Bem feito, com uma seleção de músicas mais diversificada, mais atores e cantores na dublagem original, mas a história não é tão empolgante quanto a do primeiro filme, e o enredo também dá a impressão de se perder no meio caminho, a motivação se embaralha e é complicada a sua compreensão.
"Pearl" é a exemplificação da psicopatia e como um ambiente tóxico pode piorar esse problema psicológico.
Pearl é uma psicopata e aos poucos vai demonstrando cada estágio da doença, desde o assassinato de animais (um dos sinais que serial killers apresentam na chamada Tríade MacDonald) indo até os crimes mais perversos contra outras pessoas. Se já não bastasse essa sua condição, ela ainda convive em um lar onde sua mãe a trata da maneira mais intolerante possível, com situações de menosprezo, nenhum afeto e constante cobrança. Muitos serial killers foram criados em moradas pouco acolhedoras, que acabaram potencializando suas crueldades e falta de empatia e remorso, como Ed Gein e Marcelo Costa de Andrade, por exemplo.
O filme constrói sua narrativa justamente nessa base, onde o mal que existe em um ser humano acaba sendo fortificado diante de um ambiente que não lhe oferece uma boa convivência, com uma criação em desamor e sem um tratamento adequado.
A obra se debruça sobre a atuação de Mia Goth, que não é à toa, merece os melhores elogios. Ela dá vida a uma personagem com nuances que, da pena, vai para a estranheza e indo ao espanto. A maquiagem dela também ajuda muito nessa nossa percepção porque, a Pearl em um certo momento se reconhece como uma moça não tão bonita, e a maquiagem acentua detalhes do seu rosto que a deixam desproporcional em algumas partes da produção. Agora, o David Corenswet não me convence como um projetista de 1918. Eu entendo a ideia de coloca-lo como um rapaz bem afeiçoado que vira o galã da protagonista/antagonista, mas a sensação é a de que ele não se encaixa no personagem, na época, mas depois o incômodo acaba meio que se dissipando. Os demais integrantes do elenco fazem um bom trabalho com seus personagens, principalmente Tandi Wright, irreconhecível no papel de Ruth.
Visualmente, as cores ganham um realce na tela que é bastante interessante, é como se as tonalidades (principalmente o vermelho) ficassem mais fortes, ganhassem mais vida.
Também é possível ver várias referências a clássicos do cinema em algumas cenas, de "Carrie - A Estranha" de 1976, a "O Massacre da Serra Elétrica" de 1974.
A cena do jantar, onde Pearl diz a mãe que vai ao teste de dança, mesmo que ela não queira, lembrando a sequência de "Carrie" onde ela fala pra mãe que vai ao baile de formatura durante um jantar.
E o ataque a Mitsy, onde a prima corre em desespero enquanto Pearl vai dando golpes de machado nas costas dela, numa cena parecida com a parte de "O Massacre da Serra Elétrica" em que o mochileiro dá navalhadas nas costas de Sally, antes de ser atropelado por um caminhão.
Grata surpresa com ele! A A24 se firmando como uma produtora que aposta em enredos diferenciados, criativos e bem realizados, principalmente no campo do terror. "Pearl" é, sem dúvida, um acerto nesse campo.
Como os roteiros de John Hughes fazem falta no cinema jovem atual...
O que é mais bacana nas histórias criadas por John é que ele transforma figuras tidas como perdedores, fracassados, em vencedores, vitoriosos, mas não por conta de grandes feitos como salvar a humanidade, ter atos de extrema bravura ou revolucionar alguma coisa, mas porque fizeram um momento da sua adolescência ter sentido, se deram a liberdade de serem felizes, nos simples gestos de ir contra a pressão e as regras do mundo adulto, foram corajosos para serem francos e rebeldes, mas sem serem pessoas ruins e destemperadas, apenas se dando a oportunidade de fazerem suas vidas melhores. A adolescência é um período tão turbulento na vida de muitos, onde eles tentam se encaixar para poder se sentirem incluídos, notados, num universo onde andam sem muita firmeza, tateando entre as novidades e com os resquícios do passado ainda presentes, e o John Hughes conseguia capturar isso de maneira muito perspicaz, e "Construindo Uma Carreira" carrega essa energia.
Jim é o retrato do jovem que ninguém dá nada, que não consegue se firmar num emprego e não tem a melhor fama entre as pessoas ao seu redor (tanto na família quanto entre os moradores da cidade) e mesmo assim ele tenta fazer do seu mundo algo maior, mesmo que malandramente ele viva numa constante recriação fantasiosa da sua própria imagem, onde se projeta como um rapaz influente, importante, quando a realidade mostra outra coisa, enquanto Josie é o oposto, ela é a representação da garota impecável, rica, linda, popular, que não precisa fazer nenhum esforço para ser admirada. Mas logo vemos que eles, que parecem ter perfis tão distantes, vão se completando. Enquanto Jim, mesmo com o pouco que tem, ainda é feliz, Josie com o muito que tem ainda é infeliz. Ambos vivem sob a pressão dos pais, no caso de Jim é a questão do seu pai o querer ver sair do ninho e se tornar independente, responsável, já com Josie é o contrário, sendo superprotegida pelo pai, onde ele não lhe dá muito espaço para ela ter sua própria independência.
O interessante é que depois vemos que os pais começam a sentir a pressão que eles próprios colocaram sobre os filhos, onde ambos não encontram paz enquanto não sabem como estão seus filhos.
No desenrolar da trama, vamos acompanhando como esses dois distintos adolescentes vão se encaixando entre os seus conflitos, e o enredo ainda adiciona os personagens dos ladrões na história, que servem como uma válvula de escape, colocando um humor quase pastelão para incrementar a obra.
Não digo que o filme é perfeito, e até concordo com alguns pontos de vista de outros comentários aqui, entendo e vejo que essas visões são válidas, mas o modo como a produção consegue exemplificar uma parte da juventude e suas emoções, quando sentido de forma mais profunda, faz a gente abrir um sorriso e querer voltar num tempo onde tudo era novo.
Se tem uma coisa que o David Cronenberg soube fazer com maestria nas décadas de 70, 80 e 90 foram filmes "estranhos", e no melhor sentido da palavra!
"Os Filhos do Medo" carrega isso durante o tempo inteiro, há sempre uma áurea de estranheza que perpetua na história e, mesmo que algumas partes não sejam perfeitas, é esse clima intrigante de desconforto por aquilo que não é comum que fascina na obra. O mais interessante é que o enredo foi baseado num momento da vida pessoal do próprio Cronenberg, quando ele estava se separando da primeira esposa e a relação deles não era das melhores, e quando você tem essa referência, a trama potencializa ainda mais seus significados pois você começa a ver que as simbologias grotescas que ele usa para exemplificar atitudes reais em uma relação tempestuosa fazem todo um sentido. Ele dá forma a sentimentos conflituosos que, tanto um casal, quanto um filho podem ter quando há emoções desagradáveis numa união desarmoniosa. Abandono, ciúme, possessão, ira, rancor, amargura, e o próprio medo que dá nome ao título, aliás, perfeito para sintetizar a sua essência.
Um detalhe que chama a atenção na estética dele é como a madeira se torna um elemento presente em quase todas as cenas, como na própria arquitetura de uma residência, no playground da escola, nos móveis, são as estruturas em madeira que compõem toda a característica visual do filme.
E não tem como não falar da excelente interpretação de Samantha Eggar como Nola, é um misto de reações que culminam no lado obscuro de Nola que Samantha consegue expressar de modo mais do que compensador, ela faz com que a obra cresça ainda mais numa ótima interpretação. Boa performance também de Cindy Hinds, que faz a pequena Candice, você percebe claramente o semblante de uma criança triste em meio a uma família desestruturada. E que sequência aflitiva é a cena das crianças tentando capturar ela, que está no pôster, em que o desespero de Candice nos causa tensão. Acho a interpretação de Oliver Reed satisfatória, já a de Art Hindler vejo um pouco abaixo das outras, mas nada de tão negativo.
Pra quem quer conhecer a filmografia do David Cronenberg, "Os Filhos do Medo" não pode faltar entre as suas opções!
O começo é interessante, apesar do susto inicial em que uma composição orquestrada toca por vários minutos antes da história, e logo a trama vai ganhando simpatia, ainda mais com a participação do Louis Armstrong, que não só canta como também atua (mesmo que discretamente). A trinca principal Grace Kelly, Frank SInatra e Bing Crosby garante boas atuações, e é realmente um filme de alta sociedade se formos no atentar aos cenários, que são de um requinte admirável, e o enredo de romances que brotam de um lado para o outro é curiosamente carismático, mas quando a obra finalmente chega no seu final, ele encerra tudo de uma maneira tão bagunçada que em vez de ficar cômico, fica frustrante. Parece que estavam com preguiça de criar um bom arremate e jogaram um encerramento de qualquer jeito e isso faz com que a conclusão nossa se dissipe rapidamente da memória.
Como já comentado por aqui, é quase uma cópia de "Núpcias de Escândalo", mas musicada, porém, não tem um mesmo vigor na sua trama, ainda mais com aquela trindade soberana do cinema formada por Katharine Hepburn, Cary Grant e James Stewart no elenco.
Um drama mediano, nada ruim, mas que também não chega a ser uma excelente produção, muito pelo andar da história, que parece meio apressada. Sem contar que Milo Ventimiglia não transmite muita emoção durante a sua atuação, o que não contribui para uma gratificação completa ao conferir a obra.
Agora, eu não sei se os produtores dele tavam ligados que no Brasil tava começando a se formar a desgraça da propagação do nome Enzo em tudo quanto é canto. O título em português, completamente diferente do original, esse sim foi claramente criado para embarcar nessa onda do nome. Talvez seja isso que fez com que a repercussão dele tenha tomado um caminho contrário, onde o filme não foi lá muito popular por aqui, não só por conta da pouca divulgação, mas pela saturação da mania.
É divertido, bem feito, e o enredo cheio de conhecimento sobre história, tecnologia, etc, é bacana, mas tem alguns problemas de transição de contextos que acabaram incomodando!
Tudo bem que é uma animação infantil, e alguma liberdade artística na história devem valer, mas certos pontos parecem forçados e sem nexo, como a facilidade de que a Mrs. Grunion diz conseguir tirar a guarda de um pai do seu filho, e como ela tenta abrandar a questão do bullying, e como Penny é uma influência negativa a Sherman em algumas atitudes e isso é ignorado em outros momentos, apesar dela se redimir, mas a impressão que passa é que não tem um aprendizado nisso, parece mais um coisa de ocasião.
É legal! Mas acabou dando esse descontentamento em quesitos pontuais.
Curioso como o filme sai de uma concepção e entra em outra de maneira tranquila, calma, onde de um trama séria que ele inicia, ao falar da questão do aborto por conta de uma gravidez indesejada, da metade para o final vai para o romance que caminha entre o terno e dramático.
A trama dele é fortalecida, e a abordagem consegue transitar de um lado para o outro sem ficar uma diferença gritante entre esses dois campos. O que deixa a obra interessante e que não fica cansativa.
A química entre Natalie Wood e Steve McQueen é visível! É impressionante como eles juntos formam um casal protagonista que chama a atenção, que funciona muito bem. Direção de Robert Mulligan também muito acertada, e os cenários, simples, contidos e com informações precisas sobre as ambientações da classe média baixa da Nova Iorque de outrora fazem toda a diferença para fazer o enredo ser absorvido.
Claramente, é um filme que foi feito com poucos recursos, dada a situação de que a sequência inicial não mostra um vestígio sequer do avião do qual as crianças estavam viajando, porém a obra tem seus prós e contras, e se for comparado com a versão americana de 1990, dá pra fazer uma contraposição entre elas.
Para o lado negativo, o filme tem problemas com relação as interpretações, é compreensível que, pelo fato de ter seu elenco formado por crianças, algumas atuações fiquem um pouco aquém do esperado, mas algumas acabam ficando robóticas demais, mesmo para os padrões da época, a sorte é que, pelo menos, entre o trio de protagonistas a escolha dos atores mirins foi acertada, eles conseguem segurar bem a trama que precisam desenrolar. Outro ponto que desagrada é a concepção do personagem Ralph, ele deveria ser um elemento justo que transparece a ideia de proteção e harmonia, mas em alguns momentos ele parece fazer o processo contrário, como o seu tratamento com Piggy, onde ele faz coisas que o próprio Piggy não gosta e sua ação de ver ele sendo hostilizado por Ralph e não fazendo nada para defendê-lo, algo que na versão dos anos 90 é melhor concebido. A questão do monstro também não é bem resolvida e o final também desaponta, não por sua conclusão, mas por conta das atuações que surgem na tela.
Os adultos tranquilos ao ver os meninos perdidos, sozinhos, sujos e maltrapilhos, saindo do meio de uma queimada da mata, como se fosse a coisa mais natural possível. Soou falso.
Para o lado positivo, nessa adaptação fica mais perceptível o significado da figura de Piggy na história: ele é a sensatez, a lucidez. E assim como na sociedade, aqueles que possuem elas muitas vezes são ignorados e menosprezados por aqueles que estão absorvidos quase que por completo por suas doutrinações, sejam elas políticas, religiosas, etc, pois preferem acreditar nas suas próprias verdades, aquelas que mais lhe agradam, em vez de compreenderem e atuarem com clareza em meio aos seus semelhantes, algo que na versão noventista não fica tão intenso. Outra questão que chama a atenção é a maneira como a selvageria que passa a dominar as crianças fica explícita, seja na parte como a obra mostra as crianças comendo um porco do mato de forma quase animalesca, seja na parte em que elas perdem a inocência e passam a se comportar com maldade, destempero e até alegria diante de situações cruéis, onde algumas sequências chegam a impactar.
As cenas das mortes de Simon e Piggy são chocantes, algo que a versão de 90 é mais moderada.
Colocando as duas adaptações cinematográficas na balança, a versão de 1990 acaba ganhando uma ligeira vantagem, seja na parte técnica, quando no desenvolvimento de certos quesitos do enredo, mas a versão de 1963 tem bons méritos, principalmente por ser uma história intensa sendo feita num período onde não era tão comum ver esse tipo de trama nos cinemas, afinal, crianças são sinônimo de bondade, e vê-las incorporando a ruindade em seu comportamento sempre vai nos incomodar.
Bebendo na fonte dos giallos italianos, "Os Olhos de Laura Mars" é um suspense sutil, requintado e que, mesmo sem grande potência no que se refere a sequências extasiantes e um enredo mais nivelado, tem o seu charme.
Com o roteiro de John Carpenter, o filme estreou no mesmo ano que o icônico "Halloween", que moldou o gênero slasher, e aqui temos uma criação diferente da aclamada obra que fez Michael Myers uma referência.
Contando a história de uma fotógrafa de moda, a estética toda é voltada ao universo glamoroso das modelos, figurinos, cenários de estúdios, etc, e que está centrada em Nova Iorque, que já proporciona por si só um visual altamente urbano e agitado (diferentemente de "Halloween", que se passa em uma cidade pequena e possui um ambiente mais intimista e aparentemente mais calmo).
Laura Mars chama a atenção por seus trabalhos terem uma pegada artística que flerta com a violência, mas de modo chique, aos poucos vamos descobrindo que esse aspecto não é à toa, ela possui a estranha característica de conseguir enxergar assassinatos sendo cometidos por um estranho no qual ela tem a mesma visão dele diante de suas vítimas no momento de seus crimes. Isso a perturba e ela, junto com um policial, tenta escapar das mãos do serial killer e descobrir quem é o assassino.
As qualidades do filme são mais evidentes nas questões técnicas, como direção de arte, direção de fotografia, e na ótima interpretação de Faye Dunaway. O elenco é estrelado, com nomes como Tommy Lee Jones, Brad Dourif e Raúl Juliá, porém, tirando o personagem John Neville de Tommy Lee Jones, os outros não tem tanto desenvolvimento, mas não considero isso algo grave.
Sobre o enredo, ele instiga em algumas partes, mas também é fato que certas sequências não são as das mais animadoras, com dramas e o romance que surge na tela parecendo não ser tão agregador a trama, mas não chegou a incomodar tanto quanto eu acreditava, pensamento que tinha por conta dos outros comentários e da crítica especializada da época. Mas assim como o público de 78 que foi vê-lo no cinema e fez a produção ter uma boa bilheteria, gostei do que vi! Não é memorável, espetacular, mas se embarcar na trama, pode-se ter uma avaliação favorável, mesmo que baixa, mas ruim não vai ser.
Definitivamente, não tem o mesmo charme e a mesma qualidade de produção do filme anterior dos anos 90. O enredo é inocente demais, as crianças, apesar de graciosas, não tem a personalidade mais evidente quanto a da obra anterior e o filme parece uma produção feita diretamente pra TV, com cenários de estúdio um tanto quanto artificiais.
É interessante a trilha sonora, com músicas mais conhecidas do grande público, e a participação de Bug Hall, que interpretou o Alfalfa na trama de 1994, e da, então criança, Jenna Ortega, aliás, a sua personagem acaba fazendo a diferença entre a versão noventista e essa, onde uma menina agora faz parte do grupo de crianças, algo que na outra história não fazia parte.
Pra ser generoso, eu acho que que a obra pode agradar as crianças mais pequenas, mas só as mais pequenas mesmo, porque as mais crescidas e os adultos não vão curtir tanto "Os Batutinhas" dos anos 2000, ainda mais se formos comparar com a produção de 94, onde fica bem atrás em vários pontos.
Uma continuação digna, com uma qualidade respeitável e efeitos especiais excelentes, é louvável o desdobramento que a equipe teve que fazer para dar conta de tantos contratempos durante a sua produção, e o resultado foi um espetáculo visual e uma trama gratificante, mas fica a sensação de que a história se alonga demais, é notório que algumas cenas poderiam ter sido enxugadas e que a sua duração (de quase 3 horas) poderia ter sido encurtada fazendo cortes certeiros em alguns pontos da obra. Ele não chega a ser cansativo, consegue manter o pique, mas deixa essa impressão de caminhar em demasia, quando a sua trilha nem precisa de tanto passos.
A construção de enredo dos personagens Everret e Valentina também não tem muita desenvoltura, não são inúteis na história, mas também não tem uma importância tão significativa como um todo, chegando a servirem como um alívio cômico sem grandes proporções em alguns momentos.
Agora, é fato que Letitia Wright conseguiu macular a própria imagem por conta da sua ignorância em tempos de pandemia, se colocando contra a vacinação e criando um imbróglio para as gravações, já que, ao não querer se vacinar, dificultava o início das filmagens, pois a regra dos estúdios era priorizar a proteção de todos. Menos mal que isso não respingou no filme.
A Disney nos anos 80, tentando chegar no público jovem adulto, decidiu apostar em produções com uma pegada mais diferenciada, e "Mistério no Bosque" (ou "Olhos na Floresta") é um dos exemplares dessa safra.
Baseado num romance publicado nos anos 70, a obra tem um áurea instigante e fria bem interessante, é curioso como o filme consegue manter essa sensação de mistério durante a história sem precisar colocar imagens sangrentas, grotescas. Numa sagaz construção de ambiente gélido, com sequência sombrias feitas com aparições e atitudes sinistras, mas sem jogar na tela representações muitas pesadas visualmente.
As interpretações merecem destaque, o trio protagonista, Bette Davis, Lynn-Holly Johnson e Kyle Richards fazem um domínio de cena deveras competente, dando toda a forma pro enredo se encaminhar e deixando seus personagens envolverem o espectador.
Um fato curioso sobre a produção foi a situação de que, na sua primeira exibição nos cinemas americanos, ele ficou apenas 10 dias em cartaz por conta de algumas partes que, segundo a crítica e o público, ficaram confusas e, principalmente, o seu final, que acabou desagradando bastante. Isso fez com que ele tivesse cenas refeitas e o seu encerramento alterado. E pelo o que deu pra saber sobre as cenas e o "final original", as novas versões feitas para o segundo lançamento (e que é a mais disponível para ser encontrado) parecem ter sido as mais acertadas, fazendo com que o filme mantenha um nível linear durante toda a sua trajetória.
Hoje em dia, a Disney voltaria a flertar com elementos do gênero, como podemos ver em algumas sequências de "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura", por exemplo, mas mais incisiva nessa excursão foi mesmo na década de 80, um período peculiar da produtora do senhor Walt Disney.
Uma história permeada pela decepção e, assim como "Noites de Cabíria", ambas colocam suas protagonistas sofrendo pancada atrás de pancada na vida. Porém, em "Noites" Cabíria ainda se mantêm esperançosa e forte, aliado a um carisma que ela transparece, já com "A Estrada" Gelsomina é muito ingênua, insegura e condescendente, mostrando uma fragilidade e tolerância tão grande que, em alguns momentos, chega a revoltar o espectador diante de uma certa complacência com quem lhe faz mal, que aliás, são muitos.
Desde a primeira cena, até o último ato, o enredo só apresenta infortúnios, desde agressões físicas até situações de vulnerabilidade, e quando a gente pensa que ele vai dar algum respiro com uma perspectiva mais positiva, a trama joga um banho de água fria e dá mais uma rasteira na bondade.
Como quando ela encontra o Il Matto ("O Louco"), que parecia ser a pessoa que traria bons momentos pra ela, mas além dele menospreza-la durante uma conversa, ainda a convence que Zampanò, que lhe agride e a despreza constantemente, pode estar apaixonado por ela.
É um drama difícil de criar simpatia! É tanta desilusão que deixa uma sensação de que não há luz no fim do túnel.
Dois universos não tão bem vistos pela sociedade que se encontram e formam um união que, ao mesmo tempo que é desestruturada, também consegue ser cativante.
Ben, um roteirista que, ao passar por algumas decepções na vida, decide se entregar ao vício em álcool ao ponto de perder qualquer noção de sobriedade. Sera é uma mulher que é forçada a se prostituir para bancar um cafetão e também para se sustentar na vivaz e capitalista Las Vegas. Ambos estão no lado menos glamoroso e mais difícil de sua vida, mas quando ocorre a aproximação dessas duas pessoas, eles conseguem criar um carisma que faz com que o espectador entender e torcer para que no fim de tudo essa conexão os levem há caminhos melhores, com menos obstáculos, que se mostram cada vez mais cruéis com seus protagonistas.
O enredo lembra um pouco "Farrapo Humano", filme com exatos 50 anos de diferença, que também conta a história de um roteirista alcoólatra que vê o consumo desenfreado dominar sua trajetória, porém aqui, além de um teor sexual mais intenso, temos a inclusão dos infortúnios vividos por uma prostituta dividindo a trama. Aliás, é justamente esse drama de Sera que parece ter um pouco mais de desenvolvimento da sua origem, já que, a história de Ben até nos mostra como ele chegou ao ponto de se jogar de cabeça no alcoolismo, mas é a de Sera que se coloca mais desnudada, mais clara, onde vemos desde os percalços de seu relacionamento com o cafetão, até os perigos que a profissão marginalizada pelas outras pessoas tem.
Atuações excelentes! Nicolas Cage pôs um realismo na sua interpretação que merece as melhores críticas, ele passa a imagem de um homem bêbado, de ressaca ou com crises de abstinência de maneira bem crível, Oscar de Melhor Ator mais do que merecido! Elisabeth Shue (que ganhou uma indicação na categoria de Melhor Atriz) deu a Sera uma naturalidade altamente compensadora. A obra poderia ter feito a dobradinha Ator e Atriz Oscarizados sem problema nenhum!
A trilha sonora, com composições de jazz, dão um ar charmoso e sensual a produção. Aliados aos enquadramentos e movimentos de câmeras diferenciados.
Uma obra que consegue ser depressiva, por vezes tensa, flertando com a desesperança, mas que também consegue ter seus momentos de emoções mais calorosas e com uma perspectiva mais afável.
A década de 70 foi uma época prolifera do subgênero 'exploitation', muitas foram as obras (boa parte delas de baixo orçamento) que usaram de temáticas mais pesadas e sensacionalistas para atrair a atenção do público com histórias ousadas e perturbadoras. Foi nessa seara que vieram a estrutura de roteiros baseados na fórmula "crueldade e vingança", em que, após uma situação de perversidade, as vítimas decidem fazer justiça com as próprias mãos contra seus algozes, mas boa parte delas colocam a mulher como alvo das injúrias por sua, suposta, condição de fragilidade, porém "Amargo Pesadelo" se destaca por colocar somente homens na sua trama, tanto de um lado, quanto do outro.
O que seria apenas um passeio agradável de canoa pelo rio com amigos vira um tormento para 4 amigos, diante da psicopatia de homens em meio aquele ambiente desprotegido da floresta.
Por essa premissa, muitos esperam que o filme seja uma obra cheia de tensão, porém o enredo acompanha o mesmo curso do rio, ou seja, em alguns momentos é angustiante, mas em outros é mais brando, digamos assim.
No início, a gente já nota algumas atitudes soberbas de alguns membros do grupo de amigos, como o ar de superioridade com relação ao caipiras locais que o personagem Lewis demonstra no modo de agir e o comentário sobre o garoto deficiente feito por Bobby (que soa como preconceito). Nessa parte, a história já estabelece uma ideia de que alguns deles tratam suas figuras como maiores que alguns dali, mesmo que no decorrer do tempo eles próprios sejam os alvos do menosprezo (Bobby logo passa a ser chamado pela alcunha de "Gorducho").
Apesar desse começo, o que vemos são subidas e decidas da trama que, ora fica em longos takes mostrando a aventura e a tentativa de sobrevivência deles, e ora vai por sequências aflitivas onde o desconcerto e o suspense estão presentes, e são nesses desníveis da história que o filme parece atravancar. É como se a trama acelerasse e diminuísse de velocidade constantemente.
Pode até ser por conta da referência de outras produções do subgênero, mas essa forma de ir por outros caminhos tira a potência do enredo, que poderia ter sido muito mais intensa.
Vale sim a conferida! Não é um obra ruim, bem longe disso, mais dá a sensação de que poderia ter sido muito mais, já que tinha um tremendo argumento nas mãos. Agora, vale a recordação de que, uma produção com um contexto desses ter conseguido uma indicação ao Oscar de Melhor Filme já é um fato surpreendente e que merece a nossa atenção.
O que eu achei mais interessante na história é que a Emily é esperta. Logo a personagem saca que tem alguma coisa de errado e vai tentando descobrir mais sobre a situação.
Geralmente em filmes com essa temática, os protagonistas costumam passar um bom tempo sendo ludibriados, ou com ações de desconfiança ainda tímidas, sem grandes movimentações.
Vide "A Profecia" (que o filme me fez lembrar muito), em que os protagonistas Robert e Katherine recebem avisos sobre o perigo a sua volta, mas demoram para perceber que o mal está próximo.
Já Emily é rápida na percepção, pois com a desconstrução de um aprazível ambiente para suscetíveis infortúnios, ela não demora muito para se tocar de que as coisas não são o que parecem. Talvez o fato dela ser uma assistente social e ter um trabalho mais voltado a psicologia a faça ser mais atenta aos detalhes, a entender melhor os sinais.
É um bom filme, apesar do roteiro ser visivelmente inspirado em outras boas obras do gênero, com atuações bem gratificantes e produção correta, a trama não chega a ser altamente entusiasmante. É curiosa, instigante e desconcertante em vários momentos, mas por algum motivo parece não ir a um grau muito alto, porém agrada num saldo final.
P.S.: A frieza que a jovem atriz Jodelle Ferland emprega em Lilith, principalmente na sequência em que a personagem está conversando com Douglas é sinistra! Impressiona a capacidade interpretativa dela.
Uma curiosidade: na cultura de antigas civilizações, Lilith é o nome dado a entidades ligadas ao mal e a morte.
É curiosa a maneira como a obra faz o espectador entrar na mente do protagonista e passar pela mesma confusão mental que ele está passando. Ficamos desnorteados com os caminhos que cada sequência apresenta, nos deixando com aquela dúvida sobre o que é real e o que é irreal, se possui lucidez ou se são elementos de um transtorno, se é algo humanamente explicável ou se tem influência sobrenatural ou demoníaca. Uma viagem ao interior psicológico de um homem que tem seus traumas e ainda convive com eles enquanto tenta levar sua vida adiante.
A estética característica do diretor Adrian Lyne casa muito bem com o núcleo da trama, onde o visual decrépito, sujo e nebuloso dá ainda mais forma a história obscura e sinistra, cheia de simbologias que mostram, sem minucio, os seus significados.
Tim Robbins, ótimo em cena! Direção de Adrian Lyne, dispensa comentários, acertada como sempre, e roteiro de Bruce Joel Rubin interessante.
Não é um filme pra todas as plateias pois, é um enredo denso que vai num ritmo lento, mas que oferece uma experiência introspectiva pela psique humana num território sombrio.
Infelizmente, o filme cai na armadilha de "Halloween - O Início", do Rob Zombie: tenta dar motivação para a maldade. E pior, faz isso a todo tempo!
Ele até inventa uma justificativa pra isso, mas a história força tanto o sentimento de hostilização que a cidade coloca nos protagonistas que fica pedante. Tem uma hora que a gente começa a pensar: "Tá bom! A gente já entendeu que o povo só tem ruindade pra oferecer e que logo a maldade vai aflorar por conta disso a qualquer instante". A obra parece um disco arranhado que fica repetindo sequências de intimidação, humilhação e agressão constantemente, o que deixa tudo muito saturado.
Os coadjuvantes (aleatórios, diga-se de passagem!) só surgem na tela para serem odiados e para torcemos pelas suas mortes. Pessoas na tela sendo chatas e/ou escrotas, que fazem o espectador não criar nenhuma afinidade com elas.
A produção ainda comete dois pecados que diminuem o seu potencial.
Uma falha grosseira na trama: Na cena onde o delegado liga para a filha da Laurie perguntando onde a mãe dela está, pois ele teria recebido um aviso de um suicídio por parte dela, mas como uma pessoa liga para um policial para comunicar uma morte e não diz nem onde foi que aconteceu e nem onde está nesse momento?
E o seu maior crime: colocou Michael Myers pra escanteio, relegando a ele apenas aparições em alguns momentos.
Só não é uma decepção completa por conta da carnificina brutal no final e por dar uma finalização de franquia mais digna do que as outras tentativas de encerramento, como "Halloween 6: A Última Vingança", "Halloween: Ressurreição" e "Halloween II" (de 2009), do Rob Zombie, que foram péssimas!
Pra ver sem muito compromisso, desligar o cérebro e se entreter com uma produção recheada de mulheres de renome no atual cenário artístico.
O enredo segue um rumo linear, com uma trama que não fica tentando dar um nó na sua cabeça, apenas toma um caminho de fácil acompanhamento e, mesmo sabendo que as personagens, em grande parte, não são de atitudes muito corretas, o espectador acaba criando simpatia por elas.
Gostei da boa divisão de espaço entre elas, cada uma tem um tempo na tela que promove um desenvolvimento interessante para as mulheres. É claro que a história não se aprofunda muito nas histórias de cada uma, mas pelo contexto da trama, não precisa desse tipo de abordagem mais incisiva.
A obra não deixa de escapar das situações cômodas, que ajudam certas personagens em alguns momentos, mas isso acaba até funcionando como um elemento descontraído no geral.
Interessante produção, que trata de um assunto de maneira agradável. Nada de muito surpreendente ou cheio de pirotecnias, o roteiro é simples (indo até num clichê do gênero) e vai num ritmo aprazível.
As interpretações são compensadoras! Haley Lu Richardson segura bem a posição de protagonista e Cole Sprouse tem uma boa performance. Vale uma referência a atuação de Kimberly Hébert Gregory, que faz um trabalho bacana como a enfermeira Barb.
É uma maneira diferente de retratar a vingança de uma mulher diante de uma violência. Se em muitos filmes vemos elas praticarem atos bem impactantes contra seus algozes, aqui a obra entrelaça o enredo com o drama e o romance, quando sua protagonista acaba por se apaixonar e deixa a retaliação por alguns momentos.
Cassie ficou extremamente abalada com o que aconteceu com Nina, e isso a torna uma pessoa com desprezo pelos indivíduos a sua volta, ela não chega a ser agressiva, mas possuí pouca simpatia pelo próximo, como vimos no tratamento dela com a cliente da cafeteria ignorada logo no começo do filme e na relação distante que tem com seus pais. Até chega a dar aquela desconfiança de que ela tenha um certo grau de psicopatia no início, mas no decorrer do filme vamos notando que não é esse o caso! Depois, ela vai demonstrando uma certa amabilidade quando o amor começa a fazer parte da sua vida.
Parece que é muito mais uma questão de fazer justiça do que se vingar. Pode parecer que as duas coisas sejam iguais, mas no roteiro essas ações parecem ser diferentes.
Sobre as atuações, o elenco está afiado! Carey Mulligan conduz a interpretação com perspicácia, sendo multifacetada e dando o tom certo para Cassie, e o que chama a atenção é a participação de atores comediantes fazendo personagens com carga dramática e eles mandando muito bem, mostrando que quem sabe fazer comédia pode se sair tão bem em outros gêneros.
É um bom filme! Parece perder um pouco a intensidade lá pela metade, retomando perto do final, mas ainda sim mantém um clima de tensão interessante.
Obs.: Em toda cena do filme a cor rosa se faz presente. Seja num objeto do cenário, seja no esmalte de unha ou no figurino da protagonista, em toda sequência o cor-de-rosa é colocado em algum detalhe.
Soube que o filme não teve um roteiro especifico, os atores recebiam apenas algumas informações sobre a dinâmica da cena, mas todos os diálogos eram improvisados pelos próprios. Acredito que foi justamente isso que fez ele ficar tão chato.
A sinopse é interessante, falar sobre relacionamentos e colocando como cenário o ambiente de uma cervejaria poderia render uma história curiosa, mas o caminhar da obra beira ao marasmo, as ações são monótonas, é tudo muito tedioso. O desenvolvimento das tramas dos casais é tão desestimulante que não dá pra se apegar as suas histórias, e isso faz com que até as performances do elenco pareçam estar no automático.
A tradução do título original pode até ser "Amigos de Bebida", mas a sensação é de que a história tá mais pra "Amigos de Ressaca"!
É muito bacana ver um filme seguir a cartilha do noir e fazer um trabalho correto como esse!
Tem um clima de suspense sutil e classudo, com uma femme fatale fria e manipuladora, com personagens masculinos que, hoje, poderíamos categoriza-los como anti-heróis, e tudo isso envolto em relacionamentos escusos e, em algumas partes, parecendo até doentios.
A atuação do elenco é o seu grande trunfo! Van Heflin, Barbara Stanwyck, Lizabeth Scott e Kirk Douglas fazem um trabalho ótimo com seus personagens. Cada um contribui para que a trama não deixe a peteca cair.
O senão fica por conta de certas situações cômodas que são colocadas na história para ela seguir um rumo com destino certo, digamos assim.
Trolls 2
3.4 80 Assista AgoraBem feito, com uma seleção de músicas mais diversificada, mais atores e cantores na dublagem original, mas a história não é tão empolgante quanto a do primeiro filme, e o enredo também dá a impressão de se perder no meio caminho, a motivação se embaralha e é complicada a sua compreensão.
Pearl
3.9 989"Pearl" é a exemplificação da psicopatia e como um ambiente tóxico pode piorar esse problema psicológico.
Pearl é uma psicopata e aos poucos vai demonstrando cada estágio da doença, desde o assassinato de animais (um dos sinais que serial killers apresentam na chamada Tríade MacDonald) indo até os crimes mais perversos contra outras pessoas. Se já não bastasse essa sua condição, ela ainda convive em um lar onde sua mãe a trata da maneira mais intolerante possível, com situações de menosprezo, nenhum afeto e constante cobrança. Muitos serial killers foram criados em moradas pouco acolhedoras, que acabaram potencializando suas crueldades e falta de empatia e remorso, como Ed Gein e Marcelo Costa de Andrade, por exemplo.
O filme constrói sua narrativa justamente nessa base, onde o mal que existe em um ser humano acaba sendo fortificado diante de um ambiente que não lhe oferece uma boa convivência, com uma criação em desamor e sem um tratamento adequado.
A obra se debruça sobre a atuação de Mia Goth, que não é à toa, merece os melhores elogios. Ela dá vida a uma personagem com nuances que, da pena, vai para a estranheza e indo ao espanto. A maquiagem dela também ajuda muito nessa nossa percepção porque, a Pearl em um certo momento se reconhece como uma moça não tão bonita, e a maquiagem acentua detalhes do seu rosto que a deixam desproporcional em algumas partes da produção.
Agora, o David Corenswet não me convence como um projetista de 1918. Eu entendo a ideia de coloca-lo como um rapaz bem afeiçoado que vira o galã da protagonista/antagonista, mas a sensação é a de que ele não se encaixa no personagem, na época, mas depois o incômodo acaba meio que se dissipando.
Os demais integrantes do elenco fazem um bom trabalho com seus personagens, principalmente Tandi Wright, irreconhecível no papel de Ruth.
Visualmente, as cores ganham um realce na tela que é bastante interessante, é como se as tonalidades (principalmente o vermelho) ficassem mais fortes, ganhassem mais vida.
Também é possível ver várias referências a clássicos do cinema em algumas cenas, de "Carrie - A Estranha" de 1976, a "O Massacre da Serra Elétrica" de 1974.
A cena do jantar, onde Pearl diz a mãe que vai ao teste de dança, mesmo que ela não queira, lembrando a sequência de "Carrie" onde ela fala pra mãe que vai ao baile de formatura durante um jantar.
E o ataque a Mitsy, onde a prima corre em desespero enquanto Pearl vai dando golpes de machado nas costas dela, numa cena parecida com a parte de "O Massacre da Serra Elétrica" em que o mochileiro dá navalhadas nas costas de Sally, antes de ser atropelado por um caminhão.
Grata surpresa com ele! A A24 se firmando como uma produtora que aposta em enredos diferenciados, criativos e bem realizados, principalmente no campo do terror.
"Pearl" é, sem dúvida, um acerto nesse campo.
Construindo uma Carreira
3.4 263 Assista AgoraComo os roteiros de John Hughes fazem falta no cinema jovem atual...
O que é mais bacana nas histórias criadas por John é que ele transforma figuras tidas como perdedores, fracassados, em vencedores, vitoriosos, mas não por conta de grandes feitos como salvar a humanidade, ter atos de extrema bravura ou revolucionar alguma coisa, mas porque fizeram um momento da sua adolescência ter sentido, se deram a liberdade de serem felizes, nos simples gestos de ir contra a pressão e as regras do mundo adulto, foram corajosos para serem francos e rebeldes, mas sem serem pessoas ruins e destemperadas, apenas se dando a oportunidade de fazerem suas vidas melhores.
A adolescência é um período tão turbulento na vida de muitos, onde eles tentam se encaixar para poder se sentirem incluídos, notados, num universo onde andam sem muita firmeza, tateando entre as novidades e com os resquícios do passado ainda presentes, e o John Hughes conseguia capturar isso de maneira muito perspicaz, e "Construindo Uma Carreira" carrega essa energia.
Jim é o retrato do jovem que ninguém dá nada, que não consegue se firmar num emprego e não tem a melhor fama entre as pessoas ao seu redor (tanto na família quanto entre os moradores da cidade) e mesmo assim ele tenta fazer do seu mundo algo maior, mesmo que malandramente ele viva numa constante recriação fantasiosa da sua própria imagem, onde se projeta como um rapaz influente, importante, quando a realidade mostra outra coisa, enquanto Josie é o oposto, ela é a representação da garota impecável, rica, linda, popular, que não precisa fazer nenhum esforço para ser admirada. Mas logo vemos que eles, que parecem ter perfis tão distantes, vão se completando.
Enquanto Jim, mesmo com o pouco que tem, ainda é feliz, Josie com o muito que tem ainda é infeliz. Ambos vivem sob a pressão dos pais, no caso de Jim é a questão do seu pai o querer ver sair do ninho e se tornar independente, responsável, já com Josie é o contrário, sendo superprotegida pelo pai, onde ele não lhe dá muito espaço para ela ter sua própria independência.
O interessante é que depois vemos que os pais começam a sentir a pressão que eles próprios colocaram sobre os filhos, onde ambos não encontram paz enquanto não sabem como estão seus filhos.
No desenrolar da trama, vamos acompanhando como esses dois distintos adolescentes vão se encaixando entre os seus conflitos, e o enredo ainda adiciona os personagens dos ladrões na história, que servem como uma válvula de escape, colocando um humor quase pastelão para incrementar a obra.
Não digo que o filme é perfeito, e até concordo com alguns pontos de vista de outros comentários aqui, entendo e vejo que essas visões são válidas, mas o modo como a produção consegue exemplificar uma parte da juventude e suas emoções, quando sentido de forma mais profunda, faz a gente abrir um sorriso e querer voltar num tempo onde tudo era novo.
Os Filhos do Medo
3.7 152Se tem uma coisa que o David Cronenberg soube fazer com maestria nas décadas de 70, 80 e 90 foram filmes "estranhos", e no melhor sentido da palavra!
"Os Filhos do Medo" carrega isso durante o tempo inteiro, há sempre uma áurea de estranheza que perpetua na história e, mesmo que algumas partes não sejam perfeitas, é esse clima intrigante de desconforto por aquilo que não é comum que fascina na obra. O mais interessante é que o enredo foi baseado num momento da vida pessoal do próprio Cronenberg, quando ele estava se separando da primeira esposa e a relação deles não era das melhores, e quando você tem essa referência, a trama potencializa ainda mais seus significados pois você começa a ver que as simbologias grotescas que ele usa para exemplificar atitudes reais em uma relação tempestuosa fazem todo um sentido. Ele dá forma a sentimentos conflituosos que, tanto um casal, quanto um filho podem ter quando há emoções desagradáveis numa união desarmoniosa. Abandono, ciúme, possessão, ira, rancor, amargura, e o próprio medo que dá nome ao título, aliás, perfeito para sintetizar a sua essência.
Um detalhe que chama a atenção na estética dele é como a madeira se torna um elemento presente em quase todas as cenas, como na própria arquitetura de uma residência, no playground da escola, nos móveis, são as estruturas em madeira que compõem toda a característica visual do filme.
E não tem como não falar da excelente interpretação de Samantha Eggar como Nola, é um misto de reações que culminam no lado obscuro de Nola que Samantha consegue expressar de modo mais do que compensador, ela faz com que a obra cresça ainda mais numa ótima interpretação. Boa performance também de Cindy Hinds, que faz a pequena Candice, você percebe claramente o semblante de uma criança triste em meio a uma família desestruturada. E que sequência aflitiva é a cena das crianças tentando capturar ela, que está no pôster, em que o desespero de Candice nos causa tensão.
Acho a interpretação de Oliver Reed satisfatória, já a de Art Hindler vejo um pouco abaixo das outras, mas nada de tão negativo.
Pra quem quer conhecer a filmografia do David Cronenberg, "Os Filhos do Medo" não pode faltar entre as suas opções!
Alta Sociedade
3.6 57O começo é interessante, apesar do susto inicial em que uma composição orquestrada toca por vários minutos antes da história, e logo a trama vai ganhando simpatia, ainda mais com a participação do Louis Armstrong, que não só canta como também atua (mesmo que discretamente). A trinca principal Grace Kelly, Frank SInatra e Bing Crosby garante boas atuações, e é realmente um filme de alta sociedade se formos no atentar aos cenários, que são de um requinte admirável, e o enredo de romances que brotam de um lado para o outro é curiosamente carismático, mas quando a obra finalmente chega no seu final, ele encerra tudo de uma maneira tão bagunçada que em vez de ficar cômico, fica frustrante. Parece que estavam com preguiça de criar um bom arremate e jogaram um encerramento de qualquer jeito e isso faz com que a conclusão nossa se dissipe rapidamente da memória.
Como já comentado por aqui, é quase uma cópia de "Núpcias de Escândalo", mas musicada, porém, não tem um mesmo vigor na sua trama, ainda mais com aquela trindade soberana do cinema formada por Katharine Hepburn, Cary Grant e James Stewart no elenco.
Meu Amigo Enzo
3.9 294 Assista AgoraUm drama mediano, nada ruim, mas que também não chega a ser uma excelente produção, muito pelo andar da história, que parece meio apressada. Sem contar que Milo Ventimiglia não transmite muita emoção durante a sua atuação, o que não contribui para uma gratificação completa ao conferir a obra.
Agora, eu não sei se os produtores dele tavam ligados que no Brasil tava começando a se formar a desgraça da propagação do nome Enzo em tudo quanto é canto. O título em português, completamente diferente do original, esse sim foi claramente criado para embarcar nessa onda do nome. Talvez seja isso que fez com que a repercussão dele tenha tomado um caminho contrário, onde o filme não foi lá muito popular por aqui, não só por conta da pouca divulgação, mas pela saturação da mania.
As Aventuras de Peabody e Sherman
3.6 223 Assista AgoraÉ divertido, bem feito, e o enredo cheio de conhecimento sobre história, tecnologia, etc, é bacana, mas tem alguns problemas de transição de contextos que acabaram incomodando!
Tudo bem que é uma animação infantil, e alguma liberdade artística na história devem valer, mas certos pontos parecem forçados e sem nexo, como a facilidade de que a Mrs. Grunion diz conseguir tirar a guarda de um pai do seu filho, e como ela tenta abrandar a questão do bullying, e como Penny é uma influência negativa a Sherman em algumas atitudes e isso é ignorado em outros momentos, apesar dela se redimir, mas a impressão que passa é que não tem um aprendizado nisso, parece mais um coisa de ocasião.
É legal! Mas acabou dando esse descontentamento em quesitos pontuais.
O Preço de um Prazer
3.8 12Curioso como o filme sai de uma concepção e entra em outra de maneira tranquila, calma, onde de um trama séria que ele inicia, ao falar da questão do aborto por conta de uma gravidez indesejada, da metade para o final vai para o romance que caminha entre o terno e dramático.
A trama dele é fortalecida, e a abordagem consegue transitar de um lado para o outro sem ficar uma diferença gritante entre esses dois campos. O que deixa a obra interessante e que não fica cansativa.
A química entre Natalie Wood e Steve McQueen é visível! É impressionante como eles juntos formam um casal protagonista que chama a atenção, que funciona muito bem.
Direção de Robert Mulligan também muito acertada, e os cenários, simples, contidos e com informações precisas sobre as ambientações da classe média baixa da Nova Iorque de outrora fazem toda a diferença para fazer o enredo ser absorvido.
O Senhor das Moscas
3.8 54 Assista AgoraClaramente, é um filme que foi feito com poucos recursos, dada a situação de que a sequência inicial não mostra um vestígio sequer do avião do qual as crianças estavam viajando, porém a obra tem seus prós e contras, e se for comparado com a versão americana de 1990, dá pra fazer uma contraposição entre elas.
Para o lado negativo, o filme tem problemas com relação as interpretações, é compreensível que, pelo fato de ter seu elenco formado por crianças, algumas atuações fiquem um pouco aquém do esperado, mas algumas acabam ficando robóticas demais, mesmo para os padrões da época, a sorte é que, pelo menos, entre o trio de protagonistas a escolha dos atores mirins foi acertada, eles conseguem segurar bem a trama que precisam desenrolar. Outro ponto que desagrada é a concepção do personagem Ralph, ele deveria ser um elemento justo que transparece a ideia de proteção e harmonia, mas em alguns momentos ele parece fazer o processo contrário, como o seu tratamento com Piggy, onde ele faz coisas que o próprio Piggy não gosta e sua ação de ver ele sendo hostilizado por Ralph e não fazendo nada para defendê-lo, algo que na versão dos anos 90 é melhor concebido. A questão do monstro também não é bem resolvida e o final também desaponta, não por sua conclusão, mas por conta das atuações que surgem na tela.
Os adultos tranquilos ao ver os meninos perdidos, sozinhos, sujos e maltrapilhos, saindo do meio de uma queimada da mata, como se fosse a coisa mais natural possível. Soou falso.
Para o lado positivo, nessa adaptação fica mais perceptível o significado da figura de Piggy na história: ele é a sensatez, a lucidez. E assim como na sociedade, aqueles que possuem elas muitas vezes são ignorados e menosprezados por aqueles que estão absorvidos quase que por completo por suas doutrinações, sejam elas políticas, religiosas, etc, pois preferem acreditar nas suas próprias verdades, aquelas que mais lhe agradam, em vez de compreenderem e atuarem com clareza em meio aos seus semelhantes, algo que na versão noventista não fica tão intenso. Outra questão que chama a atenção é a maneira como a selvageria que passa a dominar as crianças fica explícita, seja na parte como a obra mostra as crianças comendo um porco do mato de forma quase animalesca, seja na parte em que elas perdem a inocência e passam a se comportar com maldade, destempero e até alegria diante de situações cruéis, onde algumas sequências chegam a impactar.
As cenas das mortes de Simon e Piggy são chocantes, algo que a versão de 90 é mais moderada.
Colocando as duas adaptações cinematográficas na balança, a versão de 1990 acaba ganhando uma ligeira vantagem, seja na parte técnica, quando no desenvolvimento de certos quesitos do enredo, mas a versão de 1963 tem bons méritos, principalmente por ser uma história intensa sendo feita num período onde não era tão comum ver esse tipo de trama nos cinemas, afinal, crianças são sinônimo de bondade, e vê-las incorporando a ruindade em seu comportamento sempre vai nos incomodar.
Os Olhos de Laura Mars
3.3 42 Assista AgoraBebendo na fonte dos giallos italianos, "Os Olhos de Laura Mars" é um suspense sutil, requintado e que, mesmo sem grande potência no que se refere a sequências extasiantes e um enredo mais nivelado, tem o seu charme.
Com o roteiro de John Carpenter, o filme estreou no mesmo ano que o icônico "Halloween", que moldou o gênero slasher, e aqui temos uma criação diferente da aclamada obra que fez Michael Myers uma referência.
Contando a história de uma fotógrafa de moda, a estética toda é voltada ao universo glamoroso das modelos, figurinos, cenários de estúdios, etc, e que está centrada em Nova Iorque, que já proporciona por si só um visual altamente urbano e agitado (diferentemente de "Halloween", que se passa em uma cidade pequena e possui um ambiente mais intimista e aparentemente mais calmo).
Laura Mars chama a atenção por seus trabalhos terem uma pegada artística que flerta com a violência, mas de modo chique, aos poucos vamos descobrindo que esse aspecto não é à toa, ela possui a estranha característica de conseguir enxergar assassinatos sendo cometidos por um estranho no qual ela tem a mesma visão dele diante de suas vítimas no momento de seus crimes. Isso a perturba e ela, junto com um policial, tenta escapar das mãos do serial killer e descobrir quem é o assassino.
As qualidades do filme são mais evidentes nas questões técnicas, como direção de arte, direção de fotografia, e na ótima interpretação de Faye Dunaway. O elenco é estrelado, com nomes como Tommy Lee Jones, Brad Dourif e Raúl Juliá, porém, tirando o personagem John Neville de Tommy Lee Jones, os outros não tem tanto desenvolvimento, mas não considero isso algo grave.
Sobre o enredo, ele instiga em algumas partes, mas também é fato que certas sequências não são as das mais animadoras, com dramas e o romance que surge na tela parecendo não ser tão agregador a trama, mas não chegou a incomodar tanto quanto eu acreditava, pensamento que tinha por conta dos outros comentários e da crítica especializada da época. Mas assim como o público de 78 que foi vê-lo no cinema e fez a produção ter uma boa bilheteria, gostei do que vi! Não é memorável, espetacular, mas se embarcar na trama, pode-se ter uma avaliação favorável, mesmo que baixa, mas ruim não vai ser.
Os Batutinhas: Uma Nova Aventura
2.8 36 Assista AgoraDefinitivamente, não tem o mesmo charme e a mesma qualidade de produção do filme anterior dos anos 90. O enredo é inocente demais, as crianças, apesar de graciosas, não tem a personalidade mais evidente quanto a da obra anterior e o filme parece uma produção feita diretamente pra TV, com cenários de estúdio um tanto quanto artificiais.
É interessante a trilha sonora, com músicas mais conhecidas do grande público, e a participação de Bug Hall, que interpretou o Alfalfa na trama de 1994, e da, então criança, Jenna Ortega, aliás, a sua personagem acaba fazendo a diferença entre a versão noventista e essa, onde uma menina agora faz parte do grupo de crianças, algo que na outra história não fazia parte.
Pra ser generoso, eu acho que que a obra pode agradar as crianças mais pequenas, mas só as mais pequenas mesmo, porque as mais crescidas e os adultos não vão curtir tanto "Os Batutinhas" dos anos 2000, ainda mais se formos comparar com a produção de 94, onde fica bem atrás em vários pontos.
Pantera Negra: Wakanda Para Sempre
3.5 799 Assista AgoraUma continuação digna, com uma qualidade respeitável e efeitos especiais excelentes, é louvável o desdobramento que a equipe teve que fazer para dar conta de tantos contratempos durante a sua produção, e o resultado foi um espetáculo visual e uma trama gratificante, mas fica a sensação de que a história se alonga demais, é notório que algumas cenas poderiam ter sido enxugadas e que a sua duração (de quase 3 horas) poderia ter sido encurtada fazendo cortes certeiros em alguns pontos da obra. Ele não chega a ser cansativo, consegue manter o pique, mas deixa essa impressão de caminhar em demasia, quando a sua trilha nem precisa de tanto passos.
A construção de enredo dos personagens Everret e Valentina também não tem muita desenvoltura, não são inúteis na história, mas também não tem uma importância tão significativa como um todo, chegando a servirem como um alívio cômico sem grandes proporções em alguns momentos.
Agora, é fato que Letitia Wright conseguiu macular a própria imagem por conta da sua ignorância em tempos de pandemia, se colocando contra a vacinação e criando um imbróglio para as gravações, já que, ao não querer se vacinar, dificultava o início das filmagens, pois a regra dos estúdios era priorizar a proteção de todos. Menos mal que isso não respingou no filme.
Mistério no Bosque
3.3 55Bom clima de suspense!
A Disney nos anos 80, tentando chegar no público jovem adulto, decidiu apostar em produções com uma pegada mais diferenciada, e "Mistério no Bosque" (ou "Olhos na Floresta") é um dos exemplares dessa safra.
Baseado num romance publicado nos anos 70, a obra tem um áurea instigante e fria bem interessante, é curioso como o filme consegue manter essa sensação de mistério durante a história sem precisar colocar imagens sangrentas, grotescas. Numa sagaz construção de ambiente gélido, com sequência sombrias feitas com aparições e atitudes sinistras, mas sem jogar na tela representações muitas pesadas visualmente.
As interpretações merecem destaque, o trio protagonista, Bette Davis, Lynn-Holly Johnson e Kyle Richards fazem um domínio de cena deveras competente, dando toda a forma pro enredo se encaminhar e deixando seus personagens envolverem o espectador.
Um fato curioso sobre a produção foi a situação de que, na sua primeira exibição nos cinemas americanos, ele ficou apenas 10 dias em cartaz por conta de algumas partes que, segundo a crítica e o público, ficaram confusas e, principalmente, o seu final, que acabou desagradando bastante. Isso fez com que ele tivesse cenas refeitas e o seu encerramento alterado. E pelo o que deu pra saber sobre as cenas e o "final original", as novas versões feitas para o segundo lançamento (e que é a mais disponível para ser encontrado) parecem ter sido as mais acertadas, fazendo com que o filme mantenha um nível linear durante toda a sua trajetória.
Hoje em dia, a Disney voltaria a flertar com elementos do gênero, como podemos ver em algumas sequências de "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura", por exemplo, mas mais incisiva nessa excursão foi mesmo na década de 80, um período peculiar da produtora do senhor Walt Disney.
Vale a conferida!
A Estrada da Vida
4.3 228 Assista AgoraUma história permeada pela decepção e, assim como "Noites de Cabíria", ambas colocam suas protagonistas sofrendo pancada atrás de pancada na vida. Porém, em "Noites" Cabíria ainda se mantêm esperançosa e forte, aliado a um carisma que ela transparece, já com "A Estrada" Gelsomina é muito ingênua, insegura e condescendente, mostrando uma fragilidade e tolerância tão grande que, em alguns momentos, chega a revoltar o espectador diante de uma certa complacência com quem lhe faz mal, que aliás, são muitos.
Desde a primeira cena, até o último ato, o enredo só apresenta infortúnios, desde agressões físicas até situações de vulnerabilidade, e quando a gente pensa que ele vai dar algum respiro com uma perspectiva mais positiva, a trama joga um banho de água fria e dá mais uma rasteira na bondade.
Como quando ela encontra o Il Matto ("O Louco"), que parecia ser a pessoa que traria bons momentos pra ela, mas além dele menospreza-la durante uma conversa, ainda a convence que Zampanò, que lhe agride e a despreza constantemente, pode estar apaixonado por ela.
É um drama difícil de criar simpatia! É tanta desilusão que deixa uma sensação de que não há luz no fim do túnel.
Um filme triste, pesado e esmorecido!
Despedida em Las Vegas
3.8 269Dois universos não tão bem vistos pela sociedade que se encontram e formam um união que, ao mesmo tempo que é desestruturada, também consegue ser cativante.
Ben, um roteirista que, ao passar por algumas decepções na vida, decide se entregar ao vício em álcool ao ponto de perder qualquer noção de sobriedade. Sera é uma mulher que é forçada a se prostituir para bancar um cafetão e também para se sustentar na vivaz e capitalista Las Vegas. Ambos estão no lado menos glamoroso e mais difícil de sua vida, mas quando ocorre a aproximação dessas duas pessoas, eles conseguem criar um carisma que faz com que o espectador entender e torcer para que no fim de tudo essa conexão os levem há caminhos melhores, com menos obstáculos, que se mostram cada vez mais cruéis com seus protagonistas.
O enredo lembra um pouco "Farrapo Humano", filme com exatos 50 anos de diferença, que também conta a história de um roteirista alcoólatra que vê o consumo desenfreado dominar sua trajetória, porém aqui, além de um teor sexual mais intenso, temos a inclusão dos infortúnios vividos por uma prostituta dividindo a trama. Aliás, é justamente esse drama de Sera que parece ter um pouco mais de desenvolvimento da sua origem, já que, a história de Ben até nos mostra como ele chegou ao ponto de se jogar de cabeça no alcoolismo, mas é a de Sera que se coloca mais desnudada, mais clara, onde vemos desde os percalços de seu relacionamento com o cafetão, até os perigos que a profissão marginalizada pelas outras pessoas tem.
Atuações excelentes! Nicolas Cage pôs um realismo na sua interpretação que merece as melhores críticas, ele passa a imagem de um homem bêbado, de ressaca ou com crises de abstinência de maneira bem crível, Oscar de Melhor Ator mais do que merecido!
Elisabeth Shue (que ganhou uma indicação na categoria de Melhor Atriz) deu a Sera uma naturalidade altamente compensadora. A obra poderia ter feito a dobradinha Ator e Atriz Oscarizados sem problema nenhum!
A trilha sonora, com composições de jazz, dão um ar charmoso e sensual a produção. Aliados aos enquadramentos e movimentos de câmeras diferenciados.
Uma obra que consegue ser depressiva, por vezes tensa, flertando com a desesperança, mas que também consegue ter seus momentos de emoções mais calorosas e com uma perspectiva mais afável.
Amargo Pesadelo
3.9 198 Assista AgoraA década de 70 foi uma época prolifera do subgênero 'exploitation', muitas foram as obras (boa parte delas de baixo orçamento) que usaram de temáticas mais pesadas e sensacionalistas para atrair a atenção do público com histórias ousadas e perturbadoras.
Foi nessa seara que vieram a estrutura de roteiros baseados na fórmula "crueldade e vingança", em que, após uma situação de perversidade, as vítimas decidem fazer justiça com as próprias mãos contra seus algozes, mas boa parte delas colocam a mulher como alvo das injúrias por sua, suposta, condição de fragilidade, porém "Amargo Pesadelo" se destaca por colocar somente homens na sua trama, tanto de um lado, quanto do outro.
O que seria apenas um passeio agradável de canoa pelo rio com amigos vira um tormento para 4 amigos, diante da psicopatia de homens em meio aquele ambiente desprotegido da floresta.
Por essa premissa, muitos esperam que o filme seja uma obra cheia de tensão, porém o enredo acompanha o mesmo curso do rio, ou seja, em alguns momentos é angustiante, mas em outros é mais brando, digamos assim.
No início, a gente já nota algumas atitudes soberbas de alguns membros do grupo de amigos, como o ar de superioridade com relação ao caipiras locais que o personagem Lewis demonstra no modo de agir e o comentário sobre o garoto deficiente feito por Bobby (que soa como preconceito). Nessa parte, a história já estabelece uma ideia de que alguns deles tratam suas figuras como maiores que alguns dali, mesmo que no decorrer do tempo eles próprios sejam os alvos do menosprezo (Bobby logo passa a ser chamado pela alcunha de "Gorducho").
Apesar desse começo, o que vemos são subidas e decidas da trama que, ora fica em longos takes mostrando a aventura e a tentativa de sobrevivência deles, e ora vai por sequências aflitivas onde o desconcerto e o suspense estão presentes, e são nesses desníveis da história que o filme parece atravancar. É como se a trama acelerasse e diminuísse de velocidade constantemente.
Pode até ser por conta da referência de outras produções do subgênero, mas essa forma de ir por outros caminhos tira a potência do enredo, que poderia ter sido muito mais intensa.
Vale sim a conferida! Não é um obra ruim, bem longe disso, mais dá a sensação de que poderia ter sido muito mais, já que tinha um tremendo argumento nas mãos.
Agora, vale a recordação de que, uma produção com um contexto desses ter conseguido uma indicação ao Oscar de Melhor Filme já é um fato surpreendente e que merece a nossa atenção.
Caso 39
3.1 1,9K Assista AgoraO que eu achei mais interessante na história é que a Emily é esperta. Logo a personagem saca que tem alguma coisa de errado e vai tentando descobrir mais sobre a situação.
Geralmente em filmes com essa temática, os protagonistas costumam passar um bom tempo sendo ludibriados, ou com ações de desconfiança ainda tímidas, sem grandes movimentações.
Vide "A Profecia" (que o filme me fez lembrar muito), em que os protagonistas Robert e Katherine recebem avisos sobre o perigo a sua volta, mas demoram para perceber que o mal está próximo.
Já Emily é rápida na percepção, pois com a desconstrução de um aprazível ambiente para suscetíveis infortúnios, ela não demora muito para se tocar de que as coisas não são o que parecem.
Talvez o fato dela ser uma assistente social e ter um trabalho mais voltado a psicologia a faça ser mais atenta aos detalhes, a entender melhor os sinais.
É um bom filme, apesar do roteiro ser visivelmente inspirado em outras boas obras do gênero, com atuações bem gratificantes e produção correta, a trama não chega a ser altamente entusiasmante. É curiosa, instigante e desconcertante em vários momentos, mas por algum motivo parece não ir a um grau muito alto, porém agrada num saldo final.
P.S.: A frieza que a jovem atriz Jodelle Ferland emprega em Lilith, principalmente na sequência em que a personagem está conversando com Douglas é sinistra! Impressiona a capacidade interpretativa dela.
Uma curiosidade: na cultura de antigas civilizações, Lilith é o nome dado a entidades ligadas ao mal e a morte.
Alucinações do Passado
3.9 257É curiosa a maneira como a obra faz o espectador entrar na mente do protagonista e passar pela mesma confusão mental que ele está passando. Ficamos desnorteados com os caminhos que cada sequência apresenta, nos deixando com aquela dúvida sobre o que é real e o que é irreal, se possui lucidez ou se são elementos de um transtorno, se é algo humanamente explicável ou se tem influência sobrenatural ou demoníaca.
Uma viagem ao interior psicológico de um homem que tem seus traumas e ainda convive com eles enquanto tenta levar sua vida adiante.
A estética característica do diretor Adrian Lyne casa muito bem com o núcleo da trama, onde o visual decrépito, sujo e nebuloso dá ainda mais forma a história obscura e sinistra, cheia de simbologias que mostram, sem minucio, os seus significados.
Tim Robbins, ótimo em cena! Direção de Adrian Lyne, dispensa comentários, acertada como sempre, e roteiro de Bruce Joel Rubin interessante.
Não é um filme pra todas as plateias pois, é um enredo denso que vai num ritmo lento, mas que oferece uma experiência introspectiva pela psique humana num território sombrio.
Halloween Ends
2.3 537 Assista AgoraInfelizmente, o filme cai na armadilha de "Halloween - O Início", do Rob Zombie: tenta dar motivação para a maldade. E pior, faz isso a todo tempo!
Ele até inventa uma justificativa pra isso, mas a história força tanto o sentimento de hostilização que a cidade coloca nos protagonistas que fica pedante. Tem uma hora que a gente começa a pensar: "Tá bom! A gente já entendeu que o povo só tem ruindade pra oferecer e que logo a maldade vai aflorar por conta disso a qualquer instante".
A obra parece um disco arranhado que fica repetindo sequências de intimidação, humilhação e agressão constantemente, o que deixa tudo muito saturado.
Os coadjuvantes (aleatórios, diga-se de passagem!) só surgem na tela para serem odiados e para torcemos pelas suas mortes. Pessoas na tela sendo chatas e/ou escrotas, que fazem o espectador não criar nenhuma afinidade com elas.
A produção ainda comete dois pecados que diminuem o seu potencial.
Uma falha grosseira na trama: Na cena onde o delegado liga para a filha da Laurie perguntando onde a mãe dela está, pois ele teria recebido um aviso de um suicídio por parte dela, mas como uma pessoa liga para um policial para comunicar uma morte e não diz nem onde foi que aconteceu e nem onde está nesse momento?
E o seu maior crime: colocou Michael Myers pra escanteio, relegando a ele apenas aparições em alguns momentos.
Só não é uma decepção completa por conta da carnificina brutal no final e por dar uma finalização de franquia mais digna do que as outras tentativas de encerramento, como "Halloween 6: A Última Vingança", "Halloween: Ressurreição" e "Halloween II" (de 2009), do Rob Zombie, que foram péssimas!
Oito Mulheres e um Segredo
3.6 1,1K Assista AgoraAgradável passatempo!
Pra ver sem muito compromisso, desligar o cérebro e se entreter com uma produção recheada de mulheres de renome no atual cenário artístico.
O enredo segue um rumo linear, com uma trama que não fica tentando dar um nó na sua cabeça, apenas toma um caminho de fácil acompanhamento e, mesmo sabendo que as personagens, em grande parte, não são de atitudes muito corretas, o espectador acaba criando simpatia por elas.
Gostei da boa divisão de espaço entre elas, cada uma tem um tempo na tela que promove um desenvolvimento interessante para as mulheres. É claro que a história não se aprofunda muito nas histórias de cada uma, mas pelo contexto da trama, não precisa desse tipo de abordagem mais incisiva.
A obra não deixa de escapar das situações cômodas, que ajudam certas personagens em alguns momentos, mas isso acaba até funcionando como um elemento descontraído no geral.
Vale uma conferida sem muitas pretensões!
A Cinco Passos de Você
3.6 513 Assista AgoraUm drama/romance singelo!
Interessante produção, que trata de um assunto de maneira agradável.
Nada de muito surpreendente ou cheio de pirotecnias, o roteiro é simples (indo até num clichê do gênero) e vai num ritmo aprazível.
As interpretações são compensadoras! Haley Lu Richardson segura bem a posição de protagonista e Cole Sprouse tem uma boa performance. Vale uma referência a atuação de Kimberly Hébert Gregory, que faz um trabalho bacana como a enfermeira Barb.
Uma obra que gratifica.
Bela Vingança
3.8 1,3K Assista AgoraÉ uma maneira diferente de retratar a vingança de uma mulher diante de uma violência. Se em muitos filmes vemos elas praticarem atos bem impactantes contra seus algozes, aqui a obra entrelaça o enredo com o drama e o romance, quando sua protagonista acaba por se apaixonar e deixa a retaliação por alguns momentos.
Cassie ficou extremamente abalada com o que aconteceu com Nina, e isso a torna uma pessoa com desprezo pelos indivíduos a sua volta, ela não chega a ser agressiva, mas possuí pouca simpatia pelo próximo, como vimos no tratamento dela com a cliente da cafeteria ignorada logo no começo do filme e na relação distante que tem com seus pais. Até chega a dar aquela desconfiança de que ela tenha um certo grau de psicopatia no início, mas no decorrer do filme vamos notando que não é esse o caso!
Depois, ela vai demonstrando uma certa amabilidade quando o amor começa a fazer parte da sua vida.
Parece que é muito mais uma questão de fazer justiça do que se vingar. Pode parecer que as duas coisas sejam iguais, mas no roteiro essas ações parecem ser diferentes.
Sobre as atuações, o elenco está afiado! Carey Mulligan conduz a interpretação com perspicácia, sendo multifacetada e dando o tom certo para Cassie, e o que chama a atenção é a participação de atores comediantes fazendo personagens com carga dramática e eles mandando muito bem, mostrando que quem sabe fazer comédia pode se sair tão bem em outros gêneros.
É um bom filme! Parece perder um pouco a intensidade lá pela metade, retomando perto do final, mas ainda sim mantém um clima de tensão interessante.
Obs.: Em toda cena do filme a cor rosa se faz presente. Seja num objeto do cenário, seja no esmalte de unha ou no figurino da protagonista, em toda sequência o cor-de-rosa é colocado em algum detalhe.
Um Brinde à Amizade
2.9 413 Assista AgoraSoube que o filme não teve um roteiro especifico, os atores recebiam apenas algumas informações sobre a dinâmica da cena, mas todos os diálogos eram improvisados pelos próprios. Acredito que foi justamente isso que fez ele ficar tão chato.
A sinopse é interessante, falar sobre relacionamentos e colocando como cenário o ambiente de uma cervejaria poderia render uma história curiosa, mas o caminhar da obra beira ao marasmo, as ações são monótonas, é tudo muito tedioso.
O desenvolvimento das tramas dos casais é tão desestimulante que não dá pra se apegar as suas histórias, e isso faz com que até as performances do elenco pareçam estar no automático.
A tradução do título original pode até ser "Amigos de Bebida", mas a sensação é de que a história tá mais pra "Amigos de Ressaca"!
O Tempo Não Apaga
3.9 29 Assista AgoraÉ muito bacana ver um filme seguir a cartilha do noir e fazer um trabalho correto como esse!
Tem um clima de suspense sutil e classudo, com uma femme fatale fria e manipuladora, com personagens masculinos que, hoje, poderíamos categoriza-los como anti-heróis, e tudo isso envolto em relacionamentos escusos e, em algumas partes, parecendo até doentios.
A atuação do elenco é o seu grande trunfo! Van Heflin, Barbara Stanwyck, Lizabeth Scott e Kirk Douglas fazem um trabalho ótimo com seus personagens. Cada um contribui para que a trama não deixe a peteca cair.
O senão fica por conta de certas situações cômodas que são colocadas na história para ela seguir um rumo com destino certo, digamos assim.
Vale a conferida!