O que faz deles um casal? (Cenas de um casamento, minissérie de Hagai Levi, é um grande estudo de caso sobre a imperfeição presente na humanidade. O difícil é fazer a própria humanidade entender isso!)
"Viver à dois é para poucos", diziam meus pais e pelo que pude testemunhar do casamento deles, estavam cobertos de razão. Eu mesmo, em mais de 40 anos de vida, nunca me imaginei como parte integrante deste universo. E ainda digo mais: vejo o casamento como um grande enigma sem solução. Uns vão dizer que vale pela experiência e/ou catarse, outros que foi a melhor coisa que poderia lhes ter acontecido, simplesmente porque não conseguem viver sozinhos. Para mim, é uma incógnita que não vale o risco.
No entanto, tenho um verdadeiro fascínio por peças de teatro, livros e filmes que abordam o tema. E quanto mais complicado ou fora da curva o casal, melhor. Tem quem chame isso nos EUA de guilty pleasure (vai entender o tio Sam!). Adoração mórbida à parte, ninguém esmiuçou o tema como o cineasta sueco Ingmar Bergman, gênio que fuçou as dores e angústias humanas como ninguém. Mas ninguém chegou perto de sua maestria (embora tenham tentado à exaustão).
Dentre os que tentaram o mais recente, o produtor Hagai Levi - escritor por trás da soberba série de televisão Em terapia, com o fascinante ator Gabriel Byrne como protagonista - arriscou a empreitada de realizar um remake da minissérie Cenas de um casamento, um clássico na filmografia de Bergman, para o canal HBO. O resultado, mais uma vez, divide opiniões. Mas quer saber? Até mesmo essa divisão é bem-vinda e acrescenta para o debate sobre a trama.
Aliás, vamos a ela: Mira (Jessica Chastain) e Jonathan (Oscar Isaac) são o casal que aparentava estabilidade, mas tudo rui quando Mira diz que se apaixonou por outra pessoa, no caso um homem mais novo. Detalhe imprescindível: um aborto que antecede essa notícia foi um catalisador fundamental para o começo do fim da relação (embora Mira diga ao marido que há anos vive sufocada, sem paixão).
Eles têm uma filha, Ava, ainda pequena, e esse será um grande ponto de conflito na separação. Com quem ficar, dividir a guarda... E o pior: eles nunca estão completamente distantes. Um precisa da presença do outro, transformando o casamento num cabo de guerra difícil de explicar. Até mesmo a palavra divórcio (e o fato de ambos não estarem convictos da necessidade dele) vira uma pedra de calcutá em qualquer conversa ou discussão que tenham. E as discussões - que são muitas e parecem intermináveis - é uma grande questão a dividir o público espectador.
Em sites de cinema e críticas que li vi muitos "entendidos" dizendo que o bate-boca interminável entre Mira e Jonathan é o maior problema da série. Uma delas chegou a dizer: "se o divórcio é o preço que eles têm de pagar para que eu não tenha mais que ouvir nenhuma discussão, que seja!". Honestamente... Me pareceu o típico comentário de quem viveu isso na pele, de quem não gostava das D.Rs e fez de tudo para pular essa parte quando estava casado. O problema: nenhum casamento é uma festa que nunca termina.
Quando eu tinha por volta de meus 12, 13 anos ouvi um senhor de seus 70 anos me confessar sua opinião sobre o matrimônio. E ele disse: "o problema dos casais, principalmente os de hoje em dia, é que eles não entendem que o casamento não é a festa, o trocar de alianças, o buffet, o bolo, os docinhos, a benção do padre... Não, meu jovem! O casamento é o que vem depois. O que acontece depois que a festa acabou. E a sociedade contemporânea não consegue mais viver fora da festa".
E ao lembrar desse discurso, percebi que as discussões de Mira e Jonathan eram o que menos me aborrecia. O problema mesmo era a incapacidade dessa nova sociedade viver a dois. Estamos cada vez mais imediatistas, imaturos, interesseiros, colocando nossos interesses na frente de quem quer que seja. Logo, como dividir o espaço com outra pessoa, casar, ter filhos? Às vezes a mera realização disso já parece um absurdo.
O que faz de Mira e Jonathan um casal é exatamente essa dificuldade de permanecerem juntos, de serem exclusivos um ao outro. E não adianta os mais velhos reclamarem, chamarem de ingenuidade ou falta de paciência. Os tempos são outros: mais corridos, frenéticos, quase esquizofrênicos. Sou de opinião que a vida se transformou num convite à solidão, pois é melhor ficar sozinho do que magoar alguém. Contudo, o ser humano ainda precisa de sexo, de uma boa conversa, de companhia. Nasce daí um grande conflito.
No final das contas, o que percebo em Cenas de casamento (pelo menos, nessa nova versão) é que se trata de um grande estudo de caso sobre a imperfeição presente em qualquer ser humano. E da dificuldade de, ao menos, admitir isso. E essa mágoa, esse ressentimento, não é necessariamente algo ruim. Ela só precisa ser canalizada da maneira correta. As brigas, traições e separações, acreditem!, ensinam bem mais do que aparentam. Mas para isso é preciso uma sociedade que não enxergue tudo a ferro e fogo. Nem tudo é apenas certo ou errado. Que bom seria se fosse!
P.S: para você que viu e gostou de História de um casamento, de Noah Baumbach e Kramer vs. Kramer, de Robert Benton (vencedor de 5 Oscars em 1980), achei esse aqui um pouco mais profundo. Mas, cá entre nós, ele precisava ser. Do contrário, não seria o século XXI.
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O Shangri-lá brasileiro (Uma crônica sobre Inhotim, o maior museu a céu aberto do mundo.)
O que eu posso dizer sobre esse lugar atualmente? Que nos últimos tempos toda vez que me deparo com uma notícia no jornal sobre ele só tenho ouvido que ou "ele vai fechar a qualquer momento por falta de verbas para mantê-lo funcionando" ou "irá reabrir no próximo mês ou bimestre ou trimestre ou no segundo semestre etc e tal". E nunca reabre. E é dessa maneira que tratam a arte e a cultura nesse país desde que ele foi descoberto pelos portugueses cinco séculos atrás. Sim, eu sei... É triste.
Mas ainda assim tenho esperança. Pois, no final das contas, é disso que vive a arte e a cultura nacional.
Digo mais: certa vez vi uma frase magnífica num livro sobre artes visuais. Nele, o autor dizia que a arte "é um lugar mítico, imaginário, que nem todos os seres humanos são capazes de enxergar com exatidão. E muitos ainda por cima desdenham desse lugar, acreditando ser ele mera ilusão de ótica ou invenção de desmiolados ou oportunistas".
E por que citei essa passagem? Porque vejo muito disso em Inhotim. Todas as vezes que vi uma foto deste que é considerado o maior museu a céu aberto do mundo penso nesse lugar imaginário, quase irreal. Ou como bem diria o poeta Manuel Bandeira, nesta Pasárgada. Aquele lugar onde eu sou o amigo do rei. Inhotim é isso, o contraponto da ciência exata, de qualquer tipo de exatidão. O lugar da dúvida, da experiência, de se permitir, da tentativa e erro. E ainda assim, é magistral.
É preciso que eu confesse aqui: nunca estive em Inhotim in loco. Só o conheço pelo site na internet e por tudo o que falam dele na grande mídia de tempos em tempos. E mesmo assim consigo imaginá-lo nos mínimos detalhes. E me encanto toda vez que penso nele ou sobre ele.
É possível andar por labirintos nunca dantes vistos. Apreciar o inusitado em suas exposições que fogem completamente do padrão do algoritmo (algo tão na moda e imposto pelo mercado hoje em dia). Conheço pessoas que lá estiveram e por lá se perderam. "Aquilo é um mundo à parte, Beto!", me disse uma delas, emocionada. E eu acredito. De olhos fechados.
O Brasil precisa de mais lugares como Inhotim e de menos pessoas como essas que administram lugares como Inhotim ou de um governo que não dá a mínima para a arte, pois não possui a menor sensibilidade ou tato para reconhecê-la. Nunca precisamos tanto da arte como agora, em tempos pandêmicos onde o desespero e o negacionismo dividem as atenções do público, seja no dia-a-dia frenético das ruas, seja no maquiavelismo latente das redes sociais. E mesmo depois de eu dizer tudo isso ainda vai aparecer gente por aqui me chamando de idiota, babaca ou mandando eu procurar alguma coisa séria para fazer. Coitados!
A sociedade brasileira não consegue enxergar - que dirá entender - que Inhotim é o Shangri-lá brasileiro, a terra onde não precisamos envelhecer um segundo sequer. James Hilton, autor do livro Horizonte perdido, onde este lugar mítico mostra sua cara, estava certo: certos lugares são eternos, não envelhecem. Não importa o quanto coloquemos defeitos neles. E o principal: são insubstituíveis (e deixo a palavra em negrito de propósito).
O fim de Inhotim - se vier a acontecer, e eu espero, torço sinceramente que não - seria o fim do que a arte tem de melhor. Um lugar livre de amarras e preconceitos onde podemos acreditar no futuro ao invés de empurrar a vida com a barriga em presentes repetitivos, rotineiros e monótonos para depois se transformarem num passado melancólico e sem finalidade. E isso, acredito, nós, os ainda lúcidos deste país que não é nação, como já cantou uma vez o líder do Legião Urbana, Renato Russo, definitivamente não queremos.
Logo, só podemos esperar o dia seguinte e o que ele trouxer de bom para nós. E já deveríamos, como brasileiros de carteirinha, estar acostumados a isto. Afinal de contas, este país é um eterno "esperar pelo amanhã". Então que chegue logo, que leve essa pandemia e tudo de ruim que nos atravanca há séculos embora. E que Inhotim, como tudo aquilo que ecoa a nossa arte e cultura, sobreviva.
Se há um lugar por aqui que merece essa honraria, sem sombra de dúvidas é ele.
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Rock na veia (Rádio pirata ao vivo, do RPM, aos olhos de hoje parece uma luz longínqua, um momento nobre que se perdeu no tempo. E mesmo assim não perdeu a sua capacidade de ser brilhante e eficaz em suas loucas intenções)
Como é bom sentar no sofá da sala de vez em quando, com o computador no colo e lembrar do passado, principalmente quando ele valeu MUITO a pena...
Volto no tempo aos meus 10 anos (mais especificamente 1986). Uma época em que o BRock mandava nas rádios, ditava tendências, expunha mazelas e, claro, sacudia o esqueleto de muita gente. Que o diga quem ouvia as rádios Fluminense, Transamérica, Cidade, Jovem Pan...
E como esquecer do quarteto formado por Paulo Ricardo, Luiz Schiavon, Fernando Deluqui e Paulo P.A Pagni? Sim, do RPM, que levou uma multidão de devotos à loucura e lotou casas de show por todo o país. E como lembrei do RPM, impossível não falar de seu álbum mais emblemático: o hoje mais do que cult Rádio Pirata ao vivo.
Rádio Pirata ao vivo, segundo álbum da banda, gravado ao vivo no Complexo do Anhembi, em São Paulo, e com direção do cantor Ney Matogrosso, é - gostem ou não os críticos, que adoram dividir opiniões e plantar discórdias - o divisor de águas dessa metamorfose cultural em que o rock n' roll versão tupiniquim se transformou naqueles tempos.
Seja pela celebridade que seu vocalista Paulo Ricardo viria a se tornar após o lançamento do álbum (e, com isso, muitos na época chegaram a cogitar que ele não fosse realmente um artista, mas apenas um mero modelo ou sex symbol que seria tragado com o tempo pela fama), seja pelas letras fortes, ácidas, divertidas, a cara de uma geração que procurava os seus valores em um país que parecia confuso, perdido, à deriva, Rádio Pirata foi uma confrontação (mais: um revitalização) para um rock brasileiro que já bombava, com nomes como Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso, Titãs, Ultraje a rigor, Legião Urbana, entre outros.
Nenhum outro disco vendeu tanto quanto ele no período (e falo de mais de 2,5 milhões de cópias vendidas em território nacional).
Como destacar minhas preferências num trabalho tão bem realizado e de repertório tão apaixonante quanto esse? Apesar de se tratarem de apenas nove faixas, o brilhantismo com que o show foi realizado é digno de nota e, dificilmente, os apreciadores do estilo ficarão desapontados com o resultado final.
Indo da belíssima instrumental "Naja" à internacional "London, London", clássico de Caetano Veloso dos tempos de exílio na capital inglesa, e passando pelos hits - imprescindíveis em qualquer turnê do grupo - "Olhar 43", "Alvorada Voraz" e "A Cruz e a Espada", o álbum reúne, em poucas palavras e riffs, o melhor desse período musical de quem esse projeto de colunista que vos fala guarda tantas boas recordações.
Aos acordes finais do show gravado (que ouço novamente pela centésima vez na internet) e passadas mais de duas décadas da revolução proposta, a impressão que fica é a de que o rock contemporâneo regrediu consideravelmente, não bebeu nessa fonte gloriosa.
Onde foram parar aqueles herois da resistência que com uma simples guitarra e arranjos de fácil execução um dia tentaram mudar o mundo? Onde foi parar a Geração Coca-Cola que o Renato Russo tão bem cantou? Hoje, ao contrário, o que se vê é uma comercialização desenfreada da música (seja nas redes sociais ou nos serviços de streaming), onde criação artística e significado deram lugar a cifras astronômicas e artistas de segunda categoria com patrimônios milionários.
Sim, isso é revoltante.
E a este pobre coitado, cronista da internet, só resta sonhar - pois sonhar ainda é gratuito, embora não pareça mais - que os bons tempos regressem e tragam novas vozes, uma fúria nova e o rompimento com esse moralismo babaca do dias de hoje, que só faz exaltar a indústria medíocre do politicamente correto. Nossos ouvidos (e acredito falar por muita gente) agradeceriam!
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O amor não tem a menor coerência (A série Todas as mulheres do mundo analisa de forma debochada, mas sem perder o prumo, as agruras e alegrias desse nobre sentimento)
Eu já fui traído pela vida ao acreditar num amor que não existia, num amor que somente eu senti. Mas quem nunca, não é mesmo? Hoje, passadas quase duas décadas, acredito que o amor é a grande incógnita disso que chamamos de vida. E mais: tornei-me um admirador quase psicanalítico de histórias sobre ele. Sejam no cinema, no teatro, em livros os mais diversos, até mesmo em exposições. Onde quer que o amor esteja, traduzido nas mais diferentes vertentes, eu corro atrás. Mesmo. E às vezes me surpreendo, mesmo.
Com a série da globoplay Todas as mulheres do mundo, de Jorge Furtado e Janaína Fischer, e abertamente inspirada no filme homônimo do cineasta Domingos Oliveira, aconteceu exatamente isso. E nunca me senti tão alegre e envolvido com uma história dessas. Pareceu-me, em muitos momentos (logicamente não os sexuais!), ver a minha própria trajetória.
Paulo (Emílio Dantas) e Maria Alice (Sophie Charlotte) se amam. Se é possível um casal acima de qualquer suspeita, são eles dois. São o típico casal "eles foram feitos um para o outro". E mesmo assim falham, erram, falam demais, perdem o clima, o tom, exageram, em suma, se perdem. E nem por isso deixam de tentar de novo. E justamente quando tudo parecia caminhar para o happy end Maria Alice, que estuda Balé, ganha uma bolsa e vai para Berlim. E nesse exato momento começa a saga de redescoberta de Paulo.
E essa redescoberta vem na forma de inúmeras mulheres sensacionais: Adriana, Stella, Elisa, Laura, Martinha, Giovanna (sua mãe), Renata, Pamela, Gilda, Sara, Natália, Pink... E com cada uma delas ele sofre, se arrepende, se apaixona, enlouquece. E mais do que isso: se reinventa.
São muitos os desafios de Paulo. Afinal de contas, são mulheres tão complexas quanto ele próprio. A que se enche de drogas lícitas e ilícitas e não consegue ser feliz sem elas, a obcecada pela fama e pela própria imagem, a trapezista libertária que faz análise para lidar com a traição do marido, a garota de programa cheia de dúvidas, mas que não sai do personagem da mulher forte, independente, a que acredita no poliamor e não nessa coisa "ultrapassada" que o heterossexualismo impõe há anos, até mesmo a melhor amiga, Laura (Martha Nowill), que se acha quarentona, superada, abandonada pela vida... E a cada tropeço, a cada término, a cada fossa. uma certeza paira a cabeça de Paulo: o amor é uma selvageria, não tem a menor coerência.
A frase é de seu amigo de longa data, Cabral (Matheus Nachtergaelle, ótimo!), que sob a máscara de um derrotismo latente, abandonado pelo grande amor de sua vida, incorpora de forma brilhante um Zorba, o grego - personagem eternizado no cinema pelo extraordinário Anthony Quinn - versão tupi-guarani com direito a maços e maços de cigarros. É dele que surgem as grandes frases, os grandes questionamentos. Ele transpira lucidez pelos poros. Ah! E como o mundo anda precisando de lucidez!
Maria Alice regressa, eles se casam, e novas dúvidas tomam a ribalta de assalto. Ninguém nunca prometeu que seria fácil. E não é. Porém, eles não conseguem viver um sem o outro. É simplesmente impensável. E é dessa impossibilidade que o amor se nutre. É dessa forma que ele nos joga contra a parede, revira os móveis da nossa casa, confunde nosso inconsciente. E que, pelo amor de Deus, continue assim! Pois de exato mesmo nessa vida só a morte e desta eu quero mesmo é distância.
Ao fim de 12 episódios irretocáveis chego à conclusão de que não foi de todo mal aquele amor não correspondido 20 anos atrás. Ele foi, isso sim, necessário. Quando vi pela primeira vez Eu sei que vou te amar, de Arnaldo Jabor, eu tinha meros 16 anos, e cheguei à conclusão de que o amor era uma explosão mental, um torpedo querendo nos atingir a qualquer custo. Agora, quase três décadas depois, calvo, vejo em Todas as mulheres do mundo que esse sentimento é ainda mais complicado: ele é uma grande catarse, quase um jogo de xadrez, porém indispensável para que consigamos seguir em frente e encontrar o nosso lugar por aqui, enquanto estivermos por aqui. Valeu, Domingos! Por esse presente.
E você, que leu este texto, viu a série como eu, e ainda assim não ficou satisfeito, chegou a chamar de pornografia barata? Assiste de novo. Você provavelmente não entendeu uma vírgula sequer...
P.S (eu quase esqueci e nunca ia me perdoar por deixar isso de fora): a trilha sonora da série, Marisa Monte, Nara Leão, Elza Soares, Rita Lee, Alcione, Maria Bethânia, Elis Regina, Cássia Eller... É um caso à parte. Não somente embala o amor de Paulo e Maria Alice como tem vida própria. Ouçam a temporada toda, com carinho. Elas merecem!
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O quarto reich sempre esteve por aqui (Hunters é sátira ao nazismo, mas também interessante reflexão sobre os fascistas que andam entre nós desde que o mundo é mundo)
Os puristas estudiosos de história volta e meia encrespam com certas liberdades poéticas presentes em adaptações cinematográficas e televisivas de momentos históricos específicos. E no caso da Segunda Guerra Mundial e o holocausto em particular, eles vão além, chegando a ficar de cabelos em pé. Na boa... O problema é única e exclusivamente deles. E, além disso, a sétima arte nunca se viu engessada unicamente a discursos literários e acadêmicos. Mais: ela se permite ousar toda vez que a situação se apresente.
Logo, foi com um enorme prazer que assisti a primeira temporada de Hunters, série de tv da Amazon criada por David Weil, e constatei se tratar de uma grande e divertida ousadia.
Hunters conta a história do jovem judeu Jonah Heidelbaum (Logan Lerman, da franquia Percy Jackson), que vê a avó ser assassinada diante de seus olhos, sem que ele esboce qualquer reação, e descobre que ela pertencia a um grupo de caçadores de nazistas, capitaneado pelo milionário Meyer Offerman (Al Pacino, em seu regresso à tv depois de 17 anos).
Eu sei... Parece simplista resumir a série num raso parágrafo de cinco linhas. E é. Contudo, Hunters está tão cheia de desdobramentos e reviravoltas que é difícil, à primeira vista, resumi-la em poucas palavras. Trata-se, no final das contas, de um grande ensaio sobre a América contemporânea - leia-se: pós eleição de Donald Trump - e o fascismo que nunca deixou de estar entre nós, embora a segunda guerra já tenha acabado há mais de 70 anos. E olha que a narrativa televisiva se passa em 1977!
O grupo que acompanha Jonah e Meyer é bastante eclético e reflete bem a estereotipia que convive a duras penas na terra do Tio Sam. Há o ator decadente, que sobrevive dos poucos fãs que ainda se lembram dos tempos em que ele era uma grande promessa de hollywood; uma versão um pouco mais engajada da musa da Blaxploitation, Cleópatra Jones; um ex-soldado da guerra do vietnã, ainda traumatizado pelos horrores que viu e perpetrou durante o conflito e até mesmo uma ex-noviça revoltada, bem na linha Grindhouse de Quentin Tarantino e Robert Rodriguez.
E não bastasse tudo isso os produtores da série - dentre eles, o fenômeno da atualidade, Jordan Peele - ainda debocham de tudo o que podem e não perdem a chance de usar referências do universo quadrinhos e da cultura pop em geral. Fãs da Marvel, deem uma chance a esse programa! Vocês não vão se arrepender!
Para aqueles que esperam algo mais visceral e contundente, na linha A queda: as últimas horas de Hitler ou A lista de Schindler, procurem outro formato. O que está em jogo aqui é uma grande fabulação, um desejo de zoar também com a própria história passada (e os conservadores vão reclamar, como sempre!). Já se você curtiu a maneira como Tarantino recontou a jornada de Hilter em Bastardos inglórios, assistam até o último episódio pois o desfecho é avassalador.
Desde que li a respeito do projeto pela primeira vez, fiquei interessado na premissa (e, lógico, pela presença de Pacino, o eterno Michael Corleone) e ansioso pela estreia. E ratifico: Hunters é tudo aquilo que eu esperava. Contudo, é preciso ter mente aberta ao assisti-lo, já que a série não se prende a normatismos e discursos literais. Como disse no primeiro parágrafo, "ela se permite ousar". E ousadia é tudo o que o cinema americano não tem feito nos últimos anos. Por isso vem perdendo espaço dia a dia para a televisão.
O quarto reich proposto pela série sempre esteve por aqui. Não é algo que simplesmente desapareceu por conta da derrota dos nazistas. Não, meus caros leitores! O fascismo sempre se esconde e procura uma nova oportunidade de tomar o poder no futuro. E assim será também depois que a nossa geração não estiver mais por aqui, ad aeternum.
Logo, a decisão de ler essa história de maneira emburrada, enfadonha, resmungando de tudo o tempo todo ou sabendo rir da própria desgraça (e aprendendo com isso) é só sua. Então, pelo amor de Deus, escolham com sabedoria.
A vida, vocês sabem, é uma só e nunca dura o tempo que nós gostaríamos que durasse...
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E depois dizem que as outras espécies é que são animais! (The Purge e o que nós, seres humanos, fizemos do mundo)
Chegamos ao fundo do poço e não nos demos conta? Chegamos, nos demos conta e não demos foi a miníma, porque só queremos saber mesmo é de nossos próprios problemas e o resto que se dane? Ultrapassamos a última barreira do racional e o que vier depois disso não é problema da humanidade e sim de quem contribuiu (leia-se: o Estado, a mídia, etc) para que o caos acontecesse e se tornasse a norma? Pois é... Fúnebre. Assim me senti - cheio de perguntas e sem nenhuma resposta válida ao alcance das minhas mãos - após assistir a primeira temporada da série de tv The Purge. E pior: com um gosto amargo na boca e um sentimento de que aquilo que meus olhos viram na tela não foi apenas ficção.
The Purge é obra do produtor, diretor e roteirista James DeMonaco. Na verdade, a série é um desdobramento de um série de longametragens com o mesmo nome (aqui no Brasil, ganharam o título de Um dia de crime) que fizeram um certo sucesso não nos cinemas, onde foi é claro exibido, mas nas redes sociais, por seu tom político, agressivo e polêmico.
Em poucas palavras (e para os fãs de seriados que adoram um resumo da situação): o governo americano, cansado das inúmeras tentativas inúteis de combater a violência, decide entregar ao povo a tarefa de fazer justiça com as próprias mãos. Com isso, criam o Purge Day (ou, nacionalmente falando, o dia da purificação). Todo ano, durante um dia inteiro, a sociedade pode ir ás ruas e dar cabo de qualquer pessoa que tenha lhe prejudicado, roubado, atrapalhado a sua vida, etc etc etc. E o estado não se mete no assunto. O problema? A capacidade que um decisão dessas tem de transformar homens em deuses, colocando suas atitudes animalescas e viscerais acima do bem e do mal.
Se nas versões cinematográficas The Purge contava com a presença ilustre dos astros Ethan Hawke e Frank Grillo (que ganhou notoriedade por aqui após o sucesso dos filmes da Marvel), aqui na versão televisiva o criador DeMonaco acerta ao optar por um elenco quase todo de desconhecidos (eu, pelo menos, nunca tinha visto a maioria dos atores e atrizes antes, em nenhum projeto, salvo o ator William Baldwin, que por sinal andava sumido!). Digo isso porque acredito que caso o elenco da série estivesse repleto de estrelas acabaria por distrair minha atenção da história - que já é poderosa sem a ajuda de megaastros.
Em linhas gerais o que se vê durante toda a temporada é a visão mais radical e direta do que se tornou os EUA pós-eleição do presidente Donald Trump. A determinação de relegar à própria sociedade o direito de fazer justiça com as próprias mãos, cria segmentos da maldade muito bem articulados durante toda a trama. Os fanáticos religiosos; os oportunistas de carteirinha, que vivem da desgraça alheia desde que o mundo é mundo; a elite corrupta e maldosa, que compra vidas humanas com a maior naturalidade e quando a situação aperta se faz de vítima; os injustiçados por pequenas coisas, que adoram pôr a culpa nos imigrantes, nos refugiados, nos indignos (segundo eles) de morar na "maior nação do planeta"; todos, sem exceção, buscam um país e uma realidade que atenda única e exclusivamente às suas próprias necessidades, em detrimento dos anseios e dos sonhos alheios.
Resultado: um jogo de gato e rato ainda mais covarde do que o ocorrido nos tempos da Guerra Fria, e mais ardiloso do que qualquer livro ou filme de espionagem que você já tenha lido ou visto nos últimos anos.
Eu poderia resumir The Purge aqui para vocês como um grande estudo de caso sobre a violência urbana ou como um ensaio para entendermos a tal da modernidade líquida (que um dia o antropólogo Zygmunt Bauman defendeu em seus livros), mas nenhuma das duas definições explicariam o que meus olhos viram nesses dez episódios. Na verdade, este artigo tentando explicar minhas impressões sobre a série já nasce desnecessário, pois acredito que ele merece, mais do que ser entendido ou explicado, visto. E uma dica: vejam com calma, sem o desejo tórrido dos tempos atuais de emitir um juízo de valor estereotipado a cada cena ou diálogo.
Em suma, The Purge vence você, espectador, pelo cansaço. E é preciso dar tempo ao tempo, degustar cada episódio como quem assiste a uma autópsia num necrotério. Eu sei, eu sei... Muitos reclamarão. Dirão: "Mas isso é forte demais para mim! Não sei se aguento". A estes faço a seguinte (e mórbida): "Como, então, vocês aguentam a vida diária, repleta de preconceitos e competições, muitas delas desnecessárias?".
Assisti a série num momento em que discutimos aqui no Brasil a questão da porte legal de armas para a sociedade civil. Um desejo de muitos revoltados com o atual estado em que o país se encontra e de muitos machões que adoram exibir-se (e como perderem a chance de exibirem suas pistolas e revólveres, não é mesmo?). E confesso: fiquei ainda mais assustado do que antes de assistir o programa.
O futuro, a persistirmos em nossos pré-conceitos deturpados e nossas escolhas movidas pela paixão, promete-se negro. E não digo isso somente em nossas terras. Falo do mundo como um todo. Já vejo pessoas nas ruas falando até em terceira guerra mundial, caso nada mais lúcido dê resultado. Portanto, apesar do tema nebuloso e atroz que rege a trama, adorei ver The Purge. E acho um tema necessário e pertinente à sociedade atual, que parece tratar a vida nos últimos tempos como um grande espetáculo circense. Vejam, se puderem e se tiverem estômago.
Melhor conhecer um pequeno fragmento da realidade macabra que nos aguarda (caso não tomemos uma providência imediata para melhorar o mundo) do que se ver perdido em meio a um guerra da qual sequer fomos avisados quando realmente começou.
O triunfo da mentira (Chernobyl, da HBO, é a minissérie do ano)
De meus 30 anos para cá todo dia me pergunto qual o papel da humanidade no mundo e, na maioria das vezes, não chego a uma resposta satisfatória, sequer elucidativa. Eu sei o que você, leitor, vai dizer: que este texto promete ser profundamente negativo. E nisto você está certo. A questão é que não há como ser diferente, vide o tema proposto. E pior: saber que esta não foi a primeira, muito menos será a última vez em que a humanidade pisará feio na bola. E pior ainda: O sistema quer que nos acostumemos com a ideia.
Eu não tinha sequer 10 anos de idade quando a tragédia na usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, aconteceu. Na verdade, fiquei sabendo da história da tragédia por conta de um filme que era bastante exibido na extinta Rede Manchete na década de 90 de nome Césio 137 - o pesadelo de Goiânia, do diretor Roberto Pires e de meu pai chegando na sala e dizendo: "essa tragédia aí foi o Chernobyl brasileiro". Pronto. Estava aguçada a minha curiosidade. O que era Chernobyl, afinal de contas? Como não havia o mundo mágico oferecido pelo Google naqueles tempos, fui às bibliotecas de bairro em busca de informações e me lembro da cara de uma das bibliotecárias, perplexa, perguntando quanto anos eu tinha e porque queria saber a respeito daquela história.
Começava ali o meu fascínio por histórias mórbidas e por tudo o que tivesse a ver com jornalismo investigativo. Detalhe: já naquela época me perguntava se um dia a sétima arte ou a televisão iriam ser capazes de reproduzir com minúcias e apuro o caos ocorrido naquele tempo. Pois bem: a HBO conseguiu e prova porque é uma das melhores produtoras de conteúdo audiovisual dos últimos anos. E tudo graças a genialidade e ao trabalho de pesquisa do escritor e produtor Craig Mazin (curiosamente mais associado, ao longo da carreira, à produções cômicas. Vejam só como o meio artístico pode ser surpreendente!).
Quando nos deparamos com a explosão da usina e a reação de apavoramento daqueles que testemunharam o ocorrido de suas janelas, a primeira impressão que fica é: isso aqui, por mais que tentem, vai ser difícil (muito difícil) de explicar. E essa é exatamente a questão que norteia toda a série. A palavra convencimento é distorcida de tantas e tais maneiras que fiquei com a sensação nítida de que a verdade hoje em dia não passa de uma grande manipulação dos fatos.
Há um trio, entretanto, que luta obsessivamente para que os fatos sejam enfim esclarecidos: Valery Legasov (Jared Harris), o especialista em reatores; Ulana Khomyuk (Emily Watson), funcionária do instituto de energia; e Boris Shcherbina (Stellan Skarsgård), uma mistura de relações públicas, gerente de crise e também, a princípio, voz do partido na questão (trata-se, afinal de contas, da URSS de Gorbatchev e da KGB na nuca dos cidadãos). Contudo, eles precisam duelar de foice com uma nação historicamente famosa por ocultar dados e transformar esperanças em aceitações. E o que sobra então para se comemorar? Boa pergunta.
Do ponto de vista técnico a minissérie é um espetáculo à parte. Que o digam as cenas de explosões e as maquiagens dos afetados pela radiação! Há cenas apavorantes de tão realistas. E, ao final dos cinco episódios, só as informações fornecidas sobre o rumo que as investigações tomaram e o desfecho macabro dos protagonistas já vale pela produção televisiva toda.
Outro ponto acertado da produção foi deixar para o último episódio o julgamento dos responsáveis pela tragédia e o festival de distorções que aquilo gerou junto à mídia. Usar a palavra arquivamento soa até poético perto do que eles fizeram com a vida daquelas pessoas e com a sociedade ucraniana como um todo. De real mesmo somente o fato de que a região continua inabitável até hoje e os índices de radiação no lugar continuam altíssimos. Mais trágico que isso, que me venha à memória neste exato momento, só mesmo o horror perpetrado pela nazismo durante a segunda guerra mundial.
Para aqueles que têm mania de rotular tragédias como essa acerca de regimes políticos (numa clara tentativa de acusar o socialismo e suas práticas nefandas) ficou claro aqui, pelo menos para mim, de que atrocidades mundiais como essa não são de uso exclusivo do socialismo ou do capitalismo. Na verdade, sempre acreditei que onde existem políticos existem problemas que poderiam ser evitados, mas nunca são por conta de interesses financeiros. E me parece também ter sido o caso aqui. Sabe aquela história do indivíduo que compra o melhor aparelho de som da loja e compra a extensão e a tomada para ligá-lo no lugar mais chinfrim e depois reclama que o aparelho entrou em curto-circuito? Guardadas as devidas proporções, foi o caso aqui.
O tempo passa e o mundo se recusa a mudar nesse sentido. Continuamos reféns da mesma mentalidade chamada "vamos reduzir custos!", imposta por políticos e estadistas gananciosos. O dinheiro antes do indivíduo. O problema é que aqui tratava-se de uma usina nuclear. Deu no que deu. Hoje, após ter lido tantos artigos e matérias sobre o assunto, vejo o caso com a mesma proporção da bomba lançada pelo Enola Gay em Hiroshima e Nagasaki.
Em linhas gerais, Chernobyl é não somente uma prestação de contas a todos aqueles curiosos (como eu) que sempre quiseram entender minimamente o ocorrido naquele fatídico 26 de abril de 1986, como também a certeza macabra de que a mentira triunfou e continua triunfando ao redor do mundo de tempos em tempos, sempre avalizada pelas atitudes nocivas e prepotentes do Estado. E o mais triste é que a maior parte da população mundial não está nem um pouco interessada nessas questões, pois elas parecem impertinentes diante de assuntos tão vazios quanto fama, status e beleza, dentre outros.
Assista e se assombre. De vez em quando precisamos de um choque de realidade como esse.
P.S: para os interessados no tema (como eu) recomendo também, após assistir a minissérie, a leitura do livro Vozes de Tchernóbil - a história oral do desastre nuclear, da escritora bielorussa Svetlana Alexijevich (vencedora do prêmio Nobel de literatura em 2015), que reúne relatos de sobreviventes da tragédia. E desafio-os a não ficarem com os olhos marejados de lágrimas!
OSMOSIS, série francesa criada pelo produtor Audrey Fouché, até tenta ser inovador, mas não adianta: histórias de amor têm sempre um certo problema quando transpostas para o cinema e a tv e são poucas as que de fato acertam. Ainda mais quando a trama se trata de uma empresa capaz de produzir para você o par perfeito. Como crítica aos relacionamentos amorosos em tempos de internet soa raso, rasteiro mesmo. E como produção televisiva ficou com cara de mal acabado.
BIG LITTLE LIES não é simplesmente uma história sobre investigação e assassinato. É mais grave: trata de relações familiares conturbadas num mundo contemporâneo caótico. E nesse universo estereotipado ao extremo há de tudo. Mulheres submissas, filhos problemáticos de casais divorciados, mães solteiras que escondem segredos do passado, mulheres que se acham acima do restante da sociedade (e principalmente de outras mulheres) simplesmente por portarem cargos de alto escalão, um escola primária que nada mais é do que o reflexo de uma sociedade destruída pela vaidade e pelos excessos cometidos por pessoas que vêem a vida sob a ótica do poder e da futilidade. Resultado: um cidade - no caso, Monterey - onde todos querem provar que são mais do que os demais. A dupla David E. Kelley e Jean-Marc Valée unem-se ao canal a cabo HBO para produzir um grande ensaio sobre a hipocrisia monumental do ser humano em pleno século XXI. E em meio a tantos extremos (que podem ir do marido ninfomaníaco e agressor até a filha que leiloa a virgindade na internet) é impossível não pararmos para pensar, nem que seja por um momento sequer, no quanto o mundo enlouqueceu e vem se escondendo atrás de loucuras como a pós-modernidade e a tal de globalização. Mais uma prova de que porque o canal é um dos mais relevantes da atualidade.
"Eu desconfio de uma sociedade que sempre escolha como lado da razão o criminoso, o torto, o que se julga acima do bem e do mal, independente das intenções malévolas do Estado em que essa mesma sociedade viva". Lembro como se fosse hoje do dia em que o meu professor de filosofia na faculdade disse essas palavras. Lembro-me inclusive de pessoas recalcadas dentro da sala de aula, dizendo que ele não passava de um falso idealista metido a besta. A sociedade é assim: contraditória e interesseira. Fiquei pensando nisso com mais intensidade essa semana, após terminar de assistir a primeira temporada da série televisiva Narcos produzida pela Netflix, certamente uma das melhores produções audiovisuais de 2015.
Narcos trata da ascensão do império do tráfico construído por Pablo Escobar (Wagner Moura, mostrando mais uma vez porque é um dos melhores atores brasileiros da atualidade) e seus tentáculos em todas as esferas do país (no caso, a Colômbia). De homem modesto da confiança de um chefão do narcotráfico, Pablo vai galgando com extrema malícia e precisão um status nunca antes atingido por nenhum criminoso de que se tenha notícia em toda a América Latina. Numa trajetória que mistura messianismo, jogo de interesse, exploração sexual e muitas artimanhas no alto escalão, o maior traficante da história mundial consegue construir um legado que repercute em seu país até hoje (onde é considerado, por muitos, como santo, mártir, quase um Deus redivivo).
A história é narrada segundo o ponto de vista do agente do DEA Steve Murphy (Boyd Holbrook) que junto com seu parceiro Javier Peña (Pedro Pascal) são escalados para combater a escalada de destruição e o império do traficante mais poderoso da Colômbia. Mais do que o relato de vida de um ícone do crime, as crônicas de Narcos mostram as emocionantes histórias da vida real dos chefões do tráfico no final dos anos 80 e os esforços brutais realizados pela lei para detê-los. A série mostra com detalhes o choque entre as forças em conflito – legais, políticas, policiais, militares e civis – que culmina em um esforço para controlar a commodity mais poderosa do mundo: a cocaína.
Não existe um só setor do país que não tenha rabo preso em algum aspecto da questão. Igreja, imprensa, o próprio estado, pequenos empresários, a guerrilha, todo mundo mostra um pouco desse caráter controverso que parece ser a tônica do mundo globalizado. Um mundo onde para atender seus próprios interesses, cada um joga conforme as regras que melhor lhe interesse, deixando uma lacuna muito incômoda na hora de separar vilões e mocinhos.
Se por um lado pode parecer que os produtores da série (que conta entre seus membros, com a participação do diretor José Padilha, diretor dos dois Tropa de Elite, que dirige alguns dos episódios) estão glamourizando o papel da criminalidade em detrimento de um Estado que parece omisso ou de mãos atadas em meio a toda essa situação de caos, por outro é brilhante a construção narrativa que não poupa um agente sequer de todo o conflito, pondo o dedo na ferida e expondo as amarguras de um país que se faz através de conchavos e acordos sórdidos. A própria analogia que os produtores fazem entre o período em questão e o Realismo mágico, o grande momento da literatura colombiana, é por demais interessante, mostrando o quanto o próprio país acaba por mostrar uma visão confusa de si mesmo, sempre se perdendo na hora de se apresentar como ficção ou realidade.
Sem a menor sombra de dúvidas, um dos melhores trabalhos de pesquisa e de cinematografia que eu já pude presenciar até hoje. Que a Netflix venha para ficar. Estamos precisando de mais gente com essa coragem no meio atualmente...
Ao final de duas temporadas, a certeza que me fica é: MR. ROBOT, série criada por Sam Esmail, é sem sombra de dúvidas das melhores coisas produzidas para a tv americana nos últimos anos. A história de Elliot (Rami Malek, num tour de force magnìfico!), o hacker atormentado pela morte do pai, cujo espírito o persegue e dita seus passos num plano de destruição do mercado financeiro, é macabra, sensorial, psicológica, catártica, cheia de amores não concretizados e amizades inescrupulosas. O roteiro pauta bem o momento que os EUA vive desde o 11 de setembro: uma nação cheia de cicatrizes expostas, mas que ainda é refém da própria soberba e da eterna mania de se achar a maior nação da história da humanidade. Assim como acontece com BREAKING BAD, DEXTER e HOUSE, fecha-se com esse programa ácido, por vezes sobrenatural de tão aterrador, uma tetralogia da América dos tempos de Occupy Wall Street e do governo Obama. Para espectadores de estômago e senso de questionamento é um prato cheio...
É, minha gente, as mulheres não são mais as mesmas. E isso não é uma crítica. Lembro do tempo em que filmes com mulheres protagonistas e heroínas não tinham plateia. E quando se tratava de seriado tinha que ser um I Love Lucy da vida, senão... Pois é. Mulheres tinham que ser as mocinhas, angelicais, o interesse amoroso do protagonista. Do contrário, as pessoas (leia-se: os homens) diziam: "não vai dar certo. Nunca". Isso começou a mudar com Geena Davis e Angelina Jolie. As pessoas enfim começaram a perceber que elas podiam dar conta disso, sem problemas. E o resultado final dessa equação é a exuberante parceria da Netflix com a Marvel Jessica Jones.
Jessica Jones (Krysten Ritter, numa versão mais desbocada e irônica da Lisbeth Salander da série de livros Millenium escrita por Stieg Larsen) é uma investigadora particular falida, quebrada mesmo, que possui habilidades que a maioria das pessoas do seu ramo não possui (super força, habilidade de dar grandes saltos etc). Porém, sua maior habilidade é a capacidade de ser antissocial com a maior facilidade. É rude, egoísta, bebe o tempo inteiro, aparentemente não se importa com ninguém, e evita relacionamentos amorosos como o diabo evita a cruz. No entanto, é das melhores profissionais disponíveis no mercado - que o diga a advogada Jeri Hogarth (Carrie-Anne Moss) que vive às turras com ela - e está sempre disponível para novos contratos.
Em meio a entrega de intimações, conseguir fotos incriminadoras de maridos e esposas adúlteros, vigiar pessoas, entre outros trabalhos sórdidos, Jessica esconde um trauma: Kilgrave (David Tennant), um ex lover, psicopata, elegante, fala macia, capaz de controlar a mente de quem quiser, incluindo a da própria Jessica. Por causa dele, ela fez coisas terríveis, matou pessoas, tornou-se alguém cheia complexos. Quando finalmente conseguiu livrar-se de seu jugo, pensou ter assistido sua morte num acidente. Até que foi contratada para achar a jovem Hope (Erin Moriarty) que andava desaparecida. E descobre que Kilgrave está de volta e ela terá que encará-lo frente a frente de novo, capaz de tudo para tê-la ao seu lado.
As únicas pessoas em quem ainda consegue confiar são Trish Walker (Rachael Taylor), apresentadora de um programa de rádio, Malcolm (Eka Darville), um vizinho viciado e Luke Cage (Mike Colter), um dono de bar que também possui habilidades especiais, e com quem tem um affair. Contudo, disposta a encarar a barra pesada sozinha ela prefere andar pelas ruas alucinadamente, atrás de cada pista (ou cadáver) que a leve ao assassino serial.
Jessica Jones representa um divisor de águas na mentalidade e nos objetivos que a Marvel pretende seguir nos próximos anos. Esqueçam identidades secretas, homens e mulheres imortais, semideuses e outros seres perfeitos. Jessica é uma mulher com problemas reais, dívidas a pagar e um senso de humor negro, de dar inveja a muitas histórias contadas pelos irmãos Coen. E o roteiro de Brian Michael Bendis deixa isso claro a cada episódio. Amores não correspondidos, crimes passionais, traumas de adolescência, uma relação mãe e filha conturbada, caos social... O mundo da série poderia perfeitamente passar a ideia de uma realidade nociva à sociedade. Contudo, é inegável que estamos falando de Hell's Kitchen, terra de Matt Murdock e outros heróis da editora mais lida na atualidade e microcosmo desse mundo cruel e capitalista onde vivemos e onde todos querem pedir algum favor a alguém (desde que não tenha de pagar depois).
Para assistir com carinho. Mesmo. Não é todo dia que a internet oferece uma peróla dessas, não!
"Não é cinema, tá legal... Mas eu vou falar dela mesmo assim, porque eu sou fã e pronto".
Gosto da televisão americana quando ela não está querendo me fazer de idiota. E antes que me perguntem o que significa isso, eu respondo: quando ela me entope de comédias babacas metidas a sabichonas (tipo Mom e Mike & Molly) ou que supostamente refletem o way of life da terra do tio sam (Modern Family, por exemplo!). Ah tá! Vou fingir que acredito mesmo nisso, que os EUA é aquilo ali... Por outro lado, há um tipo de tv made in USA que me agrada muito e que foge do festival de megaproduções que andam em voga por lá (antes de mais nada: não tenho nada contra Lost, Dexter, Breaking Bad, The Walking Dead, nem nenhum carro chefe da american tv recente; só acha um exagero que se gaste tanto com séries que, de complexas, não tem realmente tanto assim...). A melhor deles é Todo mundo odeia o Chris. Disparado.
Todo mundo odeia o Chris é baseado - ou não, se levarmos em consideração que o ator é um verdadeiro, notório cara de pau, capaz das maiores artimanhas possíveis para buscar a fama - nas memórias da adolescência do ator Chris Rock que, cá entre nós, é um dos melhores modelos de "esse cara não combina com nada que repercuta na mídia atualmente" dos últimos tempos.
Chris (Tyler James Williams, ótimo!) e sua família são um exemplo raro de família americana, retratada da maneira mais transparente que você possa imaginar: Julius (Terry Crews, um ator que praticamente já virou um marca registrada do gênero humor nos últimos anos) é o pai obcecado por dinheiro que conta nos dedos cada centavo gasto, Rochelle (Tichina Arnold) é a mãe soberba que adora ostentar e não perde a chance de dizer às amigas e vizinhas que o marido dela "tem dois empregos e não precisa passar por isso", Drew (Tequan Richmond) é o irmão do meio, o galã da casa, o cara que atrai a atenção de todas as garotas da rua e deixa Chris puto com tamanha facilidade de conseguir sempre o que quer, sem o menor esforço, e Tonya (Imani Hakim) é a filha caçula, queridinha do pai, que vive colocando os dois irmãos mais velhos no fogo por causa das roubadas em que se mete.
Além, disso os produtores da série foram muito inteligentes ao retratar figuras típicas do universo vivido por Chris Rock nos anos 80, um país cheio de espertalhões (o Perigo, que vende tudo que se possa imaginar em termos de contrabando, o rapaz que vive chamando Chris de "ô carinha que mora logo ali" e sempre arranca um dólar dele etc), os amigos (Greg) e rivais (Caruso) do colégio, o primeiro empregador do Chris, o vizinho metido a religioso, que realiza funerais e não perde a chance de paquerar as belas mulheres do edifício onde mora, o salão de cabeleireiro que a mãe frequenta, onde simples fofocas podem se transformar em discussões monumentais, o asiático dono do restaurante (que chama Chris de Lionel Ritchie o tempo todo), em suma... É praticamente um microcosmo da Black America daqueles tempos.
Percebe-se claramente as influências de Spike Lee e Melvin van Peebles na série, que durou míseros quatro anos (uma pena, se pararmos para pensar que tanto seriado que não tem nada de fato a dizer acaba durando muito mais tempo!) e é reprisada exaustivamente na Rede Record. Espero que a tv americana tenha aprendido algo de bom com esse projeto e volte à temática futuramente, porque cá entre nós, tá duro de engolir certos comic shows (ou sei lá como andam chamando esse tipo de programa atualmente) que estão passando recentemente nos principais canais da tv a cabo, viu!!!
Intolerância religiosa, homofobia, racismo... O mundo contemporâneo traz em seu bojo uma marca característica bastante forte: o sentimento de ódio brutal contra os excluídos do sistema (ou, ao menos, àqueles que pareçam à primeira vista, diferentes da demanda dita principal, seja pela cor da pele, pela opção sexual ou pela religião distinta). Os irmãos Wachowski sabem disso como poucos e sempre deixaram isso claro em sua cinematografia. Um deles, inclusive, é transexual. Começou sua carreira no cinema como Larry e hoje tornou-se Lana. E isso em nada desmereceu seu trabalho como realizador cinematográfico. Junto com seu irmão, Andy, tornaram-se a coqueluche do cinema americano com a trilogia Matrix e a revolução cinemática que promoveram. Nos últimos anos, apesar de não obterem o mesmo sucesso de crítica e público, conseguiriam incomodar muita gente com suas ideias (e roteiros) à frente do seu tempo. E isso é um excelente sinal em se tratando de sétima arte.
Aqui, na nova série que produziram, Sense 8, eles fazem meio que um desdobramento da ideia que já haviam trabalhado em seu longa Cloud Atlas (aqui no Brasil, tristemente traduzido para A viagem, e um filme que merecia uma recepção melhor do público). E o resultado é inebriante!
Primeiramente: eles são oito. 1) o motorista de ônibus Capheus - vulgo Van Damme (Aml Ameen) 2) a executiva e lutadora Sun Bak (Doona Bae) 3) a hacker transexual Nomi Marks (Jamie Clayton) 4) a noiva em dúvida Kala Dandekar (Tina Desai) 5) a DJ Riley Blue (Tuppence Middleton) 6) o arrombador de cofres Wolfgang Bogdanow (Max Riemelt) 7) o ator televisivo gay Lito Rodriguez (Miguel Ángel Silvestre) 8) o policial Will Gorsky (Brian J. Smith)
Todos paranormais, ligados mentalmente uns aos outros, independente de onde estejam. Entretanto, após uma visão recorrente de uma mulher, Angelica Turring (Daryl Hannah, a eterna Madison de Splash - uma sereia em minha vida), se suicidando dentro de um prédio abandonado, eles percebem que a sua presença incomoda a um grupo de indivíduos, dispostos a lobotomizá-los, transformando-os em verdadeiras máquinas de matar. Cientes disso - e sempre assombrados pela aparição do misterioso Jonas Maliki (Naveen Andrews, da série Lost) que tenta avisá-los a todo momento do que está acontecendo - eles precisam unir forças para combater esse inimigo mortal, conhecido como Mr. Whispers (Terrence Mann) e manterem-se vivos.
África, Índia, Alemanha, EUA, Islândia... A sensação que se têm, a cada episódio, é que as cidades onde vivem - assim como os oito protagonistas - se fundem, tornando-se uma única e imensa megalópole. Os diretores conseguiram reunir um elenco eclético e muito bem distribuído. Gosto particularmente de Jamie Clayton (que é transexual na vida real) e Aml Ameen. Eles me parecem passar logo de cara a ousadia que o seriado pede. Contudo, é interessante ver a brutalidade evidente de Max Riemelt, a indecisão de Miguel Silvestre e claro! a beleza de Tina Desai, que eu já havia apreciado no excelente O exótico hotel Marigold, é de um frescor óbvio.
Das séries que eu conferi recentemente é a que mais me deixou curioso no sentido de acompanhar uma segunda temporada. É alegre, mas sabe ser dura e metódica quando necessária. Transita entre a visceralidade da sobrevivência no continente africano e o exotismo e as contradições indianas, passando pelo frio glacial da Islância, fazendo com que o espectador acabe por perceber que por trás de toda aquela sobrenaturalidade (que não passa de uma desculpa para confundir a plateia) há um verdadeiro estudo sobre o multiculturalismo vigente no mundo de hoje, dominado pelas teorias - e hipocrisias - da chamada globalização. Para quem procura fugir da mesmice na tv a cabo, é a pedida ideal.
Em alguns momentos VINYL, série criada por Martin Scorsese, Mick Jagger e Rich Cohen, sobre a indústria fonográfica, pode soar cambaleante, confusa, sem uma trama coesa. Contudo, se levarmos em consideração do que se trata o mundo do rock n' roll, eles na verdade estão coberto de razão. Trata-se de um mundo repleto de incertezas e oscilações. Seu protagonista, Richie Finestra (Bobby Cannavale) é o estereótipo perfeito desse universo: vive uma vida hedonista, permeada por vícios e mentiras. E seus sócios na American Century não estão muito longe dessa realidade. Na verdade, a complementam.
Entre aparições de megaestrelas como Alice Cooper, Janis Joplin, Elvis Presley e vozes poderosas que vão de David Bowie à Freddie Mercury, o seriado é um deleite para ouvidos que saibam reconhecer o bom e o melhor desse universo. Falta, talvez, os produtores um pouquinho mais de rebeldia e é uma pena que a HBO tenha cancelado a segunda temporada do projeto, pois confesso que estava louco para ver o que a nova empreitada de Finestra - o novo selo Alibi Records - prometia. Enfim... Desilusões à parte, para quem procura por um programa que possa fazê-lo se remexer no assento do sofá, eis aqui uma ótima opção. Desde que você tenha a adrenalina necessária para acompanhar o seu ritmo.
O que as pessoas que assistiram ANGELS IN AMERICA em 2003 simplesmente não conseguem entender é que é meramente impossível tratar do tema de forma linear, se levarmos em consideração que a história se passa num dos países mais preconceituosos do mundo. Muito mais do que um filme-manifesto sobre a AIDS ou a favor dos homossexuais, a minissérie de Mike Nichols, baseada numa peça do premiado Tony Kushner (responsável também pelo roteiro de LINCOLN, de Steven Spielberg) é uma grande alegoria ou fábula - dependendo o ponto de vista que voê enxergue - sobre a hipocrisia dentro de uma nação que sempre se vendeu como a "maior potência da história da humanidade". E nessa terra, chamada por seus intelectuais e figuras públicas, como "terra das oportunidades", o que se vê é uma grande contradição entre capitalismo e vidas pessoais. Utilizando-se de um elenco fabuloso, que conta com as presenças ilustres de Al Pacino, Meryl Streep, Jeffrey Wright, James Cromwell e Patrick Wilson, a produção marcou época por sua coragem ao colocar o dedo na ferida de um país que adora se vender como democrático mas não esconde a contento seus próprios deslizes e disparates. Me ressinto de não ter assistido essa obra-prima antes. Agora, não sai mais da minha coleção pessoal.
À parte o fato de que eu sempre terei problemas com o ator Tom Hardy (sim, aquele que fez Bane no último filme da trilogia Batman dirigido pelo Christopher Nolan e o recente MAD MAX: ESTRADA DA FÚRIA) por acho de uma antipatia e um pedantismo incômodo, recomendo aos visitantes do canal que assitam a primeira temporada da série TABOO. Hardy vive James Keziah Delaney, um homem de inclinações ocultistas e macabras, que sobreviveu a um naufrágio e regressa à sua cidade natal para se vingar dos homens que o envenenaram e construir um império marítimo. Seu inimigo? A companhia das índias na figura de seus inescrupulosos gestores, que tentam fazer com que ele venda uma região supervalorizada a preço de banana. Contudo, Delaney recusa e sua vida vira um inferno pessoal. Ligações inescrupulosas, um madastra cheia de más intenções, um relacionamento incestuoso com a meia-irmã Zilpha (que é interpretada, nada mais nada menos, do que pela neta do gênio Charles Chaplin), o seriado é um prato cheio para fãs de uma boa aventura bem contada. Que Hardy queime a minha língua de novo e continue se envolvendo em bons projetos como esse...
DOGS OF BERLIN é o retrato vivo e puro do mundo sujo que rodeia o futebol, esporte mais amado em todo o mundo. O assassinato do primeiro jogador turco a vestir a camisa da seleção alemã de futebol na véspera do jogo decisivo pelas eliminatórias para a copa do mundo faz com que dois agentes da polícia se deparem não só com um esquema sórdido envolvendo manipulação de resultados como também com a fúria dos neonazistas que querem expulsar a comunidade turca de seu país a qualquer custo. Como um adendo problemático a mais o fato de um dos agentes envolvidos no caso ser corrupto e irmão de um dos membros da gangue neonazista e o outro homossexual. Ironias a respeito de grandes nomes do futebol mundial em ascensão e a linha tênue que perpassa o crime organizado e figuras eminentes do país fazem da série um prato cheio para espectadores que procuram uma temática fora da zona de conforto dentro do gênero seriado policial. É mais uma produção acertada da Netflix, que mostra de novo porque é uma das produtoras de conteúdo audiovisual mais em evidência nos últimos anos.
Espetacular!!! É por causa de produções como essa que a televisão norte-americana vem se destacando mais nos últimos anos do que a sétima arte. O elenco é fabuloso e o clima de manipulação proposto durante todo o julgamento deram a tônica do seriado.
Eu vi no escuro (não li o livro), mas achei meia boca. Estava na expectativa de algo mais desafiador. Vale pela trilha e por alguns personagens. No mais...
Cenas de um Casamento
4.3 198 Assista AgoraO que faz deles um casal?
(Cenas de um casamento, minissérie de Hagai Levi, é um grande estudo de caso sobre a imperfeição presente na humanidade. O difícil é fazer a própria humanidade entender isso!)
"Viver à dois é para poucos", diziam meus pais e pelo que pude testemunhar do casamento deles, estavam cobertos de razão. Eu mesmo, em mais de 40 anos de vida, nunca me imaginei como parte integrante deste universo. E ainda digo mais: vejo o casamento como um grande enigma sem solução. Uns vão dizer que vale pela experiência e/ou catarse, outros que foi a melhor coisa que poderia lhes ter acontecido, simplesmente porque não conseguem viver sozinhos. Para mim, é uma incógnita que não vale o risco.
No entanto, tenho um verdadeiro fascínio por peças de teatro, livros e filmes que abordam o tema. E quanto mais complicado ou fora da curva o casal, melhor. Tem quem chame isso nos EUA de guilty pleasure (vai entender o tio Sam!). Adoração mórbida à parte, ninguém esmiuçou o tema como o cineasta sueco Ingmar Bergman, gênio que fuçou as dores e angústias humanas como ninguém. Mas ninguém chegou perto de sua maestria (embora tenham tentado à exaustão).
Dentre os que tentaram o mais recente, o produtor Hagai Levi - escritor por trás da soberba série de televisão Em terapia, com o fascinante ator Gabriel Byrne como protagonista - arriscou a empreitada de realizar um remake da minissérie Cenas de um casamento, um clássico na filmografia de Bergman, para o canal HBO. O resultado, mais uma vez, divide opiniões. Mas quer saber? Até mesmo essa divisão é bem-vinda e acrescenta para o debate sobre a trama.
Aliás, vamos a ela: Mira (Jessica Chastain) e Jonathan (Oscar Isaac) são o casal que aparentava estabilidade, mas tudo rui quando Mira diz que se apaixonou por outra pessoa, no caso um homem mais novo. Detalhe imprescindível: um aborto que antecede essa notícia foi um catalisador fundamental para o começo do fim da relação (embora Mira diga ao marido que há anos vive sufocada, sem paixão).
Eles têm uma filha, Ava, ainda pequena, e esse será um grande ponto de conflito na separação. Com quem ficar, dividir a guarda... E o pior: eles nunca estão completamente distantes. Um precisa da presença do outro, transformando o casamento num cabo de guerra difícil de explicar. Até mesmo a palavra divórcio (e o fato de ambos não estarem convictos da necessidade dele) vira uma pedra de calcutá em qualquer conversa ou discussão que tenham. E as discussões - que são muitas e parecem intermináveis - é uma grande questão a dividir o público espectador.
Em sites de cinema e críticas que li vi muitos "entendidos" dizendo que o bate-boca interminável entre Mira e Jonathan é o maior problema da série. Uma delas chegou a dizer: "se o divórcio é o preço que eles têm de pagar para que eu não tenha mais que ouvir nenhuma discussão, que seja!". Honestamente... Me pareceu o típico comentário de quem viveu isso na pele, de quem não gostava das D.Rs e fez de tudo para pular essa parte quando estava casado. O problema: nenhum casamento é uma festa que nunca termina.
Quando eu tinha por volta de meus 12, 13 anos ouvi um senhor de seus 70 anos me confessar sua opinião sobre o matrimônio. E ele disse: "o problema dos casais, principalmente os de hoje em dia, é que eles não entendem que o casamento não é a festa, o trocar de alianças, o buffet, o bolo, os docinhos, a benção do padre... Não, meu jovem! O casamento é o que vem depois. O que acontece depois que a festa acabou. E a sociedade contemporânea não consegue mais viver fora da festa".
E ao lembrar desse discurso, percebi que as discussões de Mira e Jonathan eram o que menos me aborrecia. O problema mesmo era a incapacidade dessa nova sociedade viver a dois. Estamos cada vez mais imediatistas, imaturos, interesseiros, colocando nossos interesses na frente de quem quer que seja. Logo, como dividir o espaço com outra pessoa, casar, ter filhos? Às vezes a mera realização disso já parece um absurdo.
O que faz de Mira e Jonathan um casal é exatamente essa dificuldade de permanecerem juntos, de serem exclusivos um ao outro. E não adianta os mais velhos reclamarem, chamarem de ingenuidade ou falta de paciência. Os tempos são outros: mais corridos, frenéticos, quase esquizofrênicos. Sou de opinião que a vida se transformou num convite à solidão, pois é melhor ficar sozinho do que magoar alguém. Contudo, o ser humano ainda precisa de sexo, de uma boa conversa, de companhia. Nasce daí um grande conflito.
No final das contas, o que percebo em Cenas de casamento (pelo menos, nessa nova versão) é que se trata de um grande estudo de caso sobre a imperfeição presente em qualquer ser humano. E da dificuldade de, ao menos, admitir isso. E essa mágoa, esse ressentimento, não é necessariamente algo ruim. Ela só precisa ser canalizada da maneira correta. As brigas, traições e separações, acreditem!, ensinam bem mais do que aparentam. Mas para isso é preciso uma sociedade que não enxergue tudo a ferro e fogo. Nem tudo é apenas certo ou errado. Que bom seria se fosse!
P.S: para você que viu e gostou de História de um casamento, de Noah Baumbach e Kramer vs. Kramer, de Robert Benton (vencedor de 5 Oscars em 1980), achei esse aqui um pouco mais profundo. Mas, cá entre nós, ele precisava ser. Do contrário, não seria o século XXI.
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Inhotim Arte Presente
4.2 1O Shangri-lá brasileiro
(Uma crônica sobre Inhotim, o maior museu a céu aberto do mundo.)
O que eu posso dizer sobre esse lugar atualmente? Que nos últimos tempos toda vez que me deparo com uma notícia no jornal sobre ele só tenho ouvido que ou "ele vai fechar a qualquer momento por falta de verbas para mantê-lo funcionando" ou "irá reabrir no próximo mês ou bimestre ou trimestre ou no segundo semestre etc e tal". E nunca reabre. E é dessa maneira que tratam a arte e a cultura nesse país desde que ele foi descoberto pelos portugueses cinco séculos atrás. Sim, eu sei... É triste.
Mas ainda assim tenho esperança. Pois, no final das contas, é disso que vive a arte e a cultura nacional.
Digo mais: certa vez vi uma frase magnífica num livro sobre artes visuais. Nele, o autor dizia que a arte "é um lugar mítico, imaginário, que nem todos os seres humanos são capazes de enxergar com exatidão. E muitos ainda por cima desdenham desse lugar, acreditando ser ele mera ilusão de ótica ou invenção de desmiolados ou oportunistas".
E por que citei essa passagem? Porque vejo muito disso em Inhotim. Todas as vezes que vi uma foto deste que é considerado o maior museu a céu aberto do mundo penso nesse lugar imaginário, quase irreal. Ou como bem diria o poeta Manuel Bandeira, nesta Pasárgada. Aquele lugar onde eu sou o amigo do rei. Inhotim é isso, o contraponto da ciência exata, de qualquer tipo de exatidão. O lugar da dúvida, da experiência, de se permitir, da tentativa e erro. E ainda assim, é magistral.
É preciso que eu confesse aqui: nunca estive em Inhotim in loco. Só o conheço pelo site na internet e por tudo o que falam dele na grande mídia de tempos em tempos. E mesmo assim consigo imaginá-lo nos mínimos detalhes. E me encanto toda vez que penso nele ou sobre ele.
É possível andar por labirintos nunca dantes vistos. Apreciar o inusitado em suas exposições que fogem completamente do padrão do algoritmo (algo tão na moda e imposto pelo mercado hoje em dia). Conheço pessoas que lá estiveram e por lá se perderam. "Aquilo é um mundo à parte, Beto!", me disse uma delas, emocionada. E eu acredito. De olhos fechados.
O Brasil precisa de mais lugares como Inhotim e de menos pessoas como essas que administram lugares como Inhotim ou de um governo que não dá a mínima para a arte, pois não possui a menor sensibilidade ou tato para reconhecê-la. Nunca precisamos tanto da arte como agora, em tempos pandêmicos onde o desespero e o negacionismo dividem as atenções do público, seja no dia-a-dia frenético das ruas, seja no maquiavelismo latente das redes sociais. E mesmo depois de eu dizer tudo isso ainda vai aparecer gente por aqui me chamando de idiota, babaca ou mandando eu procurar alguma coisa séria para fazer. Coitados!
A sociedade brasileira não consegue enxergar - que dirá entender - que Inhotim é o Shangri-lá brasileiro, a terra onde não precisamos envelhecer um segundo sequer. James Hilton, autor do livro Horizonte perdido, onde este lugar mítico mostra sua cara, estava certo: certos lugares são eternos, não envelhecem. Não importa o quanto coloquemos defeitos neles. E o principal: são insubstituíveis (e deixo a palavra em negrito de propósito).
O fim de Inhotim - se vier a acontecer, e eu espero, torço sinceramente que não - seria o fim do que a arte tem de melhor. Um lugar livre de amarras e preconceitos onde podemos acreditar no futuro ao invés de empurrar a vida com a barriga em presentes repetitivos, rotineiros e monótonos para depois se transformarem num passado melancólico e sem finalidade. E isso, acredito, nós, os ainda lúcidos deste país que não é nação, como já cantou uma vez o líder do Legião Urbana, Renato Russo, definitivamente não queremos.
Logo, só podemos esperar o dia seguinte e o que ele trouxer de bom para nós. E já deveríamos, como brasileiros de carteirinha, estar acostumados a isto. Afinal de contas, este país é um eterno "esperar pelo amanhã". Então que chegue logo, que leve essa pandemia e tudo de ruim que nos atravanca há séculos embora. E que Inhotim, como tudo aquilo que ecoa a nossa arte e cultura, sobreviva.
Se há um lugar por aqui que merece essa honraria, sem sombra de dúvidas é ele.
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RPM - Rádio Pirata O Show
4.3 6Rock na veia
(Rádio pirata ao vivo, do RPM, aos olhos de hoje parece uma luz longínqua, um momento nobre que se perdeu no tempo. E mesmo assim não perdeu a sua capacidade de ser brilhante e eficaz em suas loucas intenções)
Como é bom sentar no sofá da sala de vez em quando, com o computador no colo e lembrar do passado, principalmente quando ele valeu MUITO a pena...
Volto no tempo aos meus 10 anos (mais especificamente 1986). Uma época em que o BRock mandava nas rádios, ditava tendências, expunha mazelas e, claro, sacudia o esqueleto de muita gente. Que o diga quem ouvia as rádios Fluminense, Transamérica, Cidade, Jovem Pan...
E como esquecer do quarteto formado por Paulo Ricardo, Luiz Schiavon, Fernando Deluqui e Paulo P.A Pagni? Sim, do RPM, que levou uma multidão de devotos à loucura e lotou casas de show por todo o país. E como lembrei do RPM, impossível não falar de seu álbum mais emblemático: o hoje mais do que cult Rádio Pirata ao vivo.
Rádio Pirata ao vivo, segundo álbum da banda, gravado ao vivo no Complexo do Anhembi, em São Paulo, e com direção do cantor Ney Matogrosso, é - gostem ou não os críticos, que adoram dividir opiniões e plantar discórdias - o divisor de águas dessa metamorfose cultural em que o rock n' roll versão tupiniquim se transformou naqueles tempos.
Seja pela celebridade que seu vocalista Paulo Ricardo viria a se tornar após o lançamento do álbum (e, com isso, muitos na época chegaram a cogitar que ele não fosse realmente um artista, mas apenas um mero modelo ou sex symbol que seria tragado com o tempo pela fama), seja pelas letras fortes, ácidas, divertidas, a cara de uma geração que procurava os seus valores em um país que parecia confuso, perdido, à deriva, Rádio Pirata foi uma confrontação (mais: um revitalização) para um rock brasileiro que já bombava, com nomes como Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso, Titãs, Ultraje a rigor, Legião Urbana, entre outros.
Nenhum outro disco vendeu tanto quanto ele no período (e falo de mais de 2,5 milhões de cópias vendidas em território nacional).
Como destacar minhas preferências num trabalho tão bem realizado e de repertório tão apaixonante quanto esse? Apesar de se tratarem de apenas nove faixas, o brilhantismo com que o show foi realizado é digno de nota e, dificilmente, os apreciadores do estilo ficarão desapontados com o resultado final.
Indo da belíssima instrumental "Naja" à internacional "London, London", clássico de Caetano Veloso dos tempos de exílio na capital inglesa, e passando pelos hits - imprescindíveis em qualquer turnê do grupo - "Olhar 43", "Alvorada Voraz" e "A Cruz e a Espada", o álbum reúne, em poucas palavras e riffs, o melhor desse período musical de quem esse projeto de colunista que vos fala guarda tantas boas recordações.
Aos acordes finais do show gravado (que ouço novamente pela centésima vez na internet) e passadas mais de duas décadas da revolução proposta, a impressão que fica é a de que o rock contemporâneo regrediu consideravelmente, não bebeu nessa fonte gloriosa.
Onde foram parar aqueles herois da resistência que com uma simples guitarra e arranjos de fácil execução um dia tentaram mudar o mundo? Onde foi parar a Geração Coca-Cola que o Renato Russo tão bem cantou? Hoje, ao contrário, o que se vê é uma comercialização desenfreada da música (seja nas redes sociais ou nos serviços de streaming), onde criação artística e significado deram lugar a cifras astronômicas e artistas de segunda categoria com patrimônios milionários.
Sim, isso é revoltante.
E a este pobre coitado, cronista da internet, só resta sonhar - pois sonhar ainda é gratuito, embora não pareça mais - que os bons tempos regressem e tragam novas vozes, uma fúria nova e o rompimento com esse moralismo babaca do dias de hoje, que só faz exaltar a indústria medíocre do politicamente correto. Nossos ouvidos (e acredito falar por muita gente) agradeceriam!
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Todas as Mulheres do Mundo
3.7 124O amor não tem a menor coerência
(A série Todas as mulheres do mundo analisa de forma debochada, mas sem perder o prumo, as agruras e alegrias desse nobre sentimento)
Eu já fui traído pela vida ao acreditar num amor que não existia, num amor que somente eu senti. Mas quem nunca, não é mesmo? Hoje, passadas quase duas décadas, acredito que o amor é a grande incógnita disso que chamamos de vida. E mais: tornei-me um admirador quase psicanalítico de histórias sobre ele. Sejam no cinema, no teatro, em livros os mais diversos, até mesmo em exposições. Onde quer que o amor esteja, traduzido nas mais diferentes vertentes, eu corro atrás. Mesmo. E às vezes me surpreendo, mesmo.
Com a série da globoplay Todas as mulheres do mundo, de Jorge Furtado e Janaína Fischer, e abertamente inspirada no filme homônimo do cineasta Domingos Oliveira, aconteceu exatamente isso. E nunca me senti tão alegre e envolvido com uma história dessas. Pareceu-me, em muitos momentos (logicamente não os sexuais!), ver a minha própria trajetória.
Paulo (Emílio Dantas) e Maria Alice (Sophie Charlotte) se amam. Se é possível um casal acima de qualquer suspeita, são eles dois. São o típico casal "eles foram feitos um para o outro". E mesmo assim falham, erram, falam demais, perdem o clima, o tom, exageram, em suma, se perdem. E nem por isso deixam de tentar de novo. E justamente quando tudo parecia caminhar para o happy end Maria Alice, que estuda Balé, ganha uma bolsa e vai para Berlim. E nesse exato momento começa a saga de redescoberta de Paulo.
E essa redescoberta vem na forma de inúmeras mulheres sensacionais: Adriana, Stella, Elisa, Laura, Martinha, Giovanna (sua mãe), Renata, Pamela, Gilda, Sara, Natália, Pink... E com cada uma delas ele sofre, se arrepende, se apaixona, enlouquece. E mais do que isso: se reinventa.
São muitos os desafios de Paulo. Afinal de contas, são mulheres tão complexas quanto ele próprio. A que se enche de drogas lícitas e ilícitas e não consegue ser feliz sem elas, a obcecada pela fama e pela própria imagem, a trapezista libertária que faz análise para lidar com a traição do marido, a garota de programa cheia de dúvidas, mas que não sai do personagem da mulher forte, independente, a que acredita no poliamor e não nessa coisa "ultrapassada" que o heterossexualismo impõe há anos, até mesmo a melhor amiga, Laura (Martha Nowill), que se acha quarentona, superada, abandonada pela vida... E a cada tropeço, a cada término, a cada fossa. uma certeza paira a cabeça de Paulo: o amor é uma selvageria, não tem a menor coerência.
A frase é de seu amigo de longa data, Cabral (Matheus Nachtergaelle, ótimo!), que sob a máscara de um derrotismo latente, abandonado pelo grande amor de sua vida, incorpora de forma brilhante um Zorba, o grego - personagem eternizado no cinema pelo extraordinário Anthony Quinn - versão tupi-guarani com direito a maços e maços de cigarros. É dele que surgem as grandes frases, os grandes questionamentos. Ele transpira lucidez pelos poros. Ah! E como o mundo anda precisando de lucidez!
Maria Alice regressa, eles se casam, e novas dúvidas tomam a ribalta de assalto. Ninguém nunca prometeu que seria fácil. E não é. Porém, eles não conseguem viver um sem o outro. É simplesmente impensável. E é dessa impossibilidade que o amor se nutre. É dessa forma que ele nos joga contra a parede, revira os móveis da nossa casa, confunde nosso inconsciente. E que, pelo amor de Deus, continue assim! Pois de exato mesmo nessa vida só a morte e desta eu quero mesmo é distância.
Ao fim de 12 episódios irretocáveis chego à conclusão de que não foi de todo mal aquele amor não correspondido 20 anos atrás. Ele foi, isso sim, necessário. Quando vi pela primeira vez Eu sei que vou te amar, de Arnaldo Jabor, eu tinha meros 16 anos, e cheguei à conclusão de que o amor era uma explosão mental, um torpedo querendo nos atingir a qualquer custo. Agora, quase três décadas depois, calvo, vejo em Todas as mulheres do mundo que esse sentimento é ainda mais complicado: ele é uma grande catarse, quase um jogo de xadrez, porém indispensável para que consigamos seguir em frente e encontrar o nosso lugar por aqui, enquanto estivermos por aqui. Valeu, Domingos! Por esse presente.
E você, que leu este texto, viu a série como eu, e ainda assim não ficou satisfeito, chegou a chamar de pornografia barata? Assiste de novo. Você provavelmente não entendeu uma vírgula sequer...
P.S (eu quase esqueci e nunca ia me perdoar por deixar isso de fora): a trilha sonora da série, Marisa Monte, Nara Leão, Elza Soares, Rita Lee, Alcione, Maria Bethânia, Elis Regina, Cássia Eller... É um caso à parte. Não somente embala o amor de Paulo e Maria Alice como tem vida própria. Ouçam a temporada toda, com carinho. Elas merecem!
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Hunters (1ª Temporada)
3.9 235 Assista AgoraO quarto reich sempre esteve por aqui
(Hunters é sátira ao nazismo, mas também interessante reflexão sobre os fascistas que andam entre nós desde que o mundo é mundo)
Os puristas estudiosos de história volta e meia encrespam com certas liberdades poéticas presentes em adaptações cinematográficas e televisivas de momentos históricos específicos. E no caso da Segunda Guerra Mundial e o holocausto em particular, eles vão além, chegando a ficar de cabelos em pé. Na boa... O problema é única e exclusivamente deles. E, além disso, a sétima arte nunca se viu engessada unicamente a discursos literários e acadêmicos. Mais: ela se permite ousar toda vez que a situação se apresente.
Logo, foi com um enorme prazer que assisti a primeira temporada de Hunters, série de tv da Amazon criada por David Weil, e constatei se tratar de uma grande e divertida ousadia.
Hunters conta a história do jovem judeu Jonah Heidelbaum (Logan Lerman, da franquia Percy Jackson), que vê a avó ser assassinada diante de seus olhos, sem que ele esboce qualquer reação, e descobre que ela pertencia a um grupo de caçadores de nazistas, capitaneado pelo milionário Meyer Offerman (Al Pacino, em seu regresso à tv depois de 17 anos).
Eu sei... Parece simplista resumir a série num raso parágrafo de cinco linhas. E é. Contudo, Hunters está tão cheia de desdobramentos e reviravoltas que é difícil, à primeira vista, resumi-la em poucas palavras. Trata-se, no final das contas, de um grande ensaio sobre a América contemporânea - leia-se: pós eleição de Donald Trump - e o fascismo que nunca deixou de estar entre nós, embora a segunda guerra já tenha acabado há mais de 70 anos. E olha que a narrativa televisiva se passa em 1977!
O grupo que acompanha Jonah e Meyer é bastante eclético e reflete bem a estereotipia que convive a duras penas na terra do Tio Sam. Há o ator decadente, que sobrevive dos poucos fãs que ainda se lembram dos tempos em que ele era uma grande promessa de hollywood; uma versão um pouco mais engajada da musa da Blaxploitation, Cleópatra Jones; um ex-soldado da guerra do vietnã, ainda traumatizado pelos horrores que viu e perpetrou durante o conflito e até mesmo uma ex-noviça revoltada, bem na linha Grindhouse de Quentin Tarantino e Robert Rodriguez.
E não bastasse tudo isso os produtores da série - dentre eles, o fenômeno da atualidade, Jordan Peele - ainda debocham de tudo o que podem e não perdem a chance de usar referências do universo quadrinhos e da cultura pop em geral. Fãs da Marvel, deem uma chance a esse programa! Vocês não vão se arrepender!
Para aqueles que esperam algo mais visceral e contundente, na linha A queda: as últimas horas de Hitler ou A lista de Schindler, procurem outro formato. O que está em jogo aqui é uma grande fabulação, um desejo de zoar também com a própria história passada (e os conservadores vão reclamar, como sempre!). Já se você curtiu a maneira como Tarantino recontou a jornada de Hilter em Bastardos inglórios, assistam até o último episódio pois o desfecho é avassalador.
Desde que li a respeito do projeto pela primeira vez, fiquei interessado na premissa (e, lógico, pela presença de Pacino, o eterno Michael Corleone) e ansioso pela estreia. E ratifico: Hunters é tudo aquilo que eu esperava. Contudo, é preciso ter mente aberta ao assisti-lo, já que a série não se prende a normatismos e discursos literais. Como disse no primeiro parágrafo, "ela se permite ousar". E ousadia é tudo o que o cinema americano não tem feito nos últimos anos. Por isso vem perdendo espaço dia a dia para a televisão.
O quarto reich proposto pela série sempre esteve por aqui. Não é algo que simplesmente desapareceu por conta da derrota dos nazistas. Não, meus caros leitores! O fascismo sempre se esconde e procura uma nova oportunidade de tomar o poder no futuro. E assim será também depois que a nossa geração não estiver mais por aqui, ad aeternum.
Logo, a decisão de ler essa história de maneira emburrada, enfadonha, resmungando de tudo o tempo todo ou sabendo rir da própria desgraça (e aprendendo com isso) é só sua. Então, pelo amor de Deus, escolham com sabedoria.
A vida, vocês sabem, é uma só e nunca dura o tempo que nós gostaríamos que durasse...
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The Purge (1ª Temporada)
3.2 246E depois dizem que as outras espécies é que são animais!
(The Purge e o que nós, seres humanos, fizemos do mundo)
Chegamos ao fundo do poço e não nos demos conta? Chegamos, nos demos conta e não demos foi a miníma, porque só queremos saber mesmo é de nossos próprios problemas e o resto que se dane? Ultrapassamos a última barreira do racional e o que vier depois disso não é problema da humanidade e sim de quem contribuiu (leia-se: o Estado, a mídia, etc) para que o caos acontecesse e se tornasse a norma? Pois é... Fúnebre. Assim me senti - cheio de perguntas e sem nenhuma resposta válida ao alcance das minhas mãos - após assistir a primeira temporada da série de tv The Purge. E pior: com um gosto amargo na boca e um sentimento de que aquilo que meus olhos viram na tela não foi apenas ficção.
The Purge é obra do produtor, diretor e roteirista James DeMonaco. Na verdade, a série é um desdobramento de um série de longametragens com o mesmo nome (aqui no Brasil, ganharam o título de Um dia de crime) que fizeram um certo sucesso não nos cinemas, onde foi é claro exibido, mas nas redes sociais, por seu tom político, agressivo e polêmico.
Em poucas palavras (e para os fãs de seriados que adoram um resumo da situação): o governo americano, cansado das inúmeras tentativas inúteis de combater a violência, decide entregar ao povo a tarefa de fazer justiça com as próprias mãos. Com isso, criam o Purge Day (ou, nacionalmente falando, o dia da purificação). Todo ano, durante um dia inteiro, a sociedade pode ir ás ruas e dar cabo de qualquer pessoa que tenha lhe prejudicado, roubado, atrapalhado a sua vida, etc etc etc. E o estado não se mete no assunto. O problema? A capacidade que um decisão dessas tem de transformar homens em deuses, colocando suas atitudes animalescas e viscerais acima do bem e do mal.
Se nas versões cinematográficas The Purge contava com a presença ilustre dos astros Ethan Hawke e Frank Grillo (que ganhou notoriedade por aqui após o sucesso dos filmes da Marvel), aqui na versão televisiva o criador DeMonaco acerta ao optar por um elenco quase todo de desconhecidos (eu, pelo menos, nunca tinha visto a maioria dos atores e atrizes antes, em nenhum projeto, salvo o ator William Baldwin, que por sinal andava sumido!). Digo isso porque acredito que caso o elenco da série estivesse repleto de estrelas acabaria por distrair minha atenção da história - que já é poderosa sem a ajuda de megaastros.
Em linhas gerais o que se vê durante toda a temporada é a visão mais radical e direta do que se tornou os EUA pós-eleição do presidente Donald Trump. A determinação de relegar à própria sociedade o direito de fazer justiça com as próprias mãos, cria segmentos da maldade muito bem articulados durante toda a trama. Os fanáticos religiosos; os oportunistas de carteirinha, que vivem da desgraça alheia desde que o mundo é mundo; a elite corrupta e maldosa, que compra vidas humanas com a maior naturalidade e quando a situação aperta se faz de vítima; os injustiçados por pequenas coisas, que adoram pôr a culpa nos imigrantes, nos refugiados, nos indignos (segundo eles) de morar na "maior nação do planeta"; todos, sem exceção, buscam um país e uma realidade que atenda única e exclusivamente às suas próprias necessidades, em detrimento dos anseios e dos sonhos alheios.
Resultado: um jogo de gato e rato ainda mais covarde do que o ocorrido nos tempos da Guerra Fria, e mais ardiloso do que qualquer livro ou filme de espionagem que você já tenha lido ou visto nos últimos anos.
Eu poderia resumir The Purge aqui para vocês como um grande estudo de caso sobre a violência urbana ou como um ensaio para entendermos a tal da modernidade líquida (que um dia o antropólogo Zygmunt Bauman defendeu em seus livros), mas nenhuma das duas definições explicariam o que meus olhos viram nesses dez episódios. Na verdade, este artigo tentando explicar minhas impressões sobre a série já nasce desnecessário, pois acredito que ele merece, mais do que ser entendido ou explicado, visto. E uma dica: vejam com calma, sem o desejo tórrido dos tempos atuais de emitir um juízo de valor estereotipado a cada cena ou diálogo.
Em suma, The Purge vence você, espectador, pelo cansaço. E é preciso dar tempo ao tempo, degustar cada episódio como quem assiste a uma autópsia num necrotério. Eu sei, eu sei... Muitos reclamarão. Dirão: "Mas isso é forte demais para mim! Não sei se aguento". A estes faço a seguinte (e mórbida): "Como, então, vocês aguentam a vida diária, repleta de preconceitos e competições, muitas delas desnecessárias?".
Assisti a série num momento em que discutimos aqui no Brasil a questão da porte legal de armas para a sociedade civil. Um desejo de muitos revoltados com o atual estado em que o país se encontra e de muitos machões que adoram exibir-se (e como perderem a chance de exibirem suas pistolas e revólveres, não é mesmo?). E confesso: fiquei ainda mais assustado do que antes de assistir o programa.
O futuro, a persistirmos em nossos pré-conceitos deturpados e nossas escolhas movidas pela paixão, promete-se negro. E não digo isso somente em nossas terras. Falo do mundo como um todo. Já vejo pessoas nas ruas falando até em terceira guerra mundial, caso nada mais lúcido dê resultado. Portanto, apesar do tema nebuloso e atroz que rege a trama, adorei ver The Purge. E acho um tema necessário e pertinente à sociedade atual, que parece tratar a vida nos últimos tempos como um grande espetáculo circense. Vejam, se puderem e se tiverem estômago.
Melhor conhecer um pequeno fragmento da realidade macabra que nos aguarda (caso não tomemos uma providência imediata para melhorar o mundo) do que se ver perdido em meio a um guerra da qual sequer fomos avisados quando realmente começou.
Chernobyl
4.7 1,4K Assista AgoraO triunfo da mentira
(Chernobyl, da HBO, é a minissérie do ano)
De meus 30 anos para cá todo dia me pergunto qual o papel da humanidade no mundo e, na maioria das vezes, não chego a uma resposta satisfatória, sequer elucidativa. Eu sei o que você, leitor, vai dizer: que este texto promete ser profundamente negativo. E nisto você está certo. A questão é que não há como ser diferente, vide o tema proposto. E pior: saber que esta não foi a primeira, muito menos será a última vez em que a humanidade pisará feio na bola. E pior ainda: O sistema quer que nos acostumemos com a ideia.
Eu não tinha sequer 10 anos de idade quando a tragédia na usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, aconteceu. Na verdade, fiquei sabendo da história da tragédia por conta de um filme que era bastante exibido na extinta Rede Manchete na década de 90 de nome Césio 137 - o pesadelo de Goiânia, do diretor Roberto Pires e de meu pai chegando na sala e dizendo: "essa tragédia aí foi o Chernobyl brasileiro". Pronto. Estava aguçada a minha curiosidade. O que era Chernobyl, afinal de contas? Como não havia o mundo mágico oferecido pelo Google naqueles tempos, fui às bibliotecas de bairro em busca de informações e me lembro da cara de uma das bibliotecárias, perplexa, perguntando quanto anos eu tinha e porque queria saber a respeito daquela história.
Começava ali o meu fascínio por histórias mórbidas e por tudo o que tivesse a ver com jornalismo investigativo. Detalhe: já naquela época me perguntava se um dia a sétima arte ou a televisão iriam ser capazes de reproduzir com minúcias e apuro o caos ocorrido naquele tempo. Pois bem: a HBO conseguiu e prova porque é uma das melhores produtoras de conteúdo audiovisual dos últimos anos. E tudo graças a genialidade e ao trabalho de pesquisa do escritor e produtor Craig Mazin (curiosamente mais associado, ao longo da carreira, à produções cômicas. Vejam só como o meio artístico pode ser surpreendente!).
Quando nos deparamos com a explosão da usina e a reação de apavoramento daqueles que testemunharam o ocorrido de suas janelas, a primeira impressão que fica é: isso aqui, por mais que tentem, vai ser difícil (muito difícil) de explicar. E essa é exatamente a questão que norteia toda a série. A palavra convencimento é distorcida de tantas e tais maneiras que fiquei com a sensação nítida de que a verdade hoje em dia não passa de uma grande manipulação dos fatos.
Há um trio, entretanto, que luta obsessivamente para que os fatos sejam enfim esclarecidos: Valery Legasov (Jared Harris), o especialista em reatores; Ulana Khomyuk (Emily Watson), funcionária do instituto de energia; e Boris Shcherbina (Stellan Skarsgård), uma mistura de relações públicas, gerente de crise e também, a princípio, voz do partido na questão (trata-se, afinal de contas, da URSS de Gorbatchev e da KGB na nuca dos cidadãos). Contudo, eles precisam duelar de foice com uma nação historicamente famosa por ocultar dados e transformar esperanças em aceitações. E o que sobra então para se comemorar? Boa pergunta.
Do ponto de vista técnico a minissérie é um espetáculo à parte. Que o digam as cenas de explosões e as maquiagens dos afetados pela radiação! Há cenas apavorantes de tão realistas. E, ao final dos cinco episódios, só as informações fornecidas sobre o rumo que as investigações tomaram e o desfecho macabro dos protagonistas já vale pela produção televisiva toda.
Outro ponto acertado da produção foi deixar para o último episódio o julgamento dos responsáveis pela tragédia e o festival de distorções que aquilo gerou junto à mídia. Usar a palavra arquivamento soa até poético perto do que eles fizeram com a vida daquelas pessoas e com a sociedade ucraniana como um todo. De real mesmo somente o fato de que a região continua inabitável até hoje e os índices de radiação no lugar continuam altíssimos. Mais trágico que isso, que me venha à memória neste exato momento, só mesmo o horror perpetrado pela nazismo durante a segunda guerra mundial.
Para aqueles que têm mania de rotular tragédias como essa acerca de regimes políticos (numa clara tentativa de acusar o socialismo e suas práticas nefandas) ficou claro aqui, pelo menos para mim, de que atrocidades mundiais como essa não são de uso exclusivo do socialismo ou do capitalismo. Na verdade, sempre acreditei que onde existem políticos existem problemas que poderiam ser evitados, mas nunca são por conta de interesses financeiros. E me parece também ter sido o caso aqui. Sabe aquela história do indivíduo que compra o melhor aparelho de som da loja e compra a extensão e a tomada para ligá-lo no lugar mais chinfrim e depois reclama que o aparelho entrou em curto-circuito? Guardadas as devidas proporções, foi o caso aqui.
O tempo passa e o mundo se recusa a mudar nesse sentido. Continuamos reféns da mesma mentalidade chamada "vamos reduzir custos!", imposta por políticos e estadistas gananciosos. O dinheiro antes do indivíduo. O problema é que aqui tratava-se de uma usina nuclear. Deu no que deu. Hoje, após ter lido tantos artigos e matérias sobre o assunto, vejo o caso com a mesma proporção da bomba lançada pelo Enola Gay em Hiroshima e Nagasaki.
Em linhas gerais, Chernobyl é não somente uma prestação de contas a todos aqueles curiosos (como eu) que sempre quiseram entender minimamente o ocorrido naquele fatídico 26 de abril de 1986, como também a certeza macabra de que a mentira triunfou e continua triunfando ao redor do mundo de tempos em tempos, sempre avalizada pelas atitudes nocivas e prepotentes do Estado. E o mais triste é que a maior parte da população mundial não está nem um pouco interessada nessas questões, pois elas parecem impertinentes diante de assuntos tão vazios quanto fama, status e beleza, dentre outros.
Assista e se assombre. De vez em quando precisamos de um choque de realidade como esse.
P.S: para os interessados no tema (como eu) recomendo também, após assistir a minissérie, a leitura do livro Vozes de Tchernóbil - a história oral do desastre nuclear, da escritora bielorussa Svetlana Alexijevich (vencedora do prêmio Nobel de literatura em 2015), que reúne relatos de sobreviventes da tragédia. E desafio-os a não ficarem com os olhos marejados de lágrimas!
Osmosis (1ª Temporada)
3.1 87 Assista AgoraOSMOSIS, série francesa criada pelo produtor Audrey Fouché, até tenta ser inovador, mas não adianta: histórias de amor têm sempre um certo problema quando transpostas para o cinema e a tv e são poucas as que de fato acertam. Ainda mais quando a trama se trata de uma empresa capaz de produzir para você o par perfeito. Como crítica aos relacionamentos amorosos em tempos de internet soa raso, rasteiro mesmo. E como produção televisiva ficou com cara de mal acabado.
Big Little Lies (1ª Temporada)
4.6 1,1K Assista AgoraBIG LITTLE LIES não é simplesmente uma história sobre investigação e assassinato. É mais grave: trata de relações familiares conturbadas num mundo contemporâneo caótico. E nesse universo estereotipado ao extremo há de tudo. Mulheres submissas, filhos problemáticos de casais divorciados, mães solteiras que escondem segredos do passado, mulheres que se acham acima do restante da sociedade (e principalmente de outras mulheres) simplesmente por portarem cargos de alto escalão, um escola primária que nada mais é do que o reflexo de uma sociedade destruída pela vaidade e pelos excessos cometidos por pessoas que vêem a vida sob a ótica do poder e da futilidade. Resultado: um cidade - no caso, Monterey - onde todos querem provar que são mais do que os demais. A dupla David E. Kelley e Jean-Marc Valée unem-se ao canal a cabo HBO para produzir um grande ensaio sobre a hipocrisia monumental do ser humano em pleno século XXI. E em meio a tantos extremos (que podem ir do marido ninfomaníaco e agressor até a filha que leiloa a virgindade na internet) é impossível não pararmos para pensar, nem que seja por um momento sequer, no quanto o mundo enlouqueceu e vem se escondendo atrás de loucuras como a pós-modernidade e a tal de globalização. Mais uma prova de que porque o canal é um dos mais relevantes da atualidade.
Narcos (1ª Temporada)
4.4 898 Assista Agora"Eu desconfio de uma sociedade que sempre escolha como lado da razão o criminoso, o torto, o que se julga acima do bem e do mal, independente das intenções malévolas do Estado em que essa mesma sociedade viva". Lembro como se fosse hoje do dia em que o meu professor de filosofia na faculdade disse essas palavras. Lembro-me inclusive de pessoas recalcadas dentro da sala de aula, dizendo que ele não passava de um falso idealista metido a besta. A sociedade é assim: contraditória e interesseira. Fiquei pensando nisso com mais intensidade essa semana, após terminar de assistir a primeira temporada da série televisiva Narcos produzida pela Netflix, certamente uma das melhores produções audiovisuais de 2015.
Narcos trata da ascensão do império do tráfico construído por Pablo Escobar (Wagner Moura, mostrando mais uma vez porque é um dos melhores atores brasileiros da atualidade) e seus tentáculos em todas as esferas do país (no caso, a Colômbia). De homem modesto da confiança de um chefão do narcotráfico, Pablo vai galgando com extrema malícia e precisão um status nunca antes atingido por nenhum criminoso de que se tenha notícia em toda a América Latina. Numa trajetória que mistura messianismo, jogo de interesse, exploração sexual e muitas artimanhas no alto escalão, o maior traficante da história mundial consegue construir um legado que repercute em seu país até hoje (onde é considerado, por muitos, como santo, mártir, quase um Deus redivivo).
A história é narrada segundo o ponto de vista do agente do DEA Steve Murphy (Boyd Holbrook) que junto com seu parceiro Javier Peña (Pedro Pascal) são escalados para combater a escalada de destruição e o império do traficante mais poderoso da Colômbia. Mais do que o relato de vida de um ícone do crime, as crônicas de Narcos mostram as emocionantes histórias da vida real dos chefões do tráfico no final dos anos 80 e os esforços brutais realizados pela lei para detê-los. A série mostra com detalhes o choque entre as forças em conflito – legais, políticas, policiais, militares e civis – que culmina em um esforço para controlar a commodity mais poderosa do mundo: a cocaína.
Não existe um só setor do país que não tenha rabo preso em algum aspecto da questão. Igreja, imprensa, o próprio estado, pequenos empresários, a guerrilha, todo mundo mostra um pouco desse caráter controverso que parece ser a tônica do mundo globalizado. Um mundo onde para atender seus próprios interesses, cada um joga conforme as regras que melhor lhe interesse, deixando uma lacuna muito incômoda na hora de separar vilões e mocinhos.
Se por um lado pode parecer que os produtores da série (que conta entre seus membros, com a participação do diretor José Padilha, diretor dos dois Tropa de Elite, que dirige alguns dos episódios) estão glamourizando o papel da criminalidade em detrimento de um Estado que parece omisso ou de mãos atadas em meio a toda essa situação de caos, por outro é brilhante a construção narrativa que não poupa um agente sequer de todo o conflito, pondo o dedo na ferida e expondo as amarguras de um país que se faz através de conchavos e acordos sórdidos. A própria analogia que os produtores fazem entre o período em questão e o Realismo mágico, o grande momento da literatura colombiana, é por demais interessante, mostrando o quanto o próprio país acaba por mostrar uma visão confusa de si mesmo, sempre se perdendo na hora de se apresentar como ficção ou realidade.
Sem a menor sombra de dúvidas, um dos melhores trabalhos de pesquisa e de cinematografia que eu já pude presenciar até hoje. Que a Netflix venha para ficar. Estamos precisando de mais gente com essa coragem no meio atualmente...
Mr. Robot (1ª Temporada)
4.5 1,0KAo final de duas temporadas, a certeza que me fica é: MR. ROBOT, série criada por Sam Esmail, é sem sombra de dúvidas das melhores coisas produzidas para a tv americana nos últimos anos. A história de Elliot (Rami Malek, num tour de force magnìfico!), o hacker atormentado pela morte do pai, cujo espírito o persegue e dita seus passos num plano de destruição do mercado financeiro, é macabra, sensorial, psicológica, catártica, cheia de amores não concretizados e amizades inescrupulosas. O roteiro pauta bem o momento que os EUA vive desde o 11 de setembro: uma nação cheia de cicatrizes expostas, mas que ainda é refém da própria soberba e da eterna mania de se achar a maior nação da história da humanidade. Assim como acontece com BREAKING BAD, DEXTER e HOUSE, fecha-se com esse programa ácido, por vezes sobrenatural de tão aterrador, uma tetralogia da América dos tempos de Occupy Wall Street e do governo Obama. Para espectadores de estômago e senso de questionamento é um prato cheio...
Jessica Jones (1ª Temporada)
4.1 1,1K Assista AgoraÉ, minha gente, as mulheres não são mais as mesmas. E isso não é uma crítica. Lembro do tempo em que filmes com mulheres protagonistas e heroínas não tinham plateia. E quando se tratava de seriado tinha que ser um I Love Lucy da vida, senão... Pois é. Mulheres tinham que ser as mocinhas, angelicais, o interesse amoroso do protagonista. Do contrário, as pessoas (leia-se: os homens) diziam: "não vai dar certo. Nunca". Isso começou a mudar com Geena Davis e Angelina Jolie. As pessoas enfim começaram a perceber que elas podiam dar conta disso, sem problemas. E o resultado final dessa equação é a exuberante parceria da Netflix com a Marvel Jessica Jones.
Jessica Jones (Krysten Ritter, numa versão mais desbocada e irônica da Lisbeth Salander da série de livros Millenium escrita por Stieg Larsen) é uma investigadora particular falida, quebrada mesmo, que possui habilidades que a maioria das pessoas do seu ramo não possui (super força, habilidade de dar grandes saltos etc). Porém, sua maior habilidade é a capacidade de ser antissocial com a maior facilidade. É rude, egoísta, bebe o tempo inteiro, aparentemente não se importa com ninguém, e evita relacionamentos amorosos como o diabo evita a cruz. No entanto, é das melhores profissionais disponíveis no mercado - que o diga a advogada Jeri Hogarth (Carrie-Anne Moss) que vive às turras com ela - e está sempre disponível para novos contratos.
Em meio a entrega de intimações, conseguir fotos incriminadoras de maridos e esposas adúlteros, vigiar pessoas, entre outros trabalhos sórdidos, Jessica esconde um trauma: Kilgrave (David Tennant), um ex lover, psicopata, elegante, fala macia, capaz de controlar a mente de quem quiser, incluindo a da própria Jessica. Por causa dele, ela fez coisas terríveis, matou pessoas, tornou-se alguém cheia complexos. Quando finalmente conseguiu livrar-se de seu jugo, pensou ter assistido sua morte num acidente. Até que foi contratada para achar a jovem Hope (Erin Moriarty) que andava desaparecida. E descobre que Kilgrave está de volta e ela terá que encará-lo frente a frente de novo, capaz de tudo para tê-la ao seu lado.
As únicas pessoas em quem ainda consegue confiar são Trish Walker (Rachael Taylor), apresentadora de um programa de rádio, Malcolm (Eka Darville), um vizinho viciado e Luke Cage (Mike Colter), um dono de bar que também possui habilidades especiais, e com quem tem um affair. Contudo, disposta a encarar a barra pesada sozinha ela prefere andar pelas ruas alucinadamente, atrás de cada pista (ou cadáver) que a leve ao assassino serial.
Jessica Jones representa um divisor de águas na mentalidade e nos objetivos que a Marvel pretende seguir nos próximos anos. Esqueçam identidades secretas, homens e mulheres imortais, semideuses e outros seres perfeitos. Jessica é uma mulher com problemas reais, dívidas a pagar e um senso de humor negro, de dar inveja a muitas histórias contadas pelos irmãos Coen. E o roteiro de Brian Michael Bendis deixa isso claro a cada episódio. Amores não correspondidos, crimes passionais, traumas de adolescência, uma relação mãe e filha conturbada, caos social... O mundo da série poderia perfeitamente passar a ideia de uma realidade nociva à sociedade. Contudo, é inegável que estamos falando de Hell's Kitchen, terra de Matt Murdock e outros heróis da editora mais lida na atualidade e microcosmo desse mundo cruel e capitalista onde vivemos e onde todos querem pedir algum favor a alguém (desde que não tenha de pagar depois).
Para assistir com carinho. Mesmo. Não é todo dia que a internet oferece uma peróla dessas, não!
Todo Mundo Odeia o Chris (1ª Temporada)
4.4 373 Assista Agora"Não é cinema, tá legal... Mas eu vou falar dela mesmo assim, porque eu sou fã e pronto".
Gosto da televisão americana quando ela não está querendo me fazer de idiota. E antes que me perguntem o que significa isso, eu respondo: quando ela me entope de comédias babacas metidas a sabichonas (tipo Mom e Mike & Molly) ou que supostamente refletem o way of life da terra do tio sam (Modern Family, por exemplo!). Ah tá! Vou fingir que acredito mesmo nisso, que os EUA é aquilo ali... Por outro lado, há um tipo de tv made in USA que me agrada muito e que foge do festival de megaproduções que andam em voga por lá (antes de mais nada: não tenho nada contra Lost, Dexter, Breaking Bad, The Walking Dead, nem nenhum carro chefe da american tv recente; só acha um exagero que se gaste tanto com séries que, de complexas, não tem realmente tanto assim...). A melhor deles é Todo mundo odeia o Chris. Disparado.
Todo mundo odeia o Chris é baseado - ou não, se levarmos em consideração que o ator é um verdadeiro, notório cara de pau, capaz das maiores artimanhas possíveis para buscar a fama - nas memórias da adolescência do ator Chris Rock que, cá entre nós, é um dos melhores modelos de "esse cara não combina com nada que repercuta na mídia atualmente" dos últimos tempos.
Chris (Tyler James Williams, ótimo!) e sua família são um exemplo raro de família americana, retratada da maneira mais transparente que você possa imaginar: Julius (Terry Crews, um ator que praticamente já virou um marca registrada do gênero humor nos últimos anos) é o pai obcecado por dinheiro que conta nos dedos cada centavo gasto, Rochelle (Tichina Arnold) é a mãe soberba que adora ostentar e não perde a chance de dizer às amigas e vizinhas que o marido dela "tem dois empregos e não precisa passar por isso", Drew (Tequan Richmond) é o irmão do meio, o galã da casa, o cara que atrai a atenção de todas as garotas da rua e deixa Chris puto com tamanha facilidade de conseguir sempre o que quer, sem o menor esforço, e Tonya (Imani Hakim) é a filha caçula, queridinha do pai, que vive colocando os dois irmãos mais velhos no fogo por causa das roubadas em que se mete.
Além, disso os produtores da série foram muito inteligentes ao retratar figuras típicas do universo vivido por Chris Rock nos anos 80, um país cheio de espertalhões (o Perigo, que vende tudo que se possa imaginar em termos de contrabando, o rapaz que vive chamando Chris de "ô carinha que mora logo ali" e sempre arranca um dólar dele etc), os amigos (Greg) e rivais (Caruso) do colégio, o primeiro empregador do Chris, o vizinho metido a religioso, que realiza funerais e não perde a chance de paquerar as belas mulheres do edifício onde mora, o salão de cabeleireiro que a mãe frequenta, onde simples fofocas podem se transformar em discussões monumentais, o asiático dono do restaurante (que chama Chris de Lionel Ritchie o tempo todo), em suma... É praticamente um microcosmo da Black America daqueles tempos.
Percebe-se claramente as influências de Spike Lee e Melvin van Peebles na série, que durou míseros quatro anos (uma pena, se pararmos para pensar que tanto seriado que não tem nada de fato a dizer acaba durando muito mais tempo!) e é reprisada exaustivamente na Rede Record. Espero que a tv americana tenha aprendido algo de bom com esse projeto e volte à temática futuramente, porque cá entre nós, tá duro de engolir certos comic shows (ou sei lá como andam chamando esse tipo de programa atualmente) que estão passando recentemente nos principais canais da tv a cabo, viu!!!
Sense8 (1ª Temporada)
4.4 2,1K Assista AgoraIntolerância religiosa, homofobia, racismo... O mundo contemporâneo traz em seu bojo uma marca característica bastante forte: o sentimento de ódio brutal contra os excluídos do sistema (ou, ao menos, àqueles que pareçam à primeira vista, diferentes da demanda dita principal, seja pela cor da pele, pela opção sexual ou pela religião distinta). Os irmãos Wachowski sabem disso como poucos e sempre deixaram isso claro em sua cinematografia. Um deles, inclusive, é transexual. Começou sua carreira no cinema como Larry e hoje tornou-se Lana. E isso em nada desmereceu seu trabalho como realizador cinematográfico. Junto com seu irmão, Andy, tornaram-se a coqueluche do cinema americano com a trilogia Matrix e a revolução cinemática que promoveram. Nos últimos anos, apesar de não obterem o mesmo sucesso de crítica e público, conseguiriam incomodar muita gente com suas ideias (e roteiros) à frente do seu tempo. E isso é um excelente sinal em se tratando de sétima arte.
Aqui, na nova série que produziram, Sense 8, eles fazem meio que um desdobramento da ideia que já haviam trabalhado em seu longa Cloud Atlas (aqui no Brasil, tristemente traduzido para A viagem, e um filme que merecia uma recepção melhor do público). E o resultado é inebriante!
Primeiramente: eles são oito.
1) o motorista de ônibus Capheus - vulgo Van Damme (Aml Ameen)
2) a executiva e lutadora Sun Bak (Doona Bae)
3) a hacker transexual Nomi Marks (Jamie Clayton)
4) a noiva em dúvida Kala Dandekar (Tina Desai)
5) a DJ Riley Blue (Tuppence Middleton)
6) o arrombador de cofres Wolfgang Bogdanow (Max Riemelt)
7) o ator televisivo gay Lito Rodriguez (Miguel Ángel Silvestre)
8) o policial Will Gorsky (Brian J. Smith)
Todos paranormais, ligados mentalmente uns aos outros, independente de onde estejam. Entretanto, após uma visão recorrente de uma mulher, Angelica Turring (Daryl Hannah, a eterna Madison de Splash - uma sereia em minha vida), se suicidando dentro de um prédio abandonado, eles percebem que a sua presença incomoda a um grupo de indivíduos, dispostos a lobotomizá-los, transformando-os em verdadeiras máquinas de matar. Cientes disso - e sempre assombrados pela aparição do misterioso Jonas Maliki (Naveen Andrews, da série Lost) que tenta avisá-los a todo momento do que está acontecendo - eles precisam unir forças para combater esse inimigo mortal, conhecido como Mr. Whispers (Terrence Mann) e manterem-se vivos.
África, Índia, Alemanha, EUA, Islândia... A sensação que se têm, a cada episódio, é que as cidades onde vivem - assim como os oito protagonistas - se fundem, tornando-se uma única e imensa megalópole. Os diretores conseguiram reunir um elenco eclético e muito bem distribuído. Gosto particularmente de Jamie Clayton (que é transexual na vida real) e Aml Ameen. Eles me parecem passar logo de cara a ousadia que o seriado pede. Contudo, é interessante ver a brutalidade evidente de Max Riemelt, a indecisão de Miguel Silvestre e claro! a beleza de Tina Desai, que eu já havia apreciado no excelente O exótico hotel Marigold, é de um frescor óbvio.
Das séries que eu conferi recentemente é a que mais me deixou curioso no sentido de acompanhar uma segunda temporada. É alegre, mas sabe ser dura e metódica quando necessária. Transita entre a visceralidade da sobrevivência no continente africano e o exotismo e as contradições indianas, passando pelo frio glacial da Islância, fazendo com que o espectador acabe por perceber que por trás de toda aquela sobrenaturalidade (que não passa de uma desculpa para confundir a plateia) há um verdadeiro estudo sobre o multiculturalismo vigente no mundo de hoje, dominado pelas teorias - e hipocrisias - da chamada globalização. Para quem procura fugir da mesmice na tv a cabo, é a pedida ideal.
Vinyl (1ª Temporada)
4.1 145Em alguns momentos VINYL, série criada por Martin Scorsese, Mick Jagger e Rich Cohen, sobre a indústria fonográfica, pode soar cambaleante, confusa, sem uma trama coesa. Contudo, se levarmos em consideração do que se trata o mundo do rock n' roll, eles na verdade estão coberto de razão. Trata-se de um mundo repleto de incertezas e oscilações. Seu protagonista, Richie Finestra (Bobby Cannavale) é o estereótipo perfeito desse universo: vive uma vida hedonista, permeada por vícios e mentiras. E seus sócios na American Century não estão muito longe dessa realidade. Na verdade, a complementam.
Entre aparições de megaestrelas como Alice Cooper, Janis Joplin, Elvis Presley e vozes poderosas que vão de David Bowie à Freddie Mercury, o seriado é um deleite para ouvidos que saibam reconhecer o bom e o melhor desse universo. Falta, talvez, os produtores um pouquinho mais de rebeldia e é uma pena que a HBO tenha cancelado a segunda temporada do projeto, pois confesso que estava louco para ver o que a nova empreitada de Finestra - o novo selo Alibi Records - prometia. Enfim... Desilusões à parte, para quem procura por um programa que possa fazê-lo se remexer no assento do sofá, eis aqui uma ótima opção. Desde que você tenha a adrenalina necessária para acompanhar o seu ritmo.
Angels in America
4.2 126 Assista AgoraO que as pessoas que assistiram ANGELS IN AMERICA em 2003 simplesmente não conseguem entender é que é meramente impossível tratar do tema de forma linear, se levarmos em consideração que a história se passa num dos países mais preconceituosos do mundo. Muito mais do que um filme-manifesto sobre a AIDS ou a favor dos homossexuais, a minissérie de Mike Nichols, baseada numa peça do premiado Tony Kushner (responsável também pelo roteiro de LINCOLN, de Steven Spielberg) é uma grande alegoria ou fábula - dependendo o ponto de vista que voê enxergue - sobre a hipocrisia dentro de uma nação que sempre se vendeu como a "maior potência da história da humanidade". E nessa terra, chamada por seus intelectuais e figuras públicas, como "terra das oportunidades", o que se vê é uma grande contradição entre capitalismo e vidas pessoais. Utilizando-se de um elenco fabuloso, que conta com as presenças ilustres de Al Pacino, Meryl Streep, Jeffrey Wright, James Cromwell e Patrick Wilson, a produção marcou época por sua coragem ao colocar o dedo na ferida de um país que adora se vender como democrático mas não esconde a contento seus próprios deslizes e disparates. Me ressinto de não ter assistido essa obra-prima antes. Agora, não sai mais da minha coleção pessoal.
Taboo (1ª Temporada)
4.1 126 Assista AgoraÀ parte o fato de que eu sempre terei problemas com o ator Tom Hardy (sim, aquele que fez Bane no último filme da trilogia Batman dirigido pelo Christopher Nolan e o recente MAD MAX: ESTRADA DA FÚRIA) por acho de uma antipatia e um pedantismo incômodo, recomendo aos visitantes do canal que assitam a primeira temporada da série TABOO. Hardy vive James Keziah Delaney, um homem de inclinações ocultistas e macabras, que sobreviveu a um naufrágio e regressa à sua cidade natal para se vingar dos homens que o envenenaram e construir um império marítimo. Seu inimigo? A companhia das índias na figura de seus inescrupulosos gestores, que tentam fazer com que ele venda uma região supervalorizada a preço de banana. Contudo, Delaney recusa e sua vida vira um inferno pessoal. Ligações inescrupulosas, um madastra cheia de más intenções, um relacionamento incestuoso com a meia-irmã Zilpha (que é interpretada, nada mais nada menos, do que pela neta do gênio Charles Chaplin), o seriado é um prato cheio para fãs de uma boa aventura bem contada. Que Hardy queime a minha língua de novo e continue se envolvendo em bons projetos como esse...
Cães de Berlim (1ª Temporada)
3.8 27 Assista AgoraDOGS OF BERLIN é o retrato vivo e puro do mundo sujo que rodeia o futebol, esporte mais amado em todo o mundo. O assassinato do primeiro jogador turco a vestir a camisa da seleção alemã de futebol na véspera do jogo decisivo pelas eliminatórias para a copa do mundo faz com que dois agentes da polícia se deparem não só com um esquema sórdido envolvendo manipulação de resultados como também com a fúria dos neonazistas que querem expulsar a comunidade turca de seu país a qualquer custo. Como um adendo problemático a mais o fato de um dos agentes envolvidos no caso ser corrupto e irmão de um dos membros da gangue neonazista e o outro homossexual. Ironias a respeito de grandes nomes do futebol mundial em ascensão e a linha tênue que perpassa o crime organizado e figuras eminentes do país fazem da série um prato cheio para espectadores que procuram uma temática fora da zona de conforto dentro do gênero seriado policial. É mais uma produção acertada da Netflix, que mostra de novo porque é uma das produtoras de conteúdo audiovisual mais em evidência nos últimos anos.
American Crime Story: O Povo Contra O.J. Simpson (1ª Temporada)
4.5 582 Assista AgoraEspetacular!!! É por causa de produções como essa que a televisão norte-americana vem se destacando mais nos últimos anos do que a sétima arte. O elenco é fabuloso e o clima de manipulação proposto durante todo o julgamento deram a tônica do seriado.
Sex&Drugs&Rock&Roll (1ª Temporada)
3.8 27Sinto falta de alguma coisa aqui. E achei o tom cômico um tanto demais. Mas vale pela força de vontade do elenco!
True Detective (2ª Temporada)
3.6 772É inferior a segunda, mas mesmo assim interessante.
Fato: o Vince Vaughn precisa parar de perder tempo com aquelas comédias sem noção...
True Detective (1ª Temporada)
4.7 1,6K Assista AgoraEm uma palavra: foda!!!
Morte Súbita
3.2 110Eu vi no escuro (não li o livro), mas achei meia boca. Estava na expectativa de algo mais desafiador. Vale pela trilha e por alguns personagens. No mais...
12 Monkeys (1ª Temporada)
4.0 131Eu fui conferir meio receoso porque sou fã incondicional do filme do Terry Gilliam. Mas adorei e já estou no aguardo da segunda temporada!