar marcada na memória do espectador. A fotografia do filme é impecável, bela em sua plenitude. Também, as famosas referências de Tarantino aos "seus mestres" pontuam por todo o filme, desde o zoom rápido até enquadramentos que somente encontramos em clássicos westerns. E a escolha do elenco é um acerto à parte, pois Tarantino aposta na certeza de ter um Waltz e investe pesado nos personagens de DiCaprio, Foxx e Jackson. Inseridos na "mitologia tarantina", ganham uma dimensão ainda maior. Por fim, para que tivéssemos uma obra completa falta mencionar o roteiro. Simples ao extrema, mas com a genialidade de quem sabe contar uma boa história... e tem sangue, como tem sangue. Daí, aproveita-se para vir a assinatura de Tarantino... que não esquece de criar uma trilha sonora que perdurará para sempre. Um grande show cinematográfico que, apesar de ter quase três horas de duração, cumpre seu papel. Um filme histórico.
O documentário não tem nem 60 minutos, mas sequer consegue se manter nesse tempo. A ideia de discutir a perseguição de líderes religiosos protestantes no Irã pré e pós-revolução iraniana é um grande mote para uma grande reportagem, um documentário que traria luz a algumas questões e provocaria outras, no entanto, tecnicamente este documentário é muito fraco. As imagens reais que são prometidas, pouco contribuem para revelar alguma coisa. Os documentos apresentados não conseguem ser explorados devidamente e, por fim, os entrevistados estão mais interessados em exaltar e construir mártires do que analisar a situação em que foram construídos. Não há uma discussão mais profunda acerca da situação política do Irã, apenas fala-se na perseguição aos cristãos. Passa-se muito tempo repetindo a mesma coisa e sequer é trazida uma novidade para que se mantenha a atenção. Exceto a família dos mortos, apenas membros da congregação são entrevistados e isso deixa o documentário ainda mais fraco. Mas o pior de tudo é a baixa qualidade do produto final. Num momento em que os documentários ganham cada vez mais espaço devido à qualidade, este surge na contramão e apresenta um produto final que mais parece uma produção amadora. Parece que, como foi feito pelos filhos da vítima, eles estavam mais preocupados em idolatrar o pai do que discutir a situação política dos cristãos no Irã. Assim, o resultado final pode ter gerado a comoção entre os familiares e membros da congregação, mas para um público que buscava um documento, é decepcionante.
Um filme tocante! O tema, em si, já é bastante delicado e as mãos de Couter ganhou uma dimensão ainda maior. Na verdade, o filme discute a questão do preconceito contra um grupo específico da sociedade, os travestis, que foi excluído da cidade (Buenos Aires) por não ser entendido. Mas é muito mais do que isso, pois Couter propõe uma reflexão sobre a solidão, sobre a perda, sobre não compreender a razão de existir... O roteiro é bem construído, apesar de não ser extremamente original e, em alguns momentos aceita a fórmula de folhetins para provocar a emoção no espectador. A direção foi muito feliz ao escolher a atriz Maite Lanata, ela conseguiu construir uma Julia densa, mas infantil. No entanto, Villada às vezes carrega tanto na construção de sua personagem que parece ter problemas além da própria rejeição devido à sua sexualidade. Alguns poderiam dizer é uma ingenuidade, mas parece demasiado e soa com certa artificialidade em alguns momentos. La Serna também parece ficar um tanto caricato devido à embriaguez... mas esses excesso não chegam a comprometer o filme, pois todo o restante acaba tendo mais importância. A trilha sonora também é uma preciosidade e as letras das músicas são fundamentais para a trama. Talvez a questão social fique um tanto à margem da trama quando a direção opta pela necessidade de resolver o problema da família de Julia, assim, em alguns momentos as situações são resolvidas muito rapidamente (como no final), para que o filme não fique mais longo. Enfim, um filme muito bom com um olhar diferenciado...
Não é um gênero que me agrade tanto, contudo, isso não tira a qualidade do filme. Temos uma dupla de atores que consegue criar certe empatia e mesmo cumplicidade. A temática não foge do arcabouço temático os westerns, mas nem por isso faz do filme algo banal. A fotografia é bonita e as interpretações condizentes com a proposta da direção, inclusive criando personagens estereotipados, os quais constantemente estão presentes neste tipo de filme. Enfim, não é uma obra de arte como Era Uma Vez no Oeste, que extrapola o gênero, mas acaba sendo um filme correto em sua proposta e que funciona mais em conjunto do que por destaques individuais.
Este é o tipo de filme que conforme vamos assistindo, independentemente do caminho que segue a trama, a angústia vai se tornando cada vez mais dilacerante, pois nos defrontamentos com o que somos. O filme não é fantástico, tampouco a trama é original, uma vez que se trata de uma história de amor entre pessoas diferentes em tudo, mas que simplesmente se amam. Como disse, nada de novo... Mas as circunstâncias em que ocorre esta história de amor que dilaceram qualquer pessoa. Depois de Hotel Ruanda - que é uma verdadeira obra prima -, temos este filme mais centrado na relação afetiva do jornalista com a jovem Gentille. A partir daí somos catapultados aos limites que a insanidade humana pode chegar e o quão desinteressante a vida humana é para certas pessoas. É duro ver o país se esvaindo em sangue e a ONU se omitindo em tudo que acontece. E, quando se fala em números desta tragédia torna-se ainda mais difícil assistir ao filme sem ficar engasgado. Ou seja, o pano de fundo desta história de amor é tão duro que pequenos gestos ganham uma força descomunal. Mas esta é a grande qualidade do filme, optar por construir uma trama que estivesse inserida num local em que a "civilização" não tivesse interesse em olhar. E Ruanda é isso, uma terra de povos tribais que se matam indistintamente... esta é a simplificação que tentou-se construir para relativizar o genocídio que lá ocorreu, ou seja, eles não eram civilizados, então as mortes brutais eram normais! Duro imaginar que muita gente pensava desta maneira. Enfim, temos um cenário arrasador, mas o filme, em si, não é excepcional. O roteiro acaba sendo um tanto arrastado e as situações, por vezes, demoram para acontecer. O elenco é bom, mas não mais do que isso. Detalhe para o efeito com sangue, um tanto fake demais, o que prejudica um filme no qual a violência e morte estão em todo canto. Também tem alguns momentos em que a direção quis fazer com que as falas dos personagens fossem mais importantes que a trama, e, nesses momentos o filme perdia em dramaticidade. Mas mesmo com esses pequenos deslises, o filme chega ao final de modo íntegro, p
ois não deixa que sentimentalismos redimam a tragédia de um povo, o diretor não faz concessão.
Isso é bom. Como disse, não chega a ser um Hotel Ruanda, mas merece ser assistido para que as pessoas reflitam sobre seu posicionamento frente aos acontecimentos mundiais e o que é prioridade!
Um suspense interessante, mas nada de novo. Talvez a maior atração seja a língua e o ritmo, que altera um pouco do convencional, mas fica por aí. A interpretação de Hennie em alguns momentos parece ser carregada demais, até caricata, mas da para suportar. O restante temos muito clichês e um suspense com reviravoltas. Um thriller legalzinho, mas nada que mereça destaque demasiado. Diversão.
É difícil escrever uma história de amor e não cair no convencional, ou mesmo ser piegas. Já disseram alguns românticos que o amor é piegas por natureza e que a racionalidade exacerbada por evitar a pieguice, mas suprime a paixão. Enfim, seja lá qual for a definição de amor, o fato latente é que Medianeras é diferente de tudo isso, é belo em toda sua concepção. Desde a analogia com a cidade de Buenos Aires até com o significado de medianeras. Tem humor, mas ele não é o mais importante e às vezes sequer necessário, provoca certa angústia e depressão (caso se identifique com aquelas histórias), mas também não é um filme que procura acabar com o espectador de tanta tristeza. Por fim, há dois personagens que estão perdidos numa cidade, são pessoas como quaisquer outras, mas pelo olhar dessa direção magnífica se transformam em outra coisa, em poesia urbana. Seja lá qual for a definição que as pessoas tenha disso, mas este filme é harmônico em todos os sentidos. A trilha sonora compõe o ambiente e ajuda, muitas vezes, a conduzir o sentimento do espectador. As cenas parecem ter sido planejadas milimetricamente pela direção de arte. O roteirista utiliza as palavras apenas para o necessário, o restante deixa para as imagens. Mais uma daqueles filmes que podemos dizer "um argentino de alta qualidade"! E simples, como é simples...
Este é o típico filme que é necessário algum tempo para pensar no que acabou de assistir divido ao envolvimento que se tem com a história e o quanto ela está impregnada em sua vida. Renato Russo é Legião Urbana representam muito, então, quando me defrontei com o "Renato" novamente acabei perdendo um pouco do senso crítico... e logo nos créditos iniciais, com "aquela música" (apesar de o transcorrer do filmes todas elas serem "aquela música"!), já há um envolvimento emocional com a trama. Mas passadas algumas horas, talvez já seja possível falar alguma coisa sobre este filme, ou, talvez, simplesmente escrever algo que venha a refutar futuramente, por este é um filme diferente. Não é como Cazuza, que parecia um vídeo cliplão conservador produzido pela mãe dele, é diferente. Apesar de a interpretação de Daniel Oliveira ser algo fora do comum, a trama tentou construir um ídolo da Fundação Viva Cazuza ao invés de expor o "rebelde" que ele era e o significado de suas letras que buscavam inspiração em Lupicínio Rodrigues. Enfim, Somos Tão Jovens não é Cazuza. Então o que e este filme? Ainda tenho de comentar outra coisa, porque incomoda um pouco como nos defrontamos com o "rock de Brasília" e neste filme fica evidenciado. É certo que muita gente já escreveu sobre isso, mas neste filme é latente (e verdadeiro!). Este rock, que surge dentre os filhos de embaixadores, altos funcionários de ministérios e professores da UNB talvez seja o exemplo do processo depressivo que nos avassala. Por mais que esse grupo de jovens tenha trazido Sex Pistols e todo o punk rock que tinha forte contestação, não era algo que surgia da periferia. E, por mais que Tabatinga sirva de inspiração para Renato Russo, a passividade do povo, se entendermos sob o ponto de vista do "rock de Brasília" só fui alterada porque a classe de "burgueses" resolveu contestar seus pais e ouvir "música não convencional". A revolução musical de Brasília (que espalhou para todo o Brasil) foi algo produzido por jovens que viveram na Europa, EUA, África do Sul, etc., e que impuseram um tipo de som aos brasileiros. É duro constatar mais um processo de colonização: pela música "de fora" e pela classe dominante brasileira... não havia "povo" no "rock Brasília". Mas paro por aqui com esta reflexão, porque também fui "colonizado" pelas música da Legião e durante a sessão de cinema (como já havia ocorrido com o espetáculo sobre Renato Russo) que estava bem vazia, pude cantar (baixinho) todo as músicas do filme (na peça a gente podia gritar até!!!). Então, o envolvimento emocional foi pesado! Mas o filme não é fantástico, é apenas uma versão estendida do especial que a Rede Globo fez, transformado em linguagem cinematográfica. Tem momentos muito interessantes, mas não conseguiu englobar esse personagem "Renato Russo". Talvez também tenha havido certo moralismo por parte dos produtores para que o filme pudesse ser mais "popular". É bonito, bem produzido, mas não é o filme que perdurará como um "grande filme", talvez sobreviva devido à temática. Thiago Mendonça também conseguiu compor um personagem muito bom, que é ajudado pelo aspecto físico. Emocionante, mas não eternizante!
Trata-se de um filme diferenciado. Primeiramente pelo óbvio, ou seja, sua fotografia. Ang Lee conseguiu construir um filme que é belo em todos os aspectos visuais e ele utiliza deste recurso para suprir uma dificuldade narrativa que seria a própria situação que os personagens (aqui, considero o tigre como um personagem!) se encontram. A trama é simples, mas isso não a desqualifica, pelo contrário, faz com que o espectador entenda muito bem o que a direção pretende. Tem alguns aspectos de "autoajuda" que podem ser um pouco maçantes e certa "evangelização" que cansa, mas o resultado final, abstraindo esses dois aspectos, acaba sendo muito bom. Em nível de dificuldade, devido às características, acredito que se equipare a "Naufrago" e "127 horas", pois temos o personagem consigo mesmo. Se havia "Wilson" em Naufrago e "a câmera" em 127 horas, em Pi temos o tigre. Um personagem que serve para as reflexões mais profundas do personagem. Também, o filme ganha em potencialidade porque a direção, apesar destes aspectos que apontei como negativos, passa estas mensagens gradualmente. Quando se percebe já estamos envolvidos com o personagem Pi e sua epopeia. Também, sabiamente, a direção desloca o foco da tensão da dúvida "será que ele vai sobreviver" para "como ele vai sobreviver" e isso faz com que o espectador mude seu foco e passe se preocupar com o que foi o motivador para ele não se entregasse, haja vista todos sabermos que ele vai se salvar. Funcionou bem para os objetivos da direção. Assim, temos um filme muito agradável e carismático, cheio de "lições"... o que agrada muitas pessoas e, àqueles que não gostam disso, resta uma bom aventura. Ang Lee conseguiu conquistar um público bastante diversificado com este filme!!!
Truman
3.1 4Bom filme, mas sem brilho. Sinisi faz um Truman interessante, mas o roteiro acaba por deixá-lo cansativo. A história de Truman é cheia de dilemas, pois viveu um período de grandes transformações/decisões e assumiu posturas que até hoje geram problemas no sistema internacional. Mas a direção não problematiza tanto estes momentos, às vezes prefere voltar-se para os aspectos pessoais da vida do homem e não do presidente. A caracterização da primeira-dama como uma mulher mais velha também ficou um pouco comprometida. Por fim, temos mais uma vez a tentativa de construir heróis humanos num país repleto de super-heróis. Bom apenas, mas que será esquecido com o tempo até que façam outra cinebio mais crítica... ou como Lincoln!
Infância Clandestina
4.0 108Poucas vezes esbarramos com uma obra de arte como esta. O filme é uma preciosidade! Tecnicamente ele é perfeito e busca uma linguagem que o diferencia dos demais que abordam a mesma temática - e aqui a concorrência é dura, pois temos Kamchatka, Machuca, O Anos que meus pais saíram de férias, dentre outros -, pois a inserção dos "quadrinhos" causa um impacto perfeito. Ao mesmo tempo em que poderia reduzir a força das imagens reais da violência, também serve para que elas ganhem ênfase, pelo dinamismo da edição e pelo que vemos e criamos. O espectador é presenteado com os momentos pontuais que utilizam essa técnica narrativa. O roteiro também é muito bem construído, pois consegue transmitir o clima presente na época da ditadura militar, seja na vida cotidiana das pessoas quanto dos militantes. Coloca algumas questões em xeque e propõe perspectivas distintas. É maravilhoso ouvir os diálogos entre mãe e filha durante o aniversário de Ernesto. A dureza do significado daquele momento para gerações distintas. Mas temos a história de Ernesto que é igual a de todos os garotos de sua idade, mas completamente diferente. E Ávila procura não fazer juízo de valor, apenas retrata o que o menino vivencia, o quão é difícil ser igual num universo que ele já percebe as diferenças. A sacada da bandeira também é perfeita! Como um menino conseguiria entender todo aquele processo? E que final!!! A explicação para este meu último questionamento vem no final. O filme é a mais uma prova de que o cinema argentino constrói grandes filmes porque privilegia o roteiro e as interpretações. Não está preocupado com a beleza dos atores, mas com a dramaticidade da trama... O filme termina e somos obrigados e pararmos e refletirmos sobre tudo que vimos e o significado daquilo. E mais, o porquê de a Argentina ter conseguido expurgar o fantasma da ditadura e o Brasil ainda conviver com ele nos porões!
Moscou Contra 007
3.7 198 Assista AgoraUm filme muito superior ao primeiro. Seja pela qualidade do roteiro, que traz uma intriga mais bem elaborada, ou pela interpretação de Connery. Também, as mulheres passam a ter mais sentido na trama e não servem apenas para embelezar o filme. De fato, este poderia ser o primeiro filme de Bond, pois além de tudo reforça o conflito existem durante a Guerra Fria. Cabe, ainda, ressaltar a qualidade da direção, pois proporciona ao filme um caráter mais verossímil que Dr. No. De quebra, temos Veneza que Bond retornará-la em Cassino Royale, numa versão mais hardcore que a de Connery. Mas isso somente no século XXI.
Capitalismo: Uma História de Amor
4.0 221Mais do mesmo. Moore parte de sua fórmula consagrada para documentários e cumpre muito bem esse papel. Ele trabalha com informações de modo tão envolvente que não leva o público a pensar, apenas o conduz à conclusão que ele quer que se chegue. Não quero dizer com isso que suas informações estejam erradas, etc. Apenas que ele é um grande manipulador. Faz analogias com situações históricas se apropriando de todas as liberdades possíveis, mas que nem sempre correspondem à realidade, haja vista ser um caso particular. Mas como resultado final fica perfeito. Neste filme, a comparação com o Império Romano é uma sacada de mestre. Também tem o lado sensacionalista, que faz com que o espectador perceba Moore como um herói. OU outra pessoa "comum" qualquer poderia colocar aquela fita do CSI em torno dos prédios sem ser presa?! Mas tudo isso não reduz a importância das denúncias de Moore e sua interpretação acerca da maneira com que o capitalismo é apropriado por grupos de poder nos EUA. Temos um bom documentário!
Rambo III
3.2 289 Assista AgoraA simplicidade deste filme é tocante. Um roteiro completamente maniqueísta e que trata o público como um idiota que necessita ter muito claramente em mente quem é quem. Também não exige grandes esforços interpretativos por parte dos atores, uma vez que se considerarmos que uma pessoa com uma faca destrói todo o exército soviético, já está construída trama mais surreal possível. O mais interessante é que o nível de abstração da realidade extrapola qualquer possibilidade de consideração crítica. Ou o espectador aceita como uma grande piada e se diverte, ou tem de parar tudo e não assistir mais ao filme. A própria exaltação dos guerrilheiros afegãos - com uma frase fantástica nos créditos finais - acaba soando como um ironia histórica. Também há todos os clichês que foram criados por Stallone e que entraram para a história do cinema, mas isso não quer dizer que o filme tenha alguma qualidade. Uma piada criada no final da guerra fria para que os EUA mostrasse para o mondo quem eram os malvados... e pensar que as torturas dos soviéticos parecem brincadeira de criança em comparação à técnica exposta em A Hora Mais Escura.
Lincoln
3.5 1,5KFotografia impecável. Como muitos outros filmes de Spielberg, a fotografia tem importância ímpar para que a trama ganhe em densidade. E, exemplo máximo disso temos A Lista de Schindler. Lincoln segue esta mesma linha. Também temos um personagem central muito forte e magnificamente interpretada por Day-Lewis. Um mito que consegue manter a integridade, mesmo quando Spielberg mostra que a "construção da democracia não passa, necessariamente, por caminhos democráticos". Evidentemente que Spielberg apenas pincela essa questão e não a torna o aspecto mais importante da trama, haja vista esta discussão poder abalar a figura do mito. Semelhante a filmes contemporâneos, como A Hora Mais Escura, Lincoln busca justificar os meios pelos fins, fato que gera estranhamento ético, mas somente àqueles que param para pensar no que está acontecendo, no significado dos atos de um presidente. Mas a direção, por outro lado, prefere conduzir a trama como se fosse uma ode a Lincoln, exaltando cada uma de suas palavras, além de sua imagem. Ao final, temos a construção de um mito... e, para que não paire qualquer dúvida sobre sua importância, morreu assassinado. O significado disso para os EUA é notório e reflete até nos dias de hoje. Assim, assistir a este filme é, muito mais do que apreciar a beleza de uma fotografia - inclusive ao retratar o ápice da barbárie humana, que é a guerra -, configura-se numa tentativa de mostrar ao povo estadunidense que as exceções são válidas e cabíveis quando se busca algo mais nobre. Fica o questionamento acerca de quem tem o direito de ditar tais valores de nobreza! Mas isso Spielberg não propõe ser discutido!
Paris-Manhattan
3.4 391 Assista AgoraApenas boa! Talvez sua característica mais interessante tenha sido conseguir ser fiel "ao espírito" de alguns filmes de Allen. Alguns sacadas boas nas falas, mas um roteiro simples demais e que, apesar de proporcionar um filme curto, cansa. Os atores não apresentam grande destaque, apenas cumprem seu papel de modo simples. Por fim, temos uma comédia romântica francesa - talvez haja pequenas diferenças das estadunidenses, mas que pela qualidade do filme nem vale a pena ressaltar - que está longe da qualidade de outra. Um ideia que se perdeu num roteiro comum!
Elefante Branco
3.5 196 Assista AgoraMuito boas interpretações, um cenário que não é comumente exposto quando assistimos filmes argentinos, e que, por isso, ganham mais importância, pois a realidade ali apresentada assemelha-se a da grande maioria dos países da américa latina. Darín como padre também se sai bem, com uma interpretação mais contida numa interpretação que, se não é explendorosa como muitas outras suas, consegue dividir bem a importância em cena com os demais. Também é interessante perceber como a opção narrativa e visual fogem da linha braileira dos filmes "de favela". E aí não cabe nenhum tipo de comparação qualitativa, apenas ressalta-se a diferença. Se pensarmos em Cidade de Deus, aí a distinção fica ainda maior. Mas nem por isso a violência deixa de ser o grande tema do filme, mas ainda agrega uma discussão necssária e que muitos preferem não tocar na questão, qual seja, a participação da Igreja Católica em todo este processo. Sem contar que no filme alguns dogmas são questionados, e de modo muito interessante. Todos estes aspectos juntos fazem do filme algo diferenciado, mas não excepcional. Também não é um roteiro perfeito, pois em alguns momentos opta por saídas comuns e esperadas... às vezes até forladas.
O que dizer da cena da morte do padre interpretado por Darí? Até caberia uma explicação para ele pegar o revólver no carro, mas ficou tão "preparado" para ele ser assassinado que deixa o espectador frustrado.
O Dia que Durou 21 Anos
4.3 226Um filme necessário! O processo de revisão histórica nem sempre é fácil para um Estado, contudo, não é possível abandoná-lo em prol de não esbarrar com "temas delicados". Este filme vai ao encontro "do problema", pois passa a desnudar aspectos históricos que atingem certa parcela da sociedade que tende a entender o período da ditadura militar como uma "revolução". E mais, nega a interferência dos Estados Unidos em todo o processo que levo à derrubada de Jango e a construção de toda a estrutura repressiva que veio na sequência. Aí a funça dos documentaristas é impecável, como exímios pesquisadores, vão à fonte para comprovarem o que já era sabido por muitos. Através de documentos escritos e audios, a presença dos EStados Unidos na construção da ditadura militar brasileira fica cada vez mais evidente. E a direção consegue essa qualidade incrível de informação com a utilização de uma linguagem extremamente acessível e objetiva. Um documentário na melhor acepção da palavra, por isso, necessário que seja visto e revisto por todos os brasileiros para que saibamos qual é o limite da influência externa no país... inclusive nos dias de hoje!
Corações Sujos
3.6 264 Assista AgoraImpecável! Difícil encntrarmos um filme com tamanha beleza estética e densidade dratúrgica como este. Com estas mesas características, contudo de outra maneira, acredito que Lavoura Arcaica seja um bom exemplo. Corações Sujos parece ser um filme milimetrado, cou seja, a direção tem controle absoluto da atuação do atores e da cena. Parece ser um filme extremamente ensaiado. E as interpretações são muito seguras, densas e "falam" até pelos olhares. Um grande desafio foi ter feito o filme em japonês, contudo, essa opção acabou ampliando sua dimensão, uma vez que é possível perceber o abismo cultural entre os povos. A direção de arte também merece um prêmio pela contrução da vila e dos cenários e das locações, de modo geral. Por fim, a adaptação do roteiro, ou inspiração no romance, como alguns preferem, foi perfeita. Utilizando como pano de fundo o roteiro, é criada uma trama de amor que ressalta a tradição e cultura japonesa. Amorim constrói uma pequena obra de arte!
Vou Rifar Meu Coração
4.1 214Bom apenas, infelizmente! A proposta é muito interessante, contudo, apesar de ser bem produzido, com um fotografia muito boa, parece que a direção opta por assistir a tudo de longe. Assim, as pessoas que são entrevistadas acabam ficando rasas... e não por falta de potencial, mas porque ñão foram bem exploradas. O reprtório também é muito rico, mas a participação dos autores/cantores também foi subaproventada. Enfim, como proposta é incrível e o trailer "vende" um produto impecável, no entanto, o resultado final acaba sendo apenas uma promessa a ser concretizada!
007 Contra o Satânico Dr. No
3.7 293 Assista AgoraDepois da compra do box o melhor a fazer é rever todos os filmes em ordem cronológica e poder entender melhor o efeito que um personagem como James Bond causa no cinema. E começar por Dr. No acaba tendo um sabor especial, primeiramente pela oportunidade de rever a clássica atuação de Connery e segundo porque o politicamente os efeitos especiais não eram as grande estrelas, mas sim o próprio personagem. E Connery está por si neste filme, pois sua interpretação de 007 supera o roteiro e o envelhecimento da tecnologia que vemos nas telas (hoje parecendo um pouco fake demais). Temos os efeitos da Guerra Fria, temos belas mulheres (mesmo que neste caso Andress possa parecer que está no filme exatamente pelo que é, ou seja, uma mulher estonteante!) e um vilão diferenciado. Outra vez, para os padrões do 007 atual, a forma com que se resolve este filme é rápida demais e acaba não sendo aproveitada suficientemente. Também, existe certa ingenuidade no roteiro, o que acredito repercutir no resultado final. Algumas situações são "forçadas" e ainda não vemos o aparato técnico do agente. Mas tem Connery que consegue matar como se uma rainha pudesse atribuir esse direito a qualquer pessoa e isso fosse válido. Exceto se ela quisesse matar britânico, o mundo é grande demais para ficar sob a jurisdição de uma rainha... mas ao assistirmos ao filme esta questão se torna acessória. Mas muito relevante para entendermos a maneira com que os britânicos pensam o mundo... mas o filme continua sendo muito bom, mas não excelente. Que venham os próximos!
As Vantagens de Ser Invisível
4.2 6,9K Assista AgoraHá alguns anos adentrei no universo teen para escrever três peças (TEENS, BOYS AND GILRS e VIOLÊNCIA) e quase tive uma overdose de temas que se repetiam. Tanto na literatura quanto no cinema. Poucas vezes esbarrava com algo com originalidade. Daí, o óbvio, a adolescência é a mesma coisa e as histórias variam em níveis distintos, mas nada é extraordinariamente novo... então, o que faz um filme ou uma história se diferenciar, como neste caso? Outra vez, não da para destacar apenas um aspecto, tudo tem de estar muito bem para que o convencional deixe de sê-lo e se transforme em algo novo. É a sensação de ver o que já viu (conheceu/ouviu falar, etc), mas mesmo assim querem saber o que acontece no final. E este filme tem isso, já começa com um título perfeito e os personagens acabam sendo um mosaico do que é a adolescência. Dramas, muitos dramas!!! Mas algo mais além do sofrimento... Este filme é um misto de tudo, mas tudo em dosagem adequada para ficar belíssimo. Interpretações emocionantes, roteiro que procura fugir de piadas (e/ou cena convencionais) e acaba propondo uma leitura visual do roteiro muito empolgante. Os atores construíram personagens densos e multilaterais, Lerman faz um adolescente difícil de ser descrito em poucas palavras, um misto de vários "problemáticos" do cinema, mas com uma coerência incrível. Sensível, mas não idiotizado. Watson também faz uma personagem muito intrigante e cativante, que se mostra gradualmente... Miller é o mais "fácil", pois vem carregado de certos estereótipos, mas ainda assim é contido pela direção. A trilha sonora é algo diferenciado, belíssimo. Ah, e nos extras, não deixem de assistir a cena do Poema... difícil encontrar algo que seja tão transparente quanto aquelas palavras de Michael. Quando ele termina de ler o poema, a sensação de quem assiste é a mesma dos demais personagens... desolação e incapacidade para emitir qualquer palavra. Belo roteiro em uma direção extremamente cuidadosa!
A Hora Mais Escura
3.6 1,1K Assista AgoraUm filme asqueroso! Não pelos seus aspectos técnicos, pois são bons, mas nada que mereça destaque demasiado, mais pelo que representa. Este filme é uma libelo à atuação pragmática dos Estados Unidos no mundo. Ele se reveste de uma suposta crítica e mea culpa, pois diz que "a tortura acabou", mas na verdade, em todo o momento justifica a utilização desta técnica para alcançar os objetivos políticos do país. A heroína é um substrato de uma típica cidadão estadunidense, pois vive obstinada por uma construção política estadunidense que justificaria qualquer ação. Bigelow tenta transformar a personagem de Chastain num modelo a ser seguido, pois odeia um personagem criado para justificar tudo! Nesse sentido o filme perde em interesse, pois a construção de Chastain é muito rasa, ele não tem grandes atrativos dramáticos e acaba sendo uma personagem sem brilho. Os coadjuvantes parecem criados pelo "serviço de propaganda à Guerra ao Terror", pois agem como máquinas e reproduzem falas que as vezes parecem críticas, mas que estão sustentando uma guerra. E a maneira heroica com que a trama é abordada, deve ter feito com que milhares e milhares de pessoas se alistassem para continuarem a luta contra terroristas. Um filme propaganda de qualidade inferior a Argo nos aspectos técnicos (roteiro de Argo consegue deixar mais claro ainda quem são os bons e os maus), mas tão terrível quanto este quando se compara ao efeito que provoca na construção de um inimigo islâmico. E Bigelow segue na escola da propaganda!!!
Homem de Ferro 3
3.5 3,4K Assista AgoraQue filme cansativo... parece que o carisma do Homem de Aço está acabando! Bom, por mais que os efeitos especiais estejam em cada milímetro do filme e se tornem atrativos, não deveria se transformar no "prato principal". E esse é o grande problema, pois o roteiro não é grande coisa e o humor de Stark acaba se tornando cansativo com o passar do tempo. Como resultado temos mais de duas horas para resolver uma trama que não gera grande expectativas, nem menos diante do enfrentamento entre protagonista e antagonista. As "grande revelações" não geram suspense e o roteiro segue capenga para um final que acaba e parece tão morno quanto quando começou. Assim, o que poderia ser um grande filme de super-herói, se transformou num apanhado de efeitos e cenas de ação. Muitas opções de roteiro são pobres e já usadas ao extremo, como a presença do menino. Com isso, talvez o filme se de melhor na sessão da tarde... que falta faz um roteiro como o de Batman ou Watchmen!
Django Livre
4.4 5,8K Assista AgoraDemorei algum tempo para fazer qualquer comentário sobre este filme para poder passar a impressão inicial, mas mesmo ao revê-lo na tela pequena o impacto não desaparece. Muita coisa já foi dita sobre este filme que é uma grande obra de arte. E pode ser classificado como tal porque a direção o constrói desta maneira. Casa cena é planejada para se transformar em algo histórico, para ficar marcada na memória do espectador. A fotografia do filme é impecável, bela em sua plenitude. Também, as famosas referências de Tarantino aos "seus mestres" pontuam por todo o filme, desde o zoom rápido até enquadramentos que somente encontramos em clássicos westerns. E a escolha do elenco é um acerto à parte, pois Tarantino aposta na certeza de ter um Waltz e investe pesado nos personagens de DiCaprio, Foxx e Jackson. Inseridos na "mitologia tarantina", ganham uma dimensão ainda maior. Por fim, para que tivéssemos uma obra completa falta mencionar o roteiro. Simples ao extrema, mas com a genialidade de quem sabe contar uma boa história... e tem sangue, como tem sangue. Daí, aproveita-se para vir a assinatura de Tarantino... que não esquece de criar uma trilha sonora que perdurará para sempre. Um grande show cinematográfico que, apesar de ter quase três horas de duração, cumpre seu papel. Um filme histórico.
Irã - Um brado de fé
3.9 1O documentário não tem nem 60 minutos, mas sequer consegue se manter nesse tempo. A ideia de discutir a perseguição de líderes religiosos protestantes no Irã pré e pós-revolução iraniana é um grande mote para uma grande reportagem, um documentário que traria luz a algumas questões e provocaria outras, no entanto, tecnicamente este documentário é muito fraco. As imagens reais que são prometidas, pouco contribuem para revelar alguma coisa. Os documentos apresentados não conseguem ser explorados devidamente e, por fim, os entrevistados estão mais interessados em exaltar e construir mártires do que analisar a situação em que foram construídos. Não há uma discussão mais profunda acerca da situação política do Irã, apenas fala-se na perseguição aos cristãos. Passa-se muito tempo repetindo a mesma coisa e sequer é trazida uma novidade para que se mantenha a atenção. Exceto a família dos mortos, apenas membros da congregação são entrevistados e isso deixa o documentário ainda mais fraco. Mas o pior de tudo é a baixa qualidade do produto final. Num momento em que os documentários ganham cada vez mais espaço devido à qualidade, este surge na contramão e apresenta um produto final que mais parece uma produção amadora. Parece que, como foi feito pelos filhos da vítima, eles estavam mais preocupados em idolatrar o pai do que discutir a situação política dos cristãos no Irã. Assim, o resultado final pode ter gerado a comoção entre os familiares e membros da congregação, mas para um público que buscava um documento, é decepcionante.
Mía
4.5 15Um filme tocante! O tema, em si, já é bastante delicado e as mãos de Couter ganhou uma dimensão ainda maior. Na verdade, o filme discute a questão do preconceito contra um grupo específico da sociedade, os travestis, que foi excluído da cidade (Buenos Aires) por não ser entendido. Mas é muito mais do que isso, pois Couter propõe uma reflexão sobre a solidão, sobre a perda, sobre não compreender a razão de existir... O roteiro é bem construído, apesar de não ser extremamente original e, em alguns momentos aceita a fórmula de folhetins para provocar a emoção no espectador. A direção foi muito feliz ao escolher a atriz Maite Lanata, ela conseguiu construir uma Julia densa, mas infantil. No entanto, Villada às vezes carrega tanto na construção de sua personagem que parece ter problemas além da própria rejeição devido à sua sexualidade. Alguns poderiam dizer é uma ingenuidade, mas parece demasiado e soa com certa artificialidade em alguns momentos. La Serna também parece ficar um tanto caricato devido à embriaguez... mas esses excesso não chegam a comprometer o filme, pois todo o restante acaba tendo mais importância. A trilha sonora também é uma preciosidade e as letras das músicas são fundamentais para a trama. Talvez a questão social fique um tanto à margem da trama quando a direção opta pela necessidade de resolver o problema da família de Julia, assim, em alguns momentos as situações são resolvidas muito rapidamente (como no final), para que o filme não fique mais longo. Enfim, um filme muito bom com um olhar diferenciado...
Os Indomáveis
3.9 459Não é um gênero que me agrade tanto, contudo, isso não tira a qualidade do filme. Temos uma dupla de atores que consegue criar certe empatia e mesmo cumplicidade. A temática não foge do arcabouço temático os westerns, mas nem por isso faz do filme algo banal. A fotografia é bonita e as interpretações condizentes com a proposta da direção, inclusive criando personagens estereotipados, os quais constantemente estão presentes neste tipo de filme. Enfim, não é uma obra de arte como Era Uma Vez no Oeste, que extrapola o gênero, mas acaba sendo um filme correto em sua proposta e que funciona mais em conjunto do que por destaques individuais.
Tensão em Ruanda
3.7 6Este é o tipo de filme que conforme vamos assistindo, independentemente do caminho que segue a trama, a angústia vai se tornando cada vez mais dilacerante, pois nos defrontamentos com o que somos. O filme não é fantástico, tampouco a trama é original, uma vez que se trata de uma história de amor entre pessoas diferentes em tudo, mas que simplesmente se amam. Como disse, nada de novo... Mas as circunstâncias em que ocorre esta história de amor que dilaceram qualquer pessoa. Depois de Hotel Ruanda - que é uma verdadeira obra prima -, temos este filme mais centrado na relação afetiva do jornalista com a jovem Gentille. A partir daí somos catapultados aos limites que a insanidade humana pode chegar e o quão desinteressante a vida humana é para certas pessoas. É duro ver o país se esvaindo em sangue e a ONU se omitindo em tudo que acontece. E, quando se fala em números desta tragédia torna-se ainda mais difícil assistir ao filme sem ficar engasgado. Ou seja, o pano de fundo desta história de amor é tão duro que pequenos gestos ganham uma força descomunal. Mas esta é a grande qualidade do filme, optar por construir uma trama que estivesse inserida num local em que a "civilização" não tivesse interesse em olhar. E Ruanda é isso, uma terra de povos tribais que se matam indistintamente... esta é a simplificação que tentou-se construir para relativizar o genocídio que lá ocorreu, ou seja, eles não eram civilizados, então as mortes brutais eram normais! Duro imaginar que muita gente pensava desta maneira. Enfim, temos um cenário arrasador, mas o filme, em si, não é excepcional. O roteiro acaba sendo um tanto arrastado e as situações, por vezes, demoram para acontecer. O elenco é bom, mas não mais do que isso. Detalhe para o efeito com sangue, um tanto fake demais, o que prejudica um filme no qual a violência e morte estão em todo canto. Também tem alguns momentos em que a direção quis fazer com que as falas dos personagens fossem mais importantes que a trama, e, nesses momentos o filme perdia em dramaticidade. Mas mesmo com esses pequenos deslises, o filme chega ao final de modo íntegro, p
ois não deixa que sentimentalismos redimam a tragédia de um povo, o diretor não faz concessão.
Headhunters
3.9 355Um suspense interessante, mas nada de novo. Talvez a maior atração seja a língua e o ritmo, que altera um pouco do convencional, mas fica por aí. A interpretação de Hennie em alguns momentos parece ser carregada demais, até caricata, mas da para suportar. O restante temos muito clichês e um suspense com reviravoltas. Um thriller legalzinho, mas nada que mereça destaque demasiado. Diversão.
Medianeras: Buenos Aires na Era do Amor Virtual
4.3 2,3K Assista AgoraÉ difícil escrever uma história de amor e não cair no convencional, ou mesmo ser piegas. Já disseram alguns românticos que o amor é piegas por natureza e que a racionalidade exacerbada por evitar a pieguice, mas suprime a paixão. Enfim, seja lá qual for a definição de amor, o fato latente é que Medianeras é diferente de tudo isso, é belo em toda sua concepção. Desde a analogia com a cidade de Buenos Aires até com o significado de medianeras. Tem humor, mas ele não é o mais importante e às vezes sequer necessário, provoca certa angústia e depressão (caso se identifique com aquelas histórias), mas também não é um filme que procura acabar com o espectador de tanta tristeza. Por fim, há dois personagens que estão perdidos numa cidade, são pessoas como quaisquer outras, mas pelo olhar dessa direção magnífica se transformam em outra coisa, em poesia urbana. Seja lá qual for a definição que as pessoas tenha disso, mas este filme é harmônico em todos os sentidos. A trilha sonora compõe o ambiente e ajuda, muitas vezes, a conduzir o sentimento do espectador. As cenas parecem ter sido planejadas milimetricamente pela direção de arte. O roteirista utiliza as palavras apenas para o necessário, o restante deixa para as imagens. Mais uma daqueles filmes que podemos dizer "um argentino de alta qualidade"! E simples, como é simples...
Somos Tão Jovens
3.3 2,0KEste é o típico filme que é necessário algum tempo para pensar no que acabou de assistir divido ao envolvimento que se tem com a história e o quanto ela está impregnada em sua vida. Renato Russo é Legião Urbana representam muito, então, quando me defrontei com o "Renato" novamente acabei perdendo um pouco do senso crítico... e logo nos créditos iniciais, com "aquela música" (apesar de o transcorrer do filmes todas elas serem "aquela música"!), já há um envolvimento emocional com a trama. Mas passadas algumas horas, talvez já seja possível falar alguma coisa sobre este filme, ou, talvez, simplesmente escrever algo que venha a refutar futuramente, por este é um filme diferente. Não é como Cazuza, que parecia um vídeo cliplão conservador produzido pela mãe dele, é diferente. Apesar de a interpretação de Daniel Oliveira ser algo fora do comum, a trama tentou construir um ídolo da Fundação Viva Cazuza ao invés de expor o "rebelde" que ele era e o significado de suas letras que buscavam inspiração em Lupicínio Rodrigues. Enfim, Somos Tão Jovens não é Cazuza. Então o que e este filme? Ainda tenho de comentar outra coisa, porque incomoda um pouco como nos defrontamos com o "rock de Brasília" e neste filme fica evidenciado. É certo que muita gente já escreveu sobre isso, mas neste filme é latente (e verdadeiro!). Este rock, que surge dentre os filhos de embaixadores, altos funcionários de ministérios e professores da UNB talvez seja o exemplo do processo depressivo que nos avassala. Por mais que esse grupo de jovens tenha trazido Sex Pistols e todo o punk rock que tinha forte contestação, não era algo que surgia da periferia. E, por mais que Tabatinga sirva de inspiração para Renato Russo, a passividade do povo, se entendermos sob o ponto de vista do "rock de Brasília" só fui alterada porque a classe de "burgueses" resolveu contestar seus pais e ouvir "música não convencional". A revolução musical de Brasília (que espalhou para todo o Brasil) foi algo produzido por jovens que viveram na Europa, EUA, África do Sul, etc., e que impuseram um tipo de som aos brasileiros. É duro constatar mais um processo de colonização: pela música "de fora" e pela classe dominante brasileira... não havia "povo" no "rock Brasília". Mas paro por aqui com esta reflexão, porque também fui "colonizado" pelas música da Legião e durante a sessão de cinema (como já havia ocorrido com o espetáculo sobre Renato Russo) que estava bem vazia, pude cantar (baixinho) todo as músicas do filme (na peça a gente podia gritar até!!!). Então, o envolvimento emocional foi pesado! Mas o filme não é fantástico, é apenas uma versão estendida do especial que a Rede Globo fez, transformado em linguagem cinematográfica. Tem momentos muito interessantes, mas não conseguiu englobar esse personagem "Renato Russo". Talvez também tenha havido certo moralismo por parte dos produtores para que o filme pudesse ser mais "popular". É bonito, bem produzido, mas não é o filme que perdurará como um "grande filme", talvez sobreviva devido à temática. Thiago Mendonça também conseguiu compor um personagem muito bom, que é ajudado pelo aspecto físico. Emocionante, mas não eternizante!
As Aventuras de Pi
3.9 4,4KTrata-se de um filme diferenciado. Primeiramente pelo óbvio, ou seja, sua fotografia. Ang Lee conseguiu construir um filme que é belo em todos os aspectos visuais e ele utiliza deste recurso para suprir uma dificuldade narrativa que seria a própria situação que os personagens (aqui, considero o tigre como um personagem!) se encontram. A trama é simples, mas isso não a desqualifica, pelo contrário, faz com que o espectador entenda muito bem o que a direção pretende. Tem alguns aspectos de "autoajuda" que podem ser um pouco maçantes e certa "evangelização" que cansa, mas o resultado final, abstraindo esses dois aspectos, acaba sendo muito bom. Em nível de dificuldade, devido às características, acredito que se equipare a "Naufrago" e "127 horas", pois temos o personagem consigo mesmo. Se havia "Wilson" em Naufrago e "a câmera" em 127 horas, em Pi temos o tigre. Um personagem que serve para as reflexões mais profundas do personagem. Também, o filme ganha em potencialidade porque a direção, apesar destes aspectos que apontei como negativos, passa estas mensagens gradualmente. Quando se percebe já estamos envolvidos com o personagem Pi e sua epopeia. Também, sabiamente, a direção desloca o foco da tensão da dúvida "será que ele vai sobreviver" para "como ele vai sobreviver" e isso faz com que o espectador mude seu foco e passe se preocupar com o que foi o motivador para ele não se entregasse, haja vista todos sabermos que ele vai se salvar. Funcionou bem para os objetivos da direção. Assim, temos um filme muito agradável e carismático, cheio de "lições"... o que agrada muitas pessoas e, àqueles que não gostam disso, resta uma bom aventura. Ang Lee conseguiu conquistar um público bastante diversificado com este filme!!!