Ray já trabalhou para Jean Renoir no começo da carreira. Acho bem provável que este longa tenha sido diretamente influenciado por UM DIA NO CAMPO, um filme curto e inacabado do Renoir lá pelos anos trinta. Pra quem quiser tirar a prova, fica aqui a recomendação.
Ação convencional com explosões gratuitas a la Michael Bay regadas a CGI meia-boca. Ryan Reynolds sem graça pra caramba. De quebra, uma propagandaiada imperialista contra a Bielorrússia que já antecipava, em 2017, o conflito da OTAN com o governo Lukashenko. O que salva parcialmente e deixa o longa pelo menos só um pouco abaixo da média é o carisma de Samuel L. Jackson.
O longa é tão próximo do martírio cristão que poderia se chamar A PAIXÃO DE NITA, hehehehe!
Apesar da brincadeira, o longa é muito bom, com imagens poéticas e closes bonitos. Não é todo mundo que vai curtir, até pelo uso de canções aqui e ali (mas longe do modo mais espalhafatoso de Bollywood), porém eu consegui entrar na vibe depois de meia hora. E o tema é ótimo: a estrutura familiar corroendo alguém usado como "burro de carga" pra levar tudo nas costas - e o quanto isso não resulta sequer em gratidão.
Nem só de Satyajit Ray vive o cinema bengalês. Essa boa descoberta do cinema de Ritwik Ghatak eu fico devendo para a lista do Steven Jay Schneider - e como não sou ingrato como os familiares da Nita, fica aqui meu registro.
O que c@r@lh*s passou pela cabeça de um senhor "de respeito" como o Coppola, outrora diretor de O PODEROSO CHEFÃO e A CONVERSAÇÃO, pra se reduzir a um filminho sessão da tarde padrão UMA BABÁ QUASE PERFEITA?
A verdade, por mais que alguns fãs mais ardorosos não aceitem, é que o acréscimo de Coppola à sétima arte se limitou aos anos setenta. O resto é engodo ou só legalzinho. Esse aqui nem isso e só um passatempo infantil rastaquera, que foi dirigido sem marcas autorais, parecendo aqueles longas infantis feitos a toque de caixa.
Medíocre. A estrutura de id, ego e superego confinados em ambiente inóspito me lembrou um pouco STALKER, do Tarkovski (outro longa cheio de boas ideias, porém arrastado). Skarsgard em performance irregular, alternando entre bons momentos e outros simplesmente risíveis de tão abruptamente exagerados e impulsivos naquele contexto. Os outros dois atores são inexpressivos, especialmente o "poeta".. Boa exploração plástica de locações da metade pro fim.
Boa incursão nos primórdios do gênero documentário. Tem aquela patriotada besta da monarquia britânica - apesar do desfecho ironicamente divertido na competição com a Noruega - e umas indulgências morais estúpidas e arbitrárias, como a "foquinha indefesa" salva das baleias pelos "heroicos marinheiros". Mas é quase nada pra macular o resultado final muito cativante.
E já que falamos nos noruegueses, uma dica de ouro pra quem gostou desse documentário aqui: KON-TIKI, de 1950. É com uma proposta de exploração desafiante parecida, porém ainda melhor e mais hardcore no escopo que buscavam que esse aqui.
Uma pena que um longa que tinha tanto potencial pra cair no gosto popular mundial, por ter uma linguagem até bastante acessível para o público fora da Nova Zelândia e sobretudo por um personagem que tem potencial pra virar cultura pop de tão marcante, tenha sido esquecido e ostracizado ao longo das décadas. Eu mesmo só fui conhecer porque o encontrei na lista dos "1001 Filmes para Ver Antes de Morrer", do contrário morreria sem ver essa pequena joia da Oceania.
A linguagem satírica, que parece tirar sarro dos colonizadores ingleses brancos o tempo quase todo, unidos a direção bem feita e um ator principal carismático (Anzac Wallace, em performance vigorosa) e ainda um enredo cheio de personagens inspirados pela vontade de se vingar (a "utu" do título original) fazem ecoar - ainda que de leve - a sensação que tive vendo DJANGO LIVRE. O velho Quentin se dúvidas ia adorar UTU,
Esse é um daqueles casos, como acontece por exemplo também em PANTERA NEGRA do Ryan Coogler, que nem precisa fazer muita força pra sacar que o diretor torce e se identifica com o "vilão" - inclusive pelo discurso final em ambos os casos. Te Wheke, o maori que se arrepende de servir a Coroa britânica como capitão-do-mato neozeolandês e, numa guinada de cento e oitenta graus, vira uma espécie de Lampião daquelas bandas. Toda cena na qual aparece, ator e diretor fazem transbordar uma energia e vigor que contrastam com os ingleses aparvalhados e distates (mesmo aqueles que o roteiro prevê como mais "bonzinhos"). A vida está na resistência, o resto é conversa pra boi dormir.
Além de tudo, tem uma exploração bonita das locações e uma montagem correta, terminando de modo anti-climático porém certeiro. Claro que não é tão polido pra ser uma obra-prima, até porque a gente fica torcendo pro Te Wheke aparecer em todas as cenas e até se frustra quando a câmera se volta para os outros personagens, sempre um sinal de que faltou carisma aos outros atores.
Esse é daqueles filmes que dá pra recomendar sem ressalvas, porque acho bem improvável alguém não curtir. Uma pena ser tão pouco conhecido, vide a baixa quantidade de avaliações no IMDb. Também pesa aí o fato de eu ter que ver sem legendas em português e na marra com áudio e inglês, outro indício do quanto é um filme (injustamente) desconhecido. Bem, se é por falta de divulgação e entusiasmo, estou eu aqui fazendo minha parte e indicando pra qualquer um que tenha lido este texto. Obrigado, Steven Jay Schneider!
Melhor que o primeiro. Dessa vez o diretor ao menos entrevistou gente mais relevante para o assunto, começando pela própria Aileen que enfim pode falar mais por si mesma.
Descobri a existência desse longa há muitos anos, totalmente por acaso, quando procurava num banco de dados de uma videolocadora (já extinta) o "xará de sobrenome" do diretor deste longa, PAUL VERHOEVEN.
Desde então descobri que foi indicado a Oscar e a curiosidade cresceu. Finalmente foi sanada quando topei esses dias com uma sessão dele legendada e integral no Youtube.
É de fato um filme acima da média e com bom uso narrativo de quebras bem humoradas num tema pesado. De fato, memória é fundamental e os arquivistas tem em suas mãos uma mina de ouro sobre o aprendizado que a História pode ensinar. Pena que o tema do holocausto judeu já esteja tão batido no cinema mundial, principalmente nesses indicados e vencedores do Oscar ao longo das décadas, dado o domínio de velhos sionistas na Academia de Roliúde.
Acaba parecendo mais do mesmo, infelizmente. Mas vale sim a conferida.
Excelente melodrama mudo chinês, com uma atriz jovem e muito expressiva que infelizmente morreu de forma precoce. O estigma da prostituição só existe por moralismo: na ditadura do capital, somos todos prostitutos (vendendo sexo ou qualquer outra coisa).
Cinebiografia fraca, prolixa (vi na versão integral de mais de duas horas e meia), de uma personagem sem graça cujo maior interesse, em tese, é a sua morte precoce aos vinte e quatro anos.
No fundo é só um veículo para o ego do diretor Stanley Kwan fazer metalinguagem e traquinagens estéticas de tipo colocar o presente em preto e branco, ou entrevistar os atores e jogar isso no meio da ficção. Também é um veículo para propagandear a então novidade no drama Maggie Cheung, uma atriz insossa ao extremo que por alguma razão indecifrável caiu nas graças da crítica.
P. S: Acabei de ver A DEUSA (1934) e olha... quem nasceu pra Maggie Cheung nunca chega a Ruan Ling Yu.
Só mais uma bobajada de viagem no tempo que aproveita mal esse sub-gênero que foi parido, principalmente, por DE VOLTA PARA O FUTURO. Uma pena, porque a franquia MIB tinha potencial no primeiro filme para desvelar um universo divertido de tiradas que satirizam organizações como a CIA, com um toque de fantasia e ficção científica além da comédia.
Meia-sola. Em tempos de outros longas franceses da mesma época também ditos "socialmente contestadores", como LA HAINE e ACONTECEU PERTO DA SUA CASA,esse aqui acaba sendo mais do mesmo. Não se decide muito entreter uma pegada "documental" ou as doses esporádicas de narração over.
Surpreendentemente gostei desse musical, que tem números realmente bonitos e bem coreografados mesmo para os padrões de hoje, quase noventa anos depois, apesar de irregular nas canções em si e às vezes meio bobo.
É bastante sincero nas relações de gênero (ô mulherada interesseira!) e situa tudo numa crise capitalista forte que realmente existiu na época. Visto com atenção, é um ancestral de SHOWGIRLS do Verhoeven.
Junção de musical com.a direção de um dos cineastas mais mecânicos e burocráticos da Hollywood clássica.
Ficou parecendo uma versão de Otelo, do Shakespeare, com um "alemón" de mão pesada tentando registrar, sem nenhum traquejo pra isso, o gingado dos negros estadunidenses.
Um porre total. E tal da atriz tá bem longe de ser tão "irresistível" assim. Pra variar é mais um musical totalmente esquecível.
Apesar das falhas técnicas (a mixagem de som oscila demais) e das limitações típicas de um documentário de fãs, como sub aproveitar Edgar Vivar que nada diz do tema central do documentário, é um bom produto e tem um bocado de curiosidades que eu não sabia.
A principal delas é que o Brasil é que tem o maior acervo mundial de episódios da série, incluindo alguns que nem a própria Televisa sabe onde foram parar.
Que falta faz um bom arquivista de documentação audiovisual, não? Sem os devidos cuidados, se arrisca perder a memória de artistas influentes, vide o que aconteceu aqui no Brasil com a Cinemateca neste ano.
Já não curti o primeiro e fui ver essa sequência tardia pra tirar a prova se, de repente, com a idade passaria a ter mais interesse nos zé-droguinhas do Danny Boyle. Mas não funfou não. Só tem um ou outro bom momento isolado. E as traquinagens todas de edição já não são mais novidades como eram nos anos noventa...
Bom filme tardio de encerramento para uma série brilhante com uma pegada de western que mesmo os representantes "revisionistas" tardios do gênero, como OS IMPERDOÁVEIS, não se atreveram a ir tão longe.
Como eu vi o filme-despedida logo depois de ver a série, sendo que há um "gap" de uma década e meia entre uma coisa e outra, acabei tendo certo estranhamento pela ausência de Cy Tolliver (Powers Boothe,infelizmente falecido antes da rodagem do longa) e algumas decisões estéticas que quebram um pouco a continuidade com a série, como a indecisão entre envelhecer até demais os personagens pela maquiagem ou justamente, na contramão, tentar esconder esse envelhecimento com efeitos de sombra na direção de fotografia. Também acaba me soando redundante o uso de flashbacks com imagens da série, recurso até compreensível para dar acesso ao enredo pra quem foi direto pro filme sem ver a série antes (embora quase ninguém vai fazer isso, suponho).
Mas vamos e convenhamos que é muito pouco pra macular o resultado final, que tem roteiro muito bom, elenco ainda afiado e homogêneo como sempre e aproveita bem a passagem do tempo pra fazer algumas alterações de humor dos personagens, sendo a mais notável conseguirem tornar convincente certa "ternura tardia" em ninguém menos que o ultra cínico Al Swearengen (Ian McShane), carismático como de costume.
De quebra, traz novamente o melhor personagem da terceira temporada: o monopolista obsessivo George Hearst, a personificação do imperialismo ascendente no final do século XIX em contraponto ao capitalismo até então ainda "competitivo". É um dos vilões mais memoráveis da história do audiovisual televisivo, que só não deixou uma marca maior por infelizmente ter chegado muito tarde em DEADWOOD (a série), o que os realizadores parecem ter entendido pela importância que ele teve no roteiro desse filme aqui.
Vi muita gente alegando que o nível dessa sequência era próximo do original. Balela.
Expande pouco do universo criado no primeiro, não tem o frescor da novidade e os monstros parecem até meio burros e pouco ameaçadores perto do que eram no longa original, exceto para trucidar figurantes que não causam impacto.
Começo muito bom, com os planos longos no "dia 1" e a perna na armadilha, mas depois cai na mesmice e tem pouco suspense, com um final risível.
Pessoal que elogiou demais deve ter vergonha de assumir que perdeu tempo cozinhando o galo de um "hype" esticado mais de um ano pela pandemia, num longa que se revelou apenas meia sola.
Trocadilhos à parte: foi muito barulho por (quase) nada.
Wanna-be DOUTOR FANTÁSTICO, mas com dois países da OTAN. Bom no roteiro, nem tanto na execução prática. Tem momentos engraçados o suficiente para ser razoável.
Cheio de grandes prós e contras igualmente contundentes, HOTEL TERMINUS - que chegou a faturar um Oscar - é mais um loooongo documentário do cineasta Marcel Ophlus acerca do que parece a obsessão pessoal em sua filmografia: expor os nazistas ao esculacho público, décadas após seus crimes de guerra, evitando que se dissimulem na sociedade burguesa dita "mais civilizada".
Em que pese as boas intenções, acaba sendo aquele engodo ideológico meio Hannah Arendt, com direito a frases do tipo "ain extrema esquerda e extrema direita são igualmente contra judeus" (dita por um dos entrevistados), o que além de mentira historicamente comprovada (um bocado de judeus em campos de concentração foi libertado justamente pelo Exército Vermelho da União Soviética) acaba evidenciando a tendência ao sionismo típica de tantas produções que ganham o Oscar
Narrativamente é um filme meio disperso e por vezes (felizmente nem sempre) bastante prolixo em suas quatro horas e meia de duração. Esse problema também está presente num longa anterior de Ophlus, o bonzinho LE CHAGRIN ET LA PITIÉ, no entanto neste o escopo mais amplo do filme, abarcando o colaboracionismo francês de modo mais geral, preenche ligeiramente melhor a extensa duração.
Como HOTEL TERMINUS tem um escopo mais específico, focado na figura do oficial da SS Klaus Barbie, Ophlus acaba perdendo o fio da meada e se dispersando várias vezes em entrevistas redundantes, sobretudo em julgamentos de tipo moral, quando podia ter chutado logo o balde seguindo uma linha mais cronológica e declaradamente intimista sobre a personalidade oculta daquele fascista e sua dissimulação covarde a posteriori, como por exemplo vimos no ótimo documentário brasileiro CIDADÃO BOILESEN.
Ao tentar emular a estrutura de LE CHAGRIN ET LA PITIÉ, mas agora com um recorte mais focado que o longa de 1969, o diretor acaba tornando sua investigação pessoal sem dúvida nenhuma louvável e relevante, todavia também prolixa e cheia de "mais do mesmo". E não é porque o tema é sério e o gênero é documentário que a edição precisa ser tão tacanha e convencional. Basta ver a narrativa bem mais inteligente, ousada e contagiante do recente O.J.: MADE IN AMERICA (outro vencedor do Oscar), que com quase oito horas de duração passa voando e nos prende atentos a cada detalhe, graças a uma montagem inteligente e uso intercalado de reflexões dos produtores com imagens de arquivo e entrevistas.
Feitas essas ressalvas todas e saindo do muro num filme de saldo razoável, apesar dos defeitos todos supra descritos acaba valendo (por pouco) pra um espectador brasileiro a conferida na sessão de HOTEL TERMINUS por um motivo bastante específico e, aí sim, surpreendente por ser menos abordado do que deveria no cinema documental: a fuga de nazistas "arrependidos" para a América do Sul.
Depois que deu ruim pra turma dele na Segunda Guerra, Barbie correu justamente pra se refugiar na Bolívia e no Peru - e ele não é caso isolado entre outros fachos que vieram pra essas bandas, na fase de ditaduras de direita, assumidamente militarizadas, apoiadas pelos "democráticos" imperialistas dos Estados Unidos (que só de fachada eram contra o fascismo). Ophlus vai a campo na Bolívia pra investigar a passagem de Barbie por lá em coisa de uma hora de filme, sem dúvidas o ponto mais alto e original de sua travessia. Pena que, fora isso, seja chuva no molhado e HOTEL TERMINUS pouco tenha a acrescentar além de um esculacho bem intencionado, mas que pesa a mão na execução (e na duração) do produto final.
IsraHell é uma teocracia racista que nem devia existir. O longa até expõe o racismo de lá, embora bem menos do que poderia (e deveria). Há problemas estéticos, como o excesso de música onipresente melodramática, mas no geral o longa dá pro gasto e se segura por duas horas e meia.
Intenso passeio pela mente de uma infância disfuncional, com mistura de ludicidade e realidade. Nas entrelinhas, tensão histórica entre colonialismo britânico e os irlandeses. Direção primorosa de Neil Jordan e performance pungente do ator mirim.
Dias e Noites na Floresta
4.1 4Ray já trabalhou para Jean Renoir no começo da carreira. Acho bem provável que este longa tenha sido diretamente influenciado por UM DIA NO CAMPO, um filme curto e inacabado do Renoir lá pelos anos trinta. Pra quem quiser tirar a prova, fica aqui a recomendação.
Dupla Explosiva
3.4 275 Assista AgoraAção convencional com explosões gratuitas a la Michael Bay regadas a CGI meia-boca. Ryan Reynolds sem graça pra caramba. De quebra, uma propagandaiada imperialista contra a Bielorrússia que já antecipava, em 2017, o conflito da OTAN com o governo Lukashenko. O que salva parcialmente e deixa o longa pelo menos só um pouco abaixo da média é o carisma de Samuel L. Jackson.
Meghe Dhaka Tara
3.5 6 Assista AgoraO longa é tão próximo do martírio cristão que poderia se chamar A PAIXÃO DE NITA, hehehehe!
Apesar da brincadeira, o longa é muito bom, com imagens poéticas e closes bonitos. Não é todo mundo que vai curtir, até pelo uso de canções aqui e ali (mas longe do modo mais espalhafatoso de Bollywood), porém eu consegui entrar na vibe depois de meia hora. E o tema é ótimo: a estrutura familiar corroendo alguém usado como "burro de carga" pra levar tudo nas costas - e o quanto isso não resulta sequer em gratidão.
Nem só de Satyajit Ray vive o cinema bengalês. Essa boa descoberta do cinema de Ritwik Ghatak eu fico devendo para a lista do Steven Jay Schneider - e como não sou ingrato como os familiares da Nita, fica aqui meu registro.
Jack
3.5 272 Assista AgoraO que c@r@lh*s passou pela cabeça de um senhor "de respeito" como o Coppola, outrora diretor de O PODEROSO CHEFÃO e A CONVERSAÇÃO, pra se reduzir a um filminho sessão da tarde padrão UMA BABÁ QUASE PERFEITA?
A verdade, por mais que alguns fãs mais ardorosos não aceitem, é que o acréscimo de Coppola à sétima arte se limitou aos anos setenta. O resto é engodo ou só legalzinho. Esse aqui nem isso e só um passatempo infantil rastaquera, que foi dirigido sem marcas autorais, parecendo aqueles longas infantis feitos a toque de caixa.
Zero Kelvin - Sem Limites
3.6 11Medíocre. A estrutura de id, ego e superego confinados em ambiente inóspito me lembrou um pouco STALKER, do Tarkovski (outro longa cheio de boas ideias, porém arrastado). Skarsgard em performance irregular, alternando entre bons momentos e outros simplesmente risíveis de tão abruptamente exagerados e impulsivos naquele contexto. Os outros dois atores são inexpressivos, especialmente o "poeta".. Boa exploração plástica de locações da metade pro fim.
The Great White Silence
3.8 5Boa incursão nos primórdios do gênero documentário. Tem aquela patriotada besta da monarquia britânica - apesar do desfecho ironicamente divertido na competição com a Noruega - e umas indulgências morais estúpidas e arbitrárias, como a "foquinha indefesa" salva das baleias pelos "heroicos marinheiros". Mas é quase nada pra macular o resultado final muito cativante.
E já que falamos nos noruegueses, uma dica de ouro pra quem gostou desse documentário aqui: KON-TIKI, de 1950. É com uma proposta de exploração desafiante parecida, porém ainda melhor e mais hardcore no escopo que buscavam que esse aqui.
Utu - Espírito de Vingança
3.2 6O FIM DO MAORI CORDIAL
Uma pena que um longa que tinha tanto potencial pra cair no gosto popular mundial, por ter uma linguagem até bastante acessível para o público fora da Nova Zelândia e sobretudo por um personagem que tem potencial pra virar cultura pop de tão marcante, tenha sido esquecido e ostracizado ao longo das décadas. Eu mesmo só fui conhecer porque o encontrei na lista dos "1001 Filmes para Ver Antes de Morrer", do contrário morreria sem ver essa pequena joia da Oceania.
A linguagem satírica, que parece tirar sarro dos colonizadores ingleses brancos o tempo quase todo, unidos a direção bem feita e um ator principal carismático (Anzac Wallace, em performance vigorosa) e ainda um enredo cheio de personagens inspirados pela vontade de se vingar (a "utu" do título original) fazem ecoar - ainda que de leve - a sensação que tive vendo DJANGO LIVRE. O velho Quentin se dúvidas ia adorar UTU,
Esse é um daqueles casos, como acontece por exemplo também em PANTERA NEGRA do Ryan Coogler, que nem precisa fazer muita força pra sacar que o diretor torce e se identifica com o "vilão" - inclusive pelo discurso final em ambos os casos. Te Wheke, o maori que se arrepende de servir a Coroa britânica como capitão-do-mato neozeolandês e, numa guinada de cento e oitenta graus, vira uma espécie de Lampião daquelas bandas. Toda cena na qual aparece, ator e diretor fazem transbordar uma energia e vigor que contrastam com os ingleses aparvalhados e distates (mesmo aqueles que o roteiro prevê como mais "bonzinhos"). A vida está na resistência, o resto é conversa pra boi dormir.
Além de tudo, tem uma exploração bonita das locações e uma montagem correta, terminando de modo anti-climático porém certeiro. Claro que não é tão polido pra ser uma obra-prima, até porque a gente fica torcendo pro Te Wheke aparecer em todas as cenas e até se frustra quando a câmera se volta para os outros personagens, sempre um sinal de que faltou carisma aos outros atores.
Esse é daqueles filmes que dá pra recomendar sem ressalvas, porque acho bem improvável alguém não curtir. Uma pena ser tão pouco conhecido, vide a baixa quantidade de avaliações no IMDb. Também pesa aí o fato de eu ter que ver sem legendas em português e na marra com áudio e inglês, outro indício do quanto é um filme (injustamente) desconhecido. Bem, se é por falta de divulgação e entusiasmo, estou eu aqui fazendo minha parte e indicando pra qualquer um que tenha lido este texto. Obrigado, Steven Jay Schneider!
Aileen: Vida e Morte de Uma Serial Killer
3.8 53Melhor que o primeiro. Dessa vez o diretor ao menos entrevistou gente mais relevante para o assunto, começando pela própria Aileen que enfim pode falar mais por si mesma.
Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo
3.3 808 Assista AgoraRico mimado é pleonasmo.
Uma Cidade Sem Passado
3.9 30Descobri a existência desse longa há muitos anos, totalmente por acaso, quando procurava num banco de dados de uma videolocadora (já extinta) o "xará de sobrenome" do diretor deste longa, PAUL VERHOEVEN.
Desde então descobri que foi indicado a Oscar e a curiosidade cresceu. Finalmente foi sanada quando topei esses dias com uma sessão dele legendada e integral no Youtube.
É de fato um filme acima da média e com bom uso narrativo de quebras bem humoradas num tema pesado. De fato, memória é fundamental e os arquivistas tem em suas mãos uma mina de ouro sobre o aprendizado que a História pode ensinar. Pena que o tema do holocausto judeu já esteja tão batido no cinema mundial, principalmente nesses indicados e vencedores do Oscar ao longo das décadas, dado o domínio de velhos sionistas na Academia de Roliúde.
Acaba parecendo mais do mesmo, infelizmente. Mas vale sim a conferida.
A Deusa
4.1 9Excelente melodrama mudo chinês, com uma atriz jovem e muito expressiva que infelizmente morreu de forma precoce. O estigma da prostituição só existe por moralismo: na ditadura do capital, somos todos prostitutos (vendendo sexo ou qualquer outra coisa).
Center Stage
3.6 9Cinebiografia fraca, prolixa (vi na versão integral de mais de duas horas e meia), de uma personagem sem graça cujo maior interesse, em tese, é a sua morte precoce aos vinte e quatro anos.
No fundo é só um veículo para o ego do diretor Stanley Kwan fazer metalinguagem e traquinagens estéticas de tipo colocar o presente em preto e branco, ou entrevistar os atores e jogar isso no meio da ficção. Também é um veículo para propagandear a então novidade no drama Maggie Cheung, uma atriz insossa ao extremo que por alguma razão indecifrável caiu nas graças da crítica.
P. S: Acabei de ver A DEUSA (1934) e olha... quem nasceu pra Maggie Cheung nunca chega a Ruan Ling Yu.
MIB: Homens de Preto 3
3.5 2,0K Assista AgoraSó mais uma bobajada de viagem no tempo que aproveita mal esse sub-gênero que foi parido, principalmente, por DE VOLTA PARA O FUTURO. Uma pena, porque a franquia MIB tinha potencial no primeiro filme para desvelar um universo divertido de tiradas que satirizam organizações como a CIA, com um toque de fantasia e ficção científica além da comédia.
Dane-se a Morte
3.4 10Meia-sola. Em tempos de outros longas franceses da mesma época também ditos "socialmente contestadores", como LA HAINE e ACONTECEU PERTO DA SUA CASA,esse aqui acaba sendo mais do mesmo. Não se decide muito entreter uma pegada "documental" ou as doses esporádicas de narração over.
Cavadoras de Ouro
3.8 26 Assista AgoraSurpreendentemente gostei desse musical, que tem números realmente bonitos e bem coreografados mesmo para os padrões de hoje, quase noventa anos depois, apesar de irregular nas canções em si e às vezes meio bobo.
É bastante sincero nas relações de gênero (ô mulherada interesseira!) e situa tudo numa crise capitalista forte que realmente existiu na época. Visto com atenção, é um ancestral de SHOWGIRLS do Verhoeven.
Carmen Jones
3.7 22Junção de musical com.a direção de um dos cineastas mais mecânicos e burocráticos da Hollywood clássica.
Ficou parecendo uma versão de Otelo, do Shakespeare, com um "alemón" de mão pesada tentando registrar, sem nenhum traquejo pra isso, o gingado dos negros estadunidenses.
Um porre total. E tal da atriz tá bem longe de ser tão "irresistível" assim. Pra variar é mais um musical totalmente esquecível.
Episódios Perdidos: Uma História
3.5 7Apesar das falhas técnicas (a mixagem de som oscila demais) e das limitações típicas de um documentário de fãs, como sub aproveitar Edgar Vivar que nada diz do tema central do documentário, é um bom produto e tem um bocado de curiosidades que eu não sabia.
A principal delas é que o Brasil é que tem o maior acervo mundial de episódios da série, incluindo alguns que nem a própria Televisa sabe onde foram parar.
Que falta faz um bom arquivista de documentação audiovisual, não? Sem os devidos cuidados, se arrisca perder a memória de artistas influentes, vide o que aconteceu aqui no Brasil com a Cinemateca neste ano.
T2: Trainspotting
4.0 695 Assista AgoraJá não curti o primeiro e fui ver essa sequência tardia pra tirar a prova se, de repente, com a idade passaria a ter mais interesse nos zé-droguinhas do Danny Boyle. Mas não funfou não. Só tem um ou outro bom momento isolado. E as traquinagens todas de edição já não são mais novidades como eram nos anos noventa...
Deadwood: O Filme
3.6 32 Assista AgoraBELA DESPEDIDA
Bom filme tardio de encerramento para uma série brilhante com uma pegada de western que mesmo os representantes "revisionistas" tardios do gênero, como OS IMPERDOÁVEIS, não se atreveram a ir tão longe.
Como eu vi o filme-despedida logo depois de ver a série, sendo que há um "gap" de uma década e meia entre uma coisa e outra, acabei tendo certo estranhamento pela ausência de Cy Tolliver (Powers Boothe,infelizmente falecido antes da rodagem do longa) e algumas decisões estéticas que quebram um pouco a continuidade com a série, como a indecisão entre envelhecer até demais os personagens pela maquiagem ou justamente, na contramão, tentar esconder esse envelhecimento com efeitos de sombra na direção de fotografia. Também acaba me soando redundante o uso de flashbacks com imagens da série, recurso até compreensível para dar acesso ao enredo pra quem foi direto pro filme sem ver a série antes (embora quase ninguém vai fazer isso, suponho).
Mas vamos e convenhamos que é muito pouco pra macular o resultado final, que tem roteiro muito bom, elenco ainda afiado e homogêneo como sempre e aproveita bem a passagem do tempo pra fazer algumas alterações de humor dos personagens, sendo a mais notável conseguirem tornar convincente certa "ternura tardia" em ninguém menos que o ultra cínico Al Swearengen (Ian McShane), carismático como de costume.
De quebra, traz novamente o melhor personagem da terceira temporada: o monopolista obsessivo George Hearst, a personificação do imperialismo ascendente no final do século XIX em contraponto ao capitalismo até então ainda "competitivo". É um dos vilões mais memoráveis da história do audiovisual televisivo, que só não deixou uma marca maior por infelizmente ter chegado muito tarde em DEADWOOD (a série), o que os realizadores parecem ter entendido pela importância que ele teve no roteiro desse filme aqui.
Um Lugar Silencioso - Parte II
3.6 1,2K Assista AgoraVi muita gente alegando que o nível dessa sequência era próximo do original. Balela.
Expande pouco do universo criado no primeiro, não tem o frescor da novidade e os monstros parecem até meio burros e pouco ameaçadores perto do que eram no longa original, exceto para trucidar figurantes que não causam impacto.
Começo muito bom, com os planos longos no "dia 1" e a perna na armadilha, mas depois cai na mesmice e tem pouco suspense, com um final risível.
Pessoal que elogiou demais deve ter vergonha de assumir que perdeu tempo cozinhando o galo de um "hype" esticado mais de um ano pela pandemia, num longa que se revelou apenas meia sola.
Trocadilhos à parte: foi muito barulho por (quase) nada.
Conversa Truncada
3.6 38 Assista AgoraWanna-be DOUTOR FANTÁSTICO, mas com dois países da OTAN. Bom no roteiro, nem tanto na execução prática. Tem momentos engraçados o suficiente para ser razoável.
Hotel Terminus
3.3 6INVESTIGAÇÃO PROLIXA
Cheio de grandes prós e contras igualmente contundentes, HOTEL TERMINUS - que chegou a faturar um Oscar - é mais um loooongo documentário do cineasta Marcel Ophlus acerca do que parece a obsessão pessoal em sua filmografia: expor os nazistas ao esculacho público, décadas após seus crimes de guerra, evitando que se dissimulem na sociedade burguesa dita "mais civilizada".
Em que pese as boas intenções, acaba sendo aquele engodo ideológico meio Hannah Arendt, com direito a frases do tipo "ain extrema esquerda e extrema direita são igualmente contra judeus" (dita por um dos entrevistados), o que além de mentira historicamente comprovada (um bocado de judeus em campos de concentração foi libertado justamente pelo Exército Vermelho da União Soviética) acaba evidenciando a tendência ao sionismo típica de tantas produções que ganham o Oscar
Narrativamente é um filme meio disperso e por vezes (felizmente nem sempre) bastante prolixo em suas quatro horas e meia de duração. Esse problema também está presente num longa anterior de Ophlus, o bonzinho LE CHAGRIN ET LA PITIÉ, no entanto neste o escopo mais amplo do filme, abarcando o colaboracionismo francês de modo mais geral, preenche ligeiramente melhor a extensa duração.
Como HOTEL TERMINUS tem um escopo mais específico, focado na figura do oficial da SS Klaus Barbie, Ophlus acaba perdendo o fio da meada e se dispersando várias vezes em entrevistas redundantes, sobretudo em julgamentos de tipo moral, quando podia ter chutado logo o balde seguindo uma linha mais cronológica e declaradamente intimista sobre a personalidade oculta daquele fascista e sua dissimulação covarde a posteriori, como por exemplo vimos no ótimo documentário brasileiro CIDADÃO BOILESEN.
Ao tentar emular a estrutura de LE CHAGRIN ET LA PITIÉ, mas agora com um recorte mais focado que o longa de 1969, o diretor acaba tornando sua investigação pessoal sem dúvida nenhuma louvável e relevante, todavia também prolixa e cheia de "mais do mesmo". E não é porque o tema é sério e o gênero é documentário que a edição precisa ser tão tacanha e convencional. Basta ver a narrativa bem mais inteligente, ousada e contagiante do recente O.J.: MADE IN AMERICA (outro vencedor do Oscar), que com quase oito horas de duração passa voando e nos prende atentos a cada detalhe, graças a uma montagem inteligente e uso intercalado de reflexões dos produtores com imagens de arquivo e entrevistas.
Feitas essas ressalvas todas e saindo do muro num filme de saldo razoável, apesar dos defeitos todos supra descritos acaba valendo (por pouco) pra um espectador brasileiro a conferida na sessão de HOTEL TERMINUS por um motivo bastante específico e, aí sim, surpreendente por ser menos abordado do que deveria no cinema documental: a fuga de nazistas "arrependidos" para a América do Sul.
Depois que deu ruim pra turma dele na Segunda Guerra, Barbie correu justamente pra se refugiar na Bolívia e no Peru - e ele não é caso isolado entre outros fachos que vieram pra essas bandas, na fase de ditaduras de direita, assumidamente militarizadas, apoiadas pelos "democráticos" imperialistas dos Estados Unidos (que só de fachada eram contra o fascismo). Ophlus vai a campo na Bolívia pra investigar a passagem de Barbie por lá em coisa de uma hora de filme, sem dúvidas o ponto mais alto e original de sua travessia. Pena que, fora isso, seja chuva no molhado e HOTEL TERMINUS pouco tenha a acrescentar além de um esculacho bem intencionado, mas que pesa a mão na execução (e na duração) do produto final.
Um Herói do Nosso Tempo
4.0 40 Assista AgoraIsraHell é uma teocracia racista que nem devia existir. O longa até expõe o racismo de lá, embora bem menos do que poderia (e deveria). Há problemas estéticos, como o excesso de música onipresente melodramática, mas no geral o longa dá pro gasto e se segura por duas horas e meia.
Nó na Garganta
3.8 92Intenso passeio pela mente de uma infância disfuncional, com mistura de ludicidade e realidade. Nas entrelinhas, tensão histórica entre colonialismo britânico e os irlandeses. Direção primorosa de Neil Jordan e performance pungente do ator mirim.