Em meu breve contato com o cinema de Guy Maddin até aqui, ainda não consegui absorver a completitude de seu estilo: O trabalho dele é de longe o pedaço mais avant-garde de cinema que já vi. Nesse documentário (??) de apenas 80 minutos, o diretor traz imagens perturbadoras e por vezes cômicas da cidade que tanto influenciou sua forma de pensar e seu cinema. Um misto de animações bizarras, narração saudosista e um pouco da história de Winnipeg, que resultam em um produto final bastante agradável, ainda que um pouco indigesto
Quando não parecia mais ser possível lançar um bom filme no super desgastado gênero invasão zumbi, Train to Busan surpreendeu com seu subtexto (bem pouco sutil, diga-se) anti-capitalista (e, portanto, anti-individualista) e sua ambientação perfeita com o filme se passando quase inteiro dentro de um trem, sem tirar o dinamismo, deixando suas 2 horas de duração (bem longo para o gênero) totalmente assistíveis e sem se arrastar em nenhum momento. Algumas das sequências de ação são excelentes e não pecam na plausibilidade, a tensão é alta em virtualmente todos os momentos a partir dos 20 minutos e a violência é bem dosada. Mais uma vez os coreanos mostram que são muito bons fazendo horror.
As piadas envolvendo diferenças culturais entre o Reino Unido e os EUA e o personagem de Martin Freeman ameaçam agradar, mas a edição criminosamente ruim acaba com qualquer pretensão do filme desde o princípio. Uma pena pois poderia ter sido uma pequena comédia britânica de humor negro de qualidade, e com bom elenco, mas infelizmente esbarra muito em problemas técnicos e num roteiro desmiolado (justamente o que o narrador critica logo no primeiro monólogo).
Debut direcional do ator e jovem diretor Matt Johnson, The Dirties (ou, nas palavras de Kevin Smith, "o filme mais importante que você verá em 2013") é um mockumentary sobre bullying no ensino médio, trazendo a cativante ideia de dois amigos que filmam uma comédia sobre vingança contra os bullies da escola, porém as coisas tomam um rumo obscuro quando Matt (os personagens têm os mesmos nomes dos atores que os interpretam) começa a levar a história muito a sério e planeja executá-la na vida real. The Dirties ainda se aproveita de uma falha na maioria dos filmes no estilo found footage, e exclui completamente os cameramans como personagens, sendo eles um elemento quase estranho aos personagens e quase nunca por eles mencionados, além de sugerir em algumas cenas que eles nada mais representa do que os nossos olhos como audiência. Além disso, o longa traz uma representação realista e não-idealiza de adolescentes do ensino médio, atuações e diálogos orgânicos (possivelmente improvisados em grande parte) e excelentes referências
A história do N.W.A. é cheia de nuances e acontecimentos insólitos que, segundo o diretor F. Gary Gray (experiente diretor do clássico Friday, de 1995), poderiam render pelo menos quatro filmes diferentes. Sendo assim, é bem óbvio que em um filme de duas horas e meia, seria impossível cobrir toda a polêmica, curta porém prolífica carreira do lendário grupo de Rap, bem como descrever de forma 100% precisa sua ascensão meteórica e descenso súbito, sem recorrer a vícios narrativos típicos de biopics. Nesse sentido, surgem elementos frustrantes, mas que não impedem Straight Outta Compton de ser um filme forte, assustador e satisfatório, não apenas para os fãs do conjunto.
O flime começa com uma rápida introdução aos personagens (aqui, peca pela falta de atenção ao Ren e ao Yella) e segue em ritmo acelerado, com bastante interação entre o trio de protagonistas, e de cara ganha o público com sua descrição violenta da miséria e brutalidade que permeiam as ruas de Compton, dando enfoque à violência policial contra a população periférica, bem como deixa bem claro o papel dos principais membros do N.W.A. dentro da história e características do grupo. Eazy-E, interpretado por Jason Mitchell, é o 'original gangsta', serve de inspiração para as letras brutais de Ice Cube e de início, atrai os holofotes para ele, pelo seu carisma e realismo de seu personagem. Dr. Dre aparece como um obcecado por música e produção, sendo responsável pela parte instrumental do grupo, é descrito como um cara mais pé no chão e com uma conflituosa, porém afetiva relação com sua mãe. Já Ice Cube, brilhantemente interpretado pelo seu filho O'Shea Jackson Jr., é a mente pensante do conjunto, é interessante o fato de o filme deixar bem claro seu talento nato, tanto como MC quanto como compositor (a cena de destaque sendo as reações dos membros restantes do N.W.A. a ouvir pela primeira vez a genial diss track No Vaseline, direcionada a eles e presente no segundo full lenght de Cube, Death Certificate).
No entanto, alguns problemas surgem conforme a história decorre. Após a dissolução do grupo, Eazy-E é descrito como alguém que simplesmente abandonou sua carreira e nada mais de relevante fez. Ignoram o fato de Eazy ter uma carreira solo bastante rica, e inclusive absolutamente exclui do script as diss tracks, Fuck Wit Dre Day (um escárnio direcionado a Eazy, do 'debut' solo do Dre, The Chronic) e as respostas de E, Real Muthaphukkin G's e It's On (ambas em seu clássico EP It's On (Dr. Dre) 187um Killa). Também não é nada fiel o retrato que pintam de Dre após o N.W.A., basicamente um super-homem do gueto, confrontando Suge Knight e a Death Row frente a frente (quem conhece a história, sabe que Dre basicamente teve que fugir ao se desligar da Death Row), e limando do longa alguns detalhes inconvenientes de sua personalidade. Sabendo que o filme é produzido pelo Dre, isso se torna um pouco desconfortável pela obviedade da parcialidade do roteiro. Dentre os três, o mais fiel é o Cube, já que Straight Outta Compton dá enfoque em sua carreira solo e em seus motivos para compor do jeito que compunha.
Adicionalmente, o filme conta com uma atuação incrível do experiente Paul Giamatti, como empresário do grupo, e uma caracterização tremenda de 2Pac, que contracena com Dre em uma cena, assustadoramente parecido com o Pac real. Outro detalhe interessante são as músicas do novo álbum do Dre, Compton, que tocam no início do filme em momentos bastante oportunos.
Em suma, Straight Outta Compton é uma das mais empolgantes, brutais e revoltantes biopics que já vi, capaz de fazer o sangue do espectador ferver em sua descrição da crueldade policial e de todos os percalços para se superar quando se é nascido e criado em Compton. Altamente recomendável, não sem os seus problemas, mas com prós que superam de forma massacrante os contras.
The Humbling, pequeno filme independente de Barry Levinson, esbarra na irregularidade em seu caminho para a grandeza. O longa consegue ser chocante, ultrajante, divertido e inusitado em diversas situações, mas, sem achar um tom adequado durante seus 100 minutos de duração, acaba dando a sensação de uma colcha de retalhos quando a projeção chega ao fim. De qualquer forma, o brilhantismo de Al Pacino garante excelentes momentos. É a melhor atuação da lenda viva para as telonas possivelmente desde The Insider (em 1999), e entre seus trabalhos recentes, superada apenas por You Don't Know Jack, produção da HBO para a TV. Vale ressaltar a inusitada química entre Pacino e a excelente Greta Gerwig, apesar da diferença de idade, consistindo num dos elementos mais interessantes do filme. No fim, The Humbling é uma comédia/drama satisfatória, que infelizmente poderia ter sido bem melhor se não fosse a dificuldade do diretor em encontrar o tom geral do filme. Algumas cenas deixadas no chão da sala de edição, nesse caso, poderiam fazer bem.
Raramente regurgitei tanto com tanto pretensiosismo. O pior de tudo é o roteiro que a partir da metade, esquece de desenvolver sua protagonista e se desvirtua completamente pra referências opacas a Shakespeare e citações nauseantes de tão pedantes e fora de lugar. Fora a cinematografia que praticamente entrega a baixa qualidade do filme, parece uma produção para a TV. Apesar disso, gostei bastante de alguns diálogos (especialmente na fase inicial do filme) e da introdução das personagens, mas para por aí
"The To Do List" é um filme teen daqueles de colegial. Até aí nada de novo, a temática já foi desenvolvida incontáveis vezes, o que muda aqui é sua abordagem. O filme lida com vários tabus sobre sexo na adolescência de forma rude e sem medo de parecer vulgar, criando situações absurdas/bizarras que podem ser desconfortáveis até para aqueles que não tem sexo como tabu. Conservadores, então, passem longe. É interessante notar como as reações a esse filme foram totalmente diferentes em relação a outros comédias teen que compartilham o tema, ja que aqui o filme é protagonizado por uma garota (brilhantemente interpretada por Aubrey Plaza), o que faz caírem por terra vários paradigmas criados pela sociedade altamente patriarcal na qual vivemos. É um longa que visa subverter os valores que tornam a sexualidade feminina tão estigmatizada dentro dos valores conservadores aos quais somos submetidos, e nesse aspecto se sai muito bem. Além desse aspecto, é simplesmente hilário, bem escrito e com uma ótima trilha sonora, com músicas do Pavement e do Mazzy Star.
Não apenas um excelente conto, mas também uma pontual alegoria de Tim Burton à trivialidade do meio suburbano, nesse sentido um pouco similar a Beetlejuice
Infelizmente o script é bastante instável e a maioria dos personagens demasiadamente unidimensionais, no entanto, é de se ressaltar a importância desse filme como um grito de protesto ao racismo "velado", refutando a simetria que algumas pessoas insistem existir no contexto estrutural do racismo que conhecemos. Um filme independente importante no que tem a dizer, mas que poderia ter sido melhor executado.
Em seu brilhante documentário “Tempo di Viaggio” (1982, que no Brasil saiu como “Tempo de Viagem”), o gênio máximo do cinema Andrei Tarkovsky nos presenteia com uma singular visão sobre o “cinema de gênero”. O cineasta explica que não existe problema algum com o cinema de gênero em si, e sim com o espaço que ele abre para que os filmes se tornem mais comerciais e formulaicos. É só notar como os dois filmes mais comerciais de Tarkovsky são dois filmes de gênero: O drama de guerra “A Infância de Ivan” e o sci-fi “Solaris”. No entanto, o próprio artista reconhece quando consegue se dissociar das barreiras impostas por esse tipo de cinema, como no grandioso “Stalker”, onde o diretor soviético conseguiu transcender as barreiras do sci-fi, uma tarefa na qual ele mesmo admite ter falhado em “Solaris”.
Seguindo a mesma linha de raciocínio, em 2014 tivemos um interessantíssimo pequeno e independente filme australiano de terror que segurou um lugar entre os mais aclamados filmes do ano (uma tarefa virtualmente impossível para o cinema de horror, tão estigmatizado). O longa se chama “The Babadook” e se tornou um queridinho dos críticos de forma arrasadora. Pra se ter uma ideia, o filme tem no conceituado site “Metacritic” a mesma nota que a obra-prima “Whiplash”, do mesmo ano. Apesar de todo esse clamor da mídia especializada, “The Babadook” não capturou o mesmo tipo de recepção positiva entre os fãs de filmes de terror. A razão pra isso é mais simples do que se possa imaginar: Basta dissecar um pouco os pontos principais do filme e analisar seu conteúdo metafórico pra constatar que este não é um filme de terror, ou pelo menos não no sentido tradicional.
“The Babadook” é um drama extremamente sombrio sobre uma mulher que lida com a solidão após um acidente que tirou a vida de seu marido, que na ocasião a levava ao hospital para dar a luz a seu filho. A mulher e o filho sobrevivem e precisam lidar com o fantasma da perda de uma pessoa importante. Não apenas isso, mas também a completa alienação social que vem acompanhada de tantos problemas e tantas lesões emocionais. Em decorrência desses fatores, o menino Samuel não consegue fazer amigos e ganha o desprezo de todos, pois é visto pelos outros apenas como um fedelho desagradável e mal-educado com um medo incomensurável e irracional de monstros. A mãe, Amelia, deliberadamente se isola de todos e sempre parece ter algo que a impede para progredir nos mais simples relacionamentos com outrem. Até mesmo a simpática vizinha Mrs. Roach por ela é evitada como uma praga.
Até aí, um drama familiar normal. Porém o elemento surpresa de “The Babadook” consiste exatamente no seu personagem título, um monstro de chapéu e terno, aparentemente saído de um livro de conto de fadas que Amelia lê para Samuel (o nome do personagem, aliás, é um anagrama para “A bad book”). A partir daí, mãe e filho são perturbados constantemente por essa figura onírica e aterrorizante, uma espécie de Freddy Krueger versão gentleman. Entretanto, o filme brilhantemente pega emprestada a dualidade de “O Iluminado” de Kubrick ao colocar em dúvida a existência do plano fantasmagórico do filme. Em “The Babadook”, apenas quem sofre as monstruosidades são Amelia e Samuel, dando a entender que o monstro nada mais é do que um modo de dar vazão a esse sentimento de angústia e luto por toda essa vida miserável pós-morte do marido/pai, que agora já completava sete anos. O filme faz um brilhante trabalho de “foreshadowing” sobre o que iria acontecer caso os eventos seguissem seu curso naturalmente.
No final, a película deixa uma maravilhosa ambiguidade não apenas quanto ao destino dos dois, mas também deixa claro que a marca de todos esses anos de melancolia e da tragédia em suas vidas nunca cicatrizará, e eventualmente voltará para aterrorizá-los, de tempos em tempos.
No fim das contas, é um filme lento e com relativamente poucos eventos, uma trama bem simples e linear, mas com um contexto absolutamente fantástico assim que você arranha sua superfície. É sensacional, pois não deixa claro em momento algum do que realmente se trata, apenas dá dicas para sua audiência, que aqui é tratada como público pensante e não como uma massa para entreter. É o triunfo do cinema de gênero, é o tipo de produto necessário para concretizar a volta do terror como pedaço respeitável da sétima arte. É cinema com maestria.
É mais um daqueles filmes altamente experimentais de Soderbergh (na minha opinião, consistem na melhor e mais interessante parte de sua filmografia), dessa vez tendo como musa a ex estrela pornô Sasha Grey (que se sai muito bem protagonizando o longa). O filme é de certa forma brutalmente honesto, jogando com um background calcado na crise econômica de 2008, e estudando minuciosamente seus personagens dentro desse contexto. No fim, infelizmente acaba ficando um pouco maçante, talvez pela edição meio chinfrim, mas tem seus méritos por ser um filme diferente de tudo que já foi feito. É necessário um pouco de paciência para chegar ao fim dos 80 minutos de projeção, mas o espectador que o fizer não se arrependerá.
Absolutamente genérico e formulaico. O filme apresenta um emaranhado de situações comuns a biopics nessa visão romantizada e irrelevante da vida de Stephen Hawking - suas importantes descobertas no ramo científico ficam em segundo plano, deixando toda a ênfase para sua situação física deteriorante.
O fato de esse filme ter uma média maior do que Birdman (brilhante filme de Iñárritu) só mostra a decadência das audiências, acostumadas a tudo que mais de genérico o cinema pode oferecer, e tripudiando em cima do inovador.
Esse é um filme de ação muito bem dirigido e atuado, com não poderia ser diferente numa obra do experiente Clint Eastwood, mas, sinceramente, me cansei dessa abordagem americanista para com todos os personagens médio-orientais, tratando-os com atenção proporcional a de um vilão secundário de graphic novel. Fora isso, o personagem principal sinceramente chega a ser até um pouco detestável. Uma pena que, nas mentes guiadas por belicismo dos estadunidenses, a medida de um herói esteja diretamente ligada ao número de pessoas que ele matou.
Kevin Smith é um diretor amado e odiado com a mesma intensidade. Seu humor estilo "low-brow", a verborragia explícita e ofensiva de seus filmes, dentre outros ultrajes, criaram para o diretor uma legião de detratores. Porém, 20 anos após seu primeiro filme (a obra-prima Clerks), Smith parece pouco preocupado em mudar essa reputação - de fato, mais parece que estar pouco se fodendo (pardon my french) com sua reputação.
Afinal, que outro artista iria transformar uma ideia surgida em um podcast num longa-metragem? Bem, ainda mais bizarro do que um homem que planeja criar uma morsa humana, são as piadas, é... desconfortáveis com nazismo espalhadas pelo filme, e o começo do longa, que nos introduz aos podcasters protagonistas, Teddy e Wallace (Walrus?), enquanto eles veem um garoto denominado "The Kill Bill Kid" decepando a própria perna com uma espada (CGI pobríssimo) num vídeo que viralizou na internet, e dão risadas... de uma pessoa perdendo um membro... Esse é Kevin Smith, afinal.
Com essa introdução, não é dificil pensar em muita gente se sentindo ultrajada e desligando a TV antes de alcançar a marca dos 10 minutos, mas quem decide seguir em frente, presencia um filme que é progressivamente melhor, principalmente quando entra em cena o malignamente divertido Michael Parks e o inspirado Johnny Depp... Quando esses dois contracenam, então, meu deus, é algo de cair o queixo. Vale ressaltar também que Kevin Smith usou em Tusk seu talento pra escrever diálogos (talento esse que os fãs de clássicos como Clerks e Chasing Amy bem conhecem), o filme é notoriamente muito bem escrito e até mesmo bem dirigido e editado, longe de repetir a bagunça de Red State, mas emulando bastante o tom desse filme ao mesmo tempo.
Enfim, Tusk é um filme que funciona em níveis diferentes. Como uma comédia de humor negro, é efetiva, mas também serve como um bom thriller bizarro no estilo "body horror". O filme é bastante bem humorado do inicio ao fim, e as referências à cultura pop espalhadas nos 100 minutos de projeção são o ponto alto da obra, vale ressaltar em especial uma piada com The Big Lebowski que é simplesmente de doer o maxilar de tanto rir. No fim, Tusk serve pra provar que Kevin Smith é um diretor com certo talento, e que esse novo direcionamento na carreira pode levar a lugares interessantes, já que o filme é claramente um progresso em relação a seu thriller anterior, Red State. Agora, Smith, por favor: CLERKS III.
Até mesmo para os que estão habituados ao hermetismo típico da maioria das obras de Godard, Film Socialisme é um filme difícil (quiçá até mesmo impossível) de digerir. Aqui, JLG constrói um pedaço quase incompreensível de arte moderna, justapondo Lucky Strike, touradas, Hemingway e Andrés Iniesta (!!!) numa mesma sequência. Nesta obra, fica explícito o desinteresse do artista em coerência, mas tamanha abstração acaba gerando um produto até interessante, com belíssimos visuais e reflexões pontuais. No fim, o que fica é praticamente a súplica do cineasta para que não tentem desmembrar sua obra. Ao invés disso, prefere que todos se calem a respeito do filme e deixem-no falar por si só, mesmo que seja por meio de cenas ininteligivelmente retalhadas. No Comments.
Um dos filmes mais minimalistas que já vi: poucos diálogos, trabalho de câmera o mais simples possível, enfim, tudo é reduzido ao mínimo; exceto a descrição maçante de um cotidiano hiperbolicamente monótono, pois o filme nos mostra praticamente três horas e meia de uma mulher fazendo tarefas mundanas e ordinárias. E é aí que o filme encontra seu sucesso, nos envolve brilhantemente nessa pueril rotina da protagonista, e de algum modo consegue levar a um clímax emocional totalmente cruel, simplesmente de cair o queixo.
Meu Winnipeg
4.0 11Em meu breve contato com o cinema de Guy Maddin até aqui, ainda não consegui absorver a completitude de seu estilo: O trabalho dele é de longe o pedaço mais avant-garde de cinema que já vi. Nesse documentário (??) de apenas 80 minutos, o diretor traz imagens perturbadoras e por vezes cômicas da cidade que tanto influenciou sua forma de pensar e seu cinema. Um misto de animações bizarras, narração saudosista e um pouco da história de Winnipeg, que resultam em um produto final bastante agradável, ainda que um pouco indigesto
Invasão Zumbi
4.0 2,1K Assista AgoraQuando não parecia mais ser possível lançar um bom filme no super desgastado gênero invasão zumbi, Train to Busan surpreendeu com seu subtexto (bem pouco sutil, diga-se) anti-capitalista (e, portanto, anti-individualista) e sua ambientação perfeita com o filme se passando quase inteiro dentro de um trem, sem tirar o dinamismo, deixando suas 2 horas de duração (bem longo para o gênero) totalmente assistíveis e sem se arrastar em nenhum momento. Algumas das sequências de ação são excelentes e não pecam na plausibilidade, a tensão é alta em virtualmente todos os momentos a partir dos 20 minutos e a violência é bem dosada. Mais uma vez os coreanos mostram que são muito bons fazendo horror.
Visitas em Pé de Guerra
2.2 7As piadas envolvendo diferenças culturais entre o Reino Unido e os EUA e o personagem de Martin Freeman ameaçam agradar, mas a edição criminosamente ruim acaba com qualquer pretensão do filme desde o princípio. Uma pena pois poderia ter sido uma pequena comédia britânica de humor negro de qualidade, e com bom elenco, mas infelizmente esbarra muito em problemas técnicos e num roteiro desmiolado (justamente o que o narrador critica logo no primeiro monólogo).
The Dirties
3.6 16Debut direcional do ator e jovem diretor Matt Johnson, The Dirties (ou, nas palavras de Kevin Smith, "o filme mais importante que você verá em 2013") é um mockumentary sobre bullying no ensino médio, trazendo a cativante ideia de dois amigos que filmam uma comédia sobre vingança contra os bullies da escola, porém as coisas tomam um rumo obscuro quando Matt (os personagens têm os mesmos nomes dos atores que os interpretam) começa a levar a história muito a sério e planeja executá-la na vida real. The Dirties ainda se aproveita de uma falha na maioria dos filmes no estilo found footage, e exclui completamente os cameramans como personagens, sendo eles um elemento quase estranho aos personagens e quase nunca por eles mencionados, além de sugerir em algumas cenas que eles nada mais representa do que os nossos olhos como audiência. Além disso, o longa traz uma representação realista e não-idealiza de adolescentes do ensino médio, atuações e diálogos orgânicos (possivelmente improvisados em grande parte) e excelentes referências
Straight Outta Compton - A História do N.W.A.
4.2 361 Assista AgoraContém spoilers.
A história do N.W.A. é cheia de nuances e acontecimentos insólitos que, segundo o diretor F. Gary Gray (experiente diretor do clássico Friday, de 1995), poderiam render pelo menos quatro filmes diferentes. Sendo assim, é bem óbvio que em um filme de duas horas e meia, seria impossível cobrir toda a polêmica, curta porém prolífica carreira do lendário grupo de Rap, bem como descrever de forma 100% precisa sua ascensão meteórica e descenso súbito, sem recorrer a vícios narrativos típicos de biopics. Nesse sentido, surgem elementos frustrantes, mas que não impedem Straight Outta Compton de ser um filme forte, assustador e satisfatório, não apenas para os fãs do conjunto.
O flime começa com uma rápida introdução aos personagens (aqui, peca pela falta de atenção ao Ren e ao Yella) e segue em ritmo acelerado, com bastante interação entre o trio de protagonistas, e de cara ganha o público com sua descrição violenta da miséria e brutalidade que permeiam as ruas de Compton, dando enfoque à violência policial contra a população periférica, bem como deixa bem claro o papel dos principais membros do N.W.A. dentro da história e características do grupo. Eazy-E, interpretado por Jason Mitchell, é o 'original gangsta', serve de inspiração para as letras brutais de Ice Cube e de início, atrai os holofotes para ele, pelo seu carisma e realismo de seu personagem. Dr. Dre aparece como um obcecado por música e produção, sendo responsável pela parte instrumental do grupo, é descrito como um cara mais pé no chão e com uma conflituosa, porém afetiva relação com sua mãe. Já Ice Cube, brilhantemente interpretado pelo seu filho O'Shea Jackson Jr., é a mente pensante do conjunto, é interessante o fato de o filme deixar bem claro seu talento nato, tanto como MC quanto como compositor (a cena de destaque sendo as reações dos membros restantes do N.W.A. a ouvir pela primeira vez a genial diss track No Vaseline, direcionada a eles e presente no segundo full lenght de Cube, Death Certificate).
No entanto, alguns problemas surgem conforme a história decorre. Após a dissolução do grupo, Eazy-E é descrito como alguém que simplesmente abandonou sua carreira e nada mais de relevante fez. Ignoram o fato de Eazy ter uma carreira solo bastante rica, e inclusive absolutamente exclui do script as diss tracks, Fuck Wit Dre Day (um escárnio direcionado a Eazy, do 'debut' solo do Dre, The Chronic) e as respostas de E, Real Muthaphukkin G's e It's On (ambas em seu clássico EP It's On (Dr. Dre) 187um Killa). Também não é nada fiel o retrato que pintam de Dre após o N.W.A., basicamente um super-homem do gueto, confrontando Suge Knight e a Death Row frente a frente (quem conhece a história, sabe que Dre basicamente teve que fugir ao se desligar da Death Row), e limando do longa alguns detalhes inconvenientes de sua personalidade. Sabendo que o filme é produzido pelo Dre, isso se torna um pouco desconfortável pela obviedade da parcialidade do roteiro. Dentre os três, o mais fiel é o Cube, já que Straight Outta Compton dá enfoque em sua carreira solo e em seus motivos para compor do jeito que compunha.
Adicionalmente, o filme conta com uma atuação incrível do experiente Paul Giamatti, como empresário do grupo, e uma caracterização tremenda de 2Pac, que contracena com Dre em uma cena, assustadoramente parecido com o Pac real. Outro detalhe interessante são as músicas do novo álbum do Dre, Compton, que tocam no início do filme em momentos bastante oportunos.
Em suma, Straight Outta Compton é uma das mais empolgantes, brutais e revoltantes biopics que já vi, capaz de fazer o sangue do espectador ferver em sua descrição da crueldade policial e de todos os percalços para se superar quando se é nascido e criado em Compton. Altamente recomendável, não sem os seus problemas, mas com prós que superam de forma massacrante os contras.
O Último Ato
3.0 74 Assista AgoraThe Humbling, pequeno filme independente de Barry Levinson, esbarra na irregularidade em seu caminho para a grandeza. O longa consegue ser chocante, ultrajante, divertido e inusitado em diversas situações, mas, sem achar um tom adequado durante seus 100 minutos de duração, acaba dando a sensação de uma colcha de retalhos quando a projeção chega ao fim. De qualquer forma, o brilhantismo de Al Pacino garante excelentes momentos. É a melhor atuação da lenda viva para as telonas possivelmente desde The Insider (em 1999), e entre seus trabalhos recentes, superada apenas por You Don't Know Jack, produção da HBO para a TV. Vale ressaltar a inusitada química entre Pacino e a excelente Greta Gerwig, apesar da diferença de idade, consistindo num dos elementos mais interessantes do filme. No fim, The Humbling é uma comédia/drama satisfatória, que infelizmente poderia ter sido bem melhor se não fosse a dificuldade do diretor em encontrar o tom geral do filme. Algumas cenas deixadas no chão da sala de edição, nesse caso, poderiam fazer bem.
Assunto de Meninas
3.7 640Raramente regurgitei tanto com tanto pretensiosismo. O pior de tudo é o roteiro que a partir da metade, esquece de desenvolver sua protagonista e se desvirtua completamente pra referências opacas a Shakespeare e citações nauseantes de tão pedantes e fora de lugar. Fora a cinematografia que praticamente entrega a baixa qualidade do filme, parece uma produção para a TV. Apesar disso, gostei bastante de alguns diálogos (especialmente na fase inicial do filme) e da introdução das personagens, mas para por aí
Mais um Ano
3.8 85Mike Leigh corta pedaços da vida e transforma numa série de segmentos sensíveis e minimalistas, brilhante como sempre.
O Diário de Uma Virgem
3.0 260 Assista Agora"The To Do List" é um filme teen daqueles de colegial. Até aí nada de novo, a temática já foi desenvolvida incontáveis vezes, o que muda aqui é sua abordagem. O filme lida com vários tabus sobre sexo na adolescência de forma rude e sem medo de parecer vulgar, criando situações absurdas/bizarras que podem ser desconfortáveis até para aqueles que não tem sexo como tabu. Conservadores, então, passem longe. É interessante notar como as reações a esse filme foram totalmente diferentes em relação a outros comédias teen que compartilham o tema, ja que aqui o filme é protagonizado por uma garota (brilhantemente interpretada por Aubrey Plaza), o que faz caírem por terra vários paradigmas criados pela sociedade altamente patriarcal na qual vivemos. É um longa que visa subverter os valores que tornam a sexualidade feminina tão estigmatizada dentro dos valores conservadores aos quais somos submetidos, e nesse aspecto se sai muito bem. Além desse aspecto, é simplesmente hilário, bem escrito e com uma ótima trilha sonora, com músicas do Pavement e do Mazzy Star.
Edward Mãos de Tesoura
4.2 3,0K Assista AgoraNão apenas um excelente conto, mas também uma pontual alegoria de Tim Burton à trivialidade do meio suburbano, nesse sentido um pouco similar a Beetlejuice
Cara Gente Branca
3.8 175 Assista AgoraInfelizmente o script é bastante instável e a maioria dos personagens demasiadamente unidimensionais, no entanto, é de se ressaltar a importância desse filme como um grito de protesto ao racismo "velado", refutando a simetria que algumas pessoas insistem existir no contexto estrutural do racismo que conhecemos. Um filme independente importante no que tem a dizer, mas que poderia ter sido melhor executado.
O Babadook
3.5 2,0KEm seu brilhante documentário “Tempo di Viaggio” (1982, que no Brasil saiu como “Tempo de Viagem”), o gênio máximo do cinema Andrei Tarkovsky nos presenteia com uma singular visão sobre o “cinema de gênero”. O cineasta explica que não existe problema algum com o cinema de gênero em si, e sim com o espaço que ele abre para que os filmes se tornem mais comerciais e formulaicos. É só notar como os dois filmes mais comerciais de Tarkovsky são dois filmes de gênero: O drama de guerra “A Infância de Ivan” e o sci-fi “Solaris”. No entanto, o próprio artista reconhece quando consegue se dissociar das barreiras impostas por esse tipo de cinema, como no grandioso “Stalker”, onde o diretor soviético conseguiu transcender as barreiras do sci-fi, uma tarefa na qual ele mesmo admite ter falhado em “Solaris”.
Seguindo a mesma linha de raciocínio, em 2014 tivemos um interessantíssimo pequeno e independente filme australiano de terror que segurou um lugar entre os mais aclamados filmes do ano (uma tarefa virtualmente impossível para o cinema de horror, tão estigmatizado). O longa se chama “The Babadook” e se tornou um queridinho dos críticos de forma arrasadora. Pra se ter uma ideia, o filme tem no conceituado site “Metacritic” a mesma nota que a obra-prima “Whiplash”, do mesmo ano. Apesar de todo esse clamor da mídia especializada, “The Babadook” não capturou o mesmo tipo de recepção positiva entre os fãs de filmes de terror. A razão pra isso é mais simples do que se possa imaginar: Basta dissecar um pouco os pontos principais do filme e analisar seu conteúdo metafórico pra constatar que este não é um filme de terror, ou pelo menos não no sentido tradicional.
“The Babadook” é um drama extremamente sombrio sobre uma mulher que lida com a solidão após um acidente que tirou a vida de seu marido, que na ocasião a levava ao hospital para dar a luz a seu filho. A mulher e o filho sobrevivem e precisam lidar com o fantasma da perda de uma pessoa importante. Não apenas isso, mas também a completa alienação social que vem acompanhada de tantos problemas e tantas lesões emocionais. Em decorrência desses fatores, o menino Samuel não consegue fazer amigos e ganha o desprezo de todos, pois é visto pelos outros apenas como um fedelho desagradável e mal-educado com um medo incomensurável e irracional de monstros. A mãe, Amelia, deliberadamente se isola de todos e sempre parece ter algo que a impede para progredir nos mais simples relacionamentos com outrem. Até mesmo a simpática vizinha Mrs. Roach por ela é evitada como uma praga.
Até aí, um drama familiar normal. Porém o elemento surpresa de “The Babadook” consiste exatamente no seu personagem título, um monstro de chapéu e terno, aparentemente saído de um livro de conto de fadas que Amelia lê para Samuel (o nome do personagem, aliás, é um anagrama para “A bad book”). A partir daí, mãe e filho são perturbados constantemente por essa figura onírica e aterrorizante, uma espécie de Freddy Krueger versão gentleman. Entretanto, o filme brilhantemente pega emprestada a dualidade de “O Iluminado” de Kubrick ao colocar em dúvida a existência do plano fantasmagórico do filme. Em “The Babadook”, apenas quem sofre as monstruosidades são Amelia e Samuel, dando a entender que o monstro nada mais é do que um modo de dar vazão a esse sentimento de angústia e luto por toda essa vida miserável pós-morte do marido/pai, que agora já completava sete anos. O filme faz um brilhante trabalho de “foreshadowing” sobre o que iria acontecer caso os eventos seguissem seu curso naturalmente.
No final, a película deixa uma maravilhosa ambiguidade não apenas quanto ao destino dos dois, mas também deixa claro que a marca de todos esses anos de melancolia e da tragédia em suas vidas nunca cicatrizará, e eventualmente voltará para aterrorizá-los, de tempos em tempos.
No fim das contas, é um filme lento e com relativamente poucos eventos, uma trama bem simples e linear, mas com um contexto absolutamente fantástico assim que você arranha sua superfície. É sensacional, pois não deixa claro em momento algum do que realmente se trata, apenas dá dicas para sua audiência, que aqui é tratada como público pensante e não como uma massa para entreter. É o triunfo do cinema de gênero, é o tipo de produto necessário para concretizar a volta do terror como pedaço respeitável da sétima arte. É cinema com maestria.
O Que Fazemos nas Sombras
4.0 662 Assista AgoraWe are werewolves, not swearwolves
Confissões de Uma Garota de Programa
2.3 154É mais um daqueles filmes altamente experimentais de Soderbergh (na minha opinião, consistem na melhor e mais interessante parte de sua filmografia), dessa vez tendo como musa a ex estrela pornô Sasha Grey (que se sai muito bem protagonizando o longa). O filme é de certa forma brutalmente honesto, jogando com um background calcado na crise econômica de 2008, e estudando minuciosamente seus personagens dentro desse contexto. No fim, infelizmente acaba ficando um pouco maçante, talvez pela edição meio chinfrim, mas tem seus méritos por ser um filme diferente de tudo que já foi feito. É necessário um pouco de paciência para chegar ao fim dos 80 minutos de projeção, mas o espectador que o fizer não se arrependerá.
A Teoria de Tudo
4.1 3,4K Assista AgoraAbsolutamente genérico e formulaico. O filme apresenta um emaranhado de situações comuns a biopics nessa visão romantizada e irrelevante da vida de Stephen Hawking - suas importantes descobertas no ramo científico ficam em segundo plano, deixando toda a ênfase para sua situação física deteriorante.
O fato de esse filme ter uma média maior do que Birdman (brilhante filme de Iñárritu) só mostra a decadência das audiências, acostumadas a tudo que mais de genérico o cinema pode oferecer, e tripudiando em cima do inovador.
Sniper Americano
3.6 1,9K Assista AgoraEsse é um filme de ação muito bem dirigido e atuado, com não poderia ser diferente numa obra do experiente Clint Eastwood, mas, sinceramente, me cansei dessa abordagem americanista para com todos os personagens médio-orientais, tratando-os com atenção proporcional a de um vilão secundário de graphic novel. Fora isso, o personagem principal sinceramente chega a ser até um pouco detestável. Uma pena que, nas mentes guiadas por belicismo dos estadunidenses, a medida de um herói esteja diretamente ligada ao número de pessoas que ele matou.
Guardiões da Galáxia
4.1 3,8K Assista AgoraAs referências a Footloose são geniais
Crazy Love
3.9 15O segmento final, adaptado de um dos contos mais depravados e doentios de Crônica de Um Amor Louco faz valer o filme.
CBGB - O Berço do Punk Rock
3.7 186Só as músicas do Television ja fazem o filme valer a pena
Human Traffic
3.9 13"The weekend has landed. All that exists now is clubs, drugs, pubs and parties. I've got 48 hours off from the world, man."
Tusk, A Transformação
2.5 390 Assista AgoraKevin Smith é um diretor amado e odiado com a mesma intensidade. Seu humor estilo "low-brow", a verborragia explícita e ofensiva de seus filmes, dentre outros ultrajes, criaram para o diretor uma legião de detratores. Porém, 20 anos após seu primeiro filme (a obra-prima Clerks), Smith parece pouco preocupado em mudar essa reputação - de fato, mais parece que estar pouco se fodendo (pardon my french) com sua reputação.
Afinal, que outro artista iria transformar uma ideia surgida em um podcast num longa-metragem? Bem, ainda mais bizarro do que um homem que planeja criar uma morsa humana, são as piadas, é... desconfortáveis com nazismo espalhadas pelo filme, e o começo do longa, que nos introduz aos podcasters protagonistas, Teddy e Wallace (Walrus?), enquanto eles veem um garoto denominado "The Kill Bill Kid" decepando a própria perna com uma espada (CGI pobríssimo) num vídeo que viralizou na internet, e dão risadas... de uma pessoa perdendo um membro... Esse é Kevin Smith, afinal.
Com essa introdução, não é dificil pensar em muita gente se sentindo ultrajada e desligando a TV antes de alcançar a marca dos 10 minutos, mas quem decide seguir em frente, presencia um filme que é progressivamente melhor, principalmente quando entra em cena o malignamente divertido Michael Parks e o inspirado Johnny Depp... Quando esses dois contracenam, então, meu deus, é algo de cair o queixo. Vale ressaltar também que Kevin Smith usou em Tusk seu talento pra escrever diálogos (talento esse que os fãs de clássicos como Clerks e Chasing Amy bem conhecem), o filme é notoriamente muito bem escrito e até mesmo bem dirigido e editado, longe de repetir a bagunça de Red State, mas emulando bastante o tom desse filme ao mesmo tempo.
Enfim, Tusk é um filme que funciona em níveis diferentes. Como uma comédia de humor negro, é efetiva, mas também serve como um bom thriller bizarro no estilo "body horror". O filme é bastante bem humorado do inicio ao fim, e as referências à cultura pop espalhadas nos 100 minutos de projeção são o ponto alto da obra, vale ressaltar em especial uma piada com The Big Lebowski que é simplesmente de doer o maxilar de tanto rir. No fim, Tusk serve pra provar que Kevin Smith é um diretor com certo talento, e que esse novo direcionamento na carreira pode levar a lugares interessantes, já que o filme é claramente um progresso em relação a seu thriller anterior, Red State. Agora, Smith, por favor: CLERKS III.
Candy
4.0 601Everything is turning blue
Film Socialisme
3.2 128Até mesmo para os que estão habituados ao hermetismo típico da maioria das obras de Godard, Film Socialisme é um filme difícil (quiçá até mesmo impossível) de digerir. Aqui, JLG constrói um pedaço quase incompreensível de arte moderna, justapondo Lucky Strike, touradas, Hemingway e Andrés Iniesta (!!!) numa mesma sequência. Nesta obra, fica explícito o desinteresse do artista em coerência, mas tamanha abstração acaba gerando um produto até interessante, com belíssimos visuais e reflexões pontuais. No fim, o que fica é praticamente a súplica do cineasta para que não tentem desmembrar sua obra. Ao invés disso, prefere que todos se calem a respeito do filme e deixem-no falar por si só, mesmo que seja por meio de cenas ininteligivelmente retalhadas. No Comments.
Jeanne Dielman
4.1 109 Assista AgoraUm dos filmes mais minimalistas que já vi: poucos diálogos, trabalho de câmera o mais simples possível, enfim, tudo é reduzido ao mínimo; exceto a descrição maçante de um cotidiano hiperbolicamente monótono, pois o filme nos mostra praticamente três horas e meia de uma mulher fazendo tarefas mundanas e ordinárias. E é aí que o filme encontra seu sucesso, nos envolve brilhantemente nessa pueril rotina da protagonista, e de algum modo consegue levar a um clímax emocional totalmente cruel, simplesmente de cair o queixo.