A montagem convencional e a direção tímida dão a essa produção uma cara de telefilme. O roteiro também não escapa do maniqueísmo desbragado e da onipresença do cigarro. Suas "pièces de resistance" são a maquiagem e a atuação de Helen Mirren (ambas um pouco carregadas além da conta, é bem dizer). Pelo menos resgata das sombras a importante figura que foi Golda Meir, especialmente em tempos de escassez de líderes, como agora.
Dois pontos a considerar: 1) a metalinguagem; 2) o realismo. 1. A metalinguagem é a presença concomitante de vários filmes dentro desse único filme. Há o filme de Haneke, deus absoluto daquilo que vemos e não vemos; o filme do remetente misterioso das fitas VHS, que tem certa autonomia para aterrorizar a família escolhendo o ângulo, a duração e a regularidade das tomadas; e finalmente os "filmes" de cada um dos personagens, que definem aquilo que cada um dos dos outros pode acessar do seu passado e do seu presente (culpas ancestrais, conflitos psicológicos, dúvidas existenciais são metodicamente "editadas" por eles).
A cena final é perturbadora: estariam os filhos mancomunados para punir os pais?
2. O realismo - Câmeras estáticas, ausência total de trilha sonora, atuações pungentes, tudo contribui para acentuar a realidade do que é retratado. É como se os personagens ()e nós, por tabela), estivessem sob o jugo de frias câmeras de vigilância.
"Caché" não apenas aborda o que é visto, mas, de maneira mais profunda, explora o que é escondido, criando uma experiência cinematográfica que transcende as convenções tradicionais. A obra desafia o espectador a questionar a confiabilidade das narrativas, sejam elas editadas conscientemente ou submetidas ao filtro da memória.
Num filme sem diálogos, a música é a instância que conduz os protagonistas dessa animação, simples no 2D blocado, mas intensa em significado. Um cão (homem moderno, solitário) se conecta afetivamente a um robô (cão fiel, namorada, amigo) e com ele passa a compartilhar suas experiências numa Nova York icônica e ensolarada. O que ficam dessas memórias quando o acaso se impõe com toda a sua impassibilidade? Uma alegria contagiante, porque tudo valeu a pena.
A versão nipônica de "Close" (2022) resgata o mesmo tema central de seu precursor dinamarquês, em camadas ainda mais profundas de roteiro. A fita é devastadora e nos faz refletir sobre os artifícios que duas crianças têm de usar para proteger sua amizade e sua forma de ver a vida, às vezes tendo que recorrer à violência física ou a acusações falsas. Aqui, até as forças da natureza são desafiadas pelo ardor da vida que desabrocha.
It's true that if you leave you lose things, but you also gain things, too.
In-yun é uma uma palavra em coreano que designa a crença de que as interações interpessoais de uma pessoa em sua vida presente se vinculam às suas relações em vidas passadas. É a versão coreana da teoria de reencarnação.
Durante nossa vida, somos impelidos a fazer escolhas, muitas vezes em caráter irreversível. Como seriam nossas vidas se tivéssemos optado por outra escola, outro casamento, outro país? Quantos infinitas versões de nós mesmos coexistiriam num labirinto íntimo e pessoal? Talvez o próprio cosmos se encarregasse de diminuir as opções, pois os "in-yun" reintroduziriam elementos de nossos antigos egos continuamente, redimensionando nossas aspirações (Nobel->Pulitzer->Tony) ou reapresentando antigas paixões (Hae Sung). Um filme transformador da estreante Celine Song em que temas secundários como amadurecimento, sensação de deslocamento e pertencimento são conduzidos por uma fotografia intimista e por atuações cativantes.
O filme me instiga a pensar sobre a complexidade e a riqueza da vida: administrar saudades de nossas vidas não-vividas e de nossos eus-fragmentários do passado.
Irv: Derice, a gold medal is a wonderful thing. But if you're not enough without one, you'll never be enough with one. Derice Bannock: Hey, coach... how will I know if I'm enough? Irv: When you cross that finish line tomorrow, you'll know.
Filminho bem típico da Disney, com toda aquela história de superação culminando com a proverbial tentativa de extrair lágrimas a fórceps no segmento final. A Jamaica aqui parece um lugar pasteurizado, sem nenhuma autenticidade. A "evolução" do grupo segue uma trajetória linear, rumo à glória inexorável (embora o que aconteça na realidade lieriamente diferente - não menos meritório - do que o retratado no filme). Direção e atuações medianas. Roteiro cheio de buracos.
Destaque para a trilha de Hans Zimmer - única coisa realmente bem feita no filme.
There's nothing more gruesome than seeing a man fall in love. / The trouble is that love dies before the body does./ If you want anything said, ask a man. If you want anything done, ask a woman.
As frases acima, narradas em voice-over pela vampiresca Thatcher, são o melhor dessa sátira alegórica em que um imortal Pinochet continua sugando o povo chileno. A fotografia faz jus à indicação solitária ao Oscar, mas o filme como um todo parece um pastiche mal realizado. O inventário das atrocidades do ditador é banalizado e fica em segundo plano. Atuações rasas e roteiro medíocre.
Os acordes dramáticos de Michel Legran (revisitados por uma mais encorpada trilha de Marcelo Zarvos) são tão onipresentes como o desconforto que ressoa na produção de Todd Haynes. O filme se desenrola em atos que vão aumentando as camadas de tensão de uma história inspirada num caso real em que uma mulher de 36 anos seduz um garoto de 12 e depois se casa com ele (relações maio-dezembro, tabus e transgressões). Inicialmente Elizabeth (Portman) tenta sugar a personalidade de sua retratada Grace (Moore). A essa estranha relação vampiresca (cujo ápice é uma cena em frente a um espelho, no melhor estilo "Persona" de Bergman) segue-se à entrada em cena de Joe (Melton), que também vive seus próprios conflitos ao gradualmente tomar consciência de sua situação de cativeiro e detectar significativa deficiência no seu desenvolvimento pessoal (a cena em que seu próprio filho lhe ensina a fumar um baseado em cima do telhado é impagável). À medida em que a intrusa-atriz continua sua pesquisa, o tom da fita passa a ser perturbador, embora o flerte com a comédia sempre subsista. O espectador é como que "desconstruído" e convidado a refletir critica e ativamente em cada fase desse curioso melodrama satírico-feminino.
Meio decepcionante como realização cinematográfica, mas eficiente como dramatização bucólica do pós-guerra checo. Temas como autoritarismo, mudanças sociais, sistema educacional são matizados pela ótima da inocência infantil, que vai tomando consciência de si. No mais, esquecível. Não faz juz à tradição fílmica checa.
"Yo estoy enamorada de la vida" / “La felicidad es la capacidad de vivir con alegría, aunque esa alegría se confunda con locura.”
O recém-aposentado Santiago encontra sentido para continuar vivendo graças a uma dama quarentona e silenciosa que sabe apreciar a vida. Doce drama que flerta com alguma dose de realismo fantástico e que nos faz refletir sobre a imprevisibilidade da existência humana, mesmo quando tudo parece estar no fim. O filme deixa buracos no roteiro e não conclui todas as subtramas, mas é vívido e sentimental.
Drama interessante que evoca o legado da "geração interrompida" pela Guerra Civil Espanhola sob o prisma do retorno à terra natal e da possibilidade de recomeço de todo um país. Temas como identidade, pertencimento, memória são evocados para matizar o "regresso-despedida" do protagonista, sempre de forma sensível. Vistos pelos olhos atuais, a fita parece um pouco datada e repisada, mas isso não lhe tira os méritos.
Distopia mal trabalhada. Os diversos conflitos que o roteiro tenta abordar (sociais, econômicos, políticos, militares) se esvaziam num esforço de causar choque e desconforto pura e simplesmente. Bem produzido, mas fica aquém do que esperava.
Achei que veria um documentário equilibrado entre duas lendas do boxe, mas não....O filme é exclusivamente focado no Ali. O Foreman é só um coadjuvante.
Golda: A Mulher De Uma Nação
3.0 60A montagem convencional e a direção tímida dão a essa produção uma cara de telefilme. O roteiro também não escapa do maniqueísmo desbragado e da onipresença do cigarro. Suas "pièces de resistance" são a maquiagem e a atuação de Helen Mirren (ambas um pouco carregadas além da conta, é bem dizer). Pelo menos resgata das sombras a importante figura que foi Golda Meir, especialmente em tempos de escassez de líderes, como agora.
Caché
3.8 384 Assista AgoraDois pontos a considerar: 1) a metalinguagem; 2) o realismo.
1. A metalinguagem é a presença concomitante de vários filmes dentro desse único filme. Há o filme de Haneke, deus absoluto daquilo que vemos e não vemos; o filme do remetente misterioso das fitas VHS, que tem certa autonomia para aterrorizar a família escolhendo o ângulo, a duração e a regularidade das tomadas; e finalmente os "filmes" de cada um dos personagens, que definem aquilo que cada um dos dos outros pode acessar do seu passado e do seu presente (culpas ancestrais, conflitos psicológicos, dúvidas existenciais são metodicamente "editadas" por eles).
A cena final é perturbadora: estariam os filhos mancomunados para punir os pais?
2. O realismo - Câmeras estáticas, ausência total de trilha sonora, atuações pungentes, tudo contribui para acentuar a realidade do que é retratado. É como se os personagens ()e nós, por tabela), estivessem sob o jugo de frias câmeras de vigilância.
"Caché" não apenas aborda o que é visto, mas, de maneira mais profunda, explora o que é escondido, criando uma experiência cinematográfica que transcende as convenções tradicionais. A obra desafia o espectador a questionar a confiabilidade das narrativas, sejam elas editadas conscientemente ou submetidas ao filtro da memória.
Meu Amigo Robô
4.0 84Num filme sem diálogos, a música é a instância que conduz os protagonistas dessa animação, simples no 2D blocado, mas intensa em significado. Um cão (homem moderno, solitário) se conecta afetivamente a um robô (cão fiel, namorada, amigo) e com ele passa a compartilhar suas experiências numa Nova York icônica e ensolarada. O que ficam dessas memórias quando o acaso se impõe com toda a sua impassibilidade? Uma alegria contagiante, porque tudo valeu a pena.
Monstro
4.3 260 Assista AgoraA versão nipônica de "Close" (2022) resgata o mesmo tema central de seu precursor dinamarquês, em camadas ainda mais profundas de roteiro. A fita é devastadora e nos faz refletir sobre os artifícios que duas crianças têm de usar para proteger sua amizade e sua forma de ver a vida, às vezes tendo que recorrer à violência física ou a acusações falsas. Aqui, até as forças da natureza são desafiadas pelo ardor da vida que desabrocha.
Vidas Passadas
4.2 720 Assista AgoraIt's true that if you leave you lose things, but you also gain things, too.
In-yun é uma uma palavra em coreano que designa a crença de que as interações interpessoais de uma pessoa em sua vida presente se vinculam às suas relações em vidas passadas. É a versão coreana da teoria de reencarnação.
Durante nossa vida, somos impelidos a fazer escolhas, muitas vezes em caráter irreversível. Como seriam nossas vidas se tivéssemos optado por outra escola, outro casamento, outro país? Quantos infinitas versões de nós mesmos coexistiriam num labirinto íntimo e pessoal? Talvez o próprio cosmos se encarregasse de diminuir as opções, pois os "in-yun" reintroduziriam elementos de nossos antigos egos continuamente, redimensionando nossas aspirações (Nobel->Pulitzer->Tony) ou reapresentando antigas paixões (Hae Sung). Um filme transformador da estreante Celine Song em que temas secundários como amadurecimento, sensação de deslocamento e pertencimento são conduzidos por uma fotografia intimista e por atuações cativantes.
O filme me instiga a pensar sobre a complexidade e a riqueza da vida: administrar saudades de nossas vidas não-vividas e de nossos eus-fragmentários do passado.
Jamaica Abaixo de Zero
3.5 315 Assista AgoraIrv: Derice, a gold medal is a wonderful thing. But if you're not enough without one, you'll never be enough with one.
Derice Bannock: Hey, coach... how will I know if I'm enough?
Irv: When you cross that finish line tomorrow, you'll know.
Filminho bem típico da Disney, com toda aquela história de superação culminando com a proverbial tentativa de extrair lágrimas a fórceps no segmento final. A Jamaica aqui parece um lugar pasteurizado, sem nenhuma autenticidade. A "evolução" do grupo segue uma trajetória linear, rumo à glória inexorável (embora o que aconteça na realidade lieriamente diferente - não menos meritório - do que o retratado no filme). Direção e atuações medianas. Roteiro cheio de buracos.
Destaque para a trilha de Hans Zimmer - única coisa realmente bem feita no filme.
O Conde
3.2 93 Assista AgoraThere's nothing more gruesome than seeing a man fall in love. / The trouble is that love dies before the body does./ If you want anything said, ask a man. If you want anything done, ask a woman.
As frases acima, narradas em voice-over pela vampiresca Thatcher, são o melhor dessa sátira alegórica em que um imortal Pinochet continua sugando o povo chileno. A fotografia faz jus à indicação solitária ao Oscar, mas o filme como um todo parece um pastiche mal realizado. O inventário das atrocidades do ditador é banalizado e fica em segundo plano. Atuações rasas e roteiro medíocre.
Segredos de um Escândalo
3.5 267 Assista AgoraOs acordes dramáticos de Michel Legran (revisitados por uma mais encorpada trilha de Marcelo Zarvos) são tão onipresentes como o desconforto que ressoa na produção de Todd Haynes. O filme se desenrola em atos que vão aumentando as camadas de tensão de uma história inspirada num caso real em que uma mulher de 36 anos seduz um garoto de 12 e depois se casa com ele (relações maio-dezembro, tabus e transgressões). Inicialmente Elizabeth (Portman) tenta sugar a personalidade de sua retratada Grace (Moore). A essa estranha relação vampiresca (cujo ápice é uma cena em frente a um espelho, no melhor estilo "Persona" de Bergman) segue-se à entrada em cena de Joe (Melton), que também vive seus próprios conflitos ao gradualmente tomar consciência de sua situação de cativeiro e detectar significativa deficiência no seu desenvolvimento pessoal (a cena em que seu próprio filho lhe ensina a fumar um baseado em cima do telhado é impagável). À medida em que a intrusa-atriz continua sua pesquisa, o tom da fita passa a ser perturbador, embora o flerte com a comédia sempre subsista. O espectador é como que "desconstruído" e convidado a refletir critica e ativamente em cada fase desse curioso melodrama satírico-feminino.
Lições de infância
3.8 7Meio decepcionante como realização cinematográfica, mas eficiente como dramatização bucólica do pós-guerra checo. Temas como autoritarismo, mudanças sociais, sistema educacional são matizados pela ótima da inocência infantil, que vai tomando consciência de si. No mais, esquecível. Não faz juz à tradição fílmica checa.
P.S. 1: A postura do professor linha-dura jamais sobreviveria ao politicamente correto de hoje (especialmente no quesito assédio).
P.S. 2) A estudantada inconsequente (ainda que alegórica) chega a ser odiosa.
Lo que le pasó a Santiago
3.3 4"Yo estoy enamorada de la vida" / “La felicidad es la capacidad de vivir con alegría, aunque esa alegría se confunda con locura.”
O recém-aposentado Santiago encontra sentido para continuar vivendo graças a uma dama quarentona e silenciosa que sabe apreciar a vida. Doce drama que flerta com alguma dose de realismo fantástico e que nos faz refletir sobre a imprevisibilidade da existência humana, mesmo quando tudo parece estar no fim. O filme deixa buracos no roteiro e não conclui todas as subtramas, mas é vívido e sentimental.
Começar de Novo
3.4 12Drama interessante que evoca o legado da "geração interrompida" pela Guerra Civil Espanhola sob o prisma do retorno à terra natal e da possibilidade de recomeço de todo um país. Temas como identidade, pertencimento, memória são evocados para matizar o "regresso-despedida" do protagonista, sempre de forma sensível. Vistos pelos olhos atuais, a fita parece um pouco datada e repisada, mas isso não lhe tira os méritos.
Dreamy Eyes
3.3 5Não aguentei ver 20 minutos desse telefilme pavoroso, digno de Sessão da Tarde
Minari - Em Busca da Felicidade
3.9 548 Assista AgoraTocante.
A Voz Suprema do Blues
3.5 539 Assista Agora(★★★½)
As Mortes de Dick Johnson
3.8 36 Assista Agoramei bobin
O Charlatão
3.3 19Vilão ou herói?
Nova Ordem
3.0 45Distopia mal trabalhada. Os diversos conflitos que o roteiro tenta abordar (sociais, econômicos, políticos, militares) se esvaziam num esforço de causar choque e desconforto pura e simplesmente. Bem produzido, mas fica aquém do que esperava.
Quando Éramos Reis
4.3 30Achei que veria um documentário equilibrado entre duas lendas do boxe, mas não....O filme é exclusivamente focado no Ali. O Foreman é só um coadjuvante.
Os Miseráveis
4.0 161A sequência final ficou parecendo ESQUECERAM DE MIM. rs
O Farol
3.8 1,6K Assista AgoraUma bosta
História de um Casamento
4.0 1,9K Assista AgoraÉ um remake de KRAMER VS KRAMER somente.
Assunto de Família
4.2 400 Assista Agora[spoileralert] A menininha suicida no final?
Roma
4.1 1,4K Assista AgoraNão sei...faltou alguma coisa...
Bohemian Rhapsody
4.1 2,2K Assista AgoraParece um telefilme.