Existe um filme recém lançado pela Netflix chamado "Between Two Ferns" que contém algumas relações interessantes com esse Coringa, de Todd Phillips protagonizado por Joaquin Phoenix. Interpelado por uma versão fictícia de Will Ferrell, Zach Galifianakis argumenta porque merece um programa em rede nacional: "Eu sou homem, hétero e branco!". Galifianakis alcançou a celebridade estrelando um filme de Todd Phillips, tanto cá como lá existem personagens obcecados por talk-shows, e existe também um homem branco e hétero que se acha merecedor de coisas que parecem não estar ao seu alcance.
Não se engane, após anos de mazela artística, a parceria DC/Warner parece mais uma vez ter mudado o jogo em relação às adaptações cinematográficas de quadrinhos. Assim como a incensada trilogia nolaniana do Batman, o longa metragem premiado em Veneza parece dar um sopro novo ao gênero que domina Hollywood. É necessário constatar no entanto que o sopro pode ser encarada como um bafejo tóxico saído dos tanques que deram origem a algumas versões do Palhaço do Crime.
No roteiro, assinado por Phillips e Scott Silver, acompanhamos Arthur Fleck( Phoenix), um comediante não muito talentoso como sérios problemas de ordem psicológica. Enquanto tenta seguir rumo ao estrelato, Fleck cuida de sua mãe doente, Penny (Conroy), e busca ajuda psiquiátrica no sistema de saúde/serviço social de Gotham. Esse panorama ecoa alguns conceitos trazidos por Alan Moore na graphic novel "Piada Mortal", uma das que tentam dar conta do passado do personagem.
E nisso talvez esteja o grande trunfo desse filme. Livre das amarras de continuidade e coesão dos universos compartilhados, a DC parece apostar no conceito de "single issues", histórias fechadas e sem conexão com a linha cronológica interminável dos super heróis. É uma boa jogada e permite maiores ousadias, e é talvez aí que resida o grande problema do filme: Seu discurso é maior do que a capacidade de transmiti-la, e por isso soa mal.
Entendam: Tecnicamente o filme é soberbo. Desde a cinematografia, passando pela recriação de uma metrópole norte-americana do final dos anos 70/ começo dos anos 80, e a atmosfera de sujeira e corrupção que imperam na Gotham sem rumo e pré-Batman são perfeitamente concebidos e realizados.
Em termos de atuação idem, Joaquin Phoenix é um dos maiores atores da história do Cinema e o seu papel é tão bem defendido que até mesmo falas que parecem saídas de um Tumblr de um adolescente espinhento que acha ter tendências sociopatas saem com dignidade da sua boca. O problema é o discurso como um todo.
Fleck é portador de um discurso anti-establishment vago, oco de maiores propósitos, e isso não seria problema se o filme não desse vazão para achar que a sua mensagem é grandiloquente, quando na verdade não é. Existe um ideário "anti-sistema" , sendo que o "sistema" é mesmo esse ente vazio e abstrato. O que seria? Os financistas de Wall Street? A versão Donald Trump de Thomas Wayne e seu discurso meritocrata e messiânico?
Como se não bastasse a explosão violenta mal-canalizada do filme, seu roteiro patina bonito em um jogo de gato e rato com o espectador que faria corar os melhores novelistas do México. Todd Phillips, a julgar pelas suas desastrosas entrevistas de divulgação do longa, culpando desde à "Extrema Esquerda", passando pelo "Politicamente Correto" acha que inventou algum novo tipo de roda, mas não é bem assim, passa longe disso, muito pela falta de sutileza do cineasta que é discreto na emissão de seu discurso como um desfile de elefantes em um mosteiro tibetano. Em mãos mais talentosas, como as de um Martin Scorsese talvez ( que o diretor nem agradece nos créditos, mesmo sendo tributário de parte de sua carreira) esse discurso fosse mais polido e objetivo, uma pena que não o é.
Fazendo menção à polêmica dos "incels", o filme não endossa esse comportamento, haja vista que Fleck não culpabiliza as mulheres pelo seu fracasso, mas não surpreenderia se algum desses imbecis tomasse o filme como portador de suas bandeiras e usasse como desculpa para atitudes tresloucadas. Em suma é isso, "Coringa" é um filme perigoso em tempos perigosos
É o melhor filme do Homem Aranha desde o segundo da trilogia do Sam Raimi (2004), e seguramente uma das melhores adaptações de HQ para o Cinema. Além de respeitar a linguagem da arte que a originou, o estilo de animação traz um frescor e dinamismo que a história exige. Ponto para a construção carismática do carismático Miles Morales e sua relação com o Peter Parker "alternativo". Se não levar Oscar de Melhor Animação, já podem ir atrás do cheque da Disney.
Deve ser muito sedutora a ideia para um sujeito como LVT fazer um exercício tão egóico como é esse filme. Os níveis de autoreferência na obra atingem níveis que talvez jamais sejam superadas por qualquer outro cineasta. No entanto, ao dar vida no roteiro a basicamente uma persona sua, misógina, pretensiosa, maníaca compulsiva, o cineasta acaba por trilhar um caminho que perpassa todas as formas de arte, e o que seria apenas a história de um serial killer acaba também por se tornar uma ode ao fazer artístico. A nota só não é maior pois não me apetece ver ninguém se masturbando em público, ainda mais com tanta afetação.
Esse documentário bem poderia passar em alguma aula de especialização em geriatria sobre os males do cigarro na terceira idade. O cineasta tenta polir a imagem de Olavo de modo que se pareça apenas um vovô simpático, que afaga a netinha e reza o Pai Nosso em inglês, mas há um problema aí, Olavo de Carvalho é um charlatão, um aglutinador de citações que além de servir para dar um verniz intelectual à essa nova direita, é um velho asqueroso e conspiracionista. Apesar disso, a política passa somente de forma tangencial, se reservando a uma piadinha sobre comunismo em seu miolo. Há quem acredite até em astrologia, quem dirá no astrólogo.
O filme se apropria de praticamente todos os clichês de três décadas e meia de filmes de high school/ romance já feitos em Hollywood e consegue piorar todos eles, não li o livro (até porque não interessa) mas a história se vale de inúmeros lugares comuns e o resultado é um filme sem personalidade alguma, a não ser pelo fato da protagonista ser uma descendente de orientais. Há o namoro falso como em "Namorada de Aluguel", há o "cara legal" sendo preterido pelo bonitão playboy como em "A Garota de Rosa Shocking", tem a irmã mais nova mala como (de novo) em Namorada de Aluguel, e tem até o pai ginecologista como em "10 Coisas que Odeio em Você". Sem contar com a revelação do segredo na cena em que todos os personagens importantes se encontram. Ruim de doer, pode siginificar 1 hora e meia da sua vida que não voltará jamais.
Já faz algum tempo que apontam uma defasagem no “gênero” dos super-heróis, que embora não configurem exatamente uma vertente do fazer cinematográfico, se mostram nesse novo século como mais lucrativo segmento de filmes do mercado hollywoodiano. Muito dessa saturação, dizem os críticos, se deve à Marvel Studios, que padronizou o modo de realizar esse tipo de projeto, com o primeiro “Homem de Ferro” e o seu surpreendente sucesso. Ali se iniciava o hoje chamado MCU (sigla em inglês para Universo Cinematográfico da Marvel).
Essa “acusação” se estabelece sob o argumento de que o estúdio, principalmente depois de sua aquisição pela Disney, padronizou a feitura dos filmes, com a mão de ferro do poderoso Kevin Feige: A necessidade de costurar todos esses filmes surgiria em detrimento da autonomia de diretores e roteiristas.
Edgar Wright (originalmente o diretor de Homem-Formiga), por exemplo, teria abandonado o barco em razão dessa uniformização. Essa maneira de pensar a sétima arte trouxe triunfos e dissabores, filmes melhores e outros piores, mas com certeza o que se pode afirmar é que o blockbuster nunca mais foi o mesmo depois que a Marvel teve a ideia de juntar várias franquias em um único espaço fílmico.
O que se pode dizer também é que temos nesses dez anos e dezenove filmes, a Marvel está sabendo se reinventar (Thor: Ragnarok e Pantera Negra estão aí para provar isso) e tem nesse terceiro capítulo da saga dos Vingadores talvez o seu auge como estúdio voltado para o entretenimento cinematográfico.
A história, delineada desde a cena pós créditos de Vingadores (2012), quando se deu a primeira aparição de Thanos, é simples como um quadrinho de Stan Lee desenhado por Jack Kirby: O vilão quer possuir as Jóias do Infinito, artefatos ancestrais, que se juntados, conferem ao seu dono poderes inimagináveis. As referidas joias apareceram ao longo dessa década nos filmes da Casa das Ideias sob diversos pretextos, como motores das tramas, ou mesmo como meros easter-eggs, de forma a colidirem no roteiro escrito por Christopher Markus e Stephen McFeely.
Roteiro esse que pela necessidade de mostrar uma infinidade de personagens, trabalha muito bem com essa variedade de perfis, a montagem de Jeffrey Ford e Matthew Schmidt é bastante dinâmica, e todos os núcleos são bem trabalhados de modo que esses subplots sirvam tanto para crescer a tensão, como para dar um respiro nas quase três horas de projeção, que passam simplesmente voando diante da agilidade do filme, que diz logo a que veio antes mesmo da exibição da logomarca dos Heróis Mais Poderosos da Terra.
Nesse tempo de filme, temos ao mesmo tempo uma síntese da obra realizada nessa década, e um prenúncio do que está por vir nessa nova fase do estúdio. Temos interações de personagens que resultam em combinações deliciosas para os fãs: Thor e Guardiões da Galáxia, Doutor Estranho e Homem de Ferro e aí por diante. Muitos desses heróis têm pouco tempo de tela, mas o espectador é brindado com pelo menos uma cena empolgante para cada um dos participantes da história.
Embora o elenco inchado possa parecer uma dificuldade, o que se tem na verdade é a falta de necessidade de aprofundar aquelas personas, cada um teve a sua franquia, consequente introdução, não há porque perder tempo mostrando o que já foi dito em outros filmes, e aí que temos um ponto de inflexão. Guerra Infinita tem no seu vilão o verdadeiro protagonista da trama.
Concebido visualmente pela ILM (empresa de efeitos especiais de George Lucas) e concretizado pela captura de feições e dublagem de Josh Brolin, Thanos é com certeza o maior vilão da Marvel (repetidamente acusada, muitas vezes com razão de possuir antagonistas genéricos) e talvez seja o melhor vilão desse estilo de filmes desde que Heath Ledger interpretou o Coringa em 2008.
O Titã Louco ganha toda uma profundidade e desenvolvimento, que funciona muito devido ao esmero do roteiro em dar-lhe o tempo de tela necessário. As motivações do gigante roxo são bem definidas, que possui uma lógica, que embora perversa, sob uma análise mais esmiuçada faz sentido. A escolha de humanizar o que poderia ser apenas mais um boneco de CGI, como em CERTOS FILMES por aí, desfaz a sensação de desconexão que poderia existir entre público e personagem, é normal sentir empatia pela criatura, lhes digo, não tem nada de errado com isso.
Fora isso, Thanos se mostra como uma real ameaça contra os protagonistas, toda aparição sua traz todo um temor de que algo muito ruim irá acontecer com algum dos heróis, em parte pelo seu poder, e em parte pelo seu inexpugnável senso de propósito.
Visualmente temos muitos acertos em Guerra Infinita, a construção de mundos da Marvel segue impecável, e a junção de vários cenários característicos das franquias é um deleite aos olhos. As setpieces, sobretudo as de batalhas, trazem uma ação divertida e que combina bem as capacidades dos grupos de heróis, destaque para a batalha de Wakanda e uma certa sequencia construída em determinado planeta inóspito.
Dessa maneira, o que se pode dizer com a plena certeza é que Vingadores: Guerra Infinita é um verdadeiro triunfo do entretenimento cinematográfico, é pensado menos como filme e mais como evento, e nesse sentido é um acerto em suas pretensões. A sensação ao fim da exibição do longa é de que estamos diante de um produto sui generis dentro da filmografia de seu estúdio, e que um ano parece tempo demais para esperar.
O universal pelo particular, o complexo pelo simples, o histórico pelo trivial. O documentário é uma visão caleidoscópica do que foi o século XX, contada através de grandes e "insignificantes" personagens, tem uma montagem que foge de qualquer tipo de padrão. A trilha é muito marcante e cumpre o seu papel diante de um filme totalmente sem falas.
Tematicamente relevante e tecnicamente impecável, Uma Mulher Fantástica é um estudo de personagem sensível, tocante e conduzido de maneira muito eficiente por seu diretor. Mas de longe, o grande triunfo do filme é a sua atriz principal, a transexual Daniela Vega. Conseguindo manter um misto de docilidade e agressividade, sendo bastante expressiva e sustentando uma dignidade inabalável mesmo diante dos constantes episódios de preconceito e violência que sofre ao longo da trama, o fim do filme traz a sensação de que a conservadora Academia perdeu uma grande oportunidade de quebrar paradigmas esse ano e indicar a atriz para a cerimônia do careca dourado, uma pena.
O candidato russo ao Oscar utiliza dos dramas privados para metáfora da situação do país. O filme todo é muito condinzente com o seu título e o que mais se tem é demonstrações de falta de afeto. A atriz principal faz um belo trabalho e consegue realmente despertar a raiva de quem assiste. Infelizmente o cineasta de sobrenome complicado abandona a sutileza no fim, e telejornais começam a falar da Ucrânia, e a protagonista literalmente vira a Mãe Rússia, chegando até a encarar o espectador. Mesmo assim, seu comentário social é muito mais eficiente do que certos filmes que são lançados para glorificar operações policiaise figuras do Judiciário , por exemplo...
Sofrível. Juro que fui de coração aberto assistir a sequência do filme que mais implico nessa vida que é BvS e encontrei um filme ainda pior. A Warner/DC não sabe o que está fazendo e isso se cristaliza no fato de um filme ter Batman, Mulher Maravilha,Superman (ressuscitando!) e o arco dramático mais acentuado ser do Cyborg. Jason Momoa basicamente é ele mesmo e Ezra Miller poderia concorrer facilmente a personagem mais irritante de 2017 em qualquer dessas premiaçoes-paródia, já que seu alívio está mais para tortura cômica. Até os pontos positivos de BvS, Ben Affleck e Gal Gadot, estão terrivelmente limitados pelo roteiro horrível que se divide em diálogos com frases de impacto "não preciso reconhecer o mundo , apenas salvá-lo ou sou uma pessoa que acredita (enquanto enfrenta terroristas" extremistas")" ou em exposições risíveis, de coisa que estamos vendo ou qualquer idiota consegue inferir " essa caixa foi aberta há muito tempo hein". Do vilão nem se fala muito porque o CGI dele foi superado quando lançaram o Playstation 2, há mais ou menos 15 anos. A conclusão que chego ao assistir a essa abominação é a de que fiz bem em economizar o dinheiro do ingresso.
Considerado (erroneamente) uma das obras menores da filmografia do Mestre Scorsese, Depois de Horas é uma comédia de erros que por diversas vezes flerta com o surrealismo diante das situações absurdas aos quais o seu protagonista é submetido. O roteiro de Joseph Minion se deleita ao pôr Paul Hackett nas mais improváveis enrascadas tendo como pano de fundo a Nova York dos anos 80, cinzenta, sombria, e permeada pela criminalidade (embora só tenhamos uma cena de tiroteio). A costumeira maestria do diretor obviamente dá as caras, com seus planos arrojados, e com direito a aparição do realizador, como iluminador de uma estranhissima (olha o pleonasmo) boate punk.
Star Wars é uma franquia bilionária e que esse ano completou 40 anos de existência. Ao longo dessas 4 décadas, a história se permitiu criar convenções ao seu redor. Frases de efeito repetidas, arquétipos facilmente reconhecidos, estruturas narrativas formulaicas e o apelo ao maniqueísmo sempre deram o tom da saga da família Skywalker.
Aí vem Rian Johnson e bagunça todo o coreto. A bem da verdade, no ano passado, Rogue One com a direção de Gareth Edwards, ao se propor a dar vida aos créditos de "Uma Nova Esperança" já mostrava que a Lucasfilm, agora sob a batuta da Disney, tinha planos mais ambiciosos com relação ao legado de George Lucas. Essa, inclusive, foi a crítica feita a "O Despertar da Força" que recebeu acusação de ser apenas um remake do primeiro filme da saga.
Felizmente, os chamados "haters" de carteirinha não poderão usar desse argumento, pois estamos diante do filme mais original dos nove já lançados (Okay, Dez se contarmos "Caravana da Coragem"), a direção de Johnson, aliada ao seu roteiro, usa de recursos inéditos para retratar a odisseia passada na galáxia muito, muito distante.
Uma certa cena em particular, onde são mostrados uma relva crescendo e um fóssil (??) dão bem essa cara de ousadia e experimentação, em uma bela mostra de autonomia do diretor com relação ao resultado final de sua obra.
No que diz respeito às atuações, o grande destaque do longa, é sem dúvidas Mark Hamill, que ao retratar o seu mais famoso personagem como um homem atormentado pela suas escolhas do passado, nos mostra uma faceta completamente diferente de Luke Skywalker.
Os demais membros do elenco estão muito competentes em seus papéis, com destaque para Daisy Ridley e Adam Driver, especificamente, pois são os que tem mais tempo de tela e consequentemente o arco mais alongado.Oscar Isaac é recompensado pela sua quase nulidade no filme anterior, e a participação de Benicio Del Toro é bem divertida. Claro que é impossível não se emocionar toda vez que Carrie Fisher aparece em cena, tudo que Princesa Leia faz em tela adquire um peso ainda maior, devido a perda recente de sua intérprete.
Contudo, o filme não é perfeito, e sofre com um ritmo um tanto arrastado em seu miolo, muito pelo fato de conter uma "side quest" um tanto quanto desnecessária, se levarmos em conta a mobilidade da trama. Algumas piadinhas fora de hora parecem ser mesmo a marca registrada do modo de fazer filmes da empresa do Mickey (Não é Marvel?), mas tanto aqui como lá, não compromete o resultado final.
Embora seja difícil dividir o filme na clássica partição de três atos, o seu terço final é uma aula de como um blockbuster deve ser impactante, diversos mini reviravoltas, sequências de ação de tirar o fôlego, e o destaque merecido para personagens queridos dão o tom para os melhores trinta minutos já passados no Cinema com o nome de Star Wars no letreiro. É discutível dizer se esse é o melhor filme da saga ou não. Talvez ele seja absurdamente bom por ser herdeiro de uma história que vem sendo contada há muito tempo, no entanto, sua personalidade própria e vigor nos dão a esperança de que esse legado está sendo muito bem cuidado. E que venha mais.
Não se mexe em time que está ganhando. Muita gente reclama do tom bem humorado dos filmes da Marvel, mas é isso que faz o UCM fazer sucesso há oito anos. Isso posto, a franquia do Deus do Trovão abandona as infrutíferas tentativas de fazer filmes sobre intriga palaciana e abraça a galhofa. Funciona em digamos, 70% do filme, escorrega, patina, mas se mantém de pé. Talvez Taika Waititi, seja dos diretores menos gabaritados com a empresa (Russos, Whedon, Gunn) a fazer o trabalho mais autoral. Cate Blanchett não brilha como deveria, e o Loki é um personagem muito, mas muito chato, não tem como entender o hype, e daí se o ator é simpático? A impressão que se passa depois de duas horas é a sensação de termos visto um excelente trailer, o aperitivo do que ainda está por vir, é divertido, mas descartável.
Ao contrário de sua Seleção, o cinema argentino vai muito bem, obrigado. O Messi cinematográfico deles, Ricardo Darin, é daqueles atores que pode fazer o poste que será mijado pelo cachorro nos 23:17 segundos do filme, e mesmo assim será um excelente papel. A sua construção de um homem amargurado, incapaz de um gesto de afeto para com o irmão, é intensa e apesar das poucas palavras que seu personagem pronuncia, se mostra extremamente credivel.
É muito difícil ver filmes protagonizados por atores na terceira idade. Nesse sentido, é muito gratificante ver Robert Redford (81) e Jane Fonda (79) estrelarem essa enternecedora história de amor. Embora apele para recursos narrativos ( criança fofinha, cachorro), e conte com um final um tanto quanto insatisfatorio, a história é muito bem sustentada pelo talento de seus atores principais, para quem gosta do estilo, é uma boa opção.
Um bom thriller policial na melhor tradição de "Nove Rainhas" para ficar no cinema latino, esse filme espanhol (ou somente catalão?) possui um roteiro com o típico jogo de fumaça e espelhos que faz da trama um elaborado quebra-cabeças. Embora sofra com um protagonista limitado, e a firula narrativa o torne um tanto confuso, eis uma boa pedida para os adeptos da Netflix.
Sequências de grandes clássico do cinema tendem a resultar em retumbantes fracassos, seja por reverenciarem demais a obra original, por serem meramente caça níqueis, ou pela razão mais comum, serem absolutamente desnecessárias.
Felizmente, esse não é o caso de "Blade Runner 2049", a sequência direta do icônico filme de 1982 de Ridley Scott. Não padecendo dos inúmeros problemas do seu antecessor com relação à produção e pós produção, (É de conhecimento popular que o filme original tem sete versões, sendo a última, e definitiva, a de 2007) o universo reimaginado de Phillip K. Dick encontra em Dennis Villeneuve um talentoso realizador.
Quando o policial K. (Ryan Gosling) se depara com um segredo que pode abalar as já arruinadas estruturas sociais, o mesmo se vê obrigado a procurar o aposentado blade runner Rick Deckard(Harrison Ford), desaparecido há mais de 30 anos. Dizer mais que isso é spoiler.
Em sua essência, Blade Runner, tanto o original, como essa sequência, emulam a atmosfera noir combinada com a chamada estética cyberpunk, é Raymond Chandler pós desastre nuclear. Nesse sentido, a atmosfera criada pelo roteirista Hampton Fancher ( o mesmo de 1982), e agora co-escrito com Michael Green, levada à cabo por Villeneuve , não é só respeitada, como ampliada.
A fotografia de Roger Deakins (Um Sonho de Liberdade, Fargo) aliada ao excelente design de produção, ajuda o espectador mergulhar na Califónia pós apocalíptica imaginada por Ridley Scott nos anos 80, Hans Zimmer faz um belo trabalho homenageando a trilha eletrônica de Vangelis.
No tocante ás atuações, os trabalhos mais dignos de nota são de das atrizes Ana de Armas e Carla Juri a primeira vivendo uma inteligência artificial que muito lembra "Her" e a segunda, a ameaçadora lacaia do magnta vivido por Jarde Leto., Ryan Gosling não está na sua melhor forma, e parece ter tido aulas na "Academia de atuação Kristen Stewart de inexpressividade dramática", o que curiosamente não impede o espectador de se condoer da situação do protagonista. Harrison Ford retorna a um de seus papéis consagradores, que ele claro, já disse odiar (Qual ele não odeia mesmo?) e mostra uma performance digna.
No frigir dos ovos, mesmo com sua extensa duração (Quase três horas), o que deve afastar os mais incautos, Blade Runner 2049 não é somente uma sequência, é um filme de personalidade própria, com a marca do seu direitor, e figura como uma das boas ficções científicas lançadas nos últimos anos.
Pode ser um desfile de alegorias bíblicas, uma crítica de como a humanidade maltrata a (Mãe!) Natureza, e um suspense que versa sobre a falência de um relacionamento, onde o amor é vetor que aponta só para uma direção. Provocativo, desafiador, sufocante, quase insuportável, Mãe! é uma verdadeira aula de como o Cinema pode ser sobre símbolos e de como estes podem significar várias e várias coisas, a depender da subjetividade do espectador.
Usando da amizade entre uma criança e uma adorável criatura, o diretor coreano faz uma contundente alegoria contra a indústria da carne, cristalizada aqui na empresa Mirando (Monsanto, oi?), as vezes o filme transita para a caricatura, mas é compreensível pela mensagem a qual o filme quer emitir. Um elenco interessante, que parecendo subaproveitado na figura de Jak Gylenhaal, tem uma como sempre competente Tilda Swinton. Honra ao mérito da carismática protagonista e para os efeitos que criaram Okja, a paquidérmica e amável criatura que dá nome ao filme.
Um faroeste contemporâneo na primeira camada, um filme sobre "os fins que justificam os meios" na segunda, e uma critica ao sistema financeiro e imobiliário norteamericano na terceira . Perfeito tecnicamente, e embora com um andamento devagar, nos brinda com uma história simples, mas muito bem contada.
Felizes Juntos
4.2 261 Assista AgoraCucurrucucu Paloooma ♪ ♪ ♪ ♪
Coringa
4.4 4,1K Assista AgoraExiste um filme recém lançado pela Netflix chamado "Between Two Ferns" que contém algumas relações interessantes com esse Coringa, de Todd Phillips protagonizado por Joaquin Phoenix. Interpelado por uma versão fictícia de Will Ferrell, Zach Galifianakis argumenta porque merece um programa em rede nacional: "Eu sou homem, hétero e branco!". Galifianakis alcançou a celebridade estrelando um filme de Todd Phillips, tanto cá como lá existem personagens obcecados por talk-shows, e existe também um homem branco e hétero que se acha merecedor de coisas que parecem não estar ao seu alcance.
Não se engane, após anos de mazela artística, a parceria DC/Warner parece mais uma vez ter mudado o jogo em relação às adaptações cinematográficas de quadrinhos. Assim como a incensada trilogia nolaniana do Batman, o longa metragem premiado em Veneza parece dar um sopro novo ao gênero que domina Hollywood. É necessário constatar no entanto que o sopro pode ser encarada como um bafejo tóxico saído dos tanques que deram origem a algumas versões do Palhaço do Crime.
No roteiro, assinado por Phillips e Scott Silver, acompanhamos Arthur Fleck( Phoenix), um comediante não muito talentoso como sérios problemas de ordem psicológica. Enquanto tenta seguir rumo ao estrelato, Fleck cuida de sua mãe doente, Penny (Conroy), e busca ajuda psiquiátrica no sistema de saúde/serviço social de Gotham. Esse panorama ecoa alguns conceitos trazidos por Alan Moore na graphic novel "Piada Mortal", uma das que tentam dar conta do passado do personagem.
E nisso talvez esteja o grande trunfo desse filme. Livre das amarras de continuidade e coesão dos universos compartilhados, a DC parece apostar no conceito de "single issues", histórias fechadas e sem conexão com a linha cronológica interminável dos super heróis. É uma boa jogada e permite maiores ousadias, e é talvez aí que resida o grande problema do filme: Seu discurso é maior do que a capacidade de transmiti-la, e por isso soa mal.
Entendam: Tecnicamente o filme é soberbo. Desde a cinematografia, passando pela recriação de uma metrópole norte-americana do final dos anos 70/ começo dos anos 80, e a atmosfera de sujeira e corrupção que imperam na Gotham sem rumo e pré-Batman são perfeitamente concebidos e realizados.
Em termos de atuação idem, Joaquin Phoenix é um dos maiores atores da história do Cinema e o seu papel é tão bem defendido que até mesmo falas que parecem saídas de um Tumblr de um adolescente espinhento que acha ter tendências sociopatas saem com dignidade da sua boca. O problema é o discurso como um todo.
Fleck é portador de um discurso anti-establishment vago, oco de maiores propósitos, e isso não seria problema se o filme não desse vazão para achar que a sua mensagem é grandiloquente, quando na verdade não é. Existe um ideário "anti-sistema" , sendo que o "sistema" é mesmo esse ente vazio e abstrato. O que seria? Os financistas de Wall Street? A versão Donald Trump de Thomas Wayne e seu discurso meritocrata e messiânico?
Como se não bastasse a explosão violenta mal-canalizada do filme, seu roteiro patina bonito em um jogo de gato e rato com o espectador que faria corar os melhores novelistas do México. Todd Phillips, a julgar pelas suas desastrosas entrevistas de divulgação do longa, culpando desde à "Extrema Esquerda", passando pelo "Politicamente Correto" acha que inventou algum novo tipo de roda, mas não é bem assim, passa longe disso, muito pela falta de sutileza do cineasta que é discreto na emissão de seu discurso como um desfile de elefantes em um mosteiro tibetano. Em mãos mais talentosas, como as de um Martin Scorsese talvez ( que o diretor nem agradece nos créditos, mesmo sendo tributário de parte de sua carreira) esse discurso fosse mais polido e objetivo, uma pena que não o é.
Fazendo menção à polêmica dos "incels", o filme não endossa esse comportamento, haja vista que Fleck não culpabiliza as mulheres pelo seu fracasso, mas não surpreenderia se algum desses imbecis tomasse o filme como portador de suas bandeiras e usasse como desculpa para atitudes tresloucadas. Em suma é isso, "Coringa" é um filme perigoso em tempos perigosos
Homem-Aranha: No Aranhaverso
4.4 1,5K Assista AgoraÉ o melhor filme do Homem Aranha desde o segundo da trilogia do Sam Raimi (2004), e seguramente uma das melhores adaptações de HQ para o Cinema. Além de respeitar a linguagem da arte que a originou, o estilo de animação traz um frescor e dinamismo que a história exige. Ponto para a construção carismática do carismático Miles Morales e sua relação com o Peter Parker "alternativo". Se não levar Oscar de Melhor Animação, já podem ir atrás do cheque da Disney.
Coração Selvagem
3.7 340 Assista AgoraQuanto vocês cobram para dizer que o Lynch é gênio? Putz...
A Casa Que Jack Construiu
3.5 788 Assista AgoraDeve ser muito sedutora a ideia para um sujeito como LVT fazer um exercício tão egóico como é esse filme. Os níveis de autoreferência na obra atingem níveis que talvez jamais sejam superadas por qualquer outro cineasta. No entanto, ao dar vida no roteiro a basicamente uma persona sua, misógina, pretensiosa, maníaca compulsiva, o cineasta acaba por trilhar um caminho que perpassa todas as formas de arte, e o que seria apenas a história de um serial killer acaba também por se tornar uma ode ao fazer artístico. A nota só não é maior pois não me apetece ver ninguém se masturbando em público, ainda mais com tanta afetação.
O Jardim das Aflições
3.5 152Esse documentário bem poderia passar em alguma aula de especialização em geriatria sobre os males do cigarro na terceira idade. O cineasta tenta polir a imagem de Olavo de modo que se pareça apenas um vovô simpático, que afaga a netinha e reza o Pai Nosso em inglês, mas há um problema aí, Olavo de Carvalho é um charlatão, um aglutinador de citações que além de servir para dar um verniz intelectual à essa nova direita, é um velho asqueroso e conspiracionista. Apesar disso, a política passa somente de forma tangencial, se reservando a uma piadinha sobre comunismo em seu miolo. Há quem acredite até em astrologia, quem dirá no astrólogo.
Para Todos os Garotos que Já Amei
3.7 1,2KO filme se apropria de praticamente todos os clichês de três décadas e meia de filmes de high school/ romance já feitos em Hollywood e consegue piorar todos eles, não li o livro (até porque não interessa) mas a história se vale de inúmeros lugares comuns e o resultado é um filme sem personalidade alguma, a não ser pelo fato da protagonista ser uma descendente de orientais. Há o namoro falso como em "Namorada de Aluguel", há o "cara legal" sendo preterido pelo bonitão playboy como em "A Garota de Rosa Shocking", tem a irmã mais nova mala como (de novo) em Namorada de Aluguel, e tem até o pai ginecologista como em "10 Coisas que Odeio em Você". Sem contar com a revelação do segredo na cena em que todos os personagens importantes se encontram. Ruim de doer, pode siginificar 1 hora e meia da sua vida que não voltará jamais.
Adrenalina
3.2 496 Assista AgoraO toque de celular mais insuportável na história do Cinema!!
Deadpool 2
3.8 1,3K Assista AgoraCai na armadilha de tentar ser um sucesso como o primeiro, mas o fator surpresa já era.
Vingadores: Guerra Infinita
4.3 2,6K Assista AgoraJá faz algum tempo que apontam uma defasagem no “gênero” dos super-heróis, que embora não configurem exatamente uma vertente do fazer cinematográfico, se mostram nesse novo século como mais lucrativo segmento de filmes do mercado hollywoodiano. Muito dessa saturação, dizem os críticos, se deve à Marvel Studios, que padronizou o modo de realizar esse tipo de projeto, com o primeiro “Homem de Ferro” e o seu surpreendente sucesso. Ali se iniciava o hoje chamado MCU (sigla em inglês para Universo Cinematográfico da Marvel).
Essa “acusação” se estabelece sob o argumento de que o estúdio, principalmente depois de sua aquisição pela Disney, padronizou a feitura dos filmes, com a mão de ferro do poderoso Kevin Feige: A necessidade de costurar todos esses filmes surgiria em detrimento da autonomia de diretores e roteiristas.
Edgar Wright (originalmente o diretor de Homem-Formiga), por exemplo, teria abandonado o barco em razão dessa uniformização. Essa maneira de pensar a sétima arte trouxe triunfos e dissabores, filmes melhores e outros piores, mas com certeza o que se pode afirmar é que o blockbuster nunca mais foi o mesmo depois que a Marvel teve a ideia de juntar várias franquias em um único espaço fílmico.
O que se pode dizer também é que temos nesses dez anos e dezenove filmes, a Marvel está sabendo se reinventar (Thor: Ragnarok e Pantera Negra estão aí para provar isso) e tem nesse terceiro capítulo da saga dos Vingadores talvez o seu auge como estúdio voltado para o entretenimento cinematográfico.
A história, delineada desde a cena pós créditos de Vingadores (2012), quando se deu a primeira aparição de Thanos, é simples como um quadrinho de Stan Lee desenhado por Jack Kirby: O vilão quer possuir as Jóias do Infinito, artefatos ancestrais, que se juntados, conferem ao seu dono poderes inimagináveis. As referidas joias apareceram ao longo dessa década nos filmes da Casa das Ideias sob diversos pretextos, como motores das tramas, ou mesmo como meros easter-eggs, de forma a colidirem no roteiro escrito por Christopher Markus e Stephen McFeely.
Roteiro esse que pela necessidade de mostrar uma infinidade de personagens, trabalha muito bem com essa variedade de perfis, a montagem de Jeffrey Ford e Matthew Schmidt é bastante dinâmica, e todos os núcleos são bem trabalhados de modo que esses subplots sirvam tanto para crescer a tensão, como para dar um respiro nas quase três horas de projeção, que passam simplesmente voando diante da agilidade do filme, que diz logo a que veio antes mesmo da exibição da logomarca dos Heróis Mais Poderosos da Terra.
Nesse tempo de filme, temos ao mesmo tempo uma síntese da obra realizada nessa década, e um prenúncio do que está por vir nessa nova fase do estúdio. Temos interações de personagens que resultam em combinações deliciosas para os fãs: Thor e Guardiões da Galáxia, Doutor Estranho e Homem de Ferro e aí por diante. Muitos desses heróis têm pouco tempo de tela, mas o espectador é brindado com pelo menos uma cena empolgante para cada um dos participantes da história.
Embora o elenco inchado possa parecer uma dificuldade, o que se tem na verdade é a falta de necessidade de aprofundar aquelas personas, cada um teve a sua franquia, consequente introdução, não há porque perder tempo mostrando o que já foi dito em outros filmes, e aí que temos um ponto de inflexão. Guerra Infinita tem no seu vilão o verdadeiro protagonista da trama.
Concebido visualmente pela ILM (empresa de efeitos especiais de George Lucas) e concretizado pela captura de feições e dublagem de Josh Brolin, Thanos é com certeza o maior vilão da Marvel (repetidamente acusada, muitas vezes com razão de possuir antagonistas genéricos) e talvez seja o melhor vilão desse estilo de filmes desde que Heath Ledger interpretou o Coringa em 2008.
O Titã Louco ganha toda uma profundidade e desenvolvimento, que funciona muito devido ao esmero do roteiro em dar-lhe o tempo de tela necessário. As motivações do gigante roxo são bem definidas, que possui uma lógica, que embora perversa, sob uma análise mais esmiuçada faz sentido. A escolha de humanizar o que poderia ser apenas mais um boneco de CGI, como em CERTOS FILMES por aí, desfaz a sensação de desconexão que poderia existir entre público e personagem, é normal sentir empatia pela criatura, lhes digo, não tem nada de errado com isso.
Fora isso, Thanos se mostra como uma real ameaça contra os protagonistas, toda aparição sua traz todo um temor de que algo muito ruim irá acontecer com algum dos heróis, em parte pelo seu poder, e em parte pelo seu inexpugnável senso de propósito.
Visualmente temos muitos acertos em Guerra Infinita, a construção de mundos da Marvel segue impecável, e a junção de vários cenários característicos das franquias é um deleite aos olhos. As setpieces, sobretudo as de batalhas, trazem uma ação divertida e que combina bem as capacidades dos grupos de heróis, destaque para a batalha de Wakanda e uma certa sequencia construída em determinado planeta inóspito.
Dessa maneira, o que se pode dizer com a plena certeza é que Vingadores: Guerra Infinita é um verdadeiro triunfo do entretenimento cinematográfico, é pensado menos como filme e mais como evento, e nesse sentido é um acerto em suas pretensões. A sensação ao fim da exibição do longa é de que estamos diante de um produto sui generis dentro da filmografia de seu estúdio, e que um ano parece tempo demais para esperar.
Nós que Aqui Estamos Por Vós Esperamos
4.3 416O universal pelo particular, o complexo pelo simples, o histórico pelo trivial. O documentário é uma visão caleidoscópica do que foi o século XX, contada através de grandes e "insignificantes" personagens, tem uma montagem que foge de qualquer tipo de padrão. A trilha é muito marcante e cumpre o seu papel diante de um filme totalmente sem falas.
Uma Mulher Fantástica
4.1 422 Assista AgoraTematicamente relevante e tecnicamente impecável, Uma Mulher Fantástica é um estudo de personagem sensível, tocante e conduzido de maneira muito eficiente por seu diretor. Mas de longe, o grande triunfo do filme é a sua atriz principal, a transexual Daniela Vega. Conseguindo manter um misto de docilidade e agressividade, sendo bastante expressiva e sustentando uma dignidade inabalável mesmo diante dos constantes episódios de preconceito e violência que sofre ao longo da trama, o fim do filme traz a sensação de que a conservadora Academia perdeu uma grande oportunidade de quebrar paradigmas esse ano e indicar a atriz para a cerimônia do careca dourado, uma pena.
Sem Amor
3.8 319 Assista AgoraO candidato russo ao Oscar utiliza dos dramas privados para metáfora da situação do país. O filme todo é muito condinzente com o seu título e o que mais se tem é demonstrações de falta de afeto. A atriz principal faz um belo trabalho e consegue realmente despertar a raiva de quem assiste. Infelizmente o cineasta de sobrenome complicado abandona a sutileza no fim, e telejornais começam a falar da Ucrânia, e a protagonista literalmente vira a Mãe Rússia, chegando até a encarar o espectador. Mesmo assim, seu comentário social é muito mais eficiente do que certos filmes que são lançados para glorificar operações policiaise figuras do Judiciário , por exemplo...
Liga da Justiça
3.3 2,5K Assista AgoraSofrível. Juro que fui de coração aberto assistir a sequência do filme que mais implico nessa vida que é BvS e encontrei um filme ainda pior. A Warner/DC não sabe o que está fazendo e isso se cristaliza no fato de um filme ter Batman, Mulher Maravilha,Superman (ressuscitando!) e o arco dramático mais acentuado ser do Cyborg. Jason Momoa basicamente é ele mesmo e Ezra Miller poderia concorrer facilmente a personagem mais irritante de 2017 em qualquer dessas premiaçoes-paródia, já que seu alívio está mais para tortura cômica. Até os pontos positivos de BvS, Ben Affleck e Gal Gadot, estão terrivelmente limitados pelo roteiro horrível que se divide em diálogos com frases de impacto "não preciso reconhecer o mundo , apenas salvá-lo ou sou uma pessoa que acredita (enquanto enfrenta terroristas" extremistas")" ou em exposições risíveis, de coisa que estamos vendo ou qualquer idiota consegue inferir " essa caixa foi aberta há muito tempo hein". Do vilão nem se fala muito porque o CGI dele foi superado quando lançaram o Playstation 2, há mais ou menos 15 anos. A conclusão que chego ao assistir a essa abominação é a de que fiz bem em economizar o dinheiro do ingresso.
Depois de Horas
4.0 454 Assista AgoraDepois de Horas
Dir: Martin Scorsese
⭐⭐⭐⭐
Considerado (erroneamente) uma das obras menores da filmografia do Mestre Scorsese, Depois de Horas é uma comédia de erros que por diversas vezes flerta com o surrealismo diante das situações absurdas aos quais o seu protagonista é submetido. O roteiro de Joseph Minion se deleita ao pôr Paul Hackett nas mais improváveis enrascadas tendo como pano de fundo a Nova York dos anos 80, cinzenta, sombria, e permeada pela criminalidade (embora só tenhamos uma cena de tiroteio). A costumeira maestria do diretor obviamente dá as caras, com seus planos arrojados, e com direito a aparição do realizador, como iluminador de uma estranhissima (olha o pleonasmo) boate punk.
Star Wars, Episódio VIII: Os Últimos Jedi
4.1 1,6K Assista AgoraStar Wars é uma franquia bilionária e que esse ano completou 40 anos de existência. Ao longo dessas 4 décadas, a história se permitiu criar convenções ao seu redor. Frases de efeito repetidas, arquétipos facilmente reconhecidos, estruturas narrativas formulaicas e o apelo ao maniqueísmo sempre deram o tom da saga da família Skywalker.
Aí vem Rian Johnson e bagunça todo o coreto. A bem da verdade, no ano passado, Rogue One com a direção de Gareth Edwards, ao se propor a dar vida aos créditos de "Uma Nova Esperança" já mostrava que a Lucasfilm, agora sob a batuta da Disney, tinha planos mais ambiciosos com relação ao legado de George Lucas. Essa, inclusive, foi a crítica feita a "O Despertar da Força" que recebeu acusação de ser apenas um remake do primeiro filme da saga.
Felizmente, os chamados "haters" de carteirinha não poderão usar desse argumento, pois estamos diante do filme mais original dos nove já lançados (Okay, Dez se contarmos "Caravana da Coragem"), a direção de Johnson, aliada ao seu roteiro, usa de recursos inéditos para retratar a odisseia passada na galáxia muito, muito distante.
Uma certa cena em particular, onde são mostrados uma relva crescendo e um fóssil (??) dão bem essa cara de ousadia e experimentação, em uma bela mostra de autonomia do diretor com relação ao resultado final de sua obra.
No que diz respeito às atuações, o grande destaque do longa, é sem dúvidas Mark Hamill, que ao retratar o seu mais famoso personagem como um homem atormentado pela suas escolhas do passado, nos mostra uma faceta completamente diferente de Luke Skywalker.
Os demais membros do elenco estão muito competentes em seus papéis, com destaque para Daisy Ridley e Adam Driver, especificamente, pois são os que tem mais tempo de tela e consequentemente o arco mais alongado.Oscar Isaac é recompensado pela sua quase nulidade no filme anterior, e a participação de Benicio Del Toro é bem divertida. Claro que é impossível não se emocionar toda vez que Carrie Fisher aparece em cena, tudo que Princesa Leia faz em tela adquire um peso ainda maior, devido a perda recente de sua intérprete.
Contudo, o filme não é perfeito, e sofre com um ritmo um tanto arrastado em seu miolo, muito pelo fato de conter uma "side quest" um tanto quanto desnecessária, se levarmos em conta a mobilidade da trama. Algumas piadinhas fora de hora parecem ser mesmo a marca registrada do modo de fazer filmes da empresa do Mickey (Não é Marvel?), mas tanto aqui como lá, não compromete o resultado final.
Embora seja difícil dividir o filme na clássica partição de três atos, o seu terço final é uma aula de como um blockbuster deve ser impactante, diversos mini reviravoltas, sequências de ação de tirar o fôlego, e o destaque merecido para personagens queridos dão o tom para os melhores trinta minutos já passados no Cinema com o nome de Star Wars no letreiro. É discutível dizer se esse é o melhor filme da saga ou não. Talvez ele seja absurdamente bom por ser herdeiro de uma história que vem sendo contada há muito tempo, no entanto, sua personalidade própria e vigor nos dão a esperança de que esse legado está sendo muito bem cuidado. E que venha mais.
Thor: Ragnarok
3.7 1,9K Assista AgoraNão se mexe em time que está ganhando. Muita gente reclama do tom bem humorado dos filmes da Marvel, mas é isso que faz o UCM fazer sucesso há oito anos. Isso posto, a franquia do Deus do Trovão abandona as infrutíferas tentativas de fazer filmes sobre intriga palaciana e abraça a galhofa. Funciona em digamos, 70% do filme, escorrega, patina, mas se mantém de pé. Talvez Taika Waititi, seja dos diretores menos gabaritados com a empresa (Russos, Whedon, Gunn) a fazer o trabalho mais autoral. Cate Blanchett não brilha como deveria, e o Loki é um personagem muito, mas muito chato, não tem como entender o hype, e daí se o ator é simpático? A impressão que se passa depois de duas horas é a sensação de termos visto um excelente trailer, o aperitivo do que ainda está por vir, é divertido, mas descartável.
Neve Negra
3.4 159Ao contrário de sua Seleção, o cinema argentino vai muito bem, obrigado. O Messi cinematográfico deles, Ricardo Darin, é daqueles atores que pode fazer o poste que será mijado pelo cachorro nos 23:17 segundos do filme, e mesmo assim será um excelente papel. A sua construção de um homem amargurado, incapaz de um gesto de afeto para com o irmão, é intensa e apesar das poucas palavras que seu personagem pronuncia, se mostra extremamente credivel.
Nossas Noites
3.7 165 Assista AgoraÉ muito difícil ver filmes protagonizados por atores na terceira idade. Nesse sentido, é muito gratificante ver Robert Redford (81) e Jane Fonda (79) estrelarem essa enternecedora história de amor. Embora apele para recursos narrativos ( criança fofinha, cachorro), e conte com um final um tanto quanto insatisfatorio, a história é muito bem sustentada pelo talento de seus atores principais, para quem gosta do estilo, é uma boa opção.
Um Contratempo
4.2 2,0KUm bom thriller policial na melhor tradição de "Nove Rainhas" para ficar no cinema latino, esse filme espanhol (ou somente catalão?) possui um roteiro com o típico jogo de fumaça e espelhos que faz da trama um elaborado quebra-cabeças. Embora sofra com um protagonista limitado, e a firula narrativa o torne um tanto confuso, eis uma boa pedida para os adeptos da Netflix.
Blade Runner 2049
4.0 1,7K Assista AgoraBLADE RUNNER 2049 - CRÍTICA
Sequências de grandes clássico do cinema tendem a resultar em retumbantes fracassos, seja por reverenciarem demais a obra original, por serem meramente caça níqueis, ou pela razão mais comum, serem absolutamente desnecessárias.
Felizmente, esse não é o caso de "Blade Runner 2049", a sequência direta do icônico filme de 1982 de Ridley Scott. Não padecendo dos inúmeros problemas do seu antecessor com relação à produção e pós produção, (É de conhecimento popular que o filme original tem sete versões, sendo a última, e definitiva, a de 2007) o universo reimaginado de Phillip K. Dick encontra em Dennis Villeneuve um talentoso realizador.
Quando o policial K. (Ryan Gosling) se depara com um segredo que pode abalar as já arruinadas estruturas sociais, o mesmo se vê obrigado a procurar o aposentado blade runner Rick Deckard(Harrison Ford), desaparecido há mais de 30 anos. Dizer mais que isso é spoiler.
Em sua essência, Blade Runner, tanto o original, como essa sequência, emulam a atmosfera noir combinada com a chamada estética cyberpunk, é Raymond Chandler pós desastre nuclear. Nesse sentido, a atmosfera criada pelo roteirista Hampton Fancher ( o mesmo de 1982), e agora co-escrito com Michael Green, levada à cabo por Villeneuve , não é só respeitada, como ampliada.
A fotografia de Roger Deakins (Um Sonho de Liberdade, Fargo) aliada ao excelente design de produção, ajuda o espectador mergulhar na Califónia pós apocalíptica imaginada por Ridley Scott nos anos 80, Hans Zimmer faz um belo trabalho homenageando a trilha eletrônica de Vangelis.
No tocante ás atuações, os trabalhos mais dignos de nota são de das atrizes Ana de Armas e Carla Juri a primeira vivendo uma inteligência artificial que muito lembra "Her" e a segunda, a ameaçadora lacaia do magnta vivido por Jarde Leto., Ryan Gosling não está na sua melhor forma, e parece ter tido aulas na "Academia de atuação Kristen Stewart de inexpressividade dramática", o que curiosamente não impede o espectador de se condoer da situação do protagonista. Harrison Ford retorna a um de seus papéis consagradores, que ele claro, já disse odiar (Qual ele não odeia mesmo?) e mostra uma performance digna.
No frigir dos ovos, mesmo com sua extensa duração (Quase três horas), o que deve afastar os mais incautos, Blade Runner 2049 não é somente uma sequência, é um filme de personalidade própria, com a marca do seu direitor, e figura como uma das boas ficções científicas lançadas nos últimos anos.
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Mãe!
4.0 3,9K Assista AgoraPode ser um desfile de alegorias bíblicas, uma crítica de como a humanidade maltrata a (Mãe!) Natureza, e um suspense que versa sobre a falência de um relacionamento, onde o amor é vetor que aponta só para uma direção. Provocativo, desafiador, sufocante, quase insuportável, Mãe! é uma verdadeira aula de como o Cinema pode ser sobre símbolos e de como estes podem significar várias e várias coisas, a depender da subjetividade do espectador.
Okja
4.0 1,3K Assista AgoraUsando da amizade entre uma criança e uma adorável criatura, o diretor coreano faz uma contundente alegoria contra a indústria da carne, cristalizada aqui na empresa Mirando (Monsanto, oi?), as vezes o filme transita para a caricatura, mas é compreensível pela mensagem a qual o filme quer emitir. Um elenco interessante, que parecendo subaproveitado na figura de Jak Gylenhaal, tem uma como sempre competente Tilda Swinton. Honra ao mérito da carismática protagonista e para os efeitos que criaram Okja, a paquidérmica e amável criatura que dá nome ao filme.
A Qualquer Custo
3.8 803 Assista AgoraUm faroeste contemporâneo na primeira camada, um filme sobre "os fins que justificam os meios" na segunda, e uma critica ao sistema financeiro e imobiliário norteamericano na terceira . Perfeito tecnicamente, e embora com um andamento devagar, nos brinda com uma história simples, mas muito bem contada.