É interessante que apesar da temática girar em torno de evolução e expansão vs autodestruição e cura, o filme consegue tornar físico e macro a relação biológica e química da construção e essência de células e doenças e toda a forma de existência viva que a gente encontra pelo universo. Ao mesmo tempo em que de forma metafórica ele lida com culpa, sombras, e transformações. Há o aspecto científico e existencialista e emocional novamente aqui. Tal como o diretor fez na Obra prima dele Ex-Machina. Há tbm analogia com doenças degenerativas como câncer. Ou auto imunes como AIDS e Doença de Chron por exemplo. A forma que certas efermidades destroem o hospedeiro na expectativa de sobreviverem e se expandirem. Um ciclo de autodestruição em busca de sobrevivência. Um paradoxo eterno. Uma falha da natureza ou como o filme joga na roda, de "deus"? E que nós seres humanos tbm não estamos imunes. Seja no meio em que vivemos (planeta. Alo Mother!) Seja nas relações e correlações interpessoais e na nossa forma de lidar com nós mesmos.
Quem tiver o livro (que é uma trilogia aliás) já pode me presentear ou emprestar que aceito.
O final é do tipo de sci fi que eu sinto falta as vezes. O oculto sendo mais interessante do que o explicado. Há um limite aqui de explicação direta mas que se analisado nos detalhes (em especial à trilha que até então eu nem tinha prestado atenção até subir os créditos) vira outra coisa. Insano. Um copo. E toda uma refração num prisma bem executado. Ps: Ouroboros nunca esteve tão presente né? Om Namah Shivaya.
Amei.
Obs: Oscar Issac é um camaleão. Todo filme que faz ele parece ser outra pessoa de fato. Mozão. E Natalie Portman venka com Will. 💗
"The Open House" (Traduziram como "vende- se esta casa"), traz o ator de 13 Reasons Why e é um suspense com toques de terror. A construção do clima de suspense é eficiente. Formula batida mas, que funciona. No entanto o desenrolar possui artifícios de roteiro ruins que estão ali apenas para propositalmente confundir o espectador e não pra mover ou estruturar a narrativa. Exemplo: não ha motivo algum que justifique o protagonista não enxergar nada sem óculos ou lentes. Não ha justificativa para a mãe amar fotografia. Ou pro protagonista sonhar em ser corredor profissional. São coisas que não possuem motivo de ser dentro da logica de construção narrativa. Sendo assim estão la para criar expectativa jamais suprida. O final - que revoltara 99 entre 100 pessoas - é falho e anti climatico. Dando margem para 3 interpretações possiveis que colocarei abaixo com alerta de spoiler desde já:
1: o assassino era o cara que arruma o sistema de aquecimento do chuveiro. Ele em parceria com a Martha (vizinha) que queriam a casa para eles. Talvez a casa fossem deles antigamente. Ou simplesmente não querem ngm ali. Matando eles fazem a casa perder valor imobiliário afinal assassinato impede que o valor e interesse de uma casa se sustente. Assim ou eles permanecem isolados como querem ou podem adiquirir a casa por um preço irrisório. Deixam o garoto Logan escapar para parecer que ele matou a mãe e o crush dela por problemas mentais após a morte do pai e depois se suicida no Rio.
2. Não importa a identidade do assassino pois a intenção é justamente desenvolver o suspense incerto e não fornecer conclusão. A ideia de que casas abertas podem possuir uma história ou visitantes vivos ou mortos que jamais deixam aquele espaço. É criar clima de incerteza. Inconclusiva mesmo. Alias, nesse sentido por isso o assassino não possuiria uma logica na forma de matar e amedrontar as vitimas. Assim como o do pq em varios momentos parecer que a casa possui assombrações vide cenas do porão.
3. O filme querer se tornar franquia nos moldes de Pânico. Com vários filmes de assassinato em casas a venda. Sem jamais revelar sua identidade. Mantendo a aura do assassino ameaçadora diante dessa possibilidade
.
Qualquer uma dessas opções me desagrada, pq o roteiro a forma que ele foi construido não sustenta em logica nenhuma das opções. Talvez apenas a da franquia mas ja me desagrada essa solução contínua atual.
Um filme que poderia ser muito mas, encerra sendo apenas regular.
Depois de O Lagosta não espero nada menos desse diretor. E ele me provocou a sensação mais surpreendente desses meus 28 anos de vida: perceber que eu ainda lembro da matéria de filosofia que tive no ensino médio ao resgatar Ifigénia, de Eurípedes. Tbm pudera. To impressionado que eu ainda lembro. Inconsciente é mesmo doido ne. Muito sobre o signo do ser Homem quase mítico repleto de falhas, e horrores, aqui, o diretor estar mais preocupado em expor a familia perfeita. Perfeita por fora e podre nas entrelinhas. Não uma ou outra específica. Mas todas as nossas. Familia vista como sagrada mas, repleta de humanos, por si só, cobertas de rachaduras. É curioso ter visto esse filme após a obra prima que foi "Mother!" Assolar os cinemas. Simbolismos e míticos signos sobre relação, culpa e consequência num universo unico que é a marca registrada ja do Lanthimos: o mundo dos absurdos. Nada aqui é sobre verossimilhança. Ele usa o lado absurdo e quase doentio do universo pra contar auas fábulas. Aqui temos ate mesmo quem sabe, um messias às vezes ou, ou Moisés de mares secos. Menos bíblico que Mother! Mas igualmente desconcertante.
Se Aronofsky nos trouxe um horror surreal, Lanthimos traz aqui um terror surreal. Bem no limite que faz horror e terror não serem a mesma coisa.
Muito sobre como homens não assumem nada e muito sobre o sutil distúrbio que todo ser humano possui em seu mais nefasto segredo intimo que não admite nem pra si mesmo. Um filme que fala sobre coisas obscuras não necessariamente de maldade. Mas sombras. Sombras que negamos pois vivemos num mundo que só aceita a luz. Complexo e perturbador. Desumano no modo de se apresentar justamente por falar de humanidade. Foda pra carai. A camera aqui tem um trabalho mais exemplar que seu filme anterior. Ela expressa a distorção. O desnível. A todo instante. E de maneira obvia ate. O cervo, ironicamente que viria a se tornar um homem um dia, é justamente o único elemento "virgem" das rachaduras todas. Ainda que antes do sacrifício tenda a repetir o desespero pela vida como qualquer pessoa comum.
É notável tbm como o filme flerta com a forma de disfunção que o homem trata o sexo. Anestésico. De posse e não de concessão. Cruel.
Um filme pra psicanálise e nem um pouco para quem não compreende insanidades.
Ps: dei um grito assustado quando percebi que realmente estava vendo a Alicia Silverstone . Bizarra. Como não podia deixar de ser aqui.
Que delicia! É curioso que notei muita gente desgostando desse filme. Não pesquisei ainda nada sobre ele pq não pretendo escrever análise. Mas, o melhor do filme nem é somente o humor repleto de ironia e sarcasmo (e impressionante como realmente a Era Trump esta influenciando os textos de Hollywood ne? As indiretas sobre o governo dele e as ideologias que eles liberaram de ódio e intolerância, são visíveis.). O melhor é o subtexto que vesa sobre o sistema falido das instituições. Ha o político social como disse de reflexo Trump e seu desencadeamento de odios e discriminações antes veladas e agora com holofotes e outdoors aplaudidos e tolerados, mas ha um quê de falar sobre sistemas judiciários e institucionais gerais que achei brilhante. Mildred é uma personagem fascinante. Quebrada mas que quebra tudo ao redor ao mesmo tempo. (E a atuação da Frances realmente, eita nois!). E Willoughby e Jason são reflexos dela de uma perspectiva de traumas e curas. Um misogino, lgbtfobico e racista agressivo que máscara talentos e dor da perda de alguém proximo. Um doente terminal dedicado a profissão mas, que foi se perdendo diante da eminente dor da morte precoce. E uma mãe vitima de violência doméstica, de traições que tenta obter paz na justiça de ver o criminoso que brutalizou e tirou a vida de sua unica filha. 3 vidas marcadas por dor e morte. A redenção do Jason não me convence, mas. Cartilha seguida a risca. Alias, as pontadas que estabelecem todos os homens no filme como seres hostis e falhos seja na ação ou no modo de agir com exceção daqueles marginalizados pela sociedade (gay, anão, negros) é plausível para se refletir esse momento de Babel sitiada.
"Breath". Com uma atuação mais uma vez inspirada de Andrew Garfield (e de Claire Foy) e com personagens cativantes. Uma história real daquelas de te fazer se acabar de chorar pro resto da vida. Ao mesmo tempo, é gostoso de perceber que o roteiro não se prende a maniqueísmo forçados a todo instante. O filme não possui melancolia. Pelo contrário. Quando se abraça a trama, nos pegamos rindo a cada dez minutos. Rindo de gargalhar e com um sorriso sempre presente no rosto apesar da história trágica. Isso pq o personagem nos leva a sorrir com ele. Da tragédia dele. Mesmo em sua depressão. E não é nada do tipo "good vibes deus no coração". Pelo contrário. É a escolha de um homem que viu sua vida se transformar em dor, e pegar essa dor e exalar riso enquanto puder ou enquanto aguentar. De forma racional e claro, emotiva. Um drama com romance e humor delicinha pra quem gosta desse tipo de filme. (Os últimos 20 minutos é de inchar de chorar). Destaque pra uma cena em que a câmera utiliza lentes de grande angular pra passar o transtorno interno de toda situação. Com planos distorcidos e profundidade de campo idem. Enquanto a personagem de Claire se torna apequenada diante da situação opressiva as suas emoções. Cena inspirada
"Wonderstruck" do mesmo diretor de "Carol". Um filme que brilha lela reconstrução das décadas se 20 e 70, tanto na estilização do resgate de figurinos e da própria NY da época, quanto no esmero em trazer um ode ao Cinema mudo. Com referências e forma de filmar que é um deleite pra qualquer cinéfilo. A trama em si carece de vivacidade suficiente, mas vale a pena pela arte toda da narrativa que intercala épocas distintas de maneira orgânica. A menininha que esta na década de 20 é uma graça. Julianne Moore correta como sempre. Apenas. E Michelle Williams passa quase despercebida.
"Incapaz de definir a Tua forma, eu o vejo ao meu redor. Tua presenca preenche meus olhos com o Teu amor, acalanta o meu coração pois, esta em todos os lugares."
E Guilherme Del Toro mais uma vez não decepciona. Depois do deslize que foi A Colina Escarlate onde a preocupação parecia ser mais grafica do que necessariamente narrativa - e gosto do filme mesmo assim - Del Toro parece ter recriado ou resgatado sua própria forma em que mescla seus melhorrs atributos numa celebração daquilo que faz ele ser quem é, esmero artístico de um universo unico e rico. E o resultado é de tirar o fôlego com o perdão do trocadilho com o título.
The Shape of Water ou "A Forma da Água" tem vislumbres de Amélie Poulain numa versão mais erótica, madura e soturna. Ainda que a bebida usada tenha sido O Monstro da Lagoa Negra, não tem como negar que essa fábula remonta questões que vão além do "filme de monstro". Com um direção de arte impecável com detalhes inventivos e ate significativos de tons de verde, e uma trilha com direito ate à Carmen Miranda, A Forma da Água é uma fábula sobre desajustes. Sobre aqueles que são tratados e vistos como monatros mas na verdade não o são. Os monstros de Del Toro aqui não são apenas seres miticos do folclore da América do Sul com guelras (e que trampo fantástico de maquiagem e expressão corporal!), são negros e negras, são gays e lgbts. São pessoas mudas e deficientes. Em plena Guerra Fria, Elisa (Sally Hawkins numa performance uau), vive a vida vendo suas belezas e levezas. Trabalha numa instalação secreta da base do goverbo americano como faxineira. Ela é muda e ama musicais. Vive seus dias na companhia de seu melhor amigo Giles (Richard Jenkins), um velho de 57 anos, ilustrador renegado e gay solitário apaixonado pelas divas do Cinema e seu musicais. Vivem em cima de um Cinema antigo e decadente chamado Orfeu e que exibe continuamente filmes com tons bíblicos como A História de Ruth. No trabalho, tem em Zelda (Octavia Spencer) uma melhor amiga e protetora. Sua voz ali. Negra, tbm faxineira, num casamento machista e sexista mas apaixonado. E nada aqui descrito é por acaso. Cada elemento escolhido pra compor esses personagens diz muito sobre o poder do filme. A figura do doutor da União Soviética Hoffstettler (Michael Stuhlbarg), que apesar disso abandona o país para ir trabalhar com o inimigo na esperança de aprender mais e fazer mais pela ciência e que na verdade se sente perdido num mundo político desajustado, e a do agente Strickland (Michael Shannon, fenomenal!), responsável por trazer a Criatura da América do Sul para estudos e para servir como arma na corrida espacial contra a União Soviética, extremamente vilanesco como qualquer fábula não podia deixar de ter, representam facetas da sociedade que Del Toro conversa. Os monstros são àqueles "de bem" padrões. O "diferente que traz a força do bem. A água e suas formas e estados, representam não somente o mundo desconhecido tal qual o dos céus que o Homem é tão fascinado. Mas simboliza a pureza e escuridão daquilo que transforma. Assim, Não por acaso a criatura que pros nativos das florestas cultuam como Deus da proteção da natureza, vive ali ainda que possa andar na terra tbm. Um ode ao Cinema musical dos 60 com direito a uma ousada sequência em PB que marca talvez a filmografia desse diretor inventivo. Uma história de amor de A Bela e a Fera as avessas. Onde a forma importa muito mais do que a aparência.
Lindo.
Ps: detalhe as cores vermelhas pontuais e tão delicadas na forma que são inseridas e no que significam. Que delicia!
edit: postei para quem pediu, no meu blog tbm >> http: //criticofilia. blogspot. com. br/2017/12/explanacao-critica-de-mother-com . html (basta retirar os espaços entre os pontos)
"Você nunca me amou. Você ama, o amor que eu tenho por você." "Eu sou o que sou" *(Talvez spoiler. Explanação sobre a Obra)* Quando Aronofsky encontra seu lado Lars Von Trier, e desencadeia um instinto Polanski, que cruza com Tarkovsky, nos temos A Cria, A Criação e As Criaturas sob e sobre os olhares da Mãe, em meio a reflexos de Lynch. A nova Obra Prima de Darren é um ode ao horror e ao quase surreal, que não só carrega o universo todo de camadas e, possibilidades interpretativas, como se torna um filme de gênero próprio de representação de um pesadelo. Humano ou divino. E vai psicanálise e religiosismos. Ou ate mesmo filosofias e manejos sociais. E ha um caráter aqui e ali de estrutura existencialista pra completar o big bang todo que implode em tela. Fato é, que "Mother!" não é um filme qualquer. E classifica-lo como tal, é um erro ingênuo ou no mínimo irresponsável. Em suma,
nem sobre a biblia e o divino, nem sobre o feminino e a natureza essencialmente. Mas simn sobre a Criação. O processo de criação da própria arte. Da própria existência, no sentido amplo da expressão e não da vida humana ou de átomos e células. Criação do artista. Criação do que faz existir Cinema e arte em si. O parto, o fanatismo, a idolatria. O desespero. O zelo, a angustia, a solidão, o caos, a dor, o flagelo, o sacrifício, a realização e a ira. A morte e o exorcismo. O culto, a confusão, o silêncio e o gritar do descontrole. A ruína e o gozo da celebração da voz interna ganhando forma e vida, e a destruição ou suicídio completo, para ter que renascer de novo e de novo, nessa eterna busca do Criador, do artista, do escritor, do cineasta, de sempre precisar criar. E parir algo no mundo, pro mundo, pelo mundo e através do mundo. Cada vivência pontual ou de anos de cada espectador terá uma interpretação de sentido narrativo pessoal. Pra Darren, o mote é o novo e o velho testamento. É a mãe natureza ganhando forma física de carne, osso, sangue e Espírito. Mas, ele tbm flerta através do feminino, sobre a figura quase de Mito da Mulher na vida humana. E não somente isso, esse mito transformado em gênero social e sua relação com o masculino ora opressivo de máscara protetora mas sempre, devotada. Fala no entanto, também sobre o processo criativo de todo artista. Que seja pelo amor, pelo caos, pela solidão, precisa criar um niilismo apoteótico e quase apocalíptico dentro de si, inclusive através de sua Musa, para criar. Mother! Fala da mãe, da deusa interna, a deusa que existe pela superfície ou profundeza de todos aqueles que criam. E a partir daí se desmembra visões bíblicas ou terrenas dependendo do contexto e percepção que cada criador ou criatura ou ainda receptores de criações se permitirem criar a partir dele. Mother! A mãe, é a casa. O lar. A base. É o universo interno e externo. A inspiração e o dom. A valvula de escape e de concentração. Ela representa tudo que gere, que alimenta, que cuida, que protege. E por isso mesmo é a única com força suficiente pra tbm destruir. Ainda que não por artifícios próprios. Paciente e passiva sobre tudo e todos inclusive a ela mesma, ela segue fielmente seu amor por Ele. O Criador. O Poeta. O Artista. O Senhor. Deus. E como A Casa, possui vida. O design de som faz um trabalho brilhante, onde cada rangido, cada soalho, cada palito espetado numa tortade maçã, ressoam. Assim quando surgem o Medico, Adão, ou apenas "ele", e posteriormente "ela", Eva ou Lilith, após "ele" ter sua costela arrancada por "Ele" enquanto vomita seu próprio coração podre pelos vícios do prazer, a Mãe, se retrai. Enciumada, desconfia da benevolência daquelas vidas que vem ameaçar sua morada que tenta transformar com as próprias mãos em um paraíso. Então, surgem Caim e Abel e como profetizado se destroem por ganancia e poder. E após destruirem não só o lar imaculado da Mãe com sangue e violencia e morte, ainda destroem o fruto proibido da chave de toda a existência da criação do Poeta. Destroem em seu cabinete de criação. Eva que também é Lilith, tbm é cobra, sem fruto, destroi a jóia pessoal de Deus. Joia que nada mais é do que o amor incondicional puro e pleno e sem falhas da Mãe (de uma antiga realidade), arrancado apos incinerado e massacrado apenas para ser refeita quantas vezes o Criador precisar criar. É ego. É soberba. É o sentido de pertencimento e de achar sentido pro existir. Sobre isso que "Mother!" fala. E isso se torna um desatino desesperador de horror de pesadelo de magalomania de insanidade e tudo aquilo que não cabem em explicações. Do Paraíso ao Inferno. Por vezes a Mãe assume o papel de diferentes personas e mitos. E a história humana atravessa Eras num desfecho insuportável. Um equivoco - em aberto, uma vez que realmente o filme possui infinitas camadas apazes de possuir a interpretação pessoal para cada espectador, ainda que ele possua uma base de coerência fixa - que é constante no que li apos o filme, é que as pessoas consideram que Mother, assume o mito de Maria na parcela final do filme. Na realidade, Maria no mito, se desprendendo da figura humana de carne e osso, da pessoa ali, ela como simbolismo representa a Terra, a vida terrena e mortal. Ela é um instrumento, um fio condutor de humanidade que Deus utiliza para tornar seu filho divino parte mortal. Por tanto, o ato da Mother dar a luz aquele filho, nada mais é do que a representação de que Jesus veio sendo filho de Deus e da "Deusa" equivalente ao próprio Deus, a Natureza. E aqui falo do mito por trás e não da literalidade da bíblia seja em qual crença ela for, falo de signos que é o que o diretor utiliza quando elabora roteiros em volta dela.
Temos signos infinitos a cada dez minutos de projeção. Com uma câmera claustrofóbica e tonta por vezes, que nos faz virar a Mãe. Respirar com ela, sofrer com ela, suportar com ela e enfurecer com ela. Ha sutileza em detalhes, construídos ora com textos, ora com luz, ora com cores, ora com imagens, ora com atuações. E por vezes é previsível e nada sutil. Como demonstra realmente querer o ser. Mother! É uma experiência brutal. Para o bem ou para o mal. Seja como for é o típico filme/obra que nasce esporadicamente uma vez a cada 10 anos, em que se é impossível, odiando ou amando, passar por ele despercebido. Sem sentir nada. Seja asco, seja prepotência, seja admiração ou medo. Seja revolta ou apatia. Mas ele entra na pele e causa reação. E São raros os filmes que podem se dar ao luxo desse feito. Perigoso e deslumbrantemente asqueroso e incomodo. Darren, prova aqui, que é um diretor autoral que sendo amado ou ignorado, possui um controle exato de suas próprias histórias. Do que elas são e pra onde irão. Exibindo uma superestima de si mesmo ou não. A comparação aqui com Lars não é atoa. Mas, me atreveria a dizer que ate mesmo Lars não se arriscaria de tal forma. Uma sinfonia criativa e insana. Um cristal, pra quem se permitir e conseguir extrai-lo e descobri-lo em meio as cinzas
do músculo podre e carbonizado de mãe sacrificado pelo Amor que doou, e permanece doando mesmo que a gente continue a desrespeitar seu lar...
ps: Talvez seja a primeira vez que não enxerguei a atriz JLaw e sim a personagem. Todos os filmes dela assim como ocorre com os filmes da Emma Watson por exemplo, que por mais que ame ambas, eu sempre fico com a impressão que o nome a figura da atriz é maior que o personagem. Ent~çao sempre so enxergo a pessoa. aqui não. Aqui me desliguei completamente de que estava vendo a Jlaw e isso é um trabalho genial da propria atriz e do diretor de conseguir dirigir ela ao ponto de apagar essa imagem do nome dela.
Com Direção de Michael Almereyda, Marjorie Prime versa sobre perdas. Sobre luto. Mas, não somente isso. O filme é um ode a importância e complexidade da psicanálise em seu subtexto e encontra espaço na ficção científica ao simbolizar o digital com o mais intrínseco mistério humano: as lembranças e memórias e nossas relações com estas. Compreender a filosofia de Marjorie Prime não é simples. Pois ele se apresenta como uma narrativa de diversas camadas de tema. Superficialmente temos o luto. Que é a parte obvia da trama. Trama que é alias, uma adaptação de uma peça de teatro de mesmo nome que nos transporta para um futuro incerto de precisão, onde uma companhia de softwares desenvolveu hologramas, chamados "Primes", que simulam um espectro de consciência de alguém falecido. Para ajudar os vivos a lidar com a perda que ainda não conseguem aceitar. Marjorie é uma senhora de 86 anos que sofre de alzheimer. Afim de ajuda-la a preservar as memórias que pouco a pouco vão se esvaindo, sua filha mais velha Tess - com quem não tem uma relação muito próxima apesar de morarem juntas - e seu genro, lhe dão um Prime com a forma de seu falecido marido Walter ao qual ela enxerga como nos tempos da juventude. Todos os dias Walter - o prime, vai se desenvolvendo conforme vai obtendo mais informações sobre a personagem que está recriando ao interagir com Marjorie. Ele lhe conta histórias da vida dela mesma que ela mesma lhe conta todos os dias. Uma conversa com um espelho que reflete alguem que se amou.
Por ser uma peça teatral o filme tbm mantem sua força nos dialogos expositivos e contemplativos. É um filme que se beneficia da pausa e do silêncio. Ele é construido atraves de imagens, da cor, na falta de trilha sinora ou da inserção desta em momentos chaves. Ha uma sequência em particular que me ganhou, na qual Marjorie sai para fumar escondida. Ha um plano que mostra ela de costas com seus cabelos brancos esvoaçando junto à fumaça que solta e à frente dela o jardim com folhas verdes vivo sobrepostas por flores brancas (como os cabelos da velha). Em seguida ela parece se esquecer de onde está e começa a caminhar em direção a uma ponte de madeira dentro da própria casa. Aos poucos o ambiente vai perdendo saturação. E gradualmente vemos o verde vivo desaturando, e tudo ganha tons monocromaticos. Ponte de madeira, rio, ceu, pele, perdem texturas, e a foto se torna chapada. Para enfim ainda em coloração amena e fria, vermos um temporal se aproximar e Marjorie retomando o caminho de casa se lembrando onde está atordoada, mas ela surge completamente desfocada no plano. Unico elemento desfocado. Simbolizando sua perda de memoria, sua existência que aos poucos apesar de viva como a natureza esta se desintegrando no esquecimento. Se tornando opaca. Para na sequência haver um dialogo onde ha a sugestão de que o holograma a cada dia que passa se torna mais "real" enquanto ela na mesma proporção vai se tornando mais um "fantasma".
É lindo e poético. Tudo em Marjorie Prime é composto pra simbolizar tempo. Seja a cenografia, seja elementos como água e vento, seja um luar desaparecendo num céu nublado. Seja a ausência de relógios de parede ou indicativo de temporalidade. Reflexos difusos que se perdem como borrões. Fotografias que dão lugar a hologramas, discos de vinis e quadros num museu de época renascentista decorados com futurismo. O tempo é a chave para vida e morte e o filme trabalha bem isso.
A película traz no elenco os competentes Jon Hamm (que interpreta o Prime Walter), Geena Davis(como Tess filha de Marjorie), Tim Robbins e Lois Smith (como Marjorie) e faz bonito. As relações familiares, traumas do passado não digeridos, e o tempo que ressoa através de elementos e de evocações de contos e histórias (e que no final a montagem se encarrega de demonstrar de maneira direta), compõe um filme lento como precisa ser e que muito mais do que refletir sobre os avanços tecnológicos nem sempre saudáveis à humanidade (ola black mirror), se preocupa em conversar sobre o que nos faz humanos e o que é ser humano em função do tempo. Aquele que foi, que vai, que está e que irá embora ou não chegará.
Apesar do meu medo de palhaços, eu gostei bastante de IT de 2017 (nunca consegui assistir o original dos anos 80 apesar de conhecer a história toda). É interessante que eles conseguiram condensar bem o livro (que tbm conheço) e a mini serie que a maioria conhece apenas como o filme classico (it dos anos 80 foi uma mini serie de dois capitulos totalizando 190 minutos pra tv que depois no ano seguinte eles juntaram ambas as partes e construíram como a narrativa de um filme longa metragem). A essência de ambas esta ali. Junto a nostalgia oitentista característica dos dias atuais mas com o frescor da cinematografia inspirada de hj em dia. Em especial os movimentos de câmeras e planos usados que ajudam a compor o clima de perigo e claustrofóbia da cidade. Alem do uso das cores geniais, em especial o vermelho, verde e amarelo que criam ora um clima de repugnância, ora de perigo, e ora de tristeza. Os tons desaturados servem pra imprimir melancolia e certo grau de desepero. A cena das crianças flutuando é uma das coisas mais lindas e bizarras que o filme traz. Alias, beleza e horror andam junto nessa forografia e direção de arte. A cena icônica dA Coisa no campo surgindo entre os balões vermelhos é composta de forma cuidadosa e linda. Me impressionou aquele plano. Algo que me incomodou a princípio foi a forma que ele surge de maneira evidente. Eu sou fã do horror que usa "o menos é mais" pra assustar. Que mais sugere do que mostra. Afinal, o desconhecido sempre assusta mais do que o monstro em si. Mas, no caso dA Coisa, assim como seu irmão gemeo Freddy Krueger, ele em si é o que amedronta. Pois o medo esta em seu sadismo. Ou seja, esta no medo em si e não na forma. Ele é o próprio medo. Senti problemas de ritmo e tbm como disse as coisas escrachadas eu evitaria (apesar ee compreender o uso). Explico: IT é uma alegoria sobre a perda da inocência, sobre o terror provocado pelo medo e inseguranças e sobre a forma que a vida adulta se apresenta como um limbo. No livro Pennywise é um ser destrutivo. Ele é o oposto da criação. Ele não apenas devora crianças mas, vive pra atormentar. Ele esta mais interessado em causar terror do que em se alimentar. E ele sempre surge em momentos de horror humano. Nossa mostruosidade que desperta ele. It nada mais é que uma analogia ao lado mal da humanidade. Ele desperta sempre que ha massacre racista, homofobicos, tragedias naturais que despertam odio social e etc. Um mundo de paz seria causa de seu sono eterno por exemplo. O que o filme não aborda é sua origem. Algo que acho de um potencial enorme pro proximo filme. A metafora dos abusos dos adultos tbm achei que foi bem impregada e nada sutil como disse. Como uma porteira que abre indicando o abate que esta por vir. Como o pai pedofilo e a menina diante do medo de sua menstruação. Pros padrões de filme de terror atual achei ele bem violento tbm. Graficamente explícito em algumas partes. A cena do quarto cheio de palhaços me fez ter ate crise de tremedeira. A pior pra mim. Me assustei pacarai (em parte pelo meu medo ja mesmo) mas tbm pela construção bem feita que confia mais no clima aterrorizador do que no manejo facil de susto auditivo. Gostei. E ao contrario dos colegas de area, a similiaridade com stranger things (que nem achei tanta assim rs) não me incomodou.
A, como nota, a concepção do palhaço em si achei bem feita e marcante. Deve nada ao palpavel do palhaço antigo. Apesar que esse de agora por ser graficamente mais digitalizado, me amedronta menos pessoalmente do que o antigo que era mais "realista". Outro ponto que me tranquilizou mais alem do fato de eu ter focado na metafora da história pra superar o medo de palhaços que tenho rs é que o filme restringe a ameaça àquela cidade pequena. O que faz a ameaça diminuir pra quem assiste. Diferente de outros assassinos monstruosos do horror comp Freddy Krueger, Jason, Chuck por exemplo, Pennywise aqui, parece não sair da pequena cidade de Derny, logo pq ter medo? Enquanto eu não pisar la to seguro. Freddy no entanto era visto sempre que se dormia e todo ser humano precisa dormir em algum ponto. Percebe? O apelo de medo é maior e constante. Achei um erro o filme ter restringido dessa forma. So esse adendo mesmo.
Uma jornada da primavera de sangue ao inverno de redenção. O massacre de Gwangju, também conhecido como Movimento Democrático de Gwangju ou Levantamento de Gwangju foi um levantamento popular ocorrido na cidade de Gwangju, Coreia do Sul, de 18 a 27 de maio de 1980. As estimativas sugeram que poderão ter morrido até 165 pessoas. Mas os cidadãos locais informaram muito mais. Durante este período, os cidadãos revoltaram-se contra a ditadura de Chun Doo-hwan e tomaram o controlo da cidade. Em sua maioria universitários que organizaram-se para combater a ditadura e restaurar democracia no país. Dirigido por Hun Jang, e com roteiro de Eom Yu-na "A Táxi Driver" (em tradução livre "O Motorista de Táxi" e do original "Taeksi Woonjunsa") nos mostra a primavera da década de 80 na Coreia do Sul, onde somos apresentados ao carismático e meio ranzinza afixinado por seu carro, Kim (Kang-ho Song) um motorista de táxi que vive em Seul. De vida humilde, Kim é pai viúvo de uma menina doce mas, tristonha pela perda recente da mãe, de 11 anos de idade. Morador de aluguel, Kim deve mais 4 meses de aluguel e após escutar numa lanchonete, um outro motorista de taxi particular, se vangloriar que um estrangeiro lhe pagaria uma boa quantidade de dinheiro para leva-lo e traze-lo da cidade vizinha de Gwangju, decide tomar a dianteira e ir buscar o estrangeiro antes do taxista particular. No aeroporto, embarca Peter "Jürgen" Hinzpeter, (Thomas Kretschmann). Um jornalista disfarçado de uma TV da alemanha. Mas, chegando em Gwangju, Kim descobre a identidade jornalistica de Peter e sua câmera guardada na bolsa, e que a cidade esta sob Lei Marcial, onde universitários estão causando tumultos contra a cidade. Não demora muito e Kim começa pouco a pouco a perceber que na verdade, se tratade um levante popular contra a ditadura do ditador Chun Doo-hwan. Que bloqueou toda e qualquer informação e verdade sobre o massacre violento que estava impondo a população daquela cidade para impedir que o resto do país e do mundo soubesse da revolta e das censuras impostas. O filme é quase que um remonte sobre um dos maiores massacres que a Coreia do Sul vivenciou e uma aula de como o poder da informação pode tanto ser um trunfo contra um governo opressor em prol de liberdade e paz, quanto pode ser uma arma incomparável de morte e dor se usada de formaa manipular e ocultar verdades. Kim é o típico cidadão que ja serviu ao exército no passado, e que acredita que revoltas de universitários e estudantes mais são do que comunistas impertinentes que não sabem respeitar o governo que tem e que deveriam ir viver na Arábia Saudita e em países com guerras declaradas para darem valor ao país. O típico patriota que reclama do do trânsito, dos preços altos, mas tem uma fé cega de que o seu governo e país é bom e Só quer manter a ordem. E que todos contra isso são desordeiros e merecem prisão. Peter é o jornalista que vive para denunciar abusos de governos onde o jornalismo local se rendeu a manipulação e controle governamental ou que foram impedidos de contar os fatoa e verdades por opressão. O filme carrega um forte poder de ideologia de como a construção da mídia é essencial para a manutenção da sociedade e como é perigoso e recorrente a população ser enganada pelo qye leem e veem. Em determinado momento, em um bar, surgem conversas sobre as mortes que estavam ocorrendo na cidade e os clientes insistem que se não foi mostrado no jornal então não podia ser verdade. A pelicula carrega uma dose organizada entre o drama e a ação em especial as cenas quase de guerras épicas mesmo dos conflitos com violência, mortes, cadáveres expostos e toda a realidade que conflitos assim causam. A forma que o governo e a polícia abusam do poder de fogo e força para massacrar resistentes e manifestantes. Sem se importar com idade, gênero ou ação. É assustador. Ao mesmo tempo ha um texto de delicadeza e poesia e doses de humor sarcástico que contrapõem como uma espécie de respiro à essas cenas pesadas. Como um jantar que mostra que as diferenças culturais podem esconder semelhanças ideológicas, ou as cores que contrastam entre o cotidiano seguro do verde e amarelo e vão ao vermelho e laranja foscos nos ambientes de perigo e dor. Como uma nuvem de fumaça que faz desaparecer luta mas faz nascer esperança. Ou mesmo ternuras de um pai que ama sua filha e sente falta da esposa. Mas, alem de todos os méritos técnicos, de ritmo, de construção de personagem solida e repleta de camadas, o filme se agiganta é com a atuação de Kang-ho Song que consegue passear do humor ao drama de uma forma dolorosa e intensa. Somos a visão de Kim ali descobrindo os horrores covardes de imposição e de silenciamento a um país que tenta volta a respirar mesmo sendo massacrados. União e empatia. Coragem e sacrifício ditam esse filme que é a aposta coreana para o Oscar de melhor filme estrangeiro. Excelente! A sequência final, de resolução incluindo um trecho de gravação do jornalista real (o filme é baseado nas lembranças desse jornalista) é tocante.
Começa com frame de Janis Joplin, tem "You Don't Own Me" no meio e termina com "Respect" da Aretha Franklin sob gemidos de prazer. No final da década de 60, vários países do mundo vislumbravam boa parte das lutas contra as bravatas, que ainda hj em dia continuam a se esgueirar para ser conquistadas. Liberdade sexual, os movimentos hippies, a revolução da independência feminina. Dirigido e roteirizado por Petra Volpe, "The Divine Order" (que em tradução livre seria "A Ordem Divina") nos traz uma Suíça no ano de 1971, onde todas essas revoluções mundiais não faziam efeito. Num pequeno e pacato vilarejo do país, onde os papeis de gênero permanecem definidos e rígidos conhecemos Nora. Esposa e Mãe de duas crianças que aparenta singela felicidade com sua vida doméstica própria das mulheres para servir à familia. Ate que a filha de seu cunhado, Hanna de 17 anos, começa a se rebelar contra essas proibições patriarcais, motivada em muito pela paixão à um hippie local. Nora tenta persuadi-la a desistir de seus planos de fuga, mesmo que secretamente, tarde da noite sonhe com o mundo ao apontar seus dedos a esmo num globo terrestre. Ela sonha também em trabalhar fora, como secretaria, mas por ser mulher, precisade uma permissão não adquirida pelo marido. O pequeno vilarejo assim como toda a Suíça receberá um referendo para decisão por voto, pela permissão do direito ao voto pelas mulheres no final daquele ano. É então que Nora se vê à frente de um movimento pelos direitos das mulheres, ao voto e a emancipação. A Suíça foi um dos últimos paises do mundo a conquistar o direito ao voto às mulheres. Com recortes de época e de seus movimentos sociais e mudanças comportamentais, o filme vai nos embrenhando de maneira leve, poetica e cômica, pelas descobertas atraves dos olhos de Nora sobre si mesmo. Sobre o que é ser mulher na sociedade. Uma das sequências mais interessantes é a que a mulher desprende os cabelos e pela primeira vez toca as curvas de seu corpo, usando calças. E logo após a cena magnifica emblemática desta e de amigas juntas descobrindo as variedades das próprias vaginas pra depois se libertarem em transe numa pista de dança em sinal de liberdade. O filme traz o machismo e o feminismo de forma eloquente e prático, e este último, em sua forma mais pura de igualdade e direito humano de ser. Sem soar panfletário mas sem amenizar os efeitos da opressão patriarcal sobre mulheres e homens tbm. É interessante notar por exemplo como a luta da esposa, reflete no pacato e "bom moço" marido Hans. É curioso notar que ele possui ideologias que apoiam as da esposa mas, pra sociedade ele máscara para não perder sua masculinidade e poder. O conflito que ele apresenta tbm soa pertinente na película uma vez que se explana os ganhos que o feminismo carrega para toda a sociedade apesar de a luta ainda ser lenta e encontrar barreiras que esbarram na violência e ate mesmo na morte. Com ótimas atuações em especial as da expressiva Marie Leuenberger que vive Nora e Rachel Braunschweig, que vive Theresa. O filme ainda conta com o ja mencionado Maximilian Simonischek que dá vida a Hans, a personagem chave Vroni vivida pela simpática e hilária Sibylle Brunner, Marta Zoffoli como a provável bissexual e "desquitada" Graziella, e a estopim do despertar de Nora, Hanna, vivida pela belíssima jovem Ella Rumpf. Um filme lindíssimo sobre o poder da liberdade e a trajetória por justiça e conquistas das mulheres que ressoa como um merecido orgasmo em um mundo tão precisado de bom senso e desconstrução. Filmão!
Dirigido e roteirizado por Taylor Sheridan que se aventurou aqui pela primeira vez na direção, após nos dar os excelentes "Sicario" em 2015 e "Hell or High Water" um ano antes como roteirista; "Wind River" (que vira como "Terra Selvagem") é um drama/thriller investigativo que usa o crime de uma garota de 18 anos encontrada morta e congelada após ter sido estuprada no gelo, para dialogar com a relação da perda àqueles que ficam. O filme é sobre o luto em resumo. Tema que ano passado foi melhor elaborado no drama Manchester À Beira Mar. Ambos os filmes usavam a simbologia do gelo como alicerce de condução de uma trama onde um homem tenta suprir com trabalho o luto de ter perdido alguem importante. Se no filme do ano passado tinhamos um pai de família sem expressões e amargurado que se enterrava em bebidas e lixo para esquecer da culpa e da saudade, aqui temos um homem que foca no esmero e profissionalismo absoluto do trabalho de caçador de feras para evitar lembrar de uma perda sem explicação do passado. "River" tem todos os elementos de um filme investigativo, porem o que ele realmente quer conversar é a maneira que a vida se atina e se prova àqueles que a desejam ou tentam supera-la. Nesse ponto, os dialogos apesar de corriqueiros, trazem pontualmente aqui e ali resquícios de reflexão sobre a forma que a vida pode nos escapar. Sobre como o ser humano permanece nesse vai e vem de caça e caçador. Não ha o que resolver de fato. O que interessa nesse roteiro é a jornada. Mas a sensação é que temos um personagem de construção excelente e complexa a tona, nas mãos de um ator que não soube dar a vivacidade (ironicamente) que merecia. Jeremy Renner apesar de correto, não parece encaixar. Ao menos, não diante da complexidade e sensibilidade sutil que o texto exigia. Nada que faça o filme apequenar. Pelo contrário. Renner faz um trabalho de atuação preciso. E convence. Ainda que eu tenha ficado com a sensação que me faria aplaudir se estivesse nas mãos de algum outro ator. E todo o restante ao seu redor soa mais como alegoria. A personagem de Elizabeth Olsen aparece aqui como um pilar de despedida e de confissão quase. Uma muleta no sentido de que sua trajetória serve ao propósito de dar a oportunidade daquele homem de ter uma resolução em forma de paz, ainda que não a de conclusão para sua perda passada. Não é um problema, só... é só. Ela traz uma personagem forte, mas que não tem muita importancia pro mote real da narrativa. Ela é a desculpa para acontecer e não a ocorrência. No entanto, as cenas de ação com ela em especial - em que a direção de Taylor surpreende - são bem elaboradas e carregam uma tensão exasperante nos momentos chaves para o grande voilá do filme. Aleagoricamente o filme ainda traz a tona a forma que os EUA ainda trata com desprezo os nativos indígenas de suas terras. Menos denuncia ou alerta do que poderia ser, mas deve sensibilizar. (O filme abre nos dizendo que se trata de uma historia baseada em um dos milhares casos reais) Em grande parte graças ao genial trabalho mais uma vez dos atores Graham Greene e em especial de Gil Birmingham. Que traz consigo o peso controlado no olhar preciso que acho que faltou ao Renner para seu personagem, ao construir um patriarca tomado pela perda e remorso não só como pai, mas como cidadão numa terra que lhe é roubada a sangue e gelo desde sempre. É brutal perceber em suas falas em determinado momento enquanto sua esposa sangra no quarto, a amargura e ao mesmo tempo o sentimento de apatia com que narra as perdasja esperadas por ele na vida. São ecos de um povo violentado que desaparece apesar de peemanecer invisivel pelo caminho da história. Contando ainda com um design de som inspirado - principalmente nos momentos em que se exige atenção aos elementos de cena sempre metaforizando o que realmente pretende mostrar, como o caso dos leões na toca, ou da chegada da investigadora do fbi sob uma geada que cessa ao encontrar um corpo morto -, "Wind" se sustenta como um bom filme. Mas Puxado.
Apesar de vir como uma produção baseada no conto, após lê-lo, me atrevo a dizer que é uma adaptação. Uma adaptação livre do conto de Stephen King de mesmo nome. "1922" narra a história Wilfred James, um pacato fazendeiro que em 1922, após conflitos de interesses com sua esposa Arlette James, decide que a única solução pra seus problemas é assasina-la, com a ajuda do próprio filho dos dois Henry 'Hank' James de apenas 14 anos de idade. O filme tem direção e roteiro de Zak Hilditch, e é mais uma produção original Netflix. Thomas Jane, que já viveu o protagonista de um filme baseado num conto do Mestre do Terror - "O Nevoeiro" de 2007 - vive aqui um impressionante Wilfredo. Um homem simples, frio, seco, de aspectos endurecidos e misteriosos, que ao mesmo tempo que inspira simpatia, assusta. Justamente pelo cerne principal da trama: a possibilidade do maior dos monstros habitar o interior humano. Característica de discussão que é a base de praticamente todas as histórias de King. Aqui temos o sobrenatural dúbio que sempre se apresenta incerto, apenas como alegoria para a real força de tudo que se desenrola, a culpa e o remorso. As consequências de certas escolhas e como elas se tornam o verdadeiro inferno na Terra dependendo de suas magnitudes. Se analisarmos de forma um pouco mais sensivel e profunda, ha como ainda estabelecer uma discussão do papel feminino nessa culpa, remorso, monstruosidade e degradação masculina ali posta. Afinal, as duas mulheres recorrentes da trama (e se contarmos ainda com o feminino animalesco trazido pela presença da vaca em determinado momento), são os alicerces que levam às decisões de todos os homens presentes na narrativa. E bem como a reação e conduta desses para com o tratamento às demandas delas, que acarretam em todo o terror psicológico que somos impelidos a conhecer na confissão solitária de Wilfredo. A culpa não esta em nenhum momento nas mãos delas, mas diante da visão daqueles homens, elas simbolizam o que os leva ate ela - a culpa - e a desgraça que cada qual a sua maneira se entrega em forma de podridão, gelo, sangue, e infestações de ratos. Ate mesmo o próprio poço poderia trazer certa alegoria no sentido de sua profundidade. O filme em si, não aborda em foco todo esse subtexto de potencial das entrelinhas que o conto carrega, mas faz um bom trabalho nos envolvendo através das cores e dos frames desaturados da fotografia que tanto nos ambienta a um lugar por vezes claustrofóbico e mesmerico, quanto à um lugar realmente sombrio e sufocante. Tal qual a relação daquela familia interiorana uns com os outros. Thomas Jane rouba completamente as atenções, sem favor algum, um trabalho físico de composição de personagem que merece todos os aplausos. Molly Parker faz um trabalho sóbrio e ok diante do tempo de tela que possui para sua Arlette, e Dylan Schmid é esquecível tal qual seu Henry, aliás, em comparação ao conto os dois personagens não chegam nem perto do potencial desenvolvido que deveriam. Uma pena pelos personagens mas, pro filme funciona e serve. É como deveria ter sido. O filme tem bons momentos de aflição em especial a sequência de tensão da morte da matriarca, bem como suas aparições pontuais seja em forma imagética, seja em forma de pingos de sangue ou de ratos devorando as tetas de uma vaca em agonia. O filme só peca realmente no ritmo e na forma que elabora seu desfecho. De alguma forma, o embate entre esposa e marido em determinado momento soa fraco diante da tensão de expectativa que o clima trazia ate ali. Bem como, justamente por isso, o final tbm. É como se a redenção dos personagens não fosse a altura de seus feitos. Mas, ainda assim uma experiência interessante.
Dirigido e roteirizado por uma das minhas diretoras (e incluo no nicho direções masculinas e femininas) preferidas, Sofia Coppola, "Um Estranho que Nós Amamos" (do original: "The Beguiled" que seria algo como O Seduzido) traz um filme visualmente belo e imponente, que beira ao perfeccionismo entre fotografia e cenografia, com uma trama que em seu subtexto possui ares de psicanálise comportamental social entre gêneros, mas que em base, surge comedido e casto. Casto, quando comparado ou elucidado a primeira adaptação de 1971, estrelada por Clint Eastwood e dirigido por Don Siegel. Coppola, escolheu abandonar o material de Siegel e focar muito mais na obra literária original, escrita por Thomas Cullinan, de 1966. Na trama, durante a Guerra Civil Americana, que partiu o país, um soldado ferido do Norte, vivido por Colin Farrell de maneira muito menos galanteadora do que a versão de Clint, encontra abrigo numa instituição para jovens mulheres sulistas, que sofrem durante o conflito. A instituição conta com 5 internas, entre elas a mais velha vivida por uma ambígua e atrevida Elle Fanning, e duas adultas, interpretadas por Nicole Kidman (matriarca da instituição) e Kirsten Dunst (uma recatada e solitária mulher que ensina inglês às jovens). Se o filme de 71 trazia em seu cerne uma narrativa baseada em sexualidade e erotismo pelo viés feitichista masculino e que por consequência acaba por se transformar num terror quase psicológico dos temores do homem hetero sob às custas de mulheres que pouco a pouco vão se tornando menos indefesas e mais perigosas. Envolvendo inclusive incestos e pedofolias, alem de escravidão e por consequência racismo. Essa nova versão de 2017, ignora completamente subtramas que permeavam esse tom sexual, e mantem apenas a tensão erótica e foca na visão das mulheres com a chegada daquele homem. Ainda que se preserve o tom "mosca em teia de aranha viuva negra" de certa forma, essa versão se mostra quase que como uma resposta ao machista e discriminador longa patriarcal do passado. Esse mostra as ações daquelas mulheres mais como a resposta a situações do que como maquinações planejadas. Assim, é interessante como todos os planos externos mostram essas mulheres envoltas num ambiente bucólico que lembram pinturas renascentistas e de natureza morta, com paletas desaturadas e bordas enegrecidas, focando toda a luz nelas. Nas cores de seus vestidos e rendas. Ao mesmo tempo que o interior, surge à espreita, com feixes de luz natural ou de velas em tons quentes, em meio a umq escuridão que da um clima de perigo e mistério. Isso contrasta de maneira genial com a delicadeza daquelas mulheres. Torna a situação em crescente suspense sobre intenções e verdades. Alias, o desenho de som tambem tem um papel e tanto aqui. O filme abre com toda esse contraste entre "climas" quando vemos uma menina criança no bosque entre galhos que deixam focos de luz banhar o ambiente e os sons dos passos sobre as folhas, barulhos de explosões da guerra ao longe apanham a cena. Pouco antes da menina encontrar o soldado ferido. Lógica de som seguida em quase todas as sequências externas do jardim por exemplo. Não nos deixando esquecer do ambiente de guerra apesar de nos concentramos nos acontecimentos daquela instituição e ao mesmo tempo, nos dando o tom de dualidade entre o que se enxerga e o que se ouve. Forma dúbia inclusive que carrega as quatro personagens centrais (os três adultos e Fanning). Em especial, a personagem de Kidman. Que no filme de 71 era descaradamente uma mulher de desejos reprimidos e aqui assume uma persona sempre duvidosa. Entre a lascividade de uma mulher à tempos sem contato com a presença masculina, e a de uma lider responsável diante de um cenário ameaçador. Assim, a parte final do filme mantem uma discussão muito mais interessante que o de 71. Uma vez que ha compreensão logica das atitudes tomadas por aquelas mulheres diante daquele homem. E também ate certos limites, as atitudes daquele homem diante daquelas mulheres. A pedofilia aqui é mais sugerida e surge de forma comedida e esbarrando no "naquela epoca era assim". Ao mesmo tempo que a simbologia do sangue em determinado momento e da mutilação/castração do masculino recebe contornos quase poéticos ainda que sem sutileza nenhuma. A impressão é que sim, essa versão é superior em varios aspectos ao de 71 pela forma e pelo entendimento por outros viés da propria guerra - externa e interna de gêneros -, mas que desperdiça uma complexidade de texto mais "ousada" ou mais "adulta"; em nome do drama acima do terror.
é mais que um filme fodasticamente bom. Ele beira ao genial. Aqui é importante salientar que acredito que no Brasil esse filme tal qual vimos em "Cara Gente Branca" da Netflix e em "Moonlight", esse filme não deve fazer muito sucesso. Justamente pq ele não será compreendido. E não por má execução ou falha de tema e roteiro. Mas, pela construção racista social que assola TODOS do nosso país. Inclusive cada um que está me lendo. Isso pq a segregação racial nos EUA ainda é recente. Ela foi perpetuada de maneira "permitida" ate os anos 50 mais ou menos e ainda carrega nos nomes de Luther King e Malcon X ou mesmo nas Panteras Negras e Rosa Parks ecos muito recentes de uma guerra civil diplomática, ideológica e social que mantm -se hj em dia. Importante notar as aspas. Enquanto que no Brasil a totalidade geral de nós acreditamos que a abolição de 400 anos atrás da escravidão já nos tornou iguais em todos os aspectos. A enxurrada musical com genero negro protagonizado por brancos em cores bonitas versus um drama real sobre identidade negra que perpetou no Oscar aqui nas redes sociais brasucas mostram isso. Enquanto um recebia comentários de "pisa menos la la la" o outro era categorizado como apenas um "bom filme e nada demais". Quando a realidade em todos os aspectos inclusive atemporais dizem o contrario.
Com "Get Out" minha recomendação é que não se leia ou veja nada previamente sobre se for possível a essa altura antes de assistir. E que cada pessoa não negra assista com a consciência e percepção de que ela é uma pessoa não negra. Pq o roteiro brilhante carrega inclusive nos maneirismos riscos e feridas que são mais perceptíveis a nós negros de enxergar. Enquanto que a fatídica população geral vera apenas clichê talvez ou ate mesmo algo "ok". As mesmas pessoas que não conseguem entender do pq quando se lista dez filmes preferidos por exemplo dos ultimoa dois anos, são incapazes de incluir entre eles ao menos 3 onde não haja problemáticas de estereótipos racistas. É estrutura. O tipo de estrutura que o filme aborda com maestria ao por exemplo deixar claro que o filme ira doer e incomodar justamente naquele cidadão de bem conservador que dirá que não é preconceituoso, afinal ate tem amigos negros ou amigos gays e ate votaria no Obama de novo. Esse tipo de gancho do roteiro é certeiro pra dar o tom da narrativa que brinca ou flerta com classicos do terror e suspense dos anos 70, e é descaradamente e sarcasticamente diga-se de passagem um plot atualizado de "Adivinhe Quem Vem para Jantar?", com toques de "O iluminado" aqui e acola na intenção de acontecer. Uma mescla de gêneros orgânicos - drama, suspense, comédia irônica e terror psicológico - envoltos numa crítica sociológica apegada a realidade Trump americana mas aue funciona infelizmente de maneira hj universal aos passos da direita que vem ascendendo pelo mundo novamente. Com uma fotografia que utiliza seus momentos mais perturbadores justamente na correlação que faz com os anos 70 e contextualização que remete aos anos 50 em cenografias e maneirismos cênicos, em iluminação clara. Contraponto o clichê do gênero que sempre recorre aos tons escuros pra tal. Em termos de ritmo, talvez o maior feito de Get Out! Seja justamente ele não sucumbir a formula de esconder demais pra se fazer acontecer. Com poucos minutos de filme ele se estabelece e acontece. E ainda que possua um dos melhores finais dos ultimos anos, ele prende a expectativa do espectador ate o ultimo suspiro. E ao invés de causar um grande uau nos deixa com um sentimento de dor. Ao menos é o que deve ocorrer. Importante dizer que o final foi alterado. O que foi mantido é satisfatório, mas o original- que acredito que todo não branco conseguiria prever - seria mais aterrador. Dinâmico quase cômico e extremamente angustiante pela originalidade que trata o racismo como terror muito mais interno do que externo, Get Out nada mais é do que foda pra porra!
Ps: e que atuação do moço de Black Mirror ne? Cada vez que um ator consegue atuar com os olhos, eu fico de queixo caído. Em tempo: xícaras e colherzinhas de chá podem ser perigosas...
Finalmente assisti ao filme "Lion" que veio com o subtitulo de "Uma Jornada para Casa", do diretor estreante Garth Davis e roteiro de Luke Davies. Baseado na autobiografia de Saroo Brierley, o filme conta a trajetória de Saroo, garoto indiano que vivia seus dias de miséria ao lado do irmão mais velho Guddu (Abhishek Bharate), roubando carvão de trens de carga, para vende-los e conseguirem comprar leite para a mãe solteira, trabalhadora de uma pedreira, e sua irmãzinha mais nova. Ate que um dia, quando o irmão mais velho sai para um trabalho noturno, Saroo, de apenas 6 anos de idade se vê perdido dentro de um trem que o leva a mais de 1600 km de distancia de casa. Apos meses perdido, e sem noticias de sua família, ele é adotado por uma casal Australiano, com quem vive ao lado de outro irmão adotivo indiano por 20 anos. Ate que o vazio no peito de querer saber o que ocorreu com sua família biológica o assola e ele começa a entrar num conflito em tentar acha-los.
O filme por vezes evoca 'Quem Quer Ser Um Milionário?', mais pelo tom de busca do que apenas pela característica de termos não só um filme ambientado em boa parte na Índia, mas também o ator Dev patel vivendo Saroo em sua versão adulta. Mas, ao contrario do Oscarizado filme, Lion possui uma estrutura linear de narrativa, que mostra passo a passo a jornada da pequena criança desde seus dias de pobreza mas felizes ao lado da família, ate cada perrengue enfrentado nas ruas frias escuras e insensíveis. Alias, nesse aspecto, o filme mostra uma critica social bem interessante e triste sobre como não só o pais, mas a sociedade em geral trata crianças em condição de miséria econômica. O menino surge quase como uma figura invisível, ignorada, perambulando desamparado clamando pela mãe e pelo irmão mais velho com quem tem uma ligação forte. ninguém parece o enxergar, ate que este ocupe de forma direta ou indireta um espaço que não lhe é permitido estar, como uma estação de trem/metro por exemplo, 'atrapalhando' a fila de compra de passagens.
O filme que conta com pouco mais de 1 hora de 40 minutos de projeção, dedica mais de 50 minutos destes a mostrar essa infância de Saroo. Incluindo inclusive um perigo que indica ate mesmo exploração sexual. E a força do filme se encontra totalmente nesse primeiro ato. A narrativa dessa criança, tanto pelo trabalho de direção coeso e correto, de transmitir através de longos planos que em nenhum momento nos faz esquecer a dimensão de desolação do garoto, incluindo uma paleta de cores na fotografia que transmite uma sensação de sueira, de perigo e urgência em tons escuros, levemente cinzas e alaranjados; quanto de roteiro bem escrito e delimitado, que dá tempo ao tempo para nos conectarmos com os medos e descobertas daquela criança, quanto pela própria figura do ator que vive Saroon. O pequeno vivido pelo ator mirim Sunny Pawar é talvez o personagem/ator mais fofo e terno que o cinema mainstream do ano passado viu. Sua fragilidade e fofura, unida a sua inteligencia e perspicaz e seu olhar impressionante e expressivo, nos dota de extrema empatia e sentido de proteção aquele jovem. E ao mesmo tempo nos transmite a força da realidade de desamparo de outras tantas bilhares de crianças na mesma situação que este.
Mas, se a primeira metade do filme faz bonito, a segunda metade derrapa feio em não conseguir manter o ritmo criado. A partir do momento que Saroon cresce e dá lugar a Dev patel em seu papel, o filme ganha ares de previsibilidade alem da obvia designada já pelo tom autobiográfico do longa. cada dialogo e ação, destoa num tom quase que melodramático e nanequista de delimitar muito formalmente o bem e o mal, o certo e o errado, de forma quase novelesca. Incluindo aqui um romance desnecessário pra trama entre Dev patel e Rooney Mara, que apesar do enorme talento e da química ate que verossímil dos dois, não ha razão para existir para impulsionar a narrativa. Sua função esta ali unica e exclusivamente para estender mais do que deveria o longa. nem mesmo a tentativa de elucidar a figura dela como namorada a da mãe biológica funciona. E mesmo elipses temporais de ambiente, que teriam a função de metaforizar a busca e sensação de labirinto do personagem em busca de identidade são bem inseridos. Assim, quando vemos Saroo entrando na água, e um corte mostrando sua própria mãe entrando na água, ou mesmo quando vemos Saroo vendo sua namorada saindo de sua cama para voltar para a faculdade e de repente vemos ele vislumbrando a versão de seu irmão guardada na memoria no mesmo local de onde sua namorada saiu, relacionando a perda, o afeto perdido/ escapando, não funcionam bem e soam 'forçados' ou no minimo desnecessários inclusive esteticamente.
Dev Patel faz o que pode, diante de uma versão sua adulta sem grandes desafios. Sua atuação se resume a frustração e apatia. Mas, não é uma atuação ruim, pelo contrario, é correta. É seu personagem que não tem muita coisa que chame atenção, como sua versão infantil. Isso em grande parte, justamente pelo roteiro confiar que nossa ligação de empatia com o personagem, se estenderá a ele apos a mudança de ator. talvez confiando na simpatia também do conhecido Patel. Mas, essa ligação não ocorre de forma suficientemente forte para que compremos da maneira devida sua busca e sofrimento interno. da mesma forma, que o mesmo roteiro que delimitou tão cuidadosamente a trajetória da infância, não parece conseguir construir a mesma logica na busca investigativa incansável do Saroo adulto em encontrar e remontar seus passos sozinho por meio da internet. O filme edita demais essa parte crucial para que o climax pudesse funcionar da maneira arrebatadora pretendida. Já Nicole Kidman que vive sua mãe adotiva, consegue transpor com eficacia todo sentimento e devoção de uma mãe que ama incondicionalmente seus dois filhos adotivos como se fossem - e realmente acabam sendo no final das contas - seus. Seu olhar terno, sua voz doce, seu sorriso sempre calmo que expressa por vezes sofrimento e ansiedade é tocante, principalmente em seu ápice, quando esta faz um monologo explicando o que a fez adotar as duas crianças, mesmo uma delas tendo problemas psicológicos. É emocionante e justifica sua indicação ao Oscar de melhor atriz coadjuvante.
Com um terceiro ato que é culminado por uma sucessão de 'destinos' quase que 'divinos' reforçando o tom 'correto' do longa, o filme consegue recuperar parte do seu encanto inicial, mas derrapa novamente quando tenta fabular demais seu climax, restando a sensação de que vimos um filme ok. Que não pretendeu ou não conseguiu estender sua trama fechada a risca da qual foi baseada - em fatos reais - na cinematografia que poderia.
assisti finalmente ao "O Apartamento" do iraniano Ashgar Farhadi, que já havia vencido o Oscar de Melhor Filme estrangeiro com 'A Separação', e agora venceu novamente com este que é um estudo complexo sobre relacionamentos e a estrutura da sociedade iraniana com relação principalmente as mulheres. Emad (Shahab Hosseini) e Rana (Taraneh Alidoosti) são casados e encenam a montagem da peça teatral "A Morte de um Caixeiro Viajante", de Arthur Miller. Um dia, eles são surpreendidos com o alerta para que eles e todos os moradores do prédio em que vivem deixem o local imediatamente. O problema é que, devido a uma obra próxima, todo o prédio corre o risco de desabamento. Diante deste problema, Emad e Rana passam a morar, provisoriamente, em um apartamento emprestado. É lá que Rana é surpreendida com a entrada de um estranho no banheiro, justamente quando está tomando banho. Horas depois, Rana surge gravemente ferida. E o trauma dela e do marido pelo ocorrido, modificam completamente a vida de ambos. Aqui, mais do que em seus outros filmes brilhantes, Farhadi elabora uma quase odisseia metafórica de desabamentos e rupturas em todas as instancias. A moralidade entre justiça e honra, se misturam, a ponto de a honra do Marido subjugar a própria vitima que é sua esposa. Como se o mais importante ali, na busca do marido, fosse antes de tudo buscar vingança para sua honra quanto homem e protetor da família, do que exatamente buscar justiça para o crime sofrido por sua esposa. De tal forma, é interessante que eles serem atores - e ele somar a educação ao currículo, fomentam um paralelo constante quase que de metalinguagem. A peça de "O caixeiro viajante" estabelece em forma de representação as falas que marido e mulher se recusam a estabelecer entre eles na vida 'real'. Da mesma forma, a morte do caixeiro na peça representa uma morte considerável na trama deles. Mas, que ao contrario do material cênico, cria um emaranhado de emoções, e não um final propriamente dito. é simbólico por tanto que ao final, os protagonistas estejam sendo maquiados, em frente a um espelho, mirando a si mesmos, mas sem ver seus reflexos reais. Aquela relação se transforma diante do inicio, quando sabiamente nos é introduzido o filme, com um pouco a meia luz indo aos poucos se revelando. Outro ponto curioso, é a forma que o diretor nos mostra mais uma vez as falhas ou no minimo, camadas opressivas as mulheres ali. O crime, em nenhum momento é cogitado ser denunciado por Rana. Isso remonta uma serie de duvidas no espectador ocidental, ate que nos damos conta, de que sua recusa a ir a policia, ocorre apenas e puramente pq ela teme ser culpabilizada da própria agressão que sofreu. E em dado momento, ainda que em nenhum momento o filme cite que ela possa ter sido sexualmente abusada, a duvida de poder ter sido, assola a cabeça do marido e dos vizinhos e da própria Rana, fato tal, que se ocorreu ou viesse a tona, seria o fim daquela mulher. Mas, se ha toda uma complexidade de conteúdo no roteiro, O Apartamento sofre de ritmo. Uma vez que ele parece não conseguir a dado momento, mais próximo ao fim, manter uma verossimilhança plausível para o contexto da trama, uma duvida de moralidade entre certo e errado cabível para nos fazer pensar muito tempo sobre ela. Mesmo que, eu pessoalmente tenha entrado no conflito momentaneamente. Quando um personagem velho surge ali no apartamento vazio rodeado de rachaduras, a impressão é que ele surge mais como um reboco do que uma dinamite para os protagonistas. e essa é justamente uma intenção oposta a esperada para o desfecho.
Mas, creio que a grande sacada aqui - e compreendo totalmente a escolha, mas não a forma de exceção -; é justamente passar a mensagem de que a violência ao qual as mulheres são submetidas diariamente podem ocorrer de qualquer pessoa.
Mesmo de um velhinho aparentemente 'direito' e 'inofensivo'. A questão aqui permeia a questão final que perpassa a cabeça silenciosa de marido e mulher ao ver o velho: um aparente erro deve ser suficiente para destruir todo o restante de vida que ele possui pela frente - e levando consigo as vidas e honra da família dele que tem nada com a historia? Ou sim, pela duvida, de não sabermos ate que ponto foi um erro impulsivo ou algo recorrente, ele merecia sim ser exposto a família? lembrando que aquele quarto repleto de objetos não esta ali na trama atoa ou apenas para justificar a existência da 'prostituta' que morava ali. Não. O quarto representa justamente toda uma vida oculta, desconhecida, que ao mesmo tempo que mostra pelos objetos uma serie de retratos bem intencionados, também soam estranhos, sujos e mal organizados. Dispares. Quando o velho se revela, aquele quarto nada mais é que a presença anunciada daquele personagem na vida do casal. Que já estava ruindo aos poucos tal qual o apartamento deles. E sua constante presença preenchendo uma comodo da relação daqueles dois é o suficiente para ocasionar todo aquele desfecho tenso. (e lembrando que o velho se encontrava com a 'prostituta de qualquer forma', e ha fotos que insinuam ate que ela possui filho, seria dele?)
E é justamente essa pluralidade de questões que destoam do objetivo central do casal, que me incomoda um pouco em questão de termos uma condução orgânica. Ainda assim, é um filme excelente que demonstra a habilidade de um diretor que consegue expressar todo um universo das pequenas coisas cotidianos do ser humano. Um diretor humano acima de tudo.
Acabei de assistir a "Jackie" filme do chileno Pablo Larraín que conta a historia dos dias de se seguiram na vida da ex - primeira dama dos EUA após o assassinato do então presidente John F Kennedy em 1963, que ate hoje permeia a historia como um dos acontecimentos políticos mais marcantes do mundo, por ter sido televisionado. Logo de cara, o filme inicia com uma fala de Jaqueline 'Jackie' Kennedy dizendo que a historia é aquilo que vemos nos livros, mas que jamais saberemos se de fato elas constituem a verdade. Ate que chegou a TV e nos mostra ela. Mas, como saber o que é real e o que é encenado? E isso permeia a narrativa toda, num filme que antes mesmo de ser uma especie de cinebiografia ficcional - uma vez que acompanha não inteiramente fatos, mas recortes de percepção desses -, da mais famosa Primeira Dama da historia, é um filme que faz um estudo sobre a percepção entre o real e o irreal da vida publica e a vida privada, e seus meandros. E como se não bastasse ainda oferece uma construção complexa de uma mulher extremamente emblemática. Jackie a mulher, foi uma pessoa enigmática, ate o dia de sua morte lá em 94. No entanto, a sensação que se tem é de que a conhecemos bem, uma vez que foi uma das primeiras a abrir a Casa Branca à vida publica. Aproximar o povo do politico privado. No entanto, sua forma de falar, de andar, de agir, entre seus casados rosados e seus penteados milimetricamente feitos, exibiam olhares e entonações vacilantes, ora tristes, ora distantes, ora de êxtase, ora indecifráveis. O filme possui um designer de produção absurdo, que resgata e remonta à época com detalhismo grandioso, em muito devido a sua fotografia sempre e propositalmente granulada, com grão evidentes para remeter a qualidade dos videos da época e do tom documental, adotado inclusive em suas cores em tons pasteis e na câmera constantemente vacilante e na mão, que produzem planos quase que colados no rosto de Jackie. Não ha praticamente nenhum frame desse filme que não tenha o rosto de Natalie Portman escancarado, para captar cada detalhe de rugas e expressões de seus movimentos, seu respirar. É o tipico filme que fornece a atuação da vida a uma atriz. E se já nos surpreendemos com Natálie no soberbo Cisne Negro, aqui, ela chega a ser assustadora, tamanha fidelidade e reconstruir Jackie Kennedy em tela, em seus maneirismos, e por doar uma performance multifacetada condizente com o estado emocional e talvez psicológico da personagem. Curioso como por exemplo, na cena em que vemos Jackie em frente a um espelho de três faces, constatarmos que isso simboliza a múltipla personalidade no que diz respeito a suas intenções e humor. Jackie é capaz de se vestir esmeradamente, ao mesmo tempo possuir uma voz mansa e falar quase que sussurrando, para no entanto exibir um olhar astuto que vai do assustado, ao perspicaz, do ameaçador, ao melancólico, da firmeza ao enigmático entre um piscar de olhos e outro. Natalie assume uma persona completamente hipnotizante em tela onde a todo instante nos passa a sensação: de quem vc realmente é? Mas, é o trabalho de som desse filme que muito mais do que seu personagem titulo, arrebata. O som de Jackie é algo fora de serie. Ele transmite com competência e desconcerto, as nuances internas de Jackie independente do que ocorre no externo. Com musicas com base em instrumentos de cordas, em crescentes ora estridentes ora quase imperceptíveis, o desenho de som vai construindo uma carga dramática envolta da historia, das lembranças e relatos daquela mulher de tal forma, que quando cessam para dar lugar ao silencio, ao som de seus passos, ou a um canto de pássaros, quase que o coração do espectador salta. Um trabalho fantástico. Mais do que um simples filme sobre uma personagem icônico, Jackie nos leva a constantemente querer desvendar quem é aquela mulher. O que ha por trás daqueles casados rosados? O que ha por trás da dor daquela mulher que teve sua vida exposta por escolha quando se casou, e que viu se viu segurando os pedaços do cérebro de seu marido assassinado? Quem era Jackie por trás daqueles olhares, daquelas decisões e ações? O que nela era ensaiado e encenado e o que era real? Independente do que for, ela ficou para a historia, tal qual o marido e seu assassinato. Como diz a canção Camelot, insistentemente tocada e remontada. E definitivamente este filme e Natalie Portman fazem jus a esse peso todo. Este não é um filme de ações, mas sim de reações. Chato pra uns, instigantes para outros. Dual, tal qual a carreira e a trajetória de todos os Kennedys.
o terror "Don't Breathe"(O Homem nas Sombras, mas que em tradução literal seria "Não respire"). é bem construido naquele esquema de plot twist's constantes. Quando vc acha que terminou, ha reviravolta. Assim ele se assume muito mais como um Thriller de horror do que um filme de terror. É interessante, diante de tantas produções do gênero tão apagadas e mal estruturadas. Ainda que o filme possua uma base quase - quase, não chega a ser - gore na narrativa, onde se torna previsível quem ira sobreviver, uma vez que ele estabelece seu protagonismo de fato logo no inicio desenvolvendo duas personagens. Isso quebra um pouco a expectativa geral, mas nada demais. um bom filme de gênero que usa a sonoplastia a seu favor.
Ia escrever critica sobre e debater, mas... então só vou comentar mesmo: A Historia apesar de tratar de uma pessoa real, e nos dar trajetória reais, se trata de uma ficção, pois vemos o filme pelo ponto de vista do próprio Michael e pelo olhar do diretor sobre o ocorrido. Assim, o filme assume uma posição que visa ser neutro na discussão entre sexualidade e religiosidade que permeia tanto a vida de muitos LGBTS. É interessante que o filme consegue tornar crível e relevante o embate do próprio Michael nessa trajetória de tentar entender aceitar sua orientação e depois combate-la. Obvio, que atualmente esse atual pastor é um condutor de discursos de ódio e violência, e apagamento da identidade LGBT no mundo (um Malafaia feat Feliciano da vida), no entanto o que o filme propõe é mostrar como que ha muito mais complexidade nessas questões de vivencia e opressões da sociedade em padronizações de como devemos ser, que levam ate mesmo um oprimido se tornar um opressor , talvez de si mesmo - Não fica claro analisando pelo filme se ele quer propor que ele seja talvez um ser humano gay ou um ser humano bi ou ainda um ser humano confuso sobre isso. O filme termina nos deixando esse debate e duvida, sem jamais apontar um lado como certo ou errado (ainda que a atuação do James Franco, fabulosa alias, seja inclinada para um lado especifico no final). Apesar das polemicas e eu compreender as pelicas envolvendo esse filme, pelo próprio caráter inicial de ser 'neutro', eu o interpretei mais como uma sugestão de debate sobre. Mas, compreendo que de um lado, ha ativistas e militantes LGBTS que vejam aqui um filme que sirva como munição aos fundamentalistas cristãos conservadores e LGBTfobicos. Da mesma forma, vejo também um filme que pode servir para a própria comunidade LGBT que precise e busque uma religiosidade cristã, refletir que pode coexistir tendo sua fé e sua sexualidade. Compreendendo as nuances complexas dos varios discursos que permeiam isso tudo. Um filme bem conduzido, que mantem um ritmo bacana, com boas atuações.
Revi esses dias a esse filme, e que delicia. ou como exclamei ao final dele: que filmão da porra!
É bem interessante como o diretor constrói a logica do da psique que envolve o filme, através do figurino e da direção de arte. gradualmente vemos o núcleo central de personagens, mergulhando e ascendendo entre cores apagadas e cores vivas, entre ambientes de fotografia escura e claras, se contrapondo par estabelecer o quão próximos da verdade estão. Por exemplo, na cena em que Roy surge pela primeira vez tecnicamente para nós, como que a iluminação gradualmente cai em cena, e a câmera fecha, nos colocando como espectadores emergindo tal qual aquele personagem para fora. ou como quando aaron retorna e a câmera faz o oposto. e iluminação se restabelece. Ou como que temos takes sempre focados em determinar de forma clara e objetiva os elementos e ações. vemos um personagem bebendo numa bar. e a câmera nos mostra o copo indo a boca. o copo indo a mesa. a mão buscando o cigarro. a mão acendendo o cigarro. a boca tragando o cigarro. a mão indo ao bolso. a mão retornando do bolso. a m]ao deixando o dinheiro para pagar. Como quem estabelece uma coerência de atos e ações para contrastar com a própria realidade da desconexa realidade dissociativa que paira no desfecho.
Interessante também como que o filme lida com a característica da d
upla - ou no caso, talvez múltiplas - personalidades, de maneira sociopatica e não psicótica. uma vez, que na realidade, desde o inicio conhecemos um personalidade consciente de que possui múltiplas personalidades e as usa a seu bel prazer. Vai na contramão de filmes do gênero pra época ou ate mesmo para hj em dia. i
sso estabelece um gancho de complexidade de construção de personagem bem interessante e que coloca em xeque a própria narrativa, afinal, é como se fossemos tomados por uma trama cujo principal elemento de condução (personagem do Norton) não fosse de fato quem inicia. Pq ha sempre esse jogo entre
Quais vezes vimos aaron, quais vezes vimos roy? uma vez que roy poderia fingir ser aaron da maneira que bem quisesse. Ele não precisava de fato acessar aaron. e
é esse a grande chave genial do final. criasse um debate tênue e infindável de possibilidades.
Inclusive dessa vez notei que ao contrario da primeira vez que havia visto, todos os personagens centrais possuem algum 'transtorno" (e uso transtorno por falta de expressão melhor). Um egocêntrico assumido, outra fumante compulsiva, outra (a juiza) que sempre surge bebendo algo alcoólico. os assistentes que surgem com personalidades opostas. se a a assistente é contida e parece sempre ter algo a dizer mas se retrai. o outro o assistente é mais explosivo, e mesmo quando não tem o que dizer não se limita.
E isso remete diretamente ao nome original do filme. Que em tradução livre seria algo como medo primitivo, ou medo primordial. Se considerarmos que de maneira rasa, todas questões
tem origem do medo de algo, o filme estabelece esse jogo onde todos ali possuem um medo primitivo que visam conter ou combater. No caso do protagonista vivido pelo Gere, nada mais é do que o de confrontar sua crença de que todo ser humano possui uma essência boa.
Caso que ele não se enganou completamente se lermos o caso de Roy/Aaron como um caso de um ser que sofreu sucessivos abusos e violências e criou uma força incontrolável ate para si mesmo para poder se defender. Quem garante que a essência de Aaron é o aaron e não o roy?
Fica a questão...
E Canção do mar embalando as cenas só aumenta o xodo.
Aniquilação
3.4 1,6K Assista AgoraQue filmão da porra!
É interessante que apesar da temática girar em torno de evolução e expansão vs autodestruição e cura, o filme consegue tornar físico e macro a relação biológica e química da construção e essência de células e doenças e toda a forma de existência viva que a gente encontra pelo universo. Ao mesmo tempo em que de forma metafórica ele lida com culpa, sombras, e transformações.
Há o aspecto científico e existencialista e emocional novamente aqui. Tal como o diretor fez na Obra prima dele Ex-Machina.
Há tbm analogia com doenças degenerativas como câncer. Ou auto imunes como AIDS e Doença de Chron por exemplo.
A forma que certas efermidades destroem o hospedeiro na expectativa de sobreviverem e se expandirem. Um ciclo de autodestruição em busca de sobrevivência. Um paradoxo eterno. Uma falha da natureza ou como o filme joga na roda, de "deus"? E que nós seres humanos tbm não estamos imunes. Seja no meio em que vivemos (planeta. Alo Mother!) Seja nas relações e correlações interpessoais e na nossa forma de lidar com nós mesmos.
Quem tiver o livro (que é uma trilogia aliás) já pode me presentear ou emprestar que aceito.
O final é do tipo de sci fi que eu sinto falta as vezes. O oculto sendo mais interessante do que o explicado. Há um limite aqui de explicação direta mas que se analisado nos detalhes (em especial à trilha que até então eu nem tinha prestado atenção até subir os créditos) vira outra coisa. Insano.
Um copo. E toda uma refração num prisma bem executado.
Ps: Ouroboros nunca esteve tão presente né? Om Namah Shivaya.
Amei.
Obs: Oscar Issac é um camaleão. Todo filme que faz ele parece ser outra pessoa de fato. Mozão. E Natalie Portman venka com Will. 💗
Vende-se Esta Casa
1.4 988 Assista Agora"The Open House" (Traduziram como "vende- se esta casa"), traz o ator de 13 Reasons Why e é um suspense com toques de terror. A construção do clima de suspense é eficiente. Formula batida mas, que funciona. No entanto o desenrolar possui artifícios de roteiro ruins que estão ali apenas para propositalmente confundir o espectador e não pra mover ou estruturar a narrativa. Exemplo: não ha motivo algum que justifique o protagonista não enxergar nada sem óculos ou lentes. Não ha justificativa para a mãe amar fotografia. Ou pro protagonista sonhar em ser corredor profissional. São coisas que não possuem motivo de ser dentro da logica de construção narrativa. Sendo assim estão la para criar expectativa jamais suprida.
O final - que revoltara 99 entre 100 pessoas - é falho e anti climatico. Dando margem para 3 interpretações possiveis que colocarei abaixo com alerta de spoiler desde já:
1: o assassino era o cara que arruma o sistema de aquecimento do chuveiro. Ele em parceria com a Martha (vizinha) que queriam a casa para eles. Talvez a casa fossem deles antigamente. Ou simplesmente não querem ngm ali. Matando eles fazem a casa perder valor imobiliário afinal assassinato impede que o valor e interesse de uma casa se sustente. Assim ou eles permanecem isolados como querem ou podem adiquirir a casa por um preço irrisório. Deixam o garoto Logan escapar para parecer que ele matou a mãe e o crush dela por problemas mentais após a morte do pai e depois se suicida no Rio.
2. Não importa a identidade do assassino pois a intenção é justamente desenvolver o suspense incerto e não fornecer conclusão. A ideia de que casas abertas podem possuir uma história ou visitantes vivos ou mortos que jamais deixam aquele espaço. É criar clima de incerteza. Inconclusiva mesmo. Alias, nesse sentido por isso o assassino não possuiria uma logica na forma de matar e amedrontar as vitimas. Assim como o do pq em varios momentos parecer que a casa possui assombrações vide cenas do porão.
3. O filme querer se tornar franquia nos moldes de Pânico. Com vários filmes de assassinato em casas a venda. Sem jamais revelar sua identidade. Mantendo a aura do assassino ameaçadora diante dessa possibilidade
Qualquer uma dessas opções me desagrada, pq o roteiro a forma que ele foi construido não sustenta em logica nenhuma das opções. Talvez apenas a da franquia mas ja me desagrada essa solução contínua atual.
Um filme que poderia ser muito mas, encerra sendo apenas regular.
O Sacrifício do Cervo Sagrado
3.7 1,2K Assista AgoraO Sacrifício do Cervo Sagrado e pqp uau!
Depois de O Lagosta não espero nada menos desse diretor.
E ele me provocou a sensação mais surpreendente desses meus 28 anos de vida: perceber que eu ainda lembro da matéria de filosofia que tive no ensino médio ao resgatar Ifigénia, de Eurípedes. Tbm pudera. To impressionado que eu ainda lembro. Inconsciente é mesmo doido ne.
Muito sobre o signo do ser Homem quase mítico repleto de falhas, e horrores, aqui, o diretor estar mais preocupado em expor a familia perfeita. Perfeita por fora e podre nas entrelinhas. Não uma ou outra específica. Mas todas as nossas. Familia vista como sagrada mas, repleta de humanos, por si só, cobertas de rachaduras. É curioso ter visto esse filme após a obra prima que foi "Mother!" Assolar os cinemas. Simbolismos e míticos signos sobre relação, culpa e consequência num universo unico que é a marca registrada ja do Lanthimos: o mundo dos absurdos. Nada aqui é sobre verossimilhança. Ele usa o lado absurdo e quase doentio do universo pra contar auas fábulas. Aqui temos ate mesmo quem sabe, um messias às vezes ou, ou Moisés de mares secos. Menos bíblico que Mother! Mas igualmente desconcertante.
Se Aronofsky nos trouxe um horror surreal, Lanthimos traz aqui um terror surreal. Bem no limite que faz horror e terror não serem a mesma coisa.
Muito sobre como homens não assumem nada e muito sobre o sutil distúrbio que todo ser humano possui em seu mais nefasto segredo intimo que não admite nem pra si mesmo. Um filme que fala sobre coisas obscuras não necessariamente de maldade. Mas sombras. Sombras que negamos pois vivemos num mundo que só aceita a luz. Complexo e perturbador. Desumano no modo de se apresentar justamente por falar de humanidade. Foda pra carai. A camera aqui tem um trabalho mais exemplar que seu filme anterior. Ela expressa a distorção. O desnível. A todo instante. E de maneira obvia ate.
O cervo, ironicamente que viria a se tornar um homem um dia, é justamente o único elemento "virgem" das rachaduras todas. Ainda que antes do sacrifício tenda a repetir o desespero pela vida como qualquer pessoa comum.
É notável tbm como o filme flerta com a forma de disfunção que o homem trata o sexo. Anestésico. De posse e não de concessão. Cruel.
Um filme pra psicanálise e nem um pouco para quem não compreende insanidades.
Ps: dei um grito assustado quando percebi que realmente estava vendo a Alicia Silverstone . Bizarra. Como não podia deixar de ser aqui.
Três Anúncios Para um Crime
4.2 2,0K Assista AgoraQue delicia! É curioso que notei muita gente desgostando desse filme. Não pesquisei ainda nada sobre ele pq não pretendo escrever análise. Mas, o melhor do filme nem é somente o humor repleto de ironia e sarcasmo (e impressionante como realmente a Era Trump esta influenciando os textos de Hollywood ne? As indiretas sobre o governo dele e as ideologias que eles liberaram de ódio e intolerância, são visíveis.). O melhor é o subtexto que vesa sobre o sistema falido das instituições. Ha o político social como disse de reflexo Trump e seu desencadeamento de odios e discriminações antes veladas e agora com holofotes e outdoors aplaudidos e tolerados, mas ha um quê de falar sobre sistemas judiciários e institucionais gerais que achei brilhante.
Mildred é uma personagem fascinante. Quebrada mas que quebra tudo ao redor ao mesmo tempo. (E a atuação da Frances realmente, eita nois!). E Willoughby e Jason são reflexos dela de uma perspectiva de traumas e curas. Um misogino, lgbtfobico e racista agressivo que máscara talentos e dor da perda de alguém proximo. Um doente terminal dedicado a profissão mas, que foi se perdendo diante da eminente dor da morte precoce. E uma mãe vitima de violência doméstica, de traições que tenta obter paz na justiça de ver o criminoso que brutalizou e tirou a vida de sua unica filha. 3 vidas marcadas por dor e morte.
A redenção do Jason não me convence, mas. Cartilha seguida a risca. Alias, as pontadas que estabelecem todos os homens no filme como seres hostis e falhos seja na ação ou no modo de agir com exceção daqueles marginalizados pela sociedade (gay, anão, negros) é plausível para se refletir esse momento de Babel sitiada.
Amei!
Uma Razão Para Viver
3.7 114 Assista Agora"Breath". Com uma atuação mais uma vez inspirada de Andrew Garfield (e de Claire Foy) e com personagens cativantes. Uma história real daquelas de te fazer se acabar de chorar pro resto da vida. Ao mesmo tempo, é gostoso de perceber que o roteiro não se prende a maniqueísmo forçados a todo instante. O filme não possui melancolia. Pelo contrário. Quando se abraça a trama, nos pegamos rindo a cada dez minutos. Rindo de gargalhar e com um sorriso sempre presente no rosto apesar da história trágica. Isso pq o personagem nos leva a sorrir com ele. Da tragédia dele. Mesmo em sua depressão. E não é nada do tipo "good vibes deus no coração". Pelo contrário. É a escolha de um homem que viu sua vida se transformar em dor, e pegar essa dor e exalar riso enquanto puder ou enquanto aguentar. De forma racional e claro, emotiva. Um drama com romance e humor delicinha pra quem gosta desse tipo de filme. (Os últimos 20 minutos é de inchar de chorar). Destaque pra uma cena em que a câmera utiliza lentes de grande angular pra passar o transtorno interno de toda situação. Com planos distorcidos e profundidade de campo idem. Enquanto a personagem de Claire se torna apequenada diante da situação opressiva as suas emoções. Cena inspirada
Sem Fôlego
3.0 76 Assista Agora"Wonderstruck" do mesmo diretor de "Carol". Um filme que brilha lela reconstrução das décadas se 20 e 70, tanto na estilização do resgate de figurinos e da própria NY da época, quanto no esmero em trazer um ode ao Cinema mudo. Com referências e forma de filmar que é um deleite pra qualquer cinéfilo. A trama em si carece de vivacidade suficiente, mas vale a pena pela arte toda da narrativa que intercala épocas distintas de maneira orgânica. A menininha que esta na década de 20 é uma graça. Julianne Moore correta como sempre. Apenas. E Michelle Williams passa quase despercebida.
A Forma da Água
3.9 2,7K"Incapaz de definir a Tua forma, eu o vejo ao meu redor. Tua presenca preenche meus olhos com o Teu amor, acalanta o meu coração pois, esta em todos os lugares."
E Guilherme Del Toro mais uma vez não decepciona. Depois do deslize que foi A Colina Escarlate onde a preocupação parecia ser mais grafica do que necessariamente narrativa - e gosto do filme mesmo assim - Del Toro parece ter recriado ou resgatado sua própria forma em que mescla seus melhorrs atributos numa celebração daquilo que faz ele ser quem é, esmero artístico de um universo unico e rico. E o resultado é de tirar o fôlego com o perdão do trocadilho com o título.
The Shape of Water ou "A Forma da Água" tem vislumbres de Amélie Poulain numa versão mais erótica, madura e soturna. Ainda que a bebida usada tenha sido O Monstro da Lagoa Negra, não tem como negar que essa fábula remonta questões que vão além do "filme de monstro". Com um direção de arte impecável com detalhes inventivos e ate significativos de tons de verde, e uma trilha com direito ate à Carmen Miranda, A Forma da Água é uma fábula sobre desajustes. Sobre aqueles que são tratados e vistos como monatros mas na verdade não o são. Os monstros de Del Toro aqui não são apenas seres miticos do folclore da América do Sul com guelras (e que trampo fantástico de maquiagem e expressão corporal!), são negros e negras, são gays e lgbts. São pessoas mudas e deficientes. Em plena Guerra Fria, Elisa (Sally Hawkins numa performance uau), vive a vida vendo suas belezas e levezas. Trabalha numa instalação secreta da base do goverbo americano como faxineira. Ela é muda e ama musicais. Vive seus dias na companhia de seu melhor amigo Giles (Richard Jenkins), um velho de 57 anos, ilustrador renegado e gay solitário apaixonado pelas divas do Cinema e seu musicais. Vivem em cima de um Cinema antigo e decadente chamado Orfeu e que exibe continuamente filmes com tons bíblicos como A História de Ruth. No trabalho, tem em Zelda (Octavia Spencer) uma melhor amiga e protetora. Sua voz ali. Negra, tbm faxineira, num casamento machista e sexista mas apaixonado. E nada aqui descrito é por acaso. Cada elemento escolhido pra compor esses personagens diz muito sobre o poder do filme.
A figura do doutor da União Soviética Hoffstettler (Michael Stuhlbarg), que apesar disso abandona o país para ir trabalhar com o inimigo na esperança de aprender mais e fazer mais pela ciência e que na verdade se sente perdido num mundo político desajustado, e a do agente Strickland (Michael Shannon, fenomenal!), responsável por trazer a Criatura da América do Sul para estudos e para servir como arma na corrida espacial contra a União Soviética, extremamente vilanesco como qualquer fábula não podia deixar de ter, representam facetas da sociedade que Del Toro conversa. Os monstros são àqueles "de bem" padrões. O "diferente que traz a força do bem. A água e suas formas e estados, representam não somente o mundo desconhecido tal qual o dos céus que o Homem é tão fascinado. Mas simboliza a pureza e escuridão daquilo que transforma. Assim, Não por acaso a criatura que pros nativos das florestas cultuam como Deus da proteção da natureza, vive ali ainda que possa andar na terra tbm.
Um ode ao Cinema musical dos 60 com direito a uma ousada sequência em PB que marca talvez a filmografia desse diretor inventivo. Uma história de amor de A Bela e a Fera as avessas. Onde a forma importa muito mais do que a aparência.
Lindo.
Ps: detalhe as cores vermelhas pontuais e tão delicadas na forma que são inseridas e no que significam. Que delicia!
Mãe!
4.0 3,9K Assista Agoraedit: postei para quem pediu, no meu blog tbm >> http: //criticofilia. blogspot. com. br/2017/12/explanacao-critica-de-mother-com . html (basta retirar os espaços entre os pontos)
"Você nunca me amou. Você ama, o amor que eu tenho por você."
"Eu sou o que sou"
*(Talvez spoiler. Explanação sobre a Obra)*
Quando Aronofsky encontra seu lado Lars Von Trier, e desencadeia um instinto Polanski, que cruza com Tarkovsky, nos temos A Cria, A Criação e As Criaturas sob e sobre os olhares da Mãe, em meio a reflexos de Lynch.
A nova Obra Prima de Darren é um ode ao horror e ao quase surreal, que não só carrega o universo todo de camadas e, possibilidades interpretativas, como se torna um filme de gênero próprio de representação de um pesadelo. Humano ou divino.
E vai psicanálise e religiosismos. Ou ate mesmo filosofias e manejos sociais. E ha um caráter aqui e ali de estrutura existencialista pra completar o big bang todo que implode em tela.
Fato é, que "Mother!" não é um filme qualquer. E classifica-lo como tal, é um erro ingênuo ou no mínimo irresponsável. Em suma,
nem sobre a biblia e o divino, nem sobre o feminino e a natureza essencialmente. Mas simn sobre a Criação. O processo de criação da própria arte. Da própria existência, no sentido amplo da expressão e não da vida humana ou de átomos e células. Criação do artista. Criação do que faz existir Cinema e arte em si. O parto, o fanatismo, a idolatria. O desespero. O zelo, a angustia, a solidão, o caos, a dor, o flagelo, o sacrifício, a realização e a ira.
A morte e o exorcismo. O culto, a confusão, o silêncio e o gritar do descontrole. A ruína e o gozo da celebração da voz interna ganhando forma e vida, e a destruição ou suicídio completo, para ter que renascer de novo e de novo, nessa eterna busca do Criador, do artista, do escritor, do cineasta, de sempre precisar criar. E parir algo no mundo, pro mundo, pelo mundo e através do mundo.
Cada vivência pontual ou de anos de cada espectador terá uma interpretação de sentido narrativo pessoal. Pra Darren, o mote é o novo e o velho testamento. É a mãe natureza ganhando forma física de carne, osso, sangue e Espírito. Mas, ele tbm flerta através do feminino, sobre a figura quase de Mito da Mulher na vida humana. E não somente isso, esse mito transformado em gênero social e sua relação com o masculino ora opressivo de máscara protetora mas sempre, devotada. Fala no entanto, também sobre o processo criativo de todo artista. Que seja pelo amor, pelo caos, pela solidão, precisa criar um niilismo apoteótico e quase apocalíptico dentro de si, inclusive através de sua Musa, para criar.
Mother! Fala da mãe, da deusa interna, a deusa que existe pela superfície ou profundeza de todos aqueles que criam. E a partir daí se desmembra visões bíblicas ou terrenas dependendo do contexto e percepção que cada criador ou criatura ou ainda receptores de criações se permitirem criar a partir dele.
Mother! A mãe, é a casa. O lar. A base. É o universo interno e externo. A inspiração e o dom. A valvula de escape e de concentração. Ela representa tudo que gere, que alimenta, que cuida, que protege. E por isso mesmo é a única com força suficiente pra tbm destruir. Ainda que não por artifícios próprios. Paciente e passiva sobre tudo e todos inclusive a ela mesma, ela segue fielmente seu amor por Ele. O Criador. O Poeta. O Artista. O Senhor. Deus.
E como A Casa, possui vida. O design de som faz um trabalho brilhante, onde cada rangido, cada soalho, cada palito espetado numa tortade maçã, ressoam.
Assim quando surgem o Medico, Adão, ou apenas "ele", e posteriormente "ela", Eva ou Lilith, após "ele" ter sua costela arrancada por "Ele" enquanto vomita seu próprio coração podre pelos vícios do prazer, a Mãe, se retrai. Enciumada, desconfia da benevolência daquelas vidas que vem ameaçar sua morada que tenta transformar com as próprias mãos em um paraíso.
Então, surgem Caim e Abel e como profetizado se destroem por ganancia e poder. E após destruirem não só o lar imaculado da Mãe com sangue e violencia e morte, ainda destroem o fruto proibido da chave de toda a existência da criação do Poeta. Destroem em seu cabinete de criação. Eva que também é Lilith, tbm é cobra, sem fruto, destroi a jóia pessoal de Deus. Joia que nada mais é do que o amor incondicional puro e pleno e sem falhas da Mãe (de uma antiga realidade), arrancado apos incinerado e massacrado apenas para ser refeita quantas vezes o Criador precisar criar.
É ego. É soberba. É o sentido de pertencimento e de achar sentido pro existir. Sobre isso que "Mother!" fala. E isso se torna um desatino desesperador de horror de pesadelo de magalomania de insanidade e tudo aquilo que não cabem em explicações. Do Paraíso ao Inferno.
Por vezes a Mãe assume o papel de diferentes personas e mitos. E a história humana atravessa Eras num desfecho insuportável.
Um equivoco - em aberto, uma vez que realmente o filme possui infinitas camadas apazes de possuir a interpretação pessoal para cada espectador, ainda que ele possua uma base de coerência fixa - que é constante no que li apos o filme, é que as pessoas consideram que Mother, assume o mito de Maria na parcela final do filme. Na realidade, Maria no mito, se desprendendo da figura humana de carne e osso, da pessoa ali, ela como simbolismo representa a Terra, a vida terrena e mortal. Ela é um instrumento, um fio condutor de humanidade que Deus utiliza para tornar seu filho divino parte mortal. Por tanto, o ato da Mother dar a luz aquele filho, nada mais é do que a representação de que Jesus veio sendo filho de Deus e da "Deusa" equivalente ao próprio Deus, a Natureza. E aqui falo do mito por trás e não da literalidade da bíblia seja em qual crença ela for, falo de signos que é o que o diretor utiliza quando elabora roteiros em volta dela.
Temos signos infinitos a cada dez minutos de projeção. Com uma câmera claustrofóbica e tonta por vezes, que nos faz virar a Mãe. Respirar com ela, sofrer com ela, suportar com ela e enfurecer com ela. Ha sutileza em detalhes, construídos ora com textos, ora com luz, ora com cores, ora com imagens, ora com atuações. E por vezes é previsível e nada sutil. Como demonstra realmente querer o ser.
Mother! É uma experiência brutal. Para o bem ou para o mal. Seja como for é o típico filme/obra que nasce esporadicamente uma vez a cada 10 anos, em que se é impossível, odiando ou amando, passar por ele despercebido.
Sem sentir nada. Seja asco, seja prepotência, seja admiração ou medo. Seja revolta ou apatia. Mas ele entra na pele e causa reação. E São raros os filmes que podem se dar ao luxo desse feito.
Perigoso e deslumbrantemente asqueroso e incomodo.
Darren, prova aqui, que é um diretor autoral que sendo amado ou ignorado, possui um controle exato de suas próprias histórias. Do que elas são e pra onde irão.
Exibindo uma superestima de si mesmo ou não. A comparação aqui com Lars não é atoa. Mas, me atreveria a dizer que ate mesmo Lars não se arriscaria de tal forma.
Uma sinfonia criativa e insana. Um cristal, pra quem se permitir e conseguir extrai-lo e descobri-lo em meio as cinzas
do músculo podre e carbonizado de mãe sacrificado pelo Amor que doou, e permanece doando mesmo que a gente continue a desrespeitar seu lar...
ps: Talvez seja a primeira vez que não enxerguei a atriz JLaw e sim a personagem. Todos os filmes dela assim como ocorre com os filmes da Emma Watson por exemplo, que por mais que ame ambas, eu sempre fico com a impressão que o nome a figura da atriz é maior que o personagem. Ent~çao sempre so enxergo a pessoa. aqui não. Aqui me desliguei completamente de que estava vendo a Jlaw e isso é um trabalho genial da propria atriz e do diretor de conseguir dirigir ela ao ponto de apagar essa imagem do nome dela.
A Morte Te Dá Parabéns
3.3 1,5K Assista Agorauma mistura de pretty little liars com Screans - e que tem a pachorra de citar Feitiço do tempo como referencia - hahahaha divertido! gostei.
Marjorie Prime
3.4 43 Assista AgoraCom Direção de Michael Almereyda, Marjorie Prime versa sobre perdas. Sobre luto. Mas, não somente isso. O filme é um ode a importância e complexidade da psicanálise em seu subtexto e encontra espaço na ficção científica ao simbolizar o digital com o mais intrínseco mistério humano: as lembranças e memórias e nossas relações com estas.
Compreender a filosofia de Marjorie Prime não é simples. Pois ele se apresenta como uma narrativa de diversas camadas de tema. Superficialmente temos o luto. Que é a parte obvia da trama. Trama que é alias, uma adaptação de uma peça de teatro de mesmo nome que nos transporta para um futuro incerto de precisão, onde uma companhia de softwares desenvolveu hologramas, chamados "Primes", que simulam um espectro de consciência de alguém falecido. Para ajudar os vivos a lidar com a perda que ainda não conseguem aceitar. Marjorie é uma senhora de 86 anos que sofre de alzheimer. Afim de ajuda-la a preservar as memórias que pouco a pouco vão se esvaindo, sua filha mais velha Tess - com quem não tem uma relação muito próxima apesar de morarem juntas - e seu genro, lhe dão um Prime com a forma de seu falecido marido Walter ao qual ela enxerga como nos tempos da juventude. Todos os dias Walter - o prime, vai se desenvolvendo conforme vai obtendo mais informações sobre a personagem que está recriando ao interagir com Marjorie. Ele lhe conta histórias da vida dela mesma que ela mesma lhe conta todos os dias. Uma conversa com um espelho que reflete alguem que se amou.
Por ser uma peça teatral o filme tbm mantem sua força nos dialogos expositivos e contemplativos. É um filme que se beneficia da pausa e do silêncio. Ele é construido atraves de imagens, da cor, na falta de trilha sinora ou da inserção desta em momentos chaves. Ha uma sequência em particular que me ganhou, na qual Marjorie sai para fumar escondida. Ha um plano que mostra ela de costas com seus cabelos brancos esvoaçando junto à fumaça que solta e à frente dela o jardim com folhas verdes vivo sobrepostas por flores brancas (como os cabelos da velha). Em seguida ela parece se esquecer de onde está e começa a caminhar em direção a uma ponte de madeira dentro da própria casa. Aos poucos o ambiente vai perdendo saturação. E gradualmente vemos o verde vivo desaturando, e tudo ganha tons monocromaticos. Ponte de madeira, rio, ceu, pele, perdem texturas, e a foto se torna chapada. Para enfim ainda em coloração amena e fria, vermos um temporal se aproximar e Marjorie retomando o caminho de casa se lembrando onde está atordoada, mas ela surge completamente desfocada no plano. Unico elemento desfocado. Simbolizando sua perda de memoria, sua existência que aos poucos apesar de viva como a natureza esta se desintegrando no esquecimento. Se tornando opaca. Para na sequência haver um dialogo onde ha a sugestão de que o holograma a cada dia que passa se torna mais "real" enquanto ela na mesma proporção vai se tornando mais um "fantasma".
É lindo e poético.
Tudo em Marjorie Prime é composto pra simbolizar tempo. Seja a cenografia, seja elementos como água e vento, seja um luar desaparecendo num céu nublado. Seja a ausência de relógios de parede ou indicativo de temporalidade. Reflexos difusos que se perdem como borrões. Fotografias que dão lugar a hologramas, discos de vinis e quadros num museu de época renascentista decorados com futurismo. O tempo é a chave para vida e morte e o filme trabalha bem isso.
A película traz no elenco os competentes Jon Hamm (que interpreta o Prime Walter), Geena Davis(como Tess filha de Marjorie), Tim Robbins e Lois Smith (como Marjorie) e faz bonito. As relações familiares, traumas do passado não digeridos, e o tempo que ressoa através de elementos e de evocações de contos e histórias (e que no final a montagem se encarrega de demonstrar de maneira direta), compõe um filme lento como precisa ser e que muito mais do que refletir sobre os avanços tecnológicos nem sempre saudáveis à humanidade (ola black mirror), se preocupa em conversar sobre o que nos faz humanos e o que é ser humano em função do tempo. Aquele que foi, que vai, que está e que irá embora ou não chegará.
Gostei bastante.
It: A Coisa
3.9 3,0K Assista AgoraApesar do meu medo de palhaços, eu gostei bastante de IT de 2017 (nunca consegui assistir o original dos anos 80 apesar de conhecer a história toda). É interessante que eles conseguiram condensar bem o livro (que tbm conheço) e a mini serie que a maioria conhece apenas como o filme classico (it dos anos 80 foi uma mini serie de dois capitulos totalizando 190 minutos pra tv que depois no ano seguinte eles juntaram ambas as partes e construíram como a narrativa de um filme longa metragem). A essência de ambas esta ali. Junto a nostalgia oitentista característica dos dias atuais mas com o frescor da cinematografia inspirada de hj em dia. Em especial os movimentos de câmeras e planos usados que ajudam a compor o clima de perigo e claustrofóbia da cidade. Alem do uso das cores geniais, em especial o vermelho, verde e amarelo que criam ora um clima de repugnância, ora de perigo, e ora de tristeza. Os tons desaturados servem pra imprimir melancolia e certo grau de desepero. A cena das crianças flutuando é uma das coisas mais lindas e bizarras que o filme traz. Alias, beleza e horror andam junto nessa forografia e direção de arte. A cena icônica dA Coisa no campo surgindo entre os balões vermelhos é composta de forma cuidadosa e linda. Me impressionou aquele plano.
Algo que me incomodou a princípio foi a forma que ele surge de maneira evidente. Eu sou fã do horror que usa "o menos é mais" pra assustar. Que mais sugere do que mostra. Afinal, o desconhecido sempre assusta mais do que o monstro em si. Mas, no caso dA Coisa, assim como seu irmão gemeo Freddy Krueger, ele em si é o que amedronta. Pois o medo esta em seu sadismo. Ou seja, esta no medo em si e não na forma. Ele é o próprio medo.
Senti problemas de ritmo e tbm como disse as coisas escrachadas eu evitaria (apesar ee compreender o uso). Explico: IT é uma alegoria sobre a perda da inocência, sobre o terror provocado pelo medo e inseguranças e sobre a forma que a vida adulta se apresenta como um limbo. No livro Pennywise é um ser destrutivo. Ele é o oposto da criação. Ele não apenas devora crianças mas, vive pra atormentar. Ele esta mais interessado em causar terror do que em se alimentar. E ele sempre surge em momentos de horror humano. Nossa mostruosidade que desperta ele.
It nada mais é que uma analogia ao lado mal da humanidade. Ele desperta sempre que ha massacre racista, homofobicos, tragedias naturais que despertam odio social e etc. Um mundo de paz seria causa de seu sono eterno por exemplo. O que o filme não aborda é sua origem. Algo que acho de um potencial enorme pro proximo filme. A metafora dos abusos dos adultos tbm achei que foi bem impregada e nada sutil como disse. Como uma porteira que abre indicando o abate que esta por vir. Como o pai pedofilo e a menina diante do medo de sua menstruação.
Pros padrões de filme de terror atual achei ele bem violento tbm. Graficamente explícito em algumas partes. A cena do quarto cheio de palhaços me fez ter ate crise de tremedeira. A pior pra mim.
Me assustei pacarai (em parte pelo meu medo ja mesmo) mas tbm pela construção bem feita que confia mais no clima aterrorizador do que no manejo facil de susto auditivo. Gostei. E ao contrario dos colegas de area, a similiaridade com stranger things (que nem achei tanta assim rs) não me incomodou.
A, como nota, a concepção do palhaço em si achei bem feita e marcante. Deve nada ao palpavel do palhaço antigo. Apesar que esse de agora por ser graficamente mais digitalizado, me amedronta menos pessoalmente do que o antigo que era mais "realista". Outro ponto que me tranquilizou mais alem do fato de eu ter focado na metafora da história pra superar o medo de palhaços que tenho rs é que o filme restringe a ameaça àquela cidade pequena. O que faz a ameaça diminuir pra quem assiste. Diferente de outros assassinos monstruosos do horror comp Freddy Krueger, Jason, Chuck por exemplo, Pennywise aqui, parece não sair da pequena cidade de Derny, logo pq ter medo? Enquanto eu não pisar la to seguro. Freddy no entanto era visto sempre que se dormia e todo ser humano precisa dormir em algum ponto. Percebe? O apelo de medo é maior e constante. Achei um erro o filme ter restringido dessa forma. So esse adendo mesmo.
O Motorista de Táxi
4.3 159 Assista AgoraUma jornada da primavera de sangue ao inverno de redenção.
O massacre de Gwangju, também conhecido como Movimento Democrático de Gwangju ou Levantamento de Gwangju foi um levantamento popular ocorrido na cidade de Gwangju, Coreia do Sul, de 18 a 27 de maio de 1980. As estimativas sugeram que poderão ter morrido até 165 pessoas. Mas os cidadãos locais informaram muito mais. Durante este período, os cidadãos revoltaram-se contra a ditadura de Chun Doo-hwan e tomaram o controlo da cidade. Em sua maioria universitários que organizaram-se para combater a ditadura e restaurar democracia no país.
Dirigido por Hun Jang, e com roteiro de Eom Yu-na "A Táxi Driver" (em tradução livre "O Motorista de Táxi" e do original "Taeksi Woonjunsa") nos mostra a primavera da década de 80 na Coreia do Sul, onde somos apresentados ao carismático e meio ranzinza afixinado por seu carro, Kim (Kang-ho Song) um motorista de táxi que vive em Seul. De vida humilde, Kim é pai viúvo de uma menina doce mas, tristonha pela perda recente da mãe, de 11 anos de idade. Morador de aluguel, Kim deve mais 4 meses de aluguel e após escutar numa lanchonete, um outro motorista de taxi particular, se vangloriar que um estrangeiro lhe pagaria uma boa quantidade de dinheiro para leva-lo e traze-lo da cidade vizinha de Gwangju, decide tomar a dianteira e ir buscar o estrangeiro antes do taxista particular.
No aeroporto, embarca Peter "Jürgen" Hinzpeter, (Thomas Kretschmann). Um jornalista disfarçado de uma TV da alemanha. Mas, chegando em Gwangju, Kim descobre a identidade jornalistica de Peter e sua câmera guardada na bolsa, e que a cidade esta sob Lei Marcial, onde universitários estão causando tumultos contra a cidade.
Não demora muito e Kim começa pouco a pouco a perceber que na verdade, se tratade um levante popular contra a ditadura do ditador
Chun Doo-hwan. Que bloqueou toda e qualquer informação e verdade sobre o massacre violento que estava impondo a população daquela cidade para impedir que o resto do país e do mundo soubesse da revolta e das censuras impostas.
O filme é quase que um remonte sobre um dos maiores massacres que a Coreia do Sul vivenciou e uma aula de como o poder da informação pode tanto ser um trunfo contra um governo opressor em prol de liberdade e paz, quanto pode ser uma arma incomparável de morte e dor se usada de formaa manipular e ocultar verdades.
Kim é o típico cidadão que ja serviu ao exército no passado, e que acredita que revoltas de universitários e estudantes mais são do que comunistas impertinentes que não sabem respeitar o governo que tem e que deveriam ir viver na Arábia Saudita e em países com guerras declaradas para darem valor ao país. O típico patriota que reclama do do trânsito, dos preços altos, mas tem uma fé cega de que o seu governo e país é bom e Só quer manter a ordem. E que todos contra isso são desordeiros e merecem prisão.
Peter é o jornalista que vive para denunciar abusos de governos onde o jornalismo local se rendeu a manipulação e controle governamental ou que foram impedidos de contar os fatoa e verdades por opressão.
O filme carrega um forte poder de ideologia de como a construção da mídia é essencial para a manutenção da sociedade e como é perigoso e recorrente a população ser enganada pelo qye leem e veem. Em determinado momento, em um bar, surgem conversas sobre as mortes que estavam ocorrendo na cidade e os clientes insistem que se não foi mostrado no jornal então não podia ser verdade.
A pelicula carrega uma dose organizada entre o drama e a ação em especial as cenas quase de guerras épicas mesmo dos conflitos com violência, mortes, cadáveres expostos e toda a realidade que conflitos assim causam. A forma que o governo e a polícia abusam do poder de fogo e força para massacrar resistentes e manifestantes. Sem se importar com idade, gênero ou ação. É assustador.
Ao mesmo tempo ha um texto de delicadeza e poesia e doses de humor sarcástico que contrapõem como uma espécie de respiro à essas cenas pesadas. Como um jantar que mostra que as diferenças culturais podem esconder semelhanças ideológicas, ou as cores que contrastam entre o cotidiano seguro do verde e amarelo e vão ao vermelho e laranja foscos nos ambientes de perigo e dor.
Como uma nuvem de fumaça que faz desaparecer luta mas faz nascer esperança. Ou mesmo ternuras de um pai que ama sua filha e sente falta da esposa.
Mas, alem de todos os méritos técnicos, de ritmo, de construção de personagem solida e repleta de camadas, o filme se agiganta é com a atuação de Kang-ho Song que consegue passear do humor ao drama de uma forma dolorosa e intensa. Somos a visão de Kim ali descobrindo os horrores covardes de imposição e de silenciamento a um país que tenta volta a respirar mesmo sendo massacrados. União e empatia. Coragem e sacrifício ditam esse filme que é a aposta coreana para o Oscar de melhor filme estrangeiro.
Excelente!
A sequência final, de resolução incluindo um trecho de gravação do jornalista real (o filme é baseado nas lembranças desse jornalista) é tocante.
Mulheres Divinas
3.9 38 Assista AgoraComeça com frame de Janis Joplin, tem "You Don't Own Me" no meio e termina com "Respect" da Aretha Franklin sob gemidos de prazer.
No final da década de 60, vários países do mundo vislumbravam boa parte das lutas contra as bravatas, que ainda hj em dia continuam a se esgueirar para ser conquistadas. Liberdade sexual, os movimentos hippies, a revolução da independência feminina.
Dirigido e roteirizado por Petra Volpe, "The Divine Order" (que em tradução livre seria "A Ordem Divina") nos traz uma Suíça no ano de 1971, onde todas essas revoluções mundiais não faziam efeito.
Num pequeno e pacato vilarejo do país, onde os papeis de gênero permanecem definidos e rígidos conhecemos Nora. Esposa e Mãe de duas crianças que aparenta singela felicidade com sua vida doméstica própria das mulheres para servir à familia. Ate que a filha de seu cunhado, Hanna de 17 anos, começa a se rebelar contra essas proibições patriarcais, motivada em muito pela paixão à um hippie local.
Nora tenta persuadi-la a desistir de seus planos de fuga, mesmo que secretamente, tarde da noite sonhe com o mundo ao apontar seus dedos a esmo num globo terrestre. Ela sonha também em trabalhar fora, como secretaria, mas por ser mulher, precisade uma permissão não adquirida pelo marido.
O pequeno vilarejo assim como toda a Suíça receberá um referendo para decisão por voto, pela permissão do direito ao voto pelas mulheres no final daquele ano.
É então que Nora se vê à frente de um movimento pelos direitos das mulheres, ao voto e a emancipação.
A Suíça foi um dos últimos paises do mundo a conquistar o direito ao voto às mulheres. Com recortes de época e de seus movimentos sociais e mudanças comportamentais, o filme vai nos embrenhando de maneira leve, poetica e cômica, pelas descobertas atraves dos olhos de Nora sobre si mesmo. Sobre o que é ser mulher na sociedade.
Uma das sequências mais interessantes é a que a mulher desprende os cabelos e pela primeira vez toca as curvas de seu corpo, usando calças. E logo após a cena magnifica emblemática desta e de amigas juntas descobrindo as variedades das próprias vaginas pra depois se libertarem em transe numa pista de dança em sinal de liberdade.
O filme traz o machismo e o feminismo de forma eloquente e prático, e este último, em sua forma mais pura de igualdade e direito humano de ser. Sem soar panfletário mas sem amenizar os efeitos da opressão patriarcal sobre mulheres e homens tbm. É interessante notar por exemplo como a luta da esposa, reflete no pacato e "bom moço" marido Hans. É curioso notar que ele possui ideologias que apoiam as da esposa mas, pra sociedade ele máscara para não perder sua masculinidade e poder. O conflito que ele apresenta tbm soa pertinente na película uma vez que se explana os ganhos que o feminismo carrega para toda a sociedade apesar de a luta ainda ser lenta e encontrar barreiras que esbarram na violência e ate mesmo na morte.
Com ótimas atuações em especial as da expressiva Marie Leuenberger que vive Nora e Rachel Braunschweig, que vive Theresa. O filme ainda conta com o ja mencionado Maximilian Simonischek que dá vida a Hans, a personagem chave Vroni vivida pela simpática e hilária Sibylle Brunner, Marta Zoffoli como a provável bissexual e "desquitada" Graziella, e a estopim do despertar de Nora, Hanna, vivida pela belíssima jovem Ella Rumpf.
Um filme lindíssimo sobre o poder da liberdade e a trajetória por justiça e conquistas das mulheres que ressoa como um merecido orgasmo em um mundo tão precisado de bom senso e desconstrução. Filmão!
Terra Selvagem
3.8 594 Assista AgoraDirigido e roteirizado por Taylor Sheridan que se aventurou aqui pela primeira vez na direção, após nos dar os excelentes "Sicario" em 2015 e "Hell or High Water" um ano antes como roteirista; "Wind River" (que vira como "Terra Selvagem") é um drama/thriller investigativo que usa o crime de uma garota de 18 anos encontrada morta e congelada após ter sido estuprada no gelo, para dialogar com a relação da perda àqueles que ficam.
O filme é sobre o luto em resumo. Tema que ano passado foi melhor elaborado no drama Manchester À Beira Mar.
Ambos os filmes usavam a simbologia do gelo como alicerce de condução de uma trama onde um homem tenta suprir com trabalho o luto de ter perdido alguem importante.
Se no filme do ano passado tinhamos um pai de família sem expressões e amargurado que se enterrava em bebidas e lixo para esquecer da culpa e da saudade, aqui temos um homem que foca no esmero e profissionalismo absoluto do trabalho de caçador de feras para evitar lembrar de uma perda sem explicação do passado.
"River" tem todos os elementos de um filme investigativo, porem o que ele realmente quer conversar é a maneira que a vida se atina e se prova àqueles que a desejam ou tentam supera-la.
Nesse ponto, os dialogos apesar de corriqueiros, trazem pontualmente aqui e ali resquícios de reflexão sobre a forma que a vida pode nos escapar. Sobre como o ser humano permanece nesse vai e vem de caça e caçador.
Não ha o que resolver de fato. O que interessa nesse roteiro é a jornada. Mas a sensação é que temos um personagem de construção excelente e complexa a tona, nas mãos de um ator que não soube dar a vivacidade (ironicamente) que merecia. Jeremy Renner apesar de correto, não parece encaixar. Ao menos, não diante da complexidade e sensibilidade sutil que o texto exigia. Nada que faça o filme apequenar. Pelo contrário. Renner faz um trabalho de atuação preciso. E convence. Ainda que eu tenha ficado com a sensação que me faria aplaudir se estivesse nas mãos de algum outro ator.
E todo o restante ao seu redor soa mais como alegoria. A personagem de Elizabeth Olsen aparece aqui como um pilar de despedida e de confissão quase. Uma muleta no sentido de que sua trajetória serve ao propósito de dar a oportunidade daquele homem de ter uma resolução em forma de paz, ainda que não a de conclusão para sua perda passada. Não é um problema, só... é só. Ela traz uma personagem forte, mas que não tem muita importancia pro mote real da narrativa. Ela é a desculpa para acontecer e não a ocorrência. No entanto, as cenas de ação com ela em especial - em que a direção de Taylor surpreende - são bem elaboradas e carregam uma tensão exasperante nos momentos chaves para o grande voilá do filme.
Aleagoricamente o filme ainda traz a tona a forma que os EUA ainda trata com desprezo os nativos indígenas de suas terras. Menos denuncia ou alerta do que poderia ser, mas deve sensibilizar. (O filme abre nos dizendo que se trata de uma historia baseada em um dos milhares casos reais)
Em grande parte graças ao genial trabalho mais uma vez dos atores Graham Greene e em especial de Gil Birmingham. Que traz consigo o peso controlado no olhar preciso que acho que faltou ao Renner para seu personagem, ao construir um patriarca tomado pela perda e remorso não só como pai, mas como cidadão numa terra que lhe é roubada a sangue e gelo desde sempre. É brutal perceber em suas falas em determinado momento enquanto sua esposa sangra no quarto, a amargura e ao mesmo tempo o sentimento de apatia com que narra as perdasja esperadas por ele na vida. São ecos de um povo violentado que desaparece apesar de peemanecer invisivel pelo caminho da história.
Contando ainda com um design de som inspirado - principalmente nos momentos em que se exige atenção aos elementos de cena sempre metaforizando o que realmente pretende mostrar, como o caso dos leões na toca, ou da chegada da investigadora do fbi sob uma geada que cessa ao encontrar um corpo morto -, "Wind" se sustenta como um bom filme. Mas Puxado.
1922
3.2 797 Assista AgoraApesar de vir como uma produção baseada no conto, após lê-lo, me atrevo a dizer que é uma adaptação. Uma adaptação livre do conto de Stephen King de mesmo nome.
"1922" narra a história Wilfred James, um pacato fazendeiro que em 1922, após conflitos de interesses com sua esposa Arlette James, decide que a única solução pra seus problemas é assasina-la, com a ajuda do próprio filho dos dois Henry 'Hank' James de apenas 14 anos de idade.
O filme tem direção e roteiro de Zak Hilditch, e é mais uma produção original Netflix. Thomas Jane, que já viveu o protagonista de um filme baseado num conto do Mestre do Terror - "O Nevoeiro" de 2007 - vive aqui um impressionante Wilfredo. Um homem simples, frio, seco, de aspectos endurecidos e misteriosos, que ao mesmo tempo que inspira simpatia, assusta. Justamente pelo cerne principal da trama: a possibilidade do maior dos monstros habitar o interior humano. Característica de discussão que é a base de praticamente todas as histórias de King. Aqui temos o sobrenatural dúbio que sempre se apresenta incerto, apenas como alegoria para a real força de tudo que se desenrola, a culpa e o remorso. As consequências de certas escolhas e como elas se tornam o verdadeiro inferno na Terra dependendo de suas magnitudes.
Se analisarmos de forma um pouco mais sensivel e profunda, ha como ainda estabelecer uma discussão do papel feminino nessa culpa, remorso, monstruosidade e degradação masculina ali posta. Afinal, as duas mulheres recorrentes da trama (e se contarmos ainda com o feminino animalesco trazido pela presença da vaca em determinado momento), são os alicerces que levam às decisões de todos os homens presentes na narrativa. E bem como a reação e conduta desses para com o tratamento às demandas delas, que acarretam em todo o terror psicológico que somos impelidos a conhecer na confissão solitária de Wilfredo. A culpa não esta em nenhum momento nas mãos delas, mas diante da visão daqueles homens, elas simbolizam o que os leva ate ela - a culpa - e a desgraça que cada qual a sua maneira se entrega em forma de podridão, gelo, sangue, e infestações de ratos. Ate mesmo o próprio poço poderia trazer certa alegoria no sentido de sua profundidade.
O filme em si, não aborda em foco todo esse subtexto de potencial das entrelinhas que o conto carrega, mas faz um bom trabalho nos envolvendo através das cores e dos frames desaturados da fotografia que tanto nos ambienta a um lugar por vezes claustrofóbico e mesmerico, quanto à um lugar realmente sombrio e sufocante. Tal qual a relação daquela familia interiorana uns com os outros.
Thomas Jane rouba completamente as atenções, sem favor algum, um trabalho físico de composição de personagem que merece todos os aplausos.
Molly Parker faz um trabalho sóbrio e ok diante do tempo de tela que possui para sua Arlette, e Dylan Schmid é esquecível tal qual seu Henry, aliás, em comparação ao conto os dois personagens não chegam nem perto do potencial desenvolvido que deveriam. Uma pena pelos personagens mas, pro filme funciona e serve. É como deveria ter sido. O filme tem bons momentos de aflição em especial a sequência de tensão da morte da matriarca, bem como suas aparições pontuais seja em forma imagética, seja em forma de pingos de sangue ou de ratos devorando as tetas de uma vaca em agonia.
O filme só peca realmente no ritmo e na forma que elabora seu desfecho. De alguma forma, o embate entre esposa e marido em determinado momento soa fraco diante da tensão de expectativa que o clima trazia ate ali. Bem como, justamente por isso, o final tbm. É como se a redenção dos personagens não fosse a altura de seus feitos. Mas, ainda assim uma experiência interessante.
O Estranho que Nós Amamos
3.2 615 Assista AgoraDirigido e roteirizado por uma das minhas diretoras (e incluo no nicho direções masculinas e femininas) preferidas, Sofia Coppola, "Um Estranho que Nós Amamos" (do original: "The Beguiled" que seria algo como O Seduzido) traz um filme visualmente belo e imponente, que beira ao perfeccionismo entre fotografia e cenografia, com uma trama que em seu subtexto possui ares de psicanálise comportamental social entre gêneros, mas que em base, surge comedido e casto.
Casto, quando comparado ou elucidado a primeira adaptação de 1971, estrelada por Clint Eastwood e dirigido por Don Siegel. Coppola, escolheu abandonar o material de Siegel e focar muito mais na obra literária original, escrita por Thomas Cullinan, de 1966.
Na trama, durante a Guerra Civil Americana, que partiu o país, um soldado ferido do Norte, vivido por Colin Farrell de maneira muito menos galanteadora do que a versão de Clint, encontra abrigo numa instituição para jovens mulheres sulistas, que sofrem durante o conflito. A instituição conta com 5 internas, entre elas a mais velha vivida por uma ambígua e atrevida Elle Fanning, e duas adultas, interpretadas por Nicole Kidman (matriarca da instituição) e Kirsten Dunst (uma recatada e solitária mulher que ensina inglês às jovens).
Se o filme de 71 trazia em seu cerne uma narrativa baseada em sexualidade e erotismo pelo viés feitichista masculino e que por consequência acaba por se transformar num terror quase psicológico dos temores do homem hetero sob às custas de mulheres que pouco a pouco vão se tornando menos indefesas e mais perigosas. Envolvendo inclusive incestos e pedofolias, alem de escravidão e por consequência racismo. Essa nova versão de 2017, ignora completamente subtramas que permeavam esse tom sexual, e mantem apenas a tensão erótica e foca na visão das mulheres com a chegada daquele homem.
Ainda que se preserve o tom "mosca em teia de aranha viuva negra" de certa forma, essa versão se mostra quase que como uma resposta ao machista e discriminador longa patriarcal do passado. Esse mostra as ações daquelas mulheres mais como a resposta a situações do que como maquinações planejadas. Assim, é interessante como todos os planos externos mostram essas mulheres envoltas num ambiente bucólico que lembram pinturas renascentistas e de natureza morta, com paletas desaturadas e bordas enegrecidas, focando toda a luz nelas. Nas cores de seus vestidos e rendas. Ao mesmo tempo que o interior, surge à espreita, com feixes de luz natural ou de velas em tons quentes, em meio a umq escuridão que da um clima de perigo e mistério. Isso contrasta de maneira genial com a delicadeza daquelas mulheres. Torna a situação em crescente suspense sobre intenções e verdades. Alias, o desenho de som tambem tem um papel e tanto aqui. O filme abre com toda esse contraste entre "climas" quando vemos uma menina criança no bosque entre galhos que deixam focos de luz banhar o ambiente e os sons dos passos sobre as folhas, barulhos de explosões da guerra ao longe apanham a cena. Pouco antes da menina encontrar o soldado ferido. Lógica de som seguida em quase todas as sequências externas do jardim por exemplo. Não nos deixando esquecer do ambiente de guerra apesar de nos concentramos nos acontecimentos daquela instituição e ao mesmo tempo, nos dando o tom de dualidade entre o que se enxerga e o que se ouve.
Forma dúbia inclusive que carrega as quatro personagens centrais (os três adultos e Fanning). Em especial, a personagem de Kidman. Que no filme de 71 era descaradamente uma mulher de desejos reprimidos e aqui assume uma persona sempre duvidosa. Entre a lascividade de uma mulher à tempos sem contato com a presença masculina, e a de uma lider responsável diante de um cenário ameaçador. Assim, a parte final do filme mantem uma discussão muito mais interessante que o de 71. Uma vez que ha compreensão logica das atitudes tomadas por aquelas mulheres diante daquele homem.
E também ate certos limites, as atitudes daquele homem diante daquelas mulheres.
A pedofilia aqui é mais sugerida e surge de forma comedida e esbarrando no "naquela epoca era assim". Ao mesmo tempo que a simbologia do sangue em determinado momento e da mutilação/castração do masculino recebe contornos quase poéticos ainda que sem sutileza nenhuma.
A impressão é que sim, essa versão é superior em varios aspectos ao de 71 pela forma e pelo entendimento por outros viés da propria guerra - externa e interna de gêneros -, mas que desperdiça uma complexidade de texto mais "ousada" ou mais "adulta"; em nome do drama acima do terror.
Corra!
4.2 3,6K Assista Agoraé mais que um filme fodasticamente bom. Ele beira ao genial.
Aqui é importante salientar que acredito que no Brasil esse filme tal qual vimos em "Cara Gente Branca" da Netflix e em "Moonlight", esse filme não deve fazer muito sucesso. Justamente pq ele não será compreendido. E não por má execução ou falha de tema e roteiro. Mas, pela construção racista social que assola TODOS do nosso país. Inclusive cada um que está me lendo. Isso pq a segregação racial nos EUA ainda é recente. Ela foi perpetuada de maneira "permitida" ate os anos 50 mais ou menos e ainda carrega nos nomes de Luther King e Malcon X ou mesmo nas Panteras Negras e
Rosa Parks ecos muito recentes de uma guerra civil diplomática, ideológica e social que mantm -se hj em dia. Importante notar as aspas. Enquanto que no Brasil a totalidade geral de nós acreditamos que a abolição de 400 anos atrás da escravidão já nos tornou iguais em todos os aspectos. A enxurrada musical com genero negro protagonizado por brancos em cores bonitas versus um drama real sobre identidade negra que perpetou no Oscar aqui nas redes sociais brasucas mostram isso. Enquanto um recebia comentários de "pisa menos la la la" o outro era categorizado como apenas um "bom filme e nada demais". Quando a realidade em todos os aspectos inclusive atemporais dizem o contrario.
Com "Get Out" minha recomendação é que não se leia ou veja nada previamente sobre se for possível a essa altura antes de assistir. E que cada pessoa não negra assista com a consciência e percepção de que ela é uma pessoa não negra. Pq o roteiro brilhante carrega inclusive nos maneirismos riscos e feridas que são mais perceptíveis a nós negros de enxergar. Enquanto que a fatídica população geral vera apenas clichê talvez ou ate mesmo algo "ok". As mesmas pessoas que não conseguem entender do pq quando se lista dez filmes preferidos por exemplo dos ultimoa dois anos, são incapazes de incluir entre eles ao menos 3 onde não haja problemáticas de estereótipos racistas. É estrutura. O tipo de estrutura que o filme aborda com maestria ao por exemplo deixar claro que o filme ira doer e incomodar justamente naquele cidadão de bem conservador que dirá que não é preconceituoso, afinal ate tem amigos negros ou amigos gays e ate votaria no Obama de novo. Esse tipo de gancho do roteiro é certeiro pra dar o tom da narrativa que brinca ou flerta com classicos do terror e suspense dos anos 70, e é descaradamente e sarcasticamente diga-se de passagem um plot atualizado de "Adivinhe Quem Vem para Jantar?", com toques de "O iluminado" aqui e acola na intenção de acontecer.
Uma mescla de gêneros orgânicos - drama, suspense, comédia irônica e terror psicológico - envoltos numa crítica sociológica apegada a realidade Trump americana mas aue funciona infelizmente de maneira hj universal aos passos da direita que vem ascendendo pelo mundo novamente. Com uma fotografia que utiliza seus momentos mais perturbadores justamente na correlação que faz com os anos 70 e contextualização que remete aos anos 50 em cenografias e maneirismos cênicos, em iluminação clara. Contraponto o clichê do gênero que sempre recorre aos tons escuros pra tal.
Em termos de ritmo, talvez o maior feito de Get Out! Seja justamente ele não sucumbir a formula de esconder demais pra se fazer acontecer. Com poucos minutos de filme ele se estabelece e acontece. E ainda que possua um dos melhores finais dos ultimos anos, ele prende a expectativa do espectador ate o ultimo suspiro. E ao invés de causar um grande uau nos deixa com um sentimento de dor. Ao menos é o que deve ocorrer. Importante dizer que o final foi alterado. O que foi mantido é satisfatório, mas o original- que acredito que todo não branco conseguiria prever - seria mais aterrador. Dinâmico quase cômico e extremamente angustiante pela originalidade que trata o racismo como terror muito mais interno do que externo, Get Out nada mais é do que foda pra porra!
Ps: e que atuação do moço de Black Mirror ne? Cada vez que um ator consegue atuar com os olhos, eu fico de queixo caído.
Em tempo: xícaras e colherzinhas de chá podem ser perigosas...
Voice From the Stone
2.4 144já tem bra download mas não achei ainda legenda em pt br. alguem?
Lion: Uma Jornada para Casa
4.3 1,9K Assista AgoraFinalmente assisti ao filme "Lion" que veio com o subtitulo de "Uma Jornada para Casa", do diretor estreante Garth Davis e roteiro de Luke Davies. Baseado na autobiografia de Saroo Brierley, o filme conta a trajetória de Saroo, garoto indiano que vivia seus dias de miséria ao lado do irmão mais velho Guddu (Abhishek Bharate), roubando carvão de trens de carga, para vende-los e conseguirem comprar leite para a mãe solteira, trabalhadora de uma pedreira, e sua irmãzinha mais nova. Ate que um dia, quando o irmão mais velho sai para um trabalho noturno, Saroo, de apenas 6 anos de idade se vê perdido dentro de um trem que o leva a mais de 1600 km de distancia de casa. Apos meses perdido, e sem noticias de sua família, ele é adotado por uma casal Australiano, com quem vive ao lado de outro irmão adotivo indiano por 20 anos. Ate que o vazio no peito de querer saber o que ocorreu com sua família biológica o assola e ele começa a entrar num conflito em tentar acha-los.
O filme por vezes evoca 'Quem Quer Ser Um Milionário?', mais pelo tom de busca do que apenas pela característica de termos não só um filme ambientado em boa parte na Índia, mas também o ator Dev patel vivendo Saroo em sua versão adulta.
Mas, ao contrario do Oscarizado filme, Lion possui uma estrutura linear de narrativa, que mostra passo a passo a jornada da pequena criança desde seus dias de pobreza mas felizes ao lado da família, ate cada perrengue enfrentado nas ruas frias escuras e insensíveis. Alias, nesse aspecto, o filme mostra uma critica social bem interessante e triste sobre como não só o pais, mas a sociedade em geral trata crianças em condição de miséria econômica. O menino surge quase como uma figura invisível, ignorada, perambulando desamparado clamando pela mãe e pelo irmão mais velho com quem tem uma ligação forte. ninguém parece o enxergar, ate que este ocupe de forma direta ou indireta um espaço que não lhe é permitido estar, como uma estação de trem/metro por exemplo, 'atrapalhando' a fila de compra de passagens.
O filme que conta com pouco mais de 1 hora de 40 minutos de projeção, dedica mais de 50 minutos destes a mostrar essa infância de Saroo. Incluindo inclusive um perigo que indica ate mesmo exploração sexual. E a força do filme se encontra totalmente nesse primeiro ato. A narrativa dessa criança, tanto pelo trabalho de direção coeso e correto, de transmitir através de longos planos que em nenhum momento nos faz esquecer a dimensão de desolação do garoto, incluindo uma paleta de cores na fotografia que transmite uma sensação de sueira, de perigo e urgência em tons escuros, levemente cinzas e alaranjados; quanto de roteiro bem escrito e delimitado, que dá tempo ao tempo para nos conectarmos com os medos e descobertas daquela criança, quanto pela própria figura do ator que vive Saroon. O pequeno vivido pelo ator mirim Sunny Pawar é talvez o personagem/ator mais fofo e terno que o cinema mainstream do ano passado viu. Sua fragilidade e fofura, unida a sua inteligencia e perspicaz e seu olhar impressionante e expressivo, nos dota de extrema empatia e sentido de proteção aquele jovem. E ao mesmo tempo nos transmite a força da realidade de desamparo de outras tantas bilhares de crianças na mesma situação que este.
Mas, se a primeira metade do filme faz bonito, a segunda metade derrapa feio em não conseguir manter o ritmo criado. A partir do momento que Saroon cresce e dá lugar a Dev patel em seu papel, o filme ganha ares de previsibilidade alem da obvia designada já pelo tom autobiográfico do longa. cada dialogo e ação, destoa num tom quase que melodramático e nanequista de delimitar muito formalmente o bem e o mal, o certo e o errado, de forma quase novelesca. Incluindo aqui um romance desnecessário pra trama entre Dev patel e Rooney Mara, que apesar do enorme talento e da química ate que verossímil dos dois, não ha razão para existir para impulsionar a narrativa. Sua função esta ali unica e exclusivamente para estender mais do que deveria o longa. nem mesmo a tentativa de elucidar a figura dela como namorada a da mãe biológica funciona. E mesmo elipses temporais de ambiente, que teriam a função de metaforizar a busca e sensação de labirinto do personagem em busca de identidade são bem inseridos. Assim, quando vemos Saroo entrando na água, e um corte mostrando sua própria mãe entrando na água, ou mesmo quando vemos Saroo vendo sua namorada saindo de sua cama para voltar para a faculdade e de repente vemos ele vislumbrando a versão de seu irmão guardada na memoria no mesmo local de onde sua namorada saiu, relacionando a perda, o afeto perdido/ escapando, não funcionam bem e soam 'forçados' ou no minimo desnecessários inclusive esteticamente.
Dev Patel faz o que pode, diante de uma versão sua adulta sem grandes desafios. Sua atuação se resume a frustração e apatia. Mas, não é uma atuação ruim, pelo contrario, é correta. É seu personagem que não tem muita coisa que chame atenção, como sua versão infantil. Isso em grande parte, justamente pelo roteiro confiar que nossa ligação de empatia com o personagem, se estenderá a ele apos a mudança de ator. talvez confiando na simpatia também do conhecido Patel. Mas, essa ligação não ocorre de forma suficientemente forte para que compremos da maneira devida sua busca e sofrimento interno. da mesma forma, que o mesmo roteiro que delimitou tão cuidadosamente a trajetória da infância, não parece conseguir construir a mesma logica na busca investigativa incansável do Saroo adulto em encontrar e remontar seus passos sozinho por meio da internet. O filme edita demais essa parte crucial para que o climax pudesse funcionar da maneira arrebatadora pretendida. Já Nicole Kidman que vive sua mãe adotiva, consegue transpor com eficacia todo sentimento e devoção de uma mãe que ama incondicionalmente seus dois filhos adotivos como se fossem - e realmente acabam sendo no final das contas - seus. Seu olhar terno, sua voz doce, seu sorriso sempre calmo que expressa por vezes sofrimento e ansiedade é tocante, principalmente em seu ápice, quando esta faz um monologo explicando o que a fez adotar as duas crianças, mesmo uma delas tendo problemas psicológicos. É emocionante e justifica sua indicação ao Oscar de melhor atriz coadjuvante.
Com um terceiro ato que é culminado por uma sucessão de 'destinos' quase que 'divinos' reforçando o tom 'correto' do longa, o filme consegue recuperar parte do seu encanto inicial, mas derrapa novamente quando tenta fabular demais seu climax, restando a sensação de que vimos um filme ok. Que não pretendeu ou não conseguiu estender sua trama fechada a risca da qual foi baseada - em fatos reais - na cinematografia que poderia.
De qualquer forma, é um filme bonito.
O Apartamento
3.9 257 Assista Agoraassisti finalmente ao "O Apartamento" do iraniano Ashgar Farhadi, que já havia vencido o Oscar de Melhor Filme estrangeiro com 'A Separação', e agora venceu novamente com este que é um estudo complexo sobre relacionamentos e a estrutura da sociedade iraniana com relação principalmente as mulheres.
Emad (Shahab Hosseini) e Rana (Taraneh Alidoosti) são casados e encenam a montagem da peça teatral "A Morte de um Caixeiro Viajante", de Arthur Miller. Um dia, eles são surpreendidos com o alerta para que eles e todos os moradores do prédio em que vivem deixem o local imediatamente. O problema é que, devido a uma obra próxima, todo o prédio corre o risco de desabamento. Diante deste problema, Emad e Rana passam a morar, provisoriamente, em um apartamento emprestado. É lá que Rana é surpreendida com a entrada de um estranho no banheiro, justamente quando está tomando banho. Horas depois, Rana surge gravemente ferida. E o trauma dela e do marido pelo ocorrido, modificam completamente a vida de ambos.
Aqui, mais do que em seus outros filmes brilhantes, Farhadi elabora uma quase odisseia metafórica de desabamentos e rupturas em todas as instancias.
A moralidade entre justiça e honra, se misturam, a ponto de a honra do Marido subjugar a própria vitima que é sua esposa. Como se o mais importante ali, na busca do marido, fosse antes de tudo buscar vingança para sua honra quanto homem e protetor da família, do que exatamente buscar justiça para o crime sofrido por sua esposa. De tal forma, é interessante que eles serem atores - e ele somar a educação ao currículo, fomentam um paralelo constante quase que de metalinguagem.
A peça de "O caixeiro viajante" estabelece em forma de representação as falas que marido e mulher se recusam a estabelecer entre eles na vida 'real'. Da mesma forma, a morte do caixeiro na peça representa uma morte considerável na trama deles. Mas, que ao contrario do material cênico, cria um emaranhado de emoções, e não um final propriamente dito.
é simbólico por tanto que ao final, os protagonistas estejam sendo maquiados, em frente a um espelho, mirando a si mesmos, mas sem ver seus reflexos reais. Aquela relação se transforma diante do inicio, quando sabiamente nos é introduzido o filme, com um pouco a meia luz indo aos poucos se revelando.
Outro ponto curioso, é a forma que o diretor nos mostra mais uma vez as falhas ou no minimo, camadas opressivas as mulheres ali. O crime, em nenhum momento é cogitado ser denunciado por Rana. Isso remonta uma serie de duvidas no espectador ocidental, ate que nos damos conta, de que sua recusa a ir a policia, ocorre apenas e puramente pq ela teme ser culpabilizada da própria agressão que sofreu. E em dado momento, ainda que em nenhum momento o filme cite que ela possa ter sido sexualmente abusada, a duvida de poder ter sido, assola a cabeça do marido e dos vizinhos e da própria Rana, fato tal, que se ocorreu ou viesse a tona, seria o fim daquela mulher.
Mas, se ha toda uma complexidade de conteúdo no roteiro, O Apartamento sofre de ritmo. Uma vez que ele parece não conseguir a dado momento, mais próximo ao fim, manter uma verossimilhança plausível para o contexto da trama, uma duvida de moralidade entre certo e errado cabível para nos fazer pensar muito tempo sobre ela. Mesmo que, eu pessoalmente tenha entrado no conflito momentaneamente.
Quando um personagem velho surge ali no apartamento vazio rodeado de rachaduras, a impressão é que ele surge mais como um reboco do que uma dinamite para os protagonistas. e essa é justamente uma intenção oposta a esperada para o desfecho.
Mas, creio que a grande sacada aqui - e compreendo totalmente a escolha, mas não a forma de exceção -; é justamente passar a mensagem de que a violência ao qual as mulheres são submetidas diariamente podem ocorrer de qualquer pessoa.
Mesmo de um velhinho aparentemente 'direito' e 'inofensivo'. A questão aqui permeia a questão final que perpassa a cabeça silenciosa de marido e mulher ao ver o velho: um aparente erro deve ser suficiente para destruir todo o restante de vida que ele possui pela frente - e levando consigo as vidas e honra da família dele que tem nada com a historia? Ou sim, pela duvida, de não sabermos ate que ponto foi um erro impulsivo ou algo recorrente, ele merecia sim ser exposto a família? lembrando que aquele quarto repleto de objetos não esta ali na trama atoa ou apenas para justificar a existência da 'prostituta' que morava ali. Não. O quarto representa justamente toda uma vida oculta, desconhecida, que ao mesmo tempo que mostra pelos objetos uma serie de retratos bem intencionados, também soam estranhos, sujos e mal organizados. Dispares. Quando o velho se revela, aquele quarto nada mais é que a presença anunciada daquele personagem na vida do casal. Que já estava ruindo aos poucos tal qual o apartamento deles. E sua constante presença preenchendo uma comodo da relação daqueles dois é o suficiente para ocasionar todo aquele desfecho tenso. (e lembrando que o velho se encontrava com a 'prostituta de qualquer forma', e ha fotos que insinuam ate que ela possui filho, seria dele?)
E é justamente essa pluralidade de questões que destoam do objetivo central do casal, que me incomoda um pouco em questão de termos uma condução orgânica.
Ainda assim, é um filme excelente que demonstra a habilidade de um diretor que consegue expressar todo um universo das pequenas coisas cotidianos do ser humano. Um diretor humano acima de tudo.
Jackie
3.4 739 Assista AgoraAcabei de assistir a "Jackie" filme do chileno Pablo Larraín que conta a historia dos dias de se seguiram na vida da ex - primeira dama dos EUA após o assassinato do então presidente John F Kennedy em 1963, que ate hoje permeia a historia como um dos acontecimentos políticos mais marcantes do mundo, por ter sido televisionado.
Logo de cara, o filme inicia com uma fala de Jaqueline 'Jackie' Kennedy dizendo que a historia é aquilo que vemos nos livros, mas que jamais saberemos se de fato elas constituem a verdade. Ate que chegou a TV e nos mostra ela. Mas, como saber o que é real e o que é encenado? E isso permeia a narrativa toda, num filme que antes mesmo de ser uma especie de cinebiografia ficcional - uma vez que acompanha não inteiramente fatos, mas recortes de percepção desses -, da mais famosa Primeira Dama da historia, é um filme que faz um estudo sobre a percepção entre o real e o irreal da vida publica e a vida privada, e seus meandros. E como se não bastasse ainda oferece uma construção complexa de uma mulher extremamente emblemática.
Jackie a mulher, foi uma pessoa enigmática, ate o dia de sua morte lá em 94. No entanto, a sensação que se tem é de que a conhecemos bem, uma vez que foi uma das primeiras a abrir a Casa Branca à vida publica. Aproximar o povo do politico privado.
No entanto, sua forma de falar, de andar, de agir, entre seus casados rosados e seus penteados milimetricamente feitos, exibiam olhares e entonações vacilantes, ora tristes, ora distantes, ora de êxtase, ora indecifráveis.
O filme possui um designer de produção absurdo, que resgata e remonta à época com detalhismo grandioso, em muito devido a sua fotografia sempre e propositalmente granulada, com grão evidentes para remeter a qualidade dos videos da época e do tom documental, adotado inclusive em suas cores em tons pasteis e na câmera constantemente vacilante e na mão, que produzem planos quase que colados no rosto de Jackie. Não ha praticamente nenhum frame desse filme que não tenha o rosto de Natalie Portman escancarado, para captar cada detalhe de rugas e expressões de seus movimentos, seu respirar.
É o tipico filme que fornece a atuação da vida a uma atriz. E se já nos surpreendemos com Natálie no soberbo Cisne Negro, aqui, ela chega a ser assustadora, tamanha fidelidade e reconstruir Jackie Kennedy em tela, em seus maneirismos, e por doar uma performance multifacetada condizente com o estado emocional e talvez psicológico da personagem.
Curioso como por exemplo, na cena em que vemos Jackie em frente a um espelho de três faces, constatarmos que isso simboliza a múltipla personalidade no que diz respeito a suas intenções e humor. Jackie é capaz de se vestir esmeradamente, ao mesmo tempo possuir uma voz mansa e falar quase que sussurrando, para no entanto exibir um olhar astuto que vai do assustado, ao perspicaz, do ameaçador, ao melancólico, da firmeza ao enigmático entre um piscar de olhos e outro. Natalie assume uma persona completamente hipnotizante em tela onde a todo instante nos passa a sensação: de quem vc realmente é?
Mas, é o trabalho de som desse filme que muito mais do que seu personagem titulo, arrebata. O som de Jackie é algo fora de serie. Ele transmite com competência e desconcerto, as nuances internas de Jackie independente do que ocorre no externo. Com musicas com base em instrumentos de cordas, em crescentes ora estridentes ora quase imperceptíveis, o desenho de som vai construindo uma carga dramática envolta da historia, das lembranças e relatos daquela mulher de tal forma, que quando cessam para dar lugar ao silencio, ao som de seus passos, ou a um canto de pássaros, quase que o coração do espectador salta. Um trabalho fantástico.
Mais do que um simples filme sobre uma personagem icônico, Jackie nos leva a constantemente querer desvendar quem é aquela mulher. O que ha por trás daqueles casados rosados? O que ha por trás da dor daquela mulher que teve sua vida exposta por escolha quando se casou, e que viu se viu segurando os pedaços do cérebro de seu marido assassinado? Quem era Jackie por trás daqueles olhares, daquelas decisões e ações? O que nela era ensaiado e encenado e o que era real?
Independente do que for, ela ficou para a historia, tal qual o marido e seu assassinato. Como diz a canção Camelot, insistentemente tocada e remontada.
E definitivamente este filme e Natalie Portman fazem jus a esse peso todo. Este não é um filme de ações, mas sim de reações. Chato pra uns, instigantes para outros. Dual, tal qual a carreira e a trajetória de todos os Kennedys.
O Homem nas Trevas
3.7 1,9K Assista Agorao terror "Don't Breathe"(O Homem nas Sombras, mas que em tradução literal seria "Não respire"). é bem construido naquele esquema de plot twist's constantes. Quando vc acha que terminou, ha reviravolta. Assim ele se assume muito mais como um Thriller de horror do que um filme de terror. É interessante, diante de tantas produções do gênero tão apagadas e mal estruturadas. Ainda que o filme possua uma base quase - quase, não chega a ser - gore na narrativa, onde se torna previsível quem ira sobreviver, uma vez que ele estabelece seu protagonismo de fato logo no inicio desenvolvendo duas personagens. Isso quebra um pouco a expectativa geral, mas nada demais. um bom filme de gênero que usa a sonoplastia a seu favor.
Eu Sou Michael
2.6 174Ia escrever critica sobre e debater, mas... então só vou comentar mesmo: A Historia apesar de tratar de uma pessoa real, e nos dar trajetória reais, se trata de uma ficção, pois vemos o filme pelo ponto de vista do próprio Michael e pelo olhar do diretor sobre o ocorrido. Assim, o filme assume uma posição que visa ser neutro na discussão entre sexualidade e religiosidade que permeia tanto a vida de muitos LGBTS. É interessante que o filme consegue tornar crível e relevante o embate do próprio Michael nessa trajetória de tentar entender aceitar sua orientação e depois combate-la. Obvio, que atualmente esse atual pastor é um condutor de discursos de ódio e violência, e apagamento da identidade LGBT no mundo (um Malafaia feat Feliciano da vida), no entanto o que o filme propõe é mostrar como que ha muito mais complexidade nessas questões de vivencia e opressões da sociedade em padronizações de como devemos ser, que levam ate mesmo um oprimido se tornar um opressor , talvez de si mesmo - Não fica claro analisando pelo filme se ele quer propor que ele seja talvez um ser humano gay ou um ser humano bi ou ainda um ser humano confuso sobre isso. O filme termina nos deixando esse debate e duvida, sem jamais apontar um lado como certo ou errado (ainda que a atuação do James Franco, fabulosa alias, seja inclinada para um lado especifico no final).
Apesar das polemicas e eu compreender as pelicas envolvendo esse filme, pelo próprio caráter inicial de ser 'neutro', eu o interpretei mais como uma sugestão de debate sobre. Mas, compreendo que de um lado, ha ativistas e militantes LGBTS que vejam aqui um filme que sirva como munição aos fundamentalistas cristãos conservadores e LGBTfobicos. Da mesma forma, vejo também um filme que pode servir para a própria comunidade LGBT que precise e busque uma religiosidade cristã, refletir que pode coexistir tendo sua fé e sua sexualidade. Compreendendo as nuances complexas dos varios discursos que permeiam isso tudo. Um filme bem conduzido, que mantem um ritmo bacana, com boas atuações.
As Duas Faces de um Crime
4.1 1,0K Assista AgoraRevi esses dias a esse filme, e que delicia. ou como exclamei ao final dele: que filmão da porra!
É bem interessante como o diretor constrói a logica do da psique que envolve o filme, através do figurino e da direção de arte. gradualmente vemos o núcleo central de personagens, mergulhando e ascendendo entre cores apagadas e cores vivas, entre ambientes de fotografia escura e claras, se contrapondo par estabelecer o quão próximos da verdade estão. Por exemplo, na cena em que Roy surge pela primeira vez tecnicamente para nós, como que a iluminação gradualmente cai em cena, e a câmera fecha, nos colocando como espectadores emergindo tal qual aquele personagem para fora. ou como quando aaron retorna e a câmera faz o oposto. e iluminação se restabelece. Ou como que temos takes sempre focados em determinar de forma clara e objetiva os elementos e ações. vemos um personagem bebendo numa bar. e a câmera nos mostra o copo indo a boca. o copo indo a mesa. a mão buscando o cigarro. a mão acendendo o cigarro. a boca tragando o cigarro. a mão indo ao bolso. a mão retornando do bolso. a m]ao deixando o dinheiro para pagar. Como quem estabelece uma coerência de atos e ações para contrastar com a própria realidade da desconexa realidade dissociativa que paira no desfecho.
Interessante também como que o filme lida com a característica da d
upla - ou no caso, talvez múltiplas - personalidades, de maneira sociopatica e não psicótica. uma vez, que na realidade, desde o inicio conhecemos um personalidade consciente de que possui múltiplas personalidades e as usa a seu bel prazer. Vai na contramão de filmes do gênero pra época ou ate mesmo para hj em dia. i
qual das personalidades estávamos lidando
Quais vezes vimos aaron, quais vezes vimos roy? uma vez que roy poderia fingir ser aaron da maneira que bem quisesse. Ele não precisava de fato acessar aaron. e
Inclusive dessa vez notei que ao contrario da primeira vez que havia visto, todos os personagens centrais possuem algum 'transtorno" (e uso transtorno por falta de expressão melhor). Um egocêntrico assumido, outra fumante compulsiva, outra (a juiza) que sempre surge bebendo algo alcoólico. os assistentes que surgem com personalidades opostas. se a a assistente é contida e parece sempre ter algo a dizer mas se retrai. o outro o assistente é mais explosivo, e mesmo quando não tem o que dizer não se limita.
E isso remete diretamente ao nome original do filme. Que em tradução livre seria algo como medo primitivo, ou medo primordial. Se considerarmos que de maneira rasa, todas questões
de transtornos psicológicos e/ou comportamentais
Caso que ele não se enganou completamente se lermos o caso de Roy/Aaron como um caso de um ser que sofreu sucessivos abusos e violências e criou uma força incontrolável ate para si mesmo para poder se defender. Quem garante que a essência de Aaron é o aaron e não o roy?
E Canção do mar embalando as cenas só aumenta o xodo.