E James Bond mergulha de cabeça nos anos 80. O primeiro filme da franquia a adentrar nesta década incorpora a época na sua produção e se revigora.
"007 - Somente Para Seus Olhos" foi a iniciativa da equipe de fazer o agente secreto voltar as suas raízes, botando novamente os pés no chão, já que depois de viajar pelo espaço com "007 Contra o Foguete da Morte" eles tiveram a consciência de que, fazer uma história que fosse além disso poderia ser uma criação quase nonsense. À de se convir que a questão financeira da United Artists Pictures, produtora dos filmes do James Bond na época em parceira com a MGM, também não estava numa situação muito confortável, devido ao fracasso do filme "O Portal do Paraíso", de 1980, em que foi gasta uma quantia de dinheiro generosa na obra e que acabou causando um grande prejuízo aos cofres da United Artists, o que fez com que o orçamento da 12ª continuação fosse reduzida em comparação com o filme anterior, o que não daria lugar para um roteiro que fosse fortemente ligado a ficção científica (que geralmente resulta em um custo alto). Mas apesar do aporte financeiro ter sofrido uma diminuição, isso não atrapalhou em nada a qualidade da produção, arrisco a dizer até que foi favorável ao resultado final.
Aqui, James Bond precisa recuperar um dispositivo que pode acionar armas e causar uma destruição pelo mundo, e em paralelo a isso temos a sede de vingança que Melina quer saciar, depois de passar por um tragédia pessoal em que esse fato tem ligação com o grupo que quer ter o dispositivo.
O período oitentista faz com que a trama seja ágil, com boas cenas de ação e um enredo com um interessante caminhar. Uma das coisas que chamam a atenção é a violência gráfica, com momentos mais explícitos pois, antes, a violência era mostrada de modo mais contido, menos forte, e nessa parte há cenas em que ela fica mais nítida, onde o sangue aparece de forma mais perceptível nos personagens, como na sequência dos tiros no casal no iate, bem intenso. Podemos dizer que foi nessa continuação que a intensidade visual começou a dar os seus primeiros passos, atingindo o seu ápice em "007 - Na Mira dos Assassinos".
O teor cômico também fica mais evidente, porém, se em alguns filmes como em "007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro" a inserção de humor não era bem dosado, aqui o espaço pra comédia é bem adicionado, não ficando fora do tom e ajudando no bom andamento da trama.
Agora, se for pra falar da característica mais anos 80 encontrada nessa obra, esse ponto fica pra trilha sonora. Bill Conti conseguiu fazer uma trilha tão diversificada, com tantos arranjos diferenciados, ritmos misturados, e tudo muito a cara daqueles tempos. Se com John Barry as composições mantinham o estilo dos anos 60 em boa parte das trilhas em que ele participava (ás vezes soando até meio antiquado), com Bill Conti temos um salto cheio de vigor oitentista, o que conta muito a favor da versatilidade musical do filme.
Carole Bouquet (a Bond Girl Melina Havelock) é perfeita para o papel! Da beleza que exibe nas partes mais "harmoniosas" da história, ela vai para um semblante mais sério e enigmático de uma mulher que busca vingança e tem como arma uma balestra, que vira não só sua marca registrada, como a do próprio filme.
Novamente, os cenários são de encher os olhos! Indo da Espanha para a Grécia, retornando a Itália (agora por áreas nevadas), e passando novamente por localidades como Bahamas e Reino Unido.
Então é tudo correto nessa continuação? Não!
A avaliação não tão boa fica por conta do romance trabalhado de maneira mal-ajambrada. É curioso ver os dois lados da história, com James fazendo o seu serviço, enquanto acompanhamos Melina no seu desejo de fazer justiça com as próprias mãos e como esses dois objetivos acabam entrando em acordo, mas justamente por serem propósitos diferentes não há lugar para um clima de romance entre os seus realizadores, o que é algo até interessante, mas parece que o enredo precisa ter o seu momento de "amor" e no meio da trama até surge uma conquista de Bond (o teor mulherengo que ele nunca perde!), mas que não segue muito adiante, e lá pelas tantas a história tenta forçar um envolvimento amoroso dele com Melina, o que destoa do seu argumento, não fica natural.
Outro ponto negativo é o seu clímax, que não acontece do modo com que o espectador espera, o que torna essa parte broxante.
Passamos o filme todo esperando Melina finalmente matar o assassino de seus pais e James a impede de fazer isso, e um outro personagem acaba fazendo o serviço.
A franquia 007 realmente é uma montanha-russa! Depois de dar uma volta na parte de baixo com "007 Contra o Foguete da Morte", numa obra com alguns atrativos mas sem muito entusiasmo, em "007 - Somente Para Seus Olhos" ele faz a sua subida para proporcionar uma sensação mais eletrizante e com mais diversão.
Antes de falar dessa décima primeira continuação, é preciso conhecer o caminho que foi construído para ela chegar aos cinemas no final da década de 70.
Uma prática comum nas cenas de créditos finais dos filmes do agente secreto eram a apresentação do título da próxima obra que iria ganhar as telas, e em "007 O Espião que me Amava" foi divulgado que "007 - Somente Para Seus Olhos" seria sua sequência, porém, em 1977 um surpreendente blockbuster chamado "Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança" surgia, causando um gigante impacto na indústria e, como não podia deixar de ser, muitos filmes queriam embarcar na onda das produções de ficção científica no espaço (pra se ter uma ideia da dimensão do sucesso, até no Brasil tivemos a nossa versão verde e amarelo de Star Wars, a paródia "Os Trapalhões na Guerra dos Planetas"), e a mudança de plano foi feita para trazer "Moonraker" (título original) já no ano de 79 no lugar da obra antes preterida, que chegaria aos cinemas em 81.
Curiosamente, a trama, escrita por Ian Fleming muitos anos antes, já foi concebida com a ideia de se transformar em um filme antes mesmo dele terminar de escrevê-la, e dada as circunstâncias daquele final dos anos 70, um roteiro foi sendo delineado com a referência de Star Wars e o planejamento do local onde essa história poderia ser filmada entraram em ação. Inicialmente, Nepal e Índia estavam no radar de escolha de países para a produção, porém as localidades não pareciam ter elementos que casassem com a sua história, sem contar a limitação de tempo, então dois países acabaram repetindo suas participações: Paris, que teve o exuberante Castelo de Vaux-le-Vicomte como seu cartão-postal, e a Itália, com a bela Veneza novamente dando as caras numa obra da franquia. Mas agora um novo ambiente dava as caras, o Brasil, com James Bond desembarcando na América do Sul pela primeira vez, e em terras brasileiras o Rio de Janeiro e as cataratas do Iguaçu, no Paraná, foram os lugares escolhidos para a produção. No Rio, além da vista sem igual da cidade do Morro do Pão de Açúcar, ainda temos um desfile da Escola de Samba Salgueiro, no Carnaval (na época pré-Sambódromo), já nas Cataratas temos um ressignificado da paisagem que, para nós brasileiros é um tanto quanto estranho, mas a gente acaba aceitando, mas fazendo algumas objeções, o fato do ambiente ser tratado como cenário da Floresta Amazônica é incômodo, afinal, o Paraná é da região Sul e, se já estavam no Brasil, o que custava vir pro Norte gravar as cenas no lugar que realmente faz parte da Amazônia? Mas enfim... Logo em seguida vemos uma espécie de templo em formato de pirâmide que, claramente tem um contexto de cultura dos povos do México, caindo naquele pensamento de alguns norte-americanos e europeus de acharem que os países vistos como latinos são todos iguais, onde no Brasil se fala espanhol, se dança mambo, etc, mas a gente acaba relevando isso de certo modo.
Sobre os personagens, James Bond exibe uma certa arrogância que, em alguns pontos fica na beira da linha da antipatia (como no primeiro encontro com Holly Goodhead, por exemplo, onde ele flerta com o menosprezo pela posição dela como especialista) e em outros é até jocoso. O vilão Jaws retorna, mas aqui ele acaba ganhando uma construção cômica que não parece se encaixar com a proposta dele como um dos arqui-inimigos, e isso fica ainda mais forte quando a obra arranja uma namorada pra ele, o que deixa um humor risível desconexo. Hugo Drax não é um antagonista que cause tanto temor, mas ele acaba fazendo um trabalho aceitável, a Bond Girl Holly Goodhead dá uma interessante contribuição no enredo, Lois Chiles faz com que Holly atraia as atenções tanto pela beleza quanto por seus conhecimentos, já Corinne Dufour, tem numa rápida participação que deixa a vontade de querer ver mais ela, já Manuela tem uma contribuição que parece mal concebida, ela surge, participa de uma missão com James e depois some sem muita explicação, logo ela que seria a "brasileira" da história (a atriz que lhe deu vida, Emily Bolton, é de Aruba).
Do começo até a metade da história, a enredo segue a cartilha dos filmes do agente secreto de maneira padrão, mas no final é que a ficção científica finalmente dá as caras com mais potência, onde o espaço ganha vez e ali vemos o quanto Star Wars foi a sua fonte, com direito a batalha de raios lasers e gravidade zero. Pra bom fã desse tipo de conceito, a sequência espacial é um prato cheio! Com direito a efeitos sonoros futuristas típicos típicos da época e direção de arte bem realizada.
A conclusão é de que "007 Contra o Foguete da Morte" parece construído de modo desproporcional, tem coisas interessantes, mas que parecem não se encaixar bem umas com as outras, alguns falhas (como a contextualização do Brasil citado mais acima) e erros de continuidade (Como a piloto Corinne aparecer sem o headset para aviação depois de um tempo), a música-tema, cantada pela terceira vez por Shirley Bassey que, apesar de bonita, não tem o mesmo carisma de "Nobody Does it Better" da obra anterior e a inclusão da personagem Dolly, que desvirtua o clima da trama quando aparece.
Se não se sai bem nessas partes, garante diversão nas questões como cenas de ação (a cena de abertura é muito boa), e certos pontos específicos do roteiro, sem esquecer da já clássica sequência de luta no Bondinho do Pão de Açúcar.
Podemos até dizer que a franquia 007 é desregulada (porém nunca péssima), mas quando um filme da série acerta o compasso, faz isso muito bem! Depois do não tão bom assim "007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro", "007: O Espião que me Amava" acha um tom certo ao criar o seu primeiro roteiro não baseado num romance de Ian Fleming.
Por conta de problemas judiciais, os roteiristas da nova obra tiveram acesso apenas ao título do livro do agente secreto e, a partir dele fazer nascer uma nova história e, se no romance encontrávamos um teor sexual mais evidente e uma abordagem literária mais diferenciada (dividido em três partes), na criação cinematográfica temos uma construção padrão e apostando no desenvolvimento da ação.
O núcleo central da motivação do vilão, que vai aparecendo aos poucos na trama, já apontava o que veríamos futuramente na franquia, direcionando para enredos com uma ficção mais evidente, mas neste ela é construída de maneira discreta.
Atacar vários países para, depois criar um ambiente onde a sociedade viveria embaixo d'água.
Karl Stromberg se mostra um arqui-inimigo bastante frio, ao ponto de dar cabo em qualquer um que ele considere uma ameaça e sem sentir um pingo de remorso. E seu capanga Jaws acabou se tornando um dos personagens mais memoráveis da série.
Na décima parte, temos ótimas cenas de ação (que já dando as caras logo na cena inicial antes dos créditos), de luta corporal e até uma sequência de perseguição com uma variedade de meios de transporte nunca vista até então, e feita com qualidade, e com direito a aparição do icônico Lotus Esprit S1, o emblemático carro do agente secreto.
Em uma única cena temos uma moto, um carro, um helicóptero e um minissubmarino.
E falar de James Bond e não citar as Bond Girl é impossível! E nessa produção Anya Amasova, a Triplo X (interpretada pela Barbara Bach) consegue atrair as atenções, não só por sua beleza, mas também pelo domínio de cena. É curioso ver a tensão entre Anya e Bond, numa relação quase de amor e ódio entre eles, o que dá todo o tempero diferenciado, fazendo uma boa correlação com o título, que aliás, se pensarmos bem, mesmo que automaticamente o liguemos ao James Bond (e de certo modo até pode ter essa ligação também), o nome do filme parece ter mais aproximação com outro espião.
No caso, o espião que amava Anya seria Sergei Barsov, com quem ela tinha um envolvimento e que James Bond mata na cena inicial da perseguição de esqui.
Temos outras belas mulheres que aparecem no decorrer do tempo, e o casting feminino é de respeito! E a problemática incorporação do "toda mulher que vê James quer flertar com ele" do filme anterior, neste capítulo é atenuada.
Agora, se tem uma coisa que as produções do agente secreto sabem fazer com maestria é trabalhar com a exibição dos lugares mais interessantes, e nessa obra nos deparamos com cenários no Egito, na Itália e nas Bahamas sendo mostrados de um jeito bonito de se ver, visualmente e culturalmente.
Além da boa bilheteria, "007: O Espião que me Amava" ainda conseguiu três indicações ao Oscar: Melhor Direção de Arte, Melhor Trilha Sonora e Melhor Canção Original, pra excelente "Nobody Does it Better", cantada por Carly Simon, sendo a primeira música-tema a ter o nome diferente do título do filme.
São muitos predicados para essa continuação, até o próprio Roger Moore já revelou que essa décima parte foi a obra do agente secreto que ele mais gostou de ter atuado, e pra nós, espectadores, essa sequência é uma ótima produção que nos oferece um gratificante resultado.
"007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro" beira a breguice e se mostra um dos filmes mais fracos da franquia.
Na cena que antecede os créditos iniciais já dá um indício do que viria, com um ambiente visual até bonito, mas um tanto quanto circense, apresentando o vilão da trama. No decorrer da história, os cenários continuam sendo mostrados com um trabalho de direção de arte e fotografia bastante interessante, porém o roteiro aposta em inclusões maiores de humor que, ora são recreativos, ora são bobos, e ainda são destilados alguns elementos que deixam a produção meio cafona.
Isso fica claro com o retorno do xerife J.W. Pepper, vindo da obra anterior "Com 007 Viva e Deixe Morrer" em que, se os produtores não se contentaram em ver o personagem desvirtuar o clima com um momento de comédia risível, aqui ele atinge o máximo do constrangimento, com uma participação tosca e estando presente numa situação em que um efeito sonoro patético é adicionado ao salto de um carro.
Aqui, dá a impressão de que queriam que a canastrice galanteadora de James Bond dos primeiros filmes voltasse e as mulheres da trama tinham que participar de algum flerte toda vez que surgissem na tela.
Goodnight pode ser considerada uma das Bond Girls mais subaproveitas da franquia! No começo da trama só aparece em cena indignada com o fato de James Bond se envolver (ou acreditando que ele estaria se envolvendo) sexualmente com outras mulheres e não com ela, quando finalmente participa ativamente da missão é capturada da maneira mais tola possível e depois quando volta, sem explicação racional, surge de biquíni como se estivesse passando uma temporada de férias com o vilão.
Uma de suas poucas qualidades fica por conta das novas localidades. Tailândia, Hong Kong e Macau são um primor de cenários naturais e rica cultura, e o filme aproveita bem isso.
A motivação do vilão é curiosa, e Scaramanga é um dos melhores sobrenomes que um antagonista poderia ter! Já impõe um perfil nele.
John Barry volta a ser o compositor da trilha sonora e, em comparação a trilha feita por George Martin no filme antecessor, a de Barry é bem inferior, quase imperceptível (o próprio admitiu que esse não é um de seus trabalhos para os filmes do agente secreto que mais gosta) e a música-tema interpretada pela cantora Lulu, apesar de tentar voltar as raízes das canções do 007, não é memorável. Curiosamente, o roqueiro Alice Cooper chegou a fazer uma música-tema que, quase foi escolhida, mas que, no final das tratativas, acabou perdendo o posto para a música interpretada por Lulu.
A conclusão é de que "007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro", mesmo não sendo um desastre total, parece ser um devaneio humorístico que tira a seriedade de James Bond e o coloca numa trama com problemas estruturais e irregularidades em seu clima.
"Com 007 Viva e Deixe Morrer" é a entrada de Roger Moore na franquia, e que início mais promissor!
Com Roger, os filmes do agente secreto ganham uma vitalidade e uma estima de imediato, e é claro que tudo isso acontece também graças a direção de Guy Hamilton, que foi o responsável por dirigir as produções anteriores mais vigorosas ("007 Contra Goldfinger" e "007 - Os Diamantes São Eternos"). Com o novo 007 poderíamos até fazer uma analogia (um tanto quanto diferenciada, mas válida) num comparativo entre as obras: com Sean Connery é como se os filmes de James Bond fossem um prato refinado, mas faltando um pouco de tempero em algumas partes, já com George Lazenby temos uma refeição interessante, mas servida em uma quantidade exagerada (o filme é longo demais), e com Roger Moore, temos a boa e velha lasanha, que ninguém consegue odiar, mesmo que não seja o seu prato predileto.
Roger Moore deu a James Bond um perfil carismático, amigavelmente requintado, até mesmo nos momentos de galanteio, que nas outras produções soavam um pouco presunçoso no personagem, com Roger fica uma outra impressão, quase caricato, que deixa essas partes com um pé no jocoso. Não é à toa que ele é um dos atores mais lembrados das continuações, não só por ser aquele que mais interpretou o agente secreto, mas também por ter colocado a sua marca cativante em 007.
A oitava sequência da franquia é energética, entusiasmante, dinâmica. Desde a música-tema feita por Paul McCartney & Wings, a ideia do roteiro, os cenários e a direção de fotografia, a trilha sonora, os vilões, as cenas de ação... Vemos um salto de concepção do personagem e sua história.
E na área das Bond Girls, apesar de temos apenas duas, elas não passam batido na tela: Gloria Hendry e sua divertida Rosie (a primeira Bond Girl negra), e Jane Seymour, com sua enigmática Solitaire. Cada uma com seu destaque em cena!
E não tem como não comentar a sequência da perseguição de lanchas, que entrega ação de forma eletrizante, proporcionando um das cenas mais marcantes da série de filmes. Imaginando o trabalho que deu pra gravá-la.
Não é um enredo perfeito como um todo, tem alguns problemas no roteiro em certos locais da trama, como por exemplo, a tentativa de incluir humor nessa mesma parte da perseguição de lanchas, onde o personagem do Xerife J.W. Pepper parece destoar daquele seguimento.
"Com 007 Viva e Deixe Morrer" é para o espectador apreciar sem muita exigência, se deixar levar pela história e passar a ver James Bond com um olhar mais simpático.
É interessante como Guy Hamilton consegue dar um ar mais vivaz e leve aos filmes do James Bond que dirigiu.
Terence Young foi o primeiro na direção das obras cinematográficas do agente 007 e deu toda a forma que inspira até hoje as produções subsequentes de James Bond, mas é nítido que desde o início o ritmo das histórias que dirigiu são irregulares, há momentos de marasmo, alongamento de sequências desnecessários, que deixam eles ora entusiasmantes, ora tediosos, já Lewis Gilbert conseguiu dar uma cara mais 'corada' a obra com "Com 007 Só Se Vive Duas Vezes", ou seja, um semblante mais harmonioso, e Peter R. Hunt deu uma aparência diferenciada, mais obscura mas sem fazer o personagem perder a sua essência em "007 - A Serviço Secreto de Sua Majestade", e seria curioso ver ele retornar para a direção nessa nova parte, mas por conta de conflitos de agenda não foi possível vê-lo comandando a obra aqui, então chegou a vez de Guy Hamilton voltar as atividades, assim como Sean Connery, que retorna ao papel após o ator George Lazenby acabar não interpretando mais James Bond no cinema, tendo apenas uma única participação na franquia.
"007: Os Diamantes São Eternos" tem um frescor, uma jovialidade que só Guy Hamilton mesmo poderia colocar! Muito por conta do tempero de humor que ele adiciona na trama, como os capangas do vilão, que de maneira subliminar dão a entender que são mais que uma dupla de criminosos, algumas saídas de roteiro, como a garota jogada da varanda do hotel e as ações do próprio James Bond, mesclando cinismo e ironia. A trajetória da história é constante, não perde o entusiasmo, o que agrada por não demonstrar cansaço ao longo do caminho, evitando momentos enfadonhos.
Mas, apesar das boas contribuições, essa sétima continuação não consegue dar um bom desenvolvimento a estrutura do vilão, você sabe que ele faz parte daquilo, mas ele não tem tanto impacto como uma figura importante do enredo. Jill St. John como uma Bond Girl às avessas chama a atenção por ser a única personagem do tipo aqui, e também por sua dubiedade, já que a sua atividade profissional não é a das mais corretas, mas faz falta ter mais participações femininas com uma boa desenvoltura no roteiro, pois a única que poderia proporcionar isso é descartada em pouco tempo.
Mesmo com esse "buracos no asfalto", a pista de "007: Os Diamantes São Eternos" ainda oferece um agradável passeio por mais uma sequência digna, e leva ao bom caminho por onde vai passar o oitavo filme.
Curioso como, após a entrada de George Lazenby para interpretar James Bond o filme ganha uma outra atmosfera. Aqui, a obra fica interessante em alguns aspectos, como o fato do próprio personagem deixar de lado o semblante canastrão (apesar de uma ou outra parte ter ele cenas meio cínicas por conta de seu galanteio), alguns cenários com iluminação mais escurecidas e uma criação de sequências menos espalhafatosas.
A história ganha contornos instigantes, mesmo que o perigo em que Bond tenta evitar não tenha tanto impacto na trama.
Mas uma coisa que não mudou foi a quantidade de mulheres bonitas, e até no modo como elas foram apresentadas tem o seu diferencial, praticamente todas de uma só vez.
É uma trama com um bom resultado! Peca um pouco por ser longo demais, mas parece melhor delineado.
Acredito que o problema do filme foi ele ser vendido como uma mistura de comédia com terror, quando na realidade ele não tem humor. É uma história onde o seu principal tema é mostrado em boa parte do tempo de maneira subliminar, você entende que existe algo estranho, aos poucos os elementos vão ficando mais claros, e nos minutos finais é que a explicitude se faz presente. Por conta disso, o espectador vai precisar ter um pouco de paciência para conseguir acompanhá-lo pois, do início até a metade ele deixa uma sensação de algo sinistro, mas sem grandes impactos, são mais comportamentos esquisitos. Mas quando a verdade vem à tona ele faz um trabalho interessante.
A cena chave da orientadora escolar encontrando um corpo quando vai limpar uma janela no porão e o movimento da câmera se afastando e passando por alguns cômodos da casa rapidamente, enquanto ouvimos o grito dela é bem bacana.
Algumas transições de imagens contribuem para o sentimento de estranheza que a obra se propõe a apresentar.
Como a cena do pesadelo do garoto, em que aparece ele se afogando em sangue e depois mostrando o próprio na cozinha, mexendo numa vasilha com uma substância (que creio ser um molho) também de cor vermelha, e na parte em que o menino flagra os pais na cama, com uma iluminação forte e mesclando o entendimento de que eles estavam em um momento sexual com a impressão de ter uma ação mais animalesca. A construção dos entrechos dos personagens também causam essa impressão, como a colega novata e o patrão do pai.
Eu diria que ele é um filme curioso. Não é péssimo, mas é uma produção OK!, que vale a conferida, mas que não se deve esperar uma coisa fenomenal.
P.S.: Muito bom ver a Sandy Dennis atuando, ela que ganhou o Oscar de "Melhor Atriz Coadjuvante" por sua interpretação em "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?" e aqui faz um de seus últimos trabalhos em tela grande (seu derradeiro papel no cinema seria em "Unidos Pelo Sangue" de 1991).
Terence Young tem o mérito de ter sido o diretor dos dois primeiros filmes da franquia que, apesar de não serem totalmente perfeitos, tem suas qualidades. Para o terceiro filme (007 Contra Goldfinger) a direção ficou a cargo de Guy Hamilton, que deu ao filme uma rejuvenescida, e para essa quarta sequência Terence volta o comando, e fica perceptível que o trabalho dele desacelera. Novamente, temos um filme do agente secreto que passa boa parte do tempo com cenas longas demais, um James Bond flertando e se envolvendo com Bond Girls de maneira exagerada, surrealidades e melhorando o ritmo nos minutos finais..
Se em "Goldfinger" tivemos uma subida no contexto, em "Chantagem Atômica" temos uma leve queda que só não foi maior por conta do boa construção do vilão, as isenções descontraídas no roteiro (algumas involuntárias) e as boas cenas de ação debaixo d'água, que só peca quando algumas acabam sendo estendidas demais.
A canção-tema, interpretada por Tom Jones, está no grupo das menos marcantes da série de filmes do 007, não é ruim, mas também não é incrível. E imaginar que uma outra música, já feita, e que seria interpretada por Shirley Bassey e depois regravada por Dionne Warwick, foi retirada pelos produtores por não ter o título do filme (como seria se se ela tivesse entrado na obra?)
Saldo final: obra interessante, mas um pouco abaixo de seu antecessor.
Patti Robinson acaba de entrar na maioridade, mas seus pais ainda não lhe proporcionaram maturidade na criação, o que faz com que ela alimente a vontade se tornar uma mulher refinada de fato, enquanto ainda precisa lidar com horários preestabelecidos e até vestimentas que não condizem muito com a sua nova etapa da vida.
Ao encontrar um homem mais velho que demonstra ter interesse nela, além dos contratempos com os pais, que intervêm em certos momentos, ela ainda precisa disputar as atenções de Demi Armendez com uma amiga, que quer ficar com o rapaz e aproveita os infortúnios que ela passa para se dar bem. O misto de falta de sorte, de boa comunicação com os pais e de trato para trabalhar com as questões do amor deixam Patti frustrada constantemente, e no decorrer da história ela, de alguma maneira, vai tentando driblar essas situações. Paralelo a isso, temos a irmã de Patti, Melba, uma adolescente na flor da idade, que demonstra interesse em Billy, um garoto que cai de amores por Patti. E num espaço um pouco menor, mas que também tem a sua contribuição no enredo, a relação dos pais delas, que em uma parte da trama vai ter um desenvolvimento interessante.
Jane Powell foi uma escolha mais do que acertada para o papel de Patti, ela demonstra os dilemas, a insegurança e ao mesmo a graciosidade que a personagem deve ter, Ricardo Montalban também foi muito bem dando vida a Demi, em que curiosamente, Demi quebra a ideia de que o homem mais velho só estaria interessado por uma mulher mais nova para manter uma imagem de conquistador, mas que no seu caso há, realmente, um sentimento por Patti. Agora, os coadjuvantes são destaques, Carleton Carpenter ótimo em cena com um Billy bem interpretado, e Debbie Reynolds esbanjando jovialidade, com cenas que demonstravam toda a vivacidade de Melba.
"Quando Canta o Coração" é uma produção graciosa que nos faz criar muita simpatia por ela.
Terceira produção do agente James Bond estrelada por Sean Connery e "007 Contra Goldfinger" é maior que suas obras anteriores. Claramente, vemos um aporte financeiro superior ao que foi colocado em "007 Contra o Satânico Dr. No" e "Moscou Contra 007", com destaque para os efeitos especiais, com um trabalho bem elaborado, e no seu tratamento com a sonoplastia, que acabou lhe rendendo um Oscar de "Melhor Edição de Som", a primeira estatueta para um filme da franquia.
O enredo também ganha novos contornos, nada muito fora da curva do que as duas produções anteriores já haviam concebido, mas aqui temos um roteiro mais leve, em que não só James, mas outros personagens também se dão a oportunidade de terem momentos descontraídos, o que deixa ele com um ar de entretenimento mais reconfortante. Sem contar que proporcionou cenas icônicas como a famosa sequência da Bond Girl dourada e uma quantidade enorme de lindas mulheres (aliadas ou não) na história, aliás, foi aqui que começou a peculiar característica dos nomes femininos "exóticos", com Pussy Galore (Pussy em inglês pode ser associado há algo como "gatinha", "bichano" "chaninha"... daí, tempos depois, esse último termo virar referência para algo mais pornográfico foi um pulo) e a primeira música-tema com letra feita especialmente para o filme, que é uma referência musical ao agente 007 até hoje, e não deu outra! Teve uma bilheteria maior que as das tramas de 1962 e 1963, se tornando um sucesso comercial.
A direção acertada de Guy Hamilton, Sean Connery seguro em cena, coadjuvantes entregando gratificantes performances e trabalho técnico de qualidade colocaram James Bond no bom caminho que iria seguir adiante.
Curiosamente, "Fatalidade" tem um roteiro em que o seu núcleo lembra "Cisne Negro" de 2010. Ambas histórias tem seus protagonistas envolvidos no universo teatral (um com uma peça e outra com uma apresentação de balé) e, ao criarem a personalidade obscura de seus personagens acabam absorvendo essa retratação de tal maneira que o lado mal dos seres ficcionais acabam atravessando os palcos e entrando na vida pessoal de cada um.
Até o final, onde os dois acabam eles próprios se ferindo, são parecidos.
A diferença é que Nina de "Cisne Negro" acaba vendo o delírio se transformar num perigo para ela mesma, enquanto as alucinações de Anthony de "Fatalidade" colocam em risco a vida das pessoas ao seu redor. Isso sem contar o fato de que Anthony ser temperamental e ter a fama de entrar tanto na atuação que volta e meia carrega aquilo para fora do teatro.
O filme começa mostrando os bastidores de uma peça teatral, onde vamos acompanhando o seu processo de execução, onde sequência de "Othello" são vistas na tela, o que dá dinamismo e a percepção da qualidade interpretativa do seu elenco. Nos seus entrechos, temos em grande parte a conflituosa relação de Anthony e Brita, com ele demonstrando o seu perfil difícil, e uma curta e discreta referência ao envolvimento de Anthony com Pat, que apesar de ter pouco espaço, terá fundamental contribuição para a cerne da trama. No decorrer do tempo, a índole maldosa do personagem Othello vai se apossando de Anthony, o levando a transtornos que farão sua mente misturar ficção e realidade.
O estilo Noir é muito bem construindo! Jogo de sombras, enquadramentos diferenciados e a costura do enredo deixam a obra num clima de suspense sutil, mas com uma interessante formação.
E não tem como não falar da atuação de Ronald Colman, incrível! Dando toda a densidade do personagem e entregando as suas nuances de maneira excelente. O Oscar de "Melhor Ator" foi mais do que merecido, com todas as honras!
Um senão aqui e acolá para algumas soluções de situações, mas nada de muito grave que afete a sua boa conclusão. Vale a conferida!
A obra tenta pegar a história real e fazer dela um pastelão americano, cheio de coisas sem noção e personagens caricaturizados, mas o filme acaba ficando bobo, nonsense com um humor que nem sempre funciona. E é estranho que uma produção com tantos comediantes americanos reconhecidos da atualidade (alguns vindos do ótimo programa Saturday Night Live) não consiga provocar justamente o que boa parte do público espera, a comédia fanfarrona.
O trama se passa em 97, mas parece mais dos anos 80, o visual não faz muita ligação com o período em que se passa.
É mais um daqueles filmes do gênero dos anos 2010 que ficavam sobrando nas prateleiras das lojas de venda de DVDs e Blu-ray há pouco tempo.
A impressão que se tem é de que os produtores pensaram:
- "Vamos aproveitar a onda do segundo filme e fazer mais um?
- "Vamos!... Mas como vai ser o roteiro?
- "Ah! A gente escreve qualquer porcaria e depois grava"
É tudo tão ruim que fica surreal! Trama tosca, atuações idiotas, produção pífia, sem contar os erros de continuidade e o enredo que tenta ir pra comédia mas só consegue provocar constrangimento diante das besteiras que vão aparecendo.
Uma obra que não fala lé com cré, com personagens sem noção e estereotipados, indo da mais tosca ação, a mais absurda fala. Eu fiquei pensando como decidiram investir algum dinheiro nisso? Porque até mesmo o mais irrisório valor fica caro diante dessa história tão mal executada.
Se resta algum fiapo positivo dessa obra, a gente pode citar as cenas de mortes, que continuaram criativas, e só!
Se o primeiro filme é pobre em enredo evolutivo, em boas atuações e em produção, mas se supera por tratar de um tema ousado pra época, nessa segunda parte a saga abraça o slasher e faz a lição de casa de maneira proveitosa.
Em "Acampamento Sinistro 2", já não se tem mais a questão da dúvida em relação a identidade do assassino e qual a sua motivação, agora temos uma sanguinária monitora que quer manter a ordem e a moral em um acampamento e irá até as últimas consequências para deixar o local livre de atitudes desonrosas.
É morte atrás de morte e uma mais criativa que a outra, com direito até a referências a slashers famosos da época, como "A Hora do Pesadelo", "Sexta-feira 13", "O Massacre da Serra Elétrica" e "Halloween", e a concepção da sua trama já tem um modelo voltado a isso, pois o próprio slasher criou essa dinâmica de que, quem vai contra as ações "corretas", ou seja, transa, usa drogas e tem comportamento desordeiro, acaba recebendo o castigo fatal por tais condutas.
Não temos mais interpretações tão canastronas e situações mal realizadas. Aqui, a atuações são mais dignas e desenvolvimento mais sólido.
É fato que o enredo não tem uma ponte muito firme com a trama da produção anterior, fazendo uma ligação meio frágil, mas não chega a ser algo que fique tão ruim, já que a sua nova construção consegue se sustentar sozinha.
Dos filmes da franquia, "Acampamento Sinistro 2" é o que melhor se sai. Garante um divertimento!
Uma curiosidade.: Pamela Springsteen, a nova protagonista, é irmã do cantor Bruce Springsteen
O modo como o filme retrata a vida de Anthony é muito interessante. É como se estivéssemos vivendo aquela realidade junto com ele, passando pela mesmas incoerências, confusões, dúvidas.
Mesmo com 99% da trama se passando dentro de um apartamento, o desenvolvimento dele consegue se dinamizar constantemente, aliás, o fato dele se passar quase todo nesse único local contribui para uma sensação de claustrofobia que, aliado a esse embaralhamento de situações, causa um desconforto e até um certo temor sobre o que vai vir pela frente.
Anthony Hopkins mandou muito bem na criação do protagonista! É admirável a maneira como ele conduz o Anthony da ficção, que vai do carisma, ao receio com um comportamento intimidador, indo até ao sentimento de pena pela sua situação. Mereceu muito o Oscar de Melhor Ator. Olivia Colman também merece destaque com sua Anne, que faz com que o espectador tenha compaixão por ela diante de tudo o que passa.
Boa direção, produção compensadora e domínio de enredo muito bem feito.
Vamos ao fato: "Sexta-feira 13 - Parte 8: Jason Ataca em Nova York" encerra a franquia original de um jeito ruim. A questão é que o filme, além de contar com alguns absurdos, é altamente afetado pelas atuações medíocres de grande parte do elenco.
A trama de estudantes que vão a Nova York para concluir os estudos e Jason, num surreal argumento, conseguindo entrar no navio e atacando os jovens é uma bobagem sem igual. Detalhe: enchem o navio de adolescentes e, pra não se desfocar do elenco principal, dão cabo no restante dos alunos (que já quase não aparecem na produção) com uma motivação que é tão pífia que quase não dá pra perceber isso na obra. Só depois é que a "Nova York" dá as caras (ou melhor, a parte bagunçada dela, onde no máximo o que temos de referência em meio aqueles becos e ruas sujas é a Estátua da Liberdade e a Times Square, mostradas de um jeito bem qualquer coisa).
Uma bagunça é a maneira como a versão Jason criança aparece em cena, uma hora como um menino com aparência normal, outra hora com parte do rosto deformado, aí depois vai pra uma caracterização mais parecida com o visual original do primeiro filme. A produção não se decide sobre qual aspecto apresenta ele.
Sobre as interpretações, parece que o casting foi escolhido a dedo, mas no critério de piores atuações. Pra se ter uma ideia a reação dos personagens, ao encontrarem os corpos que vão se empilhando na história, é extremamente insípida. É como se, em vez de imaginarmos eles pensando em: "Meu Deus! Ele está morto!"... Na verdade, eles estão reagindo como: "Nossa! Que diferente isso, né!?".
O arquétipo de vilão de Charles McCulloch é canastrão ao máximo. O pessoal tá tentando sobreviver ao ataque do Jason e ele volta e meia reclama de alguma coisa, seja por estar num bote sem rumo certo ou do mesmo atracar num porto "simples". Agora, os atores Jensen Daggett e Scott Reeves e suas constantes expressões insossas conseguem deixar o que já não era bom, pior ainda! Podem receber com todas as desonras o título de piores protagonistas da franquia.
Dá pra dizer então que nada se salva na obra? Não! Certas cenas de mortes até que são criativas, principalmente a que faz referência ao boxe, mas são algumas exceções.
"Sexta-feira 13 - Parte 8: Jason Ataca em Nova York" é a tampa de caixão meia-boca da saga original.
Filme de franquia bom é assim: respeita a sua essência, não foge da sua origem e entrega o que os fãs querem.
Populares franquias de terror e suspense tentaram em algum momento sair da zona de conforto e criar "algo novo" para surpreender o público, vide "Halloween III - A Noite das Bruxas", "Jason X", "O Filho de Chucky", e até Evil Dead entrou no time, com "Uma Noite Alucinante 3", e o resultado foi praticamente igual: consideradas as mais fracas (e pra alguns até as mais odiadas) sequências.
Sam Raimi, diretor dos 3 filmes dos anos 80 e 90, sentiu que, apesar da boa intenção, sua ideia de levar Evil Dead pra um outro caminho na sua terceira continuação não foi a das melhores, e com as obras posteriores (um filme, uma série e um jogo de videogame), agora participando como produtor, ele teve um cuidado maior com o seu filho pródigo. Que ele não se perdesse em roteiros escritos com a obrigatória necessidade de trazer um ar novo e que também não fossem feitos com o único intuito de agradar a geração atual com argumentos "modernos". Se conectar com realidade é preciso, mas deve haver um casamento coerente, onde não se afaste da sua semente original para dar lugar a ramificações mais recentes (o desastre de "O Massacre da Serra Elétrica - O Retorno de Leatherface" por exemplo, com seus Tiktokers e debates sociais). E em seu trabalho como produtor executivo dessa nova empreitada Evil Dead, junto com Bruce Campbell (o inigualável Ash), seguraram pelas mãos sua cria e a encaminharam até o diretor Lee Cronin, para que ela chegasse em segurança e fosse acalentada da melhor forma pelo seu novo padrasto.
O que vemos em "A Morte do Demônio: A Ascensão" é o bom uso dos seus melhores elementos casando com a atualidade. A produção é quase uma homenagem a toda a sua trajetória, são várias referências as cenas vistas nas obras anteriores, e feitas de maneira que você identifica na hora e, pra quem é fã, faz a gente abrir aquele sorriso pela lembrança positiva adicionada, tudo entrelaçado numa trama interessante que não força a barra.
No início, parece que a única diferença encontrada é que ele parece não ter aquele humor sarcástico característico das três primeira obras do Sam Raimi e da série "Ash vs. Evil Dead", mas no decorrer da história ele vai aparecendo, em menor quantidade e não tão escancarado, mas ainda pode ser visto lá. E o seu traço mais importante continua brilhantemente presente: o gore. Muita carnificina e sanguinolência em doses cavalares pra ninguém botar defeito!
Agora, um detalhe chama a atenção, a participação de crianças em cenas bem intensas. É raro filmes de terror não pouparem elas nessas partes nas suas produções, e quando fazem isso acabam surpreendendo o espectador, como "It:- A Coisa" de 2017 fez recentemente e, aqui, o enredo não dá colher de chá pro elenco infantil e as colocam em cenas bastante fortes, e todas interpretadas com exímia qualidade.
Para os apreciadores do horror tradicional de possessão, "A Morte do Demônio - A Ascensão" é um excelente arroz com feijão e carne 'sangrando'.
A história se divide em três partes, mas a impressão que dá é que o filme se divide em dois: a primeira com um tipo de trama (que vai até a metade) e a segundo com um outro enredo que fica irregular.
O triângulo amoroso que se forma no início tem uma construção de ações um tanto quanto estranha, Shanxi parece boba, Zhang é confusamente pretensioso e arrogante e Liangzi é condescendente com certas situações. Parece que a forma dos dramas é propositalmente mal montada e que não quer apresentar um caminho coerente.
Zhang compra a mina que Liangzi trabalha e depois o demite só por raiva por não se afastar de Shanxi e ele trata isso com naturalidade, não diz nada a ela e fica tudo por isso mesmo.
No decorrer da obra, vamos percebendo que Shanxi é imatura, quase infantil, onde aparece tendo atitudes que demonstram alienação com as situações, e só depois de um baque muito forte na vida é que ela deixa de ser a menina tola e passa a enxergar as coisas com mais respeito.
Como na cena em que ela conta ao pai com quem está namorando e, mesmo com a nítida reação de desagrado dele, ela aparece sorrindo, enquanto o pai, em outro canto, se mostra desanimado com a notícia. Depois, quando a mulher de Liangzi vai, aos prantos, pedir ajuda a ela para pagar o tratamento de saúde do marido, e logo em seguida ela aparece sorrindo enquanto está tricotando uma roupa para o cachorro, como se não entendesse a gravidade da condição de Liangzi.
E só após a morte do pai é que ela deixa de ser essa pessoa quase insensível e passa a ser uma mulher madura e consciente com a seriedade das ações e sentimentos da vida.
Já da metade para o final, o enredo gira em torno de um jovem que tenta encontrar a sua independência e liberdade onde, paralelamente, ele passa a ter uma relação que conta com alguns dilemas que o próprio adolescente vai encontrar. Apesar dessa sequência ter, de certa forma, uma ligação com parte do triângulo amoroso do início, ela parece estar aérea, por fora da estrutura do filme como um todo. Não parece se encaixar uma com a outra.
Agora um problema mais grave é que a obra abandona um personagem importante sem dar qualquer resposta, ele simplesmente some da história.
Depois que Shanxi dá o dinheiro para o tratamento médico para Liangzi, ele desaparece da obra e a produção não faz questão nenhuma de dizer o porquê. É um furo muito ruim.
Mas ele também tem pontos positivos, a maneira como trata as diferenças sociais e o uso de elementos que demonstram as passagens de tempo é bem interessante. Como a imagem de uma criança caminhando carregando uma lança num local movimentado e depois, quando passa-se um tempo, vemos a cena de um adolescente andando numa estrada também carregando uma lança e percebemos que ele é o mesmo menino do começo do filme, mas agora já crescido.
Curioso, mas se o seu desenvolvimento fosse mais apurado, o resultado teria sido muito melhor!
"Super Mario Bros. - O Filme" tem ação leve, enredo simples e carismático e que consegue unir referências dos jogos de videogame da franquia com a produção cinematográfica de maneira simpática.
Seu maior mérito é aflorar nos espectadores o sentimento de nostalgia. Para aqueles que cresceram jogando Super Mario é difícil assistir a obra e não se ver feliz vendo a recriação dos personagens, dos cenários, dos elementos, da trilha sonora... Enfim, de tudo que faz parte do universo dos games dele, pois é tudo muito fiel as características dos jogos, e conseguiram criar uma história que consegue não só casar visualmente com esses detalhes, como o clima dela se relaciona muito bem com o que os jogos transmitem, pois a trama tem um ar de ingenuidade e afetuosidade, algo de praxe nas animações da Illumination, que tem como marca de suas produções um olhar mais afável, sem se debruçar em enredos que necessitem de profundidade madura como as animações da Disney, ou com um humor sarcástico com duplo sentido da DreamWorks. Com a Illumination, o que temos são filmes mais puros, sinceros, mas sem serem bobos.
Aqui, claro, Mario é a figura mor! Com a trama que lhe dá todo o aporte para o seu bom desenvolvimento, mas é interessante a forma como é a construção da personalidade da Princesa Peach, pois ela acaba ganhando um poder, uma garra, uma independência muito bacana. A gente percebe o quanto ela dinamiza as ações, deixando de ter a imagem preconcebida de princesa que só fica a espera de ser salva, para aquela que vai a luta. Os demais coadjuvantes, cumprem bem as suas tarefas de promoverem uma boa contribuição nas emoções, seja com o afeto, com o humor, com os embates de temperamentos, cada um ajudando nesses argumentos. Outro bom adicionamento são os clássicos oitentistas na trilha, rola muito som bacana, levando a época de origem do Super Mario, lá nos anos 80.
Aos maiores que forem conferi-lo, embarquem com a mente dos tempos de criança, em que todo tempo que sobrava você ia ligar o seu videogame e se divertia com os jogos do Super Mario que, não eram tão radicais quanto um Mortal Kombat, não eram cheios de técnicas quanto um Street Fighter, mais que garantiam (e ainda garantem) um ótimo entretenimento, com sua aparência e jogabilidade modesta e fácil e com personagens altamente cativantes. Aos menores... Bom! Eu não preciso dar nenhum conselho, a garotada vai curtir se nenhum esforço!
"Pânico" de 2022 não foi de todo o mal, mas não tem a mesma qualidade das obras anteriores, muito disso por conta da ausência de Wes Craven na direção e de um roteiro bem trabalhado por Kevin Williamson, o que fez com que "Pânico 6" viesse mais na força do apreço pela franquia como um todo do que por sua metamorfose na produção anterior. Mas temos uma boa surpresa ao ver que ele se sobrepõe a isso e entrega um clima interessante que nos remete a áurea de outrora, quando "Pânico" iniciava sua caminhada nos anos 90 e 2000.
Homenagens as continuações não faltam! Desde a semelhança entre cenas, elementos reincorporados e o retorno de personagens, e até referências a slashers clássicos são encontrados aqui, como por exemplo, a mais nítidas de todas antes mesmo da sua estreia, a "Sexta-feira 13 - Parte 8: Jason Ataca em Nova Iorque". E assim como aconteceu com algumas sequências desses slashers, "Pânico" sai da sua zona e adentra em um novo ambiente, mas não espere que a cidade de Nova Iorque influencie numa diferenciada abordagem, pois a estrutura narrativa é a mesma, tanto que, são poucos os detalhes da The Big Apple que são trabalhados em conjunto com a construção das cenas de ataques, onde poderiam ser feitas em Woodsboro sem problema nenhum. (dando como exemplo o próprio "Sexta-feira 13 - Parte 8", que aproveitou cenários como o porto de Nova Iorque, a Times Square, os esgotos e etc, para realizar algumas cenas que, nesses locais que só a cidade poderia proporcionar, elaborou performances muito próprias).
Houve uma melhora significativa nas atuações pois, diferente do filme de 2022, em que as interpretações do novo elenco eram irregulares (por conta dos integrantes não parecerem tão empenhados em seus papéis), aqui os atores entregam performances mais convincentes.
E sobre a polêmica da não participação da Neve Campbell no sexto filme, eu vou tá no time daqueles que sentem a falta dela, sim! Mas não é nem só por questão de apego a Sidney Prescott, mas é que deu pra perceber que a trama tava desenhada para que a Sidney estivesse incluída na história, mas por conta das circunstâncias teve que se feito o corte cirúrgico e uma costura pra dar um jeito nessa ausência.
Mas não há como fugir do seu calcanhar de Aquiles. Novamente, a produção é cheia de conveniências e furos. Quando o espectador for assistir ao filme, ele precisa suspender o senso de racionalidade e se deixar levar, porque se for parar para usar a lógica, a obra vira uma patacoada.
A pessoa está num restaurante lotado, pra um encontro, a outra pessoa no telefone pede pra saber como é a entrada do lugar porque está perdida. Ela pergunta pra bartender ou pra alguém do ambiente como é a fachada, ou simplesmente sai pra ver e continuar na entrada? Não! Ela sai de perto do restaurante e depois entra num beco vazio e escuro.
A pessoa consegue escapar do assassino entrando num quarto, se tranca lá dentro e tem uma arma e um telefone na mão. Ela fica lá em segurança e liga pra polícia pra avisar do perigo que passa? Não! Ela continua com o assassino na linha, sai do quarto e tenta adivinhar de onde vai vir o ataque.
Planejam pegar o assassino em um local específico e na hora de se encaminharem pra lá vão de carro de aplicativo ou de carona? Não! Vão de metrô, no horário de pico e cheio de gente fantasiada, inclusive de Ghostface.
Uma coisa é criar momentos óbvios (quase surrealistas) pra fazer a história engrenar, outra coisa é jogar os personagens nas situações sem paraquedas, e isso é feito aqui sem cerimônia.
Já sobre a relevação da identidade do Ghostface, achei interessante, mas dá pra matar a charada. É claro que o enredo, com seus buracos gigantescos, tenta pregar uma peça, mas ainda sim dá pra acertar se ficar atento as pistas.
Dava pra sacar algumas atitudes estranhas do detetive Bailey, mas quando eles entram no cinema e encontram os vários objetos e roupas de Ghostface dos outros ataques, fica claro que só alguém muito influente dentro da polícia poderia conseguir aquelas coisas. E mesmo com a Gale dizendo que dentro do departamento existem policiais que aceitam suborno para vender provas de crimes, eram muitos elementos específicos para que um policial qualquer pudesse repassar a outra pessoa.
A Quinn pode até ser aquela que pode embaralhar a cabeça na hora de tentar desvendar, mas isso só acontece por conta do furo no roteiro pois, se a Quinn encenou o próprio assassinato, como é que os vários policiais e paramédicos que chegaram ao apartamento depois do ataque ignoraram o fato do corpo de uma suposta vítima não ter sido encontrado lá dentro? E se tava lá, como é que ela conseguiu parar os batimentos cardíacos e deixar de respirar por tempo o suficiente para decretarem a sua morte e depois voltar ao normal? O pai dela fingir que tinha visto a filha morta até engana, mas aquele pessoal todo? Isso não é um furo, é uma cratera.
Já o Ethan, tava na cara que aqueles sumiços constantes não eram à toa.
Se "Pânico" de 2022 foi um entretenimento "OK", "Pânico 6" pode ser um entretenimento "OK+", ganhando pontos melhores, mesmo com as pedras no caminho.
E que bom que a franquia voltou a usar a numeração sequencial no título oficialmente, já que o filme de 2022 não tinha o 5 de maneira oficial, e o receio de que os títulos posteriores ficassem remendados de forma grotesca fosse virar padrão, como aconteceu com as continuações de "Halloween", que teve um "Halloween" em 2007, que é o mesmo título do original de 1978 (a nossa sorte foi que a tradução brasileira incluiu o "O Início" no título), que ganhou uma sequência chamada "Halloween 2" em 2009 (que tem a mesmo nome da continuação de 1981), que depois voltou pro nome "Halloween" em 2018... Enfim, virou uma bagunça só!
A obra se propõe a mostrar o processo de concepção de um musical teatral. Desde a sua ideia, a busca pelo patrocínio, a criação dos seus cenários, os ensaios e finalmente a apresentação do seu espetáculo.
Do início até a metade, o filme não é tão entusiasmante, onde há pouco números musicais e mais ênfase na problemática que acaba sendo a construção da história do musical e de seus bastidores, porém, do meio para o final ele ganha ânimo, quando as apresentações posteriores vão tendo lugar, com vários números de dança diversificadas e o enredo revelando novos contornos. Aliás, são tão diferenciados os números que a gente pode até se pegar pensando como aquelas variadas performances conseguem se encaixar dentro da trama que foi elaborada para a Broadway, mas isso não chega a incomodar pois as criações são muito bem feitas, onde o último ato do espetáculo, com um estilo gangsters da década de 30, é de uma criatividade e de um primor que, se o filme inteiro fosse naquele visual seria incrível! Com cenários coloridos, efeito de sombra, trabalho de arte e figurinos bem realizados e coreografias originais.
Fred Astaire e Cyd Charisse eram talentosos demais, realmente! Como é bacana ver os dois juntos, em trabalhos de dança exemplares. O filme é deles!
Bom filme! Não chega ser perfeito, mas tem muitas qualidades.
Um continuação que, assim como o primeiro filme, mantêm a sua essência jovial, despretensiosa, singela e divertida.
Agora, comum pouco mais de incremento visual e reforços no elenco, "Shazam! Fúria dos Deuses" guarda no seu núcleo criativo aquele ar juvenil carismático, agora dando mais espaço para os coadjuvantes e, criando uma interessante concepção das personagens mitológicas antagonistas, cada uma com suas características comportamentais.
Efeitos especiais bem realizados, atuações positivas e trabalho de produção de qualidade.
Uma obra para ver sem compromisso e passar um momento agradável com uma história sem grandes pretensões, de fácil assimilação e que promove um entretenimento simpático a todos os públicos.
É como se estivéssemos diante da Caixa de Pandora, onde tudo o que é há de ruim na sociedade está reunido. São personagens e situações das mais incômodas, perturbadoras, desconcertantes, e sem precisarem ser explícitas, basta compreender o contexto daquilo que logo nota-se que o pior do homem aparece ali.
A direção de fotografia é muito bem feita, principalmente nas áreas externas, dando uma beleza visual contrastando com a trama sombria. Ponto positivo para as atuações, que conseguem dar a densidade ao enredo com interpretações na medida.
Já pelo lado negativo, a história caminha num ritmo lento, por vezes é confusa e parece se apegar muito aos conceitos desconfortantes para poder engrenar.
É um filme que deixa um gosto amargo, que não é de fácil digestão e onde ninguém se salva.
007: Somente Para Seus Olhos
3.5 120 Assista AgoraE James Bond mergulha de cabeça nos anos 80.
O primeiro filme da franquia a adentrar nesta década incorpora a época na sua produção e se revigora.
"007 - Somente Para Seus Olhos" foi a iniciativa da equipe de fazer o agente secreto voltar as suas raízes, botando novamente os pés no chão, já que depois de viajar pelo espaço com "007 Contra o Foguete da Morte" eles tiveram a consciência de que, fazer uma história que fosse além disso poderia ser uma criação quase nonsense. À de se convir que a questão financeira da United Artists Pictures, produtora dos filmes do James Bond na época em parceira com a MGM, também não estava numa situação muito confortável, devido ao fracasso do filme "O Portal do Paraíso", de 1980, em que foi gasta uma quantia de dinheiro generosa na obra e que acabou causando um grande prejuízo aos cofres da United Artists, o que fez com que o orçamento da 12ª continuação fosse reduzida em comparação com o filme anterior, o que não daria lugar para um roteiro que fosse fortemente ligado a ficção científica (que geralmente resulta em um custo alto).
Mas apesar do aporte financeiro ter sofrido uma diminuição, isso não atrapalhou em nada a qualidade da produção, arrisco a dizer até que foi favorável ao resultado final.
Aqui, James Bond precisa recuperar um dispositivo que pode acionar armas e causar uma destruição pelo mundo, e em paralelo a isso temos a sede de vingança que Melina quer saciar, depois de passar por um tragédia pessoal em que esse fato tem ligação com o grupo que quer ter o dispositivo.
O período oitentista faz com que a trama seja ágil, com boas cenas de ação e um enredo com um interessante caminhar. Uma das coisas que chamam a atenção é a violência gráfica, com momentos mais explícitos pois, antes, a violência era mostrada de modo mais contido, menos forte, e nessa parte há cenas em que ela fica mais nítida, onde o sangue aparece de forma mais perceptível nos personagens, como na sequência dos tiros no casal no iate, bem intenso. Podemos dizer que foi nessa continuação que a intensidade visual começou a dar os seus primeiros passos, atingindo o seu ápice em "007 - Na Mira dos Assassinos".
O teor cômico também fica mais evidente, porém, se em alguns filmes como em "007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro" a inserção de humor não era bem dosado, aqui o espaço pra comédia é bem adicionado, não ficando fora do tom e ajudando no bom andamento da trama.
Agora, se for pra falar da característica mais anos 80 encontrada nessa obra, esse ponto fica pra trilha sonora. Bill Conti conseguiu fazer uma trilha tão diversificada, com tantos arranjos diferenciados, ritmos misturados, e tudo muito a cara daqueles tempos. Se com John Barry as composições mantinham o estilo dos anos 60 em boa parte das trilhas em que ele participava (ás vezes soando até meio antiquado), com Bill Conti temos um salto cheio de vigor oitentista, o que conta muito a favor da versatilidade musical do filme.
Carole Bouquet (a Bond Girl Melina Havelock) é perfeita para o papel! Da beleza que exibe nas partes mais "harmoniosas" da história, ela vai para um semblante mais sério e enigmático de uma mulher que busca vingança e tem como arma uma balestra, que vira não só sua marca registrada, como a do próprio filme.
Novamente, os cenários são de encher os olhos! Indo da Espanha para a Grécia, retornando a Itália (agora por áreas nevadas), e passando novamente por localidades como Bahamas e Reino Unido.
Então é tudo correto nessa continuação?
Não!
A avaliação não tão boa fica por conta do romance trabalhado de maneira mal-ajambrada. É curioso ver os dois lados da história, com James fazendo o seu serviço, enquanto acompanhamos Melina no seu desejo de fazer justiça com as próprias mãos e como esses dois objetivos acabam entrando em acordo, mas justamente por serem propósitos diferentes não há lugar para um clima de romance entre os seus realizadores, o que é algo até interessante, mas parece que o enredo precisa ter o seu momento de "amor" e no meio da trama até surge uma conquista de Bond (o teor mulherengo que ele nunca perde!), mas que não segue muito adiante, e lá pelas tantas a história tenta forçar um envolvimento amoroso dele com Melina, o que destoa do seu argumento, não fica natural.
Outro ponto negativo é o seu clímax, que não acontece do modo com que o espectador espera, o que torna essa parte broxante.
Passamos o filme todo esperando Melina finalmente matar o assassino de seus pais e James a impede de fazer isso, e um outro personagem acaba fazendo o serviço.
A franquia 007 realmente é uma montanha-russa! Depois de dar uma volta na parte de baixo com "007 Contra o Foguete da Morte", numa obra com alguns atrativos mas sem muito entusiasmo, em "007 - Somente Para Seus Olhos" ele faz a sua subida para proporcionar uma sensação mais eletrizante e com mais diversão.
007 Contra o Foguete da Morte
3.2 175 Assista AgoraAntes de falar dessa décima primeira continuação, é preciso conhecer o caminho que foi construído para ela chegar aos cinemas no final da década de 70.
Uma prática comum nas cenas de créditos finais dos filmes do agente secreto eram a apresentação do título da próxima obra que iria ganhar as telas, e em "007 O Espião que me Amava" foi divulgado que "007 - Somente Para Seus Olhos" seria sua sequência, porém, em 1977 um surpreendente blockbuster chamado "Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança" surgia, causando um gigante impacto na indústria e, como não podia deixar de ser, muitos filmes queriam embarcar na onda das produções de ficção científica no espaço (pra se ter uma ideia da dimensão do sucesso, até no Brasil tivemos a nossa versão verde e amarelo de Star Wars, a paródia "Os Trapalhões na Guerra dos Planetas"), e a mudança de plano foi feita para trazer "Moonraker" (título original) já no ano de 79 no lugar da obra antes preterida, que chegaria aos cinemas em 81.
Curiosamente, a trama, escrita por Ian Fleming muitos anos antes, já foi concebida com a ideia de se transformar em um filme antes mesmo dele terminar de escrevê-la, e dada as circunstâncias daquele final dos anos 70, um roteiro foi sendo delineado com a referência de Star Wars e o planejamento do local onde essa história poderia ser filmada entraram em ação.
Inicialmente, Nepal e Índia estavam no radar de escolha de países para a produção, porém as localidades não pareciam ter elementos que casassem com a sua história, sem contar a limitação de tempo, então dois países acabaram repetindo suas participações: Paris, que teve o exuberante Castelo de Vaux-le-Vicomte como seu cartão-postal, e a Itália, com a bela Veneza novamente dando as caras numa obra da franquia. Mas agora um novo ambiente dava as caras, o Brasil, com James Bond desembarcando na América do Sul pela primeira vez, e em terras brasileiras o Rio de Janeiro e as cataratas do Iguaçu, no Paraná, foram os lugares escolhidos para a produção. No Rio, além da vista sem igual da cidade do Morro do Pão de Açúcar, ainda temos um desfile da Escola de Samba Salgueiro, no Carnaval (na época pré-Sambódromo), já nas Cataratas temos um ressignificado da paisagem que, para nós brasileiros é um tanto quanto estranho, mas a gente acaba aceitando, mas fazendo algumas objeções, o fato do ambiente ser tratado como cenário da Floresta Amazônica é incômodo, afinal, o Paraná é da região Sul e, se já estavam no Brasil, o que custava vir pro Norte gravar as cenas no lugar que realmente faz parte da Amazônia? Mas enfim... Logo em seguida vemos uma espécie de templo em formato de pirâmide que, claramente tem um contexto de cultura dos povos do México, caindo naquele pensamento de alguns norte-americanos e europeus de acharem que os países vistos como latinos são todos iguais, onde no Brasil se fala espanhol, se dança mambo, etc, mas a gente acaba relevando isso de certo modo.
Sobre os personagens, James Bond exibe uma certa arrogância que, em alguns pontos fica na beira da linha da antipatia (como no primeiro encontro com Holly Goodhead, por exemplo, onde ele flerta com o menosprezo pela posição dela como especialista) e em outros é até jocoso. O vilão Jaws retorna, mas aqui ele acaba ganhando uma construção cômica que não parece se encaixar com a proposta dele como um dos arqui-inimigos, e isso fica ainda mais forte quando a obra arranja uma namorada pra ele, o que deixa um humor risível desconexo. Hugo Drax não é um antagonista que cause tanto temor, mas ele acaba fazendo um trabalho aceitável, a Bond Girl Holly Goodhead dá uma interessante contribuição no enredo, Lois Chiles faz com que Holly atraia as atenções tanto pela beleza quanto por seus conhecimentos, já Corinne Dufour, tem numa rápida participação que deixa a vontade de querer ver mais ela, já Manuela tem uma contribuição que parece mal concebida, ela surge, participa de uma missão com James e depois some sem muita explicação, logo ela que seria a "brasileira" da história (a atriz que lhe deu vida, Emily Bolton, é de Aruba).
Do começo até a metade da história, a enredo segue a cartilha dos filmes do agente secreto de maneira padrão, mas no final é que a ficção científica finalmente dá as caras com mais potência, onde o espaço ganha vez e ali vemos o quanto Star Wars foi a sua fonte, com direito a batalha de raios lasers e gravidade zero. Pra bom fã desse tipo de conceito, a sequência espacial é um prato cheio! Com direito a efeitos sonoros futuristas típicos típicos da época e direção de arte bem realizada.
A conclusão é de que "007 Contra o Foguete da Morte" parece construído de modo desproporcional, tem coisas interessantes, mas que parecem não se encaixar bem umas com as outras, alguns falhas (como a contextualização do Brasil citado mais acima) e erros de continuidade (Como a piloto Corinne aparecer sem o headset para aviação depois de um tempo), a música-tema, cantada pela terceira vez por Shirley Bassey que, apesar de bonita, não tem o mesmo carisma de "Nobody Does it Better" da obra anterior e a inclusão da personagem Dolly, que desvirtua o clima da trama quando aparece.
Se não se sai bem nessas partes, garante diversão nas questões como cenas de ação (a cena de abertura é muito boa), e certos pontos específicos do roteiro, sem esquecer da já clássica sequência de luta no Bondinho do Pão de Açúcar.
007: O Espião que me Amava
3.6 157Podemos até dizer que a franquia 007 é desregulada (porém nunca péssima), mas quando um filme da série acerta o compasso, faz isso muito bem!
Depois do não tão bom assim "007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro", "007: O Espião que me Amava" acha um tom certo ao criar o seu primeiro roteiro não baseado num romance de Ian Fleming.
Por conta de problemas judiciais, os roteiristas da nova obra tiveram acesso apenas ao título do livro do agente secreto e, a partir dele fazer nascer uma nova história e, se no romance encontrávamos um teor sexual mais evidente e uma abordagem literária mais diferenciada (dividido em três partes), na criação cinematográfica temos uma construção padrão e apostando no desenvolvimento da ação.
O núcleo central da motivação do vilão, que vai aparecendo aos poucos na trama, já apontava o que veríamos futuramente na franquia, direcionando para enredos com uma ficção mais evidente, mas neste ela é construída de maneira discreta.
Atacar vários países para, depois criar um ambiente onde a sociedade viveria embaixo d'água.
Karl Stromberg se mostra um arqui-inimigo bastante frio, ao ponto de dar cabo em qualquer um que ele considere uma ameaça e sem sentir um pingo de remorso. E seu capanga Jaws acabou se tornando um dos personagens mais memoráveis da série.
Na décima parte, temos ótimas cenas de ação (que já dando as caras logo na cena inicial antes dos créditos), de luta corporal e até uma sequência de perseguição com uma variedade de meios de transporte nunca vista até então, e feita com qualidade, e com direito a aparição do icônico Lotus Esprit S1, o emblemático carro do agente secreto.
Em uma única cena temos uma moto, um carro, um helicóptero e um minissubmarino.
E falar de James Bond e não citar as Bond Girl é impossível! E nessa produção Anya Amasova, a Triplo X (interpretada pela Barbara Bach) consegue atrair as atenções, não só por sua beleza, mas também pelo domínio de cena. É curioso ver a tensão entre Anya e Bond, numa relação quase de amor e ódio entre eles, o que dá todo o tempero diferenciado, fazendo uma boa correlação com o título, que aliás, se pensarmos bem, mesmo que automaticamente o liguemos ao James Bond (e de certo modo até pode ter essa ligação também), o nome do filme parece ter mais aproximação com outro espião.
No caso, o espião que amava Anya seria Sergei Barsov, com quem ela tinha um envolvimento e que James Bond mata na cena inicial da perseguição de esqui.
Temos outras belas mulheres que aparecem no decorrer do tempo, e o casting feminino é de respeito! E a problemática incorporação do "toda mulher que vê James quer flertar com ele" do filme anterior, neste capítulo é atenuada.
Agora, se tem uma coisa que as produções do agente secreto sabem fazer com maestria é trabalhar com a exibição dos lugares mais interessantes, e nessa obra nos deparamos com cenários no Egito, na Itália e nas Bahamas sendo mostrados de um jeito bonito de se ver, visualmente e culturalmente.
Além da boa bilheteria, "007: O Espião que me Amava" ainda conseguiu três indicações ao Oscar: Melhor Direção de Arte, Melhor Trilha Sonora e Melhor Canção Original, pra excelente "Nobody Does it Better", cantada por Carly Simon, sendo a primeira música-tema a ter o nome diferente do título do filme.
São muitos predicados para essa continuação, até o próprio Roger Moore já revelou que essa décima parte foi a obra do agente secreto que ele mais gostou de ter atuado, e pra nós, espectadores, essa sequência é uma ótima produção que nos oferece um gratificante resultado.
007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro
3.5 148 Assista Agora"007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro" beira a breguice e se mostra um dos filmes mais fracos da franquia.
Na cena que antecede os créditos iniciais já dá um indício do que viria, com um ambiente visual até bonito, mas um tanto quanto circense, apresentando o vilão da trama.
No decorrer da história, os cenários continuam sendo mostrados com um trabalho de direção de arte e fotografia bastante interessante, porém o roteiro aposta em inclusões maiores de humor que, ora são recreativos, ora são bobos, e ainda são destilados alguns elementos que deixam a produção meio cafona.
Isso fica claro com o retorno do xerife J.W. Pepper, vindo da obra anterior "Com 007 Viva e Deixe Morrer" em que, se os produtores não se contentaram em ver o personagem desvirtuar o clima com um momento de comédia risível, aqui ele atinge o máximo do constrangimento, com uma participação tosca e estando presente numa situação em que um efeito sonoro patético é adicionado ao salto de um carro.
Aqui, dá a impressão de que queriam que a canastrice galanteadora de James Bond dos primeiros filmes voltasse e as mulheres da trama tinham que participar de algum flerte toda vez que surgissem na tela.
Goodnight pode ser considerada uma das Bond Girls mais subaproveitas da franquia! No começo da trama só aparece em cena indignada com o fato de James Bond se envolver (ou acreditando que ele estaria se envolvendo) sexualmente com outras mulheres e não com ela, quando finalmente participa ativamente da missão é capturada da maneira mais tola possível e depois quando volta, sem explicação racional, surge de biquíni como se estivesse passando uma temporada de férias com o vilão.
Uma de suas poucas qualidades fica por conta das novas localidades. Tailândia, Hong Kong e Macau são um primor de cenários naturais e rica cultura, e o filme aproveita bem isso.
A motivação do vilão é curiosa, e Scaramanga é um dos melhores sobrenomes que um antagonista poderia ter! Já impõe um perfil nele.
John Barry volta a ser o compositor da trilha sonora e, em comparação a trilha feita por George Martin no filme antecessor, a de Barry é bem inferior, quase imperceptível (o próprio admitiu que esse não é um de seus trabalhos para os filmes do agente secreto que mais gosta) e a música-tema interpretada pela cantora Lulu, apesar de tentar voltar as raízes das canções do 007, não é memorável. Curiosamente, o roqueiro Alice Cooper chegou a fazer uma música-tema que, quase foi escolhida, mas que, no final das tratativas, acabou perdendo o posto para a música interpretada por Lulu.
A conclusão é de que "007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro", mesmo não sendo um desastre total, parece ser um devaneio humorístico que tira a seriedade de James Bond e o coloca numa trama com problemas estruturais e irregularidades em seu clima.
Com 007 Viva e Deixe Morrer
3.5 177 Assista Agora"Com 007 Viva e Deixe Morrer" é a entrada de Roger Moore na franquia, e que início mais promissor!
Com Roger, os filmes do agente secreto ganham uma vitalidade e uma estima de imediato, e é claro que tudo isso acontece também graças a direção de Guy Hamilton, que foi o responsável por dirigir as produções anteriores mais vigorosas ("007 Contra Goldfinger" e "007 - Os Diamantes São Eternos").
Com o novo 007 poderíamos até fazer uma analogia (um tanto quanto diferenciada, mas válida) num comparativo entre as obras: com Sean Connery é como se os filmes de James Bond fossem um prato refinado, mas faltando um pouco de tempero em algumas partes, já com George Lazenby temos uma refeição interessante, mas servida em uma quantidade exagerada (o filme é longo demais), e com Roger Moore, temos a boa e velha lasanha, que ninguém consegue odiar, mesmo que não seja o seu prato predileto.
Roger Moore deu a James Bond um perfil carismático, amigavelmente requintado, até mesmo nos momentos de galanteio, que nas outras produções soavam um pouco presunçoso no personagem, com Roger fica uma outra impressão, quase caricato, que deixa essas partes com um pé no jocoso. Não é à toa que ele é um dos atores mais lembrados das continuações, não só por ser aquele que mais interpretou o agente secreto, mas também por ter colocado a sua marca cativante em 007.
A oitava sequência da franquia é energética, entusiasmante, dinâmica. Desde a música-tema feita por Paul McCartney & Wings, a ideia do roteiro, os cenários e a direção de fotografia, a trilha sonora, os vilões, as cenas de ação... Vemos um salto de concepção do personagem e sua história.
E na área das Bond Girls, apesar de temos apenas duas, elas não passam batido na tela: Gloria Hendry e sua divertida Rosie (a primeira Bond Girl negra), e Jane Seymour, com sua enigmática Solitaire. Cada uma com seu destaque em cena!
E não tem como não comentar a sequência da perseguição de lanchas, que entrega ação de forma eletrizante, proporcionando um das cenas mais marcantes da série de filmes. Imaginando o trabalho que deu pra gravá-la.
Não é um enredo perfeito como um todo, tem alguns problemas no roteiro em certos locais da trama, como por exemplo, a tentativa de incluir humor nessa mesma parte da perseguição de lanchas, onde o personagem do Xerife J.W. Pepper parece destoar daquele seguimento.
"Com 007 Viva e Deixe Morrer" é para o espectador apreciar sem muita exigência, se deixar levar pela história e passar a ver James Bond com um olhar mais simpático.
007: Os Diamantes são Eternos
3.4 159 Assista AgoraÉ interessante como Guy Hamilton consegue dar um ar mais vivaz e leve aos filmes do James Bond que dirigiu.
Terence Young foi o primeiro na direção das obras cinematográficas do agente 007 e deu toda a forma que inspira até hoje as produções subsequentes de James Bond, mas é nítido que desde o início o ritmo das histórias que dirigiu são irregulares, há momentos de marasmo, alongamento de sequências desnecessários, que deixam eles ora entusiasmantes, ora tediosos, já Lewis Gilbert conseguiu dar uma cara mais 'corada' a obra com "Com 007 Só Se Vive Duas Vezes", ou seja, um semblante mais harmonioso, e Peter R. Hunt deu uma aparência diferenciada, mais obscura mas sem fazer o personagem perder a sua essência em "007 - A Serviço Secreto de Sua Majestade", e seria curioso ver ele retornar para a direção nessa nova parte, mas por conta de conflitos de agenda não foi possível vê-lo comandando a obra aqui, então chegou a vez de Guy Hamilton voltar as atividades, assim como Sean Connery, que retorna ao papel após o ator George Lazenby acabar não interpretando mais James Bond no cinema, tendo apenas uma única participação na franquia.
"007: Os Diamantes São Eternos" tem um frescor, uma jovialidade que só Guy Hamilton mesmo poderia colocar! Muito por conta do tempero de humor que ele adiciona na trama, como os capangas do vilão, que de maneira subliminar dão a entender que são mais que uma dupla de criminosos, algumas saídas de roteiro, como a garota jogada da varanda do hotel e as ações do próprio James Bond, mesclando cinismo e ironia.
A trajetória da história é constante, não perde o entusiasmo, o que agrada por não demonstrar cansaço ao longo do caminho, evitando momentos enfadonhos.
Mas, apesar das boas contribuições, essa sétima continuação não consegue dar um bom desenvolvimento a estrutura do vilão, você sabe que ele faz parte daquilo, mas ele não tem tanto impacto como uma figura importante do enredo.
Jill St. John como uma Bond Girl às avessas chama a atenção por ser a única personagem do tipo aqui, e também por sua dubiedade, já que a sua atividade profissional não é a das mais corretas, mas faz falta ter mais participações femininas com uma boa desenvoltura no roteiro, pois a única que poderia proporcionar isso é descartada em pouco tempo.
Mesmo com esse "buracos no asfalto", a pista de "007: Os Diamantes São Eternos" ainda oferece um agradável passeio por mais uma sequência digna, e leva ao bom caminho por onde vai passar o oitavo filme.
007: A Serviço Secreto de Sua Majestade
3.4 221 Assista AgoraCurioso como, após a entrada de George Lazenby para interpretar James Bond o filme ganha uma outra atmosfera. Aqui, a obra fica interessante em alguns aspectos, como o fato do próprio personagem deixar de lado o semblante canastrão (apesar de uma ou outra parte ter ele cenas meio cínicas por conta de seu galanteio), alguns cenários com iluminação mais escurecidas e uma criação de sequências menos espalhafatosas.
A história ganha contornos instigantes, mesmo que o perigo em que Bond tenta evitar não tenha tanto impacto na trama.
Mas uma coisa que não mudou foi a quantidade de mulheres bonitas, e até no modo como elas foram apresentadas tem o seu diferencial, praticamente todas de uma só vez.
É uma trama com um bom resultado! Peca um pouco por ser longo demais, mas parece melhor delineado.
O Que Há para Jantar?
3.4 40Acredito que o problema do filme foi ele ser vendido como uma mistura de comédia com terror, quando na realidade ele não tem humor. É uma história onde o seu principal tema é mostrado em boa parte do tempo de maneira subliminar, você entende que existe algo estranho, aos poucos os elementos vão ficando mais claros, e nos minutos finais é que a explicitude se faz presente.
Por conta disso, o espectador vai precisar ter um pouco de paciência para conseguir acompanhá-lo pois, do início até a metade ele deixa uma sensação de algo sinistro, mas sem grandes impactos, são mais comportamentos esquisitos. Mas quando a verdade vem à tona ele faz um trabalho interessante.
A cena chave da orientadora escolar encontrando um corpo quando vai limpar uma janela no porão e o movimento da câmera se afastando e passando por alguns cômodos da casa rapidamente, enquanto ouvimos o grito dela é bem bacana.
Algumas transições de imagens contribuem para o sentimento de estranheza que a obra se propõe a apresentar.
Como a cena do pesadelo do garoto, em que aparece ele se afogando em sangue e depois mostrando o próprio na cozinha, mexendo numa vasilha com uma substância (que creio ser um molho) também de cor vermelha, e na parte em que o menino flagra os pais na cama, com uma iluminação forte e mesclando o entendimento de que eles estavam em um momento sexual com a impressão de ter uma ação mais animalesca.
A construção dos entrechos dos personagens também causam essa impressão, como a colega novata e o patrão do pai.
Eu diria que ele é um filme curioso. Não é péssimo, mas é uma produção OK!, que vale a conferida, mas que não se deve esperar uma coisa fenomenal.
P.S.: Muito bom ver a Sandy Dennis atuando, ela que ganhou o Oscar de "Melhor Atriz Coadjuvante" por sua interpretação em "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?" e aqui faz um de seus últimos trabalhos em tela grande (seu derradeiro papel no cinema seria em "Unidos Pelo Sangue" de 1991).
007 Contra a Chantagem Atômica
3.5 160 Assista AgoraTerence Young tem o mérito de ter sido o diretor dos dois primeiros filmes da franquia que, apesar de não serem totalmente perfeitos, tem suas qualidades. Para o terceiro filme (007 Contra Goldfinger) a direção ficou a cargo de Guy Hamilton, que deu ao filme uma rejuvenescida, e para essa quarta sequência Terence volta o comando, e fica perceptível que o trabalho dele desacelera.
Novamente, temos um filme do agente secreto que passa boa parte do tempo com cenas longas demais, um James Bond flertando e se envolvendo com Bond Girls de maneira exagerada, surrealidades e melhorando o ritmo nos minutos finais..
Se em "Goldfinger" tivemos uma subida no contexto, em "Chantagem Atômica" temos uma leve queda que só não foi maior por conta do boa construção do vilão, as isenções descontraídas no roteiro (algumas involuntárias) e as boas cenas de ação debaixo d'água, que só peca quando algumas acabam sendo estendidas demais.
A canção-tema, interpretada por Tom Jones, está no grupo das menos marcantes da série de filmes do 007, não é ruim, mas também não é incrível. E imaginar que uma outra música, já feita, e que seria interpretada por Shirley Bassey e depois regravada por Dionne Warwick, foi retirada pelos produtores por não ter o título do filme (como seria se se ela tivesse entrado na obra?)
Saldo final: obra interessante, mas um pouco abaixo de seu antecessor.
Quando Canta o Coração
3.9 6Uma obra leve sobre o começo do amadurecimento.
Patti Robinson acaba de entrar na maioridade, mas seus pais ainda não lhe proporcionaram maturidade na criação, o que faz com que ela alimente a vontade se tornar uma mulher refinada de fato, enquanto ainda precisa lidar com horários preestabelecidos e até vestimentas que não condizem muito com a sua nova etapa da vida.
Ao encontrar um homem mais velho que demonstra ter interesse nela, além dos contratempos com os pais, que intervêm em certos momentos, ela ainda precisa disputar as atenções de Demi Armendez com uma amiga, que quer ficar com o rapaz e aproveita os infortúnios que ela passa para se dar bem. O misto de falta de sorte, de boa comunicação com os pais e de trato para trabalhar com as questões do amor deixam Patti frustrada constantemente, e no decorrer da história ela, de alguma maneira, vai tentando driblar essas situações.
Paralelo a isso, temos a irmã de Patti, Melba, uma adolescente na flor da idade, que demonstra interesse em Billy, um garoto que cai de amores por Patti. E num espaço um pouco menor, mas que também tem a sua contribuição no enredo, a relação dos pais delas, que em uma parte da trama vai ter um desenvolvimento interessante.
Jane Powell foi uma escolha mais do que acertada para o papel de Patti, ela demonstra os dilemas, a insegurança e ao mesmo a graciosidade que a personagem deve ter, Ricardo Montalban também foi muito bem dando vida a Demi, em que curiosamente, Demi quebra a ideia de que o homem mais velho só estaria interessado por uma mulher mais nova para manter uma imagem de conquistador, mas que no seu caso há, realmente, um sentimento por Patti. Agora, os coadjuvantes são destaques, Carleton Carpenter ótimo em cena com um Billy bem interpretado, e Debbie Reynolds esbanjando jovialidade, com cenas que demonstravam toda a vivacidade de Melba.
"Quando Canta o Coração" é uma produção graciosa que nos faz criar muita simpatia por ela.
007 Contra Goldfinger
3.8 255 Assista AgoraTerceira produção do agente James Bond estrelada por Sean Connery e "007 Contra Goldfinger" é maior que suas obras anteriores.
Claramente, vemos um aporte financeiro superior ao que foi colocado em "007 Contra o Satânico Dr. No" e "Moscou Contra 007", com destaque para os efeitos especiais, com um trabalho bem elaborado, e no seu tratamento com a sonoplastia, que acabou lhe rendendo um Oscar de "Melhor Edição de Som", a primeira estatueta para um filme da franquia.
O enredo também ganha novos contornos, nada muito fora da curva do que as duas produções anteriores já haviam concebido, mas aqui temos um roteiro mais leve, em que não só James, mas outros personagens também se dão a oportunidade de terem momentos descontraídos, o que deixa ele com um ar de entretenimento mais reconfortante. Sem contar que proporcionou cenas icônicas como a famosa sequência da Bond Girl dourada e uma quantidade enorme de lindas mulheres (aliadas ou não) na história, aliás, foi aqui que começou a peculiar característica dos nomes femininos "exóticos", com Pussy Galore (Pussy em inglês pode ser associado há algo como "gatinha", "bichano" "chaninha"... daí, tempos depois, esse último termo virar referência para algo mais pornográfico foi um pulo) e a primeira música-tema com letra feita especialmente para o filme, que é uma referência musical ao agente 007 até hoje, e não deu outra! Teve uma bilheteria maior que as das tramas de 1962 e 1963, se tornando um sucesso comercial.
A direção acertada de Guy Hamilton, Sean Connery seguro em cena, coadjuvantes entregando gratificantes performances e trabalho técnico de qualidade colocaram James Bond no bom caminho que iria seguir adiante.
Fatalidade
3.9 17Curiosamente, "Fatalidade" tem um roteiro em que o seu núcleo lembra "Cisne Negro" de 2010. Ambas histórias tem seus protagonistas envolvidos no universo teatral (um com uma peça e outra com uma apresentação de balé) e, ao criarem a personalidade obscura de seus personagens acabam absorvendo essa retratação de tal maneira que o lado mal dos seres ficcionais acabam atravessando os palcos e entrando na vida pessoal de cada um.
Até o final, onde os dois acabam eles próprios se ferindo, são parecidos.
A diferença é que Nina de "Cisne Negro" acaba vendo o delírio se transformar num perigo para ela mesma, enquanto as alucinações de Anthony de "Fatalidade" colocam em risco a vida das pessoas ao seu redor. Isso sem contar o fato de que Anthony ser temperamental e ter a fama de entrar tanto na atuação que volta e meia carrega aquilo para fora do teatro.
O filme começa mostrando os bastidores de uma peça teatral, onde vamos acompanhando o seu processo de execução, onde sequência de "Othello" são vistas na tela, o que dá dinamismo e a percepção da qualidade interpretativa do seu elenco. Nos seus entrechos, temos em grande parte a conflituosa relação de Anthony e Brita, com ele demonstrando o seu perfil difícil, e uma curta e discreta referência ao envolvimento de Anthony com Pat, que apesar de ter pouco espaço, terá fundamental contribuição para a cerne da trama.
No decorrer do tempo, a índole maldosa do personagem Othello vai se apossando de Anthony, o levando a transtornos que farão sua mente misturar ficção e realidade.
O estilo Noir é muito bem construindo! Jogo de sombras, enquadramentos diferenciados e a costura do enredo deixam a obra num clima de suspense sutil, mas com uma interessante formação.
E não tem como não falar da atuação de Ronald Colman, incrível! Dando toda a densidade do personagem e entregando as suas nuances de maneira excelente. O Oscar de "Melhor Ator" foi mais do que merecido, com todas as honras!
Um senão aqui e acolá para algumas soluções de situações, mas nada de muito grave que afete a sua boa conclusão. Vale a conferida!
Gênios do Crime
2.8 260 Assista AgoraA obra tenta pegar a história real e fazer dela um pastelão americano, cheio de coisas sem noção e personagens caricaturizados, mas o filme acaba ficando bobo, nonsense com um humor que nem sempre funciona. E é estranho que uma produção com tantos comediantes americanos reconhecidos da atualidade (alguns vindos do ótimo programa Saturday Night Live) não consiga provocar justamente o que boa parte do público espera, a comédia fanfarrona.
O trama se passa em 97, mas parece mais dos anos 80, o visual não faz muita ligação com o período em que se passa.
É mais um daqueles filmes do gênero dos anos 2010 que ficavam sobrando nas prateleiras das lojas de venda de DVDs e Blu-ray há pouco tempo.
Acampamento Sinistro 3
2.6 94A impressão que se tem é de que os produtores pensaram:
- "Vamos aproveitar a onda do segundo filme e fazer mais um?
- "Vamos!... Mas como vai ser o roteiro?
- "Ah! A gente escreve qualquer porcaria e depois grava"
É tudo tão ruim que fica surreal! Trama tosca, atuações idiotas, produção pífia, sem contar os erros de continuidade e o enredo que tenta ir pra comédia mas só consegue provocar constrangimento diante das besteiras que vão aparecendo.
Uma obra que não fala lé com cré, com personagens sem noção e estereotipados, indo da mais tosca ação, a mais absurda fala.
Eu fiquei pensando como decidiram investir algum dinheiro nisso? Porque até mesmo o mais irrisório valor fica caro diante dessa história tão mal executada.
Se resta algum fiapo positivo dessa obra, a gente pode citar as cenas de mortes, que continuaram criativas, e só!
Acampamento Sinistro 2
2.9 116Se o primeiro filme é pobre em enredo evolutivo, em boas atuações e em produção, mas se supera por tratar de um tema ousado pra época, nessa segunda parte a saga abraça o slasher e faz a lição de casa de maneira proveitosa.
Em "Acampamento Sinistro 2", já não se tem mais a questão da dúvida em relação a identidade do assassino e qual a sua motivação, agora temos uma sanguinária monitora que quer manter a ordem e a moral em um acampamento e irá até as últimas consequências para deixar o local livre de atitudes desonrosas.
É morte atrás de morte e uma mais criativa que a outra, com direito até a referências a slashers famosos da época, como "A Hora do Pesadelo", "Sexta-feira 13", "O Massacre da Serra Elétrica" e "Halloween", e a concepção da sua trama já tem um modelo voltado a isso, pois o próprio slasher criou essa dinâmica de que, quem vai contra as ações "corretas", ou seja, transa, usa drogas e tem comportamento desordeiro, acaba recebendo o castigo fatal por tais condutas.
Não temos mais interpretações tão canastronas e situações mal realizadas. Aqui, a atuações são mais dignas e desenvolvimento mais sólido.
É fato que o enredo não tem uma ponte muito firme com a trama da produção anterior, fazendo uma ligação meio frágil, mas não chega a ser algo que fique tão ruim, já que a sua nova construção consegue se sustentar sozinha.
Dos filmes da franquia, "Acampamento Sinistro 2" é o que melhor se sai. Garante um divertimento!
Uma curiosidade.: Pamela Springsteen, a nova protagonista, é irmã do cantor Bruce Springsteen
Meu Pai
4.4 1,2K Assista AgoraO modo como o filme retrata a vida de Anthony é muito interessante. É como se estivéssemos vivendo aquela realidade junto com ele, passando pela mesmas incoerências, confusões, dúvidas.
Mesmo com 99% da trama se passando dentro de um apartamento, o desenvolvimento dele consegue se dinamizar constantemente, aliás, o fato dele se passar quase todo nesse único local contribui para uma sensação de claustrofobia que, aliado a esse embaralhamento de situações, causa um desconforto e até um certo temor sobre o que vai vir pela frente.
Anthony Hopkins mandou muito bem na criação do protagonista! É admirável a maneira como ele conduz o Anthony da ficção, que vai do carisma, ao receio com um comportamento intimidador, indo até ao sentimento de pena pela sua situação. Mereceu muito o Oscar de Melhor Ator.
Olivia Colman também merece destaque com sua Anne, que faz com que o espectador tenha compaixão por ela diante de tudo o que passa.
Boa direção, produção compensadora e domínio de enredo muito bem feito.
Sexta-Feira 13, Parte 8: Jason Ataca Nova York
2.6 354 Assista AgoraVamos ao fato: "Sexta-feira 13 - Parte 8: Jason Ataca em Nova York" encerra a franquia original de um jeito ruim.
A questão é que o filme, além de contar com alguns absurdos, é altamente afetado pelas atuações medíocres de grande parte do elenco.
A trama de estudantes que vão a Nova York para concluir os estudos e Jason, num surreal argumento, conseguindo entrar no navio e atacando os jovens é uma bobagem sem igual. Detalhe: enchem o navio de adolescentes e, pra não se desfocar do elenco principal, dão cabo no restante dos alunos (que já quase não aparecem na produção) com uma motivação que é tão pífia que quase não dá pra perceber isso na obra.
Só depois é que a "Nova York" dá as caras (ou melhor, a parte bagunçada dela, onde no máximo o que temos de referência em meio aqueles becos e ruas sujas é a Estátua da Liberdade e a Times Square, mostradas de um jeito bem qualquer coisa).
Uma bagunça é a maneira como a versão Jason criança aparece em cena, uma hora como um menino com aparência normal, outra hora com parte do rosto deformado, aí depois vai pra uma caracterização mais parecida com o visual original do primeiro filme. A produção não se decide sobre qual aspecto apresenta ele.
Sobre as interpretações, parece que o casting foi escolhido a dedo, mas no critério de piores atuações. Pra se ter uma ideia a reação dos personagens, ao encontrarem os corpos que vão se empilhando na história, é extremamente insípida. É como se, em vez de imaginarmos eles pensando em: "Meu Deus! Ele está morto!"... Na verdade, eles estão reagindo como: "Nossa! Que diferente isso, né!?".
O arquétipo de vilão de Charles McCulloch é canastrão ao máximo. O pessoal tá tentando sobreviver ao ataque do Jason e ele volta e meia reclama de alguma coisa, seja por estar num bote sem rumo certo ou do mesmo atracar num porto "simples".
Agora, os atores Jensen Daggett e Scott Reeves e suas constantes expressões insossas conseguem deixar o que já não era bom, pior ainda! Podem receber com todas as desonras o título de piores protagonistas da franquia.
Dá pra dizer então que nada se salva na obra? Não! Certas cenas de mortes até que são criativas, principalmente a que faz referência ao boxe, mas são algumas exceções.
"Sexta-feira 13 - Parte 8: Jason Ataca em Nova York" é a tampa de caixão meia-boca da saga original.
A Morte do Demônio: A Ascensão
3.3 820 Assista AgoraFilme de franquia bom é assim: respeita a sua essência, não foge da sua origem e entrega o que os fãs querem.
Populares franquias de terror e suspense tentaram em algum momento sair da zona de conforto e criar "algo novo" para surpreender o público, vide "Halloween III - A Noite das Bruxas", "Jason X", "O Filho de Chucky", e até Evil Dead entrou no time, com "Uma Noite Alucinante 3", e o resultado foi praticamente igual: consideradas as mais fracas (e pra alguns até as mais odiadas) sequências.
Sam Raimi, diretor dos 3 filmes dos anos 80 e 90, sentiu que, apesar da boa intenção, sua ideia de levar Evil Dead pra um outro caminho na sua terceira continuação não foi a das melhores, e com as obras posteriores (um filme, uma série e um jogo de videogame), agora participando como produtor, ele teve um cuidado maior com o seu filho pródigo. Que ele não se perdesse em roteiros escritos com a obrigatória necessidade de trazer um ar novo e que também não fossem feitos com o único intuito de agradar a geração atual com argumentos "modernos". Se conectar com realidade é preciso, mas deve haver um casamento coerente, onde não se afaste da sua semente original para dar lugar a ramificações mais recentes (o desastre de "O Massacre da Serra Elétrica - O Retorno de Leatherface" por exemplo, com seus Tiktokers e debates sociais).
E em seu trabalho como produtor executivo dessa nova empreitada Evil Dead, junto com Bruce Campbell (o inigualável Ash), seguraram pelas mãos sua cria e a encaminharam até o diretor Lee Cronin, para que ela chegasse em segurança e fosse acalentada da melhor forma pelo seu novo padrasto.
O que vemos em "A Morte do Demônio: A Ascensão" é o bom uso dos seus melhores elementos casando com a atualidade. A produção é quase uma homenagem a toda a sua trajetória, são várias referências as cenas vistas nas obras anteriores, e feitas de maneira que você identifica na hora e, pra quem é fã, faz a gente abrir aquele sorriso pela lembrança positiva adicionada, tudo entrelaçado numa trama interessante que não força a barra.
No início, parece que a única diferença encontrada é que ele parece não ter aquele humor sarcástico característico das três primeira obras do Sam Raimi e da série "Ash vs. Evil Dead", mas no decorrer da história ele vai aparecendo, em menor quantidade e não tão escancarado, mas ainda pode ser visto lá.
E o seu traço mais importante continua brilhantemente presente: o gore.
Muita carnificina e sanguinolência em doses cavalares pra ninguém botar defeito!
Agora, um detalhe chama a atenção, a participação de crianças em cenas bem intensas. É raro filmes de terror não pouparem elas nessas partes nas suas produções, e quando fazem isso acabam surpreendendo o espectador, como "It:- A Coisa" de 2017 fez recentemente e, aqui, o enredo não dá colher de chá pro elenco infantil e as colocam em cenas bastante fortes, e todas interpretadas com exímia qualidade.
Para os apreciadores do horror tradicional de possessão, "A Morte do Demônio - A Ascensão" é um excelente arroz com feijão e carne 'sangrando'.
As Montanhas Se Separam
3.7 47 Assista AgoraA história se divide em três partes, mas a impressão que dá é que o filme se divide em dois: a primeira com um tipo de trama (que vai até a metade) e a segundo com um outro enredo que fica irregular.
O triângulo amoroso que se forma no início tem uma construção de ações um tanto quanto estranha, Shanxi parece boba, Zhang é confusamente pretensioso e arrogante e Liangzi é condescendente com certas situações. Parece que a forma dos dramas é propositalmente mal montada e que não quer apresentar um caminho coerente.
Zhang compra a mina que Liangzi trabalha e depois o demite só por raiva por não se afastar de Shanxi e ele trata isso com naturalidade, não diz nada a ela e fica tudo por isso mesmo.
No decorrer da obra, vamos percebendo que Shanxi é imatura, quase infantil, onde aparece tendo atitudes que demonstram alienação com as situações, e só depois de um baque muito forte na vida é que ela deixa de ser a menina tola e passa a enxergar as coisas com mais respeito.
Como na cena em que ela conta ao pai com quem está namorando e, mesmo com a nítida reação de desagrado dele, ela aparece sorrindo, enquanto o pai, em outro canto, se mostra desanimado com a notícia.
Depois, quando a mulher de Liangzi vai, aos prantos, pedir ajuda a ela para pagar o tratamento de saúde do marido, e logo em seguida ela aparece sorrindo enquanto está tricotando uma roupa para o cachorro, como se não entendesse a gravidade da condição de Liangzi.
E só após a morte do pai é que ela deixa de ser essa pessoa quase insensível e passa a ser uma mulher madura e consciente com a seriedade das ações e sentimentos da vida.
Já da metade para o final, o enredo gira em torno de um jovem que tenta encontrar a sua independência e liberdade onde, paralelamente, ele passa a ter uma relação que conta com alguns dilemas que o próprio adolescente vai encontrar.
Apesar dessa sequência ter, de certa forma, uma ligação com parte do triângulo amoroso do início, ela parece estar aérea, por fora da estrutura do filme como um todo. Não parece se encaixar uma com a outra.
Agora um problema mais grave é que a obra abandona um personagem importante sem dar qualquer resposta, ele simplesmente some da história.
Depois que Shanxi dá o dinheiro para o tratamento médico para Liangzi, ele desaparece da obra e a produção não faz questão nenhuma de dizer o porquê. É um furo muito ruim.
Mas ele também tem pontos positivos, a maneira como trata as diferenças sociais e o uso de elementos que demonstram as passagens de tempo é bem interessante. Como a imagem de uma criança caminhando carregando uma lança num local movimentado e depois, quando passa-se um tempo, vemos a cena de um adolescente andando numa estrada também carregando uma lança e percebemos que ele é o mesmo menino do começo do filme, mas agora já crescido.
Curioso, mas se o seu desenvolvimento fosse mais apurado, o resultado teria sido muito melhor!
Super Mario Bros.: O Filme
3.9 787 Assista AgoraBoa animação!
"Super Mario Bros. - O Filme" tem ação leve, enredo simples e carismático e que consegue unir referências dos jogos de videogame da franquia com a produção cinematográfica de maneira simpática.
Seu maior mérito é aflorar nos espectadores o sentimento de nostalgia. Para aqueles que cresceram jogando Super Mario é difícil assistir a obra e não se ver feliz vendo a recriação dos personagens, dos cenários, dos elementos, da trilha sonora... Enfim, de tudo que faz parte do universo dos games dele, pois é tudo muito fiel as características dos jogos, e conseguiram criar uma história que consegue não só casar visualmente com esses detalhes, como o clima dela se relaciona muito bem com o que os jogos transmitem, pois a trama tem um ar de ingenuidade e afetuosidade, algo de praxe nas animações da Illumination, que tem como marca de suas produções um olhar mais afável, sem se debruçar em enredos que necessitem de profundidade madura como as animações da Disney, ou com um humor sarcástico com duplo sentido da DreamWorks. Com a Illumination, o que temos são filmes mais puros, sinceros, mas sem serem bobos.
Aqui, claro, Mario é a figura mor! Com a trama que lhe dá todo o aporte para o seu bom desenvolvimento, mas é interessante a forma como é a construção da personalidade da Princesa Peach, pois ela acaba ganhando um poder, uma garra, uma independência muito bacana. A gente percebe o quanto ela dinamiza as ações, deixando de ter a imagem preconcebida de princesa que só fica a espera de ser salva, para aquela que vai a luta. Os demais coadjuvantes, cumprem bem as suas tarefas de promoverem uma boa contribuição nas emoções, seja com o afeto, com o humor, com os embates de temperamentos, cada um ajudando nesses argumentos.
Outro bom adicionamento são os clássicos oitentistas na trilha, rola muito som bacana, levando a época de origem do Super Mario, lá nos anos 80.
Aos maiores que forem conferi-lo, embarquem com a mente dos tempos de criança, em que todo tempo que sobrava você ia ligar o seu videogame e se divertia com os jogos do Super Mario que, não eram tão radicais quanto um Mortal Kombat, não eram cheios de técnicas quanto um Street Fighter, mais que garantiam (e ainda garantem) um ótimo entretenimento, com sua aparência e jogabilidade modesta e fácil e com personagens altamente cativantes. Aos menores... Bom! Eu não preciso dar nenhum conselho, a garotada vai curtir se nenhum esforço!
Pânico VI
3.5 799 Assista Agora"Pânico" de 2022 não foi de todo o mal, mas não tem a mesma qualidade das obras anteriores, muito disso por conta da ausência de Wes Craven na direção e de um roteiro bem trabalhado por Kevin Williamson, o que fez com que "Pânico 6" viesse mais na força do apreço pela franquia como um todo do que por sua metamorfose na produção anterior. Mas temos uma boa surpresa ao ver que ele se sobrepõe a isso e entrega um clima interessante que nos remete a áurea de outrora, quando "Pânico" iniciava sua caminhada nos anos 90 e 2000.
Homenagens as continuações não faltam! Desde a semelhança entre cenas, elementos reincorporados e o retorno de personagens, e até referências a slashers clássicos são encontrados aqui, como por exemplo, a mais nítidas de todas antes mesmo da sua estreia, a "Sexta-feira 13 - Parte 8: Jason Ataca em Nova Iorque".
E assim como aconteceu com algumas sequências desses slashers, "Pânico" sai da sua zona e adentra em um novo ambiente, mas não espere que a cidade de Nova Iorque influencie numa diferenciada abordagem, pois a estrutura narrativa é a mesma, tanto que, são poucos os detalhes da The Big Apple que são trabalhados em conjunto com a construção das cenas de ataques, onde poderiam ser feitas em Woodsboro sem problema nenhum. (dando como exemplo o próprio "Sexta-feira 13 - Parte 8", que aproveitou cenários como o porto de Nova Iorque, a Times Square, os esgotos e etc, para realizar algumas cenas que, nesses locais que só a cidade poderia proporcionar, elaborou performances muito próprias).
Houve uma melhora significativa nas atuações pois, diferente do filme de 2022, em que as interpretações do novo elenco eram irregulares (por conta dos integrantes não parecerem tão empenhados em seus papéis), aqui os atores entregam performances mais convincentes.
E sobre a polêmica da não participação da Neve Campbell no sexto filme, eu vou tá no time daqueles que sentem a falta dela, sim! Mas não é nem só por questão de apego a Sidney Prescott, mas é que deu pra perceber que a trama tava desenhada para que a Sidney estivesse incluída na história, mas por conta das circunstâncias teve que se feito o corte cirúrgico e uma costura pra dar um jeito nessa ausência.
Mas não há como fugir do seu calcanhar de Aquiles. Novamente, a produção é cheia de conveniências e furos.
Quando o espectador for assistir ao filme, ele precisa suspender o senso de racionalidade e se deixar levar, porque se for parar para usar a lógica, a obra vira uma patacoada.
A pessoa está num restaurante lotado, pra um encontro, a outra pessoa no telefone pede pra saber como é a entrada do lugar porque está perdida. Ela pergunta pra bartender ou pra alguém do ambiente como é a fachada, ou simplesmente sai pra ver e continuar na entrada?
Não! Ela sai de perto do restaurante e depois entra num beco vazio e escuro.
A pessoa consegue escapar do assassino entrando num quarto, se tranca lá dentro e tem uma arma e um telefone na mão. Ela fica lá em segurança e liga pra polícia pra avisar do perigo que passa?
Não! Ela continua com o assassino na linha, sai do quarto e tenta adivinhar de onde vai vir o ataque.
Planejam pegar o assassino em um local específico e na hora de se encaminharem pra lá vão de carro de aplicativo ou de carona?
Não! Vão de metrô, no horário de pico e cheio de gente fantasiada, inclusive de Ghostface.
Uma coisa é criar momentos óbvios (quase surrealistas) pra fazer a história engrenar, outra coisa é jogar os personagens nas situações sem paraquedas, e isso é feito aqui sem cerimônia.
Já sobre a relevação da identidade do Ghostface, achei interessante, mas dá pra matar a charada. É claro que o enredo, com seus buracos gigantescos, tenta pregar uma peça, mas ainda sim dá pra acertar se ficar atento as pistas.
Dava pra sacar algumas atitudes estranhas do detetive Bailey, mas quando eles entram no cinema e encontram os vários objetos e roupas de Ghostface dos outros ataques, fica claro que só alguém muito influente dentro da polícia poderia conseguir aquelas coisas. E mesmo com a Gale dizendo que dentro do departamento existem policiais que aceitam suborno para vender provas de crimes, eram muitos elementos específicos para que um policial qualquer pudesse repassar a outra pessoa.
A Quinn pode até ser aquela que pode embaralhar a cabeça na hora de tentar desvendar, mas isso só acontece por conta do furo no roteiro pois, se a Quinn encenou o próprio assassinato, como é que os vários policiais e paramédicos que chegaram ao apartamento depois do ataque ignoraram o fato do corpo de uma suposta vítima não ter sido encontrado lá dentro? E se tava lá, como é que ela conseguiu parar os batimentos cardíacos e deixar de respirar por tempo o suficiente para decretarem a sua morte e depois voltar ao normal?
O pai dela fingir que tinha visto a filha morta até engana, mas aquele pessoal todo?
Isso não é um furo, é uma cratera.
Já o Ethan, tava na cara que aqueles sumiços constantes não eram à toa.
Se "Pânico" de 2022 foi um entretenimento "OK", "Pânico 6" pode ser um entretenimento "OK+", ganhando pontos melhores, mesmo com as pedras no caminho.
E que bom que a franquia voltou a usar a numeração sequencial no título oficialmente, já que o filme de 2022 não tinha o 5 de maneira oficial, e o receio de que os títulos posteriores ficassem remendados de forma grotesca fosse virar padrão, como aconteceu com as continuações de "Halloween", que teve um "Halloween" em 2007, que é o mesmo título do original de 1978 (a nossa sorte foi que a tradução brasileira incluiu o "O Início" no título), que ganhou uma sequência chamada "Halloween 2" em 2009 (que tem a mesmo nome da continuação de 1981), que depois voltou pro nome "Halloween" em 2018... Enfim, virou uma bagunça só!
A Roda da Fortuna
3.9 59 Assista AgoraA obra se propõe a mostrar o processo de concepção de um musical teatral. Desde a sua ideia, a busca pelo patrocínio, a criação dos seus cenários, os ensaios e finalmente a apresentação do seu espetáculo.
Do início até a metade, o filme não é tão entusiasmante, onde há pouco números musicais e mais ênfase na problemática que acaba sendo a construção da história do musical e de seus bastidores, porém, do meio para o final ele ganha ânimo, quando as apresentações posteriores vão tendo lugar, com vários números de dança diversificadas e o enredo revelando novos contornos. Aliás, são tão diferenciados os números que a gente pode até se pegar pensando como aquelas variadas performances conseguem se encaixar dentro da trama que foi elaborada para a Broadway, mas isso não chega a incomodar pois as criações são muito bem feitas, onde o último ato do espetáculo, com um estilo gangsters da década de 30, é de uma criatividade e de um primor que, se o filme inteiro fosse naquele visual seria incrível! Com cenários coloridos, efeito de sombra, trabalho de arte e figurinos bem realizados e coreografias originais.
Fred Astaire e Cyd Charisse eram talentosos demais, realmente! Como é bacana ver os dois juntos, em trabalhos de dança exemplares. O filme é deles!
Bom filme! Não chega ser perfeito, mas tem muitas qualidades.
Shazam! Fúria dos Deuses
2.8 354 Assista AgoraUm continuação que, assim como o primeiro filme, mantêm a sua essência jovial, despretensiosa, singela e divertida.
Agora, comum pouco mais de incremento visual e reforços no elenco, "Shazam! Fúria dos Deuses" guarda no seu núcleo criativo aquele ar juvenil carismático, agora dando mais espaço para os coadjuvantes e, criando uma interessante concepção das personagens mitológicas antagonistas, cada uma com suas características comportamentais.
Efeitos especiais bem realizados, atuações positivas e trabalho de produção de qualidade.
Uma obra para ver sem compromisso e passar um momento agradável com uma história sem grandes pretensões, de fácil assimilação e que promove um entretenimento simpático a todos os públicos.
O Reflexo do Mal
3.6 74É como se estivéssemos diante da Caixa de Pandora, onde tudo o que é há de ruim na sociedade está reunido.
São personagens e situações das mais incômodas, perturbadoras, desconcertantes, e sem precisarem ser explícitas, basta compreender o contexto daquilo que logo nota-se que o pior do homem aparece ali.
A direção de fotografia é muito bem feita, principalmente nas áreas externas, dando uma beleza visual contrastando com a trama sombria. Ponto positivo para as atuações, que conseguem dar a densidade ao enredo com interpretações na medida.
Já pelo lado negativo, a história caminha num ritmo lento, por vezes é confusa e parece se apegar muito aos conceitos desconfortantes para poder engrenar.
É um filme que deixa um gosto amargo, que não é de fácil digestão e onde ninguém se salva.